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DOCUMENTOS CENP – 2

viSão ecoNômica
do modeLo
BraSiLeiro de
PuBLicidade
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Geração de valor e bem estar social
sumÁRIO

A HARMONIA EFICAZ DO MODELO BRASILEIRO DE PUBLICIDADE


Por João Luiz Faria Netto e Thiago Francisco da Silva Brito
Galáxia com três sistemas planetários .....................................................................4
A lógica econômica ................................................................................................................5
Os principais benefícios gerados pelos compromissos dos
aderentes ao Modelo Brasileiro de Publicidade ....................................................6

CONCORRÊNCIA EM QUALIDADE – ANÁLISE ECONÔMICA DO MODELO BRASILEIRO DE


PUBLICIDADE
LCA Consultores
Por Silvia Fagá de Almeida e Bernardo Macedo

Conclusões ................................................................................................................................8
Um mercado heterogêneo ..................................................................................................9
O padrão competitivo é baseado na qualidade .......................................................9
Os efeitos positivos do desconto-padrão .................................................................11
A autorregulação beneficia o mercado .....................................................................11
Os efeitos positivos sobre as falhas do mercado ...............................................12

ANÁLISE DA RACIONALIDADE ECONÔMICA DA AUTORREGULAÇÃO DO MERCADO


BRASILEIRO DE PROPAGANDA
FA Estudos Econômicos
Por Jorge Fagundes, Cesar Mattos, Maria Margarete da Rocha, Marcos Lima e
Marislei Nishijima
Conclusões ..............................................................................................................................16
A análise, passo-a-passo ...................................................................................................16
Free-riding ................................................................................................................................19
Externalidades negativas ................................................................................................21
Custos de transação ..........................................................................................................21
Existem efeitos colaterais? ............................................................................................21
Comparação com normas internacionais .................................................................24
ABERTURA

Comprovação econômica
Durante o curso do processo administrativo do CADE Vale ressaltar, porém, que esse “modelo” teve origem
sobre o CENP, os advogados que representavam a entida- nos Estados Unidos há cerca de um século e tornou-se
de providenciaram diversos estudos e pareceres externos, praticamente universal, após ter sido decantado por dé-
além de outros encaminhamentos, com vistas à defesa do cadas de prática e de evolução nas técnicas e tarefas de
ambiente de autorregulação ético-comercial, que ao fim planejamento, criação, execução e gestão da publicidade.
e ao cabo contribuíram para que este processo fosse ar- Esse que acabou sendo denominado “modelo brasilei-
quivado, por unanimidade, pelo tribunal do CADE. Dois ro”, na verdade continua sendo utilizado, com benefícios,
destes estudos se mostraram bastantes úteis para o pro- no mundo todo, inclusive no maior mercado publicitário
cesso e também para melhor compreensão dos próprios do planeta, os Estados Unidos, que representa cerca de
agentes do mercado publicitário a respeito do modelo de metade dos negócios globais de publicidade. Parte con-
negócios existente no Brasil. siderável dos clientes e agências médias, bem como das
Trata-se de estudos e análises realizados por duas con- pequenas, continua operando pelos métodos tradicionais
sultorias econômicas de elevado prestígio sobre o chama- de fullservice.
do Modelo Brasileiro de Publicidade, seu ordenamento O sistema de separação da mídia das demais tarefas da
jurídico de regência e o sistema de autorregulação que o agência foi desenvolvido a partir de uma justificativa apa-
complementa. rentemente interessante, a de melhorar o foco e a qualida-
O propósito era saber, do ponto de vista das formulações de dos serviços de mídia – área que ganhou relevância em
e princípios de economia, que virtudes poderiam justificar função da multiplicação das possibilidades de veiculação.
a existência, por tão longo período de tempo, das práticas Os ganhos observados por algum tempo, no entanto,
de relacionamento comercial entre agências, veículos e têm sido comprometidos por uma hipertrofia do viés finan-
anunciantes existentes no Brasil, validando (ou não) estas ceiro – por parte tanto das agências como de seus clientes
práticas quanto à sua pertinência e utilidade comercial e – levando ao comprometimento tanto dos aspectos técni-
de gestão dos investimentos publicitários, considerando cos, como da própria gestão e das práticas de negócios,
quatro aspectos: isso sem considerar aspectos negativamente influentes
• sua lógica econômica; sobre a liberdade de geração de conteúdo dos veículos,
• seus benefícios gerais e para cada parte do mercado, a notadamente o jornalístico, e da gestão dos espaços publi-
saber, clientes-anunciantes, agências e veículos; citários pelos anunciantes interessados.
• sua relevância para as características específicas do mer- Tanto que nos últimos anos, especialmente no último, a
cado brasileiro; questão da falta de transparência, de existência de rebates
• sua indicação para que perdurasse no futuro, conside- (descontos) e bônus pouco claros têm estado no topo da
rando sua contribuição para o sucesso até o presente do lista dos pontos que abalam a transparência e a confiança
mercado e seu potencial positivo para o futuro. entre as partes.
As respostas obtidas nos documentos convenceram os Neste momento observa-se a existência de um movi-
que com eles tiveram contato e acredito que convencerão mento de retorno ao tradicional modelo clássico, full ser-
os que com eles vierem a ter contato. Os mencionados tra- vice, especialmente por parte de agências de alta compe-
balhos são apresentados neste segundo número da série tência e de clientes que demandam níveis superiores de
Documentos CENP, através de seus sumários executivos: eficácia para seus investimentos na área.
1. Análise econômica da racionalidade da autorregulação Como o leitor verá nas páginas seguintes, este movi-
do mercado brasileiro de propaganda, preparado pela F&A mento de retorno tem toda a lógica e o Brasil tem o mérito
Consultoria Econômica. de ter resistido e nunca ter desistido de seguir o modelo
2. Padrão competitivo – Concorrência baseada em quali- aprovado por mais de um século de produtiva utilização.
dade, da LCA Consultores. Boa leitura!
Completa este Documento um texto que apresenta da
forma concisa e didática o que é o Modelo Brasileiro de Caio Barsotti
Propaganda. Presidente do CENP

1
2
A HARMONIA EFICAZ DO MODELO
BRASILEIRO DE PUBLICIDADE

Traçando o histórico do chamado Modelo Brasilei-


ro de Publicidade, podemos constatar que o modo
de organizar as relações entre anunciantes, agên-
cias e veículos, definindo as características das
próprias agências em si, nasceu na realidade nos
Estados Unidos, junto com a publicidade do então
novo mercado de consumo, no início do Século XX.

Trata-se hoje de um sistema utilizado por


mercados de publicidade e agências ao
redor de todo planeta, que é lapidado
há mais de 100 anos.

Ao longo do tempo o sistema foi


incorporando as mídias que surgi-
ram, como o rádio e a TV, na primeira
e segunda metade do século passado,
respectivamente, e o digital na virada para
o século XXI. Também se adaptou à sofistica-
ção da publicidade, à chegada da função de plane-
jamento e à expansão do elenco de plataformas
utilizadas nas campanhas publicitárias.

3
HARMONIA EFICAZ DO MODELO BRASILEIRO DE PUBLICIDADE

Por razões legais, como se pode ver no primei- mercial pode ser descrito como sendo
ro número desta série de Documentos CENP, por três sistemas planetários convivendo
aspectos econômicos, como se detalhará neste na mesma galáxia, de forma multidi-
segundo número, e devido à própria existência do mensional e que se retroalimentam
CENP (nos últimos 20 anos), o modelo manteve- continuamente.
se predominante em nosso mercado, enquanto a
separação entre criação e mídia ocorria em vários São três sistemas que, apesar de diferen-
lugares do mundo, a ponto de haver a crença gene- tes, estão entrelaçados e compartilham o mesmo
ralizada de que ele havia sido extinto nos mercados sol: os consumidores – sejam as pessoas físicas,
mais sofisticados. sejam as jurídicas, na sua vertente de compradoras
de outras empresas.
Isso não ocorreu: o modelo permanece bastante
utilizado no maior mercado publicitário existente Os anunciantes (produtores de bens e serviços,
no mundo, o dos Estados Unidos, bem como na bem como seus distribuidores diretos e indiretos),
Europa e Ásia. os veículos de comunicação e as agências são três
sistemas planetários na galáxia da publicidade.
Porque grandes anunciantes e agências globais
optaram pela separação entre criação e mídia, fi- Mas por que os três sistemas são interdepen-
cou a sensação de que houve uma mudança radi- dentes e convivem no mesmo ecossistema da
cal, mesmo sem ser exatamente a verdade. mesma galáxia?

No Brasil isso não ocorreu e hoje somos o mais O sistema de anunciantes alimenta-se da ven-
relevante mercado publicitário a manter em seu da de bens e serviços aos consumidores (ou outras
mainstream o sistema tradicional que, nos últimos empresas que também podem ser anunciantes)
anos, voltou a ser valorizado em inúmeros merca- e, para isso, seus integrantes precisam construir
dos expressivos de publicidade, inclusive pelo au- suas marcas e incrementar suas vendas utilizando
mento de críticas à separação de criação e mídia e o instrumento publicidade e a plataforma veículos
o excesso de viés financeiro das agências de mídia. de comunicação de massa, que são os meios mais
eficazes para cumprir esses objetivos.
Não é de se estranhar, portanto, o movimento
de resgate do modelo tradicional e o fato de que O sistema de veículos constrói sua base de au-
o por nós denominado “modelo brasileiro” volte a diência de consumidores – que tenham valor para
crescer através do planeta. os anunciantes – aplicando do modo mais magis-
tral possível recursos na produção (ou compra) de
Galáxia com três sistemas planetários conteúdos informativos que tenham precisão e
independência jornalística e conteúdos de entre-
Mas qual seria a lógica para a manutenção do tenimento capazes de atrair e emocionar o maior
modelo clássico de relacionamento comercial e de contingente possível de espectadores/leitores/ou-
trabalho em um negócio visivelmente vintes. Para isso, é essencial a atração dos recur-
diferente do que era há um sécu- sos dos anunciantes.
lo? Porque existe uma lógica
que em essência se mantém No sistema das agências, mesmo es-
inalterada até hoje. tando em menor número e com menor
O setor da propaganda co- massa crítica, as do tipo full service são

4
O modelo de negócios tem
uma robusta lógica do ponto de
essenciais para a galáxia, pois elas são vista técnico, gerencial
os grandes enablers (catalizadores e e econômico, como comprovam
estimuladores), que fazem os demais
funcionarem adequadamente para os dois estudos econômicos
cumprir seu objetivo comum: atender preparados durante o último
aos consumidores.
processo do CENP
As agências não produzem bens ou têm valor junto ao CADE
autônomo, como os demais, mas expandem o po-
der, o valor e a capacidade deles – além da já men-
cionada função de enablers de todo o sistema.
de sistemas ampliar ainda mais suas possibilida-
São elas que estruturam mensagens atraentes des, tornando a estrutura ainda mais intricada, mas
e relevantes para os consumidores e definem a também, valorizando a lógica que fez o modelo que
melhor combinação de meios, veículos e posições funciona há tantos anos seguir como a melhor so-
para fazer com que essas mensagens, pertinentes lução para o presente e futuro.
às marcas anunciantes, de fato envolvam e moti-
vem os consumidores visados. A lógica econômica

São elas as mais capacitadas a fechar o círculo Isso ocorre porque o modelo de negócios tem
virtuoso entre os sistemas de anunciantes e de uma robusta lógica do ponto de vista técnico, ge-
veículos, ao formular e direcionar as melhores rencial e econômico, como comprovam os dois
mensagens para gerar os maiores resultados para estudos econômicos preparados durante o último
os primeiros, gerando maior flow de receitas para processo do CENP junto ao CADE. Ambos – da
os segundos. F&A e da LCA – são sumarizados a seguir neste
documento.
Adicionalmente nesse universo multidimensio-
nal, existe uma constelação de satélites, que são Mas a expansão dos limites do digital e sua apa-
as produtoras e os prestadores de serviços espe- rente onipresença para muitos estudiosos e gesto-
cializados, pelo lado da comunicação, e os agentes res levaram à miopia da confusão entre atividade-
de meios de pagamento e de logística, pelo lado meio e atividade-fim, à ilusão de geração de caixa
operacional. onde se encontra prejuízo e à crença de que todo
o universo acima descrito estava em processo de
Essa estrutura lógica também suporta o mo- decomposição.
delo histórico que coloca a agência no centro de
um processo que começa com as demandas dos Na verdade, o digital tem aumentado as possi-
anunciantes; é consolidado e estudado nas agên- bilidades e o poder de todos os demais persona-
cias, que detêm a capacidade de proposição de gens desse jogo centenário, que permanece mais
soluções; e executado nos veículos e outras plata- fortalecido e com maior potencial do que nun-
formas de comunicação. ca – comprovado pelo fato de que nos principais
mercados globais os maiores empreendedores
O mais recente meio de comunicação desenvol- e organizações digitais são hoje o segmento que
vido, o digital, também é uma plataforma operacio- mais investe nas mídias e processos criativos tradi-
nal e de distribuição e está fazendo esse conjunto cionais pois, assim como todos, também precisam

5
HARMONIA EFICAZ DO MODELO BRASILEIRO DE PUBLICIDADE

construir posicionamento e valor desconto-padrão sobre os investimentos em mí-


superior para suas marcas, dia assegura que as agências certificadas recebam
atingir o top of mind junto no mínimo esse valor, para realizar o atendimento
aos consumidores, dispu- fullservice a seus clientes e suportar o conjunto do
tar a liderança de merca- modelo. Resolvida a questão principal, da área de
do e gerar fluxo de caixa mídia, um conjunto de alternativas complementa-
positivo. res – de fees por tarefa ou período e de honorários
– assegura a correta remuneração das agências,
Os principais em consonância com o que elas fazem para seus
benefícios gerados clientes. O desconto-padrão é eficiente, igualmen-
pelos compromissos te, para a correção das falhas de mercado (como
dos aderentes ao Modelo será observado nos dois estudos econômicos pu-
Brasileiro de Publicidade blicados a seguir).

A lógica produtiva e virtuosa do Modelo Brasileiro Certificação – O processo de certificação asse-


de Publicidade é a de que a cada compromisso as- gura que as agências que recebem esse reconhe-
sumido por uma organização de uma de suas três cimento mantenham estrutura mínima de aten-
partes resulta em um ou mais benefícios para as dimento, mídia, criação e gestão e não realizarão
demais. E como o sistema é recíproco, todos, indi- serviços para concorrentes de seus clientes. Aos
vidual ou coletivamente, se beneficiam. Há benefí- veículos, além de indicar que as recomendações
cios evidentes, para uma ou mais partes, e outros de mídia serão suportadas por padrões mínimos
menos evidentes, pois beneficiam o conjunto do de uso de pesquisas de mídia, oferece um grande
sistema, que está solidamente amparado em pelo número de agências qualificadas como canal de
menos oito pilares: distribuição e provedoras de mensagens de qua-
Agência fullservice – A opção pelo modelo de lidade, gerando receitas de maneira capilar (o que
agência full service é o enabler (catalizador/estimu- garante mais liberdade para a produção de seus
lador) do sistema todo e do ambiente normativo conteúdos). Para as próprias agências, a necessi-
(legislação e autorregulação) que a regula, preser- dade de obtenção da certificação garante que suas
vando todos os direitos/deveres (interesses/com- concorrentes assim qualificadas adotem padrões
promissos) das partes. O modelo fullservice é o éticos comuns, definidos por autorregulação. Adi-
que tem o maior e mais extenso curso geográfico cionalmente, oferece segurança jurídica ao veículo
e temporal na história da publicidade brasileira e e ao anunciante de que estão transacionando com
mundial e evita os perigos, cada vez mais repor- uma agência legalmente qualificada, com seguran-
tados ao redor do mundo, da desagregação entre ça técnica que as verbas serão aplicadas de acor-
planejamento, criação e mídia. É um modelo, por do com as normas legais e as melhores práticas
consequência, mais favorável aos interesses dos comerciais.
anunciantes e veículos. Aos primeiros porque tem
um viés positivo de gerar publicidade mais eficien- Del credere – Assegura aos veículos que a agên-
te em seu conjunto. Aos segundos porque tende a cia irá cobrar e transferir adequadamente aos mes-
mitigar o afastamento da audiência, pela qualidade mos os valores recebidos dos anunciantes, em
da mensagem em si e sua maior conexão com o razão dos investimentos em mídia, respeitando os
conteúdo da mídia onde é veiculada. prazos acordados.
A prática resulta em eficiente rede de cobrança
Desconto-padrão – A opção pelo sistema de sem acréscimos de custos operacionais.

6
A lógica produtiva e virtuosa
do Modelo Brasileiro de
Competição pela qualidade – O modelo adota- Publicidade é a de que cada
do no Brasil privilegia, inclusive de forma legal, a compromisso assumido
competição pela qualidade como fator mais impor-
tante que a competição através de preços, manten- por uma de suas três partes
do a possibilidade do repasse de ganhos de escala resulta em um ou mais
nas maiores transações, com a garantia, portanto,
de que também exista, em alguma medida, com- benefícios para as demais
petição por preço.

Lista única e pública de preços dos veículos – agência só realize contratações por ordem e conta
A obrigatoriedade legal dos veículos definirem lista de seus clientes anunciantes após sua prévia apro-
única e pública assegura aos anunciantes e agências vação, o que resulta no conhecimento prévio de
a necessária transparência, criando condições claras todos os dados relacionados com aquele negócio.
para realização das negociações individuais e parti-
culares do interesse das partes. Complementarmen- Segurança jurídica e vantagem econômica
te, o sistema de autorregulação determina que os – O modelo adotado em razão do ambiente nor-
dados de audiência e de pesquisas sejam levantados mativo (legislação e autorregulação) que o regula,
segundo padrões reconhecidos e auditados, que os resulta tanto na segurança jurídica para todos os
veículos tenham que cumprir as programações de envolvidos como na redução dos custos de transa-
mídia aceitas e que só possam vender espaço/tem- ção. A segurança jurídica deriva do sistema misto
po para clientes nominados (evitando a perversidade de legislação e autorregulação existen-
da especulação financeira com os preços de mí- te e da indução à reciprocidade
dia). Tudo isso leva a um ambiente mais saudá- entre as partes. O menor cus-
vel para a competitividade entre as organiza- to de transação deriva das
ções de mídia, ampliando sua capacidade sinergias e eficiências do
de competição de forma ética. sistema, decorrentes da
segurança provida pela
Transparência das relações – A decor- normatização das milhões
rente transparência das relações entre as de transações realizadas
partes pelo ambiente normativo (legislação pelo setor a cada ano, na
e autorregulação) que a regula, ele- amplitude continental
va as condições para se atuar do mercado brasi-
em compliance com esse leiro.
arcabouço, sem inibir a
competição entre as
partes, mas evitan-
do que a atuação de Por João Luiz
predadores de qual- Faria Netto
quer dos lados venha (advogado,
comprometer individu- consultor do CENP,
al ou coletivamente os diretor de assuntos legais do CONAR e
demais, inclusive de seu diretor do Sinapro-RJ) e
próprio setor. Destaque-se Thiago Francisco da Silva Brito (advogado e
que é legalmente exigido que a sócio da Sampaio Ferraz Advogados)

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CONCORRÊNCIA EM QUALIDADE –
ANÁLISE ECONÔMICA DO MODELO
BRASILEIRO DE PUBLICIDADE
LCA Consultores

No ano de 2014 a LCA Consultores foi encarregada de fazer um estudo sobre o mercado brasileiro de publicidade,
suas características essenciais e a lógica econômica do sistema de autorregulação adotado há 19 anos. O
documento final é sumarizado a seguir, mas iniciamos pelo fim, ou seja, pelas conclusões preparadas pelos autores,
onde eles destacam os principais pontos de seu estudo. O objetivo é enfatizar a relevância da leitura do texto
completo, que oferece uma visão muito interessante dos benefícios da autorregulação ético-comercial da atividade
publicitária.

Conclusões
A partir de duas premissas – de que o merca- menor porte e mais jovens.
do publicitário é muito heterogêneo e compete,
essencialmente, através da qualidade, em um 3) A concorrência na dimensão preço é preser-
ambiente de forte assimetria de informação – os vada, pois o desconto-padrão mínimo é parcial-
autores do estudo apontaram seis conclusões mente negociável e reversível. Ele representa, na
em seu trabalho analítico, destacando as falhas prática, um valor de referência, um teto.
de mercado mais relevantes e os pontos que são
positivamente compensados pela adoção, no 4) Os efeitos positivos do desconto-padrão
Brasil, de um sistema misto de legislação e de são: a) remunera serviços prestados pelas agên-
autorregulação ético-comercial. cias; b) garante qualidade das campanhas publi-
citárias; e c) favorece concorrência exercida por
1) Como o setor de publicidade apresenta im- agências sem reputação consolidada, porém em
portantes falhas de mercado – assimetria de in- condições de ofertar serviços (campanhas) de
formação, seleção adversa, free-riding, custos de qualidade.
transação e externalidades –, os mecanismos de
livre precificação levariam a resultados ineficien- 5) Na ausência do desconto-padrão, anuncian-
tes, se a autorrregulação não fosse adotada. tes e veículos incorreriam em custos e inefici-
ências relativos a numerosas transações e res-
2) Visto que a regulação legal é tida como in- pectivas negociações, não havendo garantias de
suficiente pelos próprios agentes do setor, a au- redução de preços.
torregulação se mostra necessária para funciona-
mento mais eficiente do mercado. Dessa forma, 6) Entidades nacionais representantes de todos
o desconto-padrão, ao indicar remuneração de os agentes do setor pactuaram as Normas-Pa-
referência favorece a diminuição da assimetria de drão e integram os órgãos do CENP, representan-
informação, a redução dos custos de transação e do evidência de que todos os elos se beneficiam
viabiliza a presença no mercado de agências de com a autorregulação.

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O mercado publicitário
brasileiros é grande,
Um mercado heterogêneo muito heterogêneo e
compete, essencialmente,
A análise inicia-se com os parâmetros do setor
publicitário, com os fatos, as características e os através da qualidade e da
números das empresas anunciantes, das agên- reputação nesse aspecto
cias e dos veículos de comunicação, tomando-se
por base dados disponíveis à época da elaboração
do estudo.
grupos, com veículos de diversas mídias.
O setor de anunciantes participa com um in-
vestimento anual em mídia na faixa de R$ 33,5 O padrão competitivo é baseado na qualidade
bilhões (segundo os últimos dados disponíveis do
Inter-Meios, de 2014). Existe uma elevada diversi- Em seguida é demonstrado que no campo da
dade de empresas anunciantes, mas no Brasil os publicidade o padrão competitivo é baseado na
setores de Varejo, Higiene Pessoal e Beleza são qualidade. Os pontos que sustentam essa afirma-
os que mais investem. Em 2014, mais de 54 mil ção derivam de diversos estudos acadêmicos de
anunciantes investiram em publicidade nos prin- alta relevância e foram sumarizados pelos autores
cipais veículos de publicidade do país (segundo do documento:
dados do Kantar Ibope Monitor).
A inovação é a criação e aplicação de novos co-
No setor de agências, há aproximadamente 4,4 nhecimentos e de novas ideias (Arrow, 1962):
mil agências de publicidade, sendo cerca de 2.160 • Nos mercados marcados pela inovação, nos
certificadas pelo CENP (segundo dados da época quais os produtos diferenciados são constante-
da encomenda do estudo à LCA Consultores). Das mente melhorados, os vetores competitivos são
certificadas pelo CENP nota-se alta concentração focados mais em qualidade e em performance do
geográfica, com 35% das agências sediadas em que em preço (Pleatsikas e Teece, 2001).
São Paulo e 11% em Minas Gerais; há ampla va- • O mercado publicitário é baseado em novas
riedade de portes, mas apenas 5% têm receita ideias e qualidade, sendo que seu produto final é
bruta anual maior que R$ 7 milhões. As maiores altamente diferenciado.
agências fazem parte de grandes grupos de comu- • A qualidade da campanha publicitária passa a
nicação. As líderes têm, em sua maioria, mais de ser a variável chave. Assim, o objetivo do principal
15 anos no mercado. Mas há um elevado número serviço de uma agência é produzir ideias e campa-
de agências mais recentes e de menor porte. nhas criativas que irão alavancar as vendas/lucro/
reputação dos anunciantes (Arzhagi, 2005).
O setor de veículos é constituído por muitos • As campanhas de má qualidade podem trazer
meios e canais de comunicação. Entre os princi- retornos negativos para todos os agentes, pois
pais segmentos, a TV é líder com R$ 23,16 bilhões denigre a marca do anunciante e prejudica a audi-
de receita anual (segundo o mencionado Inter- ência dos veículos (gerando maiores dificuldades
Meios); seguidos por Jornal (R$ 2,88 bilhões /ano) para os demais anunciantes).
e TV por Assinatura (R$ 2,02 bilhões/ano). A pu-
blicidade na internet é um segmento importante, Dessa forma, assim como nos outros mer-
com crescimento recente bastante significativo. cados pautados na inovação, a concorrência é
Há relevante atuação dos veículos com foco re- intensa na dimensão qualidade, com o preço
gional. E o mercado está concentrado em grandes apresentando papel secundário.

9
CONCORRÊNCIA EM QUALIDADE – ANÁLISE ECONÔMICA DO MODELO BRASILEIRO
DE PUBLICIDADE

Tendo como base o tradicional estudo AgencyS- maiores agências, pois as líderes possuem, em
cope, realizado pela Scopen, consultoria interna- geral, mais de 15/20 anos de mercado.
cional presente em 12 países, a LCA identificou
que o principal atributo de uma agência de publi- Ainda sobre o padrão competitivo desse mer-
cidade, identificado pelos anunciantes, é a criati- cado, o estudo aponta que a rivalidade entre as
vidade/inovação (57% das respostas), enquanto agências é grande e se dá, principalmente, na
a relação qualidade/preço se encontra na 8ª posi- dimensão da qualidade, com o preço ocupando
ção (12%). E a criatividade é a característica mais papel secundário. O preço é uma variável pou-
valorizada em todos os outros países nos quais a co relevante na eleição das agências para uma
pesquisa é realizada. concorrência (utilizada por apenas 1,7% dos en-
trevistados) e é um motivo secundário para um
Nos processos seletivos, coerentemente, ter anunciante mudar de agência (14,6% trocaram de
pensamento estratégico aparece como deter- agência por custos e falta de transparência), ainda
minante para 76,5% dos envolvidos nos clientes segundo o Scopen.
na condução de processos seletivos de novas
agências, enquanto a criatividade é destacada O mercado é altamente competitivo, no entan-
por 66,5% deles. Também se constatou que os to, e a grande maioria das contratações (85%) é
anunciantes reconhecem que o trabalho desen- realizada a partir de concorrência entre agências.
volvido pelas agências tem impacto relevante no Essa percentagem de concorrências é similar ao
resultado das empresas. Grande parte dos anun- da média dos países em que a pesquisa da Sco-
ciantes (49% dos entrevistados) acredita que as pen é realizada (80%). Encerrando essa parte da
agências de publicidade contribuem de forma re- análise, o estudo destaca que a referida pesqui-
levante para o crescimento do negócio. sa indica uma elevada fidelidade entre agência e
anunciante, no Brasil. A duração média da relação
Continuando sua análise, o estudo da LCA afir- é de 5,9 anos.
ma que até a legislação do setor aponta para a
concorrência em termos de qualidade, pois a Lei Em seguida, a LCA destaca o aspecto de valo-
12.232 reconhece a importância da qualidade rização da qualidade por parte do CENP, que con-
ao determinar procedimentos sobre licitação cede Certificação de Qualificação Técnica com o
de publicidade no setor público e define como objetivo da busca da garantia de um padrão míni-
regra de contratação o uso de “melhor técni- mo, para aumentar a probabilidade de realização
ca” ou “técnica e preço”. de campanhas publicitárias de qualidade e que
representa sinalização de reputação por parte das
Outro aspecto objeto da análise foi a questão agências certificadas.
da reputação no setor, que é um fator importan-
te em mercados com assimetria de informação Essa certificação de qualificação concedida pelo
e dificuldade em auferir a qualidade do produto CENP é rigorosa. Por não atender a quesitos re-
(Fedele e Tedeschi, 2011). Caso da publicidade, lacionados a este tema (estrutura profissional,
onde a reputação representa um importante me- estrutura física e pesquisa de mídia), o número
canismo de sinalização, razão pela qual os líderes de indeferimentos de certificações foi de 432 en-
de mercado buscam construir sua reputação para tre janeiro a julho de 2015, equivalentes a 41%
sinalizar qualidade. A construção de reputação dos novos pedidos realizados (dados do Departa-
demanda bastante tempo e investimento por par- mento de Certificação do CENP). E é importante
te das agências. Fato corroborado pela idade das observar, também, que não há registro de recla-

10
O desconto-padrão mínimo é
uma estrutura de remuneração
mação de anunciantes a respeito do trabalho das de referência que visa
agências certificadas.
estimular a qualidade dos
Os efeitos positivos do desconto-padrão serviços sem eliminar a
concorrência via preço
A LCA também analisou o desconto-padrão mí-
nimo de 20% por parte dos veículos, recomenda-
do para agências certificadas; que é um percen-
tual do negócio realizado e não preço em termos uma mesma campanha publicitária para determi-
absolutos; que é um percentual negociável, pois nado anunciante.
é mínimo, ou seja, nada impede que possa ficar
acima dos 20% ou, de acordo com o Anexo B das A autorregulação beneficia o mercado
Normas-Padrão, possa ficar abaixo de 20%.
Para além de incentivar campanhas de qualida-
O desconto-padrão mínimo é uma estrutura de, como já mencionado, há serviços e agregação
de remuneração de referência que visa esti- de valor adicional. Os principais benefícios para as
mular a qualidade dos serviços sem eliminar empresas anunciantes são os que aumentam as
a concorrência via preço.(1) Para relações entre eficiências dos investimentos em mídia:
agências não-certificadas e anunciantes, bem • Agência seleciona, com expertise técnica, os
como de relações declaradas non-compliance melhores veículos e espaços/tempo;
com agências integrantes do modelo de autorre- • Expertise das pesquisas de mídia permite con-
gulação, o desconto remunerador é resultado de tratação de espaços publicitários mais valorizados
livre negociação. Cita-se também a existência de e argumentos técnicos para negociação de pre-
casos de anunciantes com verbas expressivas, ços;
com previsão de reversão de parte do desconto- • A agência negocia também, junto aos veículos,
padrão da agência para os anunciantes com essas o desconto comercial. Anunciante tem a liberda-
características, sempre referenciado pelo Anexo de de participar da negociação diretamente com
B das Normas-Padrão. o veículo;
• Redução dos custos de transação causados pelo
O montante dessa reversão depende de que número de negociações com veículos;
o investimento bruto anual em mídia pelo anun- • Pequenos anunciantes não possuiriam poder de
ciante seja expressivo, devido ao ganho de escala; barganha e expertise para negociar com veículos
também depende de que a verba de mídia seja o desconto comercial;
pelo menos duas vezes maior do que a de produ- • Segundo a pesquisa AgencyScope, a capacida-
ção; e define um máximo de 5 pontos percentuais de Mídia/Negociação é um atributo bastante valo-
dos 20 do desconto-padrão. O racional para essa rizado, inclusive mais que boa relação qualidade/
reversão é o efeito escala, pois à medida que se preço.
aumenta o volume de gastos em mídia de uma
mesma campanha publicitária, dilui-se o custo Já para os veículos, os principais benefícios são:
de gestão/negociação e da própria elaboração de • Maior segurança jurídica, com pontos adicionais

(1) É importante observar que o desconto-padrão é a remuneração referente à prestação dos serviços de mídia das agências, pois outras tarefas, como plane-
jamento de novos projetos, criação em geral, supervisão da produção e pesquisas, entre outros, têm sua remuneração prevista pelas Normas-Padrão, inclusive
com referências de melhor prática.

11
CONCORRÊNCIA EM QUALIDADE – ANÁLISE ECONÔMICA DO MODELO BRASILEIRO
DE PUBLICIDADE

de controle – agência cobra os valores devidos • As agências competiriam intensamente por pre-
pelo anunciante, reduzindo inadimplência, o que ço para atrair clientes;
minimiza custos dos veículos com departamen- • É extremamente baixa a disposição de anun-
tos de cobrança; ciantes em arriscar obter uma campanha de má
• Desenvolvimento de novos anunciantes; qualidade, em todos os aspectos do planejamen-
• Negociação técnica, baseada em pesquisa de to à execução de mídia, pois ela denigre imagem
mídia, que eleva a percepção de valor do espaço/ do produto e da empresa. Uma campanha de má
tempo do veículo; qualidade pode, inclusive, apresentar retorno ne-
• Facilita o alcance comercial aos milhares de gativo;
anunciantes. • Como a dimensão qualidade é muito relevante,
agências maiores, com reputação mais consolida-
Os efeitos positivos sobre as falhas do mercado da, apresentam vantagem, ainda que apresentem
preços mais elevados;
A LCA também analisou as falhas de merca- • Diante do investimento total do anunciante com
do no campo da publicidade – assimetria de in- campanhas publicitárias, o custo da agência é re-
formação, seleção adversa, free-riding, custos de lativamente baixo, indicando baixa sensibilidade a
transação e externalidades –, suas consequências preços.
e os efeitos positivos do sistema de desconto-pa-
drão. O efeito da assimetria de informação seria a
concentração do mercado nas mãos de agên-
A falha de mercado da assimetria de informa- cias com reputação consolidada, dificultando
ção decorre do setor publicitário ser um mercado novas entradas.
muito heterogêneo em termos de poder econô-
mico dos agentes, com as seguintes realidades e Analisando os efeitos positivos do desconto-
consequências: padrão, o estudo indica quatro pontos relevantes.
• O segmento de agências é pulverizado e com
maioria dos players com porte econômico reduzi- O primeiro é que um mercado de publicidade
do versus os demais elos, embora exista concen- eficiente demanda concorrência acirrada na di-
tração em grandes players; mensão qualidade.
• Agências ainda sem reputação consolidada se-
riam o segmento mais fraco da cadeia, no entanto O segundo é que ao estabelecer um desconto-
podem ter condições de desenvolver campanhas padrão, uma renda mínima é garantida para as
de qualidade; agências e cria incentivos para uma maior compe-
• Diante da assimetria de informação, essas agên- tição na dimensão qualidade. Esse desconto-pa-
cias não estariam em condições de sinalizar sua drão contribui para redução da concentração
qualidade e de negociar de forma mais equilibrada do mercado associada à necessidade de consti-
com veículos e anunciantes. tuição de marca e reputação para sinalizar qualida-
de. Há, portanto, um incentivo à competição na di-
A inexistência de referência (representada pelo mensão qualidade: agências menores, porém em
desconto-padrão) pode dificultar que agências condições de produzir campanhas de qualidade,
ainda sem reputação consolidada e mais novas conseguem competir em condições mais simétri-
sejam adequadamente remuneradas, dificultando cas com as agências maiores.
sobremaneira sua permanência no mercado, devi-
do à probabilidade de que: O terceiro ponto é que o desconto-padrão não

12
O efeito da assimetria de
informação seria a
significa proteção a agências ineficientes, uma concentração do mercado
vez que agências ineficientes, incapazes de pro-
nas mãos de agências com
duzir campanhas de qualidade não sobrevivem à
competição no mercado. reputação consolidada,
dificultando novas entradas
Finalmente, o quarto ponto é que remanesce a
concorrência na dimensão preço.

No caso da seleção adversa em função da assi- das concorrências no Brasil são efetivamente re-
metria de informação, a falha de mercado ocorre muneradas). Poderia haver, portanto, a redução
quando um dos agentes de uma transação não nas vendas das agências de maior qualidade, uma
observa determinada informação relevante sobre vez que o potencial comportamento “carona” de
um bem/serviço, como qualidade. Os anuncian- anunciantes pode fazer com que esses tendam
tes têm dificuldade em avaliar ex-ante a qualidade a contratar as agências de pior qualidade que co-
do trabalho de cada agência; existe alta subjeti- brem um preço menor. E, ao final, essa situação
vidade na avaliação e risco; usando um mecanis- desincentiva a produção de campanhas de melhor
mo de livre precificação os anunciantes não terão qualidade, devido à possibilidade das ideias das
propensão a remunerar agências assumindo cam- agências de boa qualidade serem apropriadas pe-
panhas de boa qualidade, pois o valor disposto a los anunciantes e pelas agências de pior qualida-
pagar tende a remunerar apenas serviços de má de.
qualidade; e mesmo ex-post existe dificuldade em
avaliar o real efeito da campanha. Há, portanto, fal- A soma dessas falhas pode resultar na pro-
ta de incentivo para a produção de campanhas de dução de campanhas publicitárias de baixa
qualidade. qualidade. No entanto, ao estabelecer um valor
de referência para a negociação entre as partes,
O efeito do desconto-padrão, neste caso, é o desconto-padrão diminui o incentivo para que
que o preço de referência garante remuneração anunciantes troquem de agências com mais qua-
mínima das agências e eleva a competição pela lidade para agências com menos qualidade. As-
dimensão qualidade. Cria-se incentivo para que as sim, o problema de apropriação indevida de
empresas ampliem a qualidade das campanhas ideias é mitigado pela existência do desconto-
oferecidas, pois é nesta dimensão que agências padrão, e as agências de maior qualidade te-
irão se destacar de seus concorrentes. Com isso rão incentivos para oferecer seus serviços de
há a tendência de que a qualidade média das cam- qualidade superior.
panhas publicitárias aumente.
No caso da falha de mercado de custos de tran-
Referente à falha de mercado do free-riding, sação, os problemas derivam do fato de que a
os três aspectos mais prejudiciais são os fatos realização de transações econômicas implica em
de que devido à natureza do trabalho criativo das diversos custos, como a negociação, complexida-
agências, o anunciante pode se apropriar do con- de de elaboração do contrato, monitoramento e
teúdo de várias concorrentes e compartilhar ape- enforcement dos termos contratuais, dificuldade
nas com uma agência a ser contratada que, com de mensuração do desempenho (Milgrom e Ro-
isso, pode praticar preços reduzidos. Aliás, é prati- berts, 1992); sendo que no mercado publicitário,
ca comum no mercado as conhecidas concorrên- negociação de preços envolve diversos tipos de
cias “especulativas” (calcula-se que apenas 10% possibilidades de campanhas, horários, progra-

13
CONCORRÊNCIA EM QUALIDADE – ANÁLISE ECONÔMICA DO MODELO BRASILEIRO
DE PUBLICIDADE

mas, formatos, etc. enquanto que os serviços ne- Com o desconto-padrão, por outro lado, há a ga-
gociados (campanhas publicitárias) são bastante rantia de remuneração de referência para estimu-
heterogêneos e diferenciados. Há dificuldade de lar nível de investimento em qualidade mais pró-
avaliar ex-ante a qualidade e o efeito da campanha ximo do desejável; o aumento da competição por
e, mesmo a posteriori, há elevada subjetividade qualidade eleva o nível médio desta no mercado;
envolvida na avaliação da qualidade da campanha há a internalização da qualidade das campanhas
e dos seus resultados. Inclusive, dado o elevado na cadeia produtiva.
volume e complexidade das transações, esse
custo de mensuração e monitoramento da quali- A externalidade positiva, por sua vez, é que to-
dade se torna bastante significativo. dos os agentes irão se beneficiar pela melhor
qualidade das campanhas publicitárias e o
Assim, os elevados custos na negociação efeito será o aumento dos investimentos em
individual criam dificuldade na precificação produção de campanhas de qualidade.
apropriada considerando a qualidade do ser-
viço prestado. Mas com o desconto-padrão, o Em resumo:
preço de referência reduz o número de interações • A assimetria de informação é atenuada pela
entre agências e anunciantes e entre agências e certificação realizada pelo CENP e reconhecida
veículos, o que reduz os custos de transação, pois pela legislação.
elimina necessidade de elaboração de contratos • Para a assimetria de poder, o desconto-padrão
complexos, que envolvem serviços com atributos como remuneração de referência intensifica con-
subjetivos e de difícil verificação e monitoramen- corrência imposta por agências que ainda não
to; minimiza conflitos e diminui o tempo dispendi- possuem reputação, mas apresentam serviços
do em negociações. Com isso se produz o efeito de qualidade.
de redução de custos de transação ao longo • No caso da seleção adversa, o desconto-padrão
da cadeia. faz a remuneração de referência incentivar agên-
cias a ofertarem trabalho de qualidade.
No caso da falha de mercado derivada das ex- • E para a questão do free-riding, o desconto-
ternalidades, há que se considerar que no mer- padrão faz a remuneração de referência mitigar
cado publicitário a qualidade das campanhas pu- problema de apropriação do investimento em ser-
blicitárias possui efeitos indiretos para além de viços de qualidade.
alavancar a reputação e venda do bem ou serviço • Em relação aos custos de transação, o descon-
anunciado: nos veículos, a audiência é afetada to-padrão gera redução do número e complexida-
negativamente pela eventual baixa qualidade das de das negociações necessárias.
campanhas publicitárias; nos anunciantes, a qua- • Finalmente, para compensar externalidades
lidade da campanha escolhida por determinado negativas, o desconto-padrão aproxima o nível de
anunciante impacta a eficiência de outras campa- investimento em qualidade do socialmente dese-
nhas, pois a queda da audiência do veículo atinge jável.
as campanhas dos demais anunciantes; e, além
disso, a perda de credibilidade pode afetar cam- Dessa forma, as Normas-Padrão e, especial-
panhas futuras. mente, o desconto-padrão, são fundamentais
Como efeito possível, há os investimentos na para ampliar a eficiência econômica do setor. É
produção de campanhas de qualidade subóti- a indicação de um valor de referência que diri-
mos. me os efeitos das falhas de mercado – uma vez

14
Com o desconto-padrão,
há a redução de
que a regulação legal (leis e decretos atuais) transações ao longo
foi considerada insuficiente.
da cadeia, gerando
Remanesce a concorrência na dimensão pre- o efeito positivo
ço, pois o desconto-padrão de 20% não repre- de fast track
senta fixação de preços, uma vez que não é fixa-
ção de preço direto, é um percentual que decorre
de negociação livre; o desconto-padrão incide so- declaratória à agência, encaminhada ao anuncian-
bre o custo da mídia, que é um valor livre e intensa- te e veículos associados e às entidades fundado-
mente negociado: evidência indica que, em média, ras e associadas ao CENP para cientificação. Além
os descontos negociados podem superar 70% do disso, a remuneração das agências não envolve
valor de tabela e não há qualquer impedimento para apenas desconto-padrão, pois essa não é a única
que anunciante participe da negociação juntamente fonte receita das agências. Há negociação na re-
com a agência; como o budget dos anunciantes é muneração dos custos internos e dos honorários
estabelecido a priori, agências lideram negociação de serviços de terceiros. E há também formas de
e são estimuladas a negociar descontos comerciais remuneração adicional, por performance.
para garantir maior exposição da sua campanha,
repercutindo em maior efeito positivo dos seus Desse modo, a existência do desconto-padrão
serviços (cabe lembrar que a efetivação das con- mínimo de 20% representa, na prática, uma re-
tratações dos espaços e tempo só ocorrem após a ferência que não elimina a competição na di-
aprovação do anunciante); as Normas-Padrão ape- mensão preço e garante todos os incentivos
nas indicam um mínimo, uma vez que o valor pode para uma acirrada competição na dimensão
ser maior do que 20% e o desconto-padrão tam- qualidade, com benefícios estendidos a todos
bém pode assumir valores inferiores a 20%, confor- os agentes direta ou indiretamente envolvidos
me o Anexo B das Normas-Padrão. no setor publicitário.

Agências e anunciantes podem optar por não Trabalho preparado por Silvia Fagá de Almei-
negociar nos termos das Normas-Padrão. Neste da e Bernardo Macedo, da LCA Consultores,
caso, o CENP define essas relações como non- por solicitação do Sampaio Ferraz Advogados,
compliance às normas, porém as agências se- para fins de instrução de processo administra-
guem certificadas. É feita advertência meramente tivo envolvendo o CENP junto ao CADE.

15
ANÁLISE DA RACIONALIDADE ECONÔMICA
DA AUTORREGULAÇÃO DO MERCADO
BRASILEIRO DE PROPAGANDA
FA Estudos Econômicos

A seguir é comentado e, em grande parte, reproduzido, o Sumário Executivo do parecer econômico preparado
pela FA Estudos Econômicos, a pedido de Sampaio Ferraz Advogados para o CENP, com o objetivo de apresentar
no processo administrativo realizado pelo CADE para investigar as Normas-Padrão da Atividade Publicitária e as
atividades do CENP a racionalidade econômica do modelo brasileiro de autorregulação. Este processo administrativo
foi arquivado em 18 de janeiro de 2017.

Conclusões
Iniciamos pelo fim, ou seja, pelos três últimos está ancorada na intenção de reduzir a compe-
parágrafos do Sumário Executivo preparado pe- tição. Ao contrário, as Normas-Padrão buscam cor-
los autores, nos quais eles destacam as principais rigir imperfeições de mercado e, deste modo, am-
conclusões de seu Parecer. O objetivo é enfatizar a pliar o bem-estar social, efeito oposto ao que ocorre
nossos leitores a relevância da leitura do texto com- na presença de práticas anticompetitivas.”
pleto, que oferece uma visão nova dos benefícios
da autorregulação ético-comercial da atividade pu- A análise, passo-a-passo
blicitária.
“Os critérios e padrões adotados nas Normas- Os autores iniciam seu documento pontuando
Padrão são públicos e acessíveis a qualquer que “o mercado brasileiro de propaganda possui
um, sendo extensíveis a qualquer entrante no um arcabouço legislativo-regulatório próprio e sin-
mercado. Ou seja, não se faz uso estratégico das gular, constituído por um conjunto de leis e decre-
Normas-Padrão como uma forma de prejudicar a tos, bem como por normas elaboradas pelos diri-
entrada de agências de propaganda. Na verdade, gentes das principais entidades representantes de
as Normas-Padrão são até mencionadas expressa- anunciantes, agências de publicidade e veículos de
mente em lei. comunicação, que criaram e mantêm uma entidade
“Mais do que isso, não é necessário satisfa- para zelar por estas normas, e na qual estão todos
zer as Normas-Padrão para operar no mercado. representados em seus organismos internos. Esta
Os anunciantes apenas podem interpretar a não entidade é o Conselho Executivo das Normas-
certificação como o resultado de um processo de Padrão, o CENP, criado em 1998”.
revelação do tipo da agência, que nesse caso seria
um tipo de qualidade, em média, inferior, em que O texto analítico prossegue lembrando que “as
pese representarem mais da metade do mercado Normas-Padrão da Atividade Publicitária também
em processo de operação. definem as condutas e regras das melhores práti-
“Por todo exposto, este Parecer conclui que exis- cas éticas e comerciais entre os principais agentes
te uma racionalidade econômica para as Nor- da publicidade brasileira: anunciantes, agências de
mas-Padrão estabelecidas pelo CENP que não publicidade e veículos de comunicação”. Observa-

16
Exis­te uma racionalidade
econômica para as
se, a seguir, que “em 2005, foi instaurado proces- Nor­mas-Padrão
so administrativo em desfavor do CENP sob a ale-
gação de que a atuação da entidade como órgão
fiscalizador e certificador do mercado brasileiro de a agência quem contrata, em nome e por con-
propaganda seria prejudicial à livre concorrência”. ta do anunciante, o espaço/tempo publicitário
Em particular, “pontuou-se que algumas das Nor- dos veículos de comunicação, sempre tendo por
mas-Padrão poderiam ser consideradas lesivas à base o orçamento negociado e aprovado pelo
competição”. seu cliente, bem como o planejamento de mídia
e a atividade criativa (campanha publicitária)
Mas os especialistas destacam, imediatamente, por ela desenvolvida (e igualmente aprovada pelo
“que a teoria econômica moderna do antitruste seu cliente)”.
considera que alguns tipos de condutas empre-
sariais usualmente tidas como negativas para a No texto descritivo/analítico do parecer destaca-
concorrência podem, na verdade, ser a resposta a se que “os preços praticados pelos diversos veícu-
uma necessidade de corrigir determinadas falhas los são fixados em listas de preços divulgadas ao
de mercado. Neste caso, as condutas inicialmente público(1) e que, tradicionalmente, parte da remune-
consideradas como anticompetitivas apresentam ração das agências corresponde a um percentual
um potencial de incremento do bem-estar social, do valor cobrado pelos veículos de comunicação
não existindo assim justificativa para uma eventual junto aos anunciantes.
condenação”.
É esclarecido, também, que “além das receitas
Na sequência e para avaliar se este seria o caso advindas por meio do desconto-padrão, a agência
das Normas-Padrão da Atividade Publicitária, os au- também é remunerada pelo anunciante pelos cus-
tores expõem de forma didática como funcionam tos internos e de criação, bem como recebe hono-
as relações comerciais entre anunciantes, agências rários pela administração de serviços de terceiros,
de publicidade e veículos de comunicação; descre- tais como produção de uma peça publicitária im-
vem o arcabouço legislativo e regulatório do setor pressa, um filme etc.”.
(todos os detalhes sobre este tema estão no Docu-
mento1 desta série de publicações do CENP), bem Nos parágrafos a seguir, o documento dos pare-
como as mencionadas Normas-Padrão; além de ceristas discorre sobre os procedimentos de fatura-
identificar a existência de eventuais falhas de mer- mento e pagamento do espaço/tempo contratados,
cado e se elas poderiam, sob a égide da legislação destacando que “essas relações comerciais estão
e da autorregulação, levar o mercado a funcionar suportadas pela legislação e pelas Normas-Padrão
em uma situação subótima em alguns de seus as- do CENP” e que “se a agência tiver o certificado
pectos e momentos. de qualificação técnica expedido pelo próprio CENP
– trata-se do Certificado de Qualificação Técnica –,
Após descrever os serviços prestados pela agên- esse desconto padrão não pode ser inferior a 20%
cia de publicidade e pelos veículos de comunica- sobre o valor do negócio encaminhado ao veículo”.
ção e como eles são verticalmente relacionados, o
texto dos especialistas esclarece particularidades Os autores destacam, igualmente, que “por meio
das relações deles com os clientes-anunciantes, de autorregulação, existem alguns mecanismos de
ressaltando que, em todas as circunstâncias, “é flexibilização das regras afeitas ao desconto padrão,

(1) Sobre esses preços, os veículos podem oferecer condições ou vantagens de sua conveniência, isto é, descontos comerciais, observado o disposto
na Norma-Padrão 2.3.

17
ANÁLISE DA RACIONALIDADE ECONÔMICA DA AUTORREGULAÇÃO DO MERCADO
BRASILEIRO DE PROPAGANDA

como a possibilidade de reverter parte da remune- O parecer prossegue ressaltando que “esta au-
ração da agência para o anunciante quando o inves- torregulação possui racionalidade própria, ancorada
timento bruto anual realizado pelo anunciante for na necessidade de contornar falhas de mercado
expressivo e a verba de mídia for pelo menos duas e não na intenção de reduzir a competição no mer-
vezes maior do que a da produção (Norma-Padrão cado de propaganda; falhas de mercado que estão
3.5)”. resumidas na Tabela 1”.

Tabela 1 - Resumo das Falhas de Mercado no Setor de Propaganda

Agentes Econômicos
Falha de Mercado Breve Descrição
Envolvidos
Seleção adversa Assimetria de informação com Anunciantes e agências
relação à qualidade das agências
Free riding Captura das ideias geradas por Anunciantes e agências
(Externalidade positiva) uma agência
Externalidade negativa Baixa qualidade da propaganda Veículos, anunciantes e agências
afasta audiência dos veículos
Custos de transação Custos informacionais; Veículos, anunciantes e agências
oportunismo e multiplicidade de
transações

“Para o mercado de propaganda, a avaliação da “Neste caso, são necessários mecanismos de


qualidade do serviço prestado pelas agências de sinalização que permitam aos compradores (no
publicidade envolve elevado grau de subjetividade caso, os anunciantes) segmentarem de forma apro-
e é naturalmente menos observável ou quantifi- priada os vendedores (no caso, as agências de pu-
cável, relativamente a outros mercados de bens. blicidade) conforme sua qualidade. A certificação
Assim, uma das falhas de mercado que caracteri- das agências realizada pelo CENP busca preen-
zam o mercado de propaganda é a assimetria de cher esta lacuna no mercado de propaganda,
informação na avaliação da ‘qualidade’ do serviço sinalizando aos potenciais compradores e aos
prestado pelas agências de publicidade, o que leva fixadores de parte de sua remuneração (os veí-
ao problema clássico de seleção adversa. culos) em que medida cada agência cumpre ou
não determinados requisitos técnicos.
“Em mercados com problemas de seleção ad-
versa, a proporção da oferta dos prestadores do “Vale lembrar – prossegue o documento –, que a
serviço de má qualidade tende a ser superior à pro- certificação segue regras transparentes e promove
porção daqueles que prestam serviços de boa qua- o enquadramento das agências de acordo com o
lidade. Assim, o comprador (no caso, o anunciante) tamanho de cada uma, garantindo isonomia entre
acaba por atribuir uma probabilidade maior de que elas. Além do mais, a certificação não é obrigatória,
o prestador do serviço será o de má qualidade do tampouco impede que o veículo ofereça desconto-
que o do serviço de boa qualidade. Este problema padrão ou superior para agências não certificadas.
trará impacto tão mais negativo quanto mais As evidências disponíveis sugerem, inclusive, que
distantes forem as qualidades entre os presta- a maior parte das agências no País opera normal-
dores do serviço de boa e de má qualidade. mente sem certificação.

18
A assimetria de informação
na avaliação da “qualidade’’
“A exclusão dos chamados ‘bureaux de mídia’(2) e do serviço leva ao problema
outros assemelhados, que quase nada agregam de
clássico da “seleção adversa”
valor ao serviço, também é outra medida que con-
tribui para melhorar a sinalização sobre a qua-
lidade das agências de publicidade(3). Além do neste Parecer refere-se ao problema de free-ri-
mais, a exclusão dos “bureaux de mídia” evita uma ding. É usual que uma empresa anunciante solicite
possível conduta de monopolização da venda do projetos de campanhas publicitárias, compare as
espaço publicitário por parte destes agentes. Vale propostas e escolha uma. Além do mais, na grande
notar que as centrais de mídias não realizam ativi- maioria das vezes, as agências apresentam duas,
dades de criação, origem de boa parte das falhas de três ou mais campanhas para ter uma aprovada e
mercado que justificam as normas do CENP. veiculada, sendo paga apenas quando o anunciante
eleger e executar a campanha.
“Finalmente, o CENP – em parceria com outras en-
tidades – disponibiliza gratuitamente às agências de “É de se esperar, no entanto, que várias das
menor porte pesquisas e elementos tidos como ne- ideias colocadas pelas agências não vencedoras no
cessários para lhes assegurar condições qualitativas que se refere às peças publicitárias e principalmen-
de desempenho e possibilidade de ascensão. Essa te à estratégia de marketing e planejamento de mí-
ação torna as agências menores mais competitivas, dia sejam repassadas à agência vencedora para que
na medida em que as supre de informações que, de esta faça um mix and match entre os pontos fortes
outra forma, dado o seu reduzido porte, não seriam das propostas de cada agência.
facilmente obtidas por mecanismos de mercado.
“Nesse caso, haverá incentivo para que o anun-
“Estas medidas tomam mais claro como cada ciante inicie o desenho da propaganda com uma
agência de propaganda está posicionada em ter- agência mais sofisticada e, portanto, mais dispen-
mos do insumo informacional ‘pesquisas de mídia’, diosa e depois, no ‘meio do caminho’, decida pas-
ao mesmo tempo em que garantem a provisão de sar para uma agência mais simples e barata nos
um mínimo de informação para as agências meno- estágios menos intensivos em criatividade.
res. Em resumo, as Normas-Padrão, nesse âmbito,
reduzem a amplitude potencial dos ‘tipos’ de “O problema do free-riding acima mencionado
agências: quanto menor a distância entre os ti- também pode ser interpretado como um proble-
pos, menor será o problema gerado por assime- ma de externalidades positivas: o serviço de boa
tria de informação. Note-se que a pré-definição qualidade de uma agência beneficia não apenas a
do percentual do desconto-padrão, nesse âmbito, si própria, mas a todas as agências. Nesse caso,
também funciona como um incentivo à certificação no entanto, a externalidade gerada para as agên-
por parte das agências. cias concorrentes corresponde à queda nas ven-
das da agência que originou a externalidade. Ou
Free-riding seja, quando há free-riding, a externalidade positi-
va beneficia os outros concorrentes na medida do
“Outra falha de mercado que foi identificada pre­­­­­juí­zo causado à agência mais criativa.

(2) Os bureaux de mídia e assemelhados são empresas de grande porte que atuam como uma espécie de atacadista, adquirindo dos veículos grande quantidade
de espaços publicitários e depois os revendendo às agências. São agentes que não realizam qualquer atividade criativa.
(3) Ressalta-se que a exclusão dos “bureaux de mídia” não decorre das Normas-Padrão: a própria legislação (Lei n. 4.680/65) prevê que apenas agências de
publicidade poderão receber o desconto-padrão e os agenciadores, comissão, não cabendo desconto e comissão para quaisquer outros agentes.

19
ANÁLISE DA RACIONALIDADE ECONÔMICA DA AUTORREGULAÇÃO DO MERCADO
BRASILEIRO DE PROPAGANDA

“Por esta razão, o free-riding compromete o bem- “Terceiro, o CENP regula a remuneração da agên-
estar social, levando a uma subprovisão de serviços cia como um percentual dos valores devidos pelo
ao consumidor (no caso, o serviço criativo prestado anunciante ao veículo daquela mídia, conforme es-
pelas agências de publicidade). tipulado pela Lei nº 4.680/65, por meio do chamado
‘desconto-padrão’, definido em, no mínimo, como
“Teoricamente, uma possibilidade para resol- 20%. Se a remuneração da agência for um percen-
ver este problema seria criar um mecanismo para tual fixo do valor à mídia, o incentivo para o free-ri-
que a ‘saída’ do cliente da relação comercial com a ding se reduz substancialmente: afinal, se o cliente
agência seja custosa, como, por exemplo, a assina- trocar de agência no meio do serviço, ‘garimpando
tura de um contrato de exclusividade entre cliente e as ideias’ de outras agências mais criativas, ele não
agência de publicidade, com multa suficientemen- estará fazendo qualquer economia significativa,
te alta para evitar a troca por outra agência. salvo aquela derivada de um eventual menor preço
cobrado pela agência pela administração (honorá-
“Contudo, a exclusividade pode acabar compro- rios) de serviços de terceiros ou pelos seus pró-
metendo os incentivos da agência a trabalhar da prios serviços (custos internos e de criação).
forma mais eficiente possível. Além do mais, o es-
copo do contrato de exclusividade será naturalmen- “Ressalta-se, contudo, que a regra do desconto-
te limitado, dado que é comum neste mercado que padrão não é rígida. É prevista pela autorregulação
o anunciante realize uma sondagem anterior entre do setor a possibilidade de redução do percentual
as agências antes de decidir. de 20%, o que resultaria em menor remuneração
por parte da agência. Entretanto, a flexibilização
“Ademais, conforme será abordado em outros do percentual de 20% está atrelada ao repasse
pontos deste parecer, o anunciante, via de regra, escalonado da diferença aos anunciantes que
possui maior poder de barganha na negociação realizarem investimentos publicitários expres-
com as agências, não sendo factível, portanto, ima- sivos. Isto é, a flexibilização ocorre para permitir
ginar que o anunciante se sujeitaria a regras que que os anunciantes aufiram uma espécie de des-
dificultassem sua saída da relação comercial. conto pelo ganho de escala nos trabalhos da agên-
cia: quanto maior o investimento realizado pelo
“A legislação e as Normas-Padrão do CENP lidam anunciante, maior o repasse a que fará jus.
com este problema de forma complementar. Pri-
meiro, definem que o anunciante deve se abster “Os descontos pelo ganho de escala são impor-
de utilizar os serviços de outras agências para a tantes para o melhor aproveitamento de econo-
difusão dos mesmos conceitos, ideias, marcas e mias de escala feitas pela agência no atendimento
produtos. Além do mais, a legislação e as Normas- a verbas de mídia de maior monta. Pois se a nego-
Padrão estabelecem que a agência deve se abster ciação do repasse aos anunciantes fosse absoluta-
de colaborar com empresas, instituições, concei- mente livre, haveria o risco de se comprometer a
tos, ideias, marcas, produtos ou serviços que con- correção das falhas de mercado elencadas nesse
corram diretamente com o cliente. Parecer, dado o baixo poder de barganha das agên-
cias perante os anunciantes.
“Segundo, é previsto uma espécie de ‘aviso-
prévio’ para terminar o contrato de propaganda que “Para evitar este risco, as Normas-Padrão esta-
seria de, no mínimo, 60 dias. Isto gera um aumento belecem limites para os repasses aos anunciantes.
do custo do free-riding. Deste modo, os ganhos provenientes do melhor

20
A certificação promove
o enquadramento das
aproveitamento das economias de escala são aufe- agências de acordo com
ridos pelos anunciantes, ao mesmo tempo em que seu tamanho, garantindo
se protege o mecanismo de desconto-padrão cria-
do para corrigir as citadas falhas de mercado. isonomia entre elas

Externalidades negativas
ção entre Anunciantes, Agências de Publicidade
“Uma terceira falha de mercado identificada refe- e Veículos de Comunicação - Conselho Executivo
re-se às externalidades negativas. Quanto mais de Normas-Padrão, há um elevado número de
propaganda tiver um veículo, menor será sua au- transações comerciais na relação entre veículos e
diência e quanto pior for a qualidade da propagan- agências. A existência de um grande número de
da, mais significativo será este efeito. Ou seja, os operações comerciais entre estes agentes multi-
efeitos de uma propaganda com qualidade ruim não plica os custos de transação do setor. A uniformi-
se limitam ao anunciante responsável por ela, alas- zação da parte “uniformizável” dos termos con-
trando-se para os demais participantes do merca- tratuais dessas transações permite uma redução
do: outros anunciantes, veículos e outras agências. nesses custos.
Trata-se de externalidades negativas. As normas-
padrão do CENP acabam também enfrentando “Tanto a regra de certificação quanto a regra do
este problema, pois melhoram a qualidade da desconto-padrão (e as regras que permitem a fle-
propaganda – ao privilegiarem a competição xibilização deste desconto) contribuem para reduzir
por qualidade – e ampliam a sua oferta. estes custos de transação”.

Custos de transação Existem efeitos colaterais?

“Finalmente, observa-se a existência de custos Continuando sua análise, os pareceristas indicam


de transação. De um lado, existe uma intensa e que “resta analisar se há possíveis efeitos colate-
constante interação entre anunciante e agência de rais das normas-padrão em termos de redução do
publicidade, sendo esta interação permeada por grau de competição nos mercados de atuação dos
forte assimetria de informação. Além do mais, o anunciantes, veículos e agências.
já citado problema de free-riding evidencia a exis-
tência de possível comportamento oportunista tan- “No caso da competição entre veículos de co-
to por parte dos anunciantes, quanto por parte de municação, os impactos são mínimos. Os veículos
agências mais ‘fracas’. são obrigados pela legislação a divulgar seus pre-
ços por meio de listas públicas, podendo negociar
“É possível afirmar, portanto, que a assimetria descontos comerciais sobre estes valores junto as
de informação e o comportamento oportunista agências e anunciantes por elas representados. A
intrínseco aos agentes econômicos geram impor- regra do desconto-padrão e dos limites de repas-
tantes custos informacionais ex ante e ex post na se não afeta os preços contidos nas listas públicas,
relação comercial entre anunciante e agência de tampouco impacta eventuais descontos comerciais
publicidade. negociados entre veículos e anunciantes.

“Por outro lado, conforme exposto na consulta “Além do mais, o montante do desconto que os
encaminhada à professora Elizabeth M. M. Q. Fa- veículos determinam para as agências afeta mar-
rina a respeito do Acordo de Auto-Regulamenta- ginalmente o preço cobrado pelo espaço/tempo

21
ANÁLISE DA RACIONALIDADE ECONÔMICA DA AUTORREGULAÇÃO DO MERCADO
BRASILEIRO DE PROPAGANDA

junto aos anunciantes: a eventual suspensão desse da cadeia de produção em tela.


desconto possivelmente não geraria menores pre-
ços para os anunciantes, posto que os veículos se “Ou seja, as Normas-Padrão não afetam a
veriam privados do mecanismo de eliminação de competição entre os anunciantes pela venda de
externalidades negativas, uma das razões de existir seus produtos e/ou serviços. De fato, conforme
de tal desconto. Finalmente, como a Lei 4.680/65 visto acima, a eliminação do desconto-padrão
veda o pagamento de desconto ou comissão para ou das regras de repasse teria efeito incerto so-
outro agente que não a agência de publicidade ou bre os custos dos anunciantes no que tange à
agenciador(4), os anunciantes não poderiam de fato propaganda, sendo provável que, pelo menos,
tentar obrigar os veículos a lhe repassarem um des- os anunciantes de menor porte experimentas-
conto de 20%. sem uma elevação destes custos vis-à-vis os dos
grandes anunciantes, fato que contribuiria para
“Na verdade, a eliminação do desconto-pa- reduzir sua competitividade frente aos grandes
drão mínimo de 20% ensejaria um problema em concorrentes em seus setores de atividade.
termos de falhas de mercado, ao mesmo tempo
em que seu impacto sobre o preço para anun- “No caso da competição entre agências, há, de
ciantes seria imprevisível. Com efeito: (i) a dis- fato, uma restrição parcial da competição via pre-
tribuição desse valor entre anunciantes e veículos ços na medida em que se garante, por meio das
dependeria do poder de barganha de cada parte na restrições sugeridas em termos de repasse do
relação comercial, sendo provável que os grandes desconto-padrão para os anunciantes, um piso
anunciantes obtivessem uma parcela maior desse para a comissão líquida que as agências recebem
valor em detrimento das pequenas empresas anun- dos veículos. Na ausência dessas restrições, o va-
ciantes; (ii) as agências, por sua vez, claramente lor repassado para os anunciantes seria provavel-
teriam de encontrar uma nova forma de remune- mente maior, dado o maior poder de barganha dos
ração pelos seus serviços. Os anunciantes, portan- últimos em relação às agências. Assim, o ‘prejuízo’
to, passariam a receber faturas das agências pelos a arcar pela regra do repasse do desconto-padrão
seus serviços de escolha e planejamento de mídia, seria um potencial menor grau de competição por
entre outros. Logo, não há qualquer evidência de preço no mercado de agências de publicidade.
que a extinção do desconto-padrão gerasse liquida-
mente valores menores para os anunciantes, sem “Contudo, é razoável supor que a correção de
mencionar a destruição de valor econômico provo- falhas de mercado que garantem uma melhor qua-
cada pela não correção das falhas de mercado aci- lidade dos serviços prestados pelas agências su-
ma identificadas. pere a eventual redução parcial da competição na
dimensão preço, ou seja, que o valor econômico
“No caso da competição entre anunciantes, gerado pelos mecanismos que corrigem as falhas
também não é possível falar em prejuízo à com- de mercado (eficiências) supere os eventuais ma-
petição. Os gastos com propaganda e publicida- lefícios em termos de alguma redução da compe-
de nos mais diversos setores econômicos são tição por preço.
influenciados pelas estratégias competitivas entre
as empresas em cada mercado e não pela hipoté- “Tal afirmação nos parece plausível tendo em
tica imposição de poder de mercado por parte das vista que os próprios anunciantes participam
agências de publicidade, que são o elo mais frágil do CENP e são signatários das Normas-Padrão.

(4) Artigo 11.

22
As Normas-Padrão melhoram
a qualidade da propaganda
Além do mais, usamos o termo ‘eventuais’ por- – ao privilegiarem a competição
que, conforme visto acima, não é claro se o valor
por qualidade e ampliar
total pago pelos anunciantes (aos veículos e às
agências) de fato se reduziria com a eliminação sua oferta
do desconto-padrão e/ou o fim da regra de repas-
se. Com efeito, as agências teriam que encontrar
outras formas de se remunerar e os veículos per- “As falhas de mercado descritas anteriormente,
deriam o incentivo para oferecer os descontos- bem como os mecanismos para corrigi-las podem
padrão às agências. ser resumidas por meio da Tabela 2.

Tabela 2 - Falhas de Mercado e Mecanismos de Correção

Agentes
Falha de Mercado Breve Descrição Econômicos Mecanismo de Correção
Envolvidos
Seleção Adversa Assimetria de Anunciantes e Certificação (NP 2.5)
informação com agências
relação à qualidade
das agências
Free riding Captura das ideias Anunciantes e Proibição de utilização das ideias
(Externalidade geradas por uma agências de terceiros (art. 9º inciso VIII do
positiva) agência Decreto 57.690/66 e NP 3.3);
Aviso prévio (art. 9° inciso V
do Decreto 57.690/66 e NP 3.3);
Desconto-padrão (art. 11 da
Lei 4.680/65; art. 11 do Decreto
57.690/66; art. 19 da Lei n° 12.232/10
e NP 2.5);
Regras de repasse do desconto-
padrão (art. 11, § único da Lei
n° 4.680/65; e NP 3.5)
Desconto-padrão (art. 11 da Lei
n° 4.680/65; art. 11 do Decreto
Baixa qualidade da
Veículos, 57.690/66; art. 19 da Lei 12.232/10
Externalidade propaganda afasta
anunciantes e e NP 2.5);
negativa audiência dos
agências Regras de repasse do desconto-
veículos
padrão (art. 11, § único da Lei
n° 4.680/65 e NP 3.5)
Desconto-padrão (art. 11 da Lei
Custos n° 4.680/65; art. 11 do Decreto
informacionais; Veículos, 57.690/66; art. 19 da Lei n° 12.232/10
Custos de
oportunismo e anunciantes e e NP 2.5);
transação
multiplicidade de agências Regras de repasse do desconto-
transações padrão (art. 11, § único da Lei
n° 4.680/65 e NP 3.5)

23
ANÁLISE DA RACIONALIDADE ECONÔMICA DA AUTORREGULAÇÃO DO MERCADO
BRASILEIRO DE PROPAGANDA

Comparação com normas internacionais Figura 3 - Deslocamento da curva de demanda

Na sequência, os autores informam que “as Nor-


mas-Padrão foram também analisadas sob o prisma Preço
das Diretrizes Americana e Europeia a respeito
Demanda 2
de acordos de cooperação entre concorrentes,
em que pese a análise no presente caso não se
referir propriamente a acordos de cooperação entre Demanda 1 Oferta
concorrentes. Com efeito, no CENP estão presen-
tes representantes dos veículos de comunicação,
das agências de propaganda e de anunciantes, ver-
ticalmente relacionados.

“De um lado, a ‘cooperação’ entre concorrentes


Quantidade
que visa à uniformização de preços, restrição da
quantidade ou divisão de mercado, entre outras,
caracteriza-se como um arranjo danoso ao bem es-
tar social. De outro lado, é reconhecido na doutrina
internacional que há um grande conjunto de ativi- sa permite que os consumidores, no caso os anun-
dades cooperativas entre concorrentes que geram ciantes, façam mais contratações com agências de
impactos positivos sobre o bem-estar. Dessa for- propaganda de boa qualidade, o que incrementa a
ma, a aplicação da ‘regra da razão’ em que se avalia qualidade média do serviço. Por sua, vez, o incre-
a razoabilidade da atividade cooperativa frente ao mento de qualidade desloca a curva de demanda
potencial dano à concorrência é uma constante na para cima e para a direita, gerando, portanto, ex-
forma de a autoridade antitruste abordar o caso. pansão do serviço do mercado como um todo. A
Figura 3 demonstra esse deslocamento.
“A respeito das Diretrizes Americanas(5), um pri- “Já a redução do free-riding provê os incentivos
meiro ponto a destacar é o reconhecimento de que adequados para que as agências invistam em qua-
o meio pelo qual concorrentes podem efetuar ativi- lidade, mais uma vez incrementando a qualidade e
dades cooperativas são as associações comerciais quantidade do serviço. O incremento na qualidade
ou profissionais, como o CENP. beneficia o consumidor, sendo explicitamente con-
As Diretrizes também estabelecem que caberia siderado pela autoridade antitruste.
investigar se a atividade cooperativa beneficia – ou
potencialmente beneficia – consumidores por meio “Finalmente, o incremento de qualidade tam-
da expansão do produto, da redução do preço, me- bém mitiga o problema de externalidades negati-
lhora da qualidade ou ainda inovação. vas entre as agências e as mídias.

“Na análise realizada neste Parecer, foi constata- “A única variável que poderia ir em direção con-
do que a atenuação do problema de seleção adver- trária ao prescrito pelas Diretrizes Americanas é o

(5) “Antitrust Guidelines for Collaborations Among Competitors”, de abril de 2000.

24
As Normas-Padrão estão
alinhadas com as Diretrizes
preço. De fato, havendo melhor informação sobre Americana e Europeia
‘quem é quem’, os anunciantes poderão se tornar a respeito de acordos de
mais dispostos a pagar mais que antes, dado que a
incerteza sobre a qualidade do serviço diminuiu. O cooperação entre concorrentes
deslocamento da curva de demanda por propagan-
da para a direita e para cima pode ‘distribuir’ os seus
efeitos entre um aumento de oferta e um aumento Normas-Padrão do que se entende por acordo ‘ra-
de preços. Mas nesse caso, o aumento de preços zoavelmente necessário’.
reflete tão somente o fato de o consumidor es-
tar mais satisfeito com o serviço, tornando-se “No que tange às Diretrizes da Comissão Euro-
mais disposto a pagar por ele. peia(7), são destacadas as eficiências potenciais dos
chamados “acordos de normalização”, relacionados
“As Diretrizes Americanas demandam ainda que primordialmente ao incremento de qualidade.
a forma do arranjo cooperativo seja considerada
como uma ‘necessidade razoável’(6), para a conse- “Como analisado, a normatização promovida pe-
cução de seu objetivo de eficiência. Uma das possi- las Normas-Padrão permitiria um melhor desenvol-
bilidades de “necessidade razoável” descritas nas vimento do mercado de propaganda ao atenuar os
Diretrizes é justamente a da prevenção de compor- problemas de seleção adversa e mitigar o free-ri-
tamentos free-rider que prejudiquem investimen- ding que implica subprovisão de qualidade.
tos. Assim, as Normas-padrão, ao endereçarem a
questão do free-riding, respondem diretamente a “As Diretrizes Europeias destacam ainda a função
esta preocupação explícita das Diretrizes America- das normas de ‘facilitar a escolha dos consumido-
nas, caracterizando clara eficiência. res e melhorar a qualidade do produto’, o que é
precisamente o que se obtém quando se mitiga o
“Uma ressalva destacada pelas Diretrizes Ame- problema de seleção adversa. O aumento da capa-
ricanas também relacionada à ‘necessidade razoá- cidade de comparação dos consumidores (que no
vel’ diz respeito aos meios alternativos de se atingir caso são os anunciantes), também é explicitamen-
os objetivos. te indicado nas Diretrizes da Comissão Europeia.

“Com relação ao problema de free-riding, foi ana- “Por fim, as Diretrizes Europeias conferem espe-
lisada a possibilidade teórica de resolver o proble- cial destaque à necessidade de haver transparên-
ma com o cliente (o anunciante) escrevendo um cia das informações sobre a normatização para que
contrato de exclusividade com a agência de publi- o objetivo do acordo seja alcançado, evitando-se
cidade, com multa suficientemente alta para evitar elevação desnecessária das barreiras à entrada de
a troca por outra agência. Contudo, esta exclusivi- competidores”.
dade poderia comprometer o incentivo da agência
trabalhar da forma mais eficiente possível, não tor- Trabalho preparado por Jorge Fagundes, Ce-
nando a alternativa factível em boa parte dos casos. sar Mattos, Maria Margarete da Rocha, Mar-
Ou seja, este meio teoricamente ‘menos restritivo’ cos Lima e Marislei Nishijima, da FA Estudos
tende a perder significado prático, aproximando as Econômicos

(6) Reasonably necessary


(7) “Orientações sobre a aplicação do artigo 101 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia aos acordos de cooperação horizontal”. (2011/C 11/01) de
14/01/2011. Jornal Oficial da União Europeia.

25
INSTITUCIONAL

CENP - CONSELHO EXECUTIVO DAS NORMAS-PADRÃO


MISSÃO ATUAÇÃO PERMANENTE HISTÓRICO
O CENP, como entidade de ética O CENP, Conselho Executivo das
comercial, dedica-se a fomentar Certificação de Qualificação Técnica Normas-Padrão, foi constituído em
a livre e leal concorrência O CENP certifica a qualificação 16 de dezembro de 1998 por meio
auxiliando na compreensão e técnica das Agências de de uma livre convenção entre as
incentivando a conformidade Publicidade, assegurando que entidades representativas dos
(compliance) às normas legais elas tenham estrutura física e principais agentes econômicos do
e de autorregulação, pilares do de pessoal compatível com o mercado publicitário brasileiro.
modelo brasileiro de negócios mercado no qual atuam, inclusive
da publicidade. Historicamente quanto ao uso competente de Assinaram e se comprometeram
embasado nas melhores práticas, pesquisa de mídia. com princípios defendidos pelo
promove ambiente ético, seguro, CENP Anunciantes, Agências
BUP - Banco Único de Listas de Preços
transparente, sustentável e de de Publicidade e Veículos de
O CENP mantém depósito,
elevado padrão de qualidade, Comunicação, por meio de suas
para comprovação pública, das
por meio do convívio respeitoso entidades. Elas partilham a crença
listas de preços dos Veículos
e participativo dos agentes de que a atividade publicitária
de Comunicação, instrumento
econômicos em seus organismos, é fundamental para garantir a
inibidor de práticas desleais na
considerados fóruns permanentes competição e a evolução entre
oferta de preços pelos serviços
para atualização das Normas-- empresas, marcas, produtos e
de veiculação da publicidade.
Padrão da Atividade Publicitária e serviços.
solução de conflitos éticos. Credenciamento de Serviços de
Fornecedores de Informações de Mídia Ao CENP, constituído como
VISÃO O CENP credencia os serviços de uma associação civil sem
Ser reconhecido como informações de mídia oferecidos fins lucrativos, foi delegada a
um centro de informações e por empresas especializadas. responsabilidade pela condução
referência sobre as melhores da autorregulação das relações
práticas de relacionamento Credenciamento de Serviços de ético-comerciais entre os agentes
comercial e fórum permanente Verificação de Circulação econômicos do mercado, cujos
de governança e de solução de O CENP também credencia fundamentos estão reunidos
conflitos éticos para Anunciantes, institutos e empresas deste nas Normas-Padrão da Atividade
Agências e Veículos com base segmento, proporcionando mais Publicitária, e também o
nas Normas-Padrão da Atividade transparência para o mercado fomento das melhores práticas,
Publicitária, sempre respeitando e segurança nos investimentos incentivando a concorrência por
a lei. publicitários. melhor eficiência e qualidade,
Fórum de Discussões Técnicas e devendo para tanto zelar pela
VALORES Comerciais observância das Normas-Padrão
• Ética O CENP é um fórum da Atividade Publicitária.
• Transparência permanentemente aberto para
• Harmonia discussões desta natureza e
outras, de fomento do mercado
publicitário, em proveito de
Anunciantes, Agências e Veículos.

26
CONSTITUIÇÃO ORGÃOS E DIRIGENTES

Entidades Fundadoras Conselho Executivo


ABA - Associação Brasileira de Anunciantes ABA - 4 Titulares e 4 Suplentes
ABAP - Associação Brasileira de Agências de Publicidade ABAP - 3 Titulares e 3 Suplentes
ABERT - Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão ABERT - 4 Titulares e 4 Suplentes,
ABTA - Associação Brasileira de Televisão por Assinatura sendo 2 de rádio e 2 de TV
ANER - Associação Nacional de Editores de Revistas ABTA - 2 Titulares e 2 Suplentes
ANJ - Associação Nacional de Jornais ANER - 2 Titulares e 2 Suplentes
Central de Outdoor ANJ - 2 Titulares e 2 Suplentes
FENAPRO - Federação Nacional das Agências de Propaganda CENTRAL DE OUTDOOR - 2 Titulares e
2 Suplentes
Entidades Associadas FENAPRO - 3 Titulares e 3 Suplentes
ABOOH - Associação Brasileira de Out of Home ABOOH - 1 Titular e 1 Suplente
IAB Brasil - Interactive Advertising Bureau IAB BRASIL - 1 Titular e 1 Suplente
FENAPEX - Federação Nacional da Publicidade Exterior FENAPEX - 1 Titular e 1 Suplente

Entidades Profissionais Aderentes / Conveniadas Colégio de Presidentes do


APP Brasil - Associação dos Profissionais de Propaganda Conselho de Ética
Grupo de Atendimento de São Paulo Representantes de Anunciantes,
Grupo de Planejamento Brasil Agências e Veículos, escolhidos pelo
Grupo de Mídia São Paulo Conselho Executivo
ARP - Associação Riograndense de Propaganda
ABEP - Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Conselho de Ética
Nas Câmaras de Ética a composição
CENP em Revista é tripartite (Agências, Veículos
Todas as edições da CENP em Revista, desde o número 1, e Anunciantes) e contam com
estão disponíveis no site do CENP, no endereço: representantes das entidades
http://www.cenp.com.br/cenp-em-revista/ Fundadoras e Associadas Institucionais
Download livre e gratuito
Diretoria Executiva
Presidente Administrador
3 Vice-Presidentes
3 Diretores

Mais informações sobre o CENP podem ser obtidas no site www.cenp.com.br

27
Documentos do CENP
O CENP - Conselho Executivo das Normas-Padrão Esta série soma-se a outras iniciativas com
editou uma série de publicações que objetivam o mesmo objetivo e faz parte da atribuição
disseminar informações relevantes para o ambiente permanente do CENP de informar e promover
brasileiro de autorregulação ético-comercial, a autorregulação junto ao mercado publicitário
existente em razão das Normas-Padrão da Atividade e outras forças da sociedade. Mais informações
Publicitária, que dão consistência ao modelo sobre estes e outros temas podem ser acessados
brasileiro de publicidade. em www.cenp.com.br

DOCUMENTOS CENP – 1 • O conjunto de Leis e normas de autorregulação que


normatizam o mercado publicitário brasileiro.

LEGISLAÇÃO • Informações sobre os processos levados a efeito junto ao


E NORMAS DA CADE e as decisões deste órgão federal.
PUBLICIDADE
NO BRASIL • Pareceres e análises de especialistas sobre o sistema
normativo brasileiro.

• Apresentação da lógica DOCUMENTOS CENP – 2

econômica do Modelo
Brasileiro de Publicidade.
VISÃO ECONÔMICA
DO MODELO
Documento 1 3ª Prova.indd 1 7/19/17 1:51 PM

• Análises de especialistas em
BRASILEIRO DE
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economia sobre as virtudes
do sistema de autorregulação PUBLICIDADE
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comercial e os problemas
evitados ou mitigados em razão
de sua existência e adesão
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$$
DOCUMENTOS CENP - 3 voluntária.
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$$ $$
Geração de valor e bem estar social

O FUTURO DA
PROPAGANDA
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• Estudioso com grande experiência no
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conjunto do mercado publicitário analisa os
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possíveis caminhos do futuro da publicidade
no Brasil e como a manutenção do Modelo
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Brasileiro de Publicidade irá contribuir
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positivamente para a sua evolução técnica e
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Separata de artigos publicados na CENP em Revista


expansão de negócios.

O Fut da Propag Modelo 1.indd 1 7/7/17 3:32 PM

Av Paulista, 2073 – 6º andar – Conjunto Nacional – Edifício Horsa II


CEP 01311-940 – São Paulo – SP – tel. (11) 2172-2367
site: www.cenp.com.br – e-mail: cenp@cenp.com.br
Segundo número da série Documentos CENP - Julho de 2017
Esta série de publicações soma-se a outras iniciativas que objetivam
disseminar informações relevantes para o ambiente brasileiro de
autorregulação ético-comercial, existente em razão das
Normas-Padrão da Atividade Publicitária.
Mais informações sobre este e outros temas podem ser acessados em
www.cenp.com.br

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