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SÃO PAULO
2016
AUDRY ROJAS SAMMARONE
SÃO PAULO
2016
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha família, em especial à Paola e Fabio, que com muita
paciência e compreensão souberam tolerar a minha falta de tempo. Tempo, esse bem
tão precioso não pode ser mais valioso do que o amor que nos une. E claro, à minha
mãe, por ter me ensinado desde pequena que o estudo com afinco é o caminho que
percorremos para o crescimento do espírito e enobrecimento da alma.
AGRADECIMENTO
Ray Kurzweil
RESUMO
The digital age knocks at the big communications industry door and deeply affect all the
entertainment and media industry. The digital transformation, driven largely by mobile
devices, leads brands to take decisions centered on the individual, with more personal
and participatory actions. These innovations is being noted in all spheres of human
sciences, namely, cultural, social and political, promoted and supported by technological
and scientific developments. In this landscape, doubts arise: how technology is converting
the mass market in millions of niches? What will happen when the information becomes
available to everyone at almost no cost? As the entertainment and media industry will
remain competitive? How to cut costs, people and structures without losing the quality,
speed and credibility of the institution? In the face of such great uncertainty and change
as drastic as fast is necessary to learn about consumer preferences and adapt to new
formats consumption and distribution of content. This work, through a bibliographic study,
analyzed the data of the current scenario of the industry, trends and projections of
consumption and digital advertising, compared the digital positioning of Brazil against the
other countries, cited examples of disruptive business models and suggested a new value
chain of the digital ecosystem from the repositioning of the players. Therefore, we used
the model canvas, the theory of the Long Tail and recognized nomenclature of modern
marketing. The conclusion of this work is that in a market in full transformation there is no
ideal model to follow. The choice will depend on the culture, strategies and marketing
objectives desired by the organization. Another conclusion is that the effects Long Tail
(variety, diversity and effect of the network) are increasingly present in companies that
have stood out on the global stage and, consequently, to develop a digital thinking is
crucial to the sustainability of business. In this new digital ecosystem, every company, in
any industry is, or will be, a media and entertainment company.
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 10
2. METODOLOGIA ..................................................................................................... 20
1. INTRODUÇÃO
a se popularizar, antes das redes sociais e da explosão dos memes (símbolos ou signos
que podem expressar um objeto, uma pessoa, um pensamento, ou um sentimento) que
mudarem novamente as formas de linguagem. A palavra toma novo caminho evolutivo:
“grrr...” para expressar raiva; uma carinha sorrindo para expressar aprovação ou
contentamento. A humanidade voltou, assim, para o grunhido e a arte rupestre. Signos,
ícones e símbolos parecem ter mais força de propagação de uma ideia do que a palavra
em si.
Sobre a evolução da comunicação com consequência dos avanços tecnológicos,
comenta Caparelli (1986) que o extraordinário progresso experimentado pelas técnicas
de comunicação de 1970 até os dias atuais representa uma conquista e um desafio.
Conquista, na medida em que propicia possibilidades de difusão de conhecimentos e de
informações numa escala antes inimaginável. Desafio, pois a mudança impõe uma séria
revisão e reestruturação dos pressupostos teóricos de tudo que se entende por
comunicação.
As novas tecnologias associadas à internet têm afetado radicalmente a forma das
empresas fazerem negócios, a forma de trabalho, o contato pessoal e os relacionamentos
interpessoais. Inicia-se uma sociedade digital, regida por regras diferentes, com novos
desafios e amplas possibilidades. Diante de tamanhas incertezas e de mudanças tão
drásticas quanto velozes, é preciso aprender a pensar e a se adaptar, além de estar
atento a estas transformações para assimilá-las na vida pessoal e profissional. Essas
inovações podem ser percebidas em todas as esferas das ciências humanas, quais
sejam, cultural, social e política, promovidas e suportadas pela evolução tecnológica e
científica.
A internet integrou a sociedade em um novo habitat social/digital globalizado.
Mudou também consumidores, mercados, produtos e, consequentemente, a forma como
o marketing é aplicado para gerar resultados. Neste sentido, Kotler (2010) dividiu o
marketing em três fases de acordo com seu momento evolutivo, denominando-os de
marketing 1.0, 2.0 e o atual, o marketing 3.0. Na primeira fase os produtos eram
relativamente básicos, padronizados, destinados a um mercado de massa e com o
objetivo de ganhar escala e reduzir custos. A estratégia da fase 1.0 era o marketing
centrado no produto. A fase do marketing 2.0, Kotler (2010) o resume como a era da
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manipulada. Realidade esta que levou o filósofo italiano Umberto Eco1 a afirmar que a
internet dá voz aos imbecis.
A internet alterou a estrutura existente e gerou poder. O poder da comunicação
em massa à uma velocidade estonteante. Com a internet, o dito quarto poder exercido
pela imprensa e decorrente do controle das ferramentas de produção e veiculação em
massa, passa a pertencer a qualquer pessoa com um computador conectado. Mais que
uma tecnologia, a internet é um meio de comunicação, de interação e de organização
social (CASTELLS, 2005). Mark Poster (2006) definiu a internet como um sistema de
comunicação global, mais disperso por todo o globo que os sistemas anteriores,
bidirecional e ingovernável pelas estruturas políticas existentes. Para Poster (2006), a
consequência da cultura transformada em dígitos eletrônicos é que o mundo virou de
cabeça para baixo, com muitos paradigmas sendo rompidos. O que cai na rede é público
e aquele que o faz é cidadão do mundo. Dados ficarão para sempre gravado na memória
do ciberespaço. Se esse conhecimento será armazenado para o bem ou para o mal é
impossível prever.
O documentário “O que mudou nos últimos 5 anos” (2012), realizado pela
HOTWords, grupo de mídia digital, reafirma este posicionamento. O vídeo traz uma
análise e retrospectiva das transformações provocada pelas inovações tecnológicas a
partir de depoimentos de especialistas do setor de mídia e publicidade. Uma questão
perturbadora foi levantada pelos entrevistados: o acesso à rede mundial de
computadores permite que os diversos meios de comunicação e entretenimento sejam
vistos pelos consumidores como um único meio, dentro de uma única plataforma. E mais:
pessoas comuns são ao mesmo tempo consumidoras e produtoras de conteúdo, além
de que a divulgação da informação está nas mãos dos usuários e não dos meios de
comunicação. Isto dá força à máxima de que “informação é poder”, pois pessoas comuns
nunca foram tão poderosas, capazes de derrubar uma marca secular ou eleger um
presidente norte-americano.
1
A referência é trecho de um entrevista realizada por Eco, replicada no artigo “Redes sociais deram voz a
legião de imbecis, diz Umberto Eco, disponível em http://noticias.terra.com.br/educacao/redes-sociais-
deram-voz-a-legiao-de-imbecis-diz-umberto-eco,6fc187c948a383255d784b70cab16129m6t0RCRD.html,
acessado em 06/05/2016
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A internet criou uma realidade ainda mais complexa: um mundo físico, real; e o
outro mundo, o virtual, paralelo, mas tão real quanto o primeiro. Surgem novas
preocupações: onde buscar as informações? Quais fontes são confiáveis? Como
selecionar conteúdo relevante em meio a um turbilhão de mensagens desconexas
disponíveis no ambiente digital? Qual o futuro das empresas do setor? Neste contexto,
Kelly (1999, p.21) afirmou que essa nova economia digital, que ele denominou de
economia de rede, traz mudanças profundas nos modelos de negócio existentes. Essa
nova economia emergente representa uma elevação relevante em nossa sociedade, uma
guinada social, reordenando a convivência à mais do que o simples uso de computadores
ou softwares. Ela possui suas próprias regras e oportunidades.
A internet levou o mundo para a era digital. E o Brasil não saiu ileso. Os últimos
anos foram marcados por grandes transformações nos hábitos de consumo de serviços
de mídia e de Telecomunicações no País. Desde a realização da Copa do Mundo em
2014, fortes investimentos foram realizados em infraestrutura – principalmente em fibra
ótica e rede 4G - com o objetivo de ampliar a capilaridade e melhorar a qualidade dos
serviços de conexão. Programas e incentivos do Governo apoiaram este
desenvolvimento. O programa “Banda Larga para Todos” é um exemplo disso, com metas
ousadas para 2018 que incluem o aumento da velocidade média de conexão à internet
para 25 Mb/s e a ampliação da cobertura do 4G para mais de mil cidades.
Como o Brasil se prepara para sediar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016,
Governo, Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e operadoras estão se
organizando para garantir redes robustas o suficiente para lidar com o aumento do
tráfego. A gestão eficiente da infraestrutura será peça chave neste desafio. Em razão dos
investimentos realizados, segundo dados da Anatel e da Teleco, as operadoras tiveram
alguns ganhos em 2015: oferta de maiores pacotes de dados, ampliação da base de
clientes e consequente aumento das receitas de acesso à internet. Somando esses
fatores ao consumo acelerado de tablets e smartphones, a exceptiva é que o setor de
Telecomunicações no Brasil tenha um crescimento promissor nos próximos anos, assim
como espera-se que a comunicação aconteça cada vez mais por meios digitais.
Por outro lado, a melhoria da qualidade da rede acabou afetando o consumo e o
modelo de negócio de outros produtos: a aceleração da migração do consumo de voz
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Disruptivo, tecnologia disruptiva ou inovação disruptiva é um termo descrevendo a inovação tecnológica,
produto, ou serviço, que utiliza uma estratégia para derrubar uma tecnologia existente dominante no
mercado. Não é a tecnologia em si mas a forma como é aplicado que a torna disruptiva. (WIKIPEDIA,
disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Tecnologia_disruptiva, acessado em 06/05/2016).
3 Geração Millennial : nascidos após 1982. Disponível em: http://www2.deloitte.com/pt/pt/pages/human-
recente e ainda está em seu processo de crescimento, principalmente no Brasil, onde atinge poucas
pessoas. É como um programa de rádio, porém sua diferença e vantagem primordial é o conteúdo sob
demanda. Disponível em http://mundopodcast.com.br/artigos/o-que-e-podcast/, acessado em 06/05/2016.
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1.2. Objetivos
1.4. Justificativa
2. METODOLOGIA
uma dimensão viável? Se o problema não se ajusta a um dessas regras, poderá ser
utilizado um estudo exploratório.
Dada as características do tema proposto e por não se enquadrar no que Gil
classificou como problema científico, essa pesquisa é exploratória, devido ao objetivo
claro de proporcionar maior familiaridade com o problema, torná-lo mais explícito e, a
partir do conhecimento adquirido, construir e testar hipóteses. Para ilustrar as análises,
são descritos casos-demonstração e depoimentos, como forma de elucidar conceitos.
(ROESCH, 2005).
Para delineamento metodológico, foi escolhido a pesquisa bibliográfica, pois
serão abordadas posições diferentes acerca do problema. Para Salvador (1986), a
pesquisa bibliográfica enquanto estudo teórico elaborado a partir da reflexão pessoal e
da análise de documentos escritos coletados de diversas fontes, segue uma sequência
ordenada de procedimentos. Considera-se procedimento um sistema constituído por
várias partes ou funções e que necessita de todas elas para ser bem sucedido.
Gil (2002), também explica que a pesquisa bibliográfica possibilita um amplo
alcance de informações, além de permitir a utilização de dados dispersos em inúmeras
publicações, auxiliando na construção ou na melhor definição do quadro conceitual que
envolve o objeto de estudo. Em razão do exposto, para entender o contexto atual e as
expectativas futuras das empresas de mídia e comunicação, será realizada a coleta de
documentos públicos de fontes secundárias, tais como livros, publicações periódicas,
jornais e revistas, além de diversas informações impressas e eletrônicas produzidos por
empresas, veículos de comunicação e especialistas do setor conceituados e
notoriamente confiáveis. A internet, com seu papel democrático de distribuição da
informação, será, portanto, fonte relevante para a realização da pesquisa.
O material escolhido será catalogado por tema, grau de especificidades e
relevância para a conclusão das análises. A pesquisa foi realizada durante os meses de
abril à julho de 2016, por meio eletrônico, e a seleção da amostra será delimitada a
publicações mais recentes contendo as palavras-chave sobre o tema proposto, tais
como: entretenimento, mídia, tendências, desempenho, digital, Cauda Longa, canvas,
ranking, TV, rádio, vídeo, jornal, revista, música, cinema, livros, publicidade, consumo,
impresso, conteúdo, modelo, players, transformação, disruptivo.
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3. REFERENCIAL TEÓRICO
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Vilfredo Pareto, em seus estudos sobre uma região da Itália constatou que que cerca de 20% da
população ostentava 80% do poder político e riqueza econômica enquanto os outros 80% da população, o
que Pareto chamou de "as massas", foi distribuído os 20% restantes da riqueza e tinha pouca influência
política. A partir de então, tal princípio de análise, conhecido com Lei de Pareto e tem sido estendido a
outras áreas e atividades, tais como a industrial e a comercial, sendo mais amplamente aplicado a partir
da segunda metade do século XX. (WIKIPEDIA, disponível em
https://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_de_Pareto, acessado em 06/05/2016).
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das paradas de sucesso. Esse efeito longitudinal é representado pela cauda da imagem
acima. Desta forma, é possível extrair valor de produtos que fora do ambiente da internet
não eram economicamente viáveis. Este ponto da teoria de Anderson é o que recebe as
críticas mais ferozes pois muitos autores e empresas acreditam na estratégia Blockbuster
- estratégia do sucesso arrasador - como a melhor ou única opção. É uma abordagem
consagrada pelo tempo, sobretudo na indústria de comunicação e entretenimento.
Com espaço limitado nas prateleiras do varejo e em canais tradicionais de
distribuição, a tendência dos produtores e varejistas sempre foi concentrar recursos de
marketing num pequeno número de prováveis best-sellers buscando maximizar retornos.
Embora essa abordagem traga riscos consideráveis, a expectativa é que o um pequeno
punhado de campeões de venda gere o grosso do lucro (cabeça da cauda) e cubra o
prejuízo dos produtos que não vingaram. É compreensível que em razão das limitações
e despesas, as empresas preferiram manter em seus estoques os itens que lhe trarão
maior garantias de retorno financeiro, ainda mais em um mercado de alta competitividade.
O quadro abaixo aponta algumas barreiras e desafios enfrentados pelo setor no
modelo tradicional (físico ou off-line):
Barreiras Desafios
Cauda Longa não é um termo inventado por Chris Anderson. Ele é utilizado na
estatística para identificar distribuições de dados como a curva de Pareto, onde o volume
de dados é classificado de forma decrescente.
Aplicando os conceitos da matemática, Anderson (2006) conclui que a abundância
de gêneros de produtos somada a uma grande população de consumidores com padrões
semelhantes de compra resulta em uma demanda que segue um sistema de inferência
estatística baseada na curva de Pareto, de forma decrescente e exponencial. E ainda
afirmou que o reposicionamento da demanda em direção a Cauda Longa só é possível
com a redução dos custos.
Assim, enquanto o modelo tradicional traz barreiras e desafios para o crescimento,
o modelo digital apresenta fronteiras e oportunidades que o autor dividiu em seis temas,
sendo uma consequência do outro:
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Fronteiras Oportunidades
De demanda • Aumento da popularidade dos nichos: os filtros tornam os hits menos procurados;
• Efeito de rede: quanto mais usuários, maior valor. É uma economia de escala,
onde o crescimento viral é fundamental para empresas crescerem
exponencialmente com baixo custo de investimento em aquisição de usuários e
oportunidade de novos negócios. Ex: redes sociais e o sistema operacional
Windows. O efeito de rede permitiu a Microsoft reter seus usuários e obter por
muitos anos a vantagem competitiva da economia de escala.
A partir deste conceito, Anderson (2006) analisou os efeitos da Cauda Longa e
identificou diferenças entre o tradicional e o digital:
• 20% dos produtos representam 80% • Também ocorre, porém, itens menos
das receitas: os itens menos vendido procurados continuam no estoques e
acabam saindo dos estoques; são oferecidos por recomendações e
• Lucro: formado pelos 20% de maior filtros com efeito de rede;
Regra 80/20 sucesso (os custos restringem a • Lucro: compartilhado entre todos os
variedade dos itens); itens vendidos, tanto no modelo
tradicional quanto digital (redução do
custo melhora a margem de lucro);
Preços sobem • Segue regra desejo x necessidade e • Depende do produto mas mantém as
ou diminuem oferta x demanda mesmas regras do tradicional;
cauda abaixo?
• A limitação do estoque não permite • Formada por diversas minicaudas. Ex.:
Microestrutura uma cauda muito longa (gargalo de para cada gênero de música há uma
e distribuição); cabeça e um cauda, que somadas
Microculturas formam o mercado da música on-line;
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• Itens novos tendem a vender mais • Ocorre o mesmo efeito de idade que no
do que itens velhos: os hits de hoje modelo tradicional. No entanto, quando
Cauda Longa serão os nichos de amanhã a busca é feita por assuntos
no tempo (ninguém quer ler notícia velha); específicos, a preferência é pela
melhor informação e não a mais nova;
Este modelo será utilizado neste trabalho para entender a estrutura organizacional
dos grandes grupos que formam o setor de entretenimento e mídia à partir da análise de
seus negócio e, assim, identificar os fatores de sucesso (ou fracasso) deste mercado.
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4. RESULTADOS DA PESQUISA
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Marketing one-to-one: baseia-se em clientes individuais e na personalização de produtos e serviços, por
intermédio de um conhecimento do mercado conseguido pelo diálogo e pelo feedback de cada cliente.
Com o apoio estratégico das ferramentas de suporte à decisão que permitem identificar e diferenciar cada
cliente na base de dados, o marketing one-to-one ajuda não apenas a conquistar mais clientes, mas
também a conservá-los. Disponível em: http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/marketing-
one-to-one-x-marketing-tradicional/24684/, acessado em 30/06/2016
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qualquer que seja o canal de distribuição utilizado para que o produto chegue ao cliente
final, os elos da cadeia estão conectados e as organizações atuam como parceiros. Este
modelo também segue um desenho linear. A percepção é de uma empresa única, com
atuação estendida, gerando valor para o cliente por meio da colaboração entre os
agentes.
Porém, com o reposicionamento dos players (usuários, consumidores, empresas
de mídia, empresas de entretenimento, empresas de tecnologia, empresas de Telecom
e empresas de varejo) qualquer um envolvido no processo pode criar, distribuir e
multiplicar resultados. Essa nova cadeia não segue os padrões das empresas tradicionais
de um caminho único, direcionado, começando na extração da matéria prima e
terminando com a entrega do produto ao cliente final. As atividades aparecem de forma
descentralizadas e concomitantes. Pessoas e organizações estão capturando e
entregando valor em mais de um momento (ou ao mesmo tempo), alterando o sistema
de suprimentos como um todo.
O impacto disso é que o consumidor não consegue diferenciar se está sendo
atendido por um veículo de mídia, um agregador ou um distribuidor de conteúdo. Pode
até ser um blog ou um site de pirataria. E nem precisa distinguir, pois não fará diferença,
desde que ele encontre o que está procurando pelo preço que está disposto à pagar, no
momento em que ele precisa. Para as empresas também há vantagens. Pensar num
ecossistema conectado aproxima os players de qualquer lugar do mundo, seja um grande
varejista ou um pequeno estúdio de design. Na rede de computadores é possível marcar
presença em qualquer nicho de mercado e realizar qualquer atividade da cadeia com
maior eficiência e abrangência. Há uma considerável redução dos riscos de
abastecimento, de qualidade, de produção, de distribuição, de escassez, de talentos e
de instabilidade de demanda. Questões culturais, organizacionais e operacionais podem
ser superadas para que, no futuro, ao invés de termos um produto “made in China”, o
que teremos é um serviço “made in Global”.
Com este pensamento e levando em consideração o que já foi analisado sobre o
reposicionamento dos players e os efeitos da Cauda Longa, foi feito uma proposta para
uma nova cadeia do setor de entretenimento e mídia. Este modelo abaixo é ilustrativo e
não exaustivos. Trabalhos futuros sobre o tema poderão testar a hipótese do modelo:
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A alta penetração da internet fixa nos países maduros também provoca a redução
dos custos (Lei de Moore), situação inversa do que ocorre no Brasil e na China, que ainda
devem crescer 1,4% ao ano nos dois mercados. China e Brasil têm baixa penetração de
internet fixa comparando com os outros dois países, o que demonstra o alto potencial de
crescimento dos países emergentes.
A instabilidade econômica freou este desenvolvimento, mas é esperada uma
retomada para os próximos anos. No Brasil, as operadoras adotaram uma estratégia de
produtos diferenciados com foco nas classes A e AB, principalmente através de
investimento em fibra óptica e, com isso, esperam alavancar o aumento dos gastos com
internet de alta velocidade. Ao mesmo tempo, os investimentos em infraestrutura nas
regiões mais afastadas dos grandes centros garantirão a expansão do número de
domicílios conectados. Assim, é esperado um crescimento de 7,4% ao ano nos gastos
com internet fixa até 2020 no Brasil, com destaque para os pacotes de alta velocidade.
• Dispositivos móveis:
Muitos celulares no Brasil ainda não são smartphones, colocando o país à frente
apenas da Inglaterra. A China, por outro lado, supera em muito a posse de dispositivos
móveis em todo o mercado global. Porém, apesar de uma quantidade muito maior de
assinantes de internet móvel na China – quase o dobro da soma dos demais países
pesquisados – os campeões de download de aplicativos são, de longe os EUA, com 62
bilhões em 2015. Os números do Brasil correspondem a cerca de 4% dos downloads
realizados pelos EUA e 15% dos chineses.
O Brasil apresenta o maior crescimento médio ao ano de smartphones e um
aumento cada vez maior do uso de aplicativos. No entanto, em 2015, enquanto cada
assinante de internet móvel nos EUA baixou 263 aplicativos durante o ano, na Inglaterra
foram 239, no Brasil 26 e na China 22.
O tablet é um dispositivo móvel menos popular que o smartphone no cenário
global. É interessante notar que Brasil e Inglaterra apresentam um número muito
semelhante de pessoas que possuem o dispositivo e que a China apresenta crescimento
maior que todos os outros países para os próximos anos, inclusive o Brasil.
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EUA. Em resumo, quatro pontos são, portanto, indispensáveis para se obter sucesso no
uso dos modelos de publicidade digital:
• Desenvolver uma mentalidade de mobilidade, em vez de uma simples
reformulação da publicidade tradicional em digital para dispositivos móveis;
• Lembrar-se de que a relevância e o contexto são cruciais. As pessoas estão
dispostas a ver um anúncio se ele for relevante, mas não se sentirem que o
anúncio é exageradamente invasivo;
• Atentar para a maneira como os diversos níveis de qualidade da infraestrutura de
internet em diferentes regiões geográficas afetam as preferências e tolerâncias em
relação aos vários tipos de publicidade;
• Alavancar o uso de big data e analytics para aprimorar o direcionamento dos
produtos ao público desejado, não somente no caso da publicidade programática,
mas também das demais.
Conforme as opções de publicidade vão se tornando mais diversificadas, o mesmo
ocorre com os modelos de comunicação e relacionamento com o cliente. Seja a
publicidade digital, tradicional, móvel, programática ou nativa, todas desempenham uma
função e oferecem oportunidades e desafios específicos.
Desta forma, nota-se que a segmentação é o princípio básico da publicidade digital
e do novo marketing, acompanhando os efeitos da Cauda Longa previsto por Anderson
(2006): para cada nicho pretendido, há uma forma e um conteúdo que melhor se adapta
ao consumidor desejado e sua correta aplicação otimiza os investimentos
mercadológicos. Neste contexto, a publicidade programática parece atender as angustias
dos anunciantes em alcançar os nichos desejados em uma economia de rede. Ao
mesmo tempo, a variedade de anúncios e a diversidade de plataformas ajudam os
profissionais de marketing a criar a mensagem certa, na hora certa, no local certo e para
o público certo.
Não é um cenário no qual um modelo deve ser escolhido em detrimento de outro.
Ao contrário, ao elaborarem suas estratégias, as empresas e profissionais de marketing
devem levar em conta todas as opções disponíveis e realizar um planejamento integrado
para assim se beneficiarem dessas tendências em desenvolvimento.
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O Google realizou uma pesquisa entre os meses de maio de 2014 e 2015 sobre o
hábito de consumo dos brasileiros na internet, por meio de sua ferramenta de análise, o
Google Analytics. A pesquisa revelou que os hábitos do consumidor mudaram em razão
da massificação do smartphone, no mundo e no Brasil.
O estudo considera os acessos feitos em laptops, celulares, tablets, desktops,
relógios e smartTVs. Apesar de todas essas experiências ocorrem em um mesmo dia, o
tempo de navegação cresce mais nos dispositivos móveis: houve um aumento de 112%
na participação de smartphones no acesso à internet, considerando as muitas sessões
por dia. Esse aumento contribuiu para que mais da metade das buscas no Google Search
no Brasil fossem feitas por meio de dispositivos móveis. 94% desses usuários procuraram
por informações em seus aparelhos enquanto estão em meio a atividades diárias e 80%
dos brasileiros que possuem esses aparelhos usam seus dispositivos para saber mais
sobre algum produto ou serviço que querem comprar, demonstrando a força do e-
commerce nos mercados com maior conectividade.
Houve uma queda de 9% no tempo gasto por visita na internet e um aumento de
74% nas taxas de conversão mobile - quando uma pessoa efetivamente conclui a sua
compra por meio de um dispositivo móvel. Esses resultados são decorrentes da
otimização da experiência do usuário nas interfases pelas quais navegam e pelas
interações fragmentadas, viabilizadas pelo uso intenso dos dispositivos mobile,
principalmente dos smartphones.
A conclusão em que o estudo chegou foi que as decisões passaram a ser tomadas
em instantes de impulso. É a era do imediatismo e, com tudo acontecendo ao mesmo
tempo, a atenção do usuário se dispersa. O desafio passa a ser o de encontrar o exato
momento em que os consumidores estão mais receptivos às mensagens das marcas:
quando estão procurando respostas, descobrindo coisas novas ou tomando uma decisão.
O Google (2015) chamou essa fragmentação da atenção, esses pequenos
momentos de engajamento digital, de micro-momentos. Todas as empresas que querem
investir no relacionamento com seus consumidores precisam entender esses micro-
momentos e seguir os conselhos do marketing 3.0 de Kotler (2010) para conquistar os
corações e as mentes dos clientes:
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consumidores estão aderindo mais aos dispositivos móveis durante suas jornadas de
compra, desejam atendimentos mais acolhedores e customizados, além dos melhores
preços. Passamos por uma revolução que impõe enormes desafios para varejistas e
indústrias de bens de consumo quanto à sua capacidade de reagir rapidamente às
mudanças em todos os canais. Consumidores estão ampliando o conceito das vendas,
incluindo o desejo de participar de uma comunidade de varejo especializada, confiar mais
nas redes sociais e esperam um atendimento personalizado.
Inovando como diferencial, a Camisaria Colombo, tradicional rede de moda
masculina com mais de 400 pontos físicos, decidiu que a mobilidade terá um papel
estratégico para unificar as informações de todas as atividades da empresa, das lojas
aos centros de distribuição e área administrativa. Com uma ferramenta de gerenciamento
dos dispositivos móveis, os vendedores terão acesso ao catálogo eletrônico das coleções
e conhecerão as novidades que a loja tem disponível para oferecer as opções aos
clientes. Com isso, a empresa pretende unificar as informações, ganhar maior eficiência
e reduzir os recursos empregados no desenvolvimento de cada ação, desde a
inauguração de uma loja ao anúncio de uma nova campanha.
Outro exemplo de ação de marketing voltado para o indivíduo é que empresas estão
lançando campanhas em que o consumidor é parte do processo de construção do
produto. É o caso da Starbucks com a colaboração dos clientes em receitas
personalizadas e da Nike que permite aos clientes desenharem os tênis. Já não se trata
somente de personalizar, mas de participar da criação. Neste ponto, o resultado nos
remete aos conceitos do marketing 3.0 defendidos por Kotler (2010): é a era voltada para
os valores, centrado no ser humano, em que o marketing não vê pessoas como
consumidoras, mas como seres humanos plenos: com mente, coração e espírito.
Para o Brasil acompanhar essas tendências globais ainda é necessário reduzir os
entraves burocráticos, melhorar a capilaridade e a qualidade da rede de internet e realizar
melhorias operacionais que diminuam as fricções nos processos de base. Superando
esses desafios, o país poderá ampliar a oferta e reduzir os preços dos produtos e serviços
on-line, e, desta maneira, ampliar exponencialmente os efeitos benéficos da Cauda
Longa no consumo digital.
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• Publicidade:
• Consumo:
Loja Americana. Para a editora de tijolo e argamassa, a concorrência era desleal e feria
as leis brasileiras.
Outro fator de mudança é que o Governo brasileiro, principal comprador de livros
didáticos impressos, tem reduzido os investimentos neste segmento, em razão do
Programa Banda Larga nas Escolas e da compra de tablets para os estudantes das redes
públicas.
Apesar de todas as ações apontadas que caminham para uma transformação
digital do setor, as mídias impressas no formato físico ainda são a preferência do
consumidor, mas nota-se que vem migrando para o digital ano à ano:
Até o final de 2015, o Brasil tinha quase 3 mil salas de cinema, de acordo com a
Screen International, o que significa um aumento de 5% em relação a 2014 e a projeção
é de que continue a crescer. Atualmente cerca de 150 filmes brasileiros são produzidos
por ano, apoiados por incentivos fiscais e acordos de co-produção. Ainda assim, algumas
produções nacionais não são encontradas nas salas brasileiras e os filmes americanos
continuam sendo maioria das bilheterias. O efeito blockbusters é muito forte neste
segmento.
Na TV aberta, a Globo se destaca no cenário nacional. Dona de cerca de 40% de
todo o investimento em publicidade no país, o Grupo Globo tem buscado novas
estratégias para continuar líder de mercado, principalmente após sentir a queda da
audiência para as novas formas de assistir conteúdo gravado. Suas estratégias baseiam-
se na qualidade e relevância de conteúdo, adequação à agenda diária e sazonal da
população, as plataformas próprias de distribuição como o Globo TV +, Google Play e
parcerias com operadoras de TV paga para soluções de vídeo on demand. Na
publicidade, adicionou a programática em seu portfólio, lançando a ProG, plataforma de
compra e venda de espaços publicitários nos canais hospedados na Globo.com.
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Não se faz mais música como antigamente. O cantor Luan Santana é um exemplo
disso. Com mais de 1,7 milhão de inscritos em seu canal do YouTube, seus vídeos já
ultrapassaram a marca dos 629 milhões de visualizações desde que foi criado, em 2009.
Para aumentar as visualizações no canal e converter em vendas on e off-line, a estratégia
utilizada pelo cantor e sua gravadora, a Som Livre, foi o lançamento do álbum “Luan
Santana Acústico” primeiramente nas plataformas digitais.
O planejamento de mídia foi direcionado pelos passos: aumentar a atividade no
canal antes do lançamento do álbum; criar e comunicar uma agenda consistente de
programação; engajar a base de fãs; lançar conteúdo exclusivo por um período limitado
e direcionar o tráfego gerado para a loja on-line. Um dos principais objetivos alcançados
foi conseguir direcionar os usuários para o Google Play, onde os fãs podiam comprar os
singles e o álbum acústico antes mesmo de estarem à venda nas lojas físicas.
Com o crescimento da comunicação pelas redes sociais, onde qualquer usuário
se torna um emissor de opinião, as empresas começam a desenvolver novas formas para
reter consumidores e conquistar novos clientes através do engajamento dos “superfãs”.
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Superfãs estão dispostos a consumir conteúdo exclusivo e se tornam cada vez mais
importantes nas estratégias de marketing.
O engajamento dos superfãs demanda envolvimento de diversos setores de uma
empresa, como marketing, produção, logística e TI. Essas equipes precisam identificar a
melhor forma de construir os círculos de influência em torno do conteúdo gerado. É o
caso da Target, gigante de varejo americana, que, durante a divulgação do álbum “20/20”
de Justin Timberlake, convidou 20 fãs do cantor para participarem da gravação do novo
single. Em um set montado pela empresa, enquanto registravam em vídeo suas
experiências, os fãs foram surpreendidos pelo próprio Justin Timberlake. A reação deles
virou sensação na internet e registrou milhões de visualizações em diversas redes,
gerando retorno em vendas para a Target.
O mercado de shows ao vivo continua promissor: o Brasil é o segundo em tamanho
na América Latina, perdendo apenas para o México. O Lollapalooza Brasil, de São Paulo,
é um dos eventos de destaque no calendário nacional de música. O festival
Tomorrowland Brasil, de destaque internacional.
Por outro lado, o rádio, veículo tradicional, tem sofrido o impacto da mudança do
perfil do consumidor. Em 2014, haviam cerca de 5 mil estações de rádio em operação.
Mas em 2015, houve redução deste número e a expectativa é que continue caindo até
2020. Para acompanhar as tendências e as preferências do consumidor, as estações de
rádio começaram a investir em mídias sociais e em outros meios digitais. O podcast,
modelo de rádio criado exclusivamente para a internet, ainda não tem valores e usuários
em números representativos no Brasil.
Em linhas gerais, nenhum outro segmento de entretenimento e mídia conseguiu
ainda absorver as oportunidades geradas pela transformação digital tão bem como a
indústria da música: no Brasil, músicas em mídias físicas (CD, DVD) devem cair 17% ao
ano até 2020. Download cai 15%, enquanto música no formato streaming cresce 24% ao
ano no mesmo período. Excluindo os gastos com shows ao vivo, em 2020, praticamente
todas as músicas gravadas serão ouvidas no formato digital:
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De acordo com os dados de alcance semanal realizada pela empresa TNS Global,
o Spotify pode ser considerado a quinta maior emissora de rádio em São Paulo, depois
de Jovem Pan, Band, 89FM, e MIX. Empresas de outros setores, além de gravadoras e
artistas, já buscam parcerias com o aplicativo para realizarem ações de marketing: o
Palmeiras se tornou o primeiro clube de futebol brasileiro com perfil oficial no Spotify.
Apesar de todo o sucesso, a empresa ainda não conseguiu lucro: em 2015, teve
prejuízo operacional de 184,5 milhões de euros. Para reverter esses resultados, seguindo
os efeitos da Cauda Longa, a distribuidora terá que aumentar ainda mais sua base de
clientes para conseguir alcançar os benefícios do efeito de rede em que poucos usuários
assinantes sustentam os demais.
mais) da publicidade digital é dele. O modelo de negócio do Google inclui dois tipos de
clientes que coexistem e são interdependentes, pois a presença de um gera valor para o
outro. Não se cobra nada de um dos clientes (usuários de busca) para então oferecê-los
ao outro segmento (anunciantes):
De acordo com o relatório anual de 2015 do Google, dos US$ 75 bilhões em lucros
registrados em 2015, US$ 23 bilhões foram de lucros operacionais e US$ 67,4 bilhões
foram lucros com propaganda. Destes US$ 67,4 bilhões, 78% vieram de anúncios nos
websites próprios e 22% de anúncios servidos websites de terceiros. Outros US$ 7,2
bilhões vieram de outras fontes, proveniente de outros negócios da empresa, como o
Google Play.
mesmo times de futebol têm apostado cada vez mais em poucos títulos que têm maior
chance de sucesso. Os gráficos apresentados nos capítulos anteriores comprovam essa
afirmação. Alguns exemplos podem ser citados: na Apple Store, 25 itens respondem por
57% das buscas; um quinto das músicas disponíveis no Spotify nunca foi tocado; a
Warner Bros. dedica um terço do orçamento para cinco dos 25 filmes que lança por ano.
Elberse (2014) conclui que, mesmo no ambiente digital, as pessoas querem usar
os mesmos aplicativos e ler os mesmos livros para ter assuntos em comum. Lançar
menos produtos garante escala na hora de desenvolver, divulgar e vender. Para a autora,
Anderson (2006) erra ao acreditar que o investimento deva ser centrado em produtos de
nicho. Os dados que analisou mostram que quanto mais produtos, mais concentrado é o
negócio. É o que acontece com o mercado de música digital e que se repete em várias
outras áreas. Ainda segundo a autora, a Cauda Longa tem sua validade ao inspirar
produtores de conteúdo a colocar sua obra na web e lucrar, colocando pressão sobre as
grandes empresas.
O primeiro ponto a ser contraposto sobre os comentários de Elberse (2014) é que
Anderson (2006) não eliminou o efeito blockbusters nos mercados tradicionais nem
digitais, mas ao contrário, afirmou que continua existindo. O que muda é que a cauda fica
mais longa e mais espessa em direção ao mercado de nicho. Este fato também pode ser
observado no gráfico que compara o consumo das mídias tradicionais x digitais: à medida
que o crescimento dos gastos acontece no digital, jornal, revista e livros (publicações)
reduzem as receitas com edições impressas e crescem 18% ao ano on-line; TV e vídeo
crescem no tradicional em razão do aumento de assinaturas de TV - no Brasil ainda tem
alto potencial em razão da baixa penetração do serviço quando comparado aos mercados
maduros, ou seja, uma demanda reprimida do consumo. Mas crescem ainda mais na
internet (9% ao ano), impulsionados por serviços como o Netflix.
A indústria da música é o segmento mais adiantado na transformação digital. É
possível afirmar que a mudança já aconteceu na música e o Spotify é um exemplo disso.
Outro ponto que Elberse (2014) não considerou em suas análises é que as empresas
disruptivas assumem também o papel de facilitadoras, aumentando o acesso à todos os
produtos, sejam hits ou de subculturas. Esta mudança é o que gera os novos modelos
de negócio.
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Tipo
Força Impacto Resultado Negócio Inovação
BMC
Democrati- Qualquer Maior oferta Ferramenta • Acessível a todos; • Cauda
zação da pessoa tem de bens, de cauda • Redução dos custos de Longa
produção condições alongando a longa produção;
de produzir cauda • Consumidor vira produtor;
Lulu.com
5. CONSIDERAÇÕES GERAIS
empresas tradicionais no Brasil estão buscando modelos híbridos com ofertas on e off-
line para atender a demanda reprimida das plataformas digitais, com crescimento muito
mais acelerado.
Ficou claro que o setor está em plena transformação e, por enquanto, não há um
modelo ideal a ser adotados. Isto dependerá de cada estrutura, cultura, estratégia e
objetivo para a escolha do papel à ser desempenhado pela empresa dentro da nova
cadeia de valor digital proposta. As análises revelaram que conteúdo relevante, crível e
endereçado conquista a audiência. E audiência conquista os anunciantes. Portanto, é
essencial considerar a análise dos dados (big data) para o melhor entendimento da
mente, alma e coração do consumidor.
A Cauda Longa também prevê a redução dos custos dos produtos e serviços tanto
para quem está vendendo quanto para quem está comprando. Os dados mostraram que
isto vêm acontecendo no ambiente digital e o segmento de música é o exemplo: mídias
físicas estão sendo substituídas pelos formatos digitais (dados e bits) por um valor
consideravelmente menor do que DVDs.
O estudo também tinha o objetivo de analisar o modelo de negócio das principais
empresas do setor utilizando a metodologia Canvas (BMC - Business Model Canvas)
desenvolvida por Alexander Osterwalder (2011). Considerando que a primeira regra
adotada por Anderson (2006) para um negócio Cauda Longa é disponibilizar tudo e que
a segunda é ajudar a encontrar, à partir da análise do modelo de negócio adotado por
algumas empresas, concluiu-se que não basta ser disruptor, tem que ser facilitador: em
todos os modelos canvas estudados esta premissa está presente.
Notou-se, ainda, que várias frentes de relacionamento e iniciativas digitais podem
ser adotadas ao mesmo tempo, sendo os investimentos em tecnologia quem direcionará
o caminho à seguir. Para tanto, parcerias, aquisições, pesquisas e inovações são
estratégias necessárias para a sustentabilidade e reposicionamento da empresa no
ecossistema digital. Além da colaboração, do compartilhamento e da co-produção.
Em linhas gerais, duas hipóteses surgem dessas considerações: 1) a
transformação digital do consumo de entretenimento não acontece no Brasil com a
mesma velocidade que nos países maduros por questões econômicas e de baixos
investimentos em educação, pesquisa e desenvolvimento tecnológico; 2) o efeito de rede
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da Cauda Longa - que tende a levar os custos para praticamente zero - reduz o
faturamento das empresas de entretenimento e mídia nas plataformas digitais e por esse
motivo as receitas tradicionais são mais relevantes, ou, ainda, não são contabilizadas por
estarem nas mãos de terceiros, como as empresas de tecnologias (ex.: Google).
Outras hipóteses podem ser levantadas, e novos conhecimentos podem ser
adquiridos, mas os números coletados e analisados neste trabalho são insuficientes para
tanto. Seria necessária uma gama maior de informações internas das empresas do setor
para se chegar à resultados conclusivos. Esta foi a principal limitação do trabalho. Um
estudo de caso comparativo entre as empresas citadas poderia orientar melhor o trabalho
de pesquisadores futuros sobre o assunto.
Apesar de Anderson (2006) não dar sugestões de uma nova configuração da
estrutura da indústria de mídia e demonstrar muitos mais exemplos dos segmentos de
entretenimento, sua proposta de entendimento dos negócios como uma abordagem mais
holística de uma economia em plena transformação torna a ideia da Cauda Longa
atraente e um importante ponto de apoio para análise desse novo contexto.
Pode não ser a única ideia, nem mesmo a melhor, mas em um momento em que
a internet assume a função de agente agregador da comunicação, disponibilizando
produtos e informações com muito mais velocidade e intensidade do que as mídias
tradicionais, ter um olhar aberto para novas oportunidades e novas formas de
estruturação da cadeia de valor pode ser uma tábua de salvação para as empresas do
setor que têm enfrentado grandes dificuldades para manterem a sustentabilidade e a
perenidade dos negócios.
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