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DOCUMENTOS CENP – 1

LEGISLAÇÃO
E NORMAS DA
PUBLICIDADE
NO BRASIL
SUMÁRIO

REGULAÇÃO, AUTORREGULAÇÃO E COMPLIANCE DA PUBLICIDADE NO BRASIL


SAMPAIO FERRAZ ADVOGADOS
Por Tercio Sampaio Ferraz Junior e Thiago Brito
1. REGULAÇÃO, AUTORREGULAÇÃO E COMPLIANCE ...........................................................2

2. A AUTORREGULAÇÃO DA PUBLICIDADE NO BRASIL .......................................................5

3. AUTORREGULAÇÃO, CONSELHO DE ÉTICA E COMPLIANCE ..........................................8

4. AUTORREGULAÇÃO DO MERCADO PUBLICITÁRIO: O CENP ..........................................10


Autorregulação do ângulo concorrencial
Parecer do professor Tercio Sampaio Ferraz Junior

A DECISÃO DO CADE E SUA IMPORTÂNCIA PARA A PUBLICIDADE BRASILEIRA


Matéria originalmente publicada na CENP em Revista de Março de 2017

ÓRGÃO RECONHECEU QUE AS NORMAS-PADRÃO DO CENP ESTÃO


AMPARADAS NA LEGISLAÇÃO .................................................................................................16

A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO QUE DÁ SUPORTE ÀS NORMAS-PADRÃO


DA ATIVIDADE PUBLICITÁRIA ...................................................................................................18

A LINHA DO TEMPO DAS AÇÕES DO CADE SOBRE O CENP


E AS NORMAS-PADRÃO ............................................................................................................19

O CENP E O CADE .....................................................................................................................20

LEGISLAÇÃO E NORMAS BRASILEIRAS SOBRE A PUBLICIDADE


A REGULAÇÃO DA PUBLICIDADE NO BRASIL ......................................................................22

AS NORMAS-PADRÃO DA PUBLICIDADE BRASILEIRA .......................................................28


ABERTURA

O BOM RESULTADO DAS LEIS E DA AUTORREGULAÇÃO


NA PUBLICIDADE BRASILEIRA
Este é o primeiro volume da série Documentos CENP e – sob o risco de gerar catástrofes capazes de destruir a
aborda questões relacionadas à legislação e à autorregu- própria atividade com óbvios prejuízos para todos seus
lação da publicidade brasileira – desde os primórdios, em integrantes. Destaco justamente as consequências, os
1957, com a aprovação do Código de Ética dos Profissio- resultados positivos, que derivam da existência e cumpri-
nais de Propaganda, até os dias atuais, 60 anos depois, mentos dessas leis e normas.
quando decisão favorável do tribunal do CADE assegurou Observadores bem posicionados e competentes, tanto
que a aplicação pelo CENP das Normas-Padrão da Ativi- de nosso mercado específico e nacional, como de áreas
dade Publicitária é incentivada pelo marco legal. limítrofes e visão internacional, concordam com uma sé-
O objetivo deste trabalho é apresentar o complexo, rie de fenômenos da publicidade brasileira, como a seguir
mas belo e harmônico sistema combinado e mutuamen- lembrados.
te sustentado de leis, códigos de conduta e melhores Somos reconhecidos por manter de forma sistemática
práticas que tantos benefícios asseguram à propaganda a terceira posição em qualidade da publicidade mundial,
realizada no país. atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido. Posi-
A leitura deste documento permitirá ao interessado co- ção não compatível com a dimensão de nosso mercado
nhecer os motivos e as razões de cada instrumento legal publicitário, que oscila entre o 7º e o 9º do mundo.
e normativo, seus pontos essenciais e, principalmente, A publicidade é um pilar essencial para a existência de
avaliar melhor o que eles beneficiam sua atividade e ne- um conjunto de meios e veículos de comunicação de in-
gócio específico dentro do setor publicitário. vejável padrão, seja porque leva recursos vitais para asse-
Essas leis e normas têm se sustentado ao longo do gurar sua liberdade e qualidade, seja porque as caracterís-
tempo não por uma poderosa capacidade de se fazerem ticas dos intervalos e espaços comerciais são favoráveis
cumpridas, mas porque respondem ao fato social de que aos anunciantes, gerando resultados, e aos próprios con-
as atividades humanas, tanto comerciais como técnicas, sumidores, que são atraídos por mensagens inteligentes
precisam de padrões de orientação que permitam aos e bem produzidas.
bem intencionados atender às melhores práticas em be- A oferta de serviços publicitários pelas agências é mui-
nefícios de todos e de si mesmos, da mesma forma que to elevada em extensão e qualidade, pelos recursos dis-
ofereçam mecanismos para impedir os mal intenciona- poníveis e o alto padrão profissional.
dos de corromper o sistema e gerar prejuízos para a co- Pesquisa feita pela Nielsen em 50 países ao redor do
munidade, assegurando o melhor no presente e o olhar a mundo, em 2009, indicou que o Brasil tinha o maior nível
médio e longo prazos. da aceitação e o menor de rejeição à publicidade junto à
No caso da publicidade, adicionalmente, esse sistema população.
misto de governança tem se provado, ao longo dos anos, Inúmeras marcas internacionais foram lançadas e con-
uma boa solução para assegurar a liberdade dos agentes solidadas com sucesso e velocidade com a contribuição
econômicos nele inseridos, de modo produtivo e sem essencial de nossa publicidade. Assim como venceram
criar restrições e amarras que seriam contraproducentes muitas marcas nacionais que souberam empregar a força
para todos. vigorosa de nossa propaganda.
A beleza de um sistema combinado como o nosso é Esta entrega tem sido possível por ser o mercado bra-
que a legislação é impositiva sobre aspectos básicos e sileiro adequadamente remunerado, com padrões éticos
permanentes, mas circunscritos, e as normas de autor- e profissionais elevados – e com capacidade de atrair ta-
regulação podem descer a detalhes importantes, sem as lentos, mantendo capacidade técnica contínua e ascen-
amarras legais e permitindo revisões quando necessário, dente.
por sua natureza de adoção voluntária. Assim, na prática
diária, o sistema se adapta melhor a uma atividade di- Caio Barsotti
nâmica por natureza, evitando abalar seus fundamentos Presidente do CENP

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REGULAÇÃO, AUTORREGULAÇÃO E
COMPLIANCE DA PUBLICIDADE NO BRASIL
POR TERCIO SAMPAIO FERRAZ JUNIOR E THIAGO FRANCISCO DA SILVA BRITO

1. REGULAÇÃO, AUTORREGULAÇÃO E COMPLIANCE


A atividade da publicidade no Brasil possui um As agências de propaganda são contratadas pe-
sistema normativo especial que disciplina e re- las empresas anunciantes para a prestação dos
gula sua existência e funcionamento. Conta com serviços publicitários definidos em lei (full service),
normas legais emanadas do Estado – Leis Fede- que vão dos estudos e concepção à intermediação
rais Nºs 4.680/65 e 12.232/10, Decreto Federal Nº de peças publicitárias. São remuneradas pelas em-
57.690/66, alterado pelo Decreto Nº 4.563/02. A presas anunciantes pelo que criam, concebem e
publicidade está incluída no capítulo da Comuni- produzem, direta ou indiretamente. Pela interme-
cação Social da Constituição Federal da República diação da publicidade, a remuneração, paga via
(art. 220), que assegura a liberdade de expressão contratantes, é fruto do desconto fixado pelos veí-
e veda a censura prévia, estabelecendo, também, culos em suas listas de preços, sobre o valor con-
que somente a União pode legislar sobre publicida- creto da veiculação da publicidade. O valor mínimo
de comercial (art. 22, XXIX). desse desconto, nominado desconto-padrão, reco-
mendado pelas Normas-Padrão, é de 20% para as
No campo das relações comerciais, conta com agências que possuam o Certificado de Qualifica-
normas reconhecidas e livremente convencionadas ção Técnica.
pelos agentes do mercado publicitário, por meio de
entidades e associações nacionais representativas A lei federal criou o desconto que faz parte da
de agências de propaganda, veículos e anuncian- remuneração das agências de propaganda, cujo
tes. São: (i) Código de Ética dos Profissionais da valor é fixado pelos veículos (art. 11 da Lei Nº
Propaganda, tornado de caráter legal em 1965 (art. 4.680/65 e art. 19 da Lei Nº 12.232/10), vedando
17 da Lei Nº 4.680/65) e as (ii) Normas-Padrão da que ele seja concedido a quem não seja agên-
Atividade Publicitária, instrumentos de incentivo às cia (parágrafo único do art. 11 da Lei Nº 4.680/65).
boas práticas e respeito ético, desde 2002 incorpo- O mesmo artigo criou uma comissão destinada
radas ao Decreto Federal Nº 57.690/66. exclusivamente a agenciador de propaganda, que
atua como corretor e não tem nenhuma atribuição
As normas previstas em lei federal são aplicáveis de estudo de mercado ou criação publicitária.
em toda e qualquer situação, para todos os agen-
tes do mercado, e independem de vontade de aca- A legislação federal deu força de lei ao Código de
tamento; as normas de autorregulação aplicam-se Ética dos Profissionais da Propaganda (art. 17 da
àqueles que desejam seus benefícios e sujeitam- Lei Nº 4.680/65) e incorporou ao rol das proibições
se ao permanente compromisso dos agentes do legais a transferência do desconto-padrão para a
mercado, reafirmado por meio da convivência no empresa anunciante (item I, 8, do Código de Ética
CENP – Conselho Executivo das Normas-Padrão. citado).

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A Lei Nº 4.680/65 determina,
no caso das agências, que
A agência, independentemente de outros deve-
o desconto-padrão, de
res contratuais, obriga-se, em virtude do desconto- caráter obrigatório, deve ser
padrão, a manter permanente estudo do mercado
de mídia e a conceder aos veículos de comunica-
fixado pelos veículos de
ção efetivo del credere, cobrando em nome deles comunicação
as contas relativas à veiculação da publicidade e
repassando os valores aos veículos sem que deles
se utilize, nos prazos fixados. A autorregulação da publicidade é compromisso
voluntário a que se obrigam agências de publici-
A existência do desconto-padrão está condicio- dade, veículos de comunicação e anunciantes que
nada ao pagamento, pelo anunciante, da veicula- aderirem às suas normas. O sistema autorregulador
ção da publicidade. Antes disso, é mera citação, facilita a relação diária de milhares de agentes em
como referência, de seu valor, no documento con- operações que exigem rapidez e confiança mútua.
tábil-fiscal emitido pelo veículo de comunicação.
Somente no momento em que o veículo é pago Empresas e pessoas não são obrigadas a aderir ao
é que a agência passa a fazer jus à sua remu- regime de autorregulação, porque, pela Constitui-
neração, passando, de fato e de direito, a ser ção da República, ninguém será obrigado a fazer ou
credora daquele valor. O desconto-padrão é de deixar de fazer algo senão em virtude de lei. O am-
exclusiva propriedade da agência, fato esclarecido, biente de autorregulação previsto pelas normas que
de forma interpretativa, por lei federal (art. 19, Lei criaram o CENP estabelece parâmetros, referên-
Nº 12.232/10). cias, indicações, recomendações com mecanismo
de fast track que busca facilitar as transações entre
É dever da agência negociar, em cada contra- os agentes, tornando-as mais céleres e previsíveis.
tação de mídia, os melhores preços e condições
comerciais em favor de seus clientes anunciantes. Resumidamente:
Todo e qualquer desconto comercial será revertido
em favor do anunciante. Se não o fizer, a agência Os veículos quando pactuam as Normas-Padrão
estará infringindo normas legais e convencionais asseguram que vão cumprir as obrigações legais
da propaganda. de (i) manter lista única e pública de preços a ser
oferecida, para negociação, a todo o mercado, sem
É livre a negociação contratual entre agência e restrições de qualquer espécie; (ii) fixar para todas
anunciante. No entanto, para assegurar o equilíbrio as agências de propaganda certificadas e em toda
contratual, a relação deve evitar práticas antieconô- publicidade encaminhada de todo e qualquer anun-
micas e anticoncorrenciais e, no caso do desconto- ciante o desconto-padrão de no mínimo 20%; (iii)
padrão, respeitar as disposições legais e vedar sua tornar público o percentual de desconto que con-
transferência a terceiros, por mais importantes que cede conforme seus critérios para relações non
sejam na transação que deu origem àquela remu- compliance e outras hipóteses que não sejam as
neração. recomendadas pelas Normas--Padrão; (iv) cumprir
a obrigação de veiculação nos termos do que foi
Para negociar mídia em nome de um anunciante, autorizado pela agência.
a agência deve estar credenciada pelo mesmo jun-
to ao veículo de comunicação, assegurando-se-lhe As agências de publicidade que pactuam as
o direito de atuar em nome da empresa anuncian- Normas-Padrão asseguram (i) manter permanente
te, inclusive contratando veiculação. estrutura física e de pessoal qualificado; (ii) adquirir

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REGULAÇÃO, AUTORREGULAÇÃO E COMPLIANCE DA PUBLICIDADE NO BRASIL

e usar pesquisa de mídia de acordo com o mer- Corrupt Practices Act (FCPA) e a UK Bribery Act,
cado em que atua; (iii) assegurar aos veículos nos nada impede que práticas ilícitas ou ilegais pratica-
quais sejam credenciadas o efetivo del credere; (iv) das por agentes atuantes no mercado publicitário
respeitar as normas legais e convencionais do mer- sejam identificadas e eventualmente punidas pelas
cado de publicidade. autoridades competentes, o que escapa integral-
mente à esfera de atuação do CENP, a despeito
As empresas anunciantes, aderindo às Nor- do reconhecimento obtido em norma legal, de sua
mas-Padrão, desfrutam de um mercado livre, orga- função certificadora e fiscalizadora das condições
nizado e organicamente voltado para a eficácia da técnicas das agências de publicidade (art. 4º, Lei
comunicação publicitária que, com ética, promova Nº 12.232/10).
a aproximação de produtores e prestadores de ser-
viços aos consumidores do país. Recomenda-se a leitura dos documentos que
se seguem indicando como é e com base em que
O CENP atua em nome de suas fundadoras e se pratica a autorregulação da publicidade, as Nor-
com base em princípios por intermédio do seu mas-Padrão, as bases de relação entre as partes e
Conselho de Ética sempre na busca de um acor- o sistema de compliance adotado, além de resumo
do diante de conflito entre as partes envolvidas, da legislação e das normas.
consideradas as Normas-Padrão, em nítida função
conciliadora e mediadora. No entanto, quando não Estar em compliance é a melhor forma de as-
se obtém solução consensual, as Câmaras de Ar- segurar direitos e deveres das partes que atu-
bitragem do Conselho de Ética proferem decisão am no mercado publicitário brasileiro.
que não possui nenhum caráter punitivo ao agente
que esteja non compliance, consistindo em adver- Este documento, criado para ajudar a compree-
tência apenas declaratória comunicada confiden- der as normas de compliance das relações comer-
cialmente aos representantes do anunciante e da ciais da publicidade, possui mero caráter interpreta-
agência, bem como aos veículos e associações de tivo e não traz nenhuma inovação, tendo somente
veículos associados ao CENP. função esclarecedora, não substituindo, em caso
de qualquer dúvida ou questão de maior complexi-
A decisão declaratória de non compliance tem dade, a consulta à própria legislação e normas de
o objetivo de alertar que certas relações podem autorregulação em seu inteiro teor, bem como a
afetar a liberdade, a isonomia, a competitivida- especialistas, advogados e consultores próprios e
de e a transparência existentes no mercado pu- contratados, acerca de todos os aspectos jurídico
blicitário, uma vez que podem implicar vulnerar convencionais eventualmente aplicáveis às ativida-
regras voluntariamente estabelecidas. des. Ele indica, no tocante às Normas-Padrão da
Atividade Publicitária, que são as tuteladas pelo
É importante também destacar que, como exis- CENP, o que pode significar estar em compliance.
te um amplo regime legal e regulamentar de ca-
ráter estatal no que se refere especialmente às Estar ou não compliance não se confunde
atividades publicitárias e também todo o marco com poder ou não atuar no mercado, pois essa
normativo de caráter geral aplicável às mesmas liberdade, garantida constitucionalmente, não
atividades (como as questões fiscais e tributárias, é – e nem poderia ser – subtraída pela autorre-
por exemplo), além daquelas de alcance interna- gulação ou por qualquer entidade privada tute-
cional para empresas multinacionais, como, por ladora de normas de autorregulação livremente
exemplo, a Sarbannes-Oxley Act (SOX), o Foreign adotadas.

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2. A AUTORREGULAÇÃO DA PUBLICIDADE NO BRASIL

No Brasil, como visto, não existem apenas nor- normas determinadas pela comunidade, Estado e
mas provenientes do Estado que regulamentam a mercado. Trata-se de um sistema de ordenamento
atuação das agências de publicidade, dos anuncian- privado espontâneo, que se baseia na reciprocida-
tes e dos veículos de comunicação. Paralelamente de: os indivíduos reconhecem os benefícios que
a essa legislação (leis e decretos federais), há um irão extrair por aderirem às regras convencionadas.
conjunto de normas convencionadas e livremente Do ponto de vista econômico, os agentes recor-
adotadas pelos próprios agentes do mercado pu- rem à autorregulação porque ela pode funcio-
blicitário, no intuito de reger relações comerciais e nar como importante mecanismo de correção
éticas entre eles. Dentre essas normas, merecem de falhas de mercado, gerando mais eficiência.
destaque as Normas-Padrão da Atividade Publici-
tária (1998), as quais consubstanciam a proteção Em 1998, o Conselho Executivo das Normas-Pa-
dos interesses de todos os agentes econômicos drão (CENP) foi constituído por meio de uma livre
envolvidos nas negociações no mercado publicitá- convenção entre as entidades representativas dos
rio, sejam eles agências, veículos ou anunciantes e principais agentes econômicos do mercado publi-
mesmo os consumidores. citário, os anunciantes (Associação Brasileira de
Anunciantes – ABA), as agências de propaganda
A autorregulação e o CENP (Associação Brasileira de Agências de Publicida-
de – ABAP e Federação Nacional das Agências de
A autorregulação é a regulamentação dos mer- Propaganda – Fenapro) e os veículos de comunica-
cados, das empresas ou das profissões pelos pró- ção (Associação Nacional de Jornais – ANJ, Asso-
prios operadores e agentes econômicos interessa- ciação Nacional de Editores de Revistas – ANER,
dos, e não pelo Estado. Por ser conduzida pelos Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Te-
entes regulados, diferencia-se da heterorregula- levisão – ABERT, Associação Brasileira de Televisão
ção, a qual é conduzida pelo Estado. É uma forma por Assinatura – ABTA e Central de Outdoor), aos
de regulação coletiva e não individual, donde sua quais posteriormente vieram se juntar também o
legitimidade é alcançada justamente pela obtenção Interactive Advertising Bureau – IAB Brasil (repre-
de consensos e maiorias visando não a interesses senta veículos e agências que atuam no ambiente
individuais, mas a coletivos. Ademais, a autorregu- internet) e a Associação Brasileira de Mídia Digital
lação pressupõe a existência de uma organização Out of Home – ABDOH.
coletiva que estabelece e fiscaliza um conjunto de
regras destinadas a seus membros, regras essas O CENP é uma associação civil sem fins lucra-
que são por eles voluntariamente aceitas ao toma- tivos, responsável pela condução da autorregula-
rem parte na autorregulação. ção das relações entre os agentes econômicos do
mercado publicitário e pelo fomento das melhores
O papel da autorregulação é, mediante regula- práticas comerciais, que incentivem a concorrên-
mentação, internalizar padrões de comportamen- cia por melhor eficiência e qualidade, devendo para
tos ou usos e costumes aceitos e já praticados tanto zelar pela observância das Normas-Padrão da
pelo mercado e pela comunidade, monitorando os Atividade Publicitária. É formado pelos seguintes
seus membros de forma a criar reputação positi- órgãos: a) Assembleia Geral: é o órgão soberano da
va para o grupo. A autorregulação é responsável entidade e tem função deliberativa, sendo compos-
não apenas pela criação de um corpo adicional de ta por associados fundadores e institucionais, que
normas, mas também atua no fortalecimento das estejam em dia com as suas obrigações sociais; b)

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REGULAÇÃO, AUTORREGULAÇÃO E COMPLIANCE DA PUBLICIDADE NO BRASIL

Conselho Executivo: é o órgão normativo e diretivo autorregulação da atividade publicitária tuteladas


do CENP, sendo formado por membros indicados pelo CENP, que buscam evidentemente pautar-se
pelos associados fundadores e institucionais; c) e complementar as normas estatais (tanto as leis
Diretoria Executiva: órgão administrativo, em que federais quanto os decretos relacionados acima).
estão representados os três segmentos do merca- Nesse contexto, têm papel central os dispositivos
do publicitário, sendo formada por sete membros trazidos pelas chamadas Normas-Padrão da Ati-
(um presidente, três vice-presidentes e três direto- vidade Publicitária, as quais podem ser divididas,
res); d) Conselho de Ética: é o órgão competente para efeitos deste documento, em três partes,
para a conciliação e mediação, bem como para a conforme a relação da qual as normas estejam se
arbitragem de conflitos entre agentes e interesses ocupando: relações entre agências, anunciantes e
do mercado no que concerne às Normas-Padrão veículos; relações entre agências e anunciantes;
da Atividade Publicitária, sendo formado por con- relações entre agências e veículos.
selheiros representantes de anunciantes, agências
de publicidade e veículos de comunicação desig- As relações entre Agências, Anunciantes e
nados pelas respectivas entidades; e) Conselho Veículos
Fiscal: é o órgão fiscalizador do CENP, formado
por três membros eleitos pela Assembleia Geral, Após uma abordagem dos conceitos básicos do
ao qual cabe fiscalizar os atos dos administradores mercado de publicidade, a primeira parte das Nor-
eleitos pelo Conselho Executivo, bem como opinar mas-Padrão da Atividade Publicitária se ocupa das
sobre o relatório e as contas da Diretoria Executiva; relações entre agências, anunciantes e veículos no
f) Conselho Consultivo: atua como organismo de que concerne às práticas tanto de natureza profis-
aconselhamento da Diretoria Executiva, sendo o sional, quanto comercial. No âmbito comercial, são
espaço para a discussão dos assuntos de interes- tratados assuntos centrais no que diz respeito à re-
se da publicidade, da ética e da livre concorrência, muneração das agências de publicidade, dentre os
sem ter, portanto, função administrativa. quais se destaca o desconto-padrão de agência, o
qual recomenda que à agência certificada e com-
O CENP conta ainda com dois outros organis- pliance com as normas de autorregulação será ga-
mos: 1) CTM – Comitê Técnico de Mídia, integra- rantida, pelo veículo, remuneração não inferior ao
do por profissionais qualificados com atuação em mínimo de 20% do valor da mídia paga pelo anun-
agências, veículos e anunciantes, responsável pela ciante. No âmbito profissional, as normas implan-
análise e recomendação de credenciamento de es- tam metas de qualidade para as agências, as quais
tudos de informações de mídia; e 2) o BUP – Banco devem dispor de estrutura profissional e técnica e
Único de Listas de Preços, sistema de depósito por de um conjunto mínimo de informações e dados
meio do qual os veículos associados têm a possibi- de mídia. O Anexo A classifica as agências em sete
lidade de cumprir a exigência prevista no Decreto grupos, conforme a receita de mídia anual delas.
Regulamentador da Lei Nº 4.680/65, com listas de
preços públicas. Resumidamente, temos:

As Normas-Padrão da Atividade Publicitária: • As listas de preços segundo os quais os veícu-


orientações éticas e técnicas los comercializam o seu espaço, o seu tempo e
os seus serviços DEVEM ser públicas e devem va-
O presente capítulo pretende apresentar, resu- ler indistintamente para os negócios que lhes são
midamente, as recomendações sobre como es- encaminhados pelos anunciantes diretamente, ou
tar em compliance com as normas oriundas da por meio de agências.

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O CENP é responsável
pela condução da
• O veículo NÃO PODE oferecer ao anunciante, di- autorregulação das relações
retamente, vantagem ou preço diferente do ofere- entre os agentes econômicos
cido por meio da agência.
do mercado publicitário e
• A agência NÃO PODE deixar de apresentar ao pelo fomento das melhores
cliente proposta a ele dirigida pelo veículo.
práticas comerciais entre
• A agência DEVE cobrar dos clientes as faturas essas partes
correspondentes ao espaço/tempo que tenham ad-
quirido por ordem e conta deles, encarregando-se
de sua cobrança em nome dos veículos, aos quais cialmente os planos de mídia que apresentarão a
elas DEVEM repassar os valores assim recebidos. seus clientes, de maneira técnica, fundamentada
em dados estatísticos de mercado, orientando
• O CENP DEVE suspender o Certificado de Qua- suas recomendações pela boa técnica.
lificação Técnica da agência, caso esta, comprova-
damente, tenha retido valores de modo indevido. • A agência PODE negociar uma parcela do seu
desconto-padrão com o anunciante, orientando-se
• Os veículos e os anunciantes PODEM permutar pelos parâmetros estabelecidos nas Normas-Pa-
espaço, tempo ou serviço publicitário livremente, drão da Atividade Publicitária, conforme volume de
de modo direto ou por meio da agência de publi- investimentos em publicidade.
cidade responsável pela conta publicitária, nos
termos de Comunicação Normativa emitida pelo • É ILEGAL a contratação de propaganda em con-
CENP. dições antieconômicas, anticoncorrenciais ou que
gerem concorrência desleal.
• Os veículos DEVEM fixar o desconto-padrão a ser
conferido às agências certificadas pelo CENP, em As relações entre Agências e Anunciantes
decorrência do trabalho de concepção, execução
e distribuição de propaganda por ela desenvolvido, A segunda parte das Normas-Padrão da Ativida-
recomendando as Normas-Padrão da Atividade Pu- de Publicitária destaca as relações entre as agên-
blicitária um valor mínimo de 20% para as agências cias e os anunciantes, explicitando as capacidades
compliance. das quais devem ser dotadas as agências certifi-
cadas pelo CENP e a forma pela qual pode se dar
• As agências DEVEM, em contrapartida, alcançar preferencialmente a contratação delas. O Anexo
metas de qualidade estabelecidas pelas Normas- B dispõe sobre os parâmetros segundo os quais
Padrão da Atividade Publicitária e se habilitar ao re- pode ser negociada parcela do desconto-padrão a
cebimento do Certificado de Qualificação Técnica, ser revertida para o anunciante.
assumir obrigações de qualidade técnica (aquisi-
ção de pesquisas no interesse da atividade que de- Resumidamente, temos:
senvolvem em favor de seus clientes), bem como
obrigações éticas e de lealdade nas relações co- • As agências certificadas pelo CENP DEVEM es-
merciais (limites para repasse a anunciantes, sem tar capacitadas a realizar o pleno atendimento ao
quebra da lealdade para com os veí­culos). anunciante, compreendendo este os seguintes
serviços: a) estudo do conceito, ideia, marca, pro-
• As agências DEVEM realizar seu trabalho, espe- duto ou serviço a difundir; b) identificação e análise

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REGULAÇÃO, AUTORREGULAÇÃO E COMPLIANCE DA PUBLICIDADE NO BRASIL

dos públicos e do mercado em que a ideia, marca, cas, anticoncorrenciais ou que gerem concorrên-
produto ou serviço encontre melhor possibilidade cia desleal.
de aceitação; c) identificação e análise das ideias,
marcas, produtos e serviços concorrentes; d) exa- • Nas contratações com o setor público, os anun-
me do sistema de distribuição e comercialização; ciantes de cada poder e esfera administrativa DE-
e) elaboração e execução do plano publicitário; f) VEM ser considerados como departamentos de
contratação da compra de espaço/tempo/serviço um só anunciante para efeitos das previsões do
junto aos veículos, em nome e por conta do anun- Anexo B, norma que propicia a tais anunciantes a
ciante e, em razão de tais atividades, encarregar- condição em bases mais vantajosas.
se da cobrança dessas faturas e do pagamento
das mesmas aos veículos. As relações entre Agências e Veículos

• A agência DEVE trabalhar em estreita colabora- A terceira parte das Normas-Padrão da Atividade
ção com o anunciante, para que o plano publici- Publicitária aborda as relações entre as agências e
tário alcance os objetivos pretendidos e o anun- os veículos.
ciante obtenha retorno pelo seu investimento em
publicidade. Resumidamente, temos:

• A contratação da agência pelo anunciante DEVE • Os planos de incentivo às agências, os quais


ser, preferencialmente, mediante documento es- são mantidos pelos veículos e cuja oferta e aceite
crito, no qual DEVEM constar os prazos de presta- são voluntários, NÃO PODEM contemplar anun-
ção de serviços e os ajustes que as partes fizerem. ciantes, nem se sobrepor, por parte das agências,
a critérios técnicos na elaboração e execução do
• As ideias, peças, planos e campanhas de publici- planejamento de mídia.
dade desenvolvidos pela agência DEVEM perten-
cer, do ponto de vista do direito autoral, à agência. • A agência DEVE adquirir espaço ou tempo es-
pecificamente para seu cliente. O veículo NÃO
• A agência certificada PODE optar por não ser PODE, portanto, vender espaço ou tempo sem
remunerada por meio do desconto-padrão de, no a indicação expressa do nome/produto do anun-
mínimo, 20%. Em tal caso, a remuneração pelo ciante.
anunciante PODE ser feita por meio de fees ou
honorários fixos. O fee PODE ser cumulativo ou • A agência DEVE cobrar no prazo o valor das fatu-
alternativo à renumeração por meio do desconto- ras emitidas pelos veículos contra os anunciantes,
padrão, mas deverá com este guardar relação de repassando tais valores aos veículos. Constitui
equivalência proporcional, sendo ILEGAL a contra- apropriação indébita, sujeita às punições legais,
tação de propaganda em condições antieconômi- deixar de realizar esse repasse.

3. AUTORREGULAÇÃO, CONSELHO DE ÉTICA E COMPLIANCE

No contexto da autorregulação publicitária, o Atividade Publicitária. Para tanto, o Conselho tem


Conselho de Ética do CENP é o órgão que exerce competência para levantar, instruir e julgar proce-
as importantes funções de conciliar, mediar e arbi- dimentos, analisando se a conduta dos agentes
trar controvérsias referentes às Normas-Padrão da do mercado publicitário está ou não em complian-

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O Conselho de Ética deve
tentar viabilizar um acordo
ce com as Normas-Padrão. Trata-se, portanto, de entre os agentes, de modo
um órgão cujo papel é de grande relevância, uma que os mesmos retornem,
vez que propicia aos agentes em conflito ou em
situação de non compliance a possibilidade de, por voluntariamente, à situação
meio da conciliação, retornar à condição de com- de compliance
pliance. Nesse contexto, é importante relembrar
que o Conselho de Ética apenas analisa a situa-
ção de conformidade dos agentes com base nas res práticas comerciais e da ética, zelando, nesse
Normas-Padrão, e não controvérsias relativas às contexto, pela qualidade, legalidade e ética nas re-
normas estatais atinentes à atividade publicitária, lações comerciais entre agências de publicidade,
uma vez que tal atribuição cabe ao Poder Judiciário anunciantes e veículos de comunicação, em con-
e escaparia às competências do CENP. formidade com as regras estabelecidas pelos mes-
mos e consubstanciadas nas Normas-Padrão. No
Convém ressaltar que o Conselho de Ética, den- final desse procedimento, caso, após todas as ten-
tro da lógica da autorregulação, em que são as- tativas de conciliação, o Conselho de Ética conclua
sumidos compromissos voluntários em nome de que a agência está em non compliance, ele poderá
bens e valores considerados relevantes por toda adotar advertência meramente declaratória, que
uma comunidade que se autorregula, foi concebi- será comunicada aos responsáveis pela agência e
do como um mecanismo de solução de controvér- pelo anunciante envolvidos na controvérsia e dela
sias que sempre deve buscar a conciliação. Tanto dada ciência aos veículos e associações de veícu-
é assim que a primeira etapa do procedimento los credenciados ao CENP.
perante o Conselho de Ética se desenvolve em
uma Câmara de Conciliação e Mediação, em que Resumidamente, temos:
é dada aos agentes a possibilidade de solucionar
as controvérsias ou conflitos éticos existentes en- • O Conselho de Ética do CENP DEVE sempre
tre eles a partir do diálogo, num processo em que buscar soluções conciliatórias e atuar como um
o Conselho de Ética do CENP, por meio da referida instrumento de concórdia entre os agentes em li-
Câmara, exerce a função de mediador e concilia- tígio e NÃO PODE, antes disso, emitir nenhuma
dor. Não se trata, portanto, de um procedimento manifestação.
em que um órgão hierarquicamente superior tem
o poder de punir os agentes do mercado publicitá- • Antes de declarar a situação de non complian-
rio, mas sim de um sistema concebido pelos pró- ce, tomando as devidas providências estatutárias,
prios agentes do mercado publicitário, para que os o Conselho de Ética DEVE instaurar procedimen-
mesmos, em comum acordo, tomem a decisão. tos em duas instâncias, a Câmara de Conciliação
Não existe, por exemplo, nenhuma forma de mul- e Mediação e a Câmara de Arbitragem e Conflitos
ta a ser aplicada àqueles agentes que estejam em Éticos, nas quais DEVEM ser sempre oportuniza-
non compliance com as Normas-Padrão ou qual- das aos agentes a ampla defesa e a possibilidade
quer outra penalidade. de conciliação.

É só diante do fracasso das tentativas de solu- • Caso, de início, já se verifique a inexistência de


ção por meio de conciliação ou mediação que se problema ético, o presidente do CENP PODE reco-
recorre à Câmara de Arbitragem e Conflitos Éticos. mendar que o procedimento seja arquivado.
O Conselho de Ética, ao arbitrar as controvérsias,
tem sempre como fim a preservação das melho- • Por meio de sua Câmara de Conciliação e Me-

9
REGULAÇÃO, AUTORREGULAÇÃO E COMPLIANCE DA PUBLICIDADE NO BRASIL

diação, o Conselho de Ética DEVE tentar viabili- multas para os agentes em situação de non com-
zar um acordo entre os agentes, de modo que os pliance, tampouco decidir sobre qualquer matéria
mesmos retornem, voluntariamente, à situação de distinta da interpretação das Normas-Padrão da
compliance. Atividade Publicitária por falta de competência.

• Caso as tentativas de acordo perante a Câmara • A atuação do Conselho de Ética é matéria trata-
de Conciliação e Mediação se revelem infrutíferas, da sob sigilo, dela tendo conhecimento apenas e
persistindo o conflito ético, o procedimento deverá tão somente aqueles que analisam em nome do
ser remetido à Câmara de Arbitragem e Conflitos CENP os fatos apurados, aqueles que os apuram
Éticos, na qual os conselheiros votarão, sempre e as partes interessadas, sendo a decisão mera-
após garantida ampla liberdade de defesa e exposi- mente declaratória de non compliance comunica-
ção das razões das partes, para decidir se os agen- da aos representantes das partes envolvidas na
tes estão em situação de non compliance. controvérsia e dela dada ciência para os veículos
e associações de veículos credenciados junto ao
• O Conselho de Ética NÃO PODE estabelecer CENP.

4. AUTORREGULAÇÃO DO MERCADO PUBLICITÁRIO: O CENP


Autorregulação do ângulo concorrencial
Parecer do professor Tercio Sampaio Ferraz Junior

A autorregulação é vista, do ângulo concorren- da à autoridade antitruste é relativamente pequena,


cial, como uma forma de governança privada dos razão pela qual uma referência à literatura e práticas
agentes de determinados setores para formaliza- de outros países se faz necessária.
ção do controle, estabelecimento e imposição de
regras voluntariamente aceitas e passíveis de au- Do ângulo econômico, a provisão eficiente de
tocoordenação. bens públicos ou coletivos afeta a competitivida-
de privada de empresas individuais, constituindo
O papel da autorregulação é, mediante regu- o que Piore e Sabel(1) denominam de infraestrutura
lamentação, internalizar padrões de compor- extrafirma e que compõem instituições setoriais na
tamento aceitos pelo mercado e pela comuni- acepção de Best(2).
dade, monitorando seus membros de forma a
criar reputação positiva para o grupo. Em ou- Um setor pode incluir uma variedade de práticas
tras palavras, a reputação dos agentes está em interfirmas e agências extrafirmas, tais como as-
jogo e será determinante no funcionamento efi- sociações comerciais, programas de aprendizado,
ciente da autorregulação. Assim, a regulamenta- arranjos de comercialização conjunta, comissões
ção prevista na autorregulação não apenas provê regulamentadoras, estabelecimento de normas
um corpo adicional de normas como também atua e padrões. Instituições setoriais podem influir na
no fortalecimento das normas determinadas pela organização das firmas individuais e suas estraté-
comunidade, Estado e mercado. gias, assim como na competitividade coletiva do
setor em relação a outros setores localizados em
A experiência brasileira com autorregulação leva- outras regiões. Desse ponto de vista, as firmas

1 Piore, Michael; Sabel, Charles F. The Second Industrial Divide. New York: Basic Books, 1983.
2 Best, Michael. The New Competition: Institutions of Industrial Restructuring. Cambridge: Harvard University Press, 1990. 296 p.

10
A possibilidade de se
estabelecerem acordos,
não apenas competem, mas podem cooperar horizontais e verticais,
para fornecer serviços comuns, para estabele-
entre agentes econômicos, é
cer as regras do jogo de mercado e estratégias
de investimento. amplamente reconhecida
Existe, na verdade, uma permanente tensão entre
a concorrência e a cooperação. comuns estabelecidas por tais associações tem,
usualmente, um sentido de normas éticas, sobretu-
Best propôs, assim, duas condições para que o do quanto à lealdade negocial em termos concorren-
equilíbrio entre concorrência e cooperação se es- ciais, admitindo-se também regras sobre a formação
tabeleça. Primeiro, deve haver um propósito claro de preço(4). A previsão de um processo de reconhe-
para a cooperação, o que significa desenvolver e im- cimento dessas regras junto à autoridade concor-
plementar uma estratégia setorial que é construída rencial (Bundeskartellamt), porém, desde que elas
a partir das estratégias das firmas individuais e, ao estejam em conformidade com a legislação, fazia
mesmo tempo, as influencia. Segundo, é necessá- com que esse reconhecimento não fosse necessá-
rio haver um meio de monitorar e obrigar as ações rio para que produzissem efeitos vinculativos entre
individuais de forma a contrabalançar a tendência ao os signatários.
comportamento free rider.
As cortes norte-americanas, no que se refere à
Um dos elementos importantes para analisar o publicação de padrões comuns e à emissão de juí­
efeito da autorregulação está associado a sua natu- zos sobre a sua violação, reconhecem que, a prin-
reza. Sistemas de ordenamento privado espontâneo cípio, toda associação com exigências à definição
podem gerar resultados eficientes. Os ordenamen- dos membros tem algum tipo de regra ou critério
tos espontâneos são baseados na reciprocidade: os limitativo e pode restringir, ao menos indiretamen-
indivíduos reconhecem os benefícios que irão ex- te, a concorrência no mercado.
trair por se submeterem às regras do grupo. Esse é
exatamente o caso da autorregulação no mercado Não obstante, a avaliação da legalidade de tais
publicitário: um ordenamento privado espontâneo regras é feita com base na legitimidade econômi-
que para ser sustentável tem que gerar benefícios ca dos propósitos perseguidos por tal associação
para seus participantes. Padrões de qualidade po- mediante a autorregulamentação, bem como na
dem reduzir os custos de busca do cliente no tocan- razoabilidade e objetividade das regras-padrão ado-
te a características não aparentes de qualidade(3). tadas em relação aos propósitos assumidos. Se os
padrões não forem objetivos e os propósitos não fo-
Já do ângulo jurídico, a possibilidade de se es- rem razoáveis, as regras serão consideradas ilegais,
tabelecerem acordos, horizontais e verticais, entre pois funcionariam como uma barreira à entrada no
agentes econômicos, é reconhecida na literatura e mercado, isto é, uma espécie de boicote, persua-
na jurisprudência internacionais. dindo os adquirentes a não contratarem empresas
que não atingirem o padrão. Frente a tais elementos
Por exemplo, na Alemanha é reconhecida, por lei percebe-se que a conduta horizontalmente/vertical-
(GWB, § 28), a possibilidade de se criarem Wirts- mente concertada na forma de acordos de autorre-
chafts-und Berufsvereinigungen (associações eco- gulamentação deve sempre ser analisada com base
nômicas e profissionais). O conteúdo das regras na regra da razão(5).

3 Ogus. Rethinking self-regulation, Oxford Journal of Legal Studies, v. 15.


4 Cf. Rainer Bechtold, GWB – Kartelgesetz – Gesetz gegen Wettbewerbsbeschränkungen, Munique, 1993, p. 375 ss.

11
REGULAÇÃO, AUTORREGULAÇÃO E COMPLIANCE DA PUBLICIDADE NO BRASIL

Dentre os parâmetros da jurisprudência norte- rais, ou seja, atende à legislação pertinente(10); no


americana considerados relevantes para determinar caso, o acordo acolhe princípios da legislação refe-
a razoabilidade e, portanto, reconhecer-se a legalida- rente à publicidade;
de do acordo de autorregulação, podem ser aponta-
dos os seguintes: (f) o acordo deve prever salvaguardas processuais
contra decisão que denega uma
(a) para uma análise de um ponto de vista concor- aprovação(11).
rencial, o acordo deve ter algum propósito ou reper-
cussão comercial, para que possa ser juridicamen- Interessante lembrar que a Federal Trade Com-
te avaliado(6). No caso brasileiro, ainda que o relevo mission (FTC) tem explicitado, em diferentes oca-
estivesse na dimensão ética (caso do CONAR, por siões, uma opinião favorável à autorregulação, en-
exemplo), é importante que existam repercussões tendida pela Corte como uma prática que auxilia o
no comportamento comercial dos subscritores (a órgão no controle da concorrência.
exemplo do próprio CONAR);
Em discurso proferido durante simpósio na Bar
(b) os padrões definidos devem ser objetivos, isto Association americana(12), seu então presidente
é, suas regras devem ser impessoais(7); no caso em afirma que a Corte reconhece, há mais de uma
tela, a destinação das regras conhece o requisito da geração, a autorregulação como um importante
impessoalidade, destinando-se a todos os partici- complemento a seus esforços na proteção do con-
pantes do mercado publicitário, sem exclusões que sumidor. Além disso, a existência de regulação es-
possam ser qualificadas como barreiras à competiti- tatal sobre determinado tema não impede que os
vidade e à entrada na concorrência; agentes privados se organizem para definir outras
regras a respeito do assunto.
(c) os padrões adotados devem ser acessíveis tam-
bém a não membros do acordo(8); ou seja, o acordo Mais recentemente, discurso da representante
deve ser de conhecimento de todo o mercado; da Corte Pamela Jones Harbour resume a posição
da FTC como favorável a sempre estimular a autor-
(d) deve haver, além dos fornecedores de produtos regulação quando a mesma for benéfica aos con-
ou serviços, a participação dos adquirentes na de- sumidores, e reconhecer que alguns mercados são
finição dos padrões de conduta e no juízo tomado regulados mais efetivamente por seus agentes pri-
a partir dos padrões definidos(9); ou seja, o acordo vados do que pelo próprio Estado. Nesse discurso,
tem também repercussão relacional e assim deve a representante elenca alguns mercados em que
ser analisado; essa característica se verifica – especialmente os
que envolvem desenvolvimento tecnológico.
(e) não há violação antitruste onde a autorregula- No Brasil, uma das poucas experiências de au-
mentação implementa padrões de segurança fede- torregulação levadas à autoridade, efetuada com

5 Cf. Antitrust Law Developments – ABA, 4th ed., 1997, v. I, p. 110-115.


6 Cf. St. Bernard Gen. Hosp. v Hospital Serv. Association, 712 F.2d 978,988 (5th Cir. 1983).
7 Cf. Radiant Burners v Coke Co., 364 U.S. 656, 658 (1961).
8 Cf. Bogus v American Speech & Hearng Association, 582 F2d. 277 (3d Circuit 1978).
9 Cf. Consolidated Metal Products v American Petroleum Inst. 846 F.2d 284, 295 (5th Circ.1988).
10 Cf. Moore v Boating Ind. Associations, 819 F2d 693, 695 (7th Circuit 1987).
11 Cf. Pretz v Holstein Friesian Ass’n, 698 F.Supp. 1531, 1540 (D.Kan. 1988) e Weight Rite Golf Corp v United States Golf Ass’n, 766 F.Supp 1104, 1111 (MD. Fla.1991).
12 “Self Regulation and Antitrust”. Prepared Remarks of Robert Pitofsky – Chairman, Federal Trade Commission. D. C. Bar Association Symposium, February 18,
1998, Washington, D.C. Disponível em: <http://www.ftc.gov/speeches/pitofsky/self4.shtm>. Data de acesso: 3 fev. 2014.

12
O desconto-padrão
é condicionado ao pagamento,
propósitos de evitar condutas desleais éticas e co- pelo anunciante, da
merciais, é o caso do CENP (entidade que congre-
veiculação da publicidade
ga agências de publicidade, veículos e anunciantes)
que, submetido ao CADE há quinze anos, vem reali-
zando um trabalho digno de menção. Para alcançar seus objetivos, foi estabelecido:

O CENP 1) Os veículos comercializam seu espaço, seu tem-


po e seus serviços com base em preços de conhe-
Foi fundado em 1998 e hoje é integrado pelas cimento público válidos para todos os negócios com
seguintes associações: ABA – Associação Brasilei- os anunciantes. Admite-se, por ser da natureza dos
ra de Anunciantes; ABAP – Associação Brasileira negócios, que os veículos ofereçam condições ou
de Agências de Publicidade; ABERT – Associação vantagens de sua conveniência nas negociações in-
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão; ABTA dividuais que realizarem.
– Associação Brasileira de Televisão por Assinatura;
ANER – Associação Nacional de Editores de Revis- 2) As agências são contratadas pelos anunciantes,
tas; ANJ – Associação Nacional de Jornais; Central que as escolhem por suas qualidades e virtudes.
de Outdoor; e Fenapro – Federação Nacional das Atuam sempre por ordem e conta de quem as con-
Agências de Propaganda. Tem, também, como as- trata, pautando-se, em razão disso, na excelência do
sociadas institucionais: IAB Brasil – Interactive Ad- que estudam, criam e é distribuído aos veículos de
vertising Bureau Brasil; e ABDOH – Associação Bra- comunicação.
sileira de Mídia Out of Home.
3) Para exercer com plenitude as suas funções, as
O CENP tem, como principal instrumento de tra- agências necessitam do reconhecimento por parte
balho, o documento Normas-Padrão da Atividade dos veículos de comunicação, para os quais, de for-
Publicitária, que estabelece as bases da capacitação ma indireta e em razão da atividade que exercem
técnica de uma agência e o relacionamento ético em nome de seus clientes, também prestam ser-
para o setor, baseado em suas melhores práticas e viços relevantes ao cobrar os valores de veiculação
na legislação de regência da atividade. e, com critério e rigor, entregar esses valores, nas
datas de vencimento, aos veículos de comunicação.
O CENP concede o Certificado de Qualificação
Técnica às Agências verificando a sua estrutura, o 4) Ainda na relação com os veículos, também indi-
pessoal técnico, a disposição e o uso sistemático retamente, as agências prestam um serviço técni-
de pesquisas de mídia e o cumprimento dos com- co indispensável ao mercado e à democracia, por
promissos estabelecidos nas Normas-Padrão. Essa assegurar a pluralidade de meios e a liberdade de
certificação lhes garante o recebimento do “descon- expressão: através de pesquisas e estudos compor-
to-padrão” de agência em percentual não inferior a tamentais, de forma científica, conhecem o merca-
20%. do, seus meios e veículos, indicando as formas de
comunicação das mensagens publicitárias.
Ademais, o CENP efetua o depósito de Listas In-
dividuais e Autônomas de Preços dos Veículos, dan- 5) Pelas Normas-Padrão, os veículos, reconhecendo
do transparência à oferta, atendendo o disposto na a importância capital das agências, dão preferência
legislação, e também realiza o credenciamento de a atuar por meio delas nas relações com os seus
estudos e pesquisas dos institutos de mídia, asse- anunciantes, respeitando-os e jamais negando-se a
gurando que as pesquisas são respeitáveis. atendê-los diretamente, se assim o desejarem.

13
REGULAÇÃO, AUTORREGULAÇÃO E COMPLIANCE DA PUBLICIDADE NO BRASIL

6) Os anunciantes, afinal de contas, são os titula- minha os demais 80% ao veículo de comunicação.
res do crédito concedido pelos veículos de comu- b) Quando o pagamento é feito diretamente pelo
nicação, contra quem emitem as faturas de veicu- cliente-anunciante, o veículo receberá seus 80%
lação, encaminhando-as, quando existe a relação, e a agência, da mesma maneira, receberá direta-
por intermédio da agência, a quem cabe o dever do mente do anunciante o correspondente a 20% pelo
del credere, isto é, a obrigação de cobrar junto aos desconto-padrão.
anunciantes e quitar os valores recebidos das fatu-
ras, aos veículos. 10) As Normas consagram o princípio de valorização
do anunciante que se destaca em seu mercado,
7) A agência é basicamente remunerada pelos dois permitindo, de acordo com o nível de investimento
serviços que presta: (a) quando cria o anúncio e em publicidade, que até 5% do desconto-padrão
a campanha, pelo trabalho intelectual e material seja revertido pela agência ao anunciante, devol-
que exerceu e pelo gerenciamento de produção vendo a este a possibilidade de otimizar sua verba
que é sempre realizado por empresas especiali- de comunicação.
zadas, como as produtoras de videofonogramas,
por exemplo; e (b) quando veicula os anúncios de 11) As Normas valorizam a liberdade de mercado,
seus clientes-anunciantes com o desconto-padrão, sabendo que ela começa quando a concorrência
para cumprir os compromissos de dispor/usar pes- entre as agências é respeitada, entre veículos é va-
quisas mercadológicas e investimentos nos estu- lorizada e entre anunciantes adotada como forma
dos que realizam no campo da mídia. Os veículos de respeito ao consumidor. Nada é estático para as
também consideram, por meio das normas, que Normas-Padrão da Atividade Publicitária, mas tudo
o desconto-padrão é o reconhecimento pelo efeti- deve permanecer no campo estrito da ética.
vo del credere das agências que são seguramente
responsáveis pelos baixos índices de inadimplên- Não há dúvida de que, nesses quinze anos de exis-
cia dos clientes-anunciantes. tência, o mercado incorporou as Normas-Padrão da
Atividade Publicitária, reconhecendo o CENP como
8) O balizamento de remuneração das agências é a entidade que zela pelo seu cumprimento. Adotou
feito nos serviços internos – criação e gerenciamen- mecanismos que evitam iniciativas oportunistas, a
to de produção – por estudos de custos reais reali- apresentação de propostas antieconômicas com
zados pelos sindicatos das agências em cada esta- a finalidade de conquistar novos anunciantes ou
do, o que respeita a diversidade do país e assegura mantê-los, porque isso pode implicar serviços de
maior realidade nas indicações de valor referencial. baixa qualidade e concorrência desleal.

9) Em comum acordo ajustado entre entidades re- Nesse sentido, merece menção também o fato
presentativas de agências, veículos e anunciantes, de o Poder Judiciário, confrontado com discussão
as Normas-Padrão da Atividade Publicitária preve- envolvendo ajustes nas Normas-Padrão, ter reco-
em o desconto-padrão em pelo menos 20% para nhecido o importante papel exercido pelo CENP e
as agências certificadas pelo CENP e que estejam suas competências:
compliance com as normas de autorregulação, con-
cedido, em consonância com a Lei Nº 12.232/10, da O Conselho Executivo de Normas-Padrão – CENP,
seguinte forma: ora réu, foi criado em 16 de dezembro de 1998,
pelo mercado publicitário, para zelar pela obser-
a) Do “valor negociado” pago pelo cliente, a agên- vância das normas padrão da atividade publicitária,
cia retém 20% referente ao desconto-padrão e enca- documento básico com recomendações e princí-

14
O veículo não pode oferecer
ao anunciante, diretamente,
pios éticos que buscam assegurar as melhores prá- vantagem ou preço diferente
ticas comerciais no relacionamento mantido entre
do oferecido por meio
os principais agentes da publicidade brasileira. Tem
como principal gestor um Conselho Executivo com da agência
vinte e três (23) representantes de agências de pro-
paganda, anunciantes, veículos de comunicação e
governo federal. com “competição entre agências de diferentes por-
tes, pois mesmo agências consideradas de médio
Demais, consta que as normas da atividade pu- ou pequeno porte podem conseguir grandes ‘con-
blicitária, editadas pelo CENP, são reconhecidas tas’ (clientes que apresentam elevado investimento
pela legislação, tanto que o artigo 7º do Decreto Nº em propaganda)”. Além disso, a instrução realizada
4.563/2002, faz expressa referência à disposições pela Superintendência Geral do CADE nesse caso
articuladas sob a forma de “itens” pelo CENP, tal permitiu concluir que as respostas dos ofícios aos
como sustentado pelo réu na defesa (v. fl. 118). concorrentes e a jurisprudência corroboram a “exis-
tência de baixas barreiras à entrada e elevada rivali-
Também consta entre as atividades do CENP, dade no mercado”.
como entidade autorreguladora do setor, a tute-
la das normas padrão da atividade publicitária, a Nos processos de licitação e contratação dos
edição de comunicações normativas ou técnicas serviços de publicidade nas esferas oficiais do Exe-
ao mercado publicitário, além da certificação das cutivo, Legislativo e Judiciário, nos três níveis de
agências de publicidade, para elevar ou manter a administração – federal, estadual e municipal, a Lei
qualidade da publicidade produzida no país. Por- Nº 12.232, de 29 de abril de 2010, iniciativa do Con-
tanto, as modificações das normas padrão da ati- gresso Nacional, legitimou o CENP no papel de cer-
vidade publicitária objeto do questionamento está tificador e fiscalizador de capacitação técnica das
dentro da competência do CENP, mesmo porque agências de publicidade, condição exigida como
no caso essas alterações foram aprovadas em pré-requisito para participar dos processos de licita-
Assembleia Geral Extraordinária realizada no dia ção e na execução dos contratos de publicidade do
5 de janeiro de 2011, para adequação ao disposto setor público.
no artigo 19 da Lei Nº 12.232/2010, que dispõe so-
bre as normas gerais para licitação e contratação Como processo bem-sucedido de autorregulação,
pela administração pública de serviços de publi- pode-se, pois, afirmar que o CENP demonstrou, em
cidade prestados por intermédio de agências de quinze anos de existência, estar capacitado a certifi-
propaganda, entre outras providências. (Sentença, car e exigir das agências o provimento de estruturas
Processo Nº 0208709-51.2011.8.26.0100, 15ª Vara técnica e de pessoal que assegurem aos anuncian-
Cível Central, São Paulo) tes o bom trabalho publicitário e aos veículos a cer-
teza de que são programados pelos anunciantes e
Vale destacar que o mercado brasileiro é reco- agências com base em critérios técnicos. Atende,
nhecidamente competitivo. Em decisão recente com isso, uma função relevante no mercado brasi-
(2013), o CADE, ao examinar significativa operação leiro.
apresentada como ato de concentração (a operação
entre Publicis e Omnicom, processo administrativo Parecer originalmente publicado no livro “Com-
Nº 08700.008058/2013-49), concluiu que o mercado pliance na Publicidade, publicado pelo CENP
publicitário brasileiro possui elevada pulverização, em 2014”

15
A DECISÃO DO CADE E SUA IMPORTÂNCIA
PARA A PUBLICIDADE BRASILEIRA
MATÉRIA ORIGINALMENTE PUBLICADA NA CENP EM REVISTA DE MARÇO DE 2017

ÓRGÃO RECONHECEU QUE AS NORMAS-PADRÃO DO CENP SÃO


INCENTIVADAS PELA LEGISLAÇÃO
Ao final de um longo e complexo processo, o balho e dedicação de muitos e encerra um período
Tribunal do CADE - Conselho Administrativo de rico em aprendizado sobre o que é feito dentro da
Defesa Econômica reconheceu, em sua primeira lei para valorizar a atividade publicitária ao mesmo
reunião de 2017, em decisão unânime, que as Nor- tempo incentivando a concorrência.
mas-Padrão da Atividade Publicitária implementa-
das pelo CENP estão amparadas e são incentiva- O CENP, fundado em 1998, atua em todo o país e
das pela legislação em vigor no país, por legislação recebeu o reconhecimento oficial ao ser escolhido
recepcionada pela Constituição Federal. É a confir- como organismo de fiscalização técnica das agên-
mação de que o ambiente da autorregulação ético- cias de publicidade e certificador de tais condições
comercial da publicidade brasileira atua, e não po- como pré-requisito para a participação nos pleitos
deria ser diferente, estritamente conforme as leis de escolha das agências de publicidade para a
de regência da nossa atividade. prestação de serviços a entes públicos de todos
os poderes e esfera da administração.
O CADE reconheceu que o marco regulatório es-
tatal do setor, reunido nas leis federais N° 4.680/65 O CADE escrutinou as Normas-Padrão e sua im-
e N° 12.232/10 e decreto N° 57.690/66 com a reda- plementação pelo CENP ao longo de praticamente
ção do N° 4.563/02, além de amplo reconhecimen- toda sua existência. A entidade, seus fundadores
to institucional, não apenas permite, como incen- e associados seguirão trilhando a autorregulação
tiva as normas de autorregulação ético-comercial e as melhores práticas diante da certeza de atuar
adotadas pelo mercado há décadas. dentro do marco legal da atividade. Poucas ativi-
dades econômicas são tão transparentes como a
A decisão ratifica a iniciativa de Anunciantes, publicidade. Em nenhum momento a autoridade
Agências e Veículos que por via da autorregula- colocou em questão a transparência nas relações
ção ético-comercial, através das Normas-Padrão ou a integridade dos agentes econômicos do mer-
da Atividade Publicitária, promove um modelo de cado.
negócios reconhecido desde os anos 1950, que
criou e transformou ao longo do tempo a publici- Para o advogado Thiago Francisco da Silva Brito,
dade brasileira numa das mais criativas e eficazes sócio do escritório Sampaio Ferraz Advogados,
do mundo segundo o reconhecimento geral. cuja equipe acompanha o CENP desde a sua fun-
dação, em 1998, a decisão não surpreende. “Há
A conclusão do processo no CADE é fruto do tra- no mercado publicitário peculiaridades legais e re-

16
“(...) todas as práticas neste
PA são respaldadas e
gulamentares reconhecidas há muito pelo Estado”, incentivadas por normas
explica Thiago. “Mesmo no que concerne à autor- estatais que regem o mercado
regulação ético-comercial, sua origem remonta à
década de 1950, o que demonstra que a compe- de publicidade desde 1965 e
tição se submete a regras estatais e de autorre- também por normas recentes”
gulação privada. O CADE demonstra a legitimida-
de perante a legislação de regência da atividade Conselheiro relator Gilvandro Vasconcelos
Coelho de Araújo, do CADE
de iniciativas de agentes que buscam ampliar a
competição entre si, estabelecendo parâmetros
e padrões objetivos para o mercado brasileiro, cesso, o CENP contribuiu com a autoridade por
constituindo um modelo de negócio de sucesso meio de numerosos pareceres jurídicos, econômi-
reconhecido há mais de 50 anos, que promove cos, informações de mercado e indicação de pro-
geração de qualidade na publicidade, aumentando fissionais do mercado para serem ouvidas, como
as possibilidades de retorno para os Anunciantes, ex-presidentes da ABA e da ABAP, por exemplo, e
Agências e Veículos de Comunicação”. autoridade então responsável pela publicidade do
anunciante governo federal.
A evolução do processo
A decisão do Tribunal Administrativo do CADE con-
Em 1998, quando da criação do CENP, as suas firma o entendimento adotado no caso pela SG, Su-
entidades fundadoras, ABAP, ABA, ABERT, ABTA, perintendência-Geral do CADE, pela Procade, Pro-
ANER, ANJ, Central de Outdoor e Fenapro, sub- curadoria do CADE, e pelo MPF, Ministério Público
meteram voluntariamente ao CADE as Normas- Federal, cujos três pareceres, de maneira unânime,
Padrão da Atividade Publicitária. O acordo de au- recomendaram o arquivamento sem qualquer tipo
torregulação ético-comercial foi então aprovado e de condenação ou recomendação ao CENP.
a entidade iniciou as suas atividades.
Dois dos pareceres recomendaram que fosse
O processo administrativo arquivado em janeiro oficiada – o que já foi feito – a Secretaria de Acom-
foi instaurado para investigar a existência de su- panhamento Econômico do Ministério da Fazenda,
postos “fatos novos” relacionados ao modo de im- para que esta avalie a oportunidade de sugerir ou
plementação das Normas-Padrão pelo CENP à luz recomendar medidas de eventual ajuste do marco
da legislação brasileira de defesa da concorrência, legal às instâncias competentes.
e que não eram objeto da decisão anterior. Segun-
do a nota técnica de instauração, como citada pelo O relator historia, em seu voto, a formação do
conselheiro relator Gilvandro Vasconcelos Coelho CENP, suas entidades fundadoras e associadas,
de Araújo em seu voto, o CENP podia estar inter- lembrando que ele foi “criado no contexto de
ferindo na livre formação de preços dos serviços desregulamentação do setor publicitário na déca-
de agências de propaganda, ao fixar o chamado da de 1990, em que o mercado buscava um mo-
“desconto de agência”. delo autônomo de negócio”. Conclui escrevendo
que é “forçoso observar que a sistemática pos-
Ao longo de quase doze anos, a instrução do sui amparo legal. Nesse contexto, decidindo pela
processo foi realizada originalmente pela Secreta- existência ou não de risco concorrencial de se
ria de Direito Econômico do Ministério da Justiça estabelecer ao mercado parâmetros uniformes
(SDE) e, em um segundo momento, pela Supe- de remuneração de 20%, a prática comercial do
rintendência-Geral do CADE. Durante todo o pro- CENP é chancelada enquanto vigorarem as Leis

17
A DECISÃO DO CADE E SUA IMPORTÂNCIA PARA A PUBLICIDADE BRASILEIRA

4.680/65 e 12.232/10 e os Decretos 57.690/66 e Propostas de revisão e aprimoramento das Nor-


4.563/2002”. mas-Padrão ocorrem permanentemente no CENP,
que é uma entidade aberta e procura se atualizar
O relator mencionou ainda que a criação do ao que ocorre no mercado. Elas são estimuladas
CENP e demais desdobramentos, ao ser subme- e constituem uma das razões da existência do ór-
tida ao crivo do Sistema Brasileiro de Defesa da gão. Todos integrantes têm oportunidade de ofere-
Concorrência, deve ser considerado como ato cer propostas e sugestões que possam promover
de boa-fé para o desfecho do caso. Ele acolheu ainda mais a qualidade e a reputação da atividade.
as recomendações da Superintendência-Geral e Tudo é conversado e estudado.
do Ministério Público Federal de envio do caso à
Secretaria de Acompanhamento Econômico do O processo arquivado nasceu de iniciativa do ór-
Ministério da Fazenda para análise dos pontos gão federal. As Normas-Padrão e as melhores prá-
lançados nos pareceres acerca dos aspectos que ticas preconizadas pelo CENP vigoraram enquanto
possam de alguma forma ser considerados anti- a questão estava submetida ao CADE e seguem
competitivos das Normas-Padrão. válidas agora.

A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO QUE DÁ SUPORTE ÀS NORMAS-PADRÃO DA


ATIVIDADE PUBLICITÁRIA

No voto apresentado ao Tribunal, o conselheiro da agência, não podendo ser explorada por outrem.
relator da matéria, Gilvandro Vasconcelos Coelho
de Araújo, apresentou um quadro de evolução das Decreto 2.262/97, de 26/06/97 a 31/12/02
normas legais e de sua aplicação: • Retirada de referência às Normas-Padrão reco-
mendadas no I Congresso Brasileiro de Propagan-
Lei 4.680/65, a partir de 18/06/65 da, excluindo fundamento à fixação do desconto-
• Definição de agência de propaganda, que exclui padrão de agência em 20% e à determinação de
os bureaux de mídia; honorários mínimos de 15% devidos à agência pe-
• Estipulação de desconto fixado pelos veículos los serviços de terceiros que não gerem veiculação;
de divulgação devido às agências de propaganda • Revogação de dispositivos que dispunham sobre
(desconto-padrão); a vedação de repasse da comissão devida pelos
• Vedação ao repasse do desconto a anunciante ou veí­culos de divulgação à agência de propaganda ao
bureaux de mídia. anunciante.

Decreto 57.960/66, a partir de 01/02/66 Decreto 4.563/02, a partir de 31/12/02


• Definição dos serviços básicos que a agência de • Restituiu vinculação legal às Normas-Padrão dire-
propaganda presta ao anunciante; tamente quanto à limitação do repasse do descon-
• Definição de estrutura de remuneração baseada to-padrão ao anunciante; previsão de honorário de
em desconto-padrão, honorários de 15% sobre 15% sobre serviços contratados com fornecedores
o custo dos trabalhos autorizados que não impli- que não implicarem em veiculação; alternativas à re-
quem comissões e honorários por serviços espe- muneração por meio do desconto-padrão de agên-
ciais internos; cia e aplicação das normas às contratações com o
• Estabelecimento de aviso prévio de 60 dias para poder público;
rescisão do contrato entre cliente e agência e dis- • Faz menção específica às Normas-Padrão da Ati-
posição de que a ideia utilizada na propaganda é vidade Publicitária do CENP.

18
Lei 12.232/10, a partir de 29/04/10 • Determinação de que os serviços de publicidade
• Indicação da Lei Federal Nº 4.680/65 como norma contratados em agências de propaganda que te-
subsidiária a ser utilizada em licitações e contrata- nham obtido certificado de qualificação técnica de
ção pela administração pública de serviços de pu- funcionamento emitido pelo CENP.
blicidade;

A LINHA DO TEMPO DAS AÇÕES DO CADE SOBRE O CENP E AS NORMAS-PADRÃO


1998: Ato de Concentração (AC) instaurou o processo administrativo. O processo
Nº 08012.010080/1998-52 teve a instrução concluída pela SDE, que opinou
Objeto: As principais associações de Anunciantes, pela condenação do CENP e remeteu os autos ao
Agências de Publicidade e Veículos de Comunica- CADE.
ção submeteram ao CADE um Acordo de Autorre- O CENP impetrou, no Judiciário, mandado de
gulamentação das Relações Comerciais e Éticas segurança contra o ato da SDE. Em decisão no
entre Anunciantes, Agências e Veículos. Mandado de Segurança Nº 2001.34.00.030048-8,
O acordo visava ajustar as Normas-Padrão da Ati- o Juiz Federal da 3ª Vara Federal da Seção Judi-
vidade Publicitária à nova realidade normativa e ciária do Distrito Federal, decidiu pela concessão
econômica vigente no mercado de propaganda e da segurança ao CENP, determinando à SDE que
marketing no país, com a criação do CENP. anulasse o Processo Administrativo. Esta decisão
Decisão final: AC convertido na Consulta Nº foi posteriormente revertida, mas já havia ocorrido
60/00. a anulação.
Decisão final: Processo anulado. Nº 60/00.
2000: Consulta 60/00
Objeto: Avaliação pelo CADE da adequação do 2005: Processo Administrativo
Acordo de Autorregulação às regras concorren- Nº 08012.008602/2005-0
ciais vigentes à época com recomendações. Objeto: Este processo foi instaurado para verificar
Decisão final: Apresentado um novo documen- o suposto cometimento de condutas anticompe-
to buscando atender as recomendações, o Tri- titivas por parte do CENP, após a declaração de
bunal entendeu que não era necessário analisar nulidade pela SDE do Processo Administrativo an-
o mérito das alterações dentro do processo de terior.
consulta. O processo analisa apenas atos, documentos e
fatos concretos supostamente praticados ou ocor-
2001: Processo Administrativo (PA) ridos após a Consulta Nº 60/2000, ainda que pre-
Nº 08012.000890/2001-11 sentes nos autos dela. De acordo com a SG, são
Objeto: A Secretaria de Direito Econômico (SDE) fatos novos, pendentes de análise.
solicitou cópia integral dos autos da Consulta e Decisão final: Em 18/1/2017: Processo arquivado.

19
A DECISÃO DO CADE E SUA IMPORTÂNCIA PARA A PUBLICIDADE BRASILEIRA

O CENP E O CADE
Por Tercio Sampaio Ferraz Junior e Thiago Francisco da Silva Brito

Em dezembro de 2016, o CENP completou 18 anos ocorridos após a decisão do CADE na consulta.
de existência. Em janeiro de 2017, um processo ad-
ministrativo no CADE de mais de 10 anos de trami- Após 10 anos de investigação, no ano passado, em
tação que investigava a atuação do CENP foi arqui- 2016, a Superintendência-Geral do CADE proferiu
vado por unanimidade, sem qualquer condenação parecer final no processo administrativo concluindo
à entidade. por recomendar ao Tribunal do CADE o arquivamen-
to do processo, sem condenação ao CENP.
Na gênese do CENP, nos idos de 1998, as Normas- Na sua conclusão, assim se pronunciou a Supe-
Padrão, que deram origem à entidade, foram sub- rintendência-Geral do CADE, no que diz respeito à
metidas ao mesmo CADE como ato de concen- razão central que a conduziu a opinar pelo arquiva-
tração, nos termos do caput do art. 54 da Lei Nº mento do processo administrativo: “(...) todas as
8.884/94. Na ocasião, ao longo do trâmite proces- práticas neste PA são respaldadas e incentiva-
sual, houve a conversão do procedimento de ato das por normas estatais que regem o mercado
de concentração para o procedimento de consulta, de publicidade desde 1965 e também por nor-
tendo culminado na decisão final do Tribunal em mas recentes (Lei Nº 4.680/65, Lei Nº 12.232/10,
2000 que concluiu que a autorregulação era um Decreto Nº 57.690/66, Decreto Nº 4.563/02).”
instituto correto, protegido pelas Leis e que faz par-
te do processo de desenvolvimento econômico do Nesse mesmo parecer, a Superintendência desta-
país, tendo a Relatora à época apontado algumas cou que “Sob o enfoque da defesa da concorrên-
recomendações que o CADE posteriormente es- cia, a análise de mérito sobre a legalidade das
clareceu não terem sido mandatórias. condutas alvo deste Processo Administrativo
depende diretamente da apreciação da legis-
Dezoito anos depois, a Superintendência-Geral do lação aplicável ao setor publicitário durante o
CADE e agora o Tribunal atribuíram à submissão das período relevante. A importância dessa análise
Normas-Padrão realizada em 1998 o qualificativo de consiste na possibilidade de o Estado, por meio
ato de boa fé das entidades fundadoras do CENP. O de sua atividade reguladora, ter a competência
Relator do caso no CADE, o Conselheiro Gilvandro para eleger, em detrimento da livre concorrência,
Vasconcelos Coelho de Araújo, assim se pronun- outros princípios e vetores para nortear a ativi-
ciou em seu voto quanto ao tema: “(...) a criação do dade econômica de determinado setor.”
CENP – e demais desdobramentos dela decorren-
tes – foi submetida ao crivo do Sistema Brasileiro Ao longo de 2016, após o processo sair da Supe-
de Defesa da Concorrência, o que deve ser consi- rintendência-Geral, tanto a Procuradoria Geral do
derado como boa-fé para o desfecho do caso”. CADE como o Ministério Público Federal avaliaram
o caso e posicionaram-se igualmente pelo arquiva-
O fato é que, após a decisão da Consulta, a extin- mento do processo administrativo, sem condena-
ta Secretaria de Direito Econômico – SDE (cujas ção ao CENP. Com todos os pareceres unânimes
competências hoje pertencem à Superintendência- pelo arquivamento, o julgamento pelo Tribunal do
Geral do CADE) instaurou dois processos para in- CADE foi célere, após o proferimento dos parece-
vestigar o CENP, tendo o primeiro sido anulado e res, e a decisão do colegiado foi tomada também
o segundo sido instaurado no ano de 2005. Neste por unanimidade com aderência dos demais conse-
último se investigavam supostos “fatos novos” lheiros ao voto do Relator.

20
A existência e atuação do
CENP foi analisada duas
Em seu voto, o Conselheiro Relator basicamen- vezes pelo CADE - Conselho
te adotou como razão de decidir o mesmo posi-
Administrativo de Defesa
cionamento externado anteriormente pelos três
pareceres proferidos nos autos pelas outras au- Econômica
toridades. Ou seja, a principal razão para o ar-
quivamento do processo administrativo foi o
reconhecimento da existência de um marco le- e especialidades, de norte a sul do país, seja no
gal, composto por leis federais e decretos, que caso dos veículos de comunicação, em diferentes
“respalda”, “chancela”, “autoriza”, “incentiva” a meios, incluindo novos meios que durante esses
atuação do CENP e o atual modelo de autorre- 18 anos passaram a também comercializar espaço
gulação brasileiro, ao menos enquanto vigorar para publicidade e também no caso das empresas
tal legislação: “Não obstante a possível indução que anunciam que concorrem entre si em diferen-
de conduta concertada que pode ser implemen- tes mercados.
tada por meio dessas normas-padrão, destacada-
mente na obrigação de padronização de percen- A decisão do CADE transitou em julgado em 31
tuais de desconto imposta pelo CENP, forçoso de janeiro de 2017. Com isso, a atuação do CENP
observar que a sistemática possui amparo legal. que, ao longo dos últimos 18 anos, tutelou a aplica-
Nesse contexto, decidindo pela existência ou não ção de um modelo pioneiro de autorregulação do
de risco concorrencial de se estabelecer ao mer- mercado publicitário brasileiro inter-relacionando-se
cado parâmetros uniformes de remuneração de com normas legais, constituindo um marco regu-
20%, a prática comercial do CENP é chancelada latório complexo, mas harmônico, foi considerada
enquanto vigorarem as Leis 4.680,65 e 12.232,10 como adequada à legislação de regência da ativida-
e os Decretos 57.690,66 e 4.563,02”. de publicitária, o que certamente significa um reco-
nhecimento institucional a um modelo de sucesso.
Quanto a um suposto potencial anticompetitivo de
normas da autorregulação, vale ressaltar que o po- Independentemente desta decisão do CADE, que
sicionamento das autoridades, inclusive o relator, é tem sua atuação reconhecida internacionalmente
inconclusivo e baseia-se em aspectos relacionados como uma das melhores agências antitruste, assim
à perspectiva teórica do direito da concorrência, como o mercado publicitário brasileiro é reconhecido
inexistindo nos autos parecer econômico ou docu- internacionalmente, o direito da concorrência hoje é
mentos relacionados a fatos que sejam concreta e tema muito relevante no país e no mundo e impacta
especificamente relacionados à realidade do mer- toda e qualquer empresa que atue nos mais diferen-
cado publicitário brasileiro demonstrando a produ- tes mercados. Não deve ser diferente no mercado
ção de quaisquer efeitos anticompetitivos ao longo publicitário, ainda que seja necessário considerar si-
de todos os últimos 18 anos em que o CENP atuou multaneamente a legislação específica de regência
como autorregulador. da atividade e do setor. De toda maneira, deve-se
sempre buscar maximizar um mercado com liberda-
Pelo contrário, o fato é que ao longo desses 18 de em que exista concorrência efetiva, o que benefi-
anos não houve a produção de efeitos anticompe- cia os agentes econômicos que respeitam as leis e a
titivos decorrentes da autorregulação, a nosso ver. autorregulação e também a coletividade.
O mercado publicitário brasileiro contempla muitos
players concorrendo efetivamente, seja no caso Este artigo foi publicado originalmente no site
das agências de propaganda, de todos os portes Consultor Jurídico (http://bit.ly/2mmjKjO)

21
LEGISLAÇÃO E NORMAS BRASILEIRAS
SOBRE A PUBLICIDADE

A REGULAÇÃO DA PUBLICIDADE NO BRASIL


Apresenta-se a seguir um panorama das normas a liberdade de expressão (art. 5º, IX) e a liberdade
estatais aplicáveis à publicidade. Tal panorama não de informação. Desses dispositivos, decorre, por
pretende ser exaustivo e, para tanto, iniciará pela exemplo, a existência da proibição à censura. Por
análise dos dispositivos constitucionais relaciona- outro lado, não se pode esquecer que a liberdade
dos à liberdade de expressão e de manifestação de de expressão comercial também pode ser entendi-
pensamento, bem como ao capítulo acerca da co- da como corolário lógico da livre-iniciativa e da livre
municação social. Ademais, serão analisados dispo- concorrência (arts. 1º e 170, caput e IV da Consti-
sitivos das Leis Federais Nºs 4.680/65 e 12.232/10, tuição), já que a publicidade não deixa de ser uma
as quais consistem, respectivamente, no marco dimensão econômica das atividades das empresas
regulatório da atividade publicitária e na principal le- no mercado.
gislação acerca das licitações e contratações pela
administração pública na área de publicidade, assim O direito do consumidor foi incluído pela Consti-
como também serão apresentados dispositivos tuição no rol dos direitos fundamentais, por meio
dos Decretos Federais Nºs 57.690/66 e 4.563/02, do art. 5º, XXXII. Ademais, o art. 170, V, eleva a de-
os quais regulamentam a Lei Nº 4.680/65. fesa dos consumidores à condição de princípio da
ordem econômica. Diante disso, abre-se espaço
A CONSTITUIÇÃO FEDERAL para que a legislação infraconstitucional assegure
a proteção ao consumidor. Esse papel é desempe-
A Constituição Federal traz uma série de dispositi- nhado principalmente pelo Código de Defesa do
vos que são relevantes para o exercício da atividade Consumidor. No âmbito da publicidade, em seara
publicitária, dentre os quais podem ser destacados que escapa às áreas de atuação do CENP, mas é
as liberdades de comunicação, manifestação de conveniente lembrar, há inclusive a previsão de que
pensamento, expressão e informação, assim como a publicidade deve seguir determinadas diretrizes,
o direito do consumidor e o capítulo acerca da co- proibindo-se o seu exercício de modo enganoso ou
municação social. abusivo, os quais o Código de Defesa do Consumi-
dor tipifica como práticas ilícitas.
No que diz respeito à liberdade de comunicação,
a Constituição Federal estabelece um conjunto de Assim como o CENP complementa a legislação
direitos (art. 5, IV, V, IX, XII, XIV combinado com os sobre as relações ético-comerciais, o CONAR e seu
arts. 220 a 224) que possibilitam a coordenação en- Código Brasileiro de Autorregulamentação Publici-
tre criação, expressão e difusão do pensamento e tária complementam as determinações constitucio-
da criação. Estão incluídos, nesse conjunto, a liber- nais sobre o conteúdo e forma da publicidade e o
dade de manifestação de pensamento (art. 5º, IV), Código de Defesa do Consumidor.

22
A Constituição tem dispositivos
que asseguram e normatizam
Além disso, ao tratar da ordem constitucional da a atividade publicitária
cultura, a Constituição Federal traz dispositivos rele-
vantes para a atividade publicitária no capítulo “Da
comunicação social” (arts. 220 a 224). No que con- […]
cerne à publicidade, tem particular relevância o art. XII – é inviolável o sigilo da correspondência e
220, § 4º, o qual estabelece que a propaganda co- das comunicações telegráficas, de dados e das co-
mercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, municações telefônicas, salvo, no último caso, por
medicamentos e terapias fica sujeita a restrições ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei
legais, devendo haver advertência acerca dos male- estabelecer para fins de investigação criminal ou
fícios decorrentes de seu uso. instrução processual penal;
[…]
Em outras palavras, a Constituição Federal asse- XIV – é assegurado a todos o acesso à informação
gura proteção à comunicação publicitária, tratando- e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário
a como parte da comunicação social, inclusive ve- ao exercício profissional;
dando a censura prévia, estabelecendo ainda, em […]
seu art. 22, XIX, que compete privativamente à XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a
União legislar sobre propaganda comercial. defesa do consumidor;

Legislação citada neste tópico: Art. 22 – Compete privativamente à União legislar


sobre: XXIX – propaganda comercial.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Art. 170 – A ordem econômica, fundada na valori-
Art. 1º – A República Federativa do Brasil, formada zação do trabalho humano e na livre-iniciativa, tem
pela união indissolúvel dos estados e municípios e por fim assegurar a todos existência digna, con-
do Distrito Federal, constitui-se em Estado Demo- forme os ditames da justiça social, observados os
crático de Direito e tem como fundamentos: […] IV seguintes princípios: […] IV – livre concorrência; V
– os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa. – defesa do consumidor.

Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distin- Art. 220 – A manifestação do pensamento, a
ção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasi- criação, a expressão e a informação, sob qualquer
leiros e aos estrangeiros residentes no país a invio- forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer
labilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, restrição, observado o disposto nesta Constituição.
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: § 1º – Nenhuma lei conterá dispositivo que possa
constituir embaraço à plena liberdade de informa-
[…] ção jornalística em qualquer veículo de comunica-
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo ção social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X,
vedado o anonimato; XIII e XIV.
V – é assegurado o direito de resposta, proporcio- § 2º – É vedada toda e qualquer censura de natu-
nal ao agravo, além da indenização por dano mate- reza política, ideológica e artística.
rial, moral ou à imagem; § 3º – Compete à lei federal:
[…] I – regular as diversões e espetáculos públicos,
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, cabendo ao Poder Público informar sobre a natu-
artística, científica e de comunicação, independen- reza deles, as faixas etárias a que não se reco-
temente de censura ou licença; mendem, locais e horários em que sua apresen-

23
LEGISLAÇÃO E NORMAS BRASILEIRAS SOBRE A PUBLICIDADE

tação se mostre inadequada; de comunicação social.


II – estabelecer os meios legais que garantam à § 3º – Os meios de comunicação social eletrô-
pessoa e à família a possibilidade de se defende- nica, independentemente da tecnologia utilizada
rem de programas ou programações de rádio e te- para a prestação do serviço, deverão observar os
levisão que contrariem o disposto no art. 221, bem princípios enunciados no art. 221, na forma de lei
como da propaganda de produtos, práticas e ser- específica, que também garantirá a prioridade de
viços que possam ser nocivos à saúde e ao meio profissionais brasileiros na execução de produ-
ambiente. ções nacionais.
§ 4º – A propaganda comercial de tabaco, bebidas § 4º – Lei disciplinará a participação de capital es-
alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias trangeiro nas empresas de que trata o § 1º.
estará sujeita a restrições legais, nos termos do in- § 5º – As alterações de controle societário das
ciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre que empresas de que trata o § 1º serão comunicadas
necessário, advertência sobre os malefícios decor- ao Congresso Nacional.
rentes de seu uso.
§ 5º – Os meios de comunicação social não po- LEI Nº 4.680 DE 18 DE JUNHO DE 1965
dem, direta ou indiretamente, ser objeto de mono-
pólio ou oligopólio. A Lei Nº 4.680/65 é o marco regulatório do mer-
§ 6º – A publicação de veículo impresso de comu- cado brasileiro de publicidade e dispõe sobre o
nicação independe de licença de autoridade. exercício da profissão de publicitário e agenciador
de propaganda, definindo claramente os seus en-
Art. 221 – A produção e a programação das emis- tes, o publicitário, o agenciador de propaganda, a
soras de rádio e televisão atenderão aos seguintes agência de propaganda e os veículos de comunica-
princípios: ção. Além disso, estabelece normas referentes às
[...] comissões e aos descontos devidos aos agencia-
V – respeito aos valores éticos e sociais da pes- dores e às agências de propaganda, ao contrato de
soa e da família. trabalho de agenciadores, bem como à fiscalização
e à aplicação de penalidades em caso de descum-
Art. 222 – A propriedade de empresa jornalística primento de seus dispositivos legais.
e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é pri-
vativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais Segundo essa lei, são publicitários aqueles que,
de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas em caráter regular e permanente, exercem fun-
sob as leis brasileiras e que tenham sede no país. ções de natureza técnica da especialidade, nas
§ 1º – Em qualquer caso, pelo menos setenta por agências de propaganda, nos veículos de divulga-
cento do capital total e do capital votante das em- ção, ou em quaisquer empresas nas quais se pro-
presas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de duza propaganda. O conceito de agenciadores de
sons e imagens deverá pertencer, direta ou indi- propaganda, por sua vez, engloba os profissionais
retamente, a brasileiros natos ou naturalizados há independentes ou terceirizados que encaminham
mais de dez anos, que exercerão obrigatoriamente propaganda aos veículos, por conta de terceiros.
a gestão das atividades e estabelecerão o conteú- As agências de publicidade, segundo a mesma lei,
do da programação. consistem nas pessoas jurídicas especializadas na
§ 2º – A responsabilidade editorial e as ativida- arte e técnica publicitária, as quais, por intermédio
des de seleção e direção da programação veicu- de especialistas, estudam, concebem, executam
lada são privativas de brasileiros natos ou natura- e distribuem propaganda de divulgação, por or-
lizados há mais de dez anos, em qualquer meio dem e conta dos clientes, no intuito de promover

24
A 4680 é a lei de regência e
a base das normas que regulam
a venda de produtos ou serviços, difundir ideias ou a publicidade no Brasil
informar o público. Já os veículos de comunicação,
para o legislador, são quaisquer meios de comuni-
cação visual ou auditiva capazes de transmitir pro- ção dos agenciadores de propaganda, bem como o
paganda ao público, desde que reconhecidos pelas desconto devido às agências de propaganda serão
entidades ou órgãos de classe. fixados pelos veículos de divulgação sobre os pre-
ços estabelecidos em tabela.
No que concerne às comissões, a Lei Nº 4.680/65
determina que a remuneração seja através do des- Parágrafo único – Não será concedida nenhuma
conto-padrão para as agências, o qual tem caráter comissão ou desconto sobre a propaganda enca-
obrigatório e deve ser fixado pelos veículos de co- minhada diretamente aos veículos de divulgação
municação, que também devem estabelecer quais por qualquer pessoa física ou jurídica que não se
são as remunerações devidas aos agenciadores de enquadre na classificação de agenciador de propa-
propaganda, sob a forma de comissões. Ambas têm ganda ou agências de propaganda, como definidos
caráter obrigatório e devem ser fixadas pelos veícu- na presente lei.
los de comunicação. Há também menção ao Código
de Ética dos Profissionais de Propaganda, de 1957, Art. 17 – A atividade publicitária nacional será re-
que é dotado de caráter legal e define os princípios gida pelos princípios e normas do Código de Ética
éticos que devem nortear a publicidade, dentre os dos Profissionais da Propaganda, instituído pelo I
quais a previsão de que a comissão e/ou o descon- Congresso Brasileiro de Propaganda, realizado em
to das agências e agenciadores de propaganda não outubro de 1957, na cidade do Rio de Janeiro.
poderá ser repassada aos anunciantes. O mesmo
Código de Ética prevê que os veículos deverão ter CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE
seus preços individuais em listas públicas e iguais PROPAGANDA
para todos os compradores.
I. 8 – Comissão é a retribuição, pelos veículos,
Ademais, a Lei Nº 4.680/65 estabelece normas do trabalho profissional, devida exclusivamente às
que se ocupam da fiscalização em relação ao cum- agências e aos corretores de propaganda. A comis-
primento de seus dispositivos, bem como das pe- são se destina à manutenção das agências e dos
nalidades a serem atribuídas em tais casos. O Mi- corretores de propaganda e não poderá ser transfe-
nistério do Trabalho e suas delegacias regionais, os rida aos anunciantes.
sindicatos e as associações de classe das catego-
rias interessadas deverão exercer a fiscalização. As II. 18 – O profissional de propaganda deve conhe-
penalidades legais previstas são a multa de um cer a legislação relativa a seu campo de atividade,
décimo a dez vezes um salário mínimo, ou de e como tal é responsável pelas infrações que, por
10% a 50% do valor do negócio publicitário, caso negligência ou omissão intencional, levar o cliente a
tenha ocorrido infração referente ao art. 11 (co- cometer, na execução do plano de propaganda que
missões ou descontos). sugeriu e recomendou.

Legislação citada neste tópico: LEI Nº 12.232, DE 29 DE ABRIL DE 2010

LEI Nº 4.680/65 A Lei Nº 12.232/10 estabelece basicamente nor-


mas gerais aplicáveis às licitações e contratações
Art. 11 – A comissão, que constitui a remunera- pela administração pública de serviços de publicida-

25
LEGISLAÇÃO E NORMAS BRASILEIRAS SOBRE A PUBLICIDADE

de prestados por agências, mas também dá outras constituirá grave violação aos deveres contratuais
providências. Essas normas se aplicam às licitações por parte da agência contratada e a submeterá a
e contratos com a União, os estados e municípios, processo administrativo em que, uma vez com-
bem como aos Poderes Executivo, Legislativo e provado o comportamento injustificado, implicará
Judiciário. Esta lei reconhece a validade e vigência a aplicação das sanções previstas no caput do art.
atual da Lei Nº 4.680/65 e estabelece que, de forma 87 da Lei Nº 8.666, de 21 de junho de 1993.
complementar, assim como a Lei Nº 8.666/93, ela
será também aplicada aos procedimentos licitató- Por sua vez, o art. 19 estabelece que, para fins de
rios e contratos deles decorrentes. interpretação da legislação de regência, os valores
do desconto-padrão de agência (terminologia das
Convém destacar o disposto pelo art. 4º, § 1º, o Normas-Padrão da Atividade Publicitária adotada
qual estabelece que o certificado de qualificação pela União), que são devidos pela concepção, exe-
técnica emitido pelo CENP ou outra entidade legal- cução e distribuição de propaganda, constituem
mente reconhecida também como fiscalizadora e receita da agência de publicidade e não deverão
certificadora de agências de propaganda é requisito em nenhuma hipótese ser faturados e contabiliza-
para que uma agência de publicidade possa partici- dos como receita própria pelos veículos de divul-
par de licitações, firmar e executar contratos com gação, inclusive se o repasse do desconto-padrão
a administração pública. Mas também se prevê for efetivado por meio do veículo, completando a
no mesmo artigo que, além do certificado, apenas vedação da Lei Nº 4.680/65 quanto ao repasse,
poderão ser contratadas agências de publicidade para o anunciante, daquela remuneração fixada
cujas atividades sejam regidas justamente pela Lei pelo veículo à agência.
Nº 4.680/65.
Por fim, merece destaque nessa lei toda a dis-
Há ainda outras previsões importantes nessa ciplina prevista para os próprios procedimentos li-
lei. Especialmente os arts. 18 e 19 que se inse- citatórios, os quais deverão ser necessariamente
rem claramente no sistema normativo que rege de tipo “melhor técnica” ou “técnica e preço”, não
a publicidade no país como um todo, conside- podendo ser de tipo “menor preço”, sendo que os
rando-se explicitamente as normas de autor- editais deverão prever para a proposta de preço
regulação como componentes deste sistema, “quesitos representativos das formas de remu-
mesmo no que se refere à sua aplicação às lici- neração vigentes no mercado publicitário” (art. 6º,
tações e contratos com a administração pública. V). A lei detalha a forma da prestação de serviços
prestados por agência de publicidade, os controles
Isso porque o art. 18 se refere aos planos de e a forma de subcontratações legítimas.
incentivo dos veículos em relação às agências,
regulamentando a matéria nos mesmos termos Legislação citada neste tópico:
que o CENP já havia feito, afirmando tratar-se de
tema discricionário e livre de cada veículo e que LEI Nº 12.232/10
não afeta a equação econômico-financeira definida
na licitação e no contrato. Por outro lado, prevê- Art. 1º – Esta lei estabelece normas gerais sobre
se nesse tocante que as agências deverão sempre licitações e contratações pela administração públi-
se conduzir na orientação da escolha dos veículos ca de serviços de publicidade prestados necessa-
no plano de mídia por pesquisas e dados técnicos riamente por intermédio de agências de propagan-
comprovados, e não pela existência ou não de pla- da, no âmbito da União, dos estados, do Distrito
nos de incentivo. O desrespeito a essa previsão Federal e dos municípios.

26
A Lei Nº 12.232/2010
estabelece normas gerais
§ 1º – Subordinam-se ao disposto nesta lei os ór- aplicáveis às licitações e
gãos do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, contratações da publicidade
as pessoas da administração indireta e todas as en-
tidades controladas direta ou indiretamente pelos pela administração pública
entes referidos no caput deste artigo.
§ 2º – As Leis nos 4.680, de 18 de junho de 1965,
e 8.666, de 21 de junho de 1993, serão aplicadas [...]
aos procedimentos licitatórios e aos contratos regi- V – a proposta de preço conterá quesitos repre-
dos por esta lei, de forma complementar. sentativos das formas de remuneração vigentes no
Art. 4º – Os serviços de publicidade previstos mercado publicitário.
nesta lei serão contratados em agências de propa-
ganda cujas atividades sejam disciplinadas pela Lei Art. 18 – É facultativa a concessão de planos de
Nº 4.680, de 18 de junho de 1965, e que tenham incentivo por veículo de divulgação e sua aceitação
obtido certificado de qualificação técnica de funcio- por agência de propaganda, e os frutos deles re-
namento. sultantes constituem, para todos os fins de direito,
receita própria da agência e não estão compreendi-
§ 1º – O certificado de qualificação técnica de dos na obrigação estabelecida no parágrafo único
funcionamento previsto no caput deste artigo po- do art. 15 desta lei.
derá ser obtido perante o Conselho Executivo das
Normas-Padrão – CENP, entidade sem fins lucrati- § 1º – A equação econômico-financeira definida
vos, integrado e gerido por entidades nacionais que na licitação e no contrato não se altera em razão
representam veículos, anunciantes e agências, ou da vigência ou não de planos de incentivo referidos
por entidade equivalente, legalmente reconhecida no caput deste artigo, cujos frutos estão expressa-
como fiscalizadora e certificadora das condições mente excluídos dela.
técnicas de agências de propaganda.
§ 2º – A agência contratada nos termos desta lei § 2º – As agências de propaganda não poderão,
só poderá reservar e comprar espaço ou tempo em nenhum caso, sobrepor os planos de incen-
publicitário de veículos de divulgação, por conta e tivo aos interesses dos contratantes, preterindo
por ordem dos seus clientes, se previamente os veículos de divulgação que não os concedam ou
identificar e tiver sido por eles expressamente au- priorizando os que os ofereçam, devendo sempre
torizada. conduzir-se na orientação da escolha desses veí-
culos de acordo com pesquisas e dados técnicos
Art. 5º – As licitações previstas nesta lei serão comprovados.
processadas pelos órgãos e entidades responsá-
veis pela contratação, respeitadas as modalidades § 3º – O desrespeito ao disposto no § 2º deste
definidas no art. 22 da Lei Nº 8.666, de 21 de junho artigo constituirá grave violação aos deveres contra-
de 1993, adotando-se como obrigatórios os tipos tuais por parte da agência contratada e a submeterá
“melhor técnica” ou “técnica e preço”. a processo administrativo em que, uma vez com-
provado o comportamento injustificado, implicará a
Art. 6º – A elaboração do instrumento convoca- aplicação das sanções previstas no caput do art. 87
tório das licitações previstas nesta lei obedecerá da Lei Nº 8.666, de 21 de junho de 1993.
às exigências do art. 40 da Lei Nº 8.666, de 21 de
junho de 1993, com exceção das previstas nos inci- Art. 19 – Para fins de interpretação da legislação
sos I e II do seu § 2º e às seguintes: de regência, valores correspondentes ao desconto-

27
LEGISLAÇÃO E NORMAS BRASILEIRAS SOBRE A PUBLICIDADE

padrão de agência pela concepção, execução e e de deveres que constituem os princípios abrigados
distribuição de propaganda, por ordem e conta de pelo art. 17 da Lei Nº 4.680/65. Dentre as condutas
clientes anunciantes, constituem receita da agên- não permitidas destacam-se a publicação de textos
cia de publicidade e, em consequência, o veículo contra a ordem pública e a moral, a divulgação de
de divulgação não pode, para quaisquer fins, fatu- informações confidenciais relativas aos negócios de
rar e contabilizar tais valores como receita própria, anunciantes, a difamação de concorrentes ou a atri-
inclusive quando o repasse do desconto-padrão à buição de falhas a seus produtos. Dentre os deveres
agência de publicidade for efetivado por meio de estão o de divulgar acontecimentos verídicos, negar
veículo de divulgação. comissões a pessoas relacionadas com o cliente e
comprovar as despesas efetuadas.
DECRETO Nº 57.690, DE 1/2/1966
DECRETO Nº 4.563, DE 31/12/2002
O Decreto Nº 57.690/66 regulamentou a Lei Nº
4.680/65, prevendo regras referentes às comissões O Decreto Nº 4.563/02 trouxe mudanças à reda-
a serem pagas aos agenciadores de propaganda e ção do art. 7 do Decreto Nº 57.690/66. Ele reco-
aos descontos devidos às agências de propaganda. nhece os benefícios trazidos pela autorregulação
privada, expressamente mencionando diversos
Esse decreto também aborda a temática da ética dispositivos das Normas-Padrão da Atividade Publi-
profissional, ressaltando que as agências, os veícu- citária como aplicáveis às relações com as agên-
los e os publicitários estão submetidos ao Código de cias de propaganda no mercado publicitário, inclu-
Ética dos Profissionais de Propaganda. Nesse con- sive o item 3.5, que se refere ao Anexo “B” das
texto, traz listas de condutas que não são permitidas referidas normas de autorregulação.

AS NORMAS-PADRÃO DA PUBLICIDADE BRASILEIRA

As Normas-Padrão da Publicidade Brasileira, estabelecidas de comum acordo entre Anunciantes, Agên-


cias e Veículos de Comunicação, podem ser conhecidas em sua totalidade em
http://www.cenp.com.br/PDF/NomasPadrao/Normas_Padrao_Portugues.pdf

As Normas-Padrão estão divididas em 8 partes:


1. Conceitos Básicos
2. Das Relações entre Agências, Anunciantes e Veículos
3. Das Relações entre Agências e Anunciantes
4. Das Relações entre Agências e Veículos
5. Das Relações entre Veículos e Agenciadores Autônomos
6. Das Práticas e Procedimentos Operacionais da Atividade Publicitária
7. Do CENP – Conselho Executivo das Normas-Padrão
8. Das Disposições Gerais e Transitórias

No site do CENP (www.cenp.com.br) há acesso livre a todos os demais documentos relacionados à


entidade (Estatutos Sociais, Resoluções e Comunicados, Comunicações Normativas, Normas de Re-
gulamentação e Regimentos – da Diretoria Executiva, Conselho de Ética e Comitê Técnico de Mídia),
além da íntegra da legislação aplicável e de todos os demais detalhes relativos ao próprio CENP e suas
atividades. Os principais documentos têm versões em inglês e espanhol.

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CENP - CONSELHO EXECUTIVO DAS NORMAS-PADRÃO
CONSTITUIÇÃO ORGÃOS E DIRIGENTES

Entidades Fundadoras Conselho Executivo


ABA - Associação Brasileira de Anunciantes ABA - 4 Titulares e 4 Suplentes
ABAP - Associação Brasileira de Agências de Publicidade ABAP - 3 Titulares e 3 Suplentes
ABERT - Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão ABERT - 4 Titulares e 4 Suplentes,
ABTA - Associação Brasileira de Televisão por Assinatura sendo 2 de rádio e 2 de TV
ANER - Associação Nacional de Editores de Revistas ABTA - 2 Titulares e 2 Suplentes
ANJ - Associação Nacional de Jornais ANER - 2 Titulares e 2 Suplentes
Central de Outdoor ANJ - 2 Titulares e 2 Suplentes
FENAPRO - Federação Nacional das Agências de Propaganda CENTRAL DE OUTDOOR - 2 Titulares e
2 Suplentes
Entidades Associadas FENAPRO - 3 Titulares e 3 Suplentes
ABOOH - Associação Brasileira de Out of Home ABOOH - 1 Titular e 1 Suplente
IAB Brasil - Interactive Advertising Bureau IAB BRASIL - 1 Titular e 1 Suplente
FENAPEX - Federação Nacional da Publicidade Exterior FENAPEX - 1 Titular e 1 Suplente

Entidades Profissionais Aderentes / Conveniadas Colégio de Presidentes do


APP Brasil - Associação dos Profissionais de Propaganda Conselho de Ética
Grupo de Atendimento de São Paulo Representantes de Anunciantes,
Grupo de Planejamento Brasil Agências e Veículos, escolhidos pelo
Grupo de Mídia de São Paulo Conselho Executivo
ARP - Associação Riograndense de Propaganda
ABEP - Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Conselho de Ética
Nas Câmaras de Ética a composição
CENP em Revista é tripartite (Agências, Veículos
Todas as edições da CENP em Revista, desde o número 1, e Anunciantes) e contam com
estão disponíveis no site do CENP, no endereço: representantes das entidades
http://www.cenp.com.br/cenp-em-revista/ Fundadoras e Associadas Institucionais
Download livre e gratuito
Diretoria Executiva
Presidente Administrador
3 Vice-Presidentes
3 Diretores

Mais informações sobre o CENP podem ser obtidas pelo www.cenp.com.br

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Primeiro número da série Documentos CENP - Julho de 2017
Esta série de publicações soma-se a outras iniciativas que objetivam
disseminar informações relevantes para o ambiente brasileiro de
autorregulação ético-comercial, existente em razão das
Normas-Padrão da Atividade Publicitária.
Mais informações sobre este e outros temas podem ser acessados em
www.cenp.com.br

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