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O MONTE MAL ASSOMBRADO

António José é um amigo da nossa família. É um homem já


com os seus 53 anos, que trabalhou a vida inteira para amealhar
uma pequena fortuna a fim de, um dia, poder realizar o seu sonho:
comprar uma casa num monte alentejano.
E assim foi. Quando considerou que já tinha o suficiente, foi
morar para uma pequena aldeia, no meio do Alentejo, à procura de
paz e tranqüilidade. Queria viver o resto dos seus dias em sossego e
criar os três filhos rodeados pela Natureza
Contou-me, no entanto que, quando ele e sua esposa, Maria
das Dores; a filha, Aurora; os filhos, Carlos e Joaquim e a comadre
Augusta, foram a residir naquela antiga casa, foram vítimas de uma
série de casos extraordinários e inexplicáveis.
Essa casa ficava no alto de um monte. Era cercada por
campos de centeio, ficava próxima a um ribeiro que era utilizado
para a rega dos campos e encontrava-se completamente isolada do resto da aldeia.
O casebre era de construção antiga, caiada de branco por fora e com o tecto sustentado por
vigas grossas de madeira. O exterior tinha um aspecto humilde, mas no interior não faltava nada para o
conforto da família.
À volta, uma dezena de árvores davam lugar a uma mansa sombra que cobria uma larga mesa
em madeira construída pelo próprio António para os piqueniques. Na sombra abrigavam-se também os
cães e outros animais nos dias em que o calor era abrasador.
A família gostava de lá morar, pois do alto do monte podia apreciar a vastidão de terra que se
estendia por quilómetros até encontra-se com a lagoa da barragem, onde passavam algumas horas nos
dias quentes de Verão.
O local era óptimo para uma vida pacata e sossegada e seria a habitação ideal, se não fossem os
acontecimentos que passo a narrar.
Todas as noites, a família era atormentada de maneira inexplicável, pois assim que se recolhia,
começavam a cair pedras no telhado, como se o próprio Belzebu se empenhasse em arrasar aquela
vivenda. Enquanto isso, ouvia-se um ruído característico de forte ventania, que parecia varrer o
arvoredo à volta da casa.
Era horrível aquela situação: as pedras a cair sobre o telhado e a ventania a zunir nas árvores.
Não seria capaz de sustentá-la uma única noite... Não era essa a vida sossegada que António
procurava...
Assim se passavam noites, sem que a família não mais conhecesse a tranquilidade do sono.
Certa vez, a comadre Augusta lembrou-se de um crucifixo que havia em casa. Talvez, com ele,
poderiam ver-se livres de tamanha perseguição!
Certa noite, quando as pedras começavam a cair no telhado e a bater nas janelas, num fragor de
ensurdecer, saíram todos da casa. A esposa, Maria das Dores empunhou o crucifixo e uma vela acesa,
concentrando-se em orações fervorosas juntamente com a comadre e o marido. Tudo então silenciou
completamente.
Entretanto, o processo serviu somente para acalmar provisoriamente os fenómenos, pois mal a
família reingressava na casa, recomeçavam os rumores com todo o cortejo de factos anormais.
Se a família tornava a sair da habitação, repetindo as orações, novamente tudo silenciava,
muito embora os cães não parassem de latir, soltando uivos lancinantes, como se alguém os tivesse
chicoteando.
Vários meses decorreram assim, sem que qualquer solução fosse dada ao problema.
António José, certo dia, no auge do desespero, lembrou-se de fazer uma promessa a Nossa
Senhora das Dores: faria uma caminhada, de joelhos, até o Senhor Morto, na 6ª feira da Paixão para
que todo aquele pesadelo terminasse.
Cumprida a promessa, a partir daquele dia, a casa ficou definitivamente livre daquela
perseguição diabólica.
(autor anónimo)
ESTATUTO DO NARRADOR
É a entidade responsável por contar a história. O narrador nunca se identifica com o autor:
O Autor é um ser real, enquanto que o narrador é um ser de ficção, uma criada pelo próprio
autor e que só existe na narrativa. Pode ser exterior à "história" que narra ou identificar-se
com uma das personagens (presença) e conta os acontecimentos deixando transparecer o
que sabe a seu respeito (ciência).

Como caracterizar o tipo de narrador?

1. Quanto à Presença

NARRADOR PARTICIPANTE
O narrador identifica-se com a personagem principal.
Autodiegético
A narração é feita na 1ª pessoa.
O narrador identifica-se com uma personagem
Homodiegético secundária.
A narração é feita na 1ª pessoa.
NARRADOR NÃO PARTICIPANTE
O narrador é totalmente alheio aos acontecimentos que
Heterodiegético
narra. A narração é feita na 3ª pessoa.

2. Quanto à Ciência

É um ser fictício e privilegiado. Assume uma posição


de superioridade, de “distância” relativamente
à história. Revela um conhecimento absoluto, quer dos
Focalização
acontecimentos, quer das motivações. É capaz de
omnisciente
penetrar no íntimo das personagens, revelando os seus
pensamentos e as suas emoções, o seu passado e
mesmo o seu futuro. É, normalmente, objectivo.
O narrador é um mero observador exterior aos
acontecimentos e assume uma atitude de certa
neutralidade. Narra aquilo que apreende através dos
Focalização
sentidos, o que é materialmente observável: descreve os
externa
espaços, narra os acontecimentos e o comportamento
das personagens, mas não penetra no interior destas. É,
normalmente, objectivo.
Este tipo de focalização distingue-se da "focalização
externa”, porque o narrador adopta o ponto de vista de
Focalização uma personagem, narrando os acontecimentos tal como
interna eles foram vistos por essa personagem. O narrador vê,
sente e julga como a personagem cuja visão adoptou . É
um narrador normalmente subjectivo.

1. Descreve o espaço onde se passa a acção.


2. Refere as personagens que julgas principais nesta narrativa
3. Classifica o narrador quanto à presença e quanto à ciência
4. Sublinha no texto uma passagem que seja exclusivamente descritiva
5.

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