Você está na página 1de 94

Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso

Rua Zulmira Canavarros, 95 – Centro


Cuiabá, MT - 78005-390
Tel.: (65) 3314-3558 e Fax: (65) 3321-0223
Internet: http://www.cefetmt.br

D819h Brandão, Douglas Queiroz;


Habitação social evolutiva: aspectos construtivos, diretrizes
para projetos e proposição de arranjos espaciais flexíveis.
Douglas Queiroz Brandão. Cuiabá: CEFETMT, 2006.

94 p. il.

Bibliografia
ISBN: 85-99748-06-8

1. Arquitetura - Moradia. 2. Arquitetura – Projetos de


espaços. 3. Habitação - Flexibilidade do arranjo 4. Habitação
– Adaptação do espaço I. Título II. Aspectos construtivos,
diretrizes para projetos e proposição de arranjos espaciais
flexíveis.

CDU: 72.059
CDD: 729.2
DOUGLAS QUEIROZ BRANDÃO

Cuiabá
CEFETMT
2006
Editora do Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso
Rua Zulmira Canavarros, 95 – Centro
Cuiabá, MT - 78005-390
Tel.: (65) 3314-3558 e Fax: (65) 3321-0223
Internet: http://www.cefetmt.br

Capa: Oscar Nonato de Siqueira Júnior

Projeto Gráfico e Editoração:


Rommel Kunze e Eliana Barbosa Luiz

Impressão e acabamento: KCM Editora & Gráfica

Apoio:

Programa de Tecnologia da Habitação


FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
www.habitare.org

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso – FAPEMAT


Rua 03, s/n, 3º andar, Prédio do IOMAT - C.P.A.
Cuiabá/MT – 78.050-970
Tel. (65) 3613 – 3500 - Fax (65) 3613 – 3502
www.fapemat.mt.gov.br
AGRADECIMENTOS

Este manual é mais um produto resultante dos trabalhos iniciados em 1995,


na Universidade Federal de Santa Catarina, quando iniciei-me no estudo da flexibi-
lidade arquitetônica. Agradeço ao professor Luiz Fernando Mählmann Heineck, pela
orientação, incentivo e amizade em todo o meu período de pós-graduação. Desde o
início, já destacava este tema como sendo nobre e desafiador.
Da UFSC, devo também ressaltar o apoio permanente dos estimados ami-
gos, os professores Roberto de Oliveira e Carolina Palermo Szücs, especialistas no
campo do Planejamento e Projeto Habitacional. Ainda de Santa Catarina, é impor-
tante agradecer à arquiteta Mariuzza Digiacomo, com quem discuti e aprendi acerca
de uma série de aspectos do presente tema. Agradeço pelo rico material concedido,
por ocasião do I Congresso Brasileiro de Habitação de Interesse Social, realizado
em 2003, em Florianópolis.
Inicialmente meus estudos focalizaram os edifícios multifamiliares ofertados
para a classe média. Em Mato Grosso, a partir de 2003, surgiu a oportunidade de apli-
car a experiência anterior, desta vez na HIS. Neste sentido, sou grato aos professores
Adnauer Tarquínio Daltro e Wilson Conciani. Minha apreciação se estende a todos os
docentes da UFMT e do CEFETMT que compõem este valoroso grupo do Projeto Mora-
dia, do Programa Habitare. À FINEP e à FAPEMAT, meus agradecimentos pelo financia-
mento deste trabalho.
Agradeço, também, à arquiteta e engenheira civil Talita Dadam, pelo
auxílio na análise dos dados da avaliação realizada em Itiquira, utilizados neste
manual e à Ana Carolina Rodrigues, graduanda de Arquitetura e Urbanismo e bol-
sista de Iniciação Tecnológica e Industrial, pela trabalho de catalogação, análise
e desenho dos projetos estudados, vários deles presentes neste livro. E, ainda, à
Catarina Assumpção, que também teve valiosa participação nesta produção.
Finalizando, é essencial reforçar minha imensa gratidão à Deus, por sua
presença, proteção e iluminação, concedendo sempre a paciência e a determina-
ção em todos os meus projetos.
PREFÁCIO

Lendo este manual pude recordar-me de uma circunstância vivencia-


da pela minha família, quando o meu pai comprou uma casa antiga no bairro
do Porto, em Cuiabá. A casa era construída com pé-direito duplo, paredes de
adobe, piso cimentado, com corredores longos, janelões e portas de tábuas
maciças. Para a instalação da família, adaptações tiveram que ser feitas, pois
além de uma residência, ali funcionaria um pequeno comércio. Paredes tiveram
que ser removidas, a técnica do adobe substituída pela alvenaria de tijolos fu-
rados, a cobertura que era sustentada por uma trama de pau roliço, passou a
ser suportada por vigas de madeira maciça. Muitas foram as dores de cabeça
de meu pai na busca de soluções para adaptar o espaço e acomodar a todos e
o comércio, e ainda permitir uma futura mudança, quando da chegada de mais
outros filhos nos anos seguintes.
Com certeza esta é uma situação comum para a maioria das famílias que
querem um espaço habitacional que, além de atender as suas condições sócio-
cultural e econômica, possa ser funcional, harmônico, e ainda sujeito a novas
mudanças, sem grandes custos. Este é um grande desafio para os projetistas,
construtores, engenheiros, arquitetos e que, com muita propriedade, vem sendo
enfrentado pelo Grupo Multidisciplinar de Estudos da Habitação, do Departamento
de Engenharia Civil da Universidade Federal de Mato Grosso, que tem a coor-
denação do Prof. Dr. Douglas Queiroz Brandão, e pelo Grupo de Pesquisa em
Componentes da Construção Civil para Habitação de Interesse Social do Centro
Federal de Educação Tecnológica – CEFETMT, com a coordenação do Prof. Dr.
Wilson Conciani. Os dois grupos foram provocados e estabeleceram uma coope-
ração inovadora do ponto de vista técnico-científico e institucional, visando estu-
dos e pesquisas na área da Habitação de Interesse Social, levando em conta as
peculiaridades da nossa região.
A cooperação permitiu a proposição de um projeto de pesquisa de grande
alcance para o Estado de Mato Grosso denominado “Projeto Moradia”, atendendo
ao edital do Programa Habitare, junto à Financiadora e Estudos e Projetos - FINEP
e com contrapartida da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado – FAPEMAT.
O projeto contou ainda com a parceria do Sindicato da Construção Civil do Estado
de Mato Grosso - SINDUSCON, a Secretaria de Estado de Infra-Estrutura, através
da Superintendência de Habitação, e teve a articulação institucional da Secretaria
de Estado de Ciência e Tecnologia. Foi e continuará sendo uma parceria de su-
cesso. Prova disso é a edição deste manual técnico, bastante prático e eficiente,
como um dos produtos resultantes do referido projeto.
Neste manual, o autor, além de evidenciar conceitos importantes quanto à
flexibilidade espacial, diversificação e adaptabilidade, apresenta diretrizes para pro-
jetos que incorporem tais conceitos bem como as modificações na fase de uso da
unidade habitacional, com foco para os projetos de residências desenvolvidos para
a população menos favorecida. Além de todas essas informações e orientações, traz
também avaliações concisas e objetivas quanto a algumas propostas de projetos já
desenvolvidos que ajudarão o leitor a perceber variáveis importantes que, uma vez
levadas em conta no projeto, permitirão um ganho substancial quanto às condições
mínimas de habitabilidade, conforto e qualidade das unidades habitacionais. Trata-
se, assim, de um manual de extrema importância para a construção civil, com um
apelo social inquestionável e que ajudará no dia-a-dia dos construtores e projetistas
em nosso Estado. Não só destes, mas também daqueles que se aventuram na difícil
arte de demolir para reconstruir o novo e melhor, como um dia fez meu pai.
Finalmente, expresso a minha satisfação e alegria em poder escrever
as impressões sobre esta importante contribuição que nos é apresentada pelo
Prof. Douglas Queiroz Brandão, através de um manual técnico, resultado de sua
dedicação e competência como pesquisador, professor e engenheiro, totalmente
comprometido com as causas que promovam o bem-estar do ser humano em seu
habitat. Parabéns!

Prof. Dr. Adnauer Tarquínio Daltro


Secretário Adjunto de Estado de Ciência e Tecnologia de Mato Grosso
Professor do Depto. de Engenharia Civil da Universidade Federal de Mato Grosso
Outubro de 2006
SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS..............................................................................................5

PREFÁCIO..............................................................................................................7

INTRODUÇÃO...................................................................................................... 11

1. DIVERSIDADE E PERSONALIZAÇÃO.............................................................13

2. FLEXIBILIDADE ESPACIAL: CONCEITOS......................................................19

3. MODIFICAÇÕES NA FASE DE USO ...............................................................35

4. DIRETRIZES PARA PROJETOS......................................................................51

5. AVALIANDO ALGUMAS PROPOSTAS ............................................................69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................75

ANEXOS...............................................................................................................81

CRÉDITOS DOS PROJETOS E DAS ILUSTRAÇÕES.........................................92

SOBRE O AUTOR.................................................................................................94
INTRODUÇÃO

No âmbito da Habitação de Interesse Social, promover condições mínimas de


habitabilidade, conforto e qualidade das unidades geradas é tão importante quanto redu-
zir o déficit de moradias no país. Vários são os atributos considerados essenciais para
o projeto habitacional, incluindo a possibilidade de modificar e personalizar, seja no mo-
mento da construção, seja na fase de uso.
É elevado o número de sistemas construtivos e soluções técnicas conhe-
cidas e catalogadas. Nas décadas recentes, muito se evoluiu na indústria da cons-
trução civil, no que se refere aos sistemas construtivos e processos de construção,
na oferta de novos materiais e componentes, e mesmo na aplicação de materiais
alternativos e reciclados, visando a sustentabilidade. Há avanços consideráveis
do ponto de vista de inovação tecnológica, de gestão da produção, de inserção em
programas de qualidade e produtividade e de eficiência em custos.
Muitos projetos incluem também preocupações com aspectos de modu-
lação espacial e integração de componentes, mas, com freqüência, pelo lado do
usuário, mostram-se rígidos, funcionalmente engessados. Não incluem a carac-
terística da evolução durante o uso. Nem sempre são evidenciadas as prováveis
modificações pelas quais a edificação normalmente passa ao longo de sua vida.
Raramente inserem a flexibilidade arquitetônica necessária à sua adaptação e
evolução física, de forma simples e harmônica. Com raridade possibilitam refor-
mas e ampliações sem demolição e perda de elementos originais.
Na lista dos prejuízos, além dos custos desnecessários, estão o desconforto
nos momentos de adaptação, ampliação e/ou reforma e os resultados ruins e duvi-
dosos sob os pontos de vista estético-arquitetônico e funcional. São dificuldades que
são legadas aos usuários da HIS, justamente (e infelizmente) os que compõem as
camadas mais desfavorecidas da população.
O presente manual técnico possui quatro objetivos: 1. demonstrar a im-
portância de inserir flexibilidade espacial nos projetos habitacionais; 2. possibilitar
a compreensão dos principais problemas apresentados pelos projetos que tipica-
mente são produzidos em nosso país, que não permitem, normalmente, soluções
melhor adequadas e harmônicas nas modificações espontâneas produzidas pelo
usuário; 3. propor estratégias para inserir elementos de flexibilidade e adaptabi-
lidade nos projetos de Habitação de Interesse Social unifamiliar; 4. apresentar e
discutir algumas propostas de projeto flexível.
Para prover flexibilidade, é bom que se diga, podem ser necessários acrés-
cimos de custos, gerados por possíveis soluções envolvendo superprovisão de com-

11
ponentes para atender incertezas de utilização, aumento da relação de planos verti-
cais por unidade de área construída, redução da compacidade da moradia, definição
de outras alternativas para a cobertura, dentre outras soluções de projeto. Todavia,
embora não sejam incluídos estudos comparativos que apresentem a exata dimen-
são destes custos adicionais de construção, há indicação prática de que os mesmos
sejam relativamente baixos. Isso sem falar na economia que se pode ter em cada
adaptação e ampliação que pode ser realizada com mais facilidade, aproveitando
a construção original, evitando demolições e desperdícios. E há ainda a qualidade
técnico-arquitetônica das intervenções que, tendo característica mais profissional,
tendem a valorizar o imóvel em etapa mais consolidada. Infelizmente, o custo inicial
de construção, não obstante sua importância, ainda é magnificado em detrimento a
um conjunto maior de benefícios ao usuário.
Apesar de focalizar projetos de habitação social unifamiliar, exemplificados
com casos mato-grossenses, sobretudo do Projeto Moradia, do Programa Habitare,
os conceitos, aplicações e recomendações aqui presentes podem ser adotados nos
projetos habitacionais e construções em geral, para qualquer região do país.
Este manual, um dos vários produtos resultantes do trabalho em equipe
proveniente da cooperação técnica firmada entre o Centro de Educação Tecnoló-
gica de Mato Grosso e a Universidade Federal de Mato Grosso, longe da inten-
ção de esgotar assunto tão envolvente, constitui, com certeza, uma contribuição
relevante na área. De fácil leitura, pode ser aproveitado não só pela comunidade
técnico-científica, mas também por auto-construtores leigos.

12
DIVERSIDADE E PERSONALIZAÇÃO 1
Personalizar, ser diferente, é uma característica intrínseca do ser hu­mano.
Além disso, vários são os fatores que têm contribuído para a di­versificação do
morar em décadas recentes, tais como: a diversificação demográfica e dos modos
de vida, com o surgimento de novas configu­rações familiares, a mudança do perfil
e os novos papéis desempenha­dos pela mulher, a tendência do trabalho remune-
rado realizado em casa e a profusão de novos equipamentos, tecnologias e mídias
domésticas. A moradia, casa, lar, entidade complexa que define e é definida por
vá­rios fatores, de significado dinâmico e multidimensional, necessita ser sensível
às solicitações de adaptação e evolução ao longo da fase de uso. Uma oferta de
habitações cada vez menos seriada, mais diversa e que permita personalização
a partir dos primeiros ocupantes, é conside­rada por vários autores como um pro-
cesso irreversível. Este capítulo tem como objetivo apresentar o conceito de habi-
tação evolutiva, o porquê da necessidade de modificar a moradia e a importância
das habitações fle­xíveis e adaptáveis.

SIGNIFICADO DE HABITAÇÃO
A habitação representa muito mais que um simples núcleo territorial. Ela é mais
que uma simples ordena­ção espacial, significa uma entidade complexa que define e é
de­finida por conjuntos de fatores arquitetônicos, culturais, econômicos, sócio-demográfi­
cos, psicológicos e políticos que mudam du­rante o curso do tempo (LAWRENCE, 1987;
1990). A Figura 1.01 explica com mais detalhes este conjunto de variáveis.
A saúde e o bem-estar das pessoas, assim como as atitudes humanas e valo­res,
são relati­vos e mutáveis. O significado de habitação, de lar, de casa, varia de pessoa para
pes­soa, entre grupos sociais e através das cultu­ras. Este conceito multidimensi­onal ex­
plica, por si só, a razão pela qual esta entidade material deve permitir modifi­cações, seja
no momento de sua construção, seja ao longo de sua utilização.

Habitação evolutiva
Uma habitação é considerada polivalente ou evolutiva quando, dada a ma­neira
como foram concebidos os seus espaços, permite alterar os usos dentro dela, ocupá-la
de maneiras variadas, distribuindo as funções dife­rentemente (Rosso, 1980). Embora o
termo enfatize a ampliabilidade das residências, ou seja, um aspecto particular, habi­tação
flexível ou habitação adaptável são aqui também utilizados com o mesmo pro­pósito.

13
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

Figura 1.01 - Fatores internos e externos no estabelecimento de limites e pré-requisitos do projeto


habita­cional (Fonte: CHEong, 1996).

Este manual técnico visa demonstrar a importância da flexibilidade es­pacial


nos pro­jetos habitacionais e analisar os principais problemas que surgem quando a
cons­tru­ção não permite soluções arquitetonicamente harmoniosas nas modificações es­
pontâ­neas realizadas pelo usuário. Também propõe uma série de es­tratégias para in­serir
elementos de flexibilidade e adaptabilidade nos projetos, apresentando, como exemplos,
algumas propostas interes­santes e aplicáveis. A tipologia aqui enfocada é a habitação
unifamiliar de interesse social.

A necessidade de modificar a moradia


As razões pelas quais o usuário deseja promover alterações em sua habitação
são vá­rias, sendo forte a ligação com fatores simbólicos e estéticos (BRANDÃO, 2002;
2005). Estas alterações, de acordo com Reis (1995), estão ligadas:
1. a aspectos funcionais como disposição e tamanho das peças;
2. ao tamanho da moradia como um todo;
3. a aspectos específicos ligados à privacidade visual e auditiva;
4. a aspectos ligados à questões estéticas;
5. a aspectos ligados à questões de personalização e definição do terri­tório;
6. às alterações no tamanho da família, nível econômico e educacio­nal;
7. a aspectos de outra natureza, por exemplo, a necessidade de criar um abrigo
para o carro ou ligados ao lazer, como a criação de uma churras­queira.

14
DIVERSIDADE E PERSONALIZAÇÃO

Avaliações pós-ocupação em conjuntos habitacionais unifamiliares têm mos-


trado, principalmente, a insatisfação com o tamanho da casa como um todo e com a
adequa­ção dos cômodos, sobretudo os dormitórios. As modificações observadas não
se­guem uma regra geral, dependem da maior ou menor adequação do projeto original,
porém, ampliações de cozinhas e criação de novas dependências, como edículas, são
freqüentes (Reis, 1995; 2000; Bittencourt; Silva, 1996; Szücs, 1998).
Os usuários desejam um maior grau de flexibilidade, que se relaciona,
principal­mente, à possibilidade de trocar o uso de algumas peças, de remover ou adi-
cionar pa­redes divisórias e, assim, alterar o leiaute interno, e de adicionar ou remover
espaços ou peças (Dluhosch, 1973 apud Reis, 1995).
Com relação às modificações promovidas pelo usuário, seis objetivos ge-
rais ou ti­pos de desejos podem ser destacados, conforme Rabeneck e outros (1974):
1. aco­modar uma mudança na composição da família ou em suas atividades; 2.
promover a qualidade da habitação com respeito a critérios sociais ou de mercado;
3. rearranjar as subdivisões; 4. rezo­near o lar com base em áreas formal/informal,
criança/adultos, dia/noite, barulho/silêncio.
O morador expressa o desejo de fornecer à sua residência, dentro do que
é possí­vel, uma característica individual tanto dentro como fora (Figura 1.02). Soen
(1979) cita o exemplo britânico, no qual existe grande relutância em habitar edifícios
de vários pavimentos – um receio de a uniformidade afetar a personalidade, pela
ex­pressão de um sentimento de arregimentação.

Figura 1.02 – Comunidade de Aranya, Índia: diferentes soluções dos moradores, fonte: www.vas-
tushilpa.org, foto do Prof. Vikram Bhatt, utilizada por Digiacomo (2004).

 DLUHOSCH, E. Flexibility/Variability in Prefabricated Housing. Berkeley, University of Califor­nia,


PhD. Thesis, 1973.

15
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

O próprio Le Corbusier, um dos maiores representantes da arquitetura mo-


derna no século XX, em uma de suas declarações, confirma a existência do precon-
ceito contra a repetição e a uniformidade: “Só existe uma solução: construir em série.
Mas para a maior parte das pessoas, construir em série, em arte ou em arquitetura, é
vol­tar-se contra a arte, a qualidade, a dignidade” (TRAMONTANO, 1993).
As famílias esforçam-se para tornar o quadro residencial e o quadro de
suas aspi­ra­ções o mais congruente possível, havendo, em princípio, dois mo-
dos, de acordo com estudo de Priemus (1986): a família al­tera suas cognições,
adaptando-se à situa­ção residencial (adaptação passiva) ou, a família adapta seu
ambiente (adaptação ativa). Segundo este autor, na prática, ocorre um mix de
adaptação passiva e ativa. Simultaneamente ocorrem mudanças no ambi­ente e
nas cognições, num processo aparentemente dialético. As habitações, portanto,
devem ser capazes de responder a esta parcela ativa, pelo menos o suficiente
para gerar satisfação.
Esta necessidade de fornecer uma característica pessoal à residência,
que, como já visto, equivale a territorializar, deve ser uma manifestação permitida
e possibilitada através de pequenas adaptações ambientais por parte dos usuá-
rios (Soen, 1979; Ornstein, 1996). Portanto, a flexibilidade é um componente
necessário ao projeto a despeito de ainda haver muito o que se aprender a pro-
pósito das percepções e com­portamentos das pessoas no ambiente construído
(SAARINEN, 1986 apud Orns­tein, 1996).

Importância das habitações flexíveis e adaptáveis


Vários autores defendem a importância da flexibilidade, tanto na ocupa­ção
inicial dos espaços (flexibilidade inicial), como ao longo de sua utili­zação (flexibili-
dade contínua, funcional ou permanente).
A organização do espaço e o projeto devem ser compatíveis com dife­
rentes pa­drões de vida no decorrer do tempo, ou seja, com multipli­cidade de usos.
O conceito de habitação de característica evolutiva exige previsão e projeção no
projeto. “Não signi­fica apenas uma abertura à liberdade de adaptação dos usuá-
rios, mas também a análise dos graus prováveis de obsolescência de cada parte
da habitação” (ROSSO, 1980).
A dificuldade em gerar usos duradouros tem se constituído em uma das mais
sé­rias limitações da habitação produzida após a Segunda Guerra Mundial, sendo
provavelmente um dos mais sérios prejuízos da qualidade da ha­bitação confrontada
atualmente. O autor desta afirmação, Callado (1995), sustenta sérias críticas à forma
 SAARINEN, T.F. Environmental planning perception and behavior. Illinois: Waveland Press, 1986.

16
DIVERSIDADE E PERSONALIZAÇÃO

tradicional de proje­tar, baseada na perspectiva funcionalista clássica.


A especificação extremada de requisitos e dos tipos de utilidade, ofe­rece
uma de­monstração muito clara da extensão em que o pensamento sobre soluções
para os problemas arquitetônicos foi prejudicado pela segregação de funções, que
acabou prevalecendo sobre a integração.
A rápida obsolescência de soluções demasiadamente específicas conduz,
não só à disfuncionalidade, como também a uma grave falta de eficiência (HERTZ-
BERGER, 1999). A defesa de Hertzberger é pela polivalência: uma forma que seja
multi­uso sem que ela tenha que sofrer mudanças, de tal modo que uma flexibilidade
mínima possa conduzir a uma solução ótima.
A casa deve ser projetada para ser adaptável ao mer­cado de usuários des-
conhecidos de tal modo que: 1. no estágio de pré-ocupação o construtor possa mo-
dificar a moradia às ne­cessidades de diferentes tipos de famílias; e, 2. no estágio de
pós-ocu­pação a casa responda às necessidades de mudança es­pacial, além de ser
facilmente adaptável às necessidades de novas fa­mí­lias quando os primeiros (ou
subseqüentes proprietários) se mudarem (FRIEDMAN, 1997)
A flexibili­dade, de acordo com Galfertti (1997), é um dos objetivos da moder-
nidade. Emerge como um me­canismo efetivo para compensar a lacuna na conexão
entre o arquiteto e o ocupante desconhecido. Na definição deste autor, flexibilidade
é o grau de liberdade que torna possível a diversidade de modos de vida.
Além do exposto nos parágrafos anteriores, a demanda por habita­ções
mais flexí­veis se faz perceber com base em vários outros fatores. Brandão (2002;
2003) rela­ciona: 1. uma maior diversificação demográfica e dos modos de vida,
pelo surgimento de novas composições familiares, não tradicionais, incluindo mu-
danças na forma de compreen­der o ciclo de vida familiar (Figura 1.03); 2. a mu-
dança de perfil e os novos papéis desempenhados pela mulher; 3. a coexistência
do morar e do trabalhar no mesmo es­paço, ou seja, a tendência do trabalho remu-
nerado realizado em casa; e, 4. a profusão de novos equi­pamentos, tecnologias e
mídias que habili­tam o lar para muitas outras funções, nota­damente, a do lazer.
Tais fatores são reiterados por outro autor, Digiacomo (2004), que ainda acres­
centa: a di­versidade cultural que decorre do processo de globaliza­ção que ocorre no
mundo, com a crescente integração de economias e das sociedades de vários países;
a redu­ção das áreas úteis das habita­ções; e, a própria necessidade de inovar.
A importância de promover diversidade e flexibilidade é também enfatizada em
estu­dos mais recentes aplicados ao mercado da construção civil brasileira, constitu­indo
objeto de análise freqüente nos centros de pesquisa do país (BRAN­DÃO, 1997, 2002;
CAMPANHOLO, 1999; CÍRICO, 2001; MOSCHEN, 2003; DIGIACOMO, 2004; CARVA­

17
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

LHO, 2004; PAYERAS, 2005). A demanda por persona­lização (flexibilidade inicial) das
unida­des residenciais é crescente, tornando-se uma realidade inevitável. Ou ainda, irre-
versível, segundo alguns autores. As empresas de construção e incorporação não devem
simples­mente sobreviver a esta demanda. Devem incluir a flexibilidade como objetivo de
desempenho junta­mente com custos, qualidade, velocidade e confi­abilidade.

Figura 1.03 - A diversidade das unidades familiares nos anos oitenta; ilustração da TVE, Bar­celona,
Espanha (Fonte: Galfertti, 1997, p. 11).

18
FLEXIBILIDADE ESPACIAL: CONCEITOS 2
Variadas são as definições e formas de aplicação da flexibilidade arqui­tetônica.
Muitos são os termos correlatos: em alguns, a definição prende-se à alternância ou sobre-
posição de funções sem intervenção construtiva; em outras definições, inclui mudanças
por meio de constru­ção. No âmbito temporal, a distinção entre flexibilidade inicial e flexibili­
dade permanente é das mais relevantes, uma vez que projetos bem con­cebidos devem
prever ambas as situações. A classificação pode se dar também quanto à produção da
flexibilidade e quanto à estratégia de co­mercialização. Este capítulo destaca cinco formas
distintas de flexibili­dade: diversidade tipológica, flexibilidade propriamente dita (variabili­
dade), adaptabilidade, ampliabilidade e possibilidade de junção e des­membramento.
Seis estratégias de ampliação da flexibilidade são tam­bém comentadas: reversibilida-
de de cômodos, cômodos multiuso, alter­nância entre isolar e integrar, baixa hierarquia,
comunicações adicionais e mobiliário planejado. O capítulo é concluído com um breve
comentário so­bre as for­mas de planejar a flexibilidade no caso particular das habita­ções
de inte­resse social unifamiliares.

DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES
Muitas são as definições, conceitos e formas de flexibilidade. Vários são
os termos correlacionados. Cada autor estabelece uma classificação à sua manei-
ra, mas o que importa, explica Digiacomo (2004), é que todas buscam classificar
a qualidade do es­paço físico de se adaptar com facilidade às necessidades e
desejos dos seus ocu­pantes.

Diversidade de conceitos
Joedicke (1979) define flexibilidade como sendo a possibilidade de modificar
a função sem modificar as partes construídas e, variabilidade, a possibilidade de
variar os ele­mentos construídos. Assim, é flexível se permitir distintas funções, sem
modificar a construção, já a alteração em uma parede é considerada variação.
Estes conceitos equivalem aos de Wienands (1979) que relaciona as
quatro princi­pais possibilidades de comportamento frente às modificações: a
multiplicidade de usos (flexibilidade); a modificação construtiva (variabilidade); a
modificação do lugar com elementos definidores de espaço transportáveis (mobi-
lidade); e, a capacidade de adaptação humana (adaptabilidade).

19
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

Classificação no âmbito temporal


As categorias mais básicas de flexibilidade arquitetônica são: a flexibilida-
de inicial e a flexibilidade contínua (SEBESTYEN, 1978).
A flexibilidade inicial é a que acontece desde o momento de concepção até
a entrada dos primeiros ocupantes. É caracterizada por estratégias que permitem a
escolha do projeto e/ou a personalização da habitação para seus futuros moradores. É
também equivalente à flexibilidade de projeto e variabilidade. O grau de variabilidade
pode ser medido pelo número de variações arquitetônicas razoavelmente possíveis.
A flexibilidade contínua, também equivalente à flexibilidade posterior, flexi-
bilidade funcional e flexibilidade permanente, é definida por estratégias que permitem
a flexibili­dade durante o uso da habitação. O grau de flexibilidade contínua pode ser
medido pelo número de adaptações razoavelmente possíveis.
A flexibilidade permanente, ou contínua, pode ainda ser dividida, segundo Gal­
fertti (1997), em três conceitos: mobilidade, evolução e elasticidade. O primeiro refere-se
à habilidade de modificar os espaços internos de forma rápida e fácil, para se adaptar às
diferentes atividades e períodos do dia; evolução implica na capacidade de modificação
de longo prazo, baseada nas mudanças da estrutura familiar; e, elastici­dade, é o modo de
modificar a área da superfície habitável através da adição de um ou mais cômodos.

Classificação quanto à produção da flexibilidade


Considerando o procedimento envolvido para produzir a flexibilidade, esta pode
se classificar em: flexibilidade mecanicista e flexibilidade leve (GALFERTTI, 1997; BRAN­
DÃO, 2002; PAIVA, 2002, DIGIACOMO, 2004). É considerada mecanicista quando de­
pende de equipamentos móveis ou tecnologias de ponta para que se realize (v. exem­plo
à Figura 2.01). A flexibilidade é leve ou realista quando é obtida por artifícios sim­ples
como a ambigüidade espacial, espaços neutros e/ou por meio de tecnologias simples,
como a utilização de portas de correr para integrar ou dividir dois ambientes.

Figura 2.01 - Corte transversal de apartamentos experimentais em Léganes, Madri, Espanha, 1995,
mostrando diferenças de nível dos pisos, camas retráteis e mesas do­bráveis, num esquema reversí-
vel do tipo dia/noite (Fonte: GALFERTTI, 1997).

20
FLEXIBILIDADE ESPACIAL: CONCEITOS

Classificação quanto à estratégia de comercialização


Quanto à estratégia de negócio e de marketing utilizada no mercado imobi-
liário, a fle­xibilidade pode ser de dois tipos: a flexibilidade planejada e a flexibilidade
permitida (BRANDÃO, 1997; 2002; BRANDÃO; HEINECK, 1998).
A flexibilidade permitida consiste na possibilidade de alterar ou personalizar
o pro­jeto quando uma só opção é oferecida inicialmente. Pode efetivar-se através
de posturas reativas ou pró-ativas por parte das empresas (Quadro 2.01). Em mui-
tos ca­sos, esta é resultante de pressões do mercado, gerando atitudes reativas e
desorga­nizadas por parte das construtoras (BRANDÃO, 1997), uma situação típica
em imóveis pequenos e médios, e também classificada como negociação de peque-
nas alterações. As empresas que trabalham de forma convencional, com projetos
padroni­zados, podem também fazer uma ou outra alteração de planta caso o cliente
peça. As construtoras costumam cobrar a diferença entre o acabamento-padrão e
aquele que o cliente escolher (YAMAMOTO, 2001).

Quadro 2.01 - Equivalência de conceitos sobre a forma de atuação das empresas do setor, visando
a oferta de imóveis personalizados (Fonte: BRANDÃO, 2002).
Conceitos Conceito apresentado no artigo Postura da Mercado
introduzidos por “Apartamentos sob medida” empresa
BRANDÃO (1997) (YAMAMOTO, 2001)
Flexibilidade Plantas abertas ou laje livre Pró-ativa, em Apartamentos de grande
permitida geral porte em geral
Projeto padronizado com Reativa, em geral Apartamentos pequenos e
negociação de pequenas médios
alterações
Flexibilidade Alternativas de plantas Pró-ativa Apartamentos de porte
planejada médio

O sistema denominado de plantas abertas ou laje livre consiste também


em uma forma de flexibilidade permitida que, em geral, é dirigida a um público
de maior poder aquisitivo, com plantas normalmente acima de 100 m2 e imóveis
situados em bairros mais valorizados das cidades (YAMAMOTO, 2001).
Na estratégia da flexibilidade planejada é a empresa quem elabora todos
os leiau­tes alternativos. Torna-se cada vez mais comum as empresas oferecerem
várias op­ções de planta e acabamentos para um mesmo imóvel. O que está por
trás do plane­jamento das plantas alternativas são os trade-off, ou seja, as trocas
que ocorrem para cada espaço ou setor da planta.

21
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

Considerando que a área é o fator limitador, sobretudo em apartamen-


tos, ou se constrói um ambiente de função X ou um ambiente de função Y, ou o
espaço é divi­dido em dois cômodos mais compactos ou é usado como um único
cômodo amplo. Estas trocas (trade-off) podem também ser denominadas de
alternativas conflitan­tes. O comprador, principalmente de imóveis pequenos e
médios em geral, não pode ter na planta do seu apartamento todos os cômodos
que deseja. Irá sempre abrir mão deste ou daquele atributo, com base em suas
possibilidades de compra.

Classificação com base no diagnóstico do processo


Avi Friedman (1997; 2002), arquiteto, professor e pesquisador de Montreal,
Ca­nadá, apresenta uma classificação não por tipos, mas pelo diagnóstico do pro-
cesso, baseada em projetos de casas com dois pisos principais, mais a utilização
do porão e do sótão. São quatro as possibilidades de intervenção, propostas por
Friedman (orga­nizadas por DIGIACOMO, 2004):
1. Manipulação de volumes: combinação de vários pavimentos para que
haja uma ou mais unidades diferentes;
2. Arranjo espacial: utilização de ambientes multiuso, adaptação de am-
bientes para ou­tras funções e atividades, utilização de divisórias ou
móveis para definir as di­ferentes distribuições espaciais;
3. Adição e divisão: a adição corresponde à expansão além do seu tamanho
original ou dentro do seu volume original. A divisão ocorre quando uma
habitação permite o seu desdobramento em uma ou mais unidades;
4. Manipulação de subcomponentes: elementos de fachada, peças pré-
fabricadas de banheiros e cozinhas, unidades modulares de arma-
zenamento, dentre outros. A manipulação destes componentes pode
modificar, adaptar e renovar a habitação para seus usuários sem que a
estrutura original seja afetada.

FORMAS DE APLICAÇÃO
Uma ampla revisão da literatura e um longo período de análise das plantas da
oferta imobiliária brasileira, possibilitaram estabelecer cinco formas distintas de conce-
ber a flexibilidade espacial: a diversidade tipológica, a flexibilidade propriamente dita,
a adaptabilidade, a ampliabilidade e as possibilidades de junção/desmembramento
(BRANDÃO, 1997; 2002; BRANDÃO; HEINECK, 1998; 2003). Cada uma destas alter-
nativas de projeto tem suas características resumidas nas seções que seguem.

22
FLEXIBILIDADE ESPACIAL: CONCEITOS

Diversidade tipológica
Existência de diversidade de unidades-tipo em um mesmo edifício, ou
num dado con­junto de habitações unifamiliares. O empreendimento é conce-
bido com várias plantas diferentes no que se refere à área privativa e número
de dormitórios. As localizações das unidades-tipo são pré-definidas no caso de
edifícios multifamiliares e, normal­mente, não há alternativas de modificação do
interior das unidades. No caso de habi­tações unifamiliares, a diversidade tipoló-
gica também é dada pela variabilidade de ti­pos, sem a possibilidade de alterar
o projeto. Nestes casos, os empreendedores en­tendem que a simples oferta
diversificada já implica em flexibilidade.

Flexibilidade propriamente dita


Concepção que prevê a planta livre, proporcionando a possibilidade de gerar
uma va­riedade de arranjos. Procura-se separar a área seca, que constitui a parte livre,
da área molhada que normalmente é fixa, como mostra o exemplo da Figura 2.02.

Figura 2.02 - Quatro entre doze variações de planta para apartamentos de 83,5 m2, Ulm-Wiblingen,
Alemanha, 1973 (Fonte: 12 VARIATIONEN, 1979).

23
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

Várias concepções podem existir: core central (núcleo com banheiros,


cozinha, etc.), core externo, paredes ou prumadas hidráulicas fixas, utilização de
shafts, etc. É similar à concepção flexível dos edifícios de escritórios. Envolve
intervenção constru­tiva para alternar os arranjos.
Uma outra concepção significativa encontrada na literatura é a chamada
flexibili­dade de adaptação que consiste em deixar que o morador complete o seu
ambiente através de modificações construtivas simples. A construção inicial define
as áreas molhadas e algumas paredes fixas, deixando a definição final por conta
do usuário (ALBERS et al., 1989).

Adaptabilidade
Critério que visa assegurar a polivalência mediante a descaracterização
funcional das peças de uma edificação, de forma a dar-lhes alternativas de uso.
As unidades são projetadas sem que sejam pré-determinadas as condições de
uso, deixando as deci­sões para os usuários. A ênfase está em possibilitar funções
simultâneas para o mesmo ambiente ou, ainda, a troca de função, com facilidade
e rapidez, sem serviços de construção. Estão inclusos aqui conceitos de neutrali-
dade (Figura 2.03), agregação de funções e ambientes multiuso. A integração ou
isolamento dos ambientes pode se dar por meio de uma variedade de tipos de
divisórias e painéis móveis e o uso de mobiliário com este fim também pode ser
muito explorado (BAUWENS; CAMPBELL, 1999; BRANDÃO, 2003).

Ampliabilidade
Concepção em que a unidade pode receber a adição de novos ambientes ou
cômo­dos. Nas habitações unifamiliares são representantes desta concepção a casa
mínima ou habitação-embrião. A aplicação deste princípio está vinculada às restrições
de ocupação do solo e a adição (add-on) de mais quartos implica o estudo de uma
dispo­sição inicial que permita uma integração razoável no projeto final (vide exemplo à
Figura 2.04). Outra forma parte do conceito de dispor maior espaço interno que possa
ser melhor aproveitado em eta­pas posteriores (add-in). A Figura 2.05 mostra um exem-
plo de casa onde os princípios add-in e add-on são utilizados. As figuras 2.06 e 2.07
mostram outros casos interessantes de aplicação da ampliabilidade.
Há, ainda, a chamada ampliabilidade alternativa (ou flexibi­lidade de com-
binação) que consiste em dotar o projeto de condições que permitam agregar
alternativamente uma peça de uma habitação a outra adjacente, opção esta que
pode se aplicar a apartamentos contíguos (vide Figura 2.08).

24
FLEXIBILIDADE ESPACIAL: CONCEITOS

Figura 2.03 - Conceito de neutralidade exemplificado pelas várias possibilidades de utiliza­ção de um


mesmo cômodo, com 13,13 m2 de área útil (Fonte: TRIEBEL, 1980).

Figura 2.04 - Residência edi- Figura 2.05 – Sprout House, projeto de habitação evolutiva
ficada em três estágios; David do arquiteto Sevag Pogharian, Montreal, iniciado em 1992,
Sheppard, 1965-1969 (Fonte: adequado a famílias jovens com poucos recursos financei-
RABENECK et al., 1974). ros (Fonte: CANADA MORTGAGE AND HOUSING COR-
PORATION, 1996).

Figura 2.08 - Proposta flexível, Geislingen-Auchtweide, Alemanha, 1976, projeto de Werner Kohn;
nesta proposta, transformações simples permitem criar unidades diferentes: quitinetes, apartamen-
tos de 1 quarto e apar­tamentos de 2 quartos (Fonte: SCHNEIDER, 1998, p. xvii).

25
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

Figura 2.06 - Comunidade de Aranya, Índia, Prêmio Aga Khan de Arquitetura, 1995: (a) acima à
esquerda, lotes urbanizados com embrião; (b) acima à direita, área da classe média; (c) abaixo,
esquema de ampliação; o primeiro croqui mostra o embrião composto de uma sala multiuso e o
banheiro compartimentado em dois, um espaço para o vaso sanitário e outro para o chuveiro (Fonte:
www.vastushilpa.org), citado por Digiacomo (2004).

Figura 2.07 - Comunidade de Belapur, Índia, projeto do arquiteto Charles Correa: (a) à es­querda, es-
quema de ampliação, de um embrião em meia água até uma casa urbana de classe média; (b) à direita,
acima, esquema de implantação dos lotes privativos, mostrando que as janelas são permitidas somente
nas paredes junto aos pátios; (c) à direita, abaixo, vi­são de uma casa ampliada (Fonte: CORREA, 2000).

26
FLEXIBILIDADE ESPACIAL: CONCEITOS

Junção e desmembramento
Estão incluídos aqui os casos de junção de duas unidades residenciais
(casas ou apartamentos) para formar uma maior, e também, o caso contrário,
quando uma uni­dade é desmembrada em duas. Difere da ampliabilidade alternati-
va pois, naquele caso, o apartamento absorve apenas uma parcela do apartamen-
to vizinho. No caso da junção/desmembramento, uma unidade residencial absorve
inteiramente a unidade adjacente, isto é, de duas se faz uma, e vice-versa.
Uma proposta que envolve o conceito de projetar para as necessidades de
mudan­ças futuras é a Casa Flexível de Howe (1990) (Figura 2.09). A proposta baseia-
se no projeto e construção de casas que, desde o início, sejam preparadas para pro­ver
com simples mudanças os chamados acessory apartments. As plantas mostram que,
para fazer a transformação, o proprietário pode fechar a porta entre a sala de estar e a
cozinha originais, acrescentando uma pequena cozinha, armário e divisória.

Figura 2.09 - Casa flexível, E.U.A., perspectiva, implantação no terreno e plantas dos pavi­mentos:
(A) piso térreo sem transformação; (B) piso térreo com um apartamento acessório; (C) piso superior
(Fonte: HOWE, 1990).

27
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

A conversão nestes moldes deve ter mínimo custo porque os encanamen-


tos para a quitinete já devem estar previstos na parede da sala de estar. Com a
criação do apartamento acessório, a parte de cima passa a ser o espaço mais
utilizado pela família e o acesso principal transfere-se para a porta da cozinha. Se-
gundo Howe (1990), projetos com esta concepção devem permitir transformações
sem a construção de elementos que externamente sejam visíveis.

VIAS SUPLEMENTARES
Além destes cinco grupos ou formas de planejar arranjos espaciais flexí-
veis, seis vias ou diretrizes possibilitam ampliar ou maximizar a versatilidade dos
ambientes das habitações em geral, aplicáveis também ao caso das moradias
de interesse social. Estas podem se dar através de: 1. cômodos ou ambientes
reversíveis; 2. cô­modos multiuso; 3. alternância entre isolar e integrar; 4. baixa
hierarquia; 5. comuni­cações e acessos adicionais; e, 6. mobiliário planejado. Im-
porta ressaltar que tais vias não são excludentes entre si, pelo contrário, podem
ser combinadas dentro de um mesmo projeto.

Cômodos ou ambientes reversíveis


A inclusão de dois ou mais acessos para o ambiente pode torná-lo mais
versátil. Pode-se, assim, criar situações variadas para sala, quartos e também para
banheiros. Com dois acessos, um banheiro, por exemplo, pode ser social e, ao mes-
mo tempo, pode funcionar como banheiro de suíte.

Cômodos multiuso
É importante que exista pelo menos um espaço ou ambiente considerado
como de múltiplo uso. Este cômodo deve estar situado em posição estratégica na
planta, ge­ralmente mais centralizado, propiciando contribuir com a flexibilidade
do projeto. Os quartos multiuso em pequenas habitações são o exemplo mais
comum: além de dor­mitório, funcionam também como escritório e sala de TV e
som (BAUWENS; CAMPBELL, 1999; BRANDÃO, 2003). A Figura 2.10 mostra um
exemplo de quarto multiuso.

Alternância entre isolar e integrar


Esta característica pode ser obtida por meio de portas e painéis de correr,
de dobrar, pivotar, ou ainda, diferentes tipos de divisórias e biombos, substituindo as
pa­redes tradicionais. Em geral, estes dispositivos são mais usados em habitações

28
FLEXIBILIDADE ESPACIAL: CONCEITOS

pe­quenas, como forma de permitir uma sensação de maior espaciosidade, quando


dois ou mais ambientes contíguos são integrados. A Figura 2.11 exemplifica esta
forma de articulação dos espaços.

Figura 2.10 - Exemplo de quarto multiuso Figura 2.11 - Yacht Coast Residence, Fortaleza,
com pelo menos três funções: sala de TV e Ceará: várias portas de correr, possibilitando
som, escritório e quarto de hóspedes (Fonte: isolar ou integrar os espaços a qualquer tempo;
OLDEMBURG, 2001). o banheiro possui dois acessos (Fonte: BRAN-
DÃO, 2002).

Baixa hierarquia
Obtêm-se quando cômodos são equivalentes ou mais próximos em tamanho e
forma, gerando, assim, maiores possibilidades de alternância de função (ver Figura 2.12).
Em geral, os projetos brasileiros, costumam visar a alta hierarquia, destinando-os à famí-
lia nuclear tra­dicional e, sendo também, fruto de projetos baseados no funcionalismo.

Comunicações e acessos adicionais

Característica ligada ao conceito de planta tipo circuito. Podem não afetar


diretamente as conversões ou reversões dos ambientes, mas adicionam mais ver-
satilidade de usos. Na Figura 2.13, por exemplo, há dois acessos para a sacada:
um pela sala e outro pela área de serviço.

Mobiliário planejado

Estantes, armários e outros móveis de fácil deslocamento ou movimenta-


ção são usa­dos para dividir ambientes. Além de gerar flexibilidade, sua utilização

29
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

pode reduzir a construção de paredes. As alternativas são ilimitadas e podem ser


criativas como, por exemplo, mesas corrediças (Figura 2.14) ou dobráveis, camas
escamoteáveis, estantes giratórias, ou seja, dispositivos que visam a alternância
de usos de um mesmo ambiente, ou de ambientes contíguos.


Figura 2.12 - Edifício Stay House, em Figura 2.13 - Residencial Recanto do Bosque,
Goiânia: quartos e banheiros com as mes- na cidade de Canela, Rio Grande do Sul: comu-
mas dimensões, caso incomum no Brasil nicação adicional entre a sacada da sala de estar
(Fonte: BRANDÃO, 2002). e a lavanderia, ligação pouco comum em aparta-
mentos (Fonte: BRANDÃO, 2002).

A RENOVAÇÃO DO CONCEITO DE FLEXIBILIDADE

Das concepções de flexibilidade apresentadas nas seções anteriores, é


importante sa­lientar que, dentre as soluções de projeto listadas, nem todas têm
uso comum nos dias de hoje. Na habitação, as formas de se utilizar espaços
compactos de forma efi­ciente, bem como de aplicar a flexibilidade nos projetos,
têm-se alterado. O Quadro 2.02 mostra a evolução destes princípios de projeto e
suas correspondentes estraté­gias em habitações norte-americanas. Na primeira
fase da flexibilidade, a ênfase resi­dia nos esquemas do tipo “faça você mesmo”
em que os esquemas se baseavam em jogos de montar e desmontar. Mas este
exagero arquitetônico teve sua fase.

30
FLEXIBILIDADE ESPACIAL: CONCEITOS

Figura 2.14 - Exemplo de reversibilidade de espaço em um apartamento de 1 dormitório com 35 m2: um


dos lados da mesa corre por meio de um trilho embutido ao longo de um aparador instalado em toda a
extensão de uma sala-escritório (Fonte: LACLAU, 2001).

O uso de cortinas, painéis sanfonados ou mobiliário usado para dividir os


ambien­tes, não é mais tão comum nos projetos dos anos oitenta para cá. Chama
atenção a com­paração que se faz em relação aos projetos flexíveis: enquanto
nas décadas do pós-guerra a utilização das divisórias móveis e dos mobiliários
era enfatizada na divisão do espaço (flexibilidade contínua ou permanente), nas
décadas recentes o projeto passa a se preocupar mais com a adaptabilidade no
estágio de pré-ocupação, como forma de atender a uma variedade possível de
usuários (flexibilidade inicial).

Galfertti (1997), de forma equivalente, expõe esta evolução. Durante os anos


sessenta, a flexibilidade era colocada como uma espécie de panacéia universal,
uma solução por meio da qual os arquitetos possibilitavam e promoviam pluralidade,
tolerância e informalidade na questão dos estilos de vida. Explica que isto, na época,
era uma resposta sociológica válida ao novo espírito de liberdade que se respirava.
Depois destes anos de flexibilidade, o conceito foi amplamente questionado e acu-
sado de ser irreal: “Permitir aos locatários a liberdade de fazer o que quer que seja,
ou o que queiram é relativamente ilusório: você não pode ter quatro cômodos onde
só há lugar para três” (Boudon apud GALFERTTI, 1997).

 BOUDON, Philippe. Habitat ouvert ou fermé?, L’Architecture d’Aujourd’hui, n.148, fevereiro-março, 1970.

31
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

Quadro 2.02 - Princípios de projeto para habitações econômicas durante os períodos do pós-guerra
(1945-59) e contemporâneo (1980-presente) (Fonte: FRIEDMAN, 1997)
Princípio Estratégia Implementação/Efeito Implementação/Efeito
Casas do Período Pós- Casas Contemporâneas
Guerra
Espaços Uso de plantas Prover o máximo de área no Solução recomendada para
reduzidos de pavimento pavimento com mínima terrenos de áreas rurais, de
e uso eficiente quadradas quantidade de paredes menor preço
do espaço
União de todas Maximizar a quantidade de Maximizar a quantidade de
as áreas de espaço utilizável; espaço utilizável; combinar os
estar Reduzir espaço de espaços da sala de estar com a
circulação sala de jantar
Utilização do Usar inicialmente como Usar como dormitório desde o
ático depósito e depois como início
dormitório
Introdução de A sala de estar foi ampliada O espaço é usado para
peças multiuso para se tornar um ambiente acomodar uma variedade de
multifuncional; a cozinha foi unidades de serviço de acordo
integrada com a sala de com o tipo da casa
estar
Utilização de Redução de custos de Redução dos custos de
core mecânico encanamentos com a encanamentos através de
proximidade de cozinha e paredes hidráulicas
banheiro
Criação de um Uso de janelas e portas em Janelas de dimensões normais,
senso de grandes painéis de vidro em sobrados geminados,
espaciosidade colocadas apenas na frente e
nos fundos
Uso de cortinas, painéis Soluções não muito comuns
sanfonados ou estantes e nos projetos contemporâneos
armários removíveis como
divisórias
Flexibilidade Expansão Deixar o ático sem Deixar o piso superior sem
Interior e interna acabamento para término divisão para definição posterior
Expansão posterior
Expansão O baixo custo dos terrenos Devido ao alto custo dos
externa; permitiam lotes largos nos terrenos e restrições de leis
construção em quais as pequenas casas municipais, esta estratégia não
estágios podiam ser ampliadas é mais tão comum atualmente
Projeto para Uso de divisórias móveis, Projeto planejado para
adaptabilidade removíveis e unidades de adaptabilidade na fase de pré-
armazenamento (armários e ocupação para diferentes
estantes) para divisão do usuários
espaço

32
FLEXIBILIDADE ESPACIAL: CONCEITOS

Na década de noventa, a flexibilidade tem sido colocada mais uma vez


como um ins­trumento eficaz. Conscientes de suas limitações, profissionais, pes-
quisadores e próprios usuários passaram a falar de uma flexibilidade leve ou fle-
xibilidade realística. Além disso, apesar de correntes arquitetônicas muitas vezes
se voltarem para uma tecnologia high-tech, o mesmo não pensam fabricantes,
construtores e usuários que preferem as tecnologias simples no que se refere
à construção residencial. Segundo Galfertti (1997), flexibilidade e tecnologia são
dois conceitos resistentes, ambos sufici­entemente amplos para gerar uma multipli-
cidade de resultados diferentes. O autor conclui que a flexibilidade leve, associada
a tecnologias low-tech (sistemas abertos), forma o binômio mais plausível para o
presente e futuro próximo da construção habi­tacional.

FLEXIBILIDADE NAS MORADIAS POPULARES


As seções anteriores, apesar de não adentrar em detalhes e aspectos téc-
nicos acerca das várias alternativas de concepção flexível e das diretrizes para sua
maximi­zação (o que será objetivo do Capítulo 4), busca fornecer uma introdução
quanto ao tema ha­bitação adaptável e evolutiva, mostrando diferentes possibilidades
e disposi­ções de projeto e reforçando o grande potencial de aplicação existente.
A prática, no entanto, mostra ainda ser carente neste sentido. Flexibilidade
em habi­tação de interesse social por vezes se remete unicamente à idéia de casa
mínima ou habitação-embrião (caso de ampliabilidade), quando, na verdade, muito
mais apli­cações podem ser exploradas pelos projetistas. A própria adaptabilidade,
por meio de agregação de funções é largamente aplicada nas residências populares
já que de modo geral os espaços são exíguos. Normalmente a sala e a cozinha (e
algumas ve­zes a área de serviço) compõem um único ambiente integrado.
Mas todas as cinco formas de aplicação apresentadas, aliadas às seis vias de
ampli­ação da flexibilidade, podem ser utilizadas ou exploradas em projetos habitacio­
nais de interesse social. São princípios que independem da área disponível ou padrão
das unidades e podem ser utilizados isoladamente ou de forma combinada.

 Na Alemanha, em projetos habitacionais planejados e construídos a partir de 1990, o conceito de


flexibilidade tem sido adotado em algumas regiões como um dos aspectos de inovação ti­pológica e
conseqüência das exigências qualitativas estabelecidas para o bem-estar social (ROSSI, 1998).

 Na França, atualmente, apenas cerca de 7% das residências são produzidas sob medida (inteira-
mente personalizadas), prevalecendo a construção industrializada com ênfase na pré-fabricação
e modulação. Como os sistemas são abertos e flexíveis, é possível obter grande variabilidade de
projetos (MOURÃO, 2006).

33
MODIFICAÇÕES NA FASE DE USO 3
Analisar os tipos de modificação espontâneas realizadas pelo morador em
sua habitação e apresentar os problemas e as dificuldades comuns decorrentes
de projetos sem flexibilidade planejada são os objetivos deste capítulo. São apre-
sentadas as alterações típicas realizadas pelo usuário com o intuito de melhoria e
personalização da unidade, incluindo os tipos mais comuns de ampliação da resi-
dência, como a criação de dormitórios adicionais, varandas e garagem. São ações
que reforçam a negação da uniformidade e o exercício da territorialidade, condições
que permitem o controle físico e psicológico do espaço. Também são apre­sentados
exemplos de modificações em projetos não convencionais, bem como as principais
razões de desconfiança e rejeição das habita­ções experimentais por parte dos usu-
ários. Na segunda parte do capí­tulo, os arranjos espaciais que são freqüentemente
empregados para as moradias po­pulares são criticados quanto às dificuldades em
permitir adaptações e ampliações de forma simplificada e facilitada, com baixo custo
e sem comprometi­mento arquitetônico.

MODIFICAÇÕES MAIS FREQÜENTES EM HIS


É essencial conhecer as modificações que são mais freqüentemente realiza-
das pelos usuários das moradias sociais, dados estes que normalmente são obtidos
em levan­tamentos de campo em estudos de avaliação pós-ocupação. Neste capítulo
são toma­dos alguns exemplos de alteração do projeto original, observados em dois
conjuntos habitacionais no Município de Itiquira, Mato Grosso, onde as casas foram
produzidas com tijolos de solo-cimento. Também são usados alguns exemplos do
Conjunto Habi­tacional Pedra 90, em Cuiabá, com as casas edificadas em madeira. A
despeito da in­determinação quanto aos desejos e necessidades do usuário, os tipos
de adaptação e ampliação mais corriqueiros podem ser relacionados e analisados.
Para uma melhor compreensão dos desejos e necessidades de modificar a moradia,
é interessante revi­sar antes os significados do morar.

Os significados básicos do morar


Quanto aos significados do morar, um conjunto conceitual completo é dado
por Cabrita (1995). Segundo este autor, a habitação sig­nifica a delimitação de um
espaço que proporciona ao homem:
 a segurança (abrigo e proteção);

35
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

 a privacidade, a intimidade, o isolamento, a independência, o espaço


pessoal;
 a inserção cosmogênica, o retorno a si;
 estabelecer uma relação dialética sujeito-objeto (“ser e ter”), de modo
que a habita­ção funcione como objeto de uso funcional, de valor social
e de símbolo;
 realizar a imagem desejada (ideal) de si, no seu espaço territorial;
 exprimir uma territorialidade bem definida, física e psicologicamente
delimitada;
 afirmar-se, apropriar-se, não só do território, mas dos objetos que coloca
nele e do modo que os dispõe;
 assegurar uma libertação, parcial mas efetiva, embora temporária, da
norma so­cial, contribuindo para a afirmação da autonomia e exercício
de liberdade e nega­ção;
 estabelecer relações eficazes e criativas com a família;
 definir uma interioridade;
 desempenhar as atividades com facilidade, flexibilidade e liberdade,
individual­mente, ou em grupo familiar, designadamente as tarefas quoti-
dianas domésticas, no quadro das transformações individuais, familiares
e sociais (incluindo aqui: ne­cessidades sanitárias e de higiene, recupe-
ração energética pessoal pela alimen­tação e repouso, estabelecimento
de relações sociais seletivas e garantia do aprovisionamento de bens e
seu consumo privado).
Outro autor, Després (1991), ao revisar a literatura sobre o significado da
casa (lar) na cultura norte-americana, levantando estudos que procuravam definir
modelos concei­tuais de habitação através de entrevistas com moradores, sinteti-
zou dez significados fundamentais:
 segurança e controle;
 local para refletir idéias e valores; expressão de si mesmo;
 ambiente onde se exercem ações e modificações;
 permanência e continuidade; local de raízes, memórias;
 ambiente de relacionamentos com a família e os amigos;
 centro de atividades: lazer, necessidades fisiológicas, etc.;

36
MODIFICAÇÕES NA FASE DO USO

 indicador de status social (posição sócio-econômica);


 estrutura material; estilo, características estéticas;
 lugar para se apropriar; propriedade.
Levantamento das modificações mais freqüentes
As modificações mais freqüentes, levantadas por Digiacomo (2004) em
moradias sociais, em cidades de Santa Catarina, são:
 intervenções na fachada, incluindo construção de um muro e/ou gradil;
 ampliação na cozinha para criar área de refeições e acomodar inú-
meros eletrodo­mésticos;
 criação ou aumento da área de serviço;
 separação de local para negócios, estudos e hobbies;
 acréscimo de banheiros ou lavatórios;
 provisão de armários adicionais para roupas, livros e equipamentos;
 alteração de relacionamentos entre cozinha, jantar e salas de estar, por
fecha­mento ou abertura;
 criação de sala de televisão.
Digiacomo (2004) não apresenta, no entanto, a freqüência ou as circuns-
tâncias com que cada tipo de modificação ocorre, nem tampouco os padrões e
tipos de projeto das obras observadas, e as condições culturais e sócio-econômi-
cas da cidade e do bairro. Daí, é importante chamar a atenção para o fato de que
os tipos mais freqüen­tes de modificação dependerão de duas importantes situa-
ções ou circunstâncias: 1. a característica do projeto original, ou seja, ambientes
e componentes que constam ou não do programa de necessidades original; 2. o
momento em que as modificações são realizadas: se durante a construção, ime-
diatamente à ocupação, um ano depois, e as­sim por diante. Considerações como
estas são levadas em conta nos métodos de Avaliação Pós-Ocupação (APO).
A maior parte dos exemplos mostrados neste capítulo provém dos resi-
denciais ob­servados em Itiquira, município localizado no sul do Estado de Mato
Grosso (DA­DAM; BRANDÃO, 2005b; DADAM, 2006). As modificações observa-
das com mais freqüên­cia foram:
 ampliação para os fundos, criando uma área multifuncional, geralmen-
te aberta, com­pondo uma segunda cozinha, espaço de refeições (pois
a cozinha original é de tamanho reduzido) e lavanderia, agora coberta
(com modificação da localização dos tanques);

37
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

 ampliação para a frente, criando varanda;


 criação de dormitórios adicionais no sentido das laterais ou dos fundos;
 criação de cômodo tipo depósito nos fundos, para ferramentas e coi-
sas diversas da casa;
 colocação de piso cerâmico nos cômodos originais e azulejo no ba-
nheiro (em toda altura e, em alguns casos, somente até 1,5 m);
 substituição da pia da cozinha e dos tanques de lavar roupa;
 modificação de posição de janelas devido a criação de novo cômodo
na parede;
 mudança na posição de portas, janelas e posicionamento da pia da cozi-
nha (es­tas realizadas como opção no momento da construção);
 substituição de portas e janelas da sala, de forma a personalizar a
fachada;
 reboco externo, sendo em alguns casos, com pintura posterior.

Interpretações territorial, psicológica e sócio-psicológica


Os estudos da casa como interpretação territorial surgiram como adapta-
ções de estudos em animais. O conceito de territorialidade é geralmente compre-
endido como um mecanismo de limitação entre o que é pessoal e o que é dos ou-
tros, envolvendo personalização (Figura 3.01), marcação de lugares ou objetos e,
a comunicação da propriedade desses lugares ou objetos (Altman, 1975 apud
Després, 1991).

Figura 3.01 - Personalização de casas de solo-cimento em Ouro Branco do Sul, Município de Iti-
quira, Mato Grosso: (a) à esquerda, por meio de um jardim; (b) à direita, por meio de pin­tura com
desenhos geométricos.

 ALTMAN, I. The environmental and social behavior. Monterey, CA: Brooks/Cole, 1975.

38
MODIFICAÇÕES NA FASE DO USO

No âmbito do morar, a territorialidade é exercida pelos moradores através do


controle sobre o espaço. Agir sobre a moradia e modificá-la é uma expressão de ter-
ritorialidade. A colocação de objetos com significado especial ou de características
específicas dentro e fora da casa, o arranjo dos móveis, assim como a manutenção
da casa, são todos comportamentos territoriais, em grande parte relacionados à per-
sonalização. O desejo de propriedade também é descrito como um comportamento
territorial já que esta condição permite o controle físico e psicológico do espaço. A
Figura 3.02 mostra o automóvel, elemento parte da propriedade.

Figura 3.02 - O automóvel, como parte da propriedade, é propulsionador de mudanças: (a) à es­
querda, o carro guardado sem proteção poderá gerar o desejo de construir uma futura ga­ragem
co­berta; (b) à direita, a criação de uma cobertura para o carro, ainda que de forma precária (Ouro
Branco do Sul, Município de Itiquira, em Mato Grosso, abril de 2005).

Després (1991) identifica quatro modelos distintos quanto às interpreta-


ções de caráter psicológico. Primeiro, a perspectiva psico-analítica, que se refere
à casa como a extensão mais importante da psique humana depois do corpo. O
desejo de agir sobre e modificar a moradia para expressar idéias e valores é inter-
pretado como uma expressão subconsciente. “A casa fornece suficientes arenas
para as atividades da vida diária, para experiências sensuais e para experiências
espirituais”. O segundo modelo está baseado na teoria da personalidade de Mas-
low. Nesta perspectiva, a casa é vista como o preenchimento de uma hierarquia
de necessidades humanas básicas importantes para o bem-estar psicológico. O
terceiro conceito teórico está na necessidade psicológica de privacidade, a casa
como refúgio. E, por fim, a quarta perspectiva teórica, que se baseia na necessi-
dade psicológica de obtenção de reconhecimento e status social.
Na psicologia social, a identidade pessoal ou o conhecimento de si mesmo
é definido em relação às entidades sociais externas. Trata-se de um conceito em
vários níveis: o eu pessoal, o eu social e o eu cósmico (DESPRÉS, 1991). Envolve
aqui uma perspectiva onde a casa exerce um papel crucial na definição da iden-
tidade pessoal das pessoas, agindo como um diálogo entre eles e a comunidade

39
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

em geral. A casa também age como um símbolo importante da identidade social


dos indivíduos. Després (1991) co­menta, inclusive, que, mesmo que as pessoas
não tenham a intenção de comunicar in­formações sobre sua posição social, esta
pode ser decodificada por outros. É o caso, por exemplo, da aparência externa
das moradias, que pode sugerir a profissão do proprietário, personalidade, estilo
de vida e status da família (Figuras 3.01 e 3.03).

Figura 3.03 - Exemplos de ampliações realizadas pelos moradores no empreendimento Nova Au-
rora, em Chapecó, Santa Catarina: (a) à esquerda, a criação de garagem e colocação de gradil na
frente; (b) à direita, construção de uma unidade para aluguel e muro (Fonte: DIGIACOMO, 2004).

Ampliações
A casa popular, tipicamente oferecida, é de pequeno porte, com pequena
área cons­truída, o que faz gerar necessidades (e/ou desejos) de ampliação. Num
primeiro mo­mento, ampliações caracterizam a maioria dos tipos de modificação
que são feitas na casas populares. A Figura 3.03 mostra casos de ampliação late-
ral que afetam a fa­chada. A Figura 3.04 mostra ampliações para a frente e a Figura
3.05, ampliações para os fundos.
Uma outra razão para ampliar e modificar, também comum, está no uso
parcial da casa para comércio (Figura 3.06) ou trabalho remunerado em casa
(home-office). O fato é que morar e trabalhar sempre foi uma opção adotada na
história do homem ao longo dos séculos, sendo um dado que não pode ser es-
quecido pelos projetistas.

Ampliações com ampla reforma


Outro comentário importante que deve ser feito e que tem relação com as
modifica­ções, diz respeito às casas que são inteiramente reformadas. Em muitos
conjuntos re­sidenciais, é comum observar casas muito ampliadas, sendo normal

40
MODIFICAÇÕES NA FASE DO USO

observar casos em que a residência é totalmente descaracterizada. Isto remete à


reflexões acerca do cunho social de alguns projetos nos quais a descaracteriza-
ção das casas se dá preco­cemente. Isto reforça o aspecto da valorização da terra
em detrimento às benfeitorias ali produzidas, beneficiando muitas vezes aqueles
que, com certeza, não necessitam de auxílio social.

Figura 3.04 - Ampliações na frente: (a) acima, à esquerda, construção de base para ampliação; (b) acima,
à direita, criação de varanda; (c) abaixo, à esquerda, construção de pavimentação (calçada); (d) abaixo, à
di­reita, criação de garagem, varanda e muro (Itiquira e Ouro Branco do Sul, abril de 2005).

Figura 3.05 - Ampliações aos fundos: (a) à esquerda, construção de área multiuso, com tan­que
de la­var, pia de cozinha e mesa para refeições; (b) à direita, preparação de alicerce (Iti­quira, Mato
Grosso, abril de 2005).

41
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

De qualquer forma, os projetos devem ser concebidos de tal forma que as


pare­des não sejam demolidas na maioria das ampliações e modificações. Para os
seg­mentos de baixa renda, qualquer demolição ou reforma com quebra, desmonte
e perda de materiais, caracteriza um enorme contra-senso. A Figura 3.07 mostra
dois exemplos de casas muito modificadas.

Figura 3.06 - Parte da casa foi destinada a funcionar como bar ou mercearia; nota-se que tam­bém
foi ampliada aos fundos (Ouro Branco do Sul, Município de Itiquira, Mato Grosso, abril de 2005).

Figura 3.07 - Casas originalmente construídas com tijolos de solo-cimento, com área inicial em torno
de 42 m2; a casa à esquerda se revela totalmente descaracterizada em relação ao pro­jeto original
(Ouro Branco do Sul, Município de Itiquira, Mato Grosso, abril de 2005).

Uniformidade versus personalização


Soen (1979) explica que é possível encontrar diferentes formas de plane-
jamento ou solução de uma mesma necessidade básica do homem em uma série
de culturas, mas, mesmo considerando apenas a cultura ocidental, muitas diferen-
ças existem. Quanto aos hábitos de comer, por exemplo, existem famílias que se
reúnem em horá­rios fixos para as refeições formais em uma sala de jantar e, há
famílias onde cada membro faz suas refeições na hora que deseja, em qualquer
hora do dia, por vezes de maneira informal na cozinha.
O morador expressará sempre o desejo de fornecer à sua residência,

42
MODIFICAÇÕES NA FASE DO USO

dentro do que é possível, uma característica individual tanto dentro como fora.
Em geral, como já comentado no Capítulo 1, existe receio natural quanto à uni-
formidade. Há precon­ceito contra a repetição e a uniformidade, a despeito de que
construir em série seja sempre válido do ponto de vista produtivo, econômico.
A Figura 3.08 mostra um exemplo desta uniformidade, uma característica típica
dos conjuntos habitacionais. A Figura 3.09, por sua vez, já apresenta exemplos onde esta
repetição é evitada. Cada casa tem sua fachada personalizada, não só em varie­dade de
tipos de revestimento e pintura, mas também pelas diferenças em esquadrias.
Um exemplo extremo do pensamento em favor da personalização e de
negação da uniformidade, é dado por Alexander (1968 apud Cowan, 1969), su-
gerindo, de forma hipotética, que as casas deveriam ter paredes fofas de grandes
espessuras, de tal forma que as famílias pudessem esculpir nichos, esculpir sua
casa de forma que a casa se tornasse muito pessoal para elas.

Figura 3.08 - Uniformidade, repetição e monotonia, características da maioria dos con­juntos


habitacio­nais populares (obra em Itiquira, Mato Grosso, abril de 2005).

Figura 3.09 - Casas personalizadas, com diferentes revestimentos, pintura, esquadrias e de­talhes
construtivos de acabamento observados na parte externa; construídas pelo sis­tema de mutirão, com
tijolos de solo-cimento (Ouro Branco do Sul, Município de Itiquira, Mato Grosso, abril de 2005).

 ALEXANDER, C. Thick wall pattern. Architectural Design, London, n.7, p.324, 1968.

43
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

A questão dos projetos experimentais em HIS


A questão dos projetos considerados alternativos ou experimentais deve
ser tratada à parte. Justamente por não serem construídos de forma convencional,
tendem a sofrer desconfiança e rejeição por parte dos moradores. Escadarias onde
não existe a veda­ção vertical (espelhos), divisórias leves, paredes de alvenaria de
tijolos ou blocos acabadas sem utilização de revestimento, uso de painéis de ve-
dação em substituição às paredes tradicionais com tijolos e argamassa, utilização
de instalações de sobre­por, não embutidas, dentre outras soluções técnicas, são
exemplos que, com freqüên­cia, levam à insatisfação com a moradia. A explicação
é muito simples: o morador desta habitação experimental deseja uma casa que,
ainda que pequena em tamanho, apresente características as mais próximas das
casas de padrão superior.
Veríssimo e Bittar (1999) relatam que a casa brasileira, desde os tempos
coloni­ais, quando o modelo familiar original era o patriarcado latifundiário, procu-
ra manter a permanência na setorização, carregando em si valores segregacio-
nistas. A casa desta burguesia brasileira que adentra o século XX, espelhava-se
nitidamente em suas con­gêneres do final do século XIX. São bem definidas as
dependências de prestígio, as áreas íntimas e os espaços de rejeição – cozinha
e quartos de empregados. Conso­lida-se a tripartição burguesa da habitação. Nas
palavras de Veríssimo e Bittar (1999, p. 26): “Em suas plantas, salas, salas, salas,
cada uma com uma linguagem estilística, para uma finalidade específica, refletin-
do tempos do ecletismo, quando o ser era de­corrência do ter”. Esta era a tônica
das casas da elite, cujos representantes eram os latifundiários da política café-
com-leite e os industriais em ascensão.
Em paralelo, a habitação urbana das classes populares, nas primeiras dé-
cadas do século XX, constituíam-se em conjuntos cariocas e paulistanos destina-
dos a uma nova população urbana formada por imigrantes ou trabalhadores rurais
atraídos por melhores oportunidades no comércio ou na indústria nascente. Eram
normalmente formados por fileiras de casas muito pequenas, às vezes constituídas
apenas de quartos, sendo freqüente a existência de um só conjunto de instalações
sanitárias e tanques de uso comum. Com a falta de moradias frente ao rápido cres-
cimento popula­cional na virada do século, estes alojamentos eram precários, pois
abrigavam famílias inteiras, na maioria dos casos. Além disso, as divisões internas
eram feitas por corti­nas, armários ou eventualmente painéis de madeira improvisa-
dos. É provável que esta imagem de precariedade associada à miséria material, re-
presente características que as casas duráveis das pessoas com algum êxito social
jamais deveriam expressar. Isso pode explicar o insucesso de propostas posteriores,
por exemplo, de utilização de painéis leves, divisão de ambientes com mobiliário,

44
MODIFICAÇÕES NA FASE DO USO

ou seja, propostas com flexibili­dade e inovações tecnológicas que comumente são


rejeitadas até os nossos dias (TRAMONTANO, 1993).
Uma proposta experimental interessante, que vale a pena ser comentada,
é a do Conjunto Habitacional Pedra 90, implantado em Cuiabá no período 1995-96.
A obra, que ao fim resultou em 367 casas, serviu para abrigar rapidamente centenas
de famí­lias desabrigadas por uma enchente no Rio Cuiabá, em 1995 (MELO, 2005).
A unidade habitacional padrão, com 32,35 m2 de área construída, compreendendo
uma sala-co­zinha, dois quartos e um módulo sanitário independente interligado pela
cobertura, foi projetada para ser executada com painéis de madeira de rejeito co-
mercial, também conhecida como madeira de aproveitamento (MELO, 2005).
Além dos problemas técnicos e patologias, as modificações espaciais
observadas evidenciaram a troca de algumas paredes em painéis de madeira por
paredes conven­cionais de alvenaria. Isto ocorreu em duas das doze casas visi-
tadas. Nesta amostra, as adaptações registradas incluíram: criação de varanda
frontal, transferência ou cria­ção de cozinha maior aos fundos, liberando o espaço
original para uso apenas como sala, criação de varanda nos fundos, conversão de
quarto em sala e vice-versa.
O Quadro 3.01 mostra uma síntese das modificações efetuadas pelos mo-
radores, em oito casas. A Figura 3.10 mostra um dos casos onde as paredes de
alvenaria fo­ram erguidas em mais de 1,25 m. No projeto original, o restante seria
completado com painéis de madeira pré-fabricados chegando a uma altura final de
2,40 m (MELO, 2005). Este tipo de mudança ocorreu nas casas 1, 2, 9 e 12, como
mostra o Quadro 3.01. A Figura 3.10 mostra ainda uma instalação sanitária feita pelo
morador. Obvia­mente, quando há mudanças espaciais que envolvem as chamadas
áreas molhadas, há conseqüentemente alterações nas instalações. Esquadrias tam-
bém foram bastante modificadas e também substituídas (v. Quadro 3.01).
Nos projetos experimentais, como é o caso das unidades do Conjunto
Habitacio­nal Pedra 90, as mudanças ocorrem não somente pela rejeição e des-
confiança com relação ao novo sistema construtivo e seus componentes alter-
nativos, mas também pela falta de condições para dar manutenção, sobretudo
pela dificuldade de produzir peças idênticas às originais. Pode-se afirmar, com
segurança, que também ocorre a falta de interesse nesta manutenção, até porque
alguns sistemas construtivos tradi­cionais são de fácil adoção e baixo custo, como
é o caso da alvenaria convencional.
Outro exemplo de não aceitação de projetos inovadores por parte dos usuários
está no fechamento do painel de ventilação, como mostrado à Figura 3.11. A solução
téc­nico-construtiva que visa melhorar as condições de conforto térmico é, nesse caso,
totalmente perdida. Muito provavelmente, o morador desconhecia a utilidade do painel,
tendo outras razões para a vedação (no caso, a prevenção de poeira).

45
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

Quadro 3.01 – Síntese das modificações arquitetônico-espaciais efetuadas pelos moradores em oito
casas do Conjunto Habitacional Pedra 90, em Cuiabá (Fonte: MELO, 2005).
Casa Aumento Substituição de Modificação nas Substituição das Módulo
painéis por esquadrias esquadrias sanitário
alvenaria
para frente, somente em alvenaria
1
cobertura
para trás, em 3 janelas e 2 em alvenaria
2
alvenaria portas
para trás, somente 2 janelas e 1 porta
3
cobertura
para trás, somente 1 janela e 1 porta
5
cobertura
para frente, somente 2 portas
8
cobertura
para trás, somente 1 porta em alvenaria
9
cobertura
da frente e do 2 portas
10
fundo
para trás, em parede da lateral 3 portas e 3 em alvenaria
12
alvenaria esquerda janelas

Figura 3.10 - Conjunto Habitacional Pedra 90, em Cuiabá: (a) à esquerda, módulo sanitário todo em
alvenaria; (b) à direita, instalação feita pelo morador (Fonte: MELO, 2005, p.39).

Figura 3.11 - Painel de ventilação superior, em casas avaliadas do Conjunto Habitacional Pedra 90,
em Cuiabá (a) conforme o projeto original; (b) fechado pelo morador (Fonte: MELO, 2005, p.60).

46
MODIFICAÇÕES NA FASE DO USO

ANÁLISE DE PROJETOS TÍPICOS


Uma planta simples normalmente é interpretada como sendo quadrada ou
quase qua­drada. Além disso, há questões como o posicionamento de banheiros, es-
quadrias e forma da cobertura, que trazem dificuldades para as adaptações e amplia-
ções. De modo geral, a intenção maior de governantes, órgãos promotores e cons-
trutores, é imediatista. É reduzida à entrega, ao custo (de construção, apenas), às
estatísticas relacionadas ao déficit habitacional e aos dividendos políticos decorrentes.
Resultam desta postura enviesada, casas arquitetonicamente engessadas, rígidas no
que se refere à possibilidade de modificar. Este modelo é reforçado ainda pela propo-
sição de sistemas construtivos inovadores, mas que muitas vezes são fechados. Os
projetos tí­picos são propostos, quase sempre, para não serem modificados.

Geometria da planta
Tomando a Figura 3.12, na qual observa-se que a planta original é exatamente
qua­drada, dois casos de ampliação espontânea são apresentados. Na primeira casa,
o morador cria dois quartos em terreno lateral, além da ampliação feita nos fundos.
Nota-se que a solução só se viabiliza utilizando um dos quartos originais como circu­
lação de acesso aos novos cômodos. Na segunda residência, um dormitório extra foi
criado aos fundos, além de varandas na frente e nos fundos. É visível que a planta
qua­drada, associada ao formato do telhado (Figura 3.13), prejudicou, neste caso, a
possi­bilidade de criar plantas de ampliação melhores e mais facilitadas.

Cobertura
É na cobertura que as ampliações espontâneas realizadas em projetos en-
gessados mostram o que talvez seja o pior resultado: a falta de harmonia estético-
arquitetônica dos telhados, sem solução de continuidade e com mescla de materiais
diferentes. A Figura 3.13 mostra dois exemplos típicos de ampliação. A questão que
melhor se coloca aqui é: como responsabilizar o usuário por adaptações e amplia-
ções de geometria e estética ruim, se o próprio projeto original não contempla a
abertura para intervenções posteriores adequadas e interessantes?

Posicionamento do banheiro
Com freqüência, o banheiro é projetado em local central e aos fundos da
casa, como mostra a Figura 3.12. Esta configuração acaba por reduzir as possibi-
lidades de ampli­ação da casa para os fundos. Varandas são criadas, mas podem
reduzir a ventilação e a iluminação natural. Odores provenientes deste banheiro cen-
tralizado acabam sendo transmitidos ao novo ambiente que, tipicamente, costuma
ser uma nova copa-cozinha. A rigor, neste caso, a solução tecnicamente mais cor-

47
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

reta seria a criação de um pe­queno jardim de inverno ou duto de ventilação, saídas


que raramente seriam pensa­das nas ampliações mais corriqueiras.

a b
Figura 3.12 - Ampliações espontâneas realizadas por usuários de casas construídas em solo-cimen-
to, Conjunto Habitacional Arco Íris II, Itiquira, Mato Grosso: (a) criação de dois dormitórios adicionais,
com acesso através de um dos dormitórios originais; criação de uma varanda com lavanderia aos
fundos, e uma área descoberta, de função indefinida; (b) criação de área de serviço multiuso e dor-
mitório aos fundos (Fontes: DADAM; BRANDÃO, 2005b e DADAM, 2006).

Figura 3.13 - Exemplos de ampliações: (a) à esquerda, a criação de dois quartos em toda a exten-
são lateral da casa; (b) à direita, a criação de quarto adicional aos fun­dos (corresponde, respectiva-
mente, às plantas da Figura 3.12).

48
MODIFICAÇÕES NA FASE DO USO

Posição de esquadrias
Os banheiros poderiam se situar aos fundos da planta desde que tivessem
sua janela voltada para o corredor lateral ou outro espaço para o qual existe a
certeza que não receberá ampliação futura. Na Figura 3.12.b observa-se que a
janela original do quarto ao lado do banheiro foi transferida para a parede lateral,
permitindo a criação do dormitório adicional aos fundos. As esquadrias, quando
mal posicionadas inicialmente, dificultam as ampliações, gerando mais trabalho e
custos que poderiam ser evitados.

A cozinha
Devido a limitação de área, as cozinhas são normalmente pequenas, não
permitindo funcionar também como copa. Esta função acaba sendo acumulada pela
sala de estar que também não comporta bem a mesa com cadeiras. Conclusão:
há casos em que criar um espaço amplo e único, multiuso, unindo sala, cozinha e
refeições, acaba for­necendo um resultado melhor.
Observações realizadas por meio de avaliações pós-ocupação mostram
que mui­tas das ampliações aos fundos são feitas para funcionar como nova cozinha
(às vezes, como uma segunda cozinha), com maior espaço para refeições. Outra
constatação é que grande parte das famílias de conjuntos mais carentes não possui
fogão, geladeira, ar­mários e mesa de refeições com dimensões adequadas a uma
residência pequena. É freqüente que estes móveis (inclusive os de outros cômodos
da casa) serem maiores devido à forma com que foram originados: trazidos de re-
sidências anteriores, recebi­dos por meio de doação ou adquiridos no comércio de
móveis usados. É comum veri­ficar a existência de fogões de 6 bocas fora do local
menor originalmente previsto pelo projetista para um fogão de 4 bocas.

Posicionamento do tanque de lavar


Na maioria dos projetos o tanque é externo e a responsabilidade pela co-
bertura da área de serviço é do usuário, após a ocupação (ver Figura 3.14). Duas
questões cabem: 1. haveria grande aumento de custo prover a cobertura deste
local desde o início? 2. uma vez que a cobertura fica por conta do usuário, por que
os projetos não mostram com cla­reza como esta solução poderá se concretizar,
mantendo a harmonia do conjunto?

Posição da casa em relação ao terreno


Nem sempre a posição da casa no terreno privilegia um número maior de
ampliações. Cada caso deve ser estudado, mas, de modo geral, a edificação deve

49
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

ficar afastada o mínimo possível de uma das divisas laterais, permitindo espaços
ampliáveis no outro lado. Outra situação comum está em posicionar a casa muito
à frente, limitando as possibi­lidades de ampliação frontais: nova sala, quarto adi-
cional, garagem, etc.

Figura 3.14 - Empreendi­mento Nova Aurora, em Cha­pecó, Santa Catarina: tanque de lavar loca-
lizado em área descoberta, situação corri­queira nos projetos originais das habitações popula­res
unifamiliares no Brasil (Fonte: DIGIACOMO, 2004).

50
DIRETRIZES PARA PROJETOS 4
Este capítulo compreende o manual propriamente dito, ou seja, o con­junto
de disposições técnicas e diretrizes para projetos de habitação de interesse social
unifamiliares. Com base na literatura especializada e na expe­riência do autor com
o tema, incluindo resultados de avaliações pós-ocupação, foram definidas trinta
e uma recomendações técnicas que po­derão ser consideradas por projetistas,
visando moradias adaptáveis e evolutivas. O capítulo inicia com a relação das
condições essenciais para a qualidade da habitação. Em seguida são apresen-
tadas as diretri­zes, organizadas conforme os seguintes itens: 1. arranjo espacial
quanto à forma e dimensão dos cômodos; 2. arranjo espacial quanto ao sentido
de expansão da moradia; 3. esquadrias e aberturas; 4. cobertura; 5. es­trutura; 6.
instalações; 7. divisão de ambientes e mobiliário; 8. terreno e tipologias; e, 9. apoio
ao usuário. Ao final, a questão do custo da flexibi­lidade é brevemente discutida
sob os pontos de vista de custo de cons­trução e custo global da habitação.

CONDIÇÕES ESSENCIAIS PARA A QUALIDADE

A habitação de interesse social é um elemento básico que constitui um “mí-


nimo social” que habilita os indivíduos e grupos sociais a fazerem outras escolhas
ou desenvolver as suas capacidades (DIGIACOMO, 2004). Para que a moradia
tenha esta função social tem que ser de qualidade. Afinal, é o lugar determinado
como estruturante do desen­volvimento psicossocial de indivíduos, e como tal tem
que cumprir suas funções ofere­cendo máxima qualidade do morar aos seus habi-
tantes. Qualidade se manifesta atra­vés de atributos físicos e psicológicos, sendo
os seguintes itens considerados por Digiacomo (2004) como essenciais:

1. Habitabilidade: caracteriza-se por conforto ambiental (higro-térmico,


acústico, vi­sual, tátil e mecânico), pela qualidade do ar, por sua estan-
queidade e salubri­dade;

2. Segurança: estrutural, contra incêndio e contra a intrusão;

3. Adequação espaço-funcional: espaços funcionais e dimensionados


com capaci­dade para cumprir suas funções;

4. Articulação: espaços que permitam tanto o convívio como a privacida-


de de seus usu­ários;

51
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

5. Personalização: espaços que permitam a sua apropriação e adaptação;

6. Estética: a moradia tem que ser atraente tanto interna como externa-
mente. Deve es­tar integrada no seu entorno;

7. Economia: otimização dos recursos necessários para alcançar os ítens


de quali­dade.

A moradia ideal

A moradia ideal, de acordo com Digiacomo (2004), é aquela que: 1. a


superfície e a distri­buição de peças sejam adequadas para que a vida da família
possa nelas se arti­cular como se deseja; e, 2. a família possa encontrar ou instalar
na habitação os equi­pamentos e os móveis necessários ao seu modo de vida.

Na realidade, para cada situação particular, os projetistas devem prever o


número de ambientes, tipologia, forma do lote, implantação da unidade e quan-
tidade de pavi­mentos do programa mínimo. Mas este deve ser suficiente para
que seus ocupantes se instalem com dignidade e façam as ampliações de forma
simples e racional quando for chegado o momento.

É imprescindível que as variações de ampliações possam ocorrer sem


que ne­nhuma das paredes com instalações, que têm custo maior de construção,
tenham que sofrer intervenções. Para que isto ocorra deve-se recorrer à utilização
de estratégias de projeto flexível que permitam que as futuras intervenções na
habitação sejam efe­tuadas de modo que só haja incremento da qualidade.

DISPOSIÇÕES TÉCNICAS E DIRETRIZES DE PROJETO


A seguir são apresentadas 31 diretrizes que foram organizadas com rela-
ção ao arranjo espacial, esquadrias e aberturas, cobertura, estrutura, instalações,
divisão de ambientes, mobiliário, posição da casa no terreno, tipologias e, por fim,
apoio ao usuário. Estas disposições técnicas e diretrizes para projetos de moradias
populares unifamiliares foram levantadas a partir de extensa pesquisa bibliográfica,
além da experiência prática do autor.

 Especificamente no caso de habitação unifamiliar, o trabalho de Digiacomo (2004) é um dos mais completos em
termos de estratégias para o projeto de moradias sociais evolutivas, com a proposição de dezesseis diretrizes.
Para aprofundamento no assunto, são também sugeridas as seguintes fontes: Rabeneck et al. (1974), Albers et
al. (1989), Bauwens e Campbell (1999), Friedman (1997 e 2002), Brandão (1997 e 2002) e Moschen (2003).

52
DIRETRIZES PARA PROJETOS

Arranjo espacial quanto à forma e dimensão dos cômodos

D.1 Prover cômodos neutros e sem extremos de tamanho.


Uma das es­tratégias da flexibilidade está em criar ambientes parecidos, similares,
ou mesmo equi­valentes, em forma e tamanho, sem uma função pré-determinada. A
Figura 4.01 mostra um exemplo de adoção da neutralidade no projeto.

Figura 4.01 - Vila Operária, Rio de Janeiro, anos 40:


(a) acima, planta do conjunto mostrando a neutrali­dade
dos cômodos; (b) à esquerda, foto do conjunto (Fonte:
CAVALCANTI, 2001)

D.2 Prover cômodos ou ambientes multiuso. Enquanto a multi-


funcionalidade proposta no item anterior pode ser desconhecida, a previsão de cômo-
dos multiuso, com agregação (ou sobreposição) de funções pode ser determinada no
projeto. Na moradia social, a solução de criar um ambiente único embrionário, unindo
cozinha e estar, é uma estratégia comum, permitindo o uso do espaço com maior liber-
dade. Trata-se de uma estratégia comumente adotada em apartamentos compactos
de qual­quer classe social (BRANDÃO, 2003) e nas residências onde esta integração é
dese­jada, como, por exemplo, o espaço family room nas casas americanas.

D.3 Prever a possibilidade de nova posição de porta no ba-


nheiro. Pelo menos em mais uma parede do banheiro é interessante que haja a
possibilidade de se criar uma outra porta (fechando ou não a primeira porta), nos
casos em que o banheiro comum venha a ser transformado em banheiro de suíte

53
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

(BRANDÃO, 2002). A adoção de duas portas para um mesmo cômodo, apesar de


configurar superprovisão, permite a multi­funcionalidade do respectivo espaço.

D.4 Prever, se possível, espaço de refeições maior nas co-


zinhas. Apesar de ser uma diretriz difícil de ser obtida, dada a exigüidade dos
espaços, a mesma deve ser perseguida pelos projetistas. Uma copa-cozinha mais
ampla não serve ape­nas para estocar, preparar, cozinhar os alimentos e realizar as
refeições. Uma cozinha mais ampla é um espaço de vivência onde muitas outras
funções são realizadas. Albers e outros (1989) apresentam uma extensa lista de
atividades que inclui estudar, consertar coisas, passar roupa, receber visitas, etc.

D.5 ESTUDAR A OPÇÃO DE USAR OU NÃO corredores dentro


da unidade. Uma pequena circulação normalmente é prevista para a conexão
dos quartos e do ba­nheiro, aumentando um pouco a privacidade destes cômodos.
Um pequeno corredor pode ser usado como forma de induzir as ampliações. Por
outro lado, a não utilização de circulações traz economia e pode deixar a planta
mais livre para criação de novos cômodos em várias direções. O projetista deve
fazer a opção em cada projeto.

Arranjo espacial quanto ao sentido de expansão da moradia

D.6 Deixar claro o sentido de expansão da moradia. Digia-


como (2004) alerta quanto a evitar o conhecido “puxadinho”, que pode deixar os
fluxos de circula­ção complicados e atrapalhar a luz e o ar natural na parte original
da casa (como os exemplos das figuras 3.12 e 3.13, do capítulo anterior). Na opi-
nião deste mesmo au­tor, o projeto deve induzir a expansão apenas para os lados
que não afetem negati­vamente, nem a edificação original, nem seus vizinhos. A
habitabilidade da construção original de nenhuma forma deve ser comprometida.
Conforme recomenda Digiacomo (2004), para se determinar o sentido da am-
pliação deve-se limitar o número de fachadas livres para serem ampliadas. Há, no entan-
to, projetos de casa-embrião concebidos para receber ampliações em todas as direções,
como é o caso, por exemplo, da proposta apresentada à Figura 4.02.
O mais importante é que estes sentidos de expansão da moradia sejam
bastante visí­veis ao usuário. Digiacomo (2004) distingue projetos cujo sentido das
ampliações pode ser: para os fundos, para as laterais e para cima. A Figura 4.03
mostra um exemplo em que as expansões são planejadas nos fundos. A “Casa
1.0” proposta pela Associação Brasileira de Cimento Portland (Figura 4.04) é tam-
bém um exemplo inte­ressante de expansão para os fundos.

54
DIRETRIZES PARA PROJETOS

Figura 4.02 - “Projeto XIV”, uma das propostas iniciais estudadas para o Projeto Moradia, Programa Habi-
tare, em Mato Grosso: (a) à esquerda, o arranjo do embrião composto por sala, cozinha, banheiro e serviço
externo descoberto, com as indicações dos vários sentidos de ex­pansão (vide Anexo X); (b) oito alternativas
para acréscimo dos dois primeiros dormitórios da casa (Fonte: RODRIGUES; BRANDÃO, 2005).

Figura 4.03 - Casa de dois pisos, Vila Flora, mostrando uma seqüência de ampliações em duas
etapas: na primeira, a criação de uma copa integrada à cozinha; na segunda, a criação de uma
despensa (Fonte: www.rossiresidencial.com.br, v. DIGIACOMO, 2004).

55
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

Figura 4.04 - “Casa 1.0”, versão gemi­nada


com duas opções de cobertura, uma das
propos­tas da Associa­ção Brasileira de Ci-
mento Portland (ABCP) para construção
em alvenaria es­trutural com blocos de con-
creto: (a) planta-embrião; (b) primeira etapa
de ampliação, acrescentando dois dormitó­
rios; (c) segunda etapa de am­pliação,
acrescentando o terceiro dor­mitório (Fonte:
ABCP, 2002).
c

O Sistema Stella, protótipo construído no campus da Universidade Federal


de Santa Catarina, utilizando madeira de reflorestamento (Figura 4.05), já caracte-
riza, por sua vez, uma planta com fachada mais estreita e com maior profundidade.
Neste caso, a expansão lateral é a opção natural. Um outro projeto que vale a pena
destacar é o conjunto popular com ca­sas geminadas duas a duas na cidade de Co-
tia, São Paulo (Figura 4.06). A possibilidade de expan­são da casa, neste caso, já se
dá na parte superior, onde há um espaço livre de re­serva já coberto.

56
DIRETRIZES PARA PROJETOS

Figura 4.05 - Sistema Stella, protótipo construído no campus da Universidade Federal de Santa
Catarina, com área de 47 m2, utilizando madeira de reflorestamento: (a) acima, vistas que mostram a
opção de casas geminadas; (b) as plantas destacam a possibilidade de amplia­ção no sentido lateral.
(Fonte: SZÜCS et al., 2004).

57
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

Fonte: www.arcoweb.com.br/arquitetura/arquitetura370.asp#, acesso em 2003.

Figura 4.06 - Conjunto popular com casas geminadas duas a duas na cidade de Cotia, São Paulo,
projeto de Joan Villà e Silvia Chile: (a) o térreo compreende sala, cozinha e área de ser­viço; (b) no
primeiro pavimento há dois quartos e o banheiro; (c) uma escada externa liga o primeiro pavimento
ao terraço superior coberto, que funciona como área de expansão.

D.7 Prever ampliação para uma garagem ou espaço de tra-


balho. Em pra­ticamente todas as avaliações pós-ocupação de que se tem in-
formação, a criação de garagem e espaço de trabalho constituem modificações
registradas com grande freqüência. A reserva de um espaço para abrigar pelo
menos um automóvel e um espaço produtivo é obrigatória, lembrando que neste
segundo, uma acesso independente é importante.
D.8 posicionar o banheiro em local estratégico. Como visto
na Figura 3.12 do capítulo anterior, a posição do banheiro não pode ser centra-
lizada na planta, com janela voltada para os fundos, sob pena de dificultar as
possibilidades de ampliação. Recomenda-se que o banheiro seja posicionado em
uma das laterais da casa, de preferência na lateral onde não haverá ampliação. Se
o banheiro ficar aos fundos, o importante é que a janela do mesmo fique também
voltada para a lateral.

Esquadrias e aberturas
D.9 Posicionar estrategicamente a esquadria de cada cô-
modo. Como comentado na diretriz anterior, a posição da esquadria de cada
cômodo deve ser posi­cionada de tal forma a não ter que ser transferida no caso de

58
DIRETRIZES PARA PROJETOS

ampliações. Evita-se, assim, o que ocor­reu na modificação apresentada à Figura


3.12, na qual a janela do quarto teve que ser reposicionada, da parede dos fundos
para a parede lateral. É também muito racional colocar as janelas em locais onde
está planejada a colocação de futuras portas, apro­veitando assim a verga existen-
te e reaproveitando a esquadria no novo cômodo cri­ado.
D.10 Evitar variações no tamanho das janelas. Para obter
mais flexibilidade, deve-se evitar expressões de funcionalidade das peças nas pa-
redes externas, assim como, extremas variações nos tamanhos das janelas (RA-
BENECK et al., 1974). Uma só janela grande em um cômodo que provavelmente
será dividido pode trazer o inconve­niente da remoção e/ou reposicionamento da
mesma. Duas janelas menores e iguais evitariam este incômodo e custo extra no
momento da divisão do ambiente.
D.11 Prever comunicações adicionais entre os cômodos.
Cômodos com mais de uma porta podem assumir mais funções, ou seja, tornam-
se multifuncionais. A reversibilidade por meio de portas adicionais, criando circula-
ção em ciclos, não cons­titui uma tendência nos projetos brasileiros, mas, apesar
disso, e também do fato de adicionar uma esquadria adicional à casa, trata-se de
uma forte estratégia de flexibili­dade.
D.12 Adotar porta adicional ou sistemática de painel-ja-
nela. Portas ex­tras metálicas com vidro basculante podem ser colocadas em
posições estratégicas da planta, mostrando de forma muito clara o sentido de
expansão da casa. Tais portas podem ser usadas sempre fechadas, funcionando
muito mais como janela, e removi­das (ou não) quando a ampliação for realizada.
Alguns sistemas construtivos podem prever painéis-janela com a mesma finalida-
de. Além de induzir e mostrar o sentido das expansões, como pode ser visto nas
figuras 4.02, 4.04 e 4.05, estas portas ou painéis-janelas provisórios com vergas,
facilitam as modificações, evitando quebras desne­cessárias que podem danificar
as paredes próximas. É uma solução importante quando se trata, principalmente,
de sistemas com alvenaria estrutural.

Cobertura

D.13 Definir a altura da cumeeira, adequada às ampliações.


O desenho do telhado original é imprescindível na habitação evolutiva. Este es-
tudo deve ser feito no momento da concepção do projeto-embrião, simulando as
ampliações mais prováveis de ocorrer, sobretudo aquelas cujo sentido de expan-
são é claramente definido. Neste caso, a cumeeira da casa embrião deve ser mais
alta do que o que normalmente se costuma observar (Figura 4.07).

59
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

Figura 4.07 - Casa em fase de construção


em Videira, Santa Catarina: o telhado origi­
nal foi modificado a pedido dos proprietá­rios
com a intenção de ampliação futura (Fonte:
DIGIACOMO, 2004).

D.14 Permitir a criação de novas águas sem afetar a fun-


cionalidade. As águas dos novos espaços não podem afetar as condições de
habitabilidade e funcio­nalidade da construção inicial. Os projetos com flexibilidade
planejada devem evitar a redução da iluminação e ventilação da parte embrioná-
ria, além de apresentar concor­dância geométrica e qualidade estética ao final da
ampliação. A Figura 3.13 do capí­tulo anterior mostra duas casas nas quais as am-
pliações promovidas pelo usuário, executadas sem qualquer orientação técnica,
resultaram em um conjunto final muito precário sob o ponto de vista de estética e
qualidade arquitetônica.
A solução da cobertura da parte ampliada proposta na Figura 4.08 é
também bas­tante questionável. A diferença de declividades pode dificultar o es-
coamento eficiente das águas de chuva, podendo gerar infiltrações e outras pa-
tologias. Além disso, a di­ferença dos tipos de telha geralmente não fornece um
resultado estético satisfatório.

Figura 4.08 - Casa de dois


pisos, Vila Flora: corte mos-
trando a solu­ção adotada para
ade­quar a cobertura da parte
ampliada.
Fonte: www.rossiresidencial.com.br (v. DIGIACOMO, 2004).

60
DIRETRIZES PARA PROJETOS

Para manter a qualidade da ventilação e da iluminação do espaço-embrião


uma al­ternativa está na elevação do pé-direito deste espaço que acabará se tor-
nando cen­tral ao fim das ampliações. Esquadrias altas e utilização de lanternins
complementam a solução como mostra o exemplo proposto na Figura 4.09. No “Pro-
jeto XIV”, apre­sentado à Figura 4.02 (e também no Anexo X), o espaço-embrião,
composto por sala, cozinha e banheiro, também apresenta a cobertura mais elevada
com iluminação e ventilação superior, adequada ao clima de regiões tropicais.

Figura 4.09 – Projeto “Hab[A]”, unidade habitacional de baixo custo sob a ótica da flexibilidade, do
Núcleo de Projetos do Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, São Paulo: na área cor-
respondente à torre central estão cozinha, banheiro e área de serviço; os demais es­paços ao redor,
em formato de U, constituem a parte livre ou flexível (Fonte: VILLA; SILVA, 2005).

Estrutura
D.15 Separar, se possível, estrutura e vedações. A não ser
que a edifica­ção seja em alvenaria estrutural, a separação entre estrutura e fe-
chamentos internos permite maior liberdade para as adaptações. Neste caso, a
utilização de sistemas de vedação leves torna-se possível.

61
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

D.16 Preparar a estrutura para receber um ou mais pa-


vimentos. Em áreas de maior densidade populacional, o uso de pavimentos
superiores torna-se jus­tificável. Embora haja um custo adicional para prover o
térreo do reforço estrutural ne­cessário, as obras futuras ficam facilitadas, evitando
o desconforto de executar tais reforços no interior da parte original já habitada.
D.17 Preparar a estrutura para receber escadas. Se a es-
cada não for executada de início, deve-se prever ao menos as vigas de apoio
na laje, deixando-se o vazio correspondente à projeção da escada. Mesmo os
espaços para escada­rias externas devem ser reservados ainda na etapa de con-
cepção da residência-embrião. A opção de escadaria externa, independente, pode
ser interessante quando da criação de cômodos extras para aluguel ou espaço de
trabalho (escritório, ate­lier, etc.).

Instalações

D.18 Dimensionar tubulações de água prevendo aumento


de vazão. O projeto hidráulico deve prever as possibilidades de ampliação, si-
mulando a criação de pelo menos mais um banheiro. O cálculo levar em conside-
ração a vazão futura.
D.19 Prever paredes hidráulicas permanentes. A parede hi-
dráulica, nor­mal­mente utilizada por questões econômicas em moradias populares,
representa custo considerável da obra. Sua localização, portanto, deve ser pla­nejada
de tal forma que não venha a ser demolida quando houver qualquer adaptação/am-
pliação futura. Digia­como (2004) defende que os ambientes relacionados à parede
hidráulica, as cozinhas e ba­nheiros, devem ter di­mensões satisfatórias de modo que
seu uso seja confortável para muitos anos, sem necessidade de intervenções.
D.20 Localizar adequadamente fossa e sumidouro. Estes
equipamentos sa­nitários devem ficar localizados de tal modo que não sejam co-
bertos pelos novos es­paços construídos. Recomenda-se deixá-los próximos da
divisa frontal do terreno, em áreas de afastamento obrigatório.
D.21 Dimensionar tubulação da fiação para novos circui-
tos. Recomenda-se estabelecer diâmetros de tubulação que permitam a intro-
dução de fiação adicional, visando o acréscimo de novos circuitos. A previsão de
eletrodutos adicionais vazios pode ser outra alternativa. Assim como no caso do
dimensionamento da vazão de água, a carga futura deve ser estimada. No caso
 Na prática, o espaço produtivo costuma ficar no piso térreo, deixando a parte residencial nos pi­sos superiores,
como pode ser visto nos projetos sociais canadenses propostos por Friedman (1997, 2002). Mas, no caso da HIS
unifamiliar evolutiva da qual falamos, a parte superior, normalmente, só virá a ser cons­truída em etapa posterior.

62
DIRETRIZES PARA PROJETOS

de se adotar a estratégia de jun­ção e des­membramento da habitação, deve-se


prever meios de inserir novo quadro de energia, medidores em separado, dentre
outras medidas a serem pensadas no momento do projeto.
D.22 Evitar luminárias centrais. Rabeneck et al. (1974) propõem
evitar luminá­rias centrais e outros condicionantes de determinação do espaço.
Esta recomendação vale para os ambientes planejados para serem divididos, de
tal forma que, se houver laje de forro, a adoção de arandelas, ao invés de luminá-
rias de teto, pode ser uma al­ternativa prática.
D.23 Localizar interruptores e tomadas em pontos adequa-
dos. Além de um projeto corretamente dimensionado, é preciso prever as modifica-
ções e amplia­ções mais prováveis de ocorrer, de tal forma a decidir sobre a posição de
interruptores e tomadas. O projeto deve, pelo menos, evitar muitas dificuldades e alte-
rações das lo­calizações inicialmente definidas destes pontos. Esta diretriz, assim como
as demais, objetiva adap­tações facilitadas e não reformas, com perda de materiais.
D.24 Acrescentar pia de lavar extra fora do banheiro. Uma
pia extra lo­calizada em um nicho de parede ou pequeno hall junto à entrada do
banheiro, repre­senta, sem nenhuma dúvida, um custo adicional. Todavia, é um
componente que pro­picia utilidade e funcionalidade para as famílias, dado que
apenas um banheiro cos­tuma existir na casa-embrião. Em muitos países, o ba-
nheiro costuma ser dividido em dois módulos independentes: um para banho e
outro para o vaso sanitário, possibilitando versatilidade de uso.

Divisão de ambientes e mobiliário


D.25 Utilizar divisórias desmontáveis e/ou móveis. As divisó-
rias desmontá­veis e/ou móveis são excelentes agentes de integração e separação
de ambientes. Galfertti (1997) apresenta vários mecanismos deste tipo, em uma
extensa série de ca­sos experimentais. A Figura 4.10 mostra um exemplo no qual
a divisória está entre a copa-cozinha e a sala de estar que também funciona como
quarto. Com a ampliação, a divisória é desmontada e recolocada em outra posição
na casa. O Anexo VI mostra um exemplo similar. Mas deve-se ressaltar que, mes-
mo nos casos em que a área da habitação permanece a mesma, esta estratégia
pode ser explorada, permitindo que os arranjos possam ser modificados.
D.26 Evitar excesso de móveis fixos. O uso de móveis fixos, fei-
tos de madeira, alvenaria ou concreto, pode ser uma alternativa para prover mo-
biliário de baixo custo. No entanto, uma vez que retiram a liberdade do usuário de
organizar seus espaços, devem ser pouco usados, podendo se limitar a alguma
estante, armário embutido ou balcão para separar a cozinha da sala de estar, em
locais que dificilmente venham a ser mo­dificados no futuro.

63
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

Figura 4.10 - Habitação em madeira, modulada e ampliável, com a estratégia de divisórias desmon-
táveis (Fonte: OLIVEIRA, 2003).

D.27 Utilizar móveis para dividir ambientes. Trata-se de uma


estratégia que possibilita integrar e isolar a qualquer tempo, sem depender de
construção. Mas não deve passar a imagem de improvisação ao dividir ambientes,
daí, é importante utilizar móveis que apresentem acabamento dos dois lados. O
uso de estantes vazadas é uma dentre inúmeras alternativas possíveis.

Terreno e tipologias
D.28 Prever afastamento que permita ampliar para a fren-
te. Não é ne­cessário implantar a casa usando o menor recuo permitido. Ou seja,
a casa não pre­cisa ser construída muito à frente do terreno, permitindo, assim,
plane­jar ampliações futuras como garagem, varanda, nova sala, espaço produtivo,
etc., e ainda manter um jardim.
D.29 Adotar terrenos mais largos, se possível. Sempre que
possível, adotar lotes mais largos e menos profundos. Segundo Szücs et al. (2000)
e Friedman (2002), os terrenos mais largos são mais indicados para as propostas
de habitação flexível. Nestes lotes, a casa pode apresentar melhor circulação de
ar e maior exposição de luz nas fachadas, como ex­plica Digiacomo (2004). É fácil
verificar que as casas podem ser ampliadas em vários sentidos nos lotes mais

64
DIRETRIZES PARA PROJETOS

largos. O principal entrave está mesmo no custo maior da in­fra-estrutura que esta
forma de urbanização promove, normalmente inviabilizando a idéia.
Uma alternativa em lotes mais largos poderia ser a geminação das casas,
duas a duas (figuras 4.04 e 4.11), o que minimizaria os custos de infra-estrutura
(SZÜCS et al., 2000). Já Digiacomo (2004) lembra que outras tipologias, como a
casa agrupada, a casa geminada em fita e a casa-pátio, também proporcionam
projetos fle­xíveis de forma satisfatória.
Enfim, cabe ao projetista determinar para cada situação, qual a tipologia
mais ade­quada.Independente do formato do lote e da tipologia, o importante é que
a habitação de interesse social possa ser ampliada de modo que a sua habitabili-
dade, nem a dos vizi­nhos, seja afetada negativamente.

Figura 4.11 – Uma das propostas de casas geminadas da Associação Brasileira de Cimento Por-
tland: perspectiva frontal e arranjo espacial (Fonte: ABCP, 2002).

Apoio ao usuário
D.30 Fornecer projetos de opções de possíveis amplia-
ções. Mesmo que estejam claros os sentidos de expansão da moradia, ou seja,
que as ampliações e adaptações venham a ser induzidas no espaço-embrião por vá-
rias das estratégias aqui apresentadas, ainda assim, é imprescindível que o usuário
receba um conjunto de projetos com as ampliações possíveis de serem executadas
após a entrega da casa. Esta é uma forma de assessoramento técnico para as famí-
lias mais carentes, que não podem contratar um arquiteto ou engenheiro.
D.31 Criar manual do usuário da habitação. Além das possibili-
dades de am­pliação, o manual do usuário da habitação deve conter os projetos e
especificações técnicas da construção e recomendações para manutenção, princi-
palmente. Deve apresentar linguagem clara e objetiva e enfatizar as ilustrações.

65
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

SÍNTESE DAS DIRETRIZES


Quadro 4.01 – Síntese das disposições técnicas e diretrizes para projeto de habitações flexíveis
1. Prover cômodos neutros e sem extremos de tamanho;
Arranjo espacial
2. Prover cômodos ou ambientes multiuso;
quanto à forma e
3. Prever a possibilidade de nova posição de porta no banheiro;
dimensão dos
4. Prever, se possível, espaço de refeições maior nas cozinhas;
cômodos
5. Estudar a opção de usar ou não corredores dentro da unidade;
Arranjo espacial 6. Deixar claro o sentido de expansão da moradia;
quanto ao sentido 7. Prever ampliação para uma garagem ou espaço de trabalho;
de expansão 8. Posicionar o banheiro em local estratégico;
9. Posicionar estrategicamente a esquadria de cada cômodo;
Esquadrias e 10. Evitar variações no tamanho das janelas;
aberturas 11. Prever comunicações adicionais entre os cômodos;
12. Adotar porta adicional ou sistemática de painel-janela;
13. Definir a altura da cumeeira, adequada às ampliações;
Cobertura
14. Permitir a criação de novas águas sem afetar a funcionalidade;
15. Separar, se possível, estrutura e vedações;
Estrutura 16. Preparar a estrutura para receber um ou mais pavimentos;
17. Preparar a estrutura para receber escadas (expansão vertical);
18. Dimensionar tubulações de água prevendo aumento de vazão;
19. Prever paredes hidráulicas permanentes;
20. Localizar adequadamente fossa e sumidouro;
Instalações 21. Dimensionar tubulação da fiação para inserção de novos circuitos;
22. Evitar luminárias centrais;
23. Localizar interruptores e tomadas em pontos adequados;
24. Acrescentar pia de lavar extra fora do banheiro;
Divisão de 25. Utilizar divisórias desmontáveis e/ou móveis;
ambientes e 26. Evitar excesso de móveis fixos;
mobiliário 27. Utilizar móveis para dividir ambientes;
Terreno e 28. Prever afastamento que permita ampliar para a frente;
tipologias 29. Adotar terrenos mais largos, se possível;
30. Fornecer projetos de opções de possíveis ampliações;
Apoio ao usuário
31. Criar manual do usuário da habitação.

ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O CUSTO DA FLEXIBILIDADE


Uma questão sempre relevante é: quanto custa promover a flexibilidade?
Embora não seja objetivo deste manual avaliar custos, dois aspectos merecem ser
comentados: a influência da geometria e a superprovisão.
A Figura 4.12 ajuda explicar a influência da forma geométrica da planta sobre
o custo de construção. O projeto A ilustra o modelo mais simples e corriqueiro, a planta
quadrada. Nos projetos típicos, nos quais não há preocupação com a flexibilidade, a
forma externa tende a ser primeiramente definida, partindo-se de formas simples.

66
DIRETRIZES PARA PROJETOS

A (2 quartos) B (1 quarto) C (1 quarto)

A = 25a2 A = 19a2 A = 19a2


PPe = 20a PPe = 20a PPe = 20a
Ic = 88,6% Ic = 77,0% Ic = 77,0%
PPe/A = 0,8a-1 PPe/A = 1,05a-1 PPe/A = 1,05a-1
PPi = 13a PPi = 8a PPi = 9a
PPt = 33a PPt = 28a PPt = 29a
PPt/A = 1,32a-1 PPt/A = 1,47a-1 PPt/A = 1,52a-1
Legenda: 1-SALA; 2-COZINHA; 3-QUARTO; 4-BANHEIRO.
Variáveis: A: área construída; PPe: perímetro das paredes externas; Ic: índice de compaci­dade; PPi: perímetro
das paredes internas; PPt: perímetro total de paredes.

Figura 4.12 – Relações entre a quantidade de planos verticais (paredes internas e externas) e área
de construção: (a) casa de 2 quartos de formato quadrado; (b) casa de 1 quarto em forma de L; (c)
casa de 1 quarto de formato alongado.

Nas plantas com flexibilidade planejada, como exemplifica os projetos B e C


da Figura 4.12, o roteiro de projeto já é o contrário: de dentro para fora. A planta B,
em formato de L, revela bem que a ampliação futura mais provável será a criação
do segundo quarto, o que dei­xará a planta finalmente quadrada. A planta C, por
sua vez, representa os projetos de forma alongada, prevendo-se as ampliações no
sentido lateral. No exemplo, os arranjos B e C tem o mesmo número de quartos e a
mesma área construída.
A planta A, considerada “pronta”, não flexível, tende a apresentar maiores
índices de com­pacidade10 e menores relações entre os planos verticais (ou seja,
as paredes) por unidade de área construída. Pode-se observar na Figura 4.12,
que os projetos B e C, considerados “incom­pletos”, projetados para evoluir pos-
teriormente, já apresentam menor índice de com­paci­dade e maior densidade de
paredes. No exemplo, as plantas B e C, apresentam, respec­tiva­mente, 11% e 15%

10 Índice de compacidade é a relação entre o perímetro de um círculo de área igual a do projeto avali­
ado e o perímetro externo deste mesmo projeto, dada em porcentagem. Assim, o círculo tem Ic igual
a 100% e o quadrado, 88,6%.

67
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

a mais de paredes por metro quadrado de área construída.


O segundo aspecto do custo da flexibilidade é a superprovisão, termo téc-
nico que de­signa as previsões extras no projeto, tais como: aumento de seções e
armaduras das peças estruturais; aumento de diâmetro de tubulações, ou ainda,
acréscimo das mesmas; aumento do número de esquadrias; e cobertura anteci-
pada de áreas a serem ampliadas. Pode-se in­cluir também como superprovisão a
assessoria técnica ao usuário, fornecimento de plantas das alter­nativas das am-
pliações, etc.
Digiacomo (2004) lembra que nos financiamentos os custos se diluem ao
longo dos anos, de forma que ítens mais onerosos possam ser incluídos nos mes-
mos. No caso da HIS, o mesmo autor comenta que nos casos em que existem
subsídios, estes poderiam cobrir os custos iniciais mais elevados, uma estratégia
para garantir as ampliações futuras.
De qualquer forma, a análise de custos deve ser feita sempre de dois mo-
dos: 1. considerando ape­nas o custo de construção inicial, percebendo que algum
acréscimo sempre haverá por conta da geometria da planta e/ou da superprovi-
são; e, 2. considerando o custo global da habitação, avaliando os prováveis ga-
nhos provenientes da flexibilidade, seja pela simplici­dade e facilidade de promover
as adaptações e ampliações, sem desperdícios, seja pela pró­pria valorização do
imóvel pela melhor qualidade técnica e arquitetônica da obra final, sem a presença
dos costumeiros “puxados”.

68
AVALIANDO ALGUMAS PROPOSTAS 5
Este capítulo complementa o anterior, com a análise de onze projetos de
casa-embrião, de 1 e 2 dormitórios. Estes arranjos são oriundos de um catálogo
de projetos do Grupo Multidisciplinar de Estudos da Habitação, da Universidade
Federal de Mato Grosso, no qual estão também incluí­dos os es­tudos do Projeto
Moradia, do Pro­grama Habitare. Inicialmente são apre­sentados dois ar­ranjos cuja
configuração dificulta as ampliações necessá­rias na fase de uso da residência.
Em seguida são apresentadas as plantas consideradas interessantes por sua con-
cepção flexível: um caso de planta em forma de L; um caso cuja expansão é indu-
zida ape­nas para os fundos; quatro casos de expansão lateral; e, finalmente, três
projetos cuja expansão pode se dar com facilidade em todos os sentidos: frente,
fun­dos e laterais. As propostas de cobertura não são incluídas, mas devem seguir
as recomendações apresentadas no capítulo anterior. Para cada um destes proje-
tos são apresentadas algumas idéias de amplia­ção que foram consideradas mais
prováveis, reforçando muitas das diretrizes geométrico-espa­ciais deste manual.

PROJETOS COM POUCA OU NENHUMA FLEXIBILIDADE

Nos capítulos anteriores estão relacionadas as características que os


projetos flexí­veis e não flexíveis apresentam. Nesta seção dois projetos típicos,
considerados não flexíveis, são brevemente analisados.

Plantas em formato quadrado ou retangular que dificultam as ampliações

P.1 RESIDENCIAL ARCO-ÍRIS, ITIQUIRA-MT, 2 QUARTOS. Nesta planta


existem pou­quíssimas possibilidades para ampliar de forma adequada. Está limi-
tada à criação de varandas na frente e nos fundos (figuras 5.01 e 5.02).
P.2 RESIDENCIAL DESPRAIADO, CUIABÁ-MT, 2 QUARTOS. Neste caso
a planta tam­bém apresenta pouca flexibilidade, limitando-se à frente e aos fundos
(Figura 5.03). A Figura 5.04 mostra a criação de uma nova cozinha nos fundos.

69
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

Figura 5.01 - Planta de formato quadra-


do, isolada no lote, com possibilidades re-
duzidas de ex­pansão adequada, limitada
a dois sentidos: frente e fundos (Fonte:
DADAM; BRANDÃO, 2005).

Figura 5.02 – Conjunto Residencial Arco-


Íris, em Itiquira, Mato Grosso, duas possibili-
dades de ampliação: (a) criação de varanda
aberta aos fundos; (b) criação de nova cozi-
nha, transfor­mando a antiga em copa.

Figura 5.03 - Casa geminada Figura 5.04 – Conjunto Residencial Despraiado,


duas a duas, com possibilida- em Cuiabá: (a) à esquerda, projeto original; (b) à
des reduzidas de expansão direita, planta mostrando criação de cobertura para
ade­quada, também limitada a a área de serviço e criação de nova cozinha, trans-
dois sentidos: frente e fundos. formando a antiga em copa

.PROJETOS COM FLEXIBILIDADE PLANEJADA


A seguir são mostrados casos de projetos com flexibilidade planejada,
mostrando os sentidos de expansão da moradia. Nos anexos estão incluídos
desenhos de algumas ampliações mais prováveis, demonstrando o potencial de
flexibilidade de cada pro­posta.

70
AVALIANDO ALGUMAS PROPOSTAS

Plantas em forma de L e plantas planejadas para expandir apenas


para os fundos

P.3 PLANTA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 1 QUARTO. A planta em


L (Figura 5.05a) mostra estar “incompleta”, indicando com clareza o espaço da
próxima amplia­ção. O Anexo I mostra a possibilidade de criar quartos, nova sala e
varandas, expan­dindo a casa principalmente para a frente, o que traz a vantagem
de criar uma nova fachada frontal.

P.4 PLANTA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 1 QUARTO. A expansão


para os fun­dos é mais comum. No exemplo da Figura 5.05b, várias são as possi-
bilidades de cria­ção de novos dormitórios aos fundos (v. Anexo II).

Figura 5.05 – Projetos da Caixa Eco-


nômica Federal: (a) à esquerda, casa
geminada duas a duas, com planta em
forma de L que permite algumas opções:
criar o segundo dormitório, criar varanda
ou garagem, criar uma nova sala trans-
formando a antiga em dormitório, dentre
outras opções; (b) à direita, planta de
casa isolada no lote, com possibilidades
de expansão para os fundos, normal-
mente para criar mais dormitórios.

Plantas planejadas para expandir lateralmente


P.5 RESIDENCIAL TIJUCAL, CUIABÁ-MT, SALA-DORMITÓRIO. Este
projeto, bastante incomum, apresenta não só a possibilidade de expandir, mas
também a liberdade de dividir a grande sala multiuso que agrega cozinha e sala-
dormitório (Figura 5.06a). O projeto possibi­lita expandir para a frente e para os
fundos, mas, não tendo janelas na parede maior, o projeto enfatiza a expansão
lateral para a direita do terreno (v. Anexo III).

P.6 EMPREENDIMENTO DESCONHECIDO, SALA-DORMITÓRIO. Tam-


bém apresenta o sistema de sala-dormitório na fase inicial da moradia (Figura 5.06b).
Chama a atenção neste caso a construção de uma área coberta à direita que, na
fase inicial, pode funcionar como varanda e/ou garagem. Apesar de permitir o cres-
cimento para a frente e também para os fundos, a expansão para a lateral direita é
inevitável. O anexo IV mostra al­gumas alternativas de adaptação e ampliação deste
projeto, mostrando a possibili­dade de criação de até três dormitórios.

71
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

Figura 5.06 – Plantas planejadas para


expandir lateralmente: (a) à esquerda,
casa geminada duas a duas, Conjunto
Residencial Tijucal, Cuiabá (Fonte: CA-
MIÁ, 1990); (b) à direita, casa-embrião
isolada no terreno, com varanda lateral
coberta planejada para ampliação pos-
terior; empreendimento cujo local de im-
plantação e autor do projeto são desco-
nhecidos (Fonte: SOUZA FILHO, 1993).

P.7 PLANTA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 1 QUARTO. Outro exem-


plo de casa-embrião, com apenas um dormitório e possibilidades de expansão
para a lateral (Fi­gura 5.07a). O Anexo V apresenta algumas das possibilidades:
criar mais dormitórios, criar uma nova sala de estar, criar varandas e garagem,
dentre outras possíveis.

P.8 ESTUDO No. 5 PARA O PROJETO MORADIA, 2 QUARTOS. Este pro-


jeto (Figura 5.07b) se assemelha à proposta apresentada à Figura 4.10 do capítulo
anterior. Ex­plora a possibilidade de utilizar uma cobertura de apenas uma água na
etapa inicial. Adota 3 painéis-janela que marcam as novas possibilidades de cone-
xão, ou seja, os sentidos das ampliações futuras. Utiliza outro mecanismo de flexibi-
lidade que é a divi­sória leve facilmente removível que divide a sala-copa de um pe-
queno dormitório. Pode-se optar por uma divisória móvel, permitindo isolar e integrar
estes dois ambi­entes a qualquer momento. O Anexo VI mostra algumas entre várias
possibilidades de ampliação. Destaca-se neste projeto a extrema simplicidade de
construção, ao mesmo tempo que apresenta grande potencial de flexibilidade.

Figura 5.07 – Outros projetos concebidos


para expandir lateralmente: (a) à esquerda,
planta oriunda da Caixa Econômica Fe-
deral; (b) à direita, Estudo no.5 do Projeto
Moradia, Programa Habitare, Mato Grosso,
2005: uma divisória leve define um segun-
do quarto compacto que pode ser elimina-
do no futuro quando da criação de dormitó-
rios adicionais à direita da planta.

72
AVALIANDO ALGUMAS PROPOSTAS

Plantas planejadas para expandir em todos os sentidos: frente, fundos


e laterais
P.9 ESTUDO No. 3 PARA O PROJETO MORADIA, 2 QUARTOS. Nesta pro-
posta apre­sentada à Figura 5.08a, frente, fundos e uma das laterais são direções que
possibili­tam variadas possibilidades. Com a opção de quartos alongados, a intenção
é ocupar de início quase toda a largura do terreno, enfatizando as ampliações à frente
e aos fundos. A casa, isolada no lote, foi projetada para apresentar o menor recuo na
lateral vizinha aos dois dormitórios (v. Anexo VII).
P.10 PROTÓTIPO I DO PROJETO MORADIA, BARRA DO BUGRES-MT, 2
QUARTOS. A Figura 5.08b mostra outro projeto de casa flexível, com área inferior
a 40 m2 e dois dormitórios, isolada no lote, também apresentando frente e fundos
como principais sentidos de expansão. Embora, em um primeiro momento a planta
pareça ter a geo­metria muito irregular, cuidados com a racionalização construtiva
foram tomados, com paredes alinhadas, garantindo continuidade, e eixos centrais
em cruz, características que facilitam a locação da obra e a marcação da alvenaria.

Figura 5.08 – Exemplos de


plantas que permitem expan-
dir em todos os sentidos: (a) à
es­querda, Estudo no.3, Projeto
Moradia, Programa Habitare,
Mato Grosso, 2005; (b) à direi-
ta, planta do Protótipo I, tam-
bém do Projeto Moradia.

O espaço maior, em L, integra sala e cozinha (um atributo que costuma ser
valorizado no marke­ting imobiliário) e o banheiro, em formato quadrado, garante
maior economia quando da colocação do revestimento das paredes. Ainda na
fase de construção, pode-se optar por pequenas varandas na frente e na área de
serviço aos fundos, junto à porta da cozinha. Aplicado em sistema de mutirão este
projeto pode, assim, apresentar di­versidade de fachadas já na fase de implanta-
ção inicial do conjunto, evitando a uniformidade.
Protótipo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de
Mato Grosso em parceria com o Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato
Grosso, recebeu atenção especial no que se refere ao conforto térmico e à flexi-
bilidade espa­cial. Quanto a este segundo quesito, observa-se na Figura 5.08b, a

73
HABITAÇÃO SOCIAL EVOLUTIVA

adoção de um painel-janela11 na circulação íntima, permitindo a criação de mais


dormitórios. Outro item de flexibilidade está na janela da frente que foi posicionada
no canto, permitindo vão ou porta futura no caso de criação de uma sala maior
à frente, como na variante C, apresentada no Anexo VIII. Assim como no projeto
anterior, esta casa, também isolada no lote, foi projetada para apresentar o menor
recuo na lateral vizinha aos dois dormitórios.
P.11 ESTUDO No. 14 PARA O PROJETO MORADIA, 2 QUARTOS. Esta
proposta, já apresentada por meio da Figura 4.02 no capítulo anterior, foi conce-
bida para ser muito versátil e gerar grande diversidade de arranjos. A flexibilidade
já começa no momento de se optar por 1 ou 2 quartos na etapa inicial. Os dor-
mitórios podem ser agrega­dos ao núcleo central de várias formas (Figura 4.02):
frente e fundos, frente e lateral, ou ainda, lateral e fundos. O quarto dos fundos
possui duas opções de implantação, alinhado ou não com relação ao quarto da
frente. Como mostra a Figura 5.09, a casa é concebida para expandir para todas
as direções, radialmente com relação ao núcleo central.
O Anexo IX mostra algumas das várias alternativas de expansão e o Ane-
xo X mos­tra em detalhes o projeto do núcleo central composto por sala, cozinha,
banheiro e espaço externo de serviço. Este núcleo, verdadeiro embrião da casa,
deve ter pé-di­reito mais elevado com sistema de cobertura que inclua janela alta
de modo a manter a ventilação e a iluminação deste espaço mesmo no futuro,
quando ampliada em todos os senti­dos. Utiliza uma janela convencional a menos,
mas, para viabilizar a proposta de am­pla flexibilidade, adota 4 painéis-janela.

Figura 5.09 – Projeto XIV (Estudo no.14), Projeto Moradia, Programa


Habitare, Mato Grosso, 2005: concepção espacial de casa-embrião,
isolada no lote, que permite maximizar as adapta­ções e ampliações:
(Fonte: RODRIGUES; BRANDÃO, 2005).

11 Este painel-janela pode ser desenvolvido de várias formas, desde que garanta ventilação, iluminação, seguran-
ça e fácil remoção na etapa de ampliação. Pode ainda ser substituído por uma porta metálica, com sistema de
vidro basculante. Pode-se, ainda, pensar em elementos vazados de cerâmica ou concreto, persianas ou treliça-
dos de madeira, desde que conjugados com outros elementos que controlem a ventilação e a iluminação.

74
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

12 VARIATIONEN zu 83,53 m2 [Doze variações para 83.53 metros quadrados].


MD, Leinfelden, v.25, n.4, p.43-45, 1979.
ALBERS, M.; HENZ, A.; JACOB, U. Wohnform und Wohnungsform. Wohnungen für
unterschiedliche Haushaltformen [Apartamentos para vários tipos de organização fa-
miliar]. Werk, Bauen und Wohnen, Zuerich, v.76/43, n.5, p.60-73, 1989.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND (ABCP). Casa 1.0: Bairro
Saudável. População Saudável. São Paulo: ABCP, 2002. 88p. Manual técnico.
BAUWENS, L.; CAMPBELL, A. Spaces for living: how to create multifunctional
rooms for today´s homes. New York: Clarkson Potter/Publishers, 1999. 160p.
BITTENCOURT, R.M.; SILVA, J.S. Avaliação das reformas e ampliações das ca-
sas populares da Cohab-Guaratinguetá-SP. In: Congresso Técnico-Cientí-
fico de Engenharia Civil, 1996, Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC,
1996. v.2, p.315-324.
BRANDÃO, D.Q. Diversidade e potencial de flexibilidade de arranjos espa-
ciais de apartamentos: uma análise do produto imobiliário brasileiro. 2002. 443 f.
Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Programa de Pós-Graduação em
En­genharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
________. Flexibilidade, variabilidade e participação do cliente em projetos
residenciais multifamiliares: conceitos e formas de aplicação em incorporações.
1997. 245 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Curso de Pós-Graduação
em Enge­nharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
________. O conceito de adaptabilidade na habitação de interesse social: da carência
de espaço às tendências atuais utilizando espaços multiuso. In: Congresso Bra-
sileiro sobre Habitação Social - Ciência e Tecnologia, 2003, Florianó-
polis. Anais... Florianó­polis: UFSC, 2003. 1 CD-ROM.
________. O porquê das modificações promovidas pelo usuário em sua moradia:
classi­ficação e discussão de razões, com base no significado multidimensional e
dinâ­mico da habitação. In: SEMINÁRIO MATO-GROSSENSE DE HABITAÇÃO
DE IN­TERESSE SOCIAL, 2005, Cuiabá. Anais... Cuiabá: CEFETMT, EdUFMT,
2005, p.249-264. 1 CD-ROM.
BRANDÃO, D.Q.; HEINECK, L.F.M. Formas de aplicação da flexibilidade arquite-
tônica em projetos residenciais multifamiliares. Produto & Produção, Porto Ale-
gre, v.2, n.3, p.95-106, out. 1998.

75
________. Significado multidimensional e dinâmico do morar: compreendendo as
modifi­cações na fase de uso e propondo flexibilidade nas habitações sociais. Am-
biente Construído, Porto Alegre, v.3, n.4, p.35-48, out./dez. 2003.
CABRITA, A.M.R. O homem e a casa: definição individual e social da qualidade da
habitação. Lisboa: LNEC-Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Departamento
de Edifícios, 1995. 181p. Coleção Edifícios.
CALLADO, J. The architect’s perspective. Urban Studies, Essex, v.32, n.10,
p.1665-1677, 1995.
CAMIÁ, F.P. Questões sociais ligadas ao uso dos núcleos habitacionais po-
pulares promovidos pela Cohab-MT. 1990. Trabalho de Conclusão de Estágio
(Graduação em Engenharia Civil) – Faculdade de Tecnologia e Engenharia, Uni-
versidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.
CAMPANHOLO, J.L. Construção personalizada: uma realidade do mercado. Téchne:
Revista de Tecnologia da Construção, São Paulo, n.41, p.63-66, jul./ago. 1999.
CANADA MORTGAGE AND HOUSING CORPORATION. Sprout House: a flexible
house design. Projeto do Arquiteto Sevag Pogharian. 1996. Disponível na Inter­net.
<http://www.cmhc-schl.gc.ca/> Acesso em: 24 abr. 2001.
CARVALHO, L.O. Análise qualitativa dos custos decorrentes da personaliza-
ção de unidades residenciais. 2004. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil)
– Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis.
CAVALCANTI, L. Quando o Brasil era moderno: guia de arquitetura 1928-1960.
Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001.
CHEONG, H. Flexibility and habitation. Glasgow: Universidade de Glasgow,
1996. Dis­ponível na Internet. <http://www.efl.arts.gla.ac.uk/Mag/artflex.htm>.
Acesso em: 25 abr. 2001.
CÍRICO, L.A. Por dentro do espaço habitável: uma avaliação ergonômica de
aparta­mentos e seus reflexos nos usuários. 2001. 156 f. Dissertação (Mestrado em
En­genharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produ­
ção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
CORREA, C. Housing and Urbanisation. London: Thames and Hudson, 2000.
COWAN, P. On irreversibility. Architectural Design, London, v.39, n.9, p.485-
486, Set. 1969.
DADAM, T. Otimização entre flexibilidade arquitetônica e racionalização cons-

76
trutiva na concepção de arranjos espaciais do Projeto Moradia, do Programa
Habitare, em Mato Grosso. 2006. 64 fl. Trabalho de Conclusão de Curso (Gradu-
ação em Engenharia Civil) – Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia,
Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.
DADAM, T.; BRANDÃO, D.Q. Avaliação da qualidade do arranjo espacial do con-
junto cozinha-banheiro-serviço em habitações de interesse social. In: SEMINÁRIO
MATO-GROSSENSE DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL, 2005, Cuiabá.
Anais... Cuiabá: CEFETMT, EdUFMT, 2005a, p.201-212. 1 CD-ROM.
_______. Descrição, análise e discussão das modificações de projeto na ava-
liação pós-ocupação de casas de solo-cimento no Município de Itiquira, Mato
Grosso. In: SEMINÁRIO MATO-GROSSENSE DE HABITAÇÃO DE INTERESSE
SOCIAL, 2005, Cuiabá. Anais... Cuiabá: CEFETMT, EdUFMT, 2005b, p.227-237.
1 CD-ROM.
DESPRÉS, C. The meaning of home: literature review and directions for future
re­search and theoretical development. Journal of Architectural and Planning
Re­search, Chicago, v.8, n.2, p.96-115, Summer 1991.
DIGIACOMO, M.C. Estratégias de projeto para habitação social flexível. 2004.
163 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) – Programa de Pós-Graduação em Arqui­
tetura e Urbanismo, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
FOLZ, R.R. Mobiliário na habitação popular: discussões de alternativas para
melhoria da habitabilidade. São Carlos: RiMa, 2003. 196p.
FRIEDMAN, A. Design for flexibility and affordability: learning from the post-war
home. Journal of Architectural and Planning Research, Chicago, v.14, n.2,
p.150-170, Summer 1997.
_______. The adaptable house: designing homes for change. Toronto: Mc
Graw-Hill, 2002.
GALFERTTI, G.G. Model apartments: experimental domestic cells. Barcelona:
Gustavo Gili, 1997.
HERTZBERGER, H. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1999,
272p.
HOWE, D.A. The flexible house: designing for changing needs. Journal of the
Ameri­can Planning Association, v.56, n.1, p.69-77, 1990.
JOEDICKE, J. El problema de la variabilidad y flexibilidad en la construcción.
In: OTTO, Frei et al. Arquitectura Adaptable. Barcelona: Editorial Gustavo Gili,
p.112-113, 1979.

77
LACLAU, C. Trabalhando em casa. Mini Máximo: decorações para espaços pe-
quenos, Editora Escala, Ano 1, n.1, p.54-55, 2001.
LAWRENCE, R.J. The qualitative aspects of housing: a synthesis. Building
Research and Practice, London, v.18, n.2, p.121-125, 1990.
_______. What makes a house a home? Environment and Behavior, Bever-
ly Hills, v.19, n.2, p.154-168, Mar./Apr. 1987.
MELO, G. A. Avaliação pós-ocupação do Conjunto Habitacional Pedra 90.
2005. 74 fl. Tra­balho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil)
– Faculdade de Arqui­tetura, Engenharia e Tecnologia, Universidade Federal de
Mato Grosso, Cuiabá.
MOSCHEN, P.D.C. Uma metodologia para personalização de unidades habi-
tacionais em empreendimentos imobiliários multifamiliares. 2003. 193 f. Dis-
sertação (Mes­trado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em
Engenha­ria de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
MOURÃO, L. Prêt-à-porter chic. Arquitetura & Construção, p.82-85, jan. 2006.
OLDEMBURG, J. Flat 72 m2. Mini Máximo: decorações para espaços pequenos,
Edi­tora Escala, ano 1, n.1, p.22, 2001.
OLIVEIRA, C.F. Auto-construção em madeira. 2003. Dissertação (Mestrado em
Arqui­tetura) - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Escola de Engenharia de
São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.
ORNSTEIN, S.W. Desempenho do ambiente construído, interdisciplinaridade
e arqui­tetura. São Paulo: FAU/USP, 1996. 54p.
PAIVA, A.L.S.A. Habitação flexível: análise de conceitos e soluções. 2002. Tese de
Mestrado. Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa.
PAYERAS, D.R. Levantamento dos resíduos sólidos gerados pela persona-
lização não planejada de apartamentos: estudo de caso em Porto Alegre/RS.
2005. Disserta­ção (Mestrado Profissionalizante em Engenharia) - Escola de En-
genharia, Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
PRIEMUS, H. Housing as a social adaptation process. A conceptual scheme. Environ­
ment and Behavior, Beverly Hills, v.18, n.1, p.31-52, Jan./Feb. 1986.
RABENECK, A.; SHEPPARD, D.; TOWN, P. Housing flexibility/adaptability? Architectu­
ral Design, London, v.49, p.76-90, Feb. 1974.
REIS, A.T.L. Ambientes residenciais: alterações espaciais, comportamentos e ati-

78
tudes dos moradores. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AM-
BIENTE CONSTRUÍDO, 8., 2000, Salvador. Anais... Salvador: ANTAC, 2000. 8p.
1 CD-ROM.
_______. Avaliação de alterações realizadas pelo usuário no projeto original da
habi­tação popular. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE
CONSTRUÍDO, 6., 1995, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANTAC, 1995.
v.1, p.319-324.
RODRIGUES, A.C.; BRANDÃO, D.Q. Projeto XIV: uma proposta para maximiza-
ção do potencial de ampliabilidade residencial a partir de um espaço-embrião de
20 me­tros quadrados. In: SEMINÁRIO MATO-GROSSENSE DE HABITAÇÃO DE
INTE­RESSE SOCIAL, 2005, Cuiabá. Anais... Cuiabá: CEFETMT, EdUFMT, 2005,
p.291-304. 1 CD-ROM.
ROSSI, A.M.G. Exemplos de flexibilidade na tipologia habitacional. In: ENCONTRO
NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 7., 1998, Florianó­
polis. Anais... Florianópolis: ANTAC, 1998. v.1, p.211-217.
ROSSO, T. Racionalização da construção. São Paulo: USP/FAU, 1980. 300p.
SEBESTYEN, G. What do we mean by flexibility and variability of systems? Buil-
ding Research and Practice, p.370-374, nov./dez. 1978.
SCHNEIDER 1998 SCHNEIDER, Friederike (ed.). Atlas de Plantas. Viviendas.
2. ed. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1998, 224p.
SOEN, D. Habitability: occupant’s needs and dwelling satisfaction. In: LICHFIELD,
Nathaniel. New trends in urban planning. Dan Soen (ed.). Oxford: Pergamon, p.
119-132, 1979.
SOUZA FILHO, I.G. Uma análise para construção de moradia popular: habi-
tação de madeira e de bloco de concreto auto-travado. 1993. Trabalho de Con-
clusão de Es­tágio (Graduação em Engenharia Civil) – Faculdade de Tecnologia e
Engenharia, Uni­versidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.
SZÜCS, C.P. Flexibilidade aplicada ao projeto da habitação social. In: ENCONTRO
NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 7., 1998, Florianó­
polis. Anais... Florianópolis: ANTAC, 1998. v.1, p.621-628.
SZÜCS, C.P. et al. Habitação de Interesse Social: flexibilidade do projeto, contextuali­
zação das soluções. Florianópolis: UFSC, ago. 2000. Relatório Técnico.
________. Sistema Stella-UFSC: avaliação e desenvolvimento de sistema cons-
trutivo em madeira de reflorestamento voltado para programas de habitação so-
cial. Florianópolis: UFSC, set. 2004. Relatório final de pesquisa.

79
TRAMONTANO, M.C. Espaços domésticos flexíveis: notas sobre a produção
da pri­meira geração de modernistas brasileiros. São Paulo: FAU/USP, 1993.
15p. Texto técnico.
________. Unidades experimentais de habitação: a casa popular contemporânea? Pro­
jeto: Arquitetura, Design & Interiores, n.243, p.30-32, mai. 2000.
TRIEBEL, W. Aus eins mach zwei - und umgekehrt. Die flexible Gestaltung von
Wohn-ungen muss genau durchdacht und geplant werden [Dois a partir de um e
vice-versa. O projeto flexível de apartamentos deve ser cuidadosamente pensa-
do e planejado]. Beratende Ingenieure, n.4, p.40-46, 1980.
VERÍSSIMO, F.S.; BITTAR, W.S.M. 500 anos da casa no Brasil: as transforma-
ções da arquitetura e da utilização do espaço de moradia. 2. ed. Rio de Janeiro:
Ediouro, 1999, 142p.
VILLA, S.B.; SILVA, M.C.V. Hab[A]: elaboração e construção de uma unidade
habita­cional de baixo custo sob à ótica da flexibilidade. In: SEMINÁRIO MATO-
GROS­SENSE DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL, 2005, Cuiabá. Anais...
Cuiabá: CEFETMT, EdUFMT, 2005, p.239-248. 1 CD-ROM.
YAMAMOTO, K.L. Apartamentos sob medida. Arquitetura & Construção, p.119-
122, abr. 2001.
WIENANDS, R. Construcción de viviendas: Más “construcción por el individuo”
en la “construcción por sistemas”. In: OTTO, Frei et al. Arquitectura Adaptable.
Barce­lona: Editorial Gustavo Gili, 1979. p.159.

80
ANEXOS

PROJETOS COM FLEXIBILIDADE PLANEJADA


Anexo I Casa geminada com 1 quarto, projeto da Caixa Econômica Federal
Anexo II Casa isolada no lote com 1 quarto, projeto da Caixa Econômica Federal
Anexo III Casa geminada com sala-dormitório, Residencial Tijucal, em Cuia-
bá, Mato Grosso
Anexo IV Casa isolada no lote com sala-dormitório, empreendimento desconhe­cido
Anexo V Casa isolada no lote, com sala-dormitório, projeto da Caixa Eco-
nômica Federal
Anexo VI Casa isolada no lote, com 2 quartos, Estudo no. 05 para o Projeto
Mora­dia, Programa Habitare, CEFETMT/UFMT
Anexo VII Casa isolada no lote, com 2 quartos, Estudo no. 03 para o Projeto
Mora­dia, Programa Habitare, CEFETMT/UFMT
Anexo VIII Casa isolada no lote, com 2 quartos, Protótipo I do Projeto Mora­dia,
Programa Habitare, CEFETMT/UFMT, construído em Barra do Bu-
gres, Mato Grosso
Anexo IX Casa isolada no lote, com 2 quartos, Estudo no. 14 para o Projeto
Mora­dia, Programa Habitare, CEFETMT/UFMT (depois denomina-
do de “Pro­jeto XIV”)
Anexo X Planta-baixa com detalhes do embrião sala-cozinha-banheiro-servi-
ço do Projeto XIV

81
Anexo I - Casa geminada com 1 quarto, projeto da Caixa Econômica Federal.

LEGENDA: 1 – SALA 2 – COZINHA 3 – QUARTO 4 – BANHEIRO


5 – SERVIÇO 6 – VARANDA 7 – COPA 8 - GARAGEM

82
Anexo II - Casa isolada no lote com 1 quarto, projeto da Caixa Econômica Federal.

LEGENDA: 1 – SALA 2 – COZINHA 3 – QUARTO 4 – BANHEIRO


5 – SERVIÇO 6 – VARANDA 7 – COPA 8 - GARAGEM

83
Anexo III - Casa geminada com sala-dormitório, Residencial Tijucal, em
Cuiabá, Mato Grosso.

LEGENDA: 1 – SALA 2 – COZINHA 3 – QUARTO 4 – BANHEIRO


5 – SERVIÇO 6 – VARANDA 7 – COPA 8 - GARAGEM

84
Anexo IV - Casa isolada no lote com sala-dormitório, empreendimento desconhe­cido.

LEGENDA: 1 – SALA 2 – COZINHA 3 – QUARTO 4 – BANHEIRO


5 – SERVIÇO 6 – VARANDA 7 – COPA 8 - GARAGEM

85
Anexo V - Casa isolada no lote, com sala-dormitório, projeto da Caixa
Econômica Fe­deral.

LEGENDA: 1 – SALA 2 – COZINHA 3 – QUARTO 4 – BANHEIRO


5 – SERVIÇO 6 – VARANDA 7 – COPA 8 - GARAGEM

86
Anexo VI - Casa isolada no lote, com 2 quartos, Estudo no. 05 para o Projeto
Mora­dia, Programa Habitare, CEFETMT/UFMT.

LEGENDA: 1 – SALA 2 – COZINHA 3 – QUARTO 4 – BANHEIRO


5 – SERVIÇO 6 – VARANDA 7 – COPA 8 - GARAGEM

87
Anexo VII - Casa isolada no lote, com 2 quartos, Estudo no. 03 para o Projeto
Mora­dia, Programa Habitare, CEFETMT/UFMT.

LEGENDA: 1 – SALA 2 – COZINHA 3 – QUARTO 4 – BANHEIRO


5 – SERVIÇO 6 – VARANDA 7 – COPA 8 - GARAGEM

88
Anexo VIII - Casa isolada no lote, com 2 quartos, Protótipo I do Projeto Mora­dia, Pro-
grama Habitare, CEFETMT/UFMT, construído em Barra do Bugres, Mato Grosso.

LEGENDA: 1 – SALA 2 – COZINHA 3 – QUARTO 4 – BANHEIRO


5 – SERVIÇO 6 – VARANDA 7 – COPA 8 - GARAGEM

89
anexo IX - Casa isolada no lote, com 2 quartos, Estudo no. 14 para o Projeto Mora­
dia, Programa Habitare, CEFETMT/UFMT (depois denominado de “Pro­jeto XIV”).

LEGENDA: 1 – SALA 2 – COZINHA 3 – QUARTO 4 – BANHEIRO


5 – SERVIÇO 6 – VARANDA 7 – COPA 8 - GARAGEM

90
Anexo X - Planta-baixa com detalhes do embrião sala-cozinha-banheiro-serviço
do Projeto XIV.

Autor: Douglas Queiroz Brandão

91
CRÉDITOS DOS PROJETOS E DAS ILUSTRAÇÕES
Capítulo 1
1.01, p.14: fonte: Cheong (2001)
1.02, p.15: Comunidade de Aranya, Índia, fonte: www.vastushilpa.org
1.03, p.18: TVE, Barcelona, Espanha, fonte: Galfertti (1997)
Capítulo 2
2.01, p.20: fonte: Galfertti (1997)
2.02, p.23: periódico MD, Alemanha (1979)
2.03, p.25: fonte: Triebel (1980)
2.04, p.25: projeto de David Sheppard, fonte: Rabeneck et al. (1974)
2.05, p.25: fonte: Canada Mortgage and Housing Corporation (1996)
2.06, p.26: Comunidade de Aranya, Índia, fonte: www.vastushilpa.org
2.07, p.26: fonte: Correa (2000)
2.08, p.25: projeto de Werner Kohn, fonte: Schneider (1998)
2.09, p.27: fonte: Deborah A. Howe (1990)
2.10, p.29: periódico Mini Máximo, fonte: Oldemburg (2001)
2.11, p.29: fonte: Brandão (2002)
2.12, p.30: fonte: Brandão (2002)
2.13, p.30: fonte: Brandão (2002)
2.14, p.31: periódico Mini Máximo, fonte: Laclau (1997)
Capítulo 3
3.01, p.38: fotos do acervo do autor (2005)
3.02, p.39: fotos do acervo do autor (2005)
3.03, p.40: fotos: Mariuzza Carla Digiacomo; fonte: Digiacomo (2004)
3.04, p.41: fotos do acervo do autor (2005)
3.05, p.41: fotos do acervo do autor (2005)
3.06, p.42: foto do acervo do autor (2005)
3.07, p.42: fotos do acervo do autor (2005)
3.08, p.43: foto do acervo do autor (2005)
3.09, p.43: fotos do acervo do autor (2005)
3.10, p.46: Conjunto Residencial Pedra 90, Cuiabá; fonte: Melo (2005)
3.11, p.46: Conjunto Residencial Pedra 90, Cuiabá; fonte: Melo (2005)
3.12, p.48: fontes: Dadam e Brandão (2005), Dadam (2006)
3.13, p.48: fotos do acervo do autor (2005)
3.14, p.50: foto: Mariuzza Carla Digiacomo; fonte: Digiacomo (2004)

92
Capítulo 4
4.01, p.53: fonte: Cavalcanti (2001)
4.02, p.55: projeto: Douglas Queiroz Brandão; fonte: Rodrigues e Brandão (2005)
4.03, p.55: fonte: www.rossiresidencial.com.br; v. Digiacomo (2004)
4.04, p.56: projeto: ABCP; fonte: ABCP (2002)
4.05, p.57: fonte: Szücs et al. (2004)
4.06, p.58: fonte: www.arcoweb.com.br/arquitetura/ arquitetura370.asp# (2003)
4.07, p.60: foto: Mariuzza Carla Digiacomo; fonte: Digiacomo (2004)
4.08, p.60: fonte: www.rossiresidencial.com.br; v. Digiacomo (2004)
4.09, p.61: fonte: Villa e Silva (2005)
4.10, p.64: fonte: Oliveira (2003)
4.11, p.65: fonte: ABCP (2002)
4.12, p.67: desenhos do autor
Capítulo 5
5.01, p.70: Conjunto Residencial Arco-Íris, Itiquira; fonte: Dadam; Brandão (2005)
5.02, p.70: ampliações projetadas pelo autor
5.03, p.70: Conjunto Residencial Despraiado, Cuiabá; cortesia: Lotufo Engenharia
5.04, p.70: ampliações projetadas pelo autor
5.05, p.71: projetos: Caixa Econômica Federal
5.06a, p.72: Conjunto Residencial Tijucal, Cuiabá; fonte: Camiá (1990)
5.06b, p.72: projeto: local e autor desconhecido; fonte: Souza Filho (1993)
5.07a, p.72: projeto: Caixa Econômica Federal
5.07b, p.72: projeto: Douglas Brandão, Estudo no.5, Projeto Moradia
5.08a, p.73: projeto: Douglas Brandão, Estudo no.3, Projeto Moradia
5.08b, p.73: projeto: Luciane Durante e João C. Sanches, Protótipo I, Projeto Moradia
5.09, p.74: projeto: Douglas Brandão, Projeto XIV (Estudo no.14), Projeto Moradia
Anexos (p.82-91)
Os projetos originais apresentados são os mesmos do Capítulo 5. Os projetos de
am­plia­ção propostos foram projetados pelo autor.

93
SOBRE O AUTOR

Douglas Queiroz Brandão é Professor Adjunto da Universidade Federal


de Mato Grosso, Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Arquitetu-
ra, Engenharia e Tecnologia. É engenheiro civil formado pela UFMT, Mestre em
Engenha­ria Civil e Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal
de Santa Catarina. Na UFMT, coordena a área de Construção Civil e ministra
aulas para os cur­sos de Enge­nharia Civil e Arquitetura e Urbanismo. É pesqui-
sador-líder do Grupo Mul­tidisciplinar de Estudos da Habitação (GHA), com linhas
de pesquisa direcionadas à avaliação da qua­lidade do projeto habitacional, sen-
do também coordenador do Projeto Moradia, pela Universidade Federal de Mato
Grosso. É também Professor Colaborador da As­sociação Nacional de Tecnologia
do Ambiente Construído (ANTAC) e Consultor da Fundação de Amparo à Pes­
quisa do Estado de Alagoas. Publicou vários artigos em periódicos especializados
e anais de eventos. Possui várias orientações concluídas de trabalhos de iniciação
científica e de conclusão de curso nas áreas de Engenharia Ci­vil e Arquitetura
e Urbanismo. Em seu Currí­culo Lattes, os termos mais freqüentes na contextu-
alização de sua produção científico-tecnológica são: cons­trução civil, qualidade
do projeto, flexibilidade espacial, habitação de interesse social, arranjo espacial,
edifícios residenciais, projeto habitacional, personalização, engenha­ria civil e ge-
renciamento da construção.

94

Você também pode gostar