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ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Ouro Preto
2021
MARIANA CASTRO DA MOTA
Ouro Preto
2021
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO
CDU 624.014
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
REITORIA
ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
FOLHA DE APROVAÇÃO
Flexibilidade espacial em edi cios de pavimentos múl plos no mercado habitacional brasileiro
Membros da banca
Doutor - Clécio Magalhães do Vale - Orientador - Universidade Federal de Ouro Preto
Doutora - Cláudia Maria Arcipreste - Universidade Federal de Ouro Preto
Doutor - Jonas Delecave de Amorim - Universidade Federal de Ouro Preto
Doutor - Silvio Romero Fonseca Mo a - Pon cia Universidade Católica de Minas Gerais
Clécio Magalhães do Vale, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito no Repositório
Ins tucional da UFOP em 10/03/2021
Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.002099/2021-12 SEI nº 0143528
https://sei.ufop.br/sei/controlador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_documento=161501&infra_sistema=1… 1/1
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais por terem me proporcionado tudo que foi preciso em minha vida acadêmica e
me incentivado a sempre buscar conhecimento. À República Toda Menina pelo acolhimento e
amizade. Vocês são parte da minha família! Ao Jonas e à Sandra pelo apoio psicológico,
incentivo e carinho durante esta jornada. Ao André por ter sido o primeiro a acreditar no meu
potencial quando cheguei à UFOP. E por último, mas não menos importante, ao meu
orientador Clécio e minha coorientadora Cláudia por me guiarem de forma tão paciente
durante todo o processo. Muito obrigada por tudo que me ensinaram!
“A arquitetura é sempre uma obra em aberto, que evolui e
acumula características ao longo do tempo.”
(Nayara Pires)
RESUMO
A sociedade e os modos vida têm se transformado cada vez mais rápido e se tornado mais
plural. Juntamente com estas transformações é preciso repensar constantemente o espaço que
habitamos. A flexibilidade arquitetônica é uma estratégia de projeto e um recurso construtivo
pelo qual o morador consegue adaptar o ambiente em que vive às suas necessidades e ela
pode ser uma solução viável para o cenário encontrado atualmente nas grandes cidades:
paisagens abarrotadas de edifícios produzidos em série pelas grandes construtoras, com
plantas repetidas e engessadas. Metodologicamente, para entender aspectos construtivos e de
projeto que facilitem as alterações pré e pós-ocupação em edifícios residenciais e embasar
um estudo de caso foram feitas análises de projetos afins à temática e uma revisão de
literatura relacionada ao tema da flexibilidade em arquitetura. Também, com a finalidade de
exemplificar e elencar pontos chave em um projeto, destacando elementos que o tornam mais
adaptável por seus ocupantes, foi desenvolvida pesquisa junto a uma empresa atuante no
mercado e analisado um de seus empreendimentos quanto aos arranjos espaciais, soluções
tecnológicas, estratégias projetuais e, a partir deste levantamento, foram traçadas diretrizes
que facilitem a flexibilização das unidades habitacionais. Como conclusão, destaca-se a
relevância de se proporcionar, nos projetos arquitetônicos, a flexibilidade espacial para se
atender às demandas dos usuários; a pouca atratividade que essas estratégias têm sobre os
empreendedores – devido à gestão da obra e influência sobre a lucratividade – e a importância
das soluções infraestruturais dos edifícios para viabilizar, tecnicamente, a possibilidade de
intervenção dos moradores.
Tabela 01: Definições de recheio e suporte de acordo com a teoria do Open Building.......... 30
Tabela 02: Níveis da flexibilidade........................................................................................... 32
Tabela 03: Conceitos de flexibilidade segundo Andrew Rabeneck, David Sheppard, Peter
Town, Herman Hertzberger, Steven Groák, Douglas Queiroz Brandão e Luiz Fernando
Heineck, Tatjana Schneider e Jeremy Till ................................................................................ 32
Tabela 04: Itens prioritários ao escolher um imóvel. .............................................................. 42
Tabela 05: Motivações que levam à modificações nas residências ......................................... 49
Tabela 06: Elementos facilitadores de flexibilidade ............................................................... 57
Tabela 07: Dados do empreendimento .................................................................................... 85
Tabela 08: Especificações de piso elevado ........................................................................... 120
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1. INTRODUÇÃO
desenvolvidos e executados a partir dos anos de 1990 e 2000 têm sido, segundo o autor,
“definidos nos stands de venda por profissionais que fundamentam suas decisões em
representações nem sempre verossímeis das aspirações dos compradores”.
No cenário atual da construção civil é muito claro o monopólio das grandes
construtoras e empreiteiras que lançam mão de projetos padronizados e rígidos – com
tipologias que facilitam a construção – reproduzindo milhares de prédios idênticos,
desconsiderando as necessidades individuais de quem os habitam. Porém, existem iniciativas,
ainda reduzidas, de empresas que têm buscado melhor atender os futuros moradores de seus
empreendimentos. As estratégias dessas construtoras serão destacadas posteriormente neste
trabalho.
Apesar de a iniciativa de gerar empreendimentos habitacionais ser das empresas
construtoras, o incorporador, em determinados cenários – como os das cidades de pequeno e
médio porte - é um dos atores mais importantes no processo de construir e vender
apartamentos. Segundo Ribeiro (1997), ele acumula as funções de “coordenar o processo
produtivo e assumir as responsabilidades pela comercialização” (RIBEIRO, 1997, p.92), pode
participar da compra do terreno, encabeçar o financiamento e tomar decisões no processo de
produção do projeto arquitetônico.
Em certa medida, também as normas edilícias, mesmo não tendo essa finalidade,
acabam criando uma espécie de fórmula construtiva. Tendo em vista esta realidade, o
processo de projetar e o papel do arquiteto acabam sendo relegados a segundo plano. De
acordo com Maciel (2013 n.p.):
humana das emoções” (JORGE, 2012, p.167). Isso traz a necessidade de desenvolver uma
arquitetura flexível e adaptável.
Neste contexto, é evidente que o estudo da flexibilidade contribui para o
desenvolvimento de projetos arquitetônicos que proporcionem aos moradores de apartamentos
uma moradia mais confortável e adaptada ao seu modo de vida. Portanto, é pertinente
apresentar maneiras de conceber edifícios mais flexíveis e destacar quais seriam os
componentes construtivos mais adequados. Esta pesquisa parte, então, do entendimento da
relevância da diversidade de soluções para os empreendimentos de habitação coletiva e do
reconhecimento dos experimentos teóricos e práticos desenvolvidos no campo do projeto
arquitetônico para chegar à aplicação de estratégias de flexibilidade construtiva em um
edifício produzido pelo mercado imobiliário.
Diante do exposto, são estabelecidos os objetivos desta pesquisa:
1.2 Objetivos
1.2.1 Geral
O objetivo geral do trabalho foi investigar estratégias projetuais que buscam proporcionar
flexibilidade espacial em edifícios de habitação coletiva de mercado, de forma a contribuir
para um habitat mais eficiente e adaptável para o morador contemporâneo.
1.2.2 Específicos
Os objetivos específicos do trabalho foram:
Esta pesquisa apresenta uma estrutura composta por seis capítulos que transitam desde
os aspectos históricos até o estudo técnico dos graus de flexibilidade nos projetos
arquitetônicos de edifícios residenciais, passando, também, por um exercício projetual em que
se testa as possibilidades de flexibilidade a partir da abordagem da infraestrutura predial.
O Capítulo 1 contextualiza a flexibilidade, expondo as raízes da questão habitacional
no Brasil e como a produção de edifícios residenciais se desenvolveu em nosso território,
19
como no início dos anos 2000 foi consolidada a hegemonia das grandes empresas
incorporadoras fundidas às construtoras e o projeto dos prédios passou a ser visto como um
processo de “produção em massa” que precisava de ciclos construtivos cada vez mais rápidos
e o modo que esta questão influenciou a arquitetura. Aborda definições relevantes, destaca
historiadores e arquitetos imprescindíveis na linha do tempo da flexibilidade e quais teorias
foram formuladas através desses estudos, com destaque para o Open Building. Por fim, traça
um paralelo entre a produção arquitetônica holandesa (berço do Open Building) e o mercado
de edifícios residenciais no Brasil.
No Capítulo 2 são apresentadas as perspectivas relacionadas à produção da habitação
de mercado, as tendências e mudanças mais significativas no cenário nos próximos anos.
Além disso, é abordado o aspecto do morador dos apartamentos: como a conformação
familiar vem mudando ao longo dos últimos anos, qual o perfil dos moradores e quais as
facilidades demandam em suas moradias.
O Capítulo 3 introduz o assunto das técnicas construtivas e a infraestrutura predial
através do conceito de camadas construtivas (“Shearing Layers”), de Stewart Brand, e como
essas camadas podem ser projetadas a fim de facilitar a flexibilidade de um edifício.
No Capítulo 4 são apresentadas obras de referência, executadas no Brasil e em outros
países, que apresentam diferentes níveis de flexibilidade e tratamentos exemplares de
abordagem do assunto.
O Capítulo 5 apresenta o estudo de caso de um edifício residencial, seus aspectos
construtivos e sua maneira de abordar a flexibilidade. A partir de sua avaliação crítica, são
estudadas alternativas para se ampliar seus níveis de flexibilidade.
Por fim, no Capítulo 6, são propostas novas diretrizes projetuais que dotam o edifício
de uma estruturação mais coerente e eficaz em relação aos propósitos originais desse trabalho:
investigar o potencial de soluções técnico construtivas para edifícios de uso multifamiliar que
proporcionem elevados graus de flexibilidade aos seus moradores.
20
Por ter seu foco voltado para construções residenciais de múltiplos pavimentos, este
capítulo faz uma retrospectiva de como se desenvolveu o mercado de edifícios ao mesmo
tempo em que destaca os conceitos mais importantes em relação à flexibilidade, com a
finalidade de mostrar como a história da habitação de múltiplos pavimentos e a flexibilização
dos espaços andam lado a lado.
Desde que o homem abandonou sua condição nômade ele vem se adaptando a novas
formas de morar e aprimorando as construções para que se tornem mais confortáveis e
convenientes aos seus costumes. A mudança inicial mais significativa que despertou a
construção de edifícios residenciais de múltiplos pavimentos foi a Revolução Industrial
iniciada em meados do Século XVIII. Segundo Esteves (2013):
1
A moradia do proletariado passou por modificações e melhorias ao longo do tempo devido ao aparecimento de
enfermidades e até mortes dos trabalhadores. Surgiram vilas operárias com leis sanitaristas mais rígidas a fim de
protegê-los.
22
https://rosangelafialho.wordpress.com/2012/07/21/edificio-sampaio-moreira-sao-paulo-brasil/ Acesso em
08/05/2019.
Por volta dos anos de 1920 e 1930, a construção civil passa também a contar com
novas tecnologias construtivas que permitem a construção de vãos maiores e estruturas que
são capazes de construir diversos andares sobrepostos. A cidade burguesa do século XIX
começa a se modificar cada vez mais rápido e o negócio imobiliário se torna uma atividade
extremamente rentável. A especulação imobiliária e os grandes empreendimentos
habitacionais em si não são responsáveis pela substituição da residência unifamiliar, mas sim,
uma das consequências deste acontecimento.
Segundo Villa (2006), “na passagem dos anos 1920 para os anos 1930, a população
paulistana aumentou significativamente em decorrência do processo acelerado de
industrialização e metropolização, criando um déficit habitacional nunca visto na cidade”
(VILLA, 2006, n.p.). Definida essa nova conformação urbana foi a vez de se criarem leis que
pudessem reger esse novo mercado e “proteger” os inquilinos e construtores: “A partir da Lei
do Inquilinato de 1942 assentiu-se ao estabelecimento de formas e programas habitacionais
que garantissem o sucesso dos empreendimentos, isto é, o lucro, a venda e o aluguel das
unidades” (VILLA, 2006, n.p.). As décadas seguintes, 1940, 1950 e 1960 viriam para
consolidar de vez o domínio dos edifícios residenciais de múltiplos pavimentos na paisagem
das cidades brasileiras. As mudanças históricas serão abordadas a partir de agora, em conjunto
com os conceitos mais importantes que norteiam este trabalho.
Esteves (2013) ele “acreditava que podia produzir “povos felizes”, ou seja, que era do
arquiteto o poder de mudar a sociedade através do habitat humano” (ESTEVES, 2013, p.53).
Uma de suas maiores contribuições para o estudo da flexibilidade na arquitetura é o projeto da
Dom-ino House mostrado na Figura 05, o protótipo de um sistema construtivo que poderia ser
aplicado em diversas situações funcionais. Esse sistema é composto de lajes horizontais,
pilares recuados das fachadas e os pavimentos são comunicados por escadas externas à
construção. Ou seja, a Dom-ino House emprega os preceitos das construções modernistas e
pode servir de base para a construção de diversos projetos pautados na ideia de arquitetura
flexível.
fachada, por exemplo. Lamounier (2017, p. 91) compara a definição de estrutura suporte de
Habraken com a Dom-ino House, mostrada anteriormente na Figura 11, tópico 1.2, de Le
Corbusier, já que ela ilustraria a ideia de um esqueleto da construção sobre o qual cada
morador definiria seu espaço.
A partir dos princípios estabelecidos pela Teria dos Suportes, se constituiu o
movimento Open Building3, que procura, principalmente, dar voz ao morador nas questões
relacionadas ao projeto e o faz entregando um espaço completamente customizável. Mas, para
tanto, o arquiteto desenvolve uma nova forma de empregar tecnologias construtivas, a fim de
viabilizar esse espaço não conhecido antecipadamente, e apresenta o método organizacional
de “recheios e suportes”, delimitado na Tabela 01, que melhor orienta o processo de
produção:
Tabela 01: Definições de recheio e suporte de acordo com a teoria do Open Building
SUPORTE RECHEIO
FIXO – Corresponde ao sistema estrutural, MUTÁVEL – Arranjo interno dos cômodos, com
abastecimento de água, energia e gás. Instalações paredes ou divisórias, esquadrias internas e
sanitárias, drenagem, instalações elétricas. externas, forro, piso, acabamentos em geral,
Circulações de uso coletivo. mobiliário.
Segundo Lamounier (2017), “para que ocorra compatibilidade entre suporte e recheio,
todos os componentes construtivos devem estar coordenados modularmente e apresentar
características de conectividade” (LAMOUNIER, 2017, p.90). Os elementos construtivos
precisam estar preparados para se conectarem uns aos outros, por exemplo, as ligações
hidráulicas devem estar prontas e posicionadas estrategicamente no espaço para receber as
bancadas de pias.
Habraken pretende criar uma arquitetura que ponha novamente o morador à frente das
decisões projetuais de sua residência. Alguns historiadores, como Montaner (2001), acreditam
3
O movimento Open Buildind foi articulado pelo arquiteto John Habraken em seu livro Supports: An
Alternative to Mass Housing e busca organizar o processo de tomada de decisões da produção do espaço
construído através de intervenções feitas pelos envolvidos, para isso divide a construção em partes estáticas, os
recheios, e partes mutáveis, os suportes.
30
que sua proposta acaba dando origem a uma espécie de “arquitetura sem arquitetos” e por isso
sofre diversas objeções dentro do próprio campo da arquitetura, mas concorda que o mais
importante, nesse caso, em relação ao projeto, deve ser: deixar ao futuro morador uma boa
base – estrutura, instalações hidráulicas, instalações elétricas, circulação vertical – para que
ele possa definir seus parâmetros arquitetônicos de acordo com modo de vida que pretende
levar naquele espaço. Além disso, Montaner afirma que as ideias de Habraken e a teoria do
Open Building foram extremamente vanguardistas e importantes para se repensar a arquitetura
que vinha sendo feita.
Algumas correntes, como a da polivalência dos espaços, defendida principalmente por
Herman Hertzberger, acreditam que a ideia de introduzir flexibilidade ao desenho
arquitetônico indica indecisão e pouco comprometimento por parte de seu idealizador,
levantando a questão: Até que ponto devem ir as alterações feitas pelo usuário? Alterações
posteriores podem ser vistas tanto como corrupções de um bom trabalho arquitetônico ou
como indícios de um mau projeto arquitetônico, isto é, indícios de que o arquiteto não soube
fornecer a solução que se esperava. Segundo análise de CASTRO e KAPP (2004, n.p.) sobre a
dissertação de PALHARES (2001), “grande parte das modificações é proveniente da
insatisfação dos usuários frente aos pressupostos adotados pelo arquiteto”.
Palhares (2001), em trabalho acerca de modificações e adaptações realizadas por
moradores ao longo dos primeiros anos de ocupação em um conjunto habitacional em Belo
Horizonte, levanta uma questão muito pertinente: o bom arquiteto deve fornecer ao seu
público soluções prontas e irretocáveis?
Alguns autores defendem que a “adaptabilidade” possa ser uma solução intermediária e
menos radical à flexibilidade, mesmo necessitando de demolições e construções de elementos
para alterar um espaço. Hertzberger (1996), por exemplo, defende que a flexibilidade pode se
tornar “ausência de identidade” e que sua forma mínima já conduziria o espaço a uma solução
ótima. O autor faz uso do termo “polivalência”, que Esteves (2013) define como “uma forma
que se preste a diversos usos sem que ela própria tenha que sofrer mudanças físicas”
(ESTEVES, 2013, p. 43).
O conceito de adaptabilidade cria um paralelo com o conceito de flexibilidade e apesar
de parecidos eles carregam inegáveis diferenças. Em seus estudos Tatjana Schneider e Jeremy
Till colocam o termo “adaptabilidade” como sendo utilizado em situações mais específicas
além de o tratarem como uma subcategoria da flexibilidade. Schneider e Till (2005)
esclarecem: “[...] a adaptabilidade numa habitação permite diferentes usos sociais em
determinados espaços, enquanto a flexibilidade permite variações de arranjos”
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NÍVEIS DA FLEXIBILIDADE
Suave Radical
Indeterminação funcional: diversos Movimentação de elementos
usos em um mesmo ambiente físicos: painéis e móveis
Polivalência Mudança na localização de paredes
Exemplo: e portas.
Crescimento da edificação
Tabela 03: Conceitos de flexibilidade segundo Andrew Rabeneck, David Sheppard, Peter Town, Herman
Hertzberger, Steven Groák, Douglas Queiroz Brandão e Luiz Fernando Heineck, Tatjana Schneider e Jeremy Till
Conceitos
Autores Ano Flexibilidade Adaptabilidade Polivalência
Andrew Rabeneck, Oferece a capacidade de escolha e Planejamento e distribuição
David Sheppard, Peter 1974 personalização. Está associada à em um edifício, inclusive as
Town técnica construtiva e distribuição divisões de cômodos e suas
de serviços. relações.
Douglas Queiroz “Concepção que prevê a planta “As unidades são projetadas
Brandão e Luiz 2003 livre, proporcionando a sem que sejam
Fernando Heineck possibilidade de gerar uma predeterminadas as
variedade de arranjos. [...] condições de uso, deixando
Envolve intervenção construtiva as decisões para os
para alternar os arranjos.” usuários. A ênfase está em
possibilitar funções
simultâneas para o mesmo
ambiente ou, ainda, a troca
de função, com facilidade e
rapidez, sem serviços de
construção.”
Tatjana Schneider e “Para alcançar a flexibilidade é Subconceito de flexibilidade
Jeremy Till 2007 necessário alterar a matriz física que trata a capacidade de
do edifício.” diferentes usos que um
mesmo espaço possui.
profissionais pelas quais passaram. Portanto, seria muito difícil escolher apenas uma definição
como correta. Brandão (2002) delimita os significados mais comuns relacionados à
flexibilidade:
Diversidade tipológica: dar ao comprador a possibilidade de escolha entre
plantas de diferentes tamanhos e compartimentações em um mesmo edifício.
Flexibilidade (em seu significado mais puro): o empreendimento entrega a
planta livre, provida apenas das instalações básicas e o morador configura o
espaço da maneira que preferir.
Adaptabilidade (polivalência): oferece cômodos neutros e hierarquicamente
semelhantes proporcionando ao morador opções diversas de uso em um mesmo
espaço.
Junção: dá ao comprador a possibilidade de unir duas unidades criando uma
maior.
[...] ficaram restritas à legislação sanitária e edilícia e a isenções fiscais, com uma
insignificante ação do Estado na produção de unidades habitacionais e
regulamentação do inquilinato. [...] o Estado atuou para estimular essa produção
[privada], com incentivos fiscais, segurança jurídica para os locatores e tolerância
em relação às normas edilícias e sanitárias. (BONDUKI, 2014, p.19)
Uma diferença, certamente, muito grande, entre os dois países é que a Holanda sempre
trabalhou com a continuidade da política pública implantada, enquanto o Brasil mudava sua
postura em relação aos problemas habitacionais de acordo com o cenário político. De acordo
com Vaillant e Velloso (2019):
Tanto a maior disponibilidade de crédito ofertada nos últimos dois anos como a
padronização possibilitam a execução de “ciclos mais rápidos de construção”, com
prazo máximo de aproximadamente 14 meses. Esses ciclos mais curtos de capital
aumentam, por sua vez, a taxa interna de retorno dos empreendimentos – e que
fazem com que a empresa se torne atraente e rentável aos seus investidores.
(SHIMBO, 2010, p. 207)
um poder que estabeleça uma equação de equilíbrio entre Estado, Mercado, Razão e
Sociedade” (JARDIM, 2016, p.41)
Em relação aos edifícios residenciais de múltiplos pavimentos construídos nesse
panorama tem sido desenvolvido um desenho que reúne as técnicas construtivas de melhor
custo benefício e repetição tipológica, a fim de elevar o lucro do empreendimento ao máximo.
Concluindo, existe uma diferença fundamental entre os modelos de provisão
habitacional apresentados no Brasil e na Holanda, diferenças estas causadas por fatores
históricos, de ordem social, cultural e econômica, que excluem o morador da tomada de
decisões a respeito das concepções projetuais dos edifícios. Portanto, é fundamental entender
a maneira como as políticas públicas e modelos de regulação de mercado proporcionam o
acesso à moradia em nosso país.
37
No inicio dos anos 2000 consolida-se a hegemonia de um novo agente privado que
exerce diversos papéis de uma só vez no processo construtivo, de acordo com Shimbo (2012):
Enfim, versões novas deste mesmo modelo foram sendo desenvolvidas ao longo dos
anos, impulsionadas pelo marketing cada vez mais atuante na área.
Segundo Villa (2006). “uma boa parte dos lançamentos de edifícios de apartamentos
de três dormitórios da cidade de São Paulo apresentava, a partir do final da década de 1990, as
chamadas plantas flexíveis” (VILLA, 2006, n.p.). Porém, apesar de virem como uma
inovação, essas plantas ainda apresentavam a estrutura convencional de desenho, trazendo a
cozinha para mais perto da sala, mas ainda apresentando a separação de setores social-íntimo-
serviço muito bem delineada, oferecendo poucas possibilidades de adequação ao comprador e
nenhuma participação na etapa de projeto.
A ideia de um apartamento tipo, pavimento tipo, ou mesmo, blocos de prédios
padronizados vem, segundo Shimbo (2012), da necessidade de controlar e organizar a
38
“produção capitalista industrial” (SHIMBO, 2012, p.111). Além disso a padronização de todo
o processo proporciona “ciclos mais rápidos de construção”, com pouco mais de um ano:
Esses ciclos mais curtos de capital aumentam, por sua vez, a taxa interna de retorno
dos empreendimentos – e que fazem com que a empresa se torne atraente e rentável
aos seus investidores. (SHIMBO, 2012, p.111)
Quanto ao papel dos arquitetos, um dos agentes do setor imobiliário, segundo Maciel
(2013), “pouca margem para experimentação de novos arranjos e tipologias” (MACIEL,
2013, n.p) é deixada em suas mãos. Na verdade o que se espera dele é que consiga, dentro da
legislação e suas brechas, melhor aproveitar o terreno e tornar o empreendimento o mais
rentável possível. Assim, a otimização dos processos do projeto converge exclusivamente
para o aumento do lucro.
É importante destacar que nesse cenário dos empreendimentos de prédios residenciais
existem diversos atores que desempenham diferentes papéis, Melhado (1994) divide o
funcionamento de um empreendimento imobiliário e seus processos em quatro principais
categorias de empregados o empreendedor, que gera o produto; o projetista, que desenvolve o
desenho do produto; o construtor, que viabiliza a fabricação; e o usuário, que assume a
utilização do produto final. Porém, é preciso deixar claro que essas categorias são um recorte
dos atores de maior peso envolvidos no processo de desenvolvimento de um empreendimento
imobiliário, devemos lembrar que, também, bancos financiadores, corretores imobiliários,
políticas públicas etc., contribuem, em maior ou menor grau, para a caracterização do
processo gerador do produto edifício.
O conceito de habitação não deveria ser rebaixado a um patamar onde será apenas um
objeto a ser comercializado, este conceito é complexo e está ligado às oportunidades e
escolhas dos indivíduos. De acordo com Jorge (2012) a habitação serve de “suporte às
atividades distintas [...], atendendo além das exigências básicas cotidianas, toda a
imprevisibilidade de fenômenos e necessidades que o acompanhará ao longo de sua vida”
(JORGE, 2012, p.43).
No momento em que são impostas padronizações na habitação convencional, limita-se
o poder de decisão e atuação do usuário, alimentando um ciclo de transferência 4 que nutre o
mercado imobiliário e confirma a ineficiência dos apartamentos produzidos para clientes
4
O ciclo de transferência se refere a quando uma família/morador precisa se mudar porque seu apartamento não
mais é compatível com seu modo de vida, obrigando-o a adquirir um novo. Assim, o “antigo” apartamento é
vendido a uma nova família/morador.
39
anônimos que estão fadados a adquirir um produto rígido. O apartamento passa a ser visto
apenas como um produto e não um espaço repleto de simbologias.
É necessário estar atento às mudanças que vêm ocorrendo no perfil dos compradores de
imóveis e na conformação familiar, pois elas prometem transformar o mercado imobiliário de
renda média e média alta, como é possível assimilar através da pesquisa feita pela ABRAINC
(Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) que tem como finalidade entender o
comportamento do consumidor e imóveis no ano de 2040. Algumas questões foram
respondidas acerca de como as próximas gerações viverão nas próximas décadas. Esta
pesquisa ajuda a traçar o perfil das moradias do futuro.
Demograficamente falando, existem alguns pontos importantes que impactam o
mercado de imóveis residenciais destacados pela ABRAINC. Um deles é a queda na
quantidade de filhos por família nos últimos cinco anos. Segundo projeções do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) este número continuará caindo, praticamente
se igualando à taxa apresentada por países mais ricos. Juntamente a este fator, existe o
aumento da expectativa de vida, que muda a forma da pirâmide demográfica brasileira,
evidenciando a diminuição da população em idade economicamente ativa como mostrado nos
Gráficos 01 e 02.
40
Segundo a pesquisa feita pela ABRAINC existe uma forte tendência de mudança na
conformação familiar, já que “o número de casamentos civis registrados diminuiu 2,3% entre
2016 e 2017, enquanto os divórcios cresceram 8,3% no mesmo período” (ABRAINC, 2019,
p.11). Neste novo panorama demográfico é evidente a diminuição do número de moradores
por residência levando à procura por espaços menores.
Nos próximos anos o poder de decisão na compra de imóveis será da chamada
“Geração Z”, que se refere aos nascidos entre os anos de 1994 e 2001. Esta geração, que já
nasceu conectada à internet, procura liberdade e valoriza a estética e tecnologia. De acordo
com a pesquisa da ABRAINC, “assim como para os millenials (nascidos entre os anos de
1985 e 1993), a flexibilidade é a palavra-chave para a geração Z” (ABRAINC, 2019, p.15),
uma casa que se adapte ao seu estilo de vida e não ao contrário, que possua boa localização e
espaços comuns que incentivem a socialização. Os jovens não mais têm como prioridade
começar uma família e comprar a casa própria, mas sim, viajar, estudar e abrir seu próprio
negócio.
O setor da construção civil tenta acompanhar as novidades tecnológicas e as demandas
das novas gerações, mas ainda caminha a passos lentos. Segundo estudo feito pela
ABRAINC, “apesar de alguns segmentos dentro da indústria da construção serem mais
intensivos em tecnologia, a cadeia como um todo, historicamente, tem baixo apetite pela
inovação” (ABRAINC, 2019, p.23) e, no Brasil, o investimento em tecnologia apresentado
pela área é ainda mais baixo que em outros países.
Recursos como a Internet das Coisas (IoT, sigla em inglês) para automação e
manutenção predial são considerados muito bem vindos pelos compradores nas construções
que serão desenvolvidas daqui para frente, porém para a instalação de dispositivos como estes
o edifício precisa oferecer uma infraestrutura muito bem planejada que permita a interação
entre softwares, assim como “uma configuração de cômodos mais abertos e interconectados”
(ABRAINC, 2019, p.42), destaca pesquisa do ABRAINC (2019).
Outra tendência muito forte e típica da geração Z, segundo a pesquisa, é o
compartilhamento do espaço residencial. Com o aumento do preço no espaço urbano devido à
alta concentração populacional o compartilhamento pode ser uma alternativa que ajuda a
reduzir os custos.
Tendo em vista esta pluralidade na sociedade é normal que os imóveis passem a
oferecer pluralidade de formatos, além da capacidade de reinvenção. Itens como cozinha
americana e muitas tomadas aparecem em posição de destaque na lista de prioridades (Tabela
42
04) ao se escolher um imóvel, o que evidencia a preferência por espaços integrados e mais
possibilidades no layout do apartamento. Estas alternativas já são atualmente exploradas.
aumentando a rotatividade de imóveis para a nova geração que possui um estilo de vida mais
dinâmico e não cria raízes. Nesse aspecto,
Esta ideia de ser dono de um imóvel se une às diversas políticas habitacionais oferecidas
pelos governos e por órgãos privados criando um paradigma, pois o Brasil enfrenta problemas
sérios relativos ao excessivo crescimento da mancha urbana que “dificulta a provisão de
serviços públicos e compromete a qualidade de vida dos moradores” (PINTO, 2020, s.p.),
segundo Pinto (2020), e reforçando a obsolescência de imóveis centrais construídos há
algumas décadas atrás.
Respaldado pelas diversas mudanças que ocorrem ao longo da vida de uma pessoa,
Pinto (2020) defende que morar de aluguel seria bem mais prático:
O autor defende que os contratos de locação atualmente são mais flexíveis e podem se
basear em qualquer período desde que acordado entre as partes e que a mudança de endereço
é um acontecimento natural hoje em dia, pois a “economia está em constante fluxo de
“destruição criativa”, com fechamento e abertura de novas empresas, seremos levados à
conclusão de que a locação é uma forma de moradia mais adequada que a casa própria”
(PINTO, 2020, s.p.).
Em quarenta anos o perfil dos compradores/locatários de imóveis será ainda mais
diferente, como é possível analisar pelo infográfico da Figura 06.
44
Figura 06: Infográfico que analisa o Brasil hoje e daqui há quarenta anos
oferecem novidades a cada dia, mas a internet torna o fluxo de informações mais rápido e
completo, portanto as pesquisas sobre os interesses da população estão cada vez mais
completas possibilitando atender aos anseios da geração Z ao realizar a compra/locação de
uma moradia.
Tal dinâmica tem levado, em geral, a duas formas de encarar a questão: a primeira,
considerando o ciclo de vida familiar, envolvendo a obsolescência física, funcional e
social ao longo da vida útil da edificação (família em crescimento, em encolhimento
ou no estágio estático); e a segunda, levando-se em conta a necessidade de atender
diferentes famílias, diferentes necessidades, diferentes estilos de vida dos ocupantes,
num mesmo momento. (BRANDÃO; HEINECK, 2003, p. 41)
flexibilização em determinados espaços. Algumas das razões mais comuns e suas soluções
foram exemplificadas por Brandão e Heineck (2003) de acordo com a Tabela 05:
Neste trabalho é utilizada como referência a teoria desenvolvida por Stewart Brand
(1994) que aponta que uma das formas mais eficientes de se projetar e analisar projetos é
pensando o edifício em camadas. Brand criou uma teoria bastante eficiente nesse sentido.
Inspirado pelas ideias de Frank Duffy5 desenvolveu a teoria dos “Shearing Layers”6
defendendo o pensamento de que uma construção é formada por diversas camadas e essas
camadas possuem diferentes “datas de validade”.
5
Arquiteto coofundador da empresa britânica de design DEGW e presidente do “Royal Institute of British
Architects” de 1993 a 1995.
6
Em tradução livre: camadas de corte.
51
Figura 08: Esquema apresentado por Stewart Brand em seu livro “How Buildings Learn” (1994) que mostra as
camadas de uma construção
A teoria dos “Shearing Layers” desenvolvida por Brand (1994) é relevante para o
desenvolvimento de projetos flexíveis porque proporciona trabalhar o edifício por suas
diversas camadas construtivas, sendo que, algumas delas, se mudadas, não causam
interferência na integridade física da construção enquanto outras devem permanecer estáticas:
a estrutura, por exemplo. A parte estática será analisada como sendo o suporte que permite as
modificações pautadas na flexibilidade espacial, como colocado pelo movimento Open
Building, a partir das teorias de Habraken.
A infraestrutura de um edifício é considerada por Maciel (2015) como sendo “a parte
invisível que suporta a parte visível” (MACIEL, 2015, p.69): toda a estrutura, como
fundações, pilares, vigas e lajes, assim como a parte relacionada aos sistemas prediais:
instalações elétricas, hidrossanitárias, prevenção e combate a incêndio, telefonia, e ainda
cômodos e áreas específicas como os blocos de circulação vertical:
A principal questão das infraestruturas prediais é que elas devem prever a mudança
dentro das unidades habitacionais e prover essa liberdade, o que torna o projeto muito mais
complexo.
A estrutura portante do edifício precisa ser pensada de modo a liberar o máximo de
espaço possível e simplificar o lay out, como destaca Leupen (2006):
[...] uma parede divisória não estrutural pode ser instalada à vontade graças à
presença da estrutura, a parte portante do edifício. Não é a parede propriamente, mas
a estrutura que permite que a parede possa ser disposta livremente ao retirar da
53
parede sua capacidade portante. Ou em um sentido mais geral: é o imutável que cria
condições para a transformação, o permanente liberta o temporário. Esse aspecto
permanente é a estrutura, e ela define o espaço no qual a transformação pode
ocorrer. (LEUPEN, 2006, p.25)
piso dispunha de duas conformações espaciais distintas, uma para o dia e outra para a noite.
Este paralelo está explicitado na planta baixa da Figura 09 e a setorização das áreas molhadas
em núcleos na Figura 10. Como descreve Jorge (2012), “a flexibilidade foi conseguida pela
[...] operacionalização de painéis deslizantes e móveis retráteis, e pela multifuncionalidade
dos espaços” (JORGE, 2012, p. 126).
Figura 09: Maison Loucheur, França, 1929. Le Corbusier. Planta baixa mostrando as adaptações para uso
noturno e diurno
Figura 10: Maison Loucheur, França, 1929. Le Corbusier. Planta baixa mostrando as áreas molhadas
Outro projeto icônico onde a setorização das áreas molhadas pode ser percebida é na
Farnsworth House, desenvolvida por Mies Van Der Rohe em 1951. Com a finalidade de
integrar a casa à natureza, o arquiteto propõe um projeto completamente transparente, sem
paredes internas e com paredes externas em vidro, exceto pela área molhada, banheiros e
cozinha mostrados na setorização da planta baixa na Figura 11; neste caso a finalidade da
concentração destas áreas não é exclusivamente pela flexibilidade do projeto, mas representa
um exemplo claro de concentração de instalações prediais.
56
Figura 11: Farnsworth House, Estados Unidos, 1951. Mies Van Der Rohe. Planta baixa mostrando as áreas
molhadas.
Uma das principais questões para desenvolver uma “unidade residencial flexível” é “a
localização estratégica de núcleos de serviços, áreas molhadas e circulação” (JORGE, 2012,
p.237). A setorização prévia destes elementos é capaz de definir mais precisamente os limites
entre o que pode ser alterado e o que precisa permanecer inerte: “essas zonas rígidas, com
infraestrutura de esgoto, água e demais sistemas prediais, devem estar concentradas em
núcleos, constituindo elementos permanentes de localização periférica ou central” (JORGE,
2012, p.237). A centralização das circulações verticais é muito comum por questões
financeiras e práticas, já que este modelo consegue atender a um número máximo de unidades
residenciais ao mesmo tempo.
Tomando como referência algumas das ideias de Mesquita (2000) e Finkelstein
(2009), e associando-as com o pensamento de Brand – o edifício como um sistema – foi
elaborada a Tabela 06 que destaca os principais elementos facilitadores da flexibilidade na
arquitetura residencial.
57
Alguns projetos desenvolvidos nos últimos anos podem ser colocados como exemplos
positivos nesta pesquisa com a finalidade de ilustrar algumas soluções bem sucedidas. No
Brasil existem poucos exemplos na área de habitação que apresentam flexibilidade espacial
mais radical, seja na planta baixa dos apartamentos, seja nas fachadas. Estes edifícios são, na
maioria das vezes, desenvolvidos por escritórios de arquitetura conhecidos e voltados para a
classe média alta e classe alta.
Apesar destas circunstâncias, um dos destaques no cenário da construção de edifícios
residenciais brasileiro atualmente é a construtora IDEA!Zarvos que possui alguns diferenciais
em relação às construtoras tradicionais: contrata arquitetos conhecidos no meio e lhes dá
maior liberdade de criação. De acordo com Lorente (2017):
No início dos anos 1990, a Holanda e o Japão se destacaram por retomar esses conceitos
e fazer novas experimentações, procurando diluir os “padrões rígidos de projeto - controle,
estabilidade e repetição - frente à indeterminação e mutabilidade da cidade contemporânea”
59
(MORAIS, 2018, n.p) abrindo espaço para “sistemas abertos que permitem uma maior
variedade de combinações (MORAIS, 2018, n.p)”. O projeto do edifício habitacional Next 21,
destacado na Figura 14, localizado na cidade de Osaka, no Japão, teve início em 1993, foi
coordenado por Yositika Utida e desenvolvido pensando no envelhecimento populacional -
que impacta fortemente a economia japonesa – e novas configurações familiares, e busca
colocar no mesmo espaço famílias de diferentes gerações que possam convier e se ajudar.
Além disso existem dezoito tipologias diferentes, geradas a partir da proposição de seus
moradores, como mostrado na Figura 13. É como se o edifício fosse um bairro vertical
permeado por jardins, segundo definição de Morais (2018), pois os apartamentos possuem
varandas ou terraços que contam como área externa abrindo o prédio ao seu entorno ao invés
60
Como pode ser observado na Figura 14, o sistema de circulação vertical é muito diferente
do que se encontra na maioria dos edifícios residenciais. A circulação é também externa,
posicionada junto às fachadas e não em um núcleo interno.
61
Figura 16: Diagramas mostrando as “ruas” internas, espaços coletivos e áreas verdes
Este projeto, identificado pela Figura 17, foi desenvolvido pelo escritório Andrade
Morettin para a construtora IDEA!Zarvos, foi o primeiro desta parceria. Está localizado na
Zona Oeste de São Paulo e foi concluído em 2010.
Outro diferencial deste projeto é que ele possui um recuo frontal generoso, como
mostrado na Figura 18, pensado com a finalidade de trazer um respiro à rua e melhorar as
condições de iluminação e ventilação do edifício.
Este projeto apresenta o grau máximo de flexibilidade referenciado neste trabalho, pois
possui sua planta completamente livre, apenas com as instalações preparadas. Sua
conformação espacial e sistemas – hidráulico e estrutural, por exemplo – deixam o morador
livre para escolher como morar. Esta liberdade arquitetônica está muito bem representada nas
Figuras 23, 24 e 25 (abaixo).
Figura 27: Planta do segundo pavimento mostrando os mezaninos ocupados pelos moradores
.
Fonte: Tila – Neo-Loft Apartaments (2017). Disponível em https://thematicdesign.org/wp-
content/uploads/2017/05/Project_card%20Tila.pdf Acesso em: 02 de julho de 2020.
73
Figura 29: Imagens de composições do interior dos lofts decorados pelos moradores
O projeto em questão foi desenvolvido pelo arquiteto paulistano Márcio Kogan e sua
arquitetura, caracterizada pela horizontalidade, pelo uso de grandes vãos livres e poucos
apoios, lembra o sistema corbusiano da casa Dom-ino.
O prédio de 13 andares construído em um terreno de 3.045m², em uma região nobre de
São Paulo, aproveitou ao máximo a área disponível e buscava, segundo o arquiteto, integrar
ao máximo o interior com o exterior através de grandes panos de vidro localizados nas salas
de cada apartamento. “As grandes aberturas integram varandas de 3,0m x 3,70m, que mais
funcionam como uma extensão do estar. Elas são protegidas pelos brises de madeira, que
deslizam de um lado ao outro, acompanham a fachada dos quartos, sombreiam os ambientes e
garantem a privacidade”, descreve Marcio Kogan. Os brises, que podem ser observados na
Figura 30, são também uma solução flexível, de baixo grau, que conferem movimento à
fachada e versatilidade de usos ao espaço adjacente a eles. Através delas os usuários podem
otimizar o conforto térmico dos ambientes de acordo com o uso interno e a incidência solar.
Figura 31: Planta baixa indicando os shafts, circulação vertical e paredes fixas/ pilares
Apesar de este edifício possuir soluções menos radicais referentes à flexibilidade, é dada
aos moradores alguma liberdade dentro de um “cardápio” controlado. Existe um núcleo fixo
de áreas molhadas que não pode ser alterado e plantas pré-estabelecidas, mas há a
possibilidade de integração entre espaços e a questão dos brises deslizantes que conferem um
ar de novidade a fachada dando aos moradores a sensação de inferirem diariamente na
aparência externa da construção.
A construtora Max Haus se define, de acordo com seu web site, como sendo uma
empresa que “respira customização”, possui uma linguagem jovem e recrimina os
apartamentos formatados como os de “200 anos atrás” (MAX HAUS, 2020). Prega a
flexibilidade a baixo custo e oferece um apartamento de planta livre, pronta para a
personalização, que vem com “elementos e instalações pensados para atender a uma enorme
diversidade de layouts futuro” (MAX HAUS, 2020). Ou seja, procura elaborar um discurso
sintonizado com o anseio por flexibilidade, o que, supostamente, estaria nas expectativas de
seu público de classe média alta. Este tipo de empreendimento ainda pode ser visto como
pioneiro no Brasil.
Além disso, as unidades apresentam diversas tecnologias que facilitam a vida do
morador: um aplicativo que regula a intensidade das luzes, fecha as cortinas, liga o som; porta
com fechadura eletrônica; vidros especiais nas janelas. O espaço interior possui concreto
aparente no teto e nas poucas paredes estruturais e cimento queimado em todo o piso, assim o
morador pode revesti-lo da forma que preferir ou deixar o acabamento da maneira que a
construtora entrega.
O interior não possui pilares ou paredes fixas que tirem a possibilidade do morador de
optar por uma planta livre. As unidades são entregues com um núcleo de banheiro finalizado,
assim como a pia e bancada de cozinha instaladas, como mostrado na Figura 32.
77
Figura 33: Algumas das opções de planta sugeridas pela construtora para a unidade de 70,5m²
Figura 34: Algumas das opções de planta sugeridas pela construtora para a unidade de 70,5m²
Fonte: Elaborado pela a autora a partir de dados obtidos com a construtora em entrevista (2020)
Figura 38: Recorte do mapa anexo ao Plano Diretor de Araxá indicando as zonas edificáveis
.
Fonte: Plano Diretor da cidade de Araxá.
84
Figura 39: Imagem aérea da região onde será implantado o empreendimento. O terreno usado está marcado em
vermelho
serviços dentro do limite de seus muros, defendendo que assim os moradores podem
encontrar tudo que precisam sem necessariamente sair da segurança de sua casa. Na Figura 41
é possível ver a implantação e planta baixa do pavimento térreo e identificar a piscina, o salão
de festas, vestiários, academia, playground, salão de jogos e a praça que se atravessa para
chegar à recepção.
O público alvo do empreendimento são pessoas que já residem nesta cidade de médio
porte e que apresentam, segundo o sócio proprietário da empresa, certa resistência a um
projeto que seja muito diferente do que é apresentado pela maioria das construtoras locais.
Preferem que as unidades sejam entregues finalizadas e comumente preferem a tipologia com
tripartição funcional serviço/ social/ íntimo.
86
O pavimento tipo de apartamentos se organiza como mostra a Figura 42, possui quatro
unidades e um núcleo central de circulação vertical:
Neste trabalho, os shafts indicados na Figura 48, em sua maioria, estão localizados
junto aos pilares e são fechados em alvenaria. Os shafts de telefonia e elétrica não influenciam
na organização espacial das unidades, pois estão localizados, como indicado em verde na
Figura 49, na área comum de circulação vertical do edifício e são distribuídos sobre os forros
e embutidos nas paredes de cada apartamento.
Figura 50: Pilares, shafts e demarcação dos cômodos em uma das unidades
Lamounier (2017) aponta que o piso elevado, o forro e os shafts podem ser considerados um
subsistema “que possibilitam maior abertura ao suporte; tanto na livre localização da área
molhada [...] quanto na localização de pontos elétricos e demais instalações” (LAMOUNIER,
2017, p.123), contribuindo no favorecimento da flexibilidade.
A circulação vertical, mostrada na Figura 53, está localizada no centro da planta do
pavimento tipo, entre as quatro unidades, concentrada em um núcleo onde se encontram os
elevadores, escada, duto de ventilação, armário para equipamentos e shafts de elétrica e
telefonia. Abreu e Heitor (2007) concordam que a localização concentrada das circulações é
uma boa estratégia, porém é preciso ainda criar alternativas de rotas ao projetar um edifício
com possibilidades flexíveis:
Figura 66:.
Figura 54: Planta baixa indicando as áreas molhadas: cozinha, lavanderia e banheiros, e shafts
A Fachada é vista como suporte em alguns casos e em outros não. Se for especificada
como “recheio”, Lamounier (2017) destaca que “alguns requisitos técnicos, em termos de
coordenação modular e conectividade, precisam ser adotados de antemão no projeto “suporte”
assim como questões ligadas a aparência final” (LAMOUNIER, 2017, p.117) e que:
Esta questão da unidade plástica das fachadas é polêmica, mas sua flexibilidade é
possível e a aparência pode ser acordada entre as partes envolvidas. As fachadas poderiam ser
99
pensadas para prever situações variadas e permitir alguns tipos de modificações, configurando
uma diversidade com unidade.
Imaginemos, portanto, que a construtora propusesse quatro ou cinco opções de
fachadas diferentes, mas dentro de uma linguagem, como um cardápio, que poderia conter
janelas com diferentes dimensões, varandas fechadas ou abertas por cortinas de vidro, entre
outros elementos.
Abreu e Heitor (2007) levantam a questão de como a configuração das fachadas está
diretamente ligada às modificações internas feitas em um espaço e como, em uma arquitetura
flexível, ela deve permitir a abertura de novos vãos de acordo com o rearranjo do interior. “A
estratégia auxiliar mais utilizada é a composição de métrica regular, ou irregular, que pelo seu
dimensionamento não põe em causa futuras configurações espaciais” (ABREU; HEITOR,
2007, n.p.). No empreendimento estudado não é oferecida nenhuma opção de modificação de
fachada, que é vista como suporte, assim como na maioria dos empreendimentos entregues
atualmente. O cliente pode somente fechar sua varanda com uma cortina de vidro pré-
aprovada pela construtora. A Figura 55 mostra a fachada frontal a ser entregue ao fim da obra.
100
Após analisar o posicionamento das paredes, lajes, vigas e shafts, é possível investigar
as possiblidades de alteração em uma das unidades, chamada Unidade D, cujo
posicionamento está demarcado na figura 58. Neste momento tais alterações serão feitas
apenas no que é considerado pela construtora como recheio
A construtora responsável pelo empreendimento disponibiliza aos compradores, ainda
no estande de vendas, a opção de modificar a planta, de formas controladas e previstas pelos
engenheiros responsáveis, porém as alterações não exploram todas as possibilidades. Portanto,
a seguir, novas propostas desenvolvidas a partir do estudo do edifício, serão apresentadas.
Iremos analisar mais a fundo as possibilidades referentes à unidade D indicada na Figura 56.
Figura 56: Planta baixa demarcando a posição das unidades A, B, C, D e no centro, a circulação vertical.
Figura 57: Planta na unidade D em sua conformação original entregue pela construtora
Na unidade apresentada na Figura 58 foi feita uma abertura na parede que divide a
cozinha da sala de jantar e instalado um balcão. Um dos quartos se transformou em sala de
TV trocando a porta deste cômodo de posição. Já na unidade apresentada na Figura 62 a
parede que divide a cozinha da sala de jantar foi demolida, um dos quartos foi retirado
aumentando a sala e o closet do quarto principal, assim como o banheiro do quarto principal.
A parede que divide a sala de estar com a varanda também foi retirada.
103
As mudanças apresentadas nas plantas das Figuras 60 e 61 fogem levemente do que foi
proposto pela construtora, porém sem alterar a estrutura e os shafts presentes no projeto,
mostrando que mesmo com um grau mais reduzido de flexibilidade seria possível deixar os
moradores mais livres para organizarem o espaço de maneira mais conveniente à sua rotina.
As propostas acima ainda poderiam ser incrementadas com soluções da ordem do
projeto de interiores. Assim, os moradores podem dispor de soluções pós-ocupação
facilitadas, mudanças feitas durante o uso, no dia-a-dia, que favoreçam as atividades
realizadas no ambiente, como:
1 – Cômodos reversíveis:
Biombos: ex.: dar mais privacidade a determinado ponto de um cômodo maior que
abriga mais de uma função.
Figura 62: Sala de TV isolada ou integrada à sala de estar por portas de correr
Figura 64: Planta baixa indicando os acessos ao home office e a área social do apartamento
3 – Mobiliário planejado:
Armários/ estantes com rodízios para fácil deslocamento: usados para divisão de
ambientes.
Móveis biombo: usados para divisão de ambientes (Figura 65 e Figura 66)
Mesas corrediças/ dobráveis
Camas escamoteáveis, suspensas, sofá cama.
110
Figura 67: Planta esquemática indicando a forma de um dos pavimentos tipo e destacando sua modulação
No Brasil, a solução do piso elevado com pedestais é mais recusada por apresentar
custo mais alto. No entanto, ela consiste numa boa solução não somente para
eventuais manutenções, vazamentos e infiltrações, mas também para problemas
recorrentemente reclamados [...] como o isolamento acústico ruim entre as unidades
habitacionais.” (LAMOUNIER, 2017, p.124)
Este sistema se vale de plataformas modulares sustentadas por pequenos pilares que
deixam um espaço entre a laje e o piso para o deslocamento de encanamento, conduítes e
instalações elétricas, como explicado por Barbosa (2016) e ilustrado na Figura 82:
114
Em áreas molhadas, como banheiros, o piso elevado possibilita a drenagem por ralos e o
livre deslocamento das tubulações. Lembrando que deve ser considerado o desnível
necessário para o bom funcionamento do sistema hidráulico. Na Figura 68 está ilustrada a
instalação de uma bacia sanitária sobre piso elevado.
Na Tabela 08, retirada do catálogo de uma das empresas que realiza a venda e
montagem do piso elevado é possível destacar que, apesar de este tipo de sistema poder
receber uma ampla gama de revestimentos, a indicação para sua aplicação é em áreas
corporativas.
agrupados em blocos. Para facilitar ainda mais o alcance, podem contar com painéis de
inspeção e manutenção que permitam acesso rápido e fácil para futuras reformas e
manutenções. Lamounier (2017) determina que devam estar:
Figura 70: Imagem esquemática indicando a posição dos shafts em um dos pavimentos tipo
Figura 71: Imagem esquemática indicando a posição dos shafts, a laje, o piso elevado e as instalações elétricas e
hidráulicas sob ele
Figura 72: Perspectiva indicando o posicionamento de pilares, shafts e os corredores de laje rebaixada por onde
as tubulações podem se deslocar
Figura 73: Planta baixa esquemática indicando o posicionamento de pilares, shafts e os corredores de laje
rebaixada por onde as tubulações podem se deslocar
A estrutura de qualquer construção certamente é dada como suporte e precisa ser fixa.
Portanto, a flexibilização da arquitetura demanda uma estrutura que forneça apoio e não
impeça mudanças que serão feitas.
Os pilares – em concreto armado ou aço - estão distribuídos conforme a modulação e
sua disposição indicada nas Figuras 74 e 75. As extremidades em balanço oferecem a
possibilidade de integrar as varandas aos espaços internos, fechando ou abrindo o ambiente.
Figura 74: Imagem esquemática indicando a posição dos pilares em um dos pavimentos tipo
Figura 75: Imagem esquemática indicando os pilares e vigas em um dos pavimentos tipo
Quanto às divisões internas, Jorge (2012) destaca que devem ser feitas a partir de
“componentes leves, de pouca espessura, alta transportabilidade, fácil instalação e
manutenção, independente dos demais subsistemas” (JORGE, 2012, p.176). Em nosso país é
muito comum o uso de divisórias internas construídas com blocos cerâmicos ou cimentícios,
porém, um material já muito utilizado em outros países que cumpre estes requisitos seria o
Drywall, definido por Silva (2007) como sendo “uma estrutura de aço galvanizado que recebe
painéis, que podem ser de gesso acartonado ou placas cimentícias, por meio de
aparafusamento” (SILVA, 2007, p.2). Destaca entre suas vantagens a racionalização dos
sistemas de fechamento, otimização do tempo de obra, maior controle de qualidade e,
principalmente, a redução de cargas no projeto e facilidade de montagem e desmontagem. Por
ser um componente construtivo que oferece paredes mais finas tem entre suas desvantagens o
desconforto acústico, porém, este fato pode ser evitado se for acoplada ao interior da parede
uma camada de lã mineral ou outro tipo de material isolante.
Nesta proposta as paredes fixas, indicadas na Figura 76, servem apenas para delimitar o
espaço destinado à circulação vertical. Todo o restante está livre de divisórias no momento da
compra.
121
Figura 76: Imagem esquemática indicando os pilares e paredes fixas em um dos pavimentos tipo
Figura 77: Imagem esquemática indicando a circulação vertical em um dos pavimentos tipo
.
Fonte: Elaborada pela autora (2020)
122
As áreas molhadas, banheiros e cozinhas, são áreas tidas como fixas em diversos
projetos que pretendem flexibilidade, mas poderiam, também, ser pensadas como passíveis de
alocações. Existem alguns recursos que, mesmo em um projeto convencional, contribuem
para mudanças de posicionamento dos banheiros.
As bacias sanitárias com saída horizontal direcionam o esgoto para trás,
horizontalmente, escoando diretamente para o shaft vertical hidráulico evitando a passagem
de tubulação por baixo da laje. Ainda não são amplamente utilizadas, mas são uma boa
alternativa. Deixam o piso livre facilitando a limpeza e as bacias podem ser facilmente
trocadas de posição e deslocadas ao redor do shaft hidráulico.
Figura 78: Diferenciação entre bacia com saída horizontal e bacia suspensa com saída horizontal.
Também o piso box, que é constituído de uma plataforma pouco elevada sob a qual a
tubulação se desloca, contribui para a flexibilidade na alocação das instalações sanitárias. É
ligado horizontalmente ao shaft, como a bacia sanitária de saída horizontal, permitindo que os
canos passem sobre a laje e não abaixo dela. Este sistema facilita futuras reformas, porém a
pequena diferença de nível torna mais difícil a acessibilidade para pessoas com necessidade
123
especial que teria que ser compensada com a instalação de uma pequena rampa de acesso ao
box.
Caso o projeto faça o uso de piso elevado à localização e as dimensões dos banheiros,
cozinhas e áreas de serviço podem ser mais livremente determinadas dentro de cada unidade
devido à facilidade de deslocamento do sistema hidráulico sob o piso. Caso o sistema de lajes
rebaixadas seja utilizado, as áreas molhadas podem sofrer alterações mais limitadas, mas
ainda se adaptariam mais facilmente se comparado a uma construção convencional.
em cada cômodo. Por que então, de acordo com Jorge (2012) estes quesitos são pouco
explorados no mercado habitacional brasileiro?
Nesta proposta iremos adotar duas diretrizes para o caso das fachadas:
Figura 84: Diferentes tipologias que podem surgir a partir das escolhas de cada cliente
Figura 86: Planta baixa do pavimento tipo antes da venda dos módulos indicando shafts e pilares
Figura 88: Planta baixa de uma unidade composta por três módulos
Figura 89: Planta baixa indicando o posicionamento de shafts, corredores de laje rebaixada e o caminho das
tubulações
O próximo exemplo indicado na Figura 90, mostra uma unidade maior, composta por
cinco módulos, que tem seu lay out desenvolvido para atender uma família que precisa de um
escritório para receber os clientes em casa. Possui: dois quartos, um banheiro social, sala,
cozinha, área de serviço e o escritório com lavabo. A planta baixa da Figura 91 indica os
shafts, corredores de laje rebaixada e caminho das tubulações para esta opção de planta.
132
Figura 90: Planta baixa de uma unidade composta por cinco módulos, com escritório/home office
Figura 91: Planta baixa indicando o posicionamento de shafts, corredores de laje rebaixada e o caminho das
tubulações
serviço integrada. A planta baixa da Figura 93 indica os shafts, corredores de laje rebaixada e
caminho das tubulações para esta opção de planta.
Figura 92: Planta baixa de uma unidade composta por seis módulos
Figura 93: Planta baixa indicando o posicionamento de shafts, corredores de laje rebaixada e o caminho das
tubulações.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estrutura modulada dimensionalmente (no caso, adotou-se uma malha de 30cm por
30cm, com vãos de até 4.80m).
Estrutura dissociada da compartimentação e fachada.
Utilização de elementos pré-fabricados sempre que possível, pela execução mais
rápida e com menos rejeitos, pela diminuição do peso próprio da estrutura – dependendo do
sistema escolhido – e pela maior padronização das partes.
Shafts localizados em blocos, com portas/ painéis de inspeção.
Para os pisos, o sistema que traz maiores possibilidades de flexibilização dos
ambientes seria o piso elevado por plataformas modulares, porém, esta é uma solução cara e
140
8. REFERÊNCIAS
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Entrevistado 01:
Entrevistado 02:
“Dar liberdade aos adquirentes para personalizar dentro dos parâmetros técnicos possíveis a
sua unidade dentro do empreendimento levando em consideração a compatibilidade destas
alterações ao projeto planejado.”
Sobre a relevância da flexibilidade: “[...] Destacamos a importância da consideração da
flexibilidade arquitetônica inclusive na habitação de interesse social, [...] O objetivo seria
organizar um conjunto de diretrizes e alterações para projeto que possibilite a adaptação
facilitada, adequada e harmoniosa da moradia ao longo de sua vida útil isto quando se trata de
unidade isolada.
“Sim, atendemos em uma primeira fase individualmente cada condômino sobre as alterações
das alvenarias para cumprimento do cronograma e demos liberdade para um novo
atendimento posterior para as alterações possíveis sobre acabamentos com apresentação de
sua planta baixa individual e memorial descritivo para estudo, orçamento e aprovação
individual de suas personalizações apresentadas.”
“Esta adaptação ao projeto pós mudança são de responsabilidades do cliente e tais alternativas
de pequenas adaptações caso ocorra deverão consultar o Manual do Proprietário entregue
quando do cheque list da unidade ou caso ainda assim permaneça as dúvidas consultar o SAC
disponível para atendimento da dúvida e demanda destas adaptações.”
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Segundo a empresa os sistemas construtivos que mais utilizam em seus projetos são:
Alvenaria estrutural de blocos em concreto
Alvenaria estrutural em blocos cerâmicos
Alvenaria convencional em concreto com fechamento de tijolos cerâmicos caso do
empreendimento em questão.
“A maioria dos empreendedores ainda está preso às construções feitas de acordo com
resultados rentáveis, usando soluções construtivas conservadoras já consolidadas no mercado.
Os processos construtivos mais modernos proporcionam maior flexibilidade no âmbito das
construções, propiciando o uso de vãos maiores e fechamentos leves, que conferem mais
liberdade na articulação dos projetos. Essas técnicas construtivas mais novas já são muito
utilizadas em alguns países do exterior, mas ainda não estão completamente difundidas no
Brasil. A evolução dos materiais e da industrialização da construção com certeza favorecerá a
aplicação da flexibilidade nas edificações de uso multifamiliar.”
10. Você acha que proporcionar flexibilidade pode trazer problemas para a manutenção do
edifício?
11. Os futuros moradores colocam a necessidade de poder alterar suas moradias ou o assunto
“flexibilidade” não é frequente no momento da venda das unidades?
“Já no Show Room somos abordados sobre possíveis mudanças de acordo com as
necessidades pessoais de cada adquirente e na concretização do negócio já divulgamos o
interesse de atendê-los. Posteriormente orçamos as alterações, organizando em planilha o
débito dos acréscimos e crédito nas retiradas de elementos que haviam sido propostos no
projeto inicial.”
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12. Os moradores acreditam que isso pode trazer problemas para a manutenção do edifício?