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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

MESTRADO PROFISISONAL EM ENGENHARIA DAS


CONTRUÇÕES

Flexibilidade espacial em edifícios de pavimentos múltiplos no mercado habitacional


brasileiro

MARIANA CASTRO DA MOTA

Ouro Preto
2021
MARIANA CASTRO DA MOTA

FLEXIBILIDADE ESPACIAL EM EDIFÍCIOS DE PAVIMENTOS MÚLTIPLOS NO


MERCADO HABITACIONAL BRASILEIRO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Engenharia das Construções da
Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro
Preto, como requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre Engenharia das Construções.

Orientador: Prof. Clécio Magalhães do Vale, D. Sc.


Coorientadora: Prof. Cláudia Maria Arcipreste, D
Sc.

Ouro Preto
2021
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO

M917f Mota, Mariana Castro da .


MotFlexibilidade espacial em edifícios de pavimentos múltiplos no
mercado habitacional brasileiro. [manuscrito] / Mariana Castro da Mota. -
2021.
Mot159 f.

MotOrientador: Prof. Dr. Clécio Magalhães Vale.


MotCoorientadora: Profa. Dra. Cláudia Maria Arcipreste.
MotDissertação (Mestrado Profissional). Universidade Federal de Ouro
Preto. Departamento de Engenharia Civil. Programa de Pós-Graduação
em Engenharia das Construções.

Mot1. Arquitetura de habitação - Projetos e plantas Termo tópico. 2.


Edifícios - Arquitetura de habitação. 3. sistemas construtivos. 4.
infraestrutura predial. I. Arcipreste, Cláudia Maria. II. Vale, Clécio
Magalhães. III. Universidade Federal de Ouro Preto. IV. Título.

CDU 624.014

Bibliotecário(a) Responsável: Maristela Sanches Lima Mesquita - CRB - 1716


10/03/2021 SEI/UFOP - 0143528 - Folha de Aprovação Dissertação

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
REITORIA
ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

FOLHA DE APROVAÇÃO

Mariana Castro da Mota

Flexibilidade espacial em edi cios de pavimentos múl plos no mercado habitacional brasileiro

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia das Construções da Universidade Federal


de Ouro Preto como requisito parcial para obtenção do tulo de mestre

Aprovada em 03 de março de 2021

Membros da banca
Doutor - Clécio Magalhães do Vale - Orientador - Universidade Federal de Ouro Preto
Doutora - Cláudia Maria Arcipreste - Universidade Federal de Ouro Preto
Doutor - Jonas Delecave de Amorim - Universidade Federal de Ouro Preto
Doutor - Silvio Romero Fonseca Mo a - Pon cia Universidade Católica de Minas Gerais

Clécio Magalhães do Vale, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito no Repositório
Ins tucional da UFOP em 10/03/2021

Documento assinado eletronicamente por Clecio Magalhaes do Vale, COORDENADOR(A) DO CURSO


DE ARQUITETURA E URBANISMO, em 10/03/2021, às 13:40, conforme horário oficial de Brasília,
com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

A auten cidade deste documento pode ser conferida no site


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acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0 , informando o código verificador 0143528 e
o código CRC 650C7460.

Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.002099/2021-12 SEI nº 0143528

R. Diogo de Vasconcelos, 122, - Bairro Pilar Ouro Preto/MG, CEP 35400-000


Telefone: 3135591546 - www.ufop.br

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais por terem me proporcionado tudo que foi preciso em minha vida acadêmica e
me incentivado a sempre buscar conhecimento. À República Toda Menina pelo acolhimento e
amizade. Vocês são parte da minha família! Ao Jonas e à Sandra pelo apoio psicológico,
incentivo e carinho durante esta jornada. Ao André por ter sido o primeiro a acreditar no meu
potencial quando cheguei à UFOP. E por último, mas não menos importante, ao meu
orientador Clécio e minha coorientadora Cláudia por me guiarem de forma tão paciente
durante todo o processo. Muito obrigada por tudo que me ensinaram!
“A arquitetura é sempre uma obra em aberto, que evolui e
acumula características ao longo do tempo.”

(Nayara Pires)
RESUMO

A sociedade e os modos vida têm se transformado cada vez mais rápido e se tornado mais
plural. Juntamente com estas transformações é preciso repensar constantemente o espaço que
habitamos. A flexibilidade arquitetônica é uma estratégia de projeto e um recurso construtivo
pelo qual o morador consegue adaptar o ambiente em que vive às suas necessidades e ela
pode ser uma solução viável para o cenário encontrado atualmente nas grandes cidades:
paisagens abarrotadas de edifícios produzidos em série pelas grandes construtoras, com
plantas repetidas e engessadas. Metodologicamente, para entender aspectos construtivos e de
projeto que facilitem as alterações pré e pós-ocupação em edifícios residenciais e embasar
um estudo de caso foram feitas análises de projetos afins à temática e uma revisão de
literatura relacionada ao tema da flexibilidade em arquitetura. Também, com a finalidade de
exemplificar e elencar pontos chave em um projeto, destacando elementos que o tornam mais
adaptável por seus ocupantes, foi desenvolvida pesquisa junto a uma empresa atuante no
mercado e analisado um de seus empreendimentos quanto aos arranjos espaciais, soluções
tecnológicas, estratégias projetuais e, a partir deste levantamento, foram traçadas diretrizes
que facilitem a flexibilização das unidades habitacionais. Como conclusão, destaca-se a
relevância de se proporcionar, nos projetos arquitetônicos, a flexibilidade espacial para se
atender às demandas dos usuários; a pouca atratividade que essas estratégias têm sobre os
empreendedores – devido à gestão da obra e influência sobre a lucratividade – e a importância
das soluções infraestruturais dos edifícios para viabilizar, tecnicamente, a possibilidade de
intervenção dos moradores.

Palavras-chave: projeto de arquitetura, arquitetura flexível, edifício residencial, sistemas


construtivos, infra estrutura predial
ABSTRACT
Society and ways of life have been changing more and more rapidly and have become more
plural. Along with these transformations, it is necessary to constantly rethink the space we
inhabit. Architectural flexibility is a design strategy and a constructive resource by which the
resident is able to adapt the environment in which he lives to his needs and this can be a
viable solution for the scenario currently found in large cities: landscapes crowded with
buildings produced in series by large construction companies, with repeated and plastered
plans. Methodologically, in order to better understand constructive and design aspects that
facilitate the pre and post-occupation alterations in residential buildings and support a case
study were made analyzes of projects related to the theme and a literature review connected to
the architectural flexibility. In order to exemplify and list key points in a project, highlighting
elements that make it more adaptable by its occupants, research was carried out with a
company operating in the market and one of its undertakings was analyzed for spatial
arrangements, technological solutions, design strategies and, from this survey, guidelines
were drawn up to facilitate the flexibility of housing units. As a conclusion, the relevance of
providing, in architectural projects, the spatial flexibility to meet the demands of users is
highlighted; the low attractiveness that these strategies have for entrepreneurs - due to the
management of the work and influence on profitability - and the importance of the
infrastructural solutions of the buildings to technically make possible the intervention of
residents.

Keywords: Architectural design, flexible architecture, residencial building, building systems,


building infrastructure.
LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Setorização tripartida de um apartamento do início do século XX. ...................... 21


Figura 02: Edifício Sampaio Moreira na época de sua construção e atualmente .................... 22
Figura 03: Villa Savoye: projeto de Le Corbusier .................................................................. 25
Figura 04: Villa Savoye: planta baixa ..................................................................................... 25
Figura 05: Dom-ino House de Le Corbusier ........................................................................... 26
Figura 06: Infográfico que analisa o Brasil hoje e daqui há quarenta anos ............................ 44
Figura 07: Infográfico demonstrando os arranjos familiares atuais ........................................ 46
Figura 08: Esquema apresentado por Stewart Brand em seu livro “How Buildings Learn”
(1994) que mostra as camadas de uma construção ................................................................... 51
Figura 09: Maison Loucheur, França, 1929. Le Corbusier. Planta baixa mostrando as
adaptações para uso noturno e diurno....................................................................................... 54
Figura 10: Maison Loucheur, França, 1929. Le Corbusier. Planta baixa mostrando as áreas
molhadas ................................................................................................................................... 55
Figura 11: Farnsworth House, Estados Unidos, 1951. Mies Van Der Rohe. Planta baixa
mostrando as áreas molhadas. .................................................................................................. 56
Figura 12: Uma das “fachadas” do Next 21 ............................................................................ 59
Figura 13: Os interiores de alguns dos apartamentos do Next 21 ........................................... 60
Figura 14: Vista de um dos corredores externos do Next 21 .................................................. 61
Figura 15: Planta do terceiro pavimento do Next 21 .............................................................. 62
Figura 16: Diagramas mostrando as “ruas” internas, espaços coletivos e áreas verdes .......... 62
Figura 17: Uma das fachadas do Edifício Aimberê ................................................................ 63
Figura 18: Recuo frontal do edifício ....................................................................................... 64
Figura 19: Plantas do Edifício Aimberê .................................................................................. 65
Figura 20: Diagrama mostrando os diferentes tipos de apartamentos no edifício .................. 66
Figura 21: Diagrama mostrando os diferentes tipos de apartamentos no edifício .................. 67
Figura 22: Fachada do Edifício Ainberê ................................................................................. 68
Figura 23: Apartamento de 50m² no momento da compra ..................................................... 69
Figura 24: Apartamento de 102m² no momento da compra ................................................... 70
Figura 25: Apartamento de 102m² no momento da compra ................................................... 71
Figura 26: Planta do segundo pavimento no momento da compra dos apartamentos ............ 71
Figura 27: Planta do segundo pavimento mostrando os mezaninos ocupados pelos moradores
.................................................................................................................................................. 72
Figura 28: Planta do segundo pavimento ocupada pelos moradores ...................................... 72
Figura 29: Imagens de composições do interior dos lofts decorados pelos moradores .......... 73
Figura 30: Fachadas com brises no edifícios Vertical Itaim ................................................... 74
Figura 31: Planta baixa indicando os shafts, circulação vertical e paredes fixas/ pilares ....... 75
Figura 32: Unidades Max Haus BLX de 70,5m² e de 74,7m² ................................................. 77
Figura 33: Algumas das opções de planta sugeridas pela construtora para a unidade de
70,5m² ....................................................................................................................................... 77
Figura 34: Algumas das opções de planta sugeridas pela construtora para a unidade de
70,5m² ....................................................................................................................................... 77
Figura 35: Mesorregiões de Minas Gerais .............................................................................. 80
Figura 36: Fachada principal ................................................................................................... 80
Figura 37: Fachada frontal do empreendimento ainda em construção.................................... 81
Figura 38: Recorte do mapa anexo ao Plano Diretor de Araxá indicando as zonas edificáveis
.................................................................................................................................................. 83
Figura 39: Imagem aérea da região onde será implantado o empreendimento. O terreno usado
está marcado em vermelho ....................................................................................................... 84
Figura 40: O prédio da maneira que se encontra atualmente: obra em desenvolvimento ....... 84
Figura 41: Implantação/ planta baixa térreo do empreendimento ........................................... 85
Figura 42: Planta baixa do pavimento tipo ............................................................................. 87
Figura 43: Apartamentos tipo.................................................................................................. 88
Figura 44: Planta esquemática indicando a localização das unidades A, B, C e D................. 89
Figura 45: Conjunto estrutural do pavimento tipo .................................................................. 90
Figura 46: Planta baixa com indicação de pilares e vigas ....................................................... 91
Figura 47: Perspectiva com indicação de pilares e vigas ........................................................ 92
Figura 48: Shafts do pavimento tipo ....................................................................................... 93
Figura 49: Planta baixa indicando os pilares e shafts da unidade D ....................................... 94
Figura 50: Pilares, shafts e demarcação dos cômodos em uma das unidades ......................... 94
Figura 51: Indicação de pilares, vigas e shafts da unidade D ................................................. 95
Figura 52: Planta baixa da circulação vertical do edifício ...................................................... 96
Figura 53: Circulação vertical do pavimento tipo. .................................................................. 97
Figura 54: Planta baixa indicando as áreas molhadas: cozinha, lavanderia e banheiros, e
shafts ......................................................................................................................................... 98
Figura 55: Desenho da fachada frontal do empreendimento................................................. 100
Figura 56: Planta baixa demarcando a posição das unidades A, B, C, D e no centro, a
circulação vertical. .................................................................................................................. 101
Figura 57: Planta na unidade D em sua conformação original entregue pela construtora .... 102
Figura 58: Planta na unidade D com modificações solicitadas por um cliente ..................... 103
Figura 59: Planta na unidade D com modificações solicitadas por um cliente ..................... 104
Figura 60: Planta na unidade D, com modificações .............................................................. 105
Figura 61: Planta na unidade D com modificações ............................................................... 106
Figura 62: Sala de TV isolada ou integrada à sala de estar por portas de correr .................. 107
Figura 63: Planta baixa destacando o cômodo multiuso ....................................................... 108
Figura 64: Planta baixa indicando os acessos ao home office e a área social do apartamento
................................................................................................................................................ 109
Figura 65: Espaço do closet delimitado pelo projeto de marcenaria..................................... 110
Figura 66: Estante que separa e dá mais privacidade a determinado cômodo ...................... 110
Figura 67: Planta esquemática indicando a forma de um dos pavimentos tipo e destacando
sua modulação ........................................................................................................................ 112
Figura 68: Instalação de bacia sanitária sobre piso elevado.................................................. 114
Figura 69: Detalhes demonstrando o interior do sistema de piso elevado ............................ 115
Figura 70: Imagem esquemática indicando a posição dos shafts em um dos pavimentos tipo
................................................................................................................................................ 116
Figura 71: Imagem esquemática indicando a posição dos shafts, a laje, o piso elevado e as
instalações elétricas e hidráulicas sob ele ............................................................................... 117
Figura 72: Perspectiva indicando o posicionamento de pilares, shafts e os corredores de laje
rebaixada por onde as tubulações podem se deslocar............................................................. 118
Figura 73: Planta baixa esquemática indicando o posicionamento de pilares, shafts e os
corredores de laje rebaixada por onde as tubulações podem se deslocar ............................... 118
Figura 74: Imagem esquemática indicando a posição dos pilares em um dos pavimentos tipo
................................................................................................................................................ 119
Figura 75: Imagem esquemática indicando os pilares e vigas em um dos pavimentos tipo . 120
Figura 76: Imagem esquemática indicando os pilares e paredes fixas em um dos pavimentos
tipo .......................................................................................................................................... 121
Figura 77: Imagem esquemática indicando a circulação vertical em um dos pavimentos tipo
................................................................................................................................................ 121
Figura 78: Diferenciação entre bacia com saída horizontal e bacia suspensa com saída
horizontal. ............................................................................................................................... 122
Figura 79: Exemplo de biso box ........................................................................................... 123
Figura 80: Esquema ilustrando a integração entre as partes fixas do edifício. ..................... 124
Figura 81: Cardápio de esquadria sugerido aos clientes ....................................................... 125
Figura 82: Proposta de fachada com composição livre. ........................................................ 126
Figura 83: Opções dadas aos clientes de modificação nas unidades..................................... 127
Figura 84: Diferentes tipologias que podem surgir a partir das escolhas de cada cliente ..... 128
Figura 85: Proposta de agrupamento das diversas tipologias ............................................... 128
Figura 86: Planta baixa do pavimento tipo antes da venda dos módulos indicando shafts e
pilares ..................................................................................................................................... 129
Figura 87: Plantas baixas com possíveis arranjos das unidades ........................................... 129
Figura 88: Planta baixa de uma unidade composta por três módulos ................................... 130
Figura 89: Planta baixa indicando o posicionamento de shafts, corredores de laje rebaixada e
o caminho das tubulações ....................................................................................................... 131
Figura 90: Planta baixa de uma unidade composta por cinco módulos, com escritório/home
office ....................................................................................................................................... 132
Figura 91: Planta baixa indicando o posicionamento de shafts, corredores de laje rebaixada e
o caminho das tubulações ....................................................................................................... 133
Figura 92: Planta baixa de uma unidade composta por seis módulos ................................... 134
Figura 93: Planta baixa indicando o posicionamento de shafts, corredores de laje rebaixada e
o caminho das tubulações. ...................................................................................................... 135
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01: Pirâmide demográfica do ano de 2019 ............................................................................ 40


Gráfico 02: Pirâmide demográfica do ano de 2040.............................................................................. 40
LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Definições de recheio e suporte de acordo com a teoria do Open Building.......... 30
Tabela 02: Níveis da flexibilidade........................................................................................... 32
Tabela 03: Conceitos de flexibilidade segundo Andrew Rabeneck, David Sheppard, Peter
Town, Herman Hertzberger, Steven Groák, Douglas Queiroz Brandão e Luiz Fernando
Heineck, Tatjana Schneider e Jeremy Till ................................................................................ 32
Tabela 04: Itens prioritários ao escolher um imóvel. .............................................................. 42
Tabela 05: Motivações que levam à modificações nas residências ......................................... 49
Tabela 06: Elementos facilitadores de flexibilidade ............................................................... 57
Tabela 07: Dados do empreendimento .................................................................................... 85
Tabela 08: Especificações de piso elevado ........................................................................... 120
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BNH – Banco Nacional da Habitação


SFH – Sistema Financeiro de Habitação
ABRAINC – Associação Brasileira de Incorporadoras e Imobiliárias
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
IoT – Internet of Things (Internet das Coisas)
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
COVID-19 – Corona Vírus Disease (Doença do Corona Vírus)
MAVR – Modelo de Assentamento Vertical Residencial
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15
1.2 Objetivos ................................................................................................................................... 17
1.2.1 Geral ......................................................................................................................... 17
1.2.2 Específicos ............................................................................................................... 17
1.3 Métodos e processos ................................................................................................................ 18
1.4 Estrutura do trabalho ............................................................................................................... 18
CAPÍTULO 02: Contextualizando a flexibilidade .............................................................. 20
2.1 Origem e antecedentes da habitação coletiva ....................................................................... 20
2.2 O modernismo e a arquitetura funcionalista ......................................................................... 23
2.3 O Edifício Aberto ..................................................................................................................... 28
2.4 Holanda e Brasil: uma história de políticas habitacionais distintas .................................. 33
CAPÍTULO 03: A produção habitacional e o usuário ........................................................ 37
3.1 A produção de habitação de mercado e suas perspectivas ................................................. 37
3.2 O lugar do usuário .................................................................................................................... 45
CAPÍTULO 04: Estratégia de projeto e construção: o edifício como sistema .................. 50
4.1 Shearing Layers........................................................................................................................ 50
4.2 Infraestrutura predial como pressuposto de flexibilidade espacial .................................... 52
CAPÍTULO 05: Referenciando a flexibilidade ......................................................................... 58
5.1 Algumas obras de referência .................................................................................................. 58
5.1.1 Next 21 (1994) ......................................................................................................... 58
5.1.2 Edifício Aimberê 1749 (2010) ................................................................................. 63
5.1.3 Tila Loft (2011) ....................................................................................................... 68
5.1.1 Vertical Itaim (2014) ................................................................................................ 74
CAPÍTULO 06: Estudo de Caso – Análises e proposições para um empreendimento
residencial vertical multifamiliar de mercado ..................................................................... 79
6.1 Contextualização e apresentação ........................................................................................... 79
6.2 Análise do Empreendimento quanto a soluções flexíveis .................................................. 85
6.3 Proposições: construindo a flexibilidade ............................................................................ 101
CAPÍTULO 07 – Potencializando a flexibilidade .............................................................. 111
7.1 Proposta de diretrizes projetuais para um edifício residencial flexível .......................... 111
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 137
9. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 141
15

1. INTRODUÇÃO

Nos empreendimentos habitacionais, o morador é, na maioria das vezes,


negligenciado, e suas necessidades são levadas em consideração de maneira padronizada,
seguindo a ótica do construtor e buscando a redução de custos em oposição com as
especificidades de cada família. Isto provoca inadaptações, desconfortos, reformas e custos
adicionais, pois os edifícios não proporcionam a possibilidade de customização. Esta pesquisa
propõe, então, um estudo da flexibilidade espacial arquitetônica, aplicada à habitação
multifamiliar de mercado, como um dos meios de enfrentar as limitações das iniciativas do
mercado imobiliário. A flexibilidade aqui é entendida como uma gama de recursos
construtivos dos quais o morador dispõe para adaptar a habitação às suas necessidades ou
projetá-la de acordo com sua vontade dentro de tipologias similares em um mesmo edifício,
por exemplo.
A relevância desta pesquisa está na importância que o morar tem sobre nós,
influenciando o modo como trabalhamos, nos relacionamos – dentro do círculo familiar e fora
dele – além de proporcionar tranquilidade nos momentos de lazer, proteção – tanto física
como emocional –, estabilidade e ser capaz de criar memórias.
Os edifícios multifamiliares são, hoje, protagonistas no cenário das cidades de médio e
grande porte do mundo. Esse tipo de construção é uma herança da primeira Revolução
Industrial e da construção de habitações coletivas motivada pelas consequências deixadas
pelas grandes guerras da Europa, segundo Jorge (2012). Contudo, sua tipologia pouco evoluiu
desde então e os apartamentos se repetem, por vezes idênticos, em blocos de prédios também
idênticos que apenas cumprem as regras mínimas relativas à habitabilidade.
Nas grandes cidades os apartamentos são construídos cada vez menores, devido ao
alto custo dos terrenos, e as soluções de plantas com elevado grau de semelhança reproduzem,
em larga escala, uma realidade de habitação que, se não pode ser única para cada morador ou
para cada família, ao menos poderia permitir adaptações para maior conforto dos usuários.
Como aponta Tramontano (2006) ao final do século XX e início do século XXI, o
mercado imobiliário brasileiro, e principalmente o das grandes cidades, se consolidou como
um mercado agressivo, tomado pela especulação imobiliária, onde o papel do arquiteto foi,
aos poucos, sendo reduzido a adaptar projetos que fossem considerados economicamente
interessantes pelos promotores, reduzindo os moradores e suas particularidades a um grupo
padronizado que habita apartamentos com plantas de desempenho padrão. Projetos
16

desenvolvidos e executados a partir dos anos de 1990 e 2000 têm sido, segundo o autor,
“definidos nos stands de venda por profissionais que fundamentam suas decisões em
representações nem sempre verossímeis das aspirações dos compradores”.
No cenário atual da construção civil é muito claro o monopólio das grandes
construtoras e empreiteiras que lançam mão de projetos padronizados e rígidos – com
tipologias que facilitam a construção – reproduzindo milhares de prédios idênticos,
desconsiderando as necessidades individuais de quem os habitam. Porém, existem iniciativas,
ainda reduzidas, de empresas que têm buscado melhor atender os futuros moradores de seus
empreendimentos. As estratégias dessas construtoras serão destacadas posteriormente neste
trabalho.
Apesar de a iniciativa de gerar empreendimentos habitacionais ser das empresas
construtoras, o incorporador, em determinados cenários – como os das cidades de pequeno e
médio porte - é um dos atores mais importantes no processo de construir e vender
apartamentos. Segundo Ribeiro (1997), ele acumula as funções de “coordenar o processo
produtivo e assumir as responsabilidades pela comercialização” (RIBEIRO, 1997, p.92), pode
participar da compra do terreno, encabeçar o financiamento e tomar decisões no processo de
produção do projeto arquitetônico.
Em certa medida, também as normas edilícias, mesmo não tendo essa finalidade,
acabam criando uma espécie de fórmula construtiva. Tendo em vista esta realidade, o
processo de projetar e o papel do arquiteto acabam sendo relegados a segundo plano. De
acordo com Maciel (2013 n.p.):

Ao arquiteto reserva-se a tarefa de dar um bom aproveitamento da disposição em


planta – pré-definida pelo corretor, baseado nos modelos pré-existentes que são
exemplos bem sucedidos de venda – e definir os materiais das fachadas – a partir de
uma reduzida paleta que associa custo compatível com o empreendimento e a
expectativa de representação social necessária para a boa comercialização do
produto. (MACIEL, 2013, n.p)

A arquitetura residencial precisa evoluir juntamente com a sociedade e suas novas


relações sociais e econômicas: a internet e a globalização mudaram a forma das pessoas
trabalharem e se deslocarem. Tudo isso influencia diretamente na conformação das famílias e
em suas necessidades ao habitar um espaço. A moradia precisa ser considerada mais que um
bem econômico, meramente material, mas também uma condição de bem estar para o
cidadão. De acordo com Jorge (2012) deve “transformar-se no próprio evento da experiência
17

humana das emoções” (JORGE, 2012, p.167). Isso traz a necessidade de desenvolver uma
arquitetura flexível e adaptável.
Neste contexto, é evidente que o estudo da flexibilidade contribui para o
desenvolvimento de projetos arquitetônicos que proporcionem aos moradores de apartamentos
uma moradia mais confortável e adaptada ao seu modo de vida. Portanto, é pertinente
apresentar maneiras de conceber edifícios mais flexíveis e destacar quais seriam os
componentes construtivos mais adequados. Esta pesquisa parte, então, do entendimento da
relevância da diversidade de soluções para os empreendimentos de habitação coletiva e do
reconhecimento dos experimentos teóricos e práticos desenvolvidos no campo do projeto
arquitetônico para chegar à aplicação de estratégias de flexibilidade construtiva em um
edifício produzido pelo mercado imobiliário.
Diante do exposto, são estabelecidos os objetivos desta pesquisa:

1.2 Objetivos

1.2.1 Geral
O objetivo geral do trabalho foi investigar estratégias projetuais que buscam proporcionar
flexibilidade espacial em edifícios de habitação coletiva de mercado, de forma a contribuir
para um habitat mais eficiente e adaptável para o morador contemporâneo.

1.2.2 Específicos
Os objetivos específicos do trabalho foram:

 Identificar como a padronização dos projetos residenciais multifamiliares afeta o


cenário habitacional atual e quais os principais desafios relacionados à implementação
da flexibilidade.
 Identificar as principais teorias relacionadas à aplicação da flexibilidade em
empreendimentos de pavimentos múltiplos do mercado habitacional.
 Expor a dinâmica familiar contemporânea e como ela tem transformado a maneira de
morar.
 Discutir a produção arquitetônica de edifícios residenciais de múltiplos pavimentos em
relação à flexibilidade através da referência de outros projetos.
 Identificar componentes e maneiras de projetar os sistemas construtivos que facilitem
mudanças de layout e adaptações dos apartamentos.
18

 Aplicar o conceito de flexibilidade em um exercício projetual simplificado de um


empreendimento de mercado de habitação coletiva.

1.3 Métodos e processos

A metodologia aplicada a este trabalho buscou, primeiramente entender teoria,


conceitos e evolução histórica vinculados ao tema da flexibilidade em espaços residenciais
através de uma revisão de literatura. Neste momento os principais objetivos foram: levantar
informações sobre a atual situação do tema estudado, conhecer o material que já foi publicado
e os aspectos relevantes que já foram levantados sobre o tema, destacar opiniões similares ou
diferentes que possam já ter surgido sobre o tema.
Com a finalidade de compreender melhor o problema foram usados exemplos de
projetos que destacam o tema da flexibilidade, um estudo de obras análogas que serviram de
referência para o estudo principal.
A análise de um empreendimento real de edifício residencial de múltiplos pavimentos
inserido no mercado de vendas foi de suma importância para alcançar os objetivos propostos
nesta dissertação. O estudo de caso em questão foi desenvolvido em caráter de pesquisa
qualitativa exploratória que procura analisar indutivamente os dados coletados, por meio de
entrevistas semiestruturadas com pessoas que tiveram experiências práticas ligadas ao objeto
de estudo. E o edifício estudado foi escolhido por representar uma produção recorrente no
contexto habitacional de mercado do Brasil atualmente: está situado em uma cidade de médio
porte e é um empreendimento voltado para a classe média.
Finalmente, baseado na revisão bibliográfica, obras análogas de referência e no estudo
de caso foi desenvolvido o apontamento de diretrizes projetuais para uma proposta
arquitetônica mais flexível para o edifício residencial apresentado.

1.4 Estrutura do trabalho

Esta pesquisa apresenta uma estrutura composta por seis capítulos que transitam desde
os aspectos históricos até o estudo técnico dos graus de flexibilidade nos projetos
arquitetônicos de edifícios residenciais, passando, também, por um exercício projetual em que
se testa as possibilidades de flexibilidade a partir da abordagem da infraestrutura predial.
O Capítulo 1 contextualiza a flexibilidade, expondo as raízes da questão habitacional
no Brasil e como a produção de edifícios residenciais se desenvolveu em nosso território,
19

como no início dos anos 2000 foi consolidada a hegemonia das grandes empresas
incorporadoras fundidas às construtoras e o projeto dos prédios passou a ser visto como um
processo de “produção em massa” que precisava de ciclos construtivos cada vez mais rápidos
e o modo que esta questão influenciou a arquitetura. Aborda definições relevantes, destaca
historiadores e arquitetos imprescindíveis na linha do tempo da flexibilidade e quais teorias
foram formuladas através desses estudos, com destaque para o Open Building. Por fim, traça
um paralelo entre a produção arquitetônica holandesa (berço do Open Building) e o mercado
de edifícios residenciais no Brasil.
No Capítulo 2 são apresentadas as perspectivas relacionadas à produção da habitação
de mercado, as tendências e mudanças mais significativas no cenário nos próximos anos.
Além disso, é abordado o aspecto do morador dos apartamentos: como a conformação
familiar vem mudando ao longo dos últimos anos, qual o perfil dos moradores e quais as
facilidades demandam em suas moradias.
O Capítulo 3 introduz o assunto das técnicas construtivas e a infraestrutura predial
através do conceito de camadas construtivas (“Shearing Layers”), de Stewart Brand, e como
essas camadas podem ser projetadas a fim de facilitar a flexibilidade de um edifício.
No Capítulo 4 são apresentadas obras de referência, executadas no Brasil e em outros
países, que apresentam diferentes níveis de flexibilidade e tratamentos exemplares de
abordagem do assunto.
O Capítulo 5 apresenta o estudo de caso de um edifício residencial, seus aspectos
construtivos e sua maneira de abordar a flexibilidade. A partir de sua avaliação crítica, são
estudadas alternativas para se ampliar seus níveis de flexibilidade.
Por fim, no Capítulo 6, são propostas novas diretrizes projetuais que dotam o edifício
de uma estruturação mais coerente e eficaz em relação aos propósitos originais desse trabalho:
investigar o potencial de soluções técnico construtivas para edifícios de uso multifamiliar que
proporcionem elevados graus de flexibilidade aos seus moradores.
20

CAPÍTULO 02: Contextualizando a flexibilidade

2.1 Origem e antecedentes da habitação coletiva

Por ter seu foco voltado para construções residenciais de múltiplos pavimentos, este
capítulo faz uma retrospectiva de como se desenvolveu o mercado de edifícios ao mesmo
tempo em que destaca os conceitos mais importantes em relação à flexibilidade, com a
finalidade de mostrar como a história da habitação de múltiplos pavimentos e a flexibilização
dos espaços andam lado a lado.
Desde que o homem abandonou sua condição nômade ele vem se adaptando a novas
formas de morar e aprimorando as construções para que se tornem mais confortáveis e
convenientes aos seus costumes. A mudança inicial mais significativa que despertou a
construção de edifícios residenciais de múltiplos pavimentos foi a Revolução Industrial
iniciada em meados do Século XVIII. Segundo Esteves (2013):

A revolução Industrial e a consequente migração das pessoas, em grande escala,


para as cidades, tendo em vista a crescente necessidade de alimentar as fábricas com
uma grande quantidade de trabalhadores; a evolução tecnológica nos processos de
trabalho e respectiva mecanização de atividades, que antes eram produzidas de
forma artesanal; os problemas das explosões demográficas, das migrações
avassaladoras e a precariedade e carência de moradias; o legado catastrófico entre as
duas guerras, com a sociedade em processo de modificação acelerada; e o automóvel
como mote de expansão urbana, formaram a urgência para as novas ideias e
concepções de projeto, que mobilizaram arquitetos de todo o mundo em busca de
condições dignas para as camadas populacionais. (ESTEVES, 2013, p. 49)

No Brasil, os ecos da Revolução Industrial se tornaram visíveis em meados do Século


XIX, de acordo com Cruz e Tavares (2018), e foi no contexto da abolição da escravidão, da
instituição do trabalho livre assalariado e da proclamação da República que “foram
empreendidas as primeiras ações de intervenção urbana fortemente influenciadas pelos
movimentos higienistas europeus” (CRUZ; TAVARES, 2018, p.1137). O movimento
higienista “relacionava as características no meio físico, como clima, posição geográfica,
qualidade da água, às condições da cidade” (MULLER, 2002, p.2018) e à saúde da população
buscando a melhor organização do espaço urbano de acordo com as possibilidade da época
(MULLER, 2002).
O aumento da área urbanizada trouxe também “a periferização da moradia” e a
“especialização na divisão do espaço urbano”. Para Maricato (2013) as mudanças na lógica
urbana brasileira ocorridas no final do Século XIX lançaram as bases de um modelo urbanista
onde:
21

Realizavam-se obras de saneamento básico para eliminação das epidemias, ao


mesmo tempo em que se promovia o embelezamento paisagístico e erem
implantadas as bases legais para um mercado imobiliário de corte capitalista.
(MARICATO, 2013, p.17)

Desencadeada pela Revolução Industrial há uma relevante mudança na conformação


familiar que gradualmente substitui a organização de sociedade medieval pela burguesa, como
apontado por Tramontano (1997). O êxodo rural e essa mudança social criaram um modo
muito específico de se morar: o proletário passa a viver em moradias simples, insalubres,
normalmente de um único cômodo1 enquanto os burgueses moravam em construções de dois
ou três pavimentos, com uma tipologia rígida composta por três setores bem estabelecidos -
que ainda usamos como base pra as tipologias atuais – serviço, social e íntimo. A área social
era composta pelos cômodos de convívio da família, salas de estar e jantar. E a área íntima
abrigava os quartos de dormir e banheiros. Esta tripartição muito bem definida está
exemplificada na planta da construção datada do início do século XX apresentada na Figura
01.

Figura 01: Setorização tripartida de um apartamento do início do século XX.

Fonte: Bueno (2018)

1
A moradia do proletariado passou por modificações e melhorias ao longo do tempo devido ao aparecimento de
enfermidades e até mortes dos trabalhadores. Surgiram vilas operárias com leis sanitaristas mais rígidas a fim de
protegê-los.
22

Em análise sobre o mercado imobiliário de edifícios de apartamentos e sua evolução


através dos anos, Villa (2006) destaca que, sob influência das mudanças econômicas que
aconteciam nos Estados Unidos e Europa, vários edifícios que foram construídos nas áreas
centrais de São Paulo entre os anos de 1910 e 1920, possuíam normalmente quatro
pavimentos e lojas no térreo. Na cidade do Rio de Janeiro, Villa (2006, n.p.) explica que:

Era necessário e primordial conferir aos apartamentos exclusividade e luxo, já que


esta modalidade de moradia causava repulsa nas elites, que condenavam os cortiços,
estalagens, casas de cômodos e todo agrupamento coletivo de espaços de morar.
(VILLA, 2006, n.p)

A partir da década de 1930 acontece uma elevação, tardia, no nível de industrialização


da construção civil em nosso país, o que viabilizou a construção de edifícios cada vez mais
altos e de acordo com, Cruz e Tavares (2018) se tornou “uma das condições de possibilidade
do aparecimento das massas urbanas” (CRUZ; TAVARES, 2018, p.1140).
Um dos edifícios mais emblemáticos da época é o Edifício Sampaio Moreira,
mostrado nas Figuras 02, projetado por Christiano Stockler e Samuel das Neves, possuía doze
pavimentos, estrutura em concreto armado e se destacou como o edifício mais alto de São
Paulo entre 1924, ano que foi inaugurado, e 1929. Pode ser considerado o primeiro dos
edifícios de múltiplos pavimentos de grande porte de São Paulo.

Figuras 02: Edifício Sampaio Moreira na época de sua construção e atualmente

Fonte: Sp City (2019). Disponível em https://spcity.com.br/edificio-sampaio-moreira-primeiro-arranha-ceu-de-


sao-paulo/ Acesso em 08/05/2019; Rosangela Fialho (2012). Disponível em
23

https://rosangelafialho.wordpress.com/2012/07/21/edificio-sampaio-moreira-sao-paulo-brasil/ Acesso em
08/05/2019.
Por volta dos anos de 1920 e 1930, a construção civil passa também a contar com
novas tecnologias construtivas que permitem a construção de vãos maiores e estruturas que
são capazes de construir diversos andares sobrepostos. A cidade burguesa do século XIX
começa a se modificar cada vez mais rápido e o negócio imobiliário se torna uma atividade
extremamente rentável. A especulação imobiliária e os grandes empreendimentos
habitacionais em si não são responsáveis pela substituição da residência unifamiliar, mas sim,
uma das consequências deste acontecimento.
Segundo Villa (2006), “na passagem dos anos 1920 para os anos 1930, a população
paulistana aumentou significativamente em decorrência do processo acelerado de
industrialização e metropolização, criando um déficit habitacional nunca visto na cidade”
(VILLA, 2006, n.p.). Definida essa nova conformação urbana foi a vez de se criarem leis que
pudessem reger esse novo mercado e “proteger” os inquilinos e construtores: “A partir da Lei
do Inquilinato de 1942 assentiu-se ao estabelecimento de formas e programas habitacionais
que garantissem o sucesso dos empreendimentos, isto é, o lucro, a venda e o aluguel das
unidades” (VILLA, 2006, n.p.). As décadas seguintes, 1940, 1950 e 1960 viriam para
consolidar de vez o domínio dos edifícios residenciais de múltiplos pavimentos na paisagem
das cidades brasileiras. As mudanças históricas serão abordadas a partir de agora, em conjunto
com os conceitos mais importantes que norteiam este trabalho.

2.2 O modernismo e a arquitetura funcionalista

A flexibilidade na arquitetura e seu conceito apresentam uma enorme diversidade de


definições. A investigação de sua aplicação torna-se necessária devido aos muitos
experimentos concretos que procuraram aplicar estes conceitos que foram sendo
desenvolvidos por diversas correntes teóricas.
Se procurarmos o vocábulo “flexível” em um dicionário da língua portuguesa
encontramos a seguinte definição: “1. Que se pode dobrar. 2. Elástico. 3. Fácil de manejar. 4.
Que se adapta com facilidade aos acontecimentos. 5. Tendência para realizar diversas
atividades”.2
Conceitos importantes para a arquitetura flexível começaram a ser melhor
desenvolvidos, discutidos e aprofundados na década de 1920, com os estudos encabeçados
2
Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. O minidicionário da língua portuguesa. 4ª Ed. rev. Ampliada. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2001
24

por Le Corbusier. O arquiteto procurava enxergar as plantas de apartamentos como se fossem


chassis de carros: uma base estrutural desvinculada dos “ornamentos” que poderiam ou não
ser acoplados a ela e, mediante esse tipo de pensamento, criou um de seus projetos mais
famosos, a Villa Savoye - apresentada na Figura 03 e em planta baixa na Figura 04 -, e os
cinco preceitos que norteariam as construções modernistas. É pertinente citar esses preceitos,
pois eles se misturam às definições dadas às moradias flexíveis e à definição de elementos
facilitadores da flexibilidade nas construções – como apresentado:
1 – Planta Livre: se dá, comumente, através da máxima desvinculação possível entre
estrutura e fechamentos. O que possibilita o “movimento” das paredes internas de acordo com
a necessidade do usuário.
2 – Fachada livre: uma consequência da planta livre. A estrutura não interfere nos
fechamentos, incluindo o fechamento externo, portanto as janelas podem ser dispostas do
modo que arquiteto e cliente prefiram.
3 – Janelas em fita: esse modelo de janela vem exatamente para marcar a
independência existente na fachada. As aberturas não mais precisam ser interrompidas pela
presença de uma coluna.
4 – Terraço jardim: este conceito nasce da ideia de se aproveitar ao máximo os
espaços. Na visão de Le Corbusier não seria adequado perder uma área tão grande através da
instalação de um telhado inclinado, portanto ele idealiza um jardim e espaço de contemplação
na cobertura da edificação.
5 – Pilotis: este preceito foi norteado por diversos ideais. Os pilotis tornam a paisagem
mais leve e permeável, tanto física quanto visualmente. Em centros urbanos trazem aos
moradores maior segurança, já que os habitantes poderiam ver através dos edifícios. No caso
da Villa Savoye os pilotis ainda definem um espaço de garagem e protegem a entrada da
residência.
25

Figura 03: Villa Savoye: projeto de Le Corbusier

Fonte: Arquieditorial (2020). Disponível em https://arquieditorial.com/5-puntos-para-una-nueva-arquitectura/


Acesso em: 09 de Mar. De 2020.

Figura 04:Villa Savoye: planta baixa

Fonte: Blog da Arquitetura (2020). Disponível em https://www.blogdaarquitetura.com/casas-mais-famosas-e-


iconicas/ Acesso em 09 de Mar. De 2020.

Le Corbusier defendia uma arquitetura progressista e que estivesse à frente do seu


tempo, porém, ainda mantinha uma noção de flexibilidade controlada, um grau de
flexibilidade que não extravasava o projeto em si e as determinações do arquiteto. Segundo
26

Esteves (2013) ele “acreditava que podia produzir “povos felizes”, ou seja, que era do
arquiteto o poder de mudar a sociedade através do habitat humano” (ESTEVES, 2013, p.53).
Uma de suas maiores contribuições para o estudo da flexibilidade na arquitetura é o projeto da
Dom-ino House mostrado na Figura 05, o protótipo de um sistema construtivo que poderia ser
aplicado em diversas situações funcionais. Esse sistema é composto de lajes horizontais,
pilares recuados das fachadas e os pavimentos são comunicados por escadas externas à
construção. Ou seja, a Dom-ino House emprega os preceitos das construções modernistas e
pode servir de base para a construção de diversos projetos pautados na ideia de arquitetura
flexível.

Figura 05:Dom-ino House de Le Corbusier

Fonte:Giacomo Hanamn (2017). Disponível em https://giacomohanman.wordpress.com/2017/03/04/the-domino-


house/ Acesso em: 10 de Mar. De 2020.

Apesar de o desenho modernista possuir limitações na exploração da flexibilidade e na


compreensão de seu significado para a arquitetura, os estudos e projetos desenvolvidos sob
sua perspectiva ajudaram a criar um grande repertório e iniciar uma discussão que permanece
atual. O movimento moderno na Arquitetura também se relaciona diretamente com a
necessidade de ligar um novo sistema de produção às ciências e à arte. Segundo Finkelstein
(2009):
27

A arquitetura moderna é sem dúvida o movimento arquitetônico que mais


possibilidades criou para a questão da flexibilidade. Ao romper com a tradição
clássica da mimese, deixando pra trás a atitude de conceber projetos através de
modelos, tipos pré-concebidos, a arquitetura moderna inaugura um modo de gerar a
forma no qual não há um sistema pré-estabelecido. (FINKELSTEIN, 2009, p. 31)

Ao discutir o movimento moderno é pertinente relacioná-lo às ideias da Arquitetura


Funcionalista, já que ela surgiu no mesmo contexto do modernismo: Revolução Industrial e
produção em série. A Arquitetura Funcionalista defende a estreita relação entre forma e
função. De acordo com Esteves (2013) “a forma, a expressão exterior, o desenho, ou o que
quer que escolhamos de um edifício, devia, segundo a própria natureza das coisas, seguir a
função desse edifício, e que, onde a função não mudasse, a forma também não mudaria.
(2013, p.51, apud BRAND, 1994)”. Esse tipo de arquitetura mais racionalista nasceu da
necessidade de refazer as cidades após serem destruídas pela guerra e devolver moradias à
população o mais rápido possível. Assim, tornou-se o motivo principal pelo qual as pessoas
começaram a receber moradias com plantas cada vez mais rígidas feitas de modo sequencial
sem se preocupar com as necessidades específicas de cada família.
Nesta época foram empregados em larga escala componentes pré-fabricados que
possuíam duas qualidades fundamentais, segundo Santos (2012), “agilidade no processo de
produção, quando comparado a outras tecnologias, e a eliminação de desperdícios, outro fator
indispensável à crise instalada” (SANTOS, 2012, p.12).
Em diversos momentos históricos, como no Pós Guerra, o conceito de funcionalismo
esteve atrelado ao da flexibilidade. Porém, a relação entre forma e função criada pelo
funcionalismo é demasiadamente inerte, pois o arquiteto deve levar em conta a mudança na
função de um espaço, de um cômodo, dentro de uma residência ao longo do tempo. O
pensamento funcionalista acaba criando uma arquitetura “engessada” e estática, o que leva a
um conflito com algumas das premissas da flexibilidade – a da polivalência, por exemplo -
que defende o fato de um mesmo espaço ter a capacidade de abrigar atividades diversas
dependendo da necessidade de quem o habita.
Assim, torna-se pertinente falarmos um pouco sobre o conceito de “inflexibilidade”.
Segundo Esteves (2013) “inflexibilidade, a nível habitacional, significa que os ocupantes não
têm nenhuma opção a não ser mudar de moradia se essa não corresponder à alteração das suas
necessidades” (ESTEVES, 2013, p.47). E esse pensamento torna as construções obsoletas e
inúteis levando à demolição/reforma das mesmas.
28

Ainda que a racionalização tenha contribuído muito para a história da arquitetura,


acredita-se que o emprego de suas premissas deveria ser revisto nas construções
contemporâneas. A repetição dos apartamentos tipo, os preceitos funcionalistas, normas
dimensionais e a padronização excessiva, se tornam, segundo Jorge (2012):

[...] álibis perfeitos para uma arquitetura direcionada a usuários desconhecidos,


disseminam, ainda hoje, modelos de caráter universal, reforçados por estratégias
mercadológicas que homogeneízam o comportamento e pouco favorecem o uso
diversificado do espaço da habitação, condição indispensável ao sujeito
contemporâneo, ao estado de vida plural das novas estruturas familiares, às rápidas
transformações sociais, tecnológicas e culturais do mundo contemporâneo. (JORGE,
2012, p.16)

É possível, portanto entender como ao longo da história da arquitetura, juntamente


com as mudanças econômicas, políticas e sociais, alguns dos termos pertinentes ao
desenvolvimento desta pesquisa começaram a ser definidos: flexibilidade, arquitetura
funcionalista, inflexibilidade arquitetônica.

2.3 O Edifício Aberto

Outro conceito importante para a história da flexibilidade, para fins comparativos, é o


surgimento de diversas estratégias e teorias que buscaram sistematizar a abordagem da
flexibilidade na habitação, entre elas, a Teoria dos Suportes, de Nicholas John Habraken, e o
Movimento Open Building. Como citado anteriormente, a produção habitacional em massa,
devido aos danos causados pela Segunda Guerra Mundial no segmento habitacional, levou, na
Europa, a construções padronizadas que excluíam o usuário do processo de produção. Este
fato provocou a crítica de alguns arquitetos, entre eles Habraken, que as formalizou em seu
livro Supports (1962).
A teoria criada por Habraken representa uma resistência ao emprego de sistemas cada
vez mais industrializados que levavam a construções altamente padronizadas e à falta de
participação do usuário nos processos de escolha durante a fase de construção de sua moradia.
Sua teoria consiste, basicamente, em projetar o edifício como um suporte para as
moradias que serão “inseridas” nesse esqueleto. Segundo Finkelstein (2009) “os suportes
concentrariam todos os elementos fixos numa casa, aqueles sobre os quais o usuário não tem
poder de decisão e são definidos no projeto” (FINKELSTEIN, 2009, p.55), assim como
estrutura, circulação vertical, paredes portantes e elementos de infraestrutura, como as
instalações sanitárias. Assim, os moradores teriam total autonomia sobre os outros elementos:
divisórias, equipamentos mecânicos, posição dos banheiros e cozinha e componentes de
29

fachada, por exemplo. Lamounier (2017, p. 91) compara a definição de estrutura suporte de
Habraken com a Dom-ino House, mostrada anteriormente na Figura 11, tópico 1.2, de Le
Corbusier, já que ela ilustraria a ideia de um esqueleto da construção sobre o qual cada
morador definiria seu espaço.
A partir dos princípios estabelecidos pela Teria dos Suportes, se constituiu o
movimento Open Building3, que procura, principalmente, dar voz ao morador nas questões
relacionadas ao projeto e o faz entregando um espaço completamente customizável. Mas, para
tanto, o arquiteto desenvolve uma nova forma de empregar tecnologias construtivas, a fim de
viabilizar esse espaço não conhecido antecipadamente, e apresenta o método organizacional
de “recheios e suportes”, delimitado na Tabela 01, que melhor orienta o processo de
produção:

Tabela 01: Definições de recheio e suporte de acordo com a teoria do Open Building

SUPORTE RECHEIO

FIXO – Corresponde ao sistema estrutural, MUTÁVEL – Arranjo interno dos cômodos, com
abastecimento de água, energia e gás. Instalações paredes ou divisórias, esquadrias internas e
sanitárias, drenagem, instalações elétricas. externas, forro, piso, acabamentos em geral,
Circulações de uso coletivo. mobiliário.

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Segundo Lamounier (2017), “para que ocorra compatibilidade entre suporte e recheio,
todos os componentes construtivos devem estar coordenados modularmente e apresentar
características de conectividade” (LAMOUNIER, 2017, p.90). Os elementos construtivos
precisam estar preparados para se conectarem uns aos outros, por exemplo, as ligações
hidráulicas devem estar prontas e posicionadas estrategicamente no espaço para receber as
bancadas de pias.
Habraken pretende criar uma arquitetura que ponha novamente o morador à frente das
decisões projetuais de sua residência. Alguns historiadores, como Montaner (2001), acreditam

3
O movimento Open Buildind foi articulado pelo arquiteto John Habraken em seu livro Supports: An
Alternative to Mass Housing e busca organizar o processo de tomada de decisões da produção do espaço
construído através de intervenções feitas pelos envolvidos, para isso divide a construção em partes estáticas, os
recheios, e partes mutáveis, os suportes.
30

que sua proposta acaba dando origem a uma espécie de “arquitetura sem arquitetos” e por isso
sofre diversas objeções dentro do próprio campo da arquitetura, mas concorda que o mais
importante, nesse caso, em relação ao projeto, deve ser: deixar ao futuro morador uma boa
base – estrutura, instalações hidráulicas, instalações elétricas, circulação vertical – para que
ele possa definir seus parâmetros arquitetônicos de acordo com modo de vida que pretende
levar naquele espaço. Além disso, Montaner afirma que as ideias de Habraken e a teoria do
Open Building foram extremamente vanguardistas e importantes para se repensar a arquitetura
que vinha sendo feita.
Algumas correntes, como a da polivalência dos espaços, defendida principalmente por
Herman Hertzberger, acreditam que a ideia de introduzir flexibilidade ao desenho
arquitetônico indica indecisão e pouco comprometimento por parte de seu idealizador,
levantando a questão: Até que ponto devem ir as alterações feitas pelo usuário? Alterações
posteriores podem ser vistas tanto como corrupções de um bom trabalho arquitetônico ou
como indícios de um mau projeto arquitetônico, isto é, indícios de que o arquiteto não soube
fornecer a solução que se esperava. Segundo análise de CASTRO e KAPP (2004, n.p.) sobre a
dissertação de PALHARES (2001), “grande parte das modificações é proveniente da
insatisfação dos usuários frente aos pressupostos adotados pelo arquiteto”.
Palhares (2001), em trabalho acerca de modificações e adaptações realizadas por
moradores ao longo dos primeiros anos de ocupação em um conjunto habitacional em Belo
Horizonte, levanta uma questão muito pertinente: o bom arquiteto deve fornecer ao seu
público soluções prontas e irretocáveis?
Alguns autores defendem que a “adaptabilidade” possa ser uma solução intermediária e
menos radical à flexibilidade, mesmo necessitando de demolições e construções de elementos
para alterar um espaço. Hertzberger (1996), por exemplo, defende que a flexibilidade pode se
tornar “ausência de identidade” e que sua forma mínima já conduziria o espaço a uma solução
ótima. O autor faz uso do termo “polivalência”, que Esteves (2013) define como “uma forma
que se preste a diversos usos sem que ela própria tenha que sofrer mudanças físicas”
(ESTEVES, 2013, p. 43).
O conceito de adaptabilidade cria um paralelo com o conceito de flexibilidade e apesar
de parecidos eles carregam inegáveis diferenças. Em seus estudos Tatjana Schneider e Jeremy
Till colocam o termo “adaptabilidade” como sendo utilizado em situações mais específicas
além de o tratarem como uma subcategoria da flexibilidade. Schneider e Till (2005)
esclarecem: “[...] a adaptabilidade numa habitação permite diferentes usos sociais em
determinados espaços, enquanto a flexibilidade permite variações de arranjos”
31

(SCHNEIDER; TILL, 2005, p. 160). Portanto, a flexibilização de um espaço está ligada a


mudanças físicas e estruturais enquanto a adaptabilidade/mutabilidade/polivalência está
relacionada à capacidade de um mesmo espaço servir a diversos usos.
Esteves (2013) alega que a flexibilidade está diretamente ligada às técnicas
construtivas e à capacidade de oferecer escolhas ao morador, além de criticar os projetos que
apresentam uma falsa flexibilidade: as tentativas falhas de flexibilidade são criticadas por
remeterem a uma “falácia da liberdade através do controle” (ESTEVES, 2013, p.41, apud
RABENECK; SHEPPARD; TOW, 1973, p 698).
Portanto, percebemos a dualidade da situação: em determinadas situações a excessiva
racionalização e normatização da arquitetura não acompanha os desejos reais dos ocupantes
do espaço, tornando a flexibilização da planta a melhor saída para os futuros moradores serem
capazes de adaptar seu lar de acordo com suas necessidades mais urgentes e as que podem
surgir ao longo dos anos de ocupação, mas por outro lado, também é preciso levar em
consideração o limite a que os projetos que apresentam plantas flexíveis podem chegar. A
Tabela 02 mostra que é possível escolher entre diferentes níveis de flexibilidade:

Tabela 02: Níveis da flexibilidade

NÍVEIS DA FLEXIBILIDADE
Suave Radical
Indeterminação funcional: diversos Movimentação de elementos
usos em um mesmo ambiente físicos: painéis e móveis
Polivalência Mudança na localização de paredes
Exemplo: e portas.
Crescimento da edificação

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Os conceitos relacionados à flexibilidade forem sendo desenvolvidos e lapidados ao


longo dos anos e apresentam peculiaridades convenientes a diferentes situações na hora de
projetar, como indicado na Tabela 03.
32

Tabela 03: Conceitos de flexibilidade segundo Andrew Rabeneck, David Sheppard, Peter Town, Herman
Hertzberger, Steven Groák, Douglas Queiroz Brandão e Luiz Fernando Heineck, Tatjana Schneider e Jeremy Till

Conceitos
Autores Ano Flexibilidade Adaptabilidade Polivalência
Andrew Rabeneck, Oferece a capacidade de escolha e Planejamento e distribuição
David Sheppard, Peter 1974 personalização. Está associada à em um edifício, inclusive as
Town técnica construtiva e distribuição divisões de cômodos e suas
de serviços. relações.

Herman Hertzberger A flexibilidade pode se tornar “Uma forma que se


1991 “ausência de identidade” e sua preste a diversos usos
forma mínima já conduz o espaço sem que ela própria
a uma solução ótima. tenha que sofrer
mudanças físicas”
Steven Groák 2002 “Capacidade de responder a “Capacidade de responder
várias disposições físicas a diferentes usos sociais”
possíveis”

Douglas Queiroz “Concepção que prevê a planta “As unidades são projetadas
Brandão e Luiz 2003 livre, proporcionando a sem que sejam
Fernando Heineck possibilidade de gerar uma predeterminadas as
variedade de arranjos. [...] condições de uso, deixando
Envolve intervenção construtiva as decisões para os
para alternar os arranjos.” usuários. A ênfase está em
possibilitar funções
simultâneas para o mesmo
ambiente ou, ainda, a troca
de função, com facilidade e
rapidez, sem serviços de
construção.”
Tatjana Schneider e “Para alcançar a flexibilidade é Subconceito de flexibilidade
Jeremy Till 2007 necessário alterar a matriz física que trata a capacidade de
do edifício.” diferentes usos que um
mesmo espaço possui.

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

É visível que diversos autores, ao longo do tempo, desenvolveram suas definições de


flexibilidade de acordo com a época em que viveram e as experiências pessoais e
33

profissionais pelas quais passaram. Portanto, seria muito difícil escolher apenas uma definição
como correta. Brandão (2002) delimita os significados mais comuns relacionados à
flexibilidade:
 Diversidade tipológica: dar ao comprador a possibilidade de escolha entre
plantas de diferentes tamanhos e compartimentações em um mesmo edifício.
 Flexibilidade (em seu significado mais puro): o empreendimento entrega a
planta livre, provida apenas das instalações básicas e o morador configura o
espaço da maneira que preferir.
 Adaptabilidade (polivalência): oferece cômodos neutros e hierarquicamente
semelhantes proporcionando ao morador opções diversas de uso em um mesmo
espaço.
 Junção: dá ao comprador a possibilidade de unir duas unidades criando uma
maior.

O exercício projetual desenvolvido ao final deste trabalho tomará como base a


flexibilidade em seu significado mais puro, a planta livre entregue ao usuário equipada com as
instalações necessárias para que ele determine o interior da residência.
De uma forma ou de outra, os projetos contemporâneos devem ser pautados pela
imprevisibilidade e mobilidade que os usuários demandam. Digiacomo (2004) define
habitação flexível como “[...] aquela que permite que seus moradores a adaptem aos seus
desejos e necessidades sem grandes obras ou investimentos financeiros” (DIGIACOMO,
2004, p.6). Só assim eles poderão garantir sua satisfação. A flexibilidade arquitetônica talvez
seja a única forma de acompanhar essa sociedade livre e ágil nascida da globalização, porém,
em algumas culturas, a implementação deste tipo de arquitetura é mais complexa.

2.4 Holanda e Brasil: uma história de políticas habitacionais distintas

Considerando que a ideia de flexibilidade tem sua formulação original em países


europeus – a ideia de uma arquitetura aberta “nasceu” na Holanda e é neste continente que
alcançou maior desenvolvimento e aplicabilidade. É importante considerar suas condições
sociais e econômicas, bastante distintas das do Brasil, e compará-los. Seu desenvolvimento na
na Holanda se deve, em parte, aos aspectos culturais da habitação no país e parte ao incentivo
político presente na gestão pública da provisão de habitação. Historicamente, as construções
vernáculas da Holanda são casas nos tradicionais canais holandeses onde, de acordo com
34

Lamounier (2017) “construía-se primeiramente a fachada, com o telhado e a estrutura de


portas e janelas, para então arranjar os cômodos dentro da habitação” (LAMOUNIER, 2017,
p.109). Assim como armazéns que eram feitos com paredes perimetrais de alvenaria que
sustentavam o telhado estruturado em madeira deixando o grande vão interior livre.
Para destacar a grande diferença entre Brasil e Holanda é pertinente comparar as suas
políticas de incentivo à construção habitacional: o modelo de habitação social da Holanda é,
segundo Vaillant e Velloso (2019), “um modelo internacional de implementação eficaz da
habitação social e do acesso à moradia” (2019, p.24). As autoras defendem que a chave do
sucesso habitacional é devido às Housing Associations, associações fundadas na segunda
metade do século XX por empresas privadas que se interessavam em promover moradia
operária e posteriormente foram abraçadas pelo Estado, porém permanecendo privadas. São
definidas por Vaillant e Velloso (2019) como “associações privadas com fins públicos”
(VAILLANT, VELLOS, 2019, p.26). Este modelo cooperativista levou ao desenvolvimento
de um modelo sólido e autônomo de habitação social.
O Brasil e a Holanda têm em comum o motivo que levou a se pensar a habitação social,
que foi o grande êxodo rural e as aglomerações operárias em torno do ambiente fabril, porém,
cada governo adotou uma estratégia diferente para enfrentá-los. Em nosso país, as iniciativas
estatais, segundo Bonduki (2014):

[...] ficaram restritas à legislação sanitária e edilícia e a isenções fiscais, com uma
insignificante ação do Estado na produção de unidades habitacionais e
regulamentação do inquilinato. [...] o Estado atuou para estimular essa produção
[privada], com incentivos fiscais, segurança jurídica para os locatores e tolerância
em relação às normas edilícias e sanitárias. (BONDUKI, 2014, p.19)

Uma diferença, certamente, muito grande, entre os dois países é que a Holanda sempre
trabalhou com a continuidade da política pública implantada, enquanto o Brasil mudava sua
postura em relação aos problemas habitacionais de acordo com o cenário político. De acordo
com Vaillant e Velloso (2019):

A lei holandesa funciona como regulador de ações mediadoras entre o público e o


privado e instrumentos de administração da propriedade e seus usos. No que o
Brasil, ao contrário, é marcado por grande dispersão. (VAILLANT E VELLOSO,
2019, p.46)

Posteriormente, programas de habitações populares, como a estratégia implementada


pelo BNH e o projeto Minha Casa Minha Vida no Brasil, poderiam ter sido usado para aplicar
diferentes técnicas construtivas, modelos e materiais, porém o governo não incentivou novas
35

tecnologias como a pré-fabricação e as construções modulares, que já haviam sido muito


exploradas na Europa e Estados Unidos. “No momento em que o país mais construiu, pouco
se evoluiu” (JARDIM, 2016, p.33).
Pode-se dizer que houve uma mudança significativa na arquitetura habitacional a
partir da década de 1990. Arquitetos esboçavam uma reação à arquitetura que, até então,
vinha sendo feita. “Alguns projetos dos anos 1990 apontam para uma reflexão sobre a cidade
que vai além das questões do ecletismo arquitetônico” (JARDIM, 2016, p.33).
No início dos anos 2000, o desemprego e a queda na renda do brasileiro deslocaram o
déficit habitacional para as faixas de renda mais baixas da população e existia um alto déficit
habitacional predominante nessas camadas, de acordo com Nabuki (2008). Segundo o autor,
houve grande “fracasso dos programas públicos e incapacidade dos mecanismos de mercado
para o enfrentamento do problema” (NABUKI, 2008, p.82). Claramente, a questão da
habitação não seria resolvida apenas com a construção de mais unidades a cada ano, era
preciso uma política urbana, fundiária e de saneamento muito bem articuladas.
Com relação às concepções arquitetônicas da atual produção habitacional, o que torna
os projetos cada vez mais padronizados é a busca pelo lucro rápido e pela rapidez na
construção baseada na produção em série e na manufatura serial. Está sendo criado um ciclo
vicioso entre especulação, indústria da construção civil e clientes:

Tanto a maior disponibilidade de crédito ofertada nos últimos dois anos como a
padronização possibilitam a execução de “ciclos mais rápidos de construção”, com
prazo máximo de aproximadamente 14 meses. Esses ciclos mais curtos de capital
aumentam, por sua vez, a taxa interna de retorno dos empreendimentos – e que
fazem com que a empresa se torne atraente e rentável aos seus investidores.
(SHIMBO, 2010, p. 207)

Entendendo o histórico apresentado, é possível dizer que os melhores projetos de


habitação brasileiros foram, na verdade, desenvolvidos por iniciativas privadas, já que,
aparentemente, o dinheiro disponível para os programas habitacionais, segundo Jardim
(2016), “não permite grandes alterações da formatação pré-estabelecida” (JARDIM, 2016,
p.41). Existem ainda grandes limitações legais e políticas atravancando o desprendimento das
construções habitacionais do antigo modelo tipológico quarto / sala / banheiro / cozinha. E
ainda, as especulações imobiliárias e fundiárias crescem cada vez mais, agravando a carência
de moradia no Brasil. Jardim (2016) conclui, de acordo com texto de Bonduki (2014), que a
intervenção estatal se transformou em campanha política sem “conceber a arquitetura como
36

um poder que estabeleça uma equação de equilíbrio entre Estado, Mercado, Razão e
Sociedade” (JARDIM, 2016, p.41)
Em relação aos edifícios residenciais de múltiplos pavimentos construídos nesse
panorama tem sido desenvolvido um desenho que reúne as técnicas construtivas de melhor
custo benefício e repetição tipológica, a fim de elevar o lucro do empreendimento ao máximo.
Concluindo, existe uma diferença fundamental entre os modelos de provisão
habitacional apresentados no Brasil e na Holanda, diferenças estas causadas por fatores
históricos, de ordem social, cultural e econômica, que excluem o morador da tomada de
decisões a respeito das concepções projetuais dos edifícios. Portanto, é fundamental entender
a maneira como as políticas públicas e modelos de regulação de mercado proporcionam o
acesso à moradia em nosso país.
37

CAPÍTULO 03: A produção habitacional e o usuário

3.1 A produção de habitação de mercado e suas perspectivas

No inicio dos anos 2000 consolida-se a hegemonia de um novo agente privado que
exerce diversos papéis de uma só vez no processo construtivo, de acordo com Shimbo (2012):

A incorporadora e a empresa construtora, fundidas numa mesma figura jurídica,


agora compra terrenos (e os reserva, num land bank), executa a construção,
comercializa as unidades habitacionais, articula o financiamento habitacional do
cliente e captura recursos no mercado de capitais – além daqueles do SFH.
(SHIMBO, 2012, p.20)

Cada vez mais, aumentava o processo de incorporação e a quantidade de prédios


construídos que, na maioria das vezes, oferecia o mesmo modelo tipológico: sala, dormitório
(variando entre dois e três quartos), banheiro e cozinha. Além do quarto de empregada e
entradas social e de serviço separadas. Esse é modelo replicado milhares de vezes nas várias
metrópoles brasileiras até hoje.
Com a diminuição da quantidade de terrenos disponíveis, fato que se deve ao aumento
da densidade urbana, e também devido aos preços elevados dos terrenos, os apartamentos
começam a perder área de planta e ganhar equipamentos anteriormente inexistentes, como:
piscinas, saunas, salões de festa. Segundo Villa (2006),

Os empreendimentos, principalmente de alto luxo, iniciam um processo que se


desenvolve com toda força nos dias atuais, de valorização da esfera coletiva dos
edifícios de apartamentos, caracterizado pelo surgimento de equipamentos de uso
coletivo. (VILLA, 2006, n.p)

Enfim, versões novas deste mesmo modelo foram sendo desenvolvidas ao longo dos
anos, impulsionadas pelo marketing cada vez mais atuante na área.
Segundo Villa (2006). “uma boa parte dos lançamentos de edifícios de apartamentos
de três dormitórios da cidade de São Paulo apresentava, a partir do final da década de 1990, as
chamadas plantas flexíveis” (VILLA, 2006, n.p.). Porém, apesar de virem como uma
inovação, essas plantas ainda apresentavam a estrutura convencional de desenho, trazendo a
cozinha para mais perto da sala, mas ainda apresentando a separação de setores social-íntimo-
serviço muito bem delineada, oferecendo poucas possibilidades de adequação ao comprador e
nenhuma participação na etapa de projeto.
A ideia de um apartamento tipo, pavimento tipo, ou mesmo, blocos de prédios
padronizados vem, segundo Shimbo (2012), da necessidade de controlar e organizar a
38

“produção capitalista industrial” (SHIMBO, 2012, p.111). Além disso a padronização de todo
o processo proporciona “ciclos mais rápidos de construção”, com pouco mais de um ano:

Esses ciclos mais curtos de capital aumentam, por sua vez, a taxa interna de retorno
dos empreendimentos – e que fazem com que a empresa se torne atraente e rentável
aos seus investidores. (SHIMBO, 2012, p.111)

Quanto ao papel dos arquitetos, um dos agentes do setor imobiliário, segundo Maciel
(2013), “pouca margem para experimentação de novos arranjos e tipologias” (MACIEL,
2013, n.p) é deixada em suas mãos. Na verdade o que se espera dele é que consiga, dentro da
legislação e suas brechas, melhor aproveitar o terreno e tornar o empreendimento o mais
rentável possível. Assim, a otimização dos processos do projeto converge exclusivamente
para o aumento do lucro.
É importante destacar que nesse cenário dos empreendimentos de prédios residenciais
existem diversos atores que desempenham diferentes papéis, Melhado (1994) divide o
funcionamento de um empreendimento imobiliário e seus processos em quatro principais
categorias de empregados o empreendedor, que gera o produto; o projetista, que desenvolve o
desenho do produto; o construtor, que viabiliza a fabricação; e o usuário, que assume a
utilização do produto final. Porém, é preciso deixar claro que essas categorias são um recorte
dos atores de maior peso envolvidos no processo de desenvolvimento de um empreendimento
imobiliário, devemos lembrar que, também, bancos financiadores, corretores imobiliários,
políticas públicas etc., contribuem, em maior ou menor grau, para a caracterização do
processo gerador do produto edifício.
O conceito de habitação não deveria ser rebaixado a um patamar onde será apenas um
objeto a ser comercializado, este conceito é complexo e está ligado às oportunidades e
escolhas dos indivíduos. De acordo com Jorge (2012) a habitação serve de “suporte às
atividades distintas [...], atendendo além das exigências básicas cotidianas, toda a
imprevisibilidade de fenômenos e necessidades que o acompanhará ao longo de sua vida”
(JORGE, 2012, p.43).
No momento em que são impostas padronizações na habitação convencional, limita-se
o poder de decisão e atuação do usuário, alimentando um ciclo de transferência 4 que nutre o
mercado imobiliário e confirma a ineficiência dos apartamentos produzidos para clientes

4
O ciclo de transferência se refere a quando uma família/morador precisa se mudar porque seu apartamento não
mais é compatível com seu modo de vida, obrigando-o a adquirir um novo. Assim, o “antigo” apartamento é
vendido a uma nova família/morador.
39

anônimos que estão fadados a adquirir um produto rígido. O apartamento passa a ser visto
apenas como um produto e não um espaço repleto de simbologias.
É necessário estar atento às mudanças que vêm ocorrendo no perfil dos compradores de
imóveis e na conformação familiar, pois elas prometem transformar o mercado imobiliário de
renda média e média alta, como é possível assimilar através da pesquisa feita pela ABRAINC
(Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) que tem como finalidade entender o
comportamento do consumidor e imóveis no ano de 2040. Algumas questões foram
respondidas acerca de como as próximas gerações viverão nas próximas décadas. Esta
pesquisa ajuda a traçar o perfil das moradias do futuro.
Demograficamente falando, existem alguns pontos importantes que impactam o
mercado de imóveis residenciais destacados pela ABRAINC. Um deles é a queda na
quantidade de filhos por família nos últimos cinco anos. Segundo projeções do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) este número continuará caindo, praticamente
se igualando à taxa apresentada por países mais ricos. Juntamente a este fator, existe o
aumento da expectativa de vida, que muda a forma da pirâmide demográfica brasileira,
evidenciando a diminuição da população em idade economicamente ativa como mostrado nos
Gráficos 01 e 02.
40

Gráfico 01: Pirâmide demográfica do ano de 2019

Fonte: ABRAINC (2019). Disponível em https://www.abrainc.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Abrainc-


Pesquisa-v10.pdf Acesso em 20 de Mar. De 2020

Gráfico 02: Pirâmide demográfica do ano de 2040

Fonte: ABRAINC (2019). Disponível em https://www.abrainc.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Abrainc-


Pesquisa-v10.pdf. Acesso em 20 de Mar. De 2020
41

Segundo a pesquisa feita pela ABRAINC existe uma forte tendência de mudança na
conformação familiar, já que “o número de casamentos civis registrados diminuiu 2,3% entre
2016 e 2017, enquanto os divórcios cresceram 8,3% no mesmo período” (ABRAINC, 2019,
p.11). Neste novo panorama demográfico é evidente a diminuição do número de moradores
por residência levando à procura por espaços menores.
Nos próximos anos o poder de decisão na compra de imóveis será da chamada
“Geração Z”, que se refere aos nascidos entre os anos de 1994 e 2001. Esta geração, que já
nasceu conectada à internet, procura liberdade e valoriza a estética e tecnologia. De acordo
com a pesquisa da ABRAINC, “assim como para os millenials (nascidos entre os anos de
1985 e 1993), a flexibilidade é a palavra-chave para a geração Z” (ABRAINC, 2019, p.15),
uma casa que se adapte ao seu estilo de vida e não ao contrário, que possua boa localização e
espaços comuns que incentivem a socialização. Os jovens não mais têm como prioridade
começar uma família e comprar a casa própria, mas sim, viajar, estudar e abrir seu próprio
negócio.
O setor da construção civil tenta acompanhar as novidades tecnológicas e as demandas
das novas gerações, mas ainda caminha a passos lentos. Segundo estudo feito pela
ABRAINC, “apesar de alguns segmentos dentro da indústria da construção serem mais
intensivos em tecnologia, a cadeia como um todo, historicamente, tem baixo apetite pela
inovação” (ABRAINC, 2019, p.23) e, no Brasil, o investimento em tecnologia apresentado
pela área é ainda mais baixo que em outros países.
Recursos como a Internet das Coisas (IoT, sigla em inglês) para automação e
manutenção predial são considerados muito bem vindos pelos compradores nas construções
que serão desenvolvidas daqui para frente, porém para a instalação de dispositivos como estes
o edifício precisa oferecer uma infraestrutura muito bem planejada que permita a interação
entre softwares, assim como “uma configuração de cômodos mais abertos e interconectados”
(ABRAINC, 2019, p.42), destaca pesquisa do ABRAINC (2019).
Outra tendência muito forte e típica da geração Z, segundo a pesquisa, é o
compartilhamento do espaço residencial. Com o aumento do preço no espaço urbano devido à
alta concentração populacional o compartilhamento pode ser uma alternativa que ajuda a
reduzir os custos.
Tendo em vista esta pluralidade na sociedade é normal que os imóveis passem a
oferecer pluralidade de formatos, além da capacidade de reinvenção. Itens como cozinha
americana e muitas tomadas aparecem em posição de destaque na lista de prioridades (Tabela
42

04) ao se escolher um imóvel, o que evidencia a preferência por espaços integrados e mais
possibilidades no layout do apartamento. Estas alternativas já são atualmente exploradas.

Tabela 04: Itens prioritários ao escolher um imóvel.

Fonte: ABRAINC (2019). Disponível em https://www.abrainc.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Abrainc-


Pesquisa-v10.pdf. Acesso em 20 de Mar. 2020

Desta maneira é possível delimitar um grupo de tendências que podem despontar na


indústria da construção civil nos próximos anos e perceber como estão integradas com a
questão da flexibilização dos projetos. As tendências descritas demandam espaços facilmente
mutáveis que possam se adaptar a diferentes estilos de vida de diferentes moradores: a) a
construção modular que já vem sendo muito usada no hemisfério norte tem chances de se
tornar mais popular no Brasil segundo a pesquisa apresentada pela ABRAINC; b) os
ambientes integrados são funcionais e se tornam espaços que podem abrigar mais de uma
função, como a cozinha americana, integrando cozinha, sala de jantar e por vezes sala de
estar; c) o compartilhamento das residências que aumenta a demanda por espaços de convívio
oferecidos pelo edifício e cômodos polivalentes, que possam oferecer mais de uma função
sem alterações; d) o aumento de residências de aluguel em detrimento à residência própria
43

aumentando a rotatividade de imóveis para a nova geração que possui um estilo de vida mais
dinâmico e não cria raízes. Nesse aspecto,

O chamado “sonho da casa própria” sintetiza a forma como a sociedade brasileira


acostumou-se a considerar o problema habitacional. Há uma suposição implícita de
que toda família deveria ser proprietária do imóvel em que vive, cabendo ao Estado
assegurar esse direito. (PINTO, 2020, s.p.)

Esta ideia de ser dono de um imóvel se une às diversas políticas habitacionais oferecidas
pelos governos e por órgãos privados criando um paradigma, pois o Brasil enfrenta problemas
sérios relativos ao excessivo crescimento da mancha urbana que “dificulta a provisão de
serviços públicos e compromete a qualidade de vida dos moradores” (PINTO, 2020, s.p.),
segundo Pinto (2020), e reforçando a obsolescência de imóveis centrais construídos há
algumas décadas atrás.
Respaldado pelas diversas mudanças que ocorrem ao longo da vida de uma pessoa,
Pinto (2020) defende que morar de aluguel seria bem mais prático:

A casa própria somente oferece uma solução habitacional provisória ao beneficiário,


por vários motivos: (i) as pessoas têm ciclos de vida que demandam imóveis de
características distintas: pequenos e bem localizados para solteiros e casais sem
filhos; maiores para casais com filhos; menores para divorciados ou casais cujos
filhos decidem morar sozinhos ou se casam; (ii) as pessoas procuram residir nas
proximidades de seus empregos, escolas ou universidades, que são diversos ao longo
da vida. (PINTO, 2020, s.p.)

O autor defende que os contratos de locação atualmente são mais flexíveis e podem se
basear em qualquer período desde que acordado entre as partes e que a mudança de endereço
é um acontecimento natural hoje em dia, pois a “economia está em constante fluxo de
“destruição criativa”, com fechamento e abertura de novas empresas, seremos levados à
conclusão de que a locação é uma forma de moradia mais adequada que a casa própria”
(PINTO, 2020, s.p.).
Em quarenta anos o perfil dos compradores/locatários de imóveis será ainda mais
diferente, como é possível analisar pelo infográfico da Figura 06.
44

Figura 06: Infográfico que analisa o Brasil hoje e daqui há quarenta anos

Fonte: ABRAINC (2019). Disponível em https://www.abrainc.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Abrainc-


Pesquisa-v10.pdf. Acesso em 20 de Mar. 2020

É possível estabelecer a hipótese de que ao longo do desenvolvimento e crescimento da


indústria de construção de edifícios residenciais de múltiplos pavimentos o morador
raramente foi consultado sobre seus desejos de moradia e seu estilo de vida, os desenhos das
construções têm sido desenvolvidos com base em questões sociais herdadas da Europa e/ou
que gerassem mais lucro para os construtores. Portanto, é muito importante entender onde o
morador dos apartamentos se situa nesse mercado.
Atualmente o setor tenta se manter atento às transformações no perfil dos compradores
de imóveis, as mudanças na sociedade acontecem mais rapidamente e os centros urbanos
45

oferecem novidades a cada dia, mas a internet torna o fluxo de informações mais rápido e
completo, portanto as pesquisas sobre os interesses da população estão cada vez mais
completas possibilitando atender aos anseios da geração Z ao realizar a compra/locação de
uma moradia.

3.2 O lugar do usuário

No contexto da arquitetura residencial de múltiplos pavimentos produzida atualmente, o


usuário tem sido, deliberadamente, deixado de lado. Ele é, na maioria das vezes,
negligenciado e sua necessidade é levada em consideração de maneira superficial e sempre
adequada às metas de redução de custos dos empreendimentos. É preciso modificar a forma
de projetar a fim de criar residências mais duráveis e úteis ouvindo a voz dos futuros
moradores desses espaços, visto que, de acordo com Brandão e Heineck (2003), a habitação
representa muito mais que um simples núcleo territorial, ela é, também, definida por fatores
“arquitetônicos, culturais, econômicos, sociodemográficos, psicológicos e políticos que
mudam durante o curso do tempo” (BRANDÃO, HEINECK, 2003, p.36).
Novos modelos familiares têm se desenvolvido, principalmente ao longo dos séculos
XX e XXI e a família nuclear tradicional está deixando de ser o modelo dominante. Um
trecho da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) divulgado na Revista
Retratos do IBGE confirma que o arranjo tradicional – mãe, pai e filhos – da família brasileira
tem se modificado significativamente principalmente desde o ano de 2015. Em 2005 este
arranjo ocupava 50,1% dos lares e em 2015 caiu para 42,3% segundo o IBGE. Segundo a
mesma pesquisa houve aumento nos lares com casais sem filhos e casas com apenas um
morador, além do aumento do chamado “fenômeno do ninho vazio”, quando o(s) filho(s) sai
(em) de casa após certa idade. E ainda, de acordo com a publicação, os lares estão mais vazios
porque a população está vivendo mais e tendo menos filhos. Esses dados estão dispostos em
forma de infográfico da Figura 07.
46

Figura 07: Infográfico demonstrando os arranjos familiares atuais

Fonte: O Tempo (2015). Disponível em https://www.otempo.com.br/novo-estatuto-exclui-25-das-familias-


brasileiras-1.1128840 Acesso em: 09 de Mar. De 2020
47

Além disso, segundo Maciel (2013), existem ainda os trabalhadores de escritórios e


estudantes que preferem pagar por um aluguel mais alto, em apartamentos cada vez menores e
terem a facilidade de morar nas áreas centrais das metrópoles, onde têm acesso rápido aos
equipamentos urbanos, onde estejam próximos da vida noturna e do lazer, ao invés de terem
que se submeter a longos deslocamentos diários. Este autor afirma, ainda, que as culturas
locais têm perdido sua influência sobre as novas formas de morar, já que a potencialização
dos meios de comunicação e do consumo em massa transformam em poucos dias o fator
“novidade” em acontecimento ultrapassado.
Nos últimos anos, profundas transformações ocorreram ainda na forma de trabalhar
das pessoas, impulsionado pela globalização, o avanço nas comunicações e nas áreas de
tecnologia de informação, surgiu um novo modelo de trabalho, segundo Almeida, Brasil e
Nogueira (2017) mais colaborativo, “mais dependente de habilidades sociais e tecnologias e
mais independente de locais fixos e distâncias geográficas” (ALMEIDA; BRASIL;
NOGUEIRA, 2017, p.33). Este processo está sendo potencializada pelas medidas
relacionadas ao isolamento social, uma das medidas para conter o avanço da transmissão do
COVID-19, Gondim e Borges (2020) destacam que “o lar passou a ser, para muitos
trabalhadores, o lugar de trabalho” (GONDIM; BORGES, 2020, p.01) impactando a rotina e
os relacionamentos.
Porém, as transformações nos desenhos arquitetônicos dos ambientes têm sido muito
lentas, segundo Tramontano (1998) as residências ainda se assemelham à habitação burguesa
do século XIX:

Paulistanos, parisienses e toquioítas habitam casas e apartamentos cujos espaços


tendem a assemelhar-se a tipologias que vão do modelo da habitação burguesa do
século 19, caracterizado pela trilogia de áreas social, íntima e de serviços, ao
arquétipo moderno da habitação-para-todos, com sua uniformidade de soluções em
nome de uma suposta democratização das características gerais dos espaços. Mesmo
que agora tendam a habitá-las grupos domésticos cujo perfil difere cada vez mais da
família nuclear convencional, e cujos modos de vida apresentam uma diversidade
cada vez maior, o desenho dos espaços desta habitação permanece intocado, sob a
alegação de que se chegou a resultados projetuais economicamente viáveis, que
atendem às principais necessidades de seus moradores. (TRAMONTANO, 1998, p.
5)

É possível concluir que as transformações apontam para o mesmo sentido quando o


assunto é a metrópole do século XXI: os habitantes são indivíduos que vivem, em sua
maioria, sozinhos; os que se agrupam em famílias o têm feito de forma bem diferente do
formato tradicional; se comunicam à distância, principalmente através da internet e de redes
sociais e têm, cada vez mais, trabalhado em casa. Citando Brandão e Heineck (2003):
48

Tal dinâmica tem levado, em geral, a duas formas de encarar a questão: a primeira,
considerando o ciclo de vida familiar, envolvendo a obsolescência física, funcional e
social ao longo da vida útil da edificação (família em crescimento, em encolhimento
ou no estágio estático); e a segunda, levando-se em conta a necessidade de atender
diferentes famílias, diferentes necessidades, diferentes estilos de vida dos ocupantes,
num mesmo momento. (BRANDÃO; HEINECK, 2003, p. 41)

Sincronicamente, o homem moderno exige em seu entorno a presença de


equipamentos públicos capazes de promover o encontro com outras pessoas.
O imóvel próprio, por vezes, ainda é visto como um item que demonstra estabilidade e
se transforma no sonho de consumo da maioria dos adultos, apesar de esta ser uma realidade
em transformação, já que em diversos países, de orientação política social democrata, existem
alternativas à provisão de habitação social que não passam pela propriedade privada
(ROLNIK, 2015). Bonduki (1988) também lembra que a “casa própria” é um desejo que
atende muito bem aos anseios dos incorporadores/construtores por novos empreendimentos.
Existe ainda a questão de as pessoas criarem um vínculo, muitas vezes vitalício, com o
entorno e o contexto urbano em que se inserem, ajudando a definir sua identidade e a
identidade do lugar. Paralelamente, a estrutura das famílias tem mudado cada vez mais
rapidamente, assim como o estilo de vida, as formas de trabalho, de lazer e as possibilidades
que surgem através de todas essas mudanças – juntamente com o avanço tecnológico – são
incontáveis. Portanto, diante de todas essas diferenças e constantes mudanças presentes na
sociedade, deveria ser impensável criar uma tipologia que pudesse satisfazer a todos ao
mesmo tempo. Projetos costumam usar como parâmetro uma família padrão, estereotípica,
que é, na verdade, cada vez mais rara.
Torna-se então, evidente o peso que a moradia possui sobre fatores psicológicos do
dia a dia de cada indivíduo, em relação ao status social, à hierarquia, obtenção de
reconhecimento, além do sentimento de proteção e estabilidade que ela confere às pessoas em
oposição ao caráter transitório da vida e suas fases. É evidente, portanto, que os desejos de
mudanças em uma habitação podem surgir de diferentes motivações, podem vir de fatores
estéticos, funcionais ou mesmo de algum tipo de simbologia existente na psique do morador.
Brandão e Heineck (2003) evidenciam o perigo de “generalizar sobre estas razões ou sugerir
um relacionamento casual entre elas e seu real resultado físico” (BRANDÃO; HEINECK.
2003, p.7). Cabe ao pesquisador e arquiteto entender alguns dos desejos já externados em
conversas e entrevistas pelos ocupantes de apartamentos e prever as possibilidades de
49

flexibilização em determinados espaços. Algumas das razões mais comuns e suas soluções
foram exemplificadas por Brandão e Heineck (2003) de acordo com a Tabela 05:

Tabela 05: Motivações que levam à modificações nas residências

OBJETIVO (S) DO(S) MODIFICAÇÃO APLICADA


MORADOR(RES)
“Acomodar uma mudança na  “Aumentar ou diminuir número de quartos.”
composição da família ou em suas  “Separar local para estudos, negócios, hobbies.”
atividades”.
“Promover a qualidade da habitação com  “Reposicionamento […] de instalações e mobiliário
respeito a critérios sociais ou de para cozinhas e banheiros (ex.: […] cozinhas planejadas).”
mercado”.  “Provisão de novos equipamentos tais como
freezers, máquinas de lavar, secadores […].”
 “Provisão de armários adicionais […].”
 “Acrescentar garagem […].”
 “Instalar aquecimento central, ar-condicionado,
isolamento.”

“Rearranjo das subdivisões”.  “Alterar relacionamentos entre cozinha, jantar e


salas de estar por fechamento ou abertura.”

Fonte: Brandão e Heineck (2003)

Baseado nesses aspectos é possível entender melhor a importância de usufruir de uma


moradia flexível e podemos ainda destacar alguns aspectos que norteiam as modificações
feitas nos lares nos últimos anos: a mudança na conformação das famílias, os novos papéis
desenvolvidos pela mulher, a possibilidade de se trabalhar de casa, o acesso à internet,
desenvolvimento de novas tecnologias e a globalização, entre outros.
Levando essas questões em consideração, são investigadas no próximo capítulo as
principais teorias e conceitos desenvolvidos ao longo da história recente, assim como
exemplos e fundamentos que permitiram a experimentação da flexibilidade como estratégia
de projeto e construção.
50

CAPÍTULO 04: Estratégia de projeto e construção: o edifício como sistema

4.1 Shearing Layers

Um projeto arquitetônico que apresente o mínimo de flexibilidade e possibilidades de


adaptação ao futuro morador deve ser concebido levando-se em consideração soluções
construtivas que possibilitem tal conformação. As tecnologias construtivas utilizadas em um
edifício devem viabilizar mudanças que permitam apropriações distintas pelo usuário ao
longo da vida. Porém, como já foi colocado, os empreendimentos ainda precisam percorrer
um longo caminho para que isso aconteça.
A construção civil mudou e se industrializou ao longo do tempo, de diversas formas e
distintamente ao redor do mundo. Entretanto, no Brasil, essa transformação não aconteceu de
forma homogênea, de acordo com Jorge (2012) e ainda existem barreiras como falta de mão-
de-obra qualificada - bastante disponível para uso em processos não industrializados de
construção, mas escassas quando se trata dos processos mais industrializados - e fatores
culturais, como o preconceito do consumidor final com relação a novas tecnologias.
No sentido de se trabalhar a flexibilidade em edifícios de múltiplos pavimentos, é
necessário e estratégico ver a construção como partes separadas que, ao fim, constituem um
sistema em cada parte do todo desempenha função importante, vital. De acordo com Knaack e
Meijs (2009):

Os edifícios são tradicionalmente constituídos por pilares, lajes, telhados, paredes


exteriores, paredes interiores, portas, janelas, varandas, escadas e outros artigos.
Cada uma dessas partes é composta por inúmeros produtos e materiais menores. Na
verdade, todas essas peças são “componentes” que, juntos formam o todo, em outras
palavras, o edifício que, por sua vez, desempenha uma função generosa de agir
como um intermediário à ação humana. (KNAACK; MEIJS, 2009, p. 11)

Neste trabalho é utilizada como referência a teoria desenvolvida por Stewart Brand
(1994) que aponta que uma das formas mais eficientes de se projetar e analisar projetos é
pensando o edifício em camadas. Brand criou uma teoria bastante eficiente nesse sentido.
Inspirado pelas ideias de Frank Duffy5 desenvolveu a teoria dos “Shearing Layers”6
defendendo o pensamento de que uma construção é formada por diversas camadas e essas
camadas possuem diferentes “datas de validade”.

5
Arquiteto coofundador da empresa britânica de design DEGW e presidente do “Royal Institute of British
Architects” de 1993 a 1995.
6
Em tradução livre: camadas de corte.
51

Figura 08: Esquema apresentado por Stewart Brand em seu livro “How Buildings Learn” (1994) que mostra as
camadas de uma construção

Fonte: Brand (1994)

Seguindo esse pensamento, Brand (1994) define as camadas de uma edificação da


seguinte maneira:

 “Site”: é o cenário geográfico, a localização urbana e o lote legalmente


definido, cujas fronteiras e contexto duram gerações. Segundo Duffy “O lote é eterno”.
 “Structure”: Composta pela fundação e estrutura. São elementos caros e
perigosos de se alterar, portanto é raro que isso aconteça. Duram de 30 a 300 anos.
 “Skin”: São as superfícies exteriores, os fechamentos. Hoje em dia mudam
mais ou menos a cada 20 anos para acompanhar a moda ou as novidades em tecnologia.
 “Services”: São as entranhas de um edifícios, a camada de trabalho. Composta
por cabeamento de comunicação e eletrônica, encanamento, sistema de aspersão, ventilação,
aquecimento e ar condicionado, além dos elevadores e escadas. Esses sistemas normalmente
se tornam obsoletos entre 7 e 15 anos.
 “Space Plan”: O espaço interior, onde são posicionadas as paredes, forros,
pisos e portas. Dependendo do uso esta camada pode precisar ser trocada de 3 em 3 anos ou
durar até 30 anos.
52

 “Stuff”: Todas as coisas que podem se alterar diária ou mensalmente: cadeiras,


mesas, telefone, quadros, lâmpadas. Ou ampliações na cozinha e substituição de
eletrodomésticos, por exemplo.

Este exercício de desmembrar o edifício é de suma importância, pois norteia as


alterações e adaptações que serão objeto de investigação da flexibilidade nos edifícios.

4.2 Infraestrutura predial como pressuposto de flexibilidade espacial

A teoria dos “Shearing Layers” desenvolvida por Brand (1994) é relevante para o
desenvolvimento de projetos flexíveis porque proporciona trabalhar o edifício por suas
diversas camadas construtivas, sendo que, algumas delas, se mudadas, não causam
interferência na integridade física da construção enquanto outras devem permanecer estáticas:
a estrutura, por exemplo. A parte estática será analisada como sendo o suporte que permite as
modificações pautadas na flexibilidade espacial, como colocado pelo movimento Open
Building, a partir das teorias de Habraken.
A infraestrutura de um edifício é considerada por Maciel (2015) como sendo “a parte
invisível que suporta a parte visível” (MACIEL, 2015, p.69): toda a estrutura, como
fundações, pilares, vigas e lajes, assim como a parte relacionada aos sistemas prediais:
instalações elétricas, hidrossanitárias, prevenção e combate a incêndio, telefonia, e ainda
cômodos e áreas específicas como os blocos de circulação vertical:

[...] uma característica das infraestruturas em bom funcionamento é a invisibilidade.


Em outras palavras, elas existem para proporcionar que a vida se desenvolva
livremente, e em geral são percebidas somente quando falham. (MACIEL, 2015,
p.71)

A principal questão das infraestruturas prediais é que elas devem prever a mudança
dentro das unidades habitacionais e prover essa liberdade, o que torna o projeto muito mais
complexo.
A estrutura portante do edifício precisa ser pensada de modo a liberar o máximo de
espaço possível e simplificar o lay out, como destaca Leupen (2006):

[...] uma parede divisória não estrutural pode ser instalada à vontade graças à
presença da estrutura, a parte portante do edifício. Não é a parede propriamente, mas
a estrutura que permite que a parede possa ser disposta livremente ao retirar da
53

parede sua capacidade portante. Ou em um sentido mais geral: é o imutável que cria
condições para a transformação, o permanente liberta o temporário. Esse aspecto
permanente é a estrutura, e ela define o espaço no qual a transformação pode
ocorrer. (LEUPEN, 2006, p.25)

Uma das formas de viabilizar transformações é pensar em módulos, mesmo que a


construção não seja essencialmente modular. Segundo Freire (2010), “a modulação é um
instrumento geométrico [...] que tem por fundo compatibilizar dimensionalmente os espaços
de uma edificação” (FREIRE, 2010, p.40). Por exemplo, uma planta com cômodos
retangulares ou quadrados que possuam medidas regulares facilita a
adaptabilidade/mutabilidade nas funções estabelecidas a esses espaços, pois “é importante que
a estrutura e outros elementos fixos, se encontrem localizados segundo uma determinada
métrica, resultando compartimentos ou espaços habitacionais regulares” (FREIRE, 2010,
p.40).
Além disso, uma malha regular é capaz de direcionar mais facilmente as mudanças de
divisórias internas e mobiliários:

O desempenho modular é importante numa prática de adaptação ao uso, como


número, tamanho, geometria e inter-relação, previsão de serviços e equipamentos,
mobiliário, flexibilidade.” (FREIRE, 2010, p. 41)

Outra questão é a integração entre a estrutura portante com os sistemas infraestruturais.


Pensar estas duas partes em conjunto é importante, de acordo com Maciel (2015), para que os
elementos construtivos que caracterizam formalmente o edifício possam também “acomodar
usos imprevistos, constituindo um suporte indeterminado de flexibilidade ampliada”
(MACIEL, 2015, p.166), ou seja, se for necessário algum tipo de mudança na iluminação e
disposição de tomadas, por exemplo, a infraestrutura possibilitará essa alteração.
As áreas molhadas, banheiros e cozinhas são, comumente, inertes à flexibilização, pois
precisam ser alimentadas por um núcleo hidro sanitário cuja alteração implica uma obra de
maior complexidade e sempre há o risco de infiltrações que podem prejudicar as demais
unidades. Portanto, é possível, de acordo com Maciel (2015), tomar como exemplo bem
sucedido o conceito, que se iniciou no, modernismo de reunir áreas molhadas em um núcleo
com a finalidade de liberar espaço no restante da planta.
Le Corbusier, entusiasta da planta livre, projetou em 1929 a Maisons Loucheur, projeto
residencial apresentando alto grau de flexibilidade. A casa possuía dois pavimentos, o
primeiro era destinado apenas à garagem e o segundo ao espaço doméstico, porém o segundo
54

piso dispunha de duas conformações espaciais distintas, uma para o dia e outra para a noite.
Este paralelo está explicitado na planta baixa da Figura 09 e a setorização das áreas molhadas
em núcleos na Figura 10. Como descreve Jorge (2012), “a flexibilidade foi conseguida pela
[...] operacionalização de painéis deslizantes e móveis retráteis, e pela multifuncionalidade
dos espaços” (JORGE, 2012, p. 126).

Figura 09: Maison Loucheur, França, 1929. Le Corbusier. Planta baixa mostrando as adaptações para uso
noturno e diurno

Fonte: Adaptado de: https://docplayer.com.br/docs-images/69/60573607/images/92-1.jpg Acesso em: 30 de


Junho de 2020.
55

Figura 10: Maison Loucheur, França, 1929. Le Corbusier. Planta baixa mostrando as áreas molhadas

Fonte: Adaptado de: https://docplayer.com.br/docs-images/69/60573607/images/92-1.jpg Acesso em: 30 de


Junho de 2020.

Outro projeto icônico onde a setorização das áreas molhadas pode ser percebida é na
Farnsworth House, desenvolvida por Mies Van Der Rohe em 1951. Com a finalidade de
integrar a casa à natureza, o arquiteto propõe um projeto completamente transparente, sem
paredes internas e com paredes externas em vidro, exceto pela área molhada, banheiros e
cozinha mostrados na setorização da planta baixa na Figura 11; neste caso a finalidade da
concentração destas áreas não é exclusivamente pela flexibilidade do projeto, mas representa
um exemplo claro de concentração de instalações prediais.
56

Figura 11: Farnsworth House, Estados Unidos, 1951. Mies Van Der Rohe. Planta baixa mostrando as áreas
molhadas.

Fonte: Adaptado de: https://dkemhji6i1k0x.cloudfront.net/000_clients/654778/page/h800-654778k5C9Lisu.jpg


Acesso em: 30 de Junho de 2020.

Uma das principais questões para desenvolver uma “unidade residencial flexível” é “a
localização estratégica de núcleos de serviços, áreas molhadas e circulação” (JORGE, 2012,
p.237). A setorização prévia destes elementos é capaz de definir mais precisamente os limites
entre o que pode ser alterado e o que precisa permanecer inerte: “essas zonas rígidas, com
infraestrutura de esgoto, água e demais sistemas prediais, devem estar concentradas em
núcleos, constituindo elementos permanentes de localização periférica ou central” (JORGE,
2012, p.237). A centralização das circulações verticais é muito comum por questões
financeiras e práticas, já que este modelo consegue atender a um número máximo de unidades
residenciais ao mesmo tempo.
Tomando como referência algumas das ideias de Mesquita (2000) e Finkelstein
(2009), e associando-as com o pensamento de Brand – o edifício como um sistema – foi
elaborada a Tabela 06 que destaca os principais elementos facilitadores da flexibilidade na
arquitetura residencial.
57

Tabela 06: Elementos facilitadores de flexibilidade

ELEMENTOS FACILITADORES DE FLEXIBILIDADE

O uso de pilares deixa as paredes livres e paredes


ESTRUTURA INDEPENDENTE
que não precisam exercer função estrutural podem
ser demolidas. Quanto maiores os vãos entre
pilares, melhor.

Serve para coordenar as dimensões de cada parte


MODULAÇÃO
do edifício, garantindo maior flexibilidade de
combinação de elementos e facilidade na
produção.

As paredes construídas de materiais mais leves e


PAREDES E DIVISÕES LEVES
de fácil montagem, como madeira, drywall, gesso,
etc. facilitam a retirada e construção desse
elemento.

Ao reunir as escadas e elevadores em um único


NÚCLEOS DE CIRCULAÇÃO VERTICAL
bloco liberamos espaço para a distribuição dos
apartamentos.

O mesmo caso dos núcleos de circulação vertical.


NÚCLEOS DE BANHEIROS
Os banheiros e cozinhas (áreas molhadas)
precisam de infraestrutura e canalizações
hidráulicas, ao reunir essas áreas facilitamos o
desenho de projeto e a construção.

A principal diretriz é dissociar os shafts de


SHAFTS DE INSTALAÇÕES
instalações hidráulicas e elétricas da estrutura e
dos fechamentos, assim os cabos e canos ficam
mais acessíveis e podem ser “levados” onde for
necessário sem maiores danos ao restante da
construção.

A fachada independente da estrutura pode ser


FACHADA LIVRE
projetada sem impedimentos.

São placas removíveis sustentadas por uma


PISO ELEVADO
estrutura de altura regulável, cria vãos entre a laje
do pavimento inferior e o piso do próximo
pavimento por onde pode circular a fiação elétrica,
de telefonia, os canos hidráulicos, os dutos de ar
condicionado, etc. Esse sistema proporciona
facilidade na hora de mudar o layout dos cômodos
e permite acesso facilitado à infraestrutura. Já é
muito utilizado em prédios comerciais, porém
ainda deve levar um tempo até seu uso em
edifícios residenciais se tornar comum. É uma
solução cara.
Fonte: Elaborado pela autora., adaptado de Mesquita (2000) e Finkelstein (2009).
58

CAPÍTULO 05: Referenciando a flexibilidade

5.1 Algumas obras de referência

Alguns projetos desenvolvidos nos últimos anos podem ser colocados como exemplos
positivos nesta pesquisa com a finalidade de ilustrar algumas soluções bem sucedidas. No
Brasil existem poucos exemplos na área de habitação que apresentam flexibilidade espacial
mais radical, seja na planta baixa dos apartamentos, seja nas fachadas. Estes edifícios são, na
maioria das vezes, desenvolvidos por escritórios de arquitetura conhecidos e voltados para a
classe média alta e classe alta.
Apesar destas circunstâncias, um dos destaques no cenário da construção de edifícios
residenciais brasileiro atualmente é a construtora IDEA!Zarvos que possui alguns diferenciais
em relação às construtoras tradicionais: contrata arquitetos conhecidos no meio e lhes dá
maior liberdade de criação. De acordo com Lorente (2017):

A incorporadora, do ponto de vista da sua relação com o mercado imobiliário em


São Paulo, inovou ao colocar o projeto de arquitetura autoral como foco principal de
seu negócio. Logo, os arquitetos ganharam mais autonomia e liberdade para fazer
uma arquitetura mais propositiva. (LORENTE, 2017, p. 25)

A seguir, são apresentados exemplos de empreendimentos que propõem soluções de


flexibilidade espacial, no Brasil e no exterior, ordenados de acordo com o ano de conclusão da
obra, e com o intuito de avaliá-las com relação ao alcance de suas propostas e às estratégias
de organização das instalações prediais.

5.1.1 Next 21 (1994)


Como citado anteriormente, o pós guerra e o grande aumento populacional contribuiu
para massificação da habitação nas cidades e na década de 1960. Alguns arquitetos críticos
deste panorama começaram a incitar mudanças, como John N. Habraken. Ele foi o precursor
destas iniciativas, com a Teoria dos Suportes, ao propor que o morador seja colocado no
controle do espaço onde moraria e participaria da tomada de decisões a respeito de sua
residência.

No início dos anos 1990, a Holanda e o Japão se destacaram por retomar esses conceitos
e fazer novas experimentações, procurando diluir os “padrões rígidos de projeto - controle,
estabilidade e repetição - frente à indeterminação e mutabilidade da cidade contemporânea”
59

(MORAIS, 2018, n.p) abrindo espaço para “sistemas abertos que permitem uma maior
variedade de combinações (MORAIS, 2018, n.p)”. O projeto do edifício habitacional Next 21,
destacado na Figura 14, localizado na cidade de Osaka, no Japão, teve início em 1993, foi
coordenado por Yositika Utida e desenvolvido pensando no envelhecimento populacional -
que impacta fortemente a economia japonesa – e novas configurações familiares, e busca
colocar no mesmo espaço famílias de diferentes gerações que possam convier e se ajudar.

Figura 12: Uma das “fachadas” do Next 21

Fonte: Pinterest (2020). Disponível em https://br.pinterest.com/pin/362750944984342327/?lp=true Acesso em:


13 de Fev. de 2020.

O edifício de seis pavimentos possui diversos usos: apartamentos, escritórios, área


comercial e espaços coletivos de convivência. Morais (2018) explica que os pavimentos são:

[...] conectados por diversos núcleos de escadas e elevadores e essa circulação


vertical se conecta a uma rede de circulação horizontal que muda em cada andar
(corredores, passarelas, galerias ajardinadas), o que gera um tipo específico de
estrutura de habitação e fachada interna. [...] (MORAIS, 2018, s.p.)

Além disso existem dezoito tipologias diferentes, geradas a partir da proposição de seus
moradores, como mostrado na Figura 13. É como se o edifício fosse um bairro vertical
permeado por jardins, segundo definição de Morais (2018), pois os apartamentos possuem
varandas ou terraços que contam como área externa abrindo o prédio ao seu entorno ao invés
60

de isolar os apartamentos. As circulações internas são de grande importância para o projeto:


elas se tornam áreas de convivência, se confundem com ruas e se misturam aos jardins
externos que os apartamentos possuem.
O que diferencia o Next 21 é que o projeto busca principalmente a diversidade e tenta
combinar as necessidades dos moradores, “Desse modo, o Next 21 marca uma transição na
habitação coletiva ao evoluir em relação a uma maior liberdade para o usuário com sua
variedade social e arquitetônica”, enfatiza Morais (2018, s.p.).

Figura 13: Os interiores de alguns dos apartamentos do Next 21

Fonte: Vitruvius (2018) Disponível em https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.213/6899


Acesso em: 13 de Fev. de 2020.

Como pode ser observado na Figura 14, o sistema de circulação vertical é muito diferente
do que se encontra na maioria dos edifícios residenciais. A circulação é também externa,
posicionada junto às fachadas e não em um núcleo interno.
61

Figura 14: Vista de um dos corredores externos do Next 21

Fonte: Pinterest. Disponível em https://br.pinterest.com/pin/500462577317525405/?lp=true Acesso em: 13 de


Fev. de 2020.

Morais (2018) destaca que os sistemas de instalações possibilitam a “configuração de


áreas mais abertas e integradas” (MORAIS, 2018, s.p.), porém como a compartimentação
interna é feita livremente pelos moradores, existem apartamentos com plantas muito distintas,
fato que pode ser observado na Figura 16:

A unidade 303 conta com quatro dormitórios (chamados espaços B) com


acessos independentes por fora; um espaço aberto comum com cozinha faz a
integração entre os moradores que podem ser quatro amigos que coabitam a mesma
unidade. (MORAIS, 2018, s.p.)
62

O apartamento 303 está indicado na Figura 15:

Figura 15: Planta do terceiro pavimento do Next 21

Fonte: Vitruvius (2018). Disponível em https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.213/6899


Acesso em: 13 de Fev. de 2020.

Outro diferencial do projeto é sua implantação, não convencional, em forma de “U”, o


que ajuda na integração dos espaços. É possível ver na Figura 16 os caminhos, circulações
internas e espaços verdes de convívio, que ligam as unidades.

Figura 16: Diagramas mostrando as “ruas” internas, espaços coletivos e áreas verdes

Fonte: Vitruvius (2018). Disponível em https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.213/6899


Acesso em: 13 de Fev. de 2020.
63

5.1.2 Edifício Aimberê 1749 (2010)

Este projeto, identificado pela Figura 17, foi desenvolvido pelo escritório Andrade
Morettin para a construtora IDEA!Zarvos, foi o primeiro desta parceria. Está localizado na
Zona Oeste de São Paulo e foi concluído em 2010.

Figura 17: Uma das fachadas do Edifício Aimberê

Fonte: Galeria da Arquitetura (2018). Disponível em https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/andrade-


morettin-arquitetos_/edificio-aimbere/1425 Acesso em: 30 de Out. de 2020.

De acordo com Lorente (2017), este bairro já apresenta diversos equipamentos


urbanos e este fato “motivou os arquitetos a não projetarem nenhum tipo de equipamento
como academia de ginástica ou salão de festas, sendo o espaço de convívio a própria cidade”
(LORENTE, 2017, p.118). O método escolhido para a construção não utilizou componentes
altamente industrializados, mas sim o sistema convencional de estruturas em concreto armado
e fechamentos em alvenaria, dominante no mercado.
Lorente (2017) destaca que:

A versão final do projeto do Edifício Aimberê foi implantada em um terreno de 775


metros quadrados, possui 12 unidades distribuídas em 8 pavimentos, as unidades
apresentam área entre 95 e 215 metros quadrados e são diferentes umas das outras.
As unidades do 8º andar contam com acesso à cobertura e somam 3 pavimentos.
(LORENTE, 2017, p.127)
64

Outro diferencial deste projeto é que ele possui um recuo frontal generoso, como
mostrado na Figura 18, pensado com a finalidade de trazer um respiro à rua e melhorar as
condições de iluminação e ventilação do edifício.

Figura 18: Recuo frontal do edifício

Fonte: Archdaily (2020). Disponível em https://www.archdaily.com.br/br/01-35386/edificio-na-rua-aimbere-


andrade-morettin-arquitetos/35386_35446?next_project=no Acesso em: 30 de Out. de 2020.

Quanto às soluções flexíveis, é possível destacar, primeiramente, a grande diversidade


tipológica deste projeto, que neste trabalho é vista como uma forma de flexibilidade por
oferecer aos moradores diversas opções relacionadas a tamanho e formato das unidades em
um mesmo edifício. Esta diversidade está destacada na Figura 19, 20 e 21: “Nos oito andares
não há existência de pavimento tipo, e tal falta de repetição faz parte da lógica conceitual de
criar espaços idiossincráticos” Lorenti (2017, p.132). Algumas unidades têm pé-direito duplo
– que traz a possibilidade de acrescentar um mezanino -, os apartamentos do pavimento térreo
possuem jardim, algumas unidades têm dois pavimentos e outras um como é possível
visualizar nos diagramas das Figuras 19 e 20.
65

Figura 19: Plantas do Edifício Aimberê

Fonte: Archdaily (2020). Disponível em https://www.archdaily.com.br/br/01-35386/edificio-na-rua-aimbere-


andrade-morettin-arquitetos/35386_35446?next_project=no Acesso em: 30 de Out. de 2020
66

Figura 20: Diagrama mostrando os diferentes tipos de apartamentos no edifício

Fonte: Archdaily (2020). Disponível em https://www.archdaily.com.br/br/01-35386/edificio-na-rua-aimbere-


andrade-morettin-arquitetos/35386_35446?next_project=no Acesso em: 30 de Out. de 2020.
67

Figura 21: Diagrama mostrando os diferentes tipos de apartamentos no edifício

Fonte: Lorente (2017)

Além disso, Lorente (2017) ressalta que as “reentrâncias criadas na volumetria


proporcionam mais área de caixilhos e consequentemente aumentam a quantidade de entrada
de luz” e aumentam as “possibilidades de arranjos do programa” (LORENTE, 2017, p.135).
As aberturas nas fachadas estão dispostas, aparentemente, de forma aleatória e sem hierarquia
o que proporciona maior liberdade para alterações nos ambientes internos: “de certa forma, o
plano externo não se articula com a disposição dos ambientes internos, porém os dois planos
acolhem e proporcionam maior flexibilização do espaço interno.” Lorente (2017, p.144). É
possível visualizar na Figura 22 as aberturas e reentrâncias de uma das fachadas.
68

Figura 22: Fachada do Edifício Ainberê

Fonte: Galeria da Arquitetura (2020). Disponível em


https://www.galeriadaarquitetura.com.br/Img/projeto/702x415/1425/edificio-aimbere363.jpg Acesso em: 30 de
Out. de 2020.

Quanto às soluções dadas à infraestrutura predial é importante destacar que existem


tubulações dispostas externamente à fachada lateral direita – externar tubulações proporciona
maior liberdade na configuração interna dos espaços – as bacias sanitárias possuem saída
horizontal e os pisos da área do box são elevados, fatores que, segundo Lorente (2017, p.144)
garantem maior “autonomia na posição das áreas molhadas, pois não interfere na unidade do
pavimento abaixo”.

5.1.3 Tila Loft (2011)


O projeto “Tila Housing Block” foi desenvolvido em 2004 em Helsinki, na Finlândia, e
engloba 39 lofts com o conceito de construção aberta: o espaço é entregue completamente
sem paredes divisórias e cada morador determina sua planta. Sua principal característica é que
o espaço possui pé direito duplo e uma armação estrutural que permite a construção de um
mezanino, também estabelecido pelo morador, que se encaixa facilmente através de estrutura
metálica.
O tamanho das unidades varia entre cinquenta e cento e dois metros quadrados e elas
vêm apenas com o banheiro instalado e a base hidráulica para receber a pia da cozinha.
69

Este projeto apresenta o grau máximo de flexibilidade referenciado neste trabalho, pois
possui sua planta completamente livre, apenas com as instalações preparadas. Sua
conformação espacial e sistemas – hidráulico e estrutural, por exemplo – deixam o morador
livre para escolher como morar. Esta liberdade arquitetônica está muito bem representada nas
Figuras 23, 24 e 25 (abaixo).

Figura 23: Apartamento de 50m² no momento da compra

Fonte: Tila – Neo-Loft Apartaments (2017). Disponível em https://thematicdesign.org/wp-


content/uploads/2017/05/Project_card%20Tila.pdf Acesso em: 02 de julho de 2020.
70

Figura 24: Apartamento de 102m² no momento da compra

Fonte: Tila – Neo-Loft Apartaments (2017). Disponível em https://thematicdesign.org/wp-


content/uploads/2017/05/Project_card%20Tila.pdf Acesso em: 02 de julho de 2020.
71

Figura 25: Apartamento de 102m² no momento da compra

Fonte: Tila – Neo-Loft Apartaments (2017). Disponível em https://thematicdesign.org/wp-


content/uploads/2017/05/Project_card%20Tila.pdf Acesso em: 02 de julho de 2020.

Figura 26: Planta do segundo pavimento no momento da compra dos apartamentos

Fonte: Tila – Neo-Loft Apartaments (2017). Disponível em https://thematicdesign.org/wp-


content/uploads/2017/05/Project_card%20Tila.pdf Acesso em: 02 de julho de 2020.
72

Figura 27: Planta do segundo pavimento mostrando os mezaninos ocupados pelos moradores

Fonte: Tila – Neo-Loft Apartaments (2017). Disponível em https://thematicdesign.org/wp-


content/uploads/2017/05/Project_card%20Tila.pdf Acesso em: 02 de julho de 2020.

Figura 28: Planta do segundo pavimento ocupada pelos moradores

.
Fonte: Tila – Neo-Loft Apartaments (2017). Disponível em https://thematicdesign.org/wp-
content/uploads/2017/05/Project_card%20Tila.pdf Acesso em: 02 de julho de 2020.
73

Para os construtores o estágio em que os lofts são entregues já é considerado habitável,


já que possui:

[...] um banheiro provido de isolamento contra humidade no piso e paredes. Quanto


à cozinha é suficiente indicar o encanamento para saída de água e o ralo
posicionados no salão principal ao lado do módulo do banheiro. (FRANKE, s.p.,
2017)

Neste caso, mesmo adquirindo um apartamento com alto grau de flexibilidade e


possibilidade de adaptação os moradores precisam seguir as regulamentações do prédio ao
construir para não causar danos a estrutura ou ao apartamento vizinho.
A pós-ocupação apresenta espaços completamente diferentes e adaptados ao estilo de
vida de diferentes conformações familiares, Figura 29.

Figura 29: Imagens de composições do interior dos lofts decorados pelos moradores

Fonte: Tila – Neo-Loft Apartaments (2017). Disponível em https://thematicdesign.org/wp-


content/uploads/2017/05/Project_card%20Tila.pdf Acesso em: 02 de julho de 2020.
74

5.1.4 Vertical Itaim (2014)

O projeto em questão foi desenvolvido pelo arquiteto paulistano Márcio Kogan e sua
arquitetura, caracterizada pela horizontalidade, pelo uso de grandes vãos livres e poucos
apoios, lembra o sistema corbusiano da casa Dom-ino.
O prédio de 13 andares construído em um terreno de 3.045m², em uma região nobre de
São Paulo, aproveitou ao máximo a área disponível e buscava, segundo o arquiteto, integrar
ao máximo o interior com o exterior através de grandes panos de vidro localizados nas salas
de cada apartamento. “As grandes aberturas integram varandas de 3,0m x 3,70m, que mais
funcionam como uma extensão do estar. Elas são protegidas pelos brises de madeira, que
deslizam de um lado ao outro, acompanham a fachada dos quartos, sombreiam os ambientes e
garantem a privacidade”, descreve Marcio Kogan. Os brises, que podem ser observados na
Figura 30, são também uma solução flexível, de baixo grau, que conferem movimento à
fachada e versatilidade de usos ao espaço adjacente a eles. Através delas os usuários podem
otimizar o conforto térmico dos ambientes de acordo com o uso interno e a incidência solar.

Figura 30: Fachadas com brises no edifícios Vertical Itaim

Fonte: Archtonic (2020). Disponível em https://www.architonic.com/en/project/studio-mk27-vertical-


itaim/5103675 Acesso em: 13 de Fev. de 2020.
75

Segundo o arquiteto, Mácio Kogan, as unidades apresentam plantas versáteis: “A


planta pode ser configurada como um loft aberto e moderno, mas também pode ser um
apartamento tradicional, em um andar, com duas suítes. O tamanho e as necessidades da
família determinam a planta”. Apenas o núcleo de circulação vertical e serviços é fixo e foi
posicionado na lateral do edifício a fim de diminuir a interferência de elevadores e da escada
na planta.
A planta baixa indicada na Figura 31 indica algumas das soluções construtivas
aplicadas no edifício: o núcleo de circulação vertical (em amarelo) isola a maior parte das
áreas molhadas dos quartos e sala, em vermelho é possível ver que existem apenas três shafts
hidráulicos espalhados pela planta e as colunas/paredes estruturais se encontram nas
extremidades, o que também facilita alterações.

Figura 31: Planta baixa indicando os shafts, circulação vertical e paredes fixas/ pilares

Fonte: Archdaily (2020). Disponível em https://www.archdaily.com.br/br/758843/vitacon-edificio-itaim-


studio-mk27-marcio-kogan-plus-carolina-castroviejo?ad_medium=office_landing&ad_name=article Acesso em:
04 de Agosto de 2020.
76

Apesar de este edifício possuir soluções menos radicais referentes à flexibilidade, é dada
aos moradores alguma liberdade dentro de um “cardápio” controlado. Existe um núcleo fixo
de áreas molhadas que não pode ser alterado e plantas pré-estabelecidas, mas há a
possibilidade de integração entre espaços e a questão dos brises deslizantes que conferem um
ar de novidade a fachada dando aos moradores a sensação de inferirem diariamente na
aparência externa da construção.

5.1.5 Max Haus BLX (2018)

A construtora Max Haus se define, de acordo com seu web site, como sendo uma
empresa que “respira customização”, possui uma linguagem jovem e recrimina os
apartamentos formatados como os de “200 anos atrás” (MAX HAUS, 2020). Prega a
flexibilidade a baixo custo e oferece um apartamento de planta livre, pronta para a
personalização, que vem com “elementos e instalações pensados para atender a uma enorme
diversidade de layouts futuro” (MAX HAUS, 2020). Ou seja, procura elaborar um discurso
sintonizado com o anseio por flexibilidade, o que, supostamente, estaria nas expectativas de
seu público de classe média alta. Este tipo de empreendimento ainda pode ser visto como
pioneiro no Brasil.
Além disso, as unidades apresentam diversas tecnologias que facilitam a vida do
morador: um aplicativo que regula a intensidade das luzes, fecha as cortinas, liga o som; porta
com fechadura eletrônica; vidros especiais nas janelas. O espaço interior possui concreto
aparente no teto e nas poucas paredes estruturais e cimento queimado em todo o piso, assim o
morador pode revesti-lo da forma que preferir ou deixar o acabamento da maneira que a
construtora entrega.
O interior não possui pilares ou paredes fixas que tirem a possibilidade do morador de
optar por uma planta livre. As unidades são entregues com um núcleo de banheiro finalizado,
assim como a pia e bancada de cozinha instaladas, como mostrado na Figura 32.
77

Figura 32: Unidades Max Haus BLX de 70,5m² e de 74,7m²

Fonte: Max Haus (2020). Disponível em https://blx.maxhaus.com.br/index/plantas.php Acesso em: 02 de


Julho de 2020.

Figura 33: Algumas das opções de planta sugeridas pela construtora para a unidade de 70,5m²

Fonte: Max Haus (2020). Disponível em https://blx.maxhaus.com.br/index/plantas.php Acesso em: 02 de


Julho de 2020

Figura 34: Algumas das opções de planta sugeridas pela construtora para a unidade de 70,5m²

Fonte: Max Haus (2020). Disponível em https://blx.maxhaus.com.br/index/plantas.php Acesso em: 02 de Julho


de 2020.
78

É possível concluir, após analisar os projetos apresentados que as alternativas


brasileiras disponíveis de flexibilização do espaço dos apartamentos são ainda incipientes e
focam mais em criar núcleos separados para áreas molhadas e circulação vertical ou apostam
na diversidade tipológica. O edifício Max Haus BLX é uma exceção onde a construtora
oferece aos compradores unidades completamente sem divisões internas e com as instalações
de banheiro e cozinha prontas. Este modelo de apartamento com a planta completamente livre
está presente também no projeto Tila Loft desenvolvido na Finlândia, o desenvolvimento de
um projeto tecnicamente parecido no Brasil mostra que já existem tentativas de inserir no
mercado modelos de apartamentos com grau mais elevado de flexibilidade. Porém, as
soluções técnicas e a liberdade dada aos compradores ainda é limitada.
79

CAPÍTULO 06: Estudo de caso – Análises e proposições para um empreendimento


residencial vertical multifamiliar de mercado

6.1 Contextualização e apresentação

A fim de testar os conceitos sobre a flexibilidade abordados nos capítulos anteriores e


desenvolver hipóteses de como um edifício poderia ser adaptado para proporcionar maior
flexibilidade aos moradores, optou-se por um estudo de caso de um empreendimento
imobiliário habitacional de múltiplos pavimentos, destacando a avaliação das plantas de seus
apartamentos e suas relações com as soluções construtivas, a fim de verificar as
possibilidades de se alcançar a flexibilidade desejável.
Os dados foram coletados através de conversas, visitas à obra e entrevistas informais
gravadas e transcritas no apêndice 01 deste trabalho. As entrevistas foram feitas pessoalmente
e por e-mail com dois envolvidos no empreendimento: o sócio proprietário da empresa,
formado em engenharia civil no ano de 1982, responsável por cuidar da parte financeira e da
incorporação neste projeto; e o engenheiro contratado da empresa responsável pela execução
da obra.
O método de pesquisa tem como principal objetivo analisar os subsistemas do edifício,
tal como indicado por Brand (1994) que aponta sua existência em camadas, com diferentes
níveis de permanência temporal. Com adaptações à teoria de Brand (1994) analisaremos:
estrutura, pele (fachada), serviços (shafts e circulação vertical) e recheio (paredes internas). A
teoria dos Shearing Layers proporciona liberdade e adaptabilidade ao edifício possibilitando
que ele se renove ao longo dos anos de acordo com seus usos e novos comportamentos dos
usuários.
Neste trabalho tomaremos como base, também, algumas definições de flexibilidade
dadas pela Teoria dos Suportes (Open Building) que, de acordo com Jorge (2012), dá espaço
ao improviso e espontaneidade da planta através de intervenções e acréscimos. Porém,
procurando compatibilizar as propostas com a viabilidade do na sub-região onde se encontra
O empreendimento em questão está localizado no estado de Minas Gerais, em Araxá,
uma cidade de porte médio, situada na mesorregião do Alto Paranaíba e possui, de acordo
com o senso de 2019, 106.229 habitantes. A Figura 35 mostra no mapa de Minas Gerais como
são divididas as mesorregiões e onde se localiza o Alto Paranaíba, bem próximo ao Triângulo
Mineiro.
80

Figura 35: Mesorregiões de Minas Gerais

Fonte: Le Sann (2001)

Trata-se de um edifício residencial de vinte e quatro pavimentos construído no centro


da cidade, voltada para a classe média alta, como mostrado na Figura 36.

Figura 36: Fachada principal

Fonte: Folheto promocional distribuído pela construtora.


81

Figura 37: Fachada frontal do empreendimento ainda em construção

Fonte: Acervo da autora (2020)

Na Tabela 07 são apresentados os dados do empreendimento:

Tabela 07: Dados do empreendimento

LOCALIZAÇÃO Minas Gerais, mesorregião do Alto Paranaíba


POPULAÇÃO DA CIDADE 106.229 habitantes
VALOR TOTAL DA OBRA R$ 39.871.765,58
VALOR MÉDIO POR UNIDADE R$ 491.031,58
PÚBLICO ALVO Classe média alta e interessados externos
DATA DA OBRA Início em 20/11/17 e entrega (programada) 20/05/21
NÚMERO DE UNIDADES 80
NÚMERO DE PAVIMENTOS 24
NÚMERO DE UNIDADES POR 4
PAVIMENTO
82

METRAGEM QUADRADA DOS 132,70m², 127,31m² e 195,02m²


APARTAMENTOS
NÚMERO DE VAGAS POR 2 vagas (os de 132,70m² e 127,31m²) e 3 vagas (o de
UNIDADE 195,02m²)
ÁREA COMUM Área de lazer com piscina aquecida, salão de festas e salão de
jogos com espaço gourmet, Espaço fitness, Brinquedoteca e
Play-ground para crianças, Praça de convívio.

Fonte: Elaborado pela a autora a partir de dados obtidos com a construtora em entrevista (2020)

Pelas Figuras 38 e 39 é possível notar que a área de implantação do edifício é central


na cidade, altamente urbanizada, e apresenta em seu entorno farmácia, supermercado, lojas de
vestuário, alimentação e serviços em geral. O espaço ocupado corresponde a, praticamente,
um quarto da quadra onde foi implantado. Outra relação de destaque entre o empreendimento
e seu entorno é a grande diferença de gabarito: assim como a maioria da cidade, este bairro
possui construções baixas de, no máximo três pavimentos, e a nova construção destoa, tendo
sido projetada com 24 pavimentos. Apesar de estar bem próximo a zonas residenciais e
comerciais centrais com limite rígido de gabarito e taxa de ocupação, a edificação em questão
já se encontra em zona chamada de “Centro Expandido”, em destaque na Figura 40, que
segundo o plano diretor, prevê uma futura verticalização. O prédio se encaixa no Art. 54,
Seção IV:

IV. MAVR = Modelo de assentamento Vertical Residencial Multifamiliar permitido


somente nas áreas passíveis de verticalização mostradas no Anexo 5 que integra esta
lei atendendo às disposições do art. 57 do PDE:

a) Coeficiente de aproveitamento máximo de 4,5 (quatro e meio);


b) Taxa de ocupação máxima de 50% (cinquenta por cento); [...] (PLANO
DIRETOR MUNICIPAL DE ARAXÁ, 2003, p. 31)
83

Figura 38: Recorte do mapa anexo ao Plano Diretor de Araxá indicando as zonas edificáveis

.
Fonte: Plano Diretor da cidade de Araxá.
84

Figura 39: Imagem aérea da região onde será implantado o empreendimento. O terreno usado está marcado em
vermelho

Fonte: Google Maps (2020)

Figura 40: O prédio da maneira que se encontra atualmente: obra em desenvolvimento

Fonte: Imagem retirada de filmagem feita pela empresa construtora (2020)

O empreendimento oferece aos moradores, em suas áreas comuns, piscina, salão de


festas e de jogos, espaço gourmet, academia playground e praça de convívio. Tem se tornado
cada vez mais comum encontrar no mercado edifícios que oferecem uma ampla gama de
85

serviços dentro do limite de seus muros, defendendo que assim os moradores podem
encontrar tudo que precisam sem necessariamente sair da segurança de sua casa. Na Figura 41
é possível ver a implantação e planta baixa do pavimento térreo e identificar a piscina, o salão
de festas, vestiários, academia, playground, salão de jogos e a praça que se atravessa para
chegar à recepção.

Figura 41: Implantação/ planta baixa térreo do empreendimento

Fonte: Folheto promocional distribuído pela construtora (2020)

6.2 Análise do Empreendimento quanto a soluções flexíveis

O público alvo do empreendimento são pessoas que já residem nesta cidade de médio
porte e que apresentam, segundo o sócio proprietário da empresa, certa resistência a um
projeto que seja muito diferente do que é apresentado pela maioria das construtoras locais.
Preferem que as unidades sejam entregues finalizadas e comumente preferem a tipologia com
tripartição funcional serviço/ social/ íntimo.
86

O sócio proprietário da empresa construtora entrevistado admite que solicitações de


alterações após a ocupação das unidades são escassas nos projetos em que já trabalharam; que
a grande maioria dos compradores prefere receber seu apartamento já finalizado; que mesmo
durante sua formação acadêmica, que ocorreu há quase 40 anos atrás, não havia discussões
sobre flexibilidade da maneira como existe hoje em dia; que “hoje como empresário da
construção é preciso se reinventar e surpreender o cliente moldando suas ideias de
flexibilidade no projeto”, é preciso mostrar ao cliente que ele tem opções.
Através do depoimento dado pelo entrevistado é possível identificar a busca pelo
equilíbrio entre os desejos do cliente, as possibilidades construtivas e a vontade de explorar
“novidades” arquitetônicas. Um projeto habitacional, como o estudado aqui, envolve
administração de conflitos entre as diversas partes envolvidas: questões técnicas e
corporativas, interesses locais e regionais, e é preciso compatibilizar todos os interesses.
Mesmo dentro da lógica de uma planta flexível as construtoras limitam as
modificações. De acordo com o entrevistado é preciso “dar liberdade aos adquirentes para
personalizar dentro dos parâmetros técnicos possíveis a sua unidade [...] levando em
consideração a compatibilidade destas alterações ao projeto planejado”, pois “é preciso
manter fixos alguns pontos vitais, que seriam: sistema estrutural, abastecimento de água,
energia e gás, instalações sanitárias, instalações elétricas, circulações de uso coletivo”, e isso
se dá porque, de acordo com o engenheiro responsável pela obra, é possível acontecerem
problemas de compatibilidade, como: um banheiro que se localiza sobre um quarto ou sala
que pode acabar gerando infiltrações.
Conforme os conceitos já apresentados é possível entender que este empreendimento
toma como suporte do edifício: o sistema estrutural, a cobertura, as circulações verticais, as
áreas molhadas (com a possibilidade de pequenas modificações no tamanho), as fachadas,
assim como os pontos de instalações hidráulica e elétrica (shafts). Como recheio, as alvenaria
de fechamento e esquadrias .
Apesar de tornar o projeto mais complexo, a flexibilização das unidades se torna um
grande chamariz, uma forma de marketing para a construtora, já que, segundo o entrevistado,
ainda no Show Room, são abordados aspectos sobre “possíveis mudanças de acordo com as
necessidades pessoais de cada adquirente”, as mudanças são orçadas posteriormente,
organizadas em uma planilha que mostra o “débito dos acréscimos e crédito nas retiradas de
elementos que haviam sido propostos no projeto inicial” e os clientes não costumam
apresentar ressalvas quanto ao grau de modificações oferecido pela construtora.
87

O pavimento tipo de apartamentos se organiza como mostra a Figura 42, possui quatro
unidades e um núcleo central de circulação vertical:

Figura 42: Planta baixa do pavimento tipo

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

O programa das plantas originais apresentado aos compradores contempla: quatro


quartos, sendo dois deles suítes, banheiro social, varanda, sala de estar/ jantar, cozinha, área
de serviço, banheiro de empregada e duas ou três vagas de garagem. O folheto promocional
da construtora apresenta os apartamentos tipo como mostrado na Figura 43.
88

Figura 43: Apartamentos tipo

Fonte: Folheto promocional distribuído pela construtora (2020)

A construtora oferece aos compradores algumas modificações dentro de um


“cardápio”, pois segundo o engenheiro representante entrevistado existe um projeto ideal, e as
opções a serem escolhidas não devem ficar muito longe dele. Eles atendem, em uma primeira
fase, os futuros condôminos individualmente para tratar de modificações nas alvenarias e, em
um segundo momento, para determinar alterações possíveis nos acabamentos.
Segundo o entrevistado as principais mudanças em plantas oferecidas são:

 Retirada de um dos 4 quartos aumentando a Sala e fazendo também um closet maior;


 Retirada da parede que separa a sala e varanda integrando os dois ambientes;
89

 Transformação do banheiro de empregada em uma despensa para atender guarda de


utensílios e compras de supermercados.
 Retirada da parede que separa a cozinha da sala (com possível colocação de balcão)
para integrar os ambientes.
Qualquer mudança que o morador queira fazer depois de ter sua unidade entregue deve
ser consultada no manual do cliente entregue pela construtora.
O que é oferecido ao futuro morador pela construtora responsável pelo empreendimento
é o que Lamounier (2017) define como “diferenciação proposta pelo arquiteto” que ocorre
“quando é ele quem opta por uma diferenciação, buscando distinguir as unidades entre si, em
geral por não conhecer os futuros moradores ocupantes das habitações” (LAMOUNIER,
2017, p.356). Assim, são oferecidas determinadas opções de adaptações que já constam em
um “cardápio”. Uma espécie de flexibilidade controlada, o que acaba criando unidades
parecidas repetidas aleatoriamente e não unidades realmente únicas. Esse sistema não acarreta
tantos gastos extras à construtora e garante que o morador já receba seu apartamento sem
precisar lidar com obras e custos a partir da entrega.
A fim de indicar mais claramente em planta os sistemas prediais o pavimento tipo será
divido em unidade A, unidade B, unidade C e unidade D. Quando não for pertinente mostrar a
planta total será analisada apenas a unidade D como exemplo. As unidades se localizam em
planta como apontado na Figura 44.

Figura 44: Planta esquemática indicando a localização das unidades A, B, C e D.

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


90

O sistema estrutural do edifício estudado é constituído por pilares, vigas e lajes em


concreto armado, o sistema mais comum nas construções brasileiras, atualmente. Segundo o
engenheiro sócio/proprietário da construtora os sistemas construtivos que a empresa mais
utiliza em seus empreendimentos são: a alvenaria estrutural em blocos de concreto, alvenaria
estrutural em blocos cerâmicos e a alvenaria convencional com estruturas em concreto
armado (pilares, vigas e lajes) e fechamento em tijolos cerâmicos, que é o caso do prédio em
questão (Figura 45, 46 e Figura 47).

Figura 45: Conjunto estrutural do pavimento tipo

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


91

É possível perceber em planta, na Figura 46, e em perspectiva, na Figura 47, que a


distribuição de pilares feita pela construtora deixa livre grande parte do espaço interno do
apartamento.

Figura 46: Planta baixa com indicação de pilares e vigas

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


92

Figura 47: Perspectiva com indicação de pilares e vigas

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

As redes de instalações técnicas como água e esgoto, gás, eletricidade, cabeamento


telefônico, de TV e internet, além de sistema de ar condicionado, podem interferir causando
grande impacto na definição de lay outs e da planta de um apartamento. A cultura construtiva
possui o costume de incorporar os dutos elétricos e hidráulicos, por exemplo, à alvenaria feita
de blocos - cerâmicos ou de concreto – o que dificulta ainda mais o acesso para manutenção
ou a possibilidade de modificação da posição dos cômodos de determinada habitação. Cruz e
Aniceto (2019) destacam que a tecnologia em relação às instalações elétricas avança
rapidamente, fazendo com que muitas soluções se tornem obsoletas rapidamente e que o
Brasil possui “inúmeras realidades bem distintas, já que as enormes desigualdades sociais e as
diferenças culturais refletem na forma como os projetos de construção civil foram executados
no passado e o são no presente” (CRUZ; ANICETO, 2019, p.16).
Por isso, os shafts se tornam elementos de grande importância na aplicação da
flexibilidade em edifícios de múltiplos pavimentos, são espaços livres, no sentido vertical ou
horizontal, pré-determinados em projeto, por onde passam as tubulações e fiações. Júnior
(2017) os define da seguinte forma:
93

Entende-se por shafts, ou dutos verticais, os espaços livres para passagem de


tubulações. Estas aberturas, convenientemente estudadas e previstas na fase de
projeto, eliminam algumas interferências na obra, como a quebra da alvenaria para
passagem de tubulações; facilitam as futuras operações de manutenção e operação
do sistema, além de diminuir custos, melhorar a produtividade e incrementar a
qualidade. (JÚNIOR, 2017, p. 319)

Neste trabalho, os shafts indicados na Figura 48, em sua maioria, estão localizados
junto aos pilares e são fechados em alvenaria. Os shafts de telefonia e elétrica não influenciam
na organização espacial das unidades, pois estão localizados, como indicado em verde na
Figura 49, na área comum de circulação vertical do edifício e são distribuídos sobre os forros
e embutidos nas paredes de cada apartamento.

Figura 48: Shafts do pavimento tipo

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


94

Figura 49: Planta baixa indicando os pilares e shafts da unidade D

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Figura 50: Pilares, shafts e demarcação dos cômodos em uma das unidades

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


95

Figura 51: Indicação de pilares, vigas e shafts da unidade D

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Lamounier (2017) aponta que o piso elevado, o forro e os shafts podem ser considerados um
subsistema “que possibilitam maior abertura ao suporte; tanto na livre localização da área
molhada [...] quanto na localização de pontos elétricos e demais instalações” (LAMOUNIER,
2017, p.123), contribuindo no favorecimento da flexibilidade.
A circulação vertical, mostrada na Figura 53, está localizada no centro da planta do
pavimento tipo, entre as quatro unidades, concentrada em um núcleo onde se encontram os
elevadores, escada, duto de ventilação, armário para equipamentos e shafts de elétrica e
telefonia. Abreu e Heitor (2007) concordam que a localização concentrada das circulações é
uma boa estratégia, porém é preciso ainda criar alternativas de rotas ao projetar um edifício
com possibilidades flexíveis:

[...] criação de acessos múltiplos e/u de circulações alternativas; previsão de acessos


a uma futura expansão; previsão da possibilidade de vir a ser instalado um elevador;
concepção do espaço de circulação como elemento “rótula” (espaço de distribuição
para os possíveis futuros compartimentos) (ABREU; HEITOR, 2007, s.p)
96

Figura 52: Planta baixa da circulação vertical do edifício

Figura 66:.

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


97

Figura 53: Circulação vertical do pavimento tipo.

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

As áreas molhadas, indicadas na Figura 54, como os banheiros, a cozinha e a área de


serviço podem ser vistas como “recheio” desde que os dutos hidráulicos e elétricos sejam
localizados de forma estratégica. Outra solução pode ser o uso de piso elevado, porém, no
projeto estudado essas áreas são dadas como “suporte” no edifício: sua posição em planta não
pode ser alterada pelos compradores das unidades. De acordo com os entrevistados, a maior
dificuldade em fazer das áreas molhadas “recheios” flexíveis é a grande chance de causar
problemas de infiltração nas unidades. É mais provável que um banheiro posicionado sobre
um quarto da unidade inferior cause transtornos neste sentido
98

Figura 54: Planta baixa indicando as áreas molhadas: cozinha, lavanderia e banheiros, e shafts

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

A Fachada é vista como suporte em alguns casos e em outros não. Se for especificada
como “recheio”, Lamounier (2017) destaca que “alguns requisitos técnicos, em termos de
coordenação modular e conectividade, precisam ser adotados de antemão no projeto “suporte”
assim como questões ligadas a aparência final” (LAMOUNIER, 2017, p.117) e que:

No caso de fachadas em edifícios residenciais multifamiliares, fatores tanto culturais


quanto tecnológicos devem ser considerados quando a liberdade ou necessidade em
se expressar individualmente entram em conflito com a vizinhança. (LAMOUNIER,
2017, p. 355)

Esta questão da unidade plástica das fachadas é polêmica, mas sua flexibilidade é
possível e a aparência pode ser acordada entre as partes envolvidas. As fachadas poderiam ser
99

pensadas para prever situações variadas e permitir alguns tipos de modificações, configurando
uma diversidade com unidade.
Imaginemos, portanto, que a construtora propusesse quatro ou cinco opções de
fachadas diferentes, mas dentro de uma linguagem, como um cardápio, que poderia conter
janelas com diferentes dimensões, varandas fechadas ou abertas por cortinas de vidro, entre
outros elementos.
Abreu e Heitor (2007) levantam a questão de como a configuração das fachadas está
diretamente ligada às modificações internas feitas em um espaço e como, em uma arquitetura
flexível, ela deve permitir a abertura de novos vãos de acordo com o rearranjo do interior. “A
estratégia auxiliar mais utilizada é a composição de métrica regular, ou irregular, que pelo seu
dimensionamento não põe em causa futuras configurações espaciais” (ABREU; HEITOR,
2007, n.p.). No empreendimento estudado não é oferecida nenhuma opção de modificação de
fachada, que é vista como suporte, assim como na maioria dos empreendimentos entregues
atualmente. O cliente pode somente fechar sua varanda com uma cortina de vidro pré-
aprovada pela construtora. A Figura 55 mostra a fachada frontal a ser entregue ao fim da obra.
100

Figura 55: Desenho da fachada frontal do empreendimento

Fonte: Desenhos técnicos disponibilizados pela construtora (2020)


101

6.3 Proposições: construindo a flexibilidade

Após analisar o posicionamento das paredes, lajes, vigas e shafts, é possível investigar
as possiblidades de alteração em uma das unidades, chamada Unidade D, cujo
posicionamento está demarcado na figura 58. Neste momento tais alterações serão feitas
apenas no que é considerado pela construtora como recheio
A construtora responsável pelo empreendimento disponibiliza aos compradores, ainda
no estande de vendas, a opção de modificar a planta, de formas controladas e previstas pelos
engenheiros responsáveis, porém as alterações não exploram todas as possibilidades. Portanto,
a seguir, novas propostas desenvolvidas a partir do estudo do edifício, serão apresentadas.
Iremos analisar mais a fundo as possibilidades referentes à unidade D indicada na Figura 56.

Figura 56: Planta baixa demarcando a posição das unidades A, B, C, D e no centro, a circulação vertical.

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

A figura 57 apresenta a planta original entregue pela construtora, quando não há


modificações solicitadas pelos compradores. A Figura 58 e a Figura 59 mostram as duas
opções de mudanças tipológicas mais pedidas pelos compradores.
102

Figura 57: Planta na unidade D em sua conformação original entregue pela construtora

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Na unidade apresentada na Figura 58 foi feita uma abertura na parede que divide a
cozinha da sala de jantar e instalado um balcão. Um dos quartos se transformou em sala de
TV trocando a porta deste cômodo de posição. Já na unidade apresentada na Figura 62 a
parede que divide a cozinha da sala de jantar foi demolida, um dos quartos foi retirado
aumentando a sala e o closet do quarto principal, assim como o banheiro do quarto principal.
A parede que divide a sala de estar com a varanda também foi retirada.
103

Figura 58: Planta na unidade D com modificações solicitadas por um cliente

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


104

Figura 59: Planta na unidade D com modificações solicitadas por um cliente

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Seguindo as propostas da construtora, mostradas nas Figuras 58 e 59, são apresentadas


mais duas opções de plantas baixas:
105

Figura 60: Planta na unidade D, com modificações

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Na Figura 60 foi pensado um ambiente completamente integrado englobando a sala de


estar e jantar, a varanda – que ganha uma churrasqueira – e foi acrescentado um bar de apoio,
para moradores que desejam receber amigos, por exemplo. A cozinha foi fechada por portas
de correr e na área intima os moradores dispõe de duas suítes e um banheiro social.
As paredes deslocadas de sua posição original nas propostas apresentadas criam vigas
aparentes que podem ser escondidas sobre forros e rebaixos de gesso, técnica muito utilizada
nos projetos de interiores.
Na Figura 61 a cozinha é menor e integrada a sala com a finalidade de dar espaço a um
home office que serve a moradores que precisam atender clientes em casa. Este home office
conta com entrada independente, sala de espera e banheiro. A área de serviço foi deslocada
juntamente com a cozinha e isolada para que não interfira no funcionamento da área íntima da
casa.
106

Figura 61: Planta na unidade D com modificações

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

As mudanças apresentadas nas plantas das Figuras 60 e 61 fogem levemente do que foi
proposto pela construtora, porém sem alterar a estrutura e os shafts presentes no projeto,
mostrando que mesmo com um grau mais reduzido de flexibilidade seria possível deixar os
moradores mais livres para organizarem o espaço de maneira mais conveniente à sua rotina.
As propostas acima ainda poderiam ser incrementadas com soluções da ordem do
projeto de interiores. Assim, os moradores podem dispor de soluções pós-ocupação
facilitadas, mudanças feitas durante o uso, no dia-a-dia, que favoreçam as atividades
realizadas no ambiente, como:

1 – Cômodos reversíveis:

 Uso de painéis deslizantes ou portas de correr (Figura 62)


 Dois acessos diferentes ao mesmo cômodo: ex.: banheiro com dois acessos que pode
ser social ou banheiro de suíte.
107

 Biombos: ex.: dar mais privacidade a determinado ponto de um cômodo maior que
abriga mais de uma função.

Figura 62: Sala de TV isolada ou integrada à sala de estar por portas de correr

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

1 – Presença de pelo menos um cômodo multiuso:


 Cômodo central com conformação espacial neutra que pode abrigar funções como
quarto de hóspedes, sala de TV, home office, assim como o espaço destacado em azul na
Figura 63.
108

Figura 63: Planta baixa destacando o cômodo multiuso

Fonte: Elaborado pela autora (2020.

2 – Comunicações e acessos adicionais:


 Adição de portas a determinados cômodos: um morador que trabalha em home office e
precisa atender clientes em seu apartamento poderia dispor de um acesso por onde a pessoa
entre em seu escritório sem precisar passar por qualquer outro cômodo da casa, como
apresentado na planta da Figura 64.
109

Figura 64: Planta baixa indicando os acessos ao home office e a área social do apartamento

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

3 – Mobiliário planejado:
 Armários/ estantes com rodízios para fácil deslocamento: usados para divisão de
ambientes.
 Móveis biombo: usados para divisão de ambientes (Figura 65 e Figura 66)
 Mesas corrediças/ dobráveis
 Camas escamoteáveis, suspensas, sofá cama.
110

Figura 65: Espaço do closet delimitado pelo projeto de marcenaria

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Figura 66: Estante que separa e dá mais privacidade a determinado cômodo

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


111

CAPÍTULO 07 – Potencializando a flexibilidade

7.1 Proposta de diretrizes projetuais para um edifício residencial flexível

Neste capítulo são exploradas concepções projetuais baseadas na flexibilidade em sua


possibilidade mais ampla. A metodologia que mais se aproxima do conceito de flexibilidade e
da proposta de entregar uma planta livre aos moradores é a do Open Building, que defende
que o edifício deva ser projetado como um suporte para que as moradias sejam nele
instaladas. Ele deve possuir alguns subsistemas fixos, como: elementos estruturais, circulação
vertical e shafts hidráulicos e elétricos estrategicamente localizados de modo a permitir ao
usuário diversos layouts para a unidade comprada, isto é, a liberdade de definir o “recheio”.
Assim, divisórias internas, mobiliário e até componentes da fachada poderiam ter
configurações distintas.
Como referência, adotou-se a teoria dos Shearing Layers, de Brand (1994), que indica
que para se projetar um edifício flexível é necessário pensá-lo em partes fixas, que possuam
seu tempo de vida prolongado, e em partes mutáveis, que possam ser alteradas mais
facilmente pelos moradores, pois possuem menor tempo de vida útil. Essas duas teorias, o
Open Building e o Shearing Layers, se completam e proporcionam o desenvolvimento de um
edifício residencial com opções e possibilidades de alteração no espaço de forma mais prática.
Foi possível verificar no projeto estudado sua limitação quanto à flexibilidade e a
necessidade de uma proposta mais ampla que abrisse tanto outras possibilidades de projeto
quanto de adaptação pós-ocupação.
Para o exercício projetual apresentado a seguir foi levantada a seguinte questão, que
busca apresentar estratégias de aprimoramento técnico construtivo e projetual utilizados nos
apartamentos de edifícios residenciais: Como estruturar soluções construtivas e apresentar
diretrizes que auxiliem na obtenção de projetos mais flexíveis dando aos usuários maior
liberdade para definir o espaço ocupado de acordo com suas necessidades e modo de vida?
Ao longo deste trabalho discorremos sobre diversos tipos de modificações que um
edifício residencial poderia sofrer e quais elementos poderiam ser mais facilmente
modificados ou não, ou quais são considerados recheio de um edifício e quais são
considerados suporte. Deste ponto em diante investigaremos possibilidades de como cada
sistema pode contribuir para a maior flexibilização dos ambientes.
Uma das premissas para a associação da estrutura portante com a planta livre seria,
segundo Santos (2012) reduzi-la ao mínimo, criar grandes vãos, além da “separação da
112

estrutura da compartimentação” (SANTOS, 2012, p.32). Para Barbosa (2016), a modulação é


a melhor opção: “a definição de um módulo implica que todos os componentes, ou parte
significativa deles, tenham suas dimensões estabelecidas pela multiplicação ou fração de uma
mesma unidade” (BARBOSA, 2016, p.31), pois com medidas regulares é mais fácil aumentar
ou diminuir cômodos, por exemplo. As lajes pré-fabricadas e protendidas possuem menor
peso próprio e muitas vezes permitem maiores vãos se destacando em projetos flexíveis. Para
Brandão (2011é imprescindível a dissociação entre estruturas e vedações: “a separação entre
estrutura e fechamentos internos permite maior liberdade para adaptações” (BARBOSA,
2011, p.16).
Seguindo este raciocínio, foi criada uma estrutura que libera vãos de até 480cm e está
modulada em uma malha de 30cm por 30cm, facilitando a adaptação, mudança de paredes
para aumento e redução de cômodos ou a criação diversas tipologias de apartamentos em cada
pavimento, apresentada em planta esquemática na Figura 67.

Figura 67: Planta esquemática indicando a forma de um dos pavimentos tipo e destacando sua modulação

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


113

A escolha do tipo de laje utilizado em uma construção é de suma importância, pois


acarreta aumento ou diminuição de custos, influencia no peso sobre a estrutura e fundações e
até no tempo de obra. Porém, em relação à questão da flexibilidade no projeto, a laje simples
de concreto armado já se apresenta como uma solução satisfatória, pois os maiores vãos
possuem 480 cm, medida dentro dos padrões mais utilizados em edifícios residenciais no
Brasil.
A fim de facilitar o desenvolvimento da obra, diminuir o peso próprio da estrutura e
investir em uma construção racionalizada as lajes pré-fabricadas poderiam ser indicadas neste
caso. A laje pré-moldada formada por vigotas com armação em forma de treliça, comumente
chamada de laje treliçada é um sistema utilizado com a finalidade de garantir, de acordo com
Droppa (1999) a “economia de materiais e tempo de execução” (DROPPA, 1999, p.6), além
da redução na quantidade de fôrmas, redução do volume de concreto e armaduras em
comparação com as lajes maciças. Este sistema se torna pertinente ao projeto em questão por
ser um sistema construtivo parcialmente pré-fabricado com dimensões que se encaixam à
modulação e por possuir baixo peso próprio, fato que diminui a carga total do edifício e
possibilita os vãos projetados.
Considerando a necessidade de distribuição flexível dos elementos hidráulicos da
edificação, o uso do piso elevado é controverso, porém ainda é a opção mais usual quando se
trata de projetos com plantas livres e flexibilidade total: a “evolução da tecnologia do piso
elevado é simultânea à evolução do projeto de suportes” (LAMOUNIER, 2017, 2014) destaca
Lamounier (2017). Contudo este tipo de tecnologia é mais empregado em edifícios
corporativos que demandam alta mobilidade no lay out e contam com elevado volume de
cabeamento para ligar aparelhos eletrônicos e menos comuns em obras residenciais. Quanto a
esta escolha, Lamounier (2017) evidencia que:

No Brasil, a solução do piso elevado com pedestais é mais recusada por apresentar
custo mais alto. No entanto, ela consiste numa boa solução não somente para
eventuais manutenções, vazamentos e infiltrações, mas também para problemas
recorrentemente reclamados [...] como o isolamento acústico ruim entre as unidades
habitacionais.” (LAMOUNIER, 2017, p.124)

Este sistema se vale de plataformas modulares sustentadas por pequenos pilares que
deixam um espaço entre a laje e o piso para o deslocamento de encanamento, conduítes e
instalações elétricas, como explicado por Barbosa (2016) e ilustrado na Figura 82:
114

O sistema de piso elevado consiste em placas removíveis sustentadas por estrutura


de altura regulável. Sua principal função é criar vãos livres para demandas de
tubulações hidráulicas, elétricas, ar condicionado, telefonia, informática, entre
outras. Este sistema além de favorecer mudanças de layout nos ambientes
residenciais, permite maior facilidade no acesso às redes de infraestrutura instalada.
Comumente usados para prédios comerciais deverá em curto tempo ocorrer para
edifícios residenciais. (BARBOSA, 2016, p. 32)

Em áreas molhadas, como banheiros, o piso elevado possibilita a drenagem por ralos e o
livre deslocamento das tubulações. Lembrando que deve ser considerado o desnível
necessário para o bom funcionamento do sistema hidráulico. Na Figura 68 está ilustrada a
instalação de uma bacia sanitária sobre piso elevado.

Figura 68: Instalação de bacia sanitária sobre piso elevado

Fonte: Catálogo Eliane Tec (2020)

Diversas empresas já disponibilizam esta tecnologia no mercado brasileiro. Os detalhes


na Figura 69 foram retirados do catálogo de uma delas:
115

Figura 69: Detalhes demonstrando o interior do sistema de piso elevado

Fonte: Catálogo Hunter Douglas Archtectural (2020)

Na Tabela 08, retirada do catálogo de uma das empresas que realiza a venda e
montagem do piso elevado é possível destacar que, apesar de este tipo de sistema poder
receber uma ampla gama de revestimentos, a indicação para sua aplicação é em áreas
corporativas.

Tabela 08: Especificações de piso elevado

Fonte: Catálogo Hunter Douglas Archtectural (2020)

Os shafts e seu posicionamento possuem relação direta com a escolha da laje e


também fazem parte do suporte de um edifício, e devem, de acordo com Jorge (2012), estar
dissociados das estruturas e das vedações além de possuírem localização estratégica e estarem
116

agrupados em blocos. Para facilitar ainda mais o alcance, podem contar com painéis de
inspeção e manutenção que permitam acesso rápido e fácil para futuras reformas e
manutenções. Lamounier (2017) determina que devam estar:

[...] junto à paredes mestras, a pilares, externamente ao edifício [...] ou em pontos


estratégicos, que melhor favoreçam o posicionamento das áreas molhadas, ao
mesmo tempo não impedindo a mudança facilitada e econômica de localização
dessas na unidade habitacional. (LAMOUNIER, 2017, p. 116)

Caso a construção disponha de um sistema de pisos elevados e forro rebaixado é possível


diminuir a quantidade de shafts por unidade e os fios e tubulações podem “caminhar” por toda
a área da planta sem muitos contratempos, como mostram as Figuras 70 e 71.

Figura 70: Imagem esquemática indicando a posição dos shafts em um dos pavimentos tipo

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


117

Figura 71: Imagem esquemática indicando a posição dos shafts, a laje, o piso elevado e as instalações elétricas e
hidráulicas sob ele

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Se pensarmos exclusivamente no argumento de que a finalidade é deixar a cargo do


morador a distribuição dos cômodos no espaço adquirido, o piso elevado se apresentaria como
uma boa opção, mas é preciso pensar alternativas mais viáveis e habituais para projetos
residenciais.
Outra opção estrutural que determina boa resolução para a questão da passagem de
cabeamento e instalações hidráulicas sob o piso é fazer uso da laje rebaixada que cria vãos
que facilitam o acesso de instalações hidráulicas e elétricas. O deslocamento de instalações,
neste caso, não é tão simples como quando dispomos de piso elevado, mas permite alguma
liberdade de mudança de posição nas áreas molhadas e instalações se os shafts forem
posicionados estrategicamente, como é possível analisar nas Figuras 72 em perspectiva e
Figura 73 em planta baixa. Alçapões ou “janelas” também podem ajudar no acesso ao vão que
se forma entre a laje e o piso. Nestes casos, ainda seria necessário prever furações nas vigas
para a passagem das tubulações.
118

Figura 72: Perspectiva indicando o posicionamento de pilares, shafts e os corredores de laje rebaixada por onde
as tubulações podem se deslocar

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Figura 73: Planta baixa esquemática indicando o posicionamento de pilares, shafts e os corredores de laje
rebaixada por onde as tubulações podem se deslocar

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


119

A estrutura de qualquer construção certamente é dada como suporte e precisa ser fixa.
Portanto, a flexibilização da arquitetura demanda uma estrutura que forneça apoio e não
impeça mudanças que serão feitas.
Os pilares – em concreto armado ou aço - estão distribuídos conforme a modulação e
sua disposição indicada nas Figuras 74 e 75. As extremidades em balanço oferecem a
possibilidade de integrar as varandas aos espaços internos, fechando ou abrindo o ambiente.

Figura 74: Imagem esquemática indicando a posição dos pilares em um dos pavimentos tipo

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


120

Figura 75: Imagem esquemática indicando os pilares e vigas em um dos pavimentos tipo

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Quanto às divisões internas, Jorge (2012) destaca que devem ser feitas a partir de
“componentes leves, de pouca espessura, alta transportabilidade, fácil instalação e
manutenção, independente dos demais subsistemas” (JORGE, 2012, p.176). Em nosso país é
muito comum o uso de divisórias internas construídas com blocos cerâmicos ou cimentícios,
porém, um material já muito utilizado em outros países que cumpre estes requisitos seria o
Drywall, definido por Silva (2007) como sendo “uma estrutura de aço galvanizado que recebe
painéis, que podem ser de gesso acartonado ou placas cimentícias, por meio de
aparafusamento” (SILVA, 2007, p.2). Destaca entre suas vantagens a racionalização dos
sistemas de fechamento, otimização do tempo de obra, maior controle de qualidade e,
principalmente, a redução de cargas no projeto e facilidade de montagem e desmontagem. Por
ser um componente construtivo que oferece paredes mais finas tem entre suas desvantagens o
desconforto acústico, porém, este fato pode ser evitado se for acoplada ao interior da parede
uma camada de lã mineral ou outro tipo de material isolante.
Nesta proposta as paredes fixas, indicadas na Figura 76, servem apenas para delimitar o
espaço destinado à circulação vertical. Todo o restante está livre de divisórias no momento da
compra.
121

Figura 76: Imagem esquemática indicando os pilares e paredes fixas em um dos pavimentos tipo

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

A circulação vertical posicionada em um bloco central do edifício e ilustrada na Figura


77 libera espaço nas extremidades para criar apartamentos com melhor ventilação e
iluminação.

Figura 77: Imagem esquemática indicando a circulação vertical em um dos pavimentos tipo

.
Fonte: Elaborada pela autora (2020)
122

As áreas molhadas, banheiros e cozinhas, são áreas tidas como fixas em diversos
projetos que pretendem flexibilidade, mas poderiam, também, ser pensadas como passíveis de
alocações. Existem alguns recursos que, mesmo em um projeto convencional, contribuem
para mudanças de posicionamento dos banheiros.
As bacias sanitárias com saída horizontal direcionam o esgoto para trás,
horizontalmente, escoando diretamente para o shaft vertical hidráulico evitando a passagem
de tubulação por baixo da laje. Ainda não são amplamente utilizadas, mas são uma boa
alternativa. Deixam o piso livre facilitando a limpeza e as bacias podem ser facilmente
trocadas de posição e deslocadas ao redor do shaft hidráulico.

Figura 78: Diferenciação entre bacia com saída horizontal e bacia suspensa com saída horizontal.

Fonte: SUZUKI (2015)

Também o piso box, que é constituído de uma plataforma pouco elevada sob a qual a
tubulação se desloca, contribui para a flexibilidade na alocação das instalações sanitárias. É
ligado horizontalmente ao shaft, como a bacia sanitária de saída horizontal, permitindo que os
canos passem sobre a laje e não abaixo dela. Este sistema facilita futuras reformas, porém a
pequena diferença de nível torna mais difícil a acessibilidade para pessoas com necessidade
123

especial que teria que ser compensada com a instalação de uma pequena rampa de acesso ao
box.

Figura 79: Exemplo de piso box

Fonte: SUZUKI (2015)

Caso o projeto faça o uso de piso elevado à localização e as dimensões dos banheiros,
cozinhas e áreas de serviço podem ser mais livremente determinadas dentro de cada unidade
devido à facilidade de deslocamento do sistema hidráulico sob o piso. Caso o sistema de lajes
rebaixadas seja utilizado, as áreas molhadas podem sofrer alterações mais limitadas, mas
ainda se adaptariam mais facilmente se comparado a uma construção convencional.

A integração de todas as partes fixas do sistema do edifício deve ocorrer, porém,


restringindo o mínimo possível a intervenção dos futuros moradores. A estrutura, a circulação,
os sistemas elétricos e hidráulicos devem servir às unidades em suas mais diversas
oportunidades de configuração do espaço de morar. A integração entre cada uma destas partes
está representada na Figura 80.
124

Figura 80: Esquema ilustrando a integração entre as partes fixas do edifício.

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

As fachadas são um elemento de linguagem que, além de proteger o interior de uma


residência carregam, segundo Jorge (2012) “códigos estéticos e culturais próprios a cada
período histórico correspondente, evidenciando técnicas construtivas vigentes em cada
sociedade, coletividade ou grupo social” (JORGE, 2012, p.433). Podem ser de difícil solução
em projetos flexíveis porque são capazes de limitar a flexibilidade interna, se fixas, ou, se são
dadas como parte do “recheio” de um prédio, podem criar uma composição incomum para a
maioria das pessoas.
A imagem da fachada é influenciada pelas aberturas que possui: sua posição, tamanho,
modulação, repetição, cor. As esquadrias, atualmente, possuem uma infinidade de
mecanismos e materiais de acordo com os diferentes usos do espaço interior. Existem ainda
diversas normas que estabelecem a quantidade necessária de iluminação natural e ventilação
125

em cada cômodo. Por que então, de acordo com Jorge (2012) estes quesitos são pouco
explorados no mercado habitacional brasileiro?
Nesta proposta iremos adotar duas diretrizes para o caso das fachadas:

 Fachada modular: como o interior do edifício está segmentado em módulos de 4,80m


por 4,80m, as fachadas seguem este padrão, lembrando que dois módulos podem ser unidos,
ou um mesmo módulo pode apresentar duas aberturas diferentes.
 Diversidade visual: abandonar a imagem homogênea, simétrica e tradicional de
fachada.
Estas soluções criam fachadas variadas, mas que possuem coerência, seja na escolha do
tipo de material utilizado ou na repetição de alguns elementos. Por exemplo: é possível
escolher o tipo de abertura, tamanho e localização das aberturas, contanto que os usuários
mantenham um elemento em comum, mesmo vidro e material de esquadria, como indicado
em um “cardápio”, mostrado na Figura 81. A proposta na Figura 82 mostra como se daria este
tipo de solução.

Figura 81: Cardápio de esquadria sugerido aos clientes

Fonte: Elaborada pelo autor (2020)


126

Figura 82: Proposta de fachada com composição livre.

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Um ponto importante e ainda pouco explorado dentro da flexibilidade espacial


em edifícios residenciais e espaços com plantas livres é a possibilidade de cada proprietário
escolher o tamanho e forma de seu apartamento. E a modulação da planta torna possível essa
proposição. A construção modular aberta, e preferivelmente com módulos de 30cm,
proporciona um sistema de venda que já vem sendo utilizado em alguns países: a venda por
módulos e não unidades habitacionais pré determinadas. Funciona da seguinte maneira: sob a
supervisão do engenheiro ou arquiteto responsável pelo projeto e, considerando algumas
diretrizes, o interessado pode adquirir quantos e quais módulos desejar. Em Amsterdam, o
edifício Solid 11, projetado pelo escritório do arquiteto Tony Fretton, abriga apartamentos,
escritórios, um hotel, restaurantes e cafés, e apresenta um projeto flexível e se destaca por
vender o metro quadrado de seu espaço interno e não unidades fechadas. Neste
empreendimento há a área mínima de 60m² a ser negociada e a partir desta dimensão é
possível negociar uma área maior. Ao fim, cada espaço possui pelo menos um shaft, o
restante é livre, e as instalações são instaladas sob o piso elevado.
Nesta proposta a sugestão é de que haja uma área mínima disponível para compra de
três módulos de 4,80m por 4,80m (cerca de vinte e três metros quadrados) sendo que um dos
módulos deve estar conectado ao shaft e à circulação vertical. A partir desta premissa, o
cliente pode escolher se quer ou não varandas – com posições e tamanhos já pré-determinados
127

– se quer adquirir módulos sobrepostos - criando um pé direito duplo ou mezanino - e em qual


posição estarão seus módulos, como mostrado na Figura 83.

Figura 83: Opções dadas aos clientes de modificação nas unidades

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

De acordo com a escolha de cada comprador, seguindo possibilidades pré-determinadas,


caberá à assessoria técnica conectar as partes, criando a ligação entre as unidades e os
suportes, como indicado no diagrama da Figura 84 e da Figura 85.
128

Figura 84: Diferentes tipologias que podem surgir a partir das escolhas de cada cliente

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Figura 85: Proposta de agrupamento das diversas tipologias

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


129

A planta baixa indicada na Figura 86 mostra um pavimento tipo antes do


desmembramento das unidades. E as plantas da Figura 87 indicam algumas possibilidades de
arranjos após a compra dos módulos, considerando os shafts, estrutura e circulação vertical.

Figura 86: Planta baixa do pavimento tipo antes da venda dos módulos indicando shafts e pilares

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Figura 87: Plantas baixas com possíveis arranjos das unidades

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


130

De acordo com os arranjos estabelecidos como exemplo na Figura 87, é possível


destacar a diversidade de opções de tipologias e como cada uma pode se adaptar melhor a
determinado estilo de usuário. Na Figura 88 está exemplificado um tipo de planta baixa com
três módulos e uma varanda pequena, que poderia abrigar um único morador ou casal, já que
possui apenas um quarto, um banheiro, cozinha integrada com a sala e área de serviço. O
esquema de posicionamento de shafts e de como os corredores de laje rebaixada funcionam
para dar mobilidade às tubulações e, consequentemente, às áreas molhadas estão expostos na
planta baixa da Figura 89.

Figura 88: Planta baixa de uma unidade composta por três módulos

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


131

Figura 89: Planta baixa indicando o posicionamento de shafts, corredores de laje rebaixada e o caminho das
tubulações

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

O próximo exemplo indicado na Figura 90, mostra uma unidade maior, composta por
cinco módulos, que tem seu lay out desenvolvido para atender uma família que precisa de um
escritório para receber os clientes em casa. Possui: dois quartos, um banheiro social, sala,
cozinha, área de serviço e o escritório com lavabo. A planta baixa da Figura 91 indica os
shafts, corredores de laje rebaixada e caminho das tubulações para esta opção de planta.
132

Figura 90: Planta baixa de uma unidade composta por cinco módulos, com escritório/home office

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


133

Figura 91: Planta baixa indicando o posicionamento de shafts, corredores de laje rebaixada e o caminho das
tubulações

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

O exemplo,, indicado na Figura 92, mostra uma unidade de seis módulos,


desenvolvida para uma família grande, este lay out possui dois quartos, com um banheiro
social para atende-los, uma suíte com closet, sala de estar, jantar e cozinha com área de
134

serviço integrada. A planta baixa da Figura 93 indica os shafts, corredores de laje rebaixada e
caminho das tubulações para esta opção de planta.

Figura 92: Planta baixa de uma unidade composta por seis módulos

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


,
135

Figura 93: Planta baixa indicando o posicionamento de shafts, corredores de laje rebaixada e o caminho das
tubulações.

Fonte: Elaborado pela autora (2020)


136

Ao longo do desenvolvimento deste trabalho foi possível perceber a falta de projetos


residenciais de múltiplos pavimentos que entregam, de fato, um grau elevado de flexibilidade
aos moradores, assim como os motivos disso acontecer. Neste exercício, apresentamos
algumas diretrizes e uma proposta arquitetônica que podem alcançar uma flexibilidade
efetiva. Os exercícios desenvolvidos mostraram alternativas de se organizar a flexibilidade em
um edifício residencial, considerando a abordagem que se pode fazer das camadas ou
subsistemas. Identificando os subsistemas foi possível explorar diferentes soluções do todo,
como 1) optar pelo piso elevado e diminuir a quantidade de shafts no interior das unidades, e
2) explorar “corredores” rebaixados nas lajes para facilitar o deslocamento de tubulações, mas
dispondo de mais uma carreira de shafts. Sobre a fachada foi colocada a possibilidade de alto
grau de escolha e intervenção por parte dos moradores, escolhendo a posição, tamanho e
modelo das aberturas, além de cores e texturas nas paredes externas. A venda de apartamentos
por módulos, que ainda é pouco difundida, também se torna uma opção interessante para que
os compradores possam personalizar ainda mais o espaço adquirido e viver em um
apartamento do tamanho de suas necessidades.
Estas diretrizes estão principalmente pautadas em acomodar diferentes estilos de vidas
em um mesmo edifício e entregar um alto grau de flexibilidade para que os moradores possam
acomodar atividades já previstas e não previstas por eles ao longo de suas vidas.
137

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta dissertação partiu de uma questão já bastante explorada no meio arquitetônico, a


flexibilidade, porém, seu recorte se situou no campo de edifícios residenciais de múltiplos
pavimentos, procurando abordar as estratégias aplicadas a este tipo de construção, pontuar
referências projetuais e, por fim, avaliar sua viabilidade projetual mediante estudo com um
caso próximo, palpável.
Um dos problemas iniciais levantados é a falta de participação dos usuários nos
processos de tomada de decisão quanto a suas próprias residências. Para as construtoras é
mais simples e menos dispendioso criar apartamentos em sequência, cópias idênticas em que
famílias com conformações diferentes irão de instalar. Assim, é possível dizer que existe uma
postura que orienta a atividade construtiva levando a edificações convencionais que são
melhor aceitas e garantem o lucro nos empreendimentos. Apesar de já existir um movimento
contrário às construções padronizadas, o mercado imobiliário ainda é dominado por edifícios
projetados segundo fórmulas rentáveis e já testadas anteriormente, usando métodos
construtivos tradicionais.
Os edifícios residenciais que buscam se destacar pela flexibilização dos apartamentos
e que buscam difundir ideias novas relacionadas ao espaço e ao modo de morar, ainda estão
voltados para um nicho específico de mercado, um nicho que alcança apenas as classes mais
altas da sociedade. Quando falamos de edifícios flexíveis no Brasil o mais comum é encontrar
apenas diversidade tipológica entre unidades do mesmo edifício ou a possibilidade de o
comprador escolher entre uma cartela de alterações pré-determinadas, não a planta livre
propriamente dita.
Parte do problema da ausência de flexibilidade nos apartamentos parece estar ligada à
intenção das construtoras de fazer o mercado continuar em movimento. A partir do momento
em que o usuário encontra grandes limitações para modificar sua casa ele é obrigado, muitas
vezes, a procurar outra residência que melhor atenda suas novas necessidades e estilo de vida.
O estilo de vida das pessoas tem se alterado cada vez mais rápido, devido à globalização
e às novas tecnologias, entre outros motivos. Os jovens que buscam por um apartamento hoje
em dia levam muito mais em conta a liberdade, a estética e a tecnologia, além de haver muito
mais pessoas que moram sozinhas, já que segundo pesquisas apontadas nesta dissertação o
número de casamentos caiu, o número de filhos por família diminuiu e o número de divórcios
aumentou. Portanto, entre outras tendências, as construtoras focariam cada vez mais em
unidades menores com espaços integrados.
138

E quanto às tecnologias construtivas? Quais seriam os principais impedimentos que se


revelam no mercado da construção civil brasileiro que dificultam a ampla aplicação da
flexibilidade?
Em relação à produção os sistemas industrializados se destacam por atingir maior grau
de padronização nas construções, facilidade no controle de qualidade, por sua leveza e,
principalmente, em relação à flexibilidade arquitetônica, por possibilitarem maior facilidade
construtiva. Os países mais desenvolvidos já utilizam em suas construções técnicas de pré-
fabricação há muito mais tempo e desfrutam de suas vantagens.
Devido a uma diversidade de fatores históricos, culturais e sócio econômicos, no
Brasil a tecnologia construtiva mais utilizada ainda é o concreto armado com fechamentos em
blocos de concreto ou cerâmico. O concreto ganhou terreno no período modernista, esteva
presente em praticamente todas as construções da época, e, como visto, mostrou-se capaz de
proporcionar construções com plantas livres. Porém, ele não representa a melhor opção em
termos de sustentabilidade – é alto o índice de desperdício no canteiro de obras, sua produção
contém etapas altamente poluentes e as etapas de obra que usam esse material ainda envolvem
métodos empíricos e artesanais de produção.
Mas, independente dos sistemas construtivos, materiais e componentes como o light
steel frame, o drywall, o concreto pvc, kits prontos de instalações hidráulicas e elétricas, assim
como banheiros modulares prontos podem ampliar as possibilidades de flexibilidade dos
espaços residenciais. Estes elementos industrializados e pré-fabricados agregam muito a um
projeto flexível, por promoverem maior facilidade de acesso, manutenção e até mesmo
realocações em caso de reforma.
O Brasil ainda utiliza, mais comumente, sistemas industrializados em obras
institucionais, públicas ou industriais, em parte, por este tipo de construção não possuir tantas
limitações orçamentárias e culturais, enquanto nas obras residenciais é mais utilizado o
sistema de estruturas em concreto armado e fechamentos em alvenaria. No estado de Minas
Gerais, por exemplo, as pessoas são mais conservadoras a este respeito do que no estado de
São Paulo, de acordo com pesquisa feita por Oliveira (2013) e de acordo com os engenheiros
entrevistados para esta dissertação.
O conservadorismo dos compradores, o baixo orçamento aliado à lógica do lucro, e o
alto grau de compartimentação dos apartamentos, leva à utilização de sistemas construtivos
mais tradicionais.
139

A prática construtiva ao assumir a lógica de suporte e recheio proposta no pelo


movimento “Open Building”, favoreceria os moradores para assumirem a responsabilidade de
desenvolver, por conta própria, o interior de seus apartamentos.
A pesquisa acadêmica sobre uma “arquitetura aberta” é essencial para que o assunto
continue se desenvolvendo e que cada vez mais estudantes (futuros profissionais) se
interessem pelo assunto e entendam como é imprescindível o arquiteto dar voz às
necessidades dos moradores.

O projeto por suportes e recheios se apresenta como uma ferramenta de


desobstrução dos entraves apontados e de engajamento político, de reorganização e
de redistribuição de papéis, por meio da distinção dos níveis de decisão coletivo e
individual (LAMOUNIER, 2014, p. 442)

O estudo de teorias aplicadas à questão da flexibilidade espacial, sua revisão histórica e


o entendimento em relação ao modo de se construir habitações coletivas multifamiliares
devem estar presentes no cotidiano dos arquitetos e engenheiros que projetam lares para
milhões de pessoas.
A pesquisa mostrou que o público alvo prefere que a unidade adquirida seja entregue já
finalizada, não quer se sujeitar a uma obra por conta própria, mas valoriza a ideia de ter
diferentes opções de planta no ato da compra, e escolher a que mais lhes agrada. Este fato
atrelado à vontade da construtora de simplificar o projeto resulta em uma liberdade controlada
que oferece opções dentro de um cardápio de alterações bem reduzido.
Ao identificar esta limitação foi proposto uma nova proposta desenvolvida sobre o
edifício analisado no estudo de caso onde são propostas diretrizes para a criação de espaços
com alto grau de flexibilidade. É possível destacar como pontos importantes as seguintes
medidas propostas:

 Estrutura modulada dimensionalmente (no caso, adotou-se uma malha de 30cm por
30cm, com vãos de até 4.80m).
 Estrutura dissociada da compartimentação e fachada.
 Utilização de elementos pré-fabricados sempre que possível, pela execução mais
rápida e com menos rejeitos, pela diminuição do peso próprio da estrutura – dependendo do
sistema escolhido – e pela maior padronização das partes.
 Shafts localizados em blocos, com portas/ painéis de inspeção.
 Para os pisos, o sistema que traz maiores possibilidades de flexibilização dos
ambientes seria o piso elevado por plataformas modulares, porém, esta é uma solução cara e
140

ainda pouco difundida em edifícios residenciais no Brasil; portanto, uma alternativa


satisfatória seria criar “corredores” ou faixas de lajes rebaixadas para a passagem da rede
hidráulica e elétrica.
 Divisões internas feitas a partir de materiais leves e industrializados, como Drywall
 Fachadas modulares e variadas, onde cada morador pode, dentro de um cardápio
variado, escolher o tipo e tamanho de abertura, localização da abertura, tipo de esquadria,
tipo de guarda-corpo.
 Venda de unidades por módulo: com a planta do pavimentos desenhada em
módulos de 4.80m por 4.80, cada comprador pode escolher, sob a supervisão do engenheiro
ou arquiteto responsável pelo projeto, a quantidade e o posicionamento dos módulos que
quer adquirir. Existiriam algumas premissas, como: a existência de uma área mínima a ser
adquirida, a necessidade dos módulos estarem ligados entre si e estarem servidos por algum
shaft e pela circulação vertical, assim como a forma final da planta ser capaz de receber
iluminação e ventilação nos cômodos.
É necessário desenvolver a eficiência dos sistemas, das estruturas prediais e das técnicas
construtivas fomentando a pesquisa que relaciona os sistemas construtivos com a oferta de
maior flexibilidade na apropriação dos espaços arquitetônicos. Ao arquiteto caberia o papel de
mediar a relação da construtora com os futuros moradores e com as tecnologias construtivas.
As teorias apresentadas e as soluções propostas ainda podem avançar em um trabalhos
futuros suscitado por este, tais como o uso de sistemas construtivos industrializados e seu
favorecimento para uma arquitetura aberta, uma categorização de graus desejáveis de
adaptabilidade que um edifício poderia proporcionar, estudo das instalações prediais do ponto
de vista da suas potencialidades para apoiar a adaptabilidade das construções, entre outras.
141

8. REFERÊNCIAS
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148

ANEXO A - Entrevista com os responsáveis do projeto

 Entrevistado 01:

Função no empreendimento: Incorporação e comercial.


Cargo na empresa: Sócio proprietário da construtora.
Formação: Engenharia civil, formado em 1982.

 Entrevistado 02:

Função no empreendimento: Engenheiro responsável pela execução.


Cargo na empresa: Engenheiro civil.
Formação: Engenharia civil (2008) e Administração (2015)

A fim de desenvolver o objetivo estabelecido, foram colocadas aos entrevistados as seguintes


questões, como um questionário aberto (semiestruturado), sujeito a desdobramentos no
decorrer da entrevista:

1. Que ideia tem do que representa a flexibilidade em um empreendimento residencial? Acha,


relevante?

“Dar liberdade aos adquirentes para personalizar dentro dos parâmetros técnicos possíveis a
sua unidade dentro do empreendimento levando em consideração a compatibilidade destas
alterações ao projeto planejado.”
Sobre a relevância da flexibilidade: “[...] Destacamos a importância da consideração da
flexibilidade arquitetônica inclusive na habitação de interesse social, [...] O objetivo seria
organizar um conjunto de diretrizes e alterações para projeto que possibilite a adaptação
facilitada, adequada e harmoniosa da moradia ao longo de sua vida útil isto quando se trata de
unidade isolada.

2. Em sua opinião, a formação acadêmica contribuiu para a assimilação e valorização de


ideias relacionadas à flexibilidade nos projetos habitacionais?

“Em minha formação acadêmica profissionalizante de engenharia há quase 40 anos não


tínhamos o tema ainda como foco e cobrança dos clientes, mas hoje como empresário da
construção temos que reinventar e surpreender o cliente moldando suas ideias de flexibilidade
no projeto com nova forma de morar onde as mudanças são rápidas tanto pela velocidade do
sistema construtivo como a renovação de modos, costumes e convivência dos familiares”

3. Como se decide partir para a construção de um empreendimento? Quais os parâmetros


usados para uma avaliação de mercado?
149

“[...] devemos analisar, estudar e observar expectativa de taxas de retomo capazes de


compensar o padrão de riscos dos negócios do setor, há necessidade de que o planejamento do
produto seja feito com muito rigor [...]”
[...] E preciso observar de como o público alvo reage diante do produto, avaliando seus
atributos e buscando comparações com a oferta do mercado. Tratamos de como se formam os
preços neste mercado.[...]

4. Emprega recursos próprios? Recorre a financiamentos?

A construtora emprega hora recursos próprios e hora financiamentos, dependendo do perfil do


empreendimento.
“Primeira modalidade com recurso do FGTS associativo via CAIXA que avaliam o cadastro
do adquirente indicado pela Incorporadora e financiam a unidade do mesmo analisando
antecipadamente para liberação do financiamento do empreendimento também a Entidade
Organizadora (Incorporadora e Construtora) efetuando sua análise de riscos para liberação.
Segunda Modalidade como modelo o empreendimento em questão, o qual utilizamos o
financiamento direto a bancos privados para o empreendedor neste caso o PEC –Plano
Empresarial pelo Bradesco também subordinados a análise de risco do empreendedor
(Incorporadora e Construtora) concedendo as garantias pós avaliação ao banco para aprovação
ao projeto.”

5. Oferecer alternativas de flexibilidade pode encarecer o empreendimento?

“[...] A incorporação de diretrizes de flexibilidade focadas em elementos e sistemas


construtivos se bem planejados, pós estudo, acreditamos que não haja encarecimento se o
projeto já prevê estas flexibilidades quando do lançamento.[...]”

6. São oferecidas alternativas de flexibilidade aos compradores nesse empreendimento?


Quais?

“Sim, atendemos em uma primeira fase individualmente cada condômino sobre as alterações
das alvenarias para cumprimento do cronograma e demos liberdade para um novo
atendimento posterior para as alterações possíveis sobre acabamentos com apresentação de
sua planta baixa individual e memorial descritivo para estudo, orçamento e aprovação
individual de suas personalizações apresentadas.”

7. Há alternativas de adaptabilidade pós mudança?

“Esta adaptação ao projeto pós mudança são de responsabilidades do cliente e tais alternativas
de pequenas adaptações caso ocorra deverão consultar o Manual do Proprietário entregue
quando do cheque list da unidade ou caso ainda assim permaneça as dúvidas consultar o SAC
disponível para atendimento da dúvida e demanda destas adaptações.”
150

8. Quais sistemas construtivos são mais comumente empregados pela empresa?

Segundo a empresa os sistemas construtivos que mais utilizam em seus projetos são:
 Alvenaria estrutural de blocos em concreto
 Alvenaria estrutural em blocos cerâmicos
 Alvenaria convencional em concreto com fechamento de tijolos cerâmicos caso do
empreendimento em questão.

9. Acha que o emprego/não emprego de flexibilidade no empreendimento tem a ver com as


soluções tecnológicas/construtivas escolhidas?

“A maioria dos empreendedores ainda está preso às construções feitas de acordo com
resultados rentáveis, usando soluções construtivas conservadoras já consolidadas no mercado.
Os processos construtivos mais modernos proporcionam maior flexibilidade no âmbito das
construções, propiciando o uso de vãos maiores e fechamentos leves, que conferem mais
liberdade na articulação dos projetos. Essas técnicas construtivas mais novas já são muito
utilizadas em alguns países do exterior, mas ainda não estão completamente difundidas no
Brasil. A evolução dos materiais e da industrialização da construção com certeza favorecerá a
aplicação da flexibilidade nas edificações de uso multifamiliar.”

10. Você acha que proporcionar flexibilidade pode trazer problemas para a manutenção do
edifício?

“Para adotar e trabalhar a flexibilidade em edifícios de múltiplos andares acreditamos ser


necessário pensar, retratar e projetar a construção como partes separadas que, ao fim,
constituem um sistema sendo cada parte do todo que é a construção desempenhando sua
função e importância. É preciso manter fixo alguns pontos vitais, que seriam: sistema
estrutural, abastecimento de água, energia e gás, instalações sanitárias, instalações elétricas,
circulações de uso coletivo. Sendo assim estabelecendo que os projetos atendam às
necessidades expostas acima os moradores teriam total autonomia e o empreendedor
entregaria um espaço completamente customizável, mas a fim de obedecer critérios de
compatibilidade teríamos um “projeto ideal” que seria oferecido ao cliente.”

11. Os futuros moradores colocam a necessidade de poder alterar suas moradias ou o assunto
“flexibilidade” não é frequente no momento da venda das unidades?

“Já no Show Room somos abordados sobre possíveis mudanças de acordo com as
necessidades pessoais de cada adquirente e na concretização do negócio já divulgamos o
interesse de atendê-los. Posteriormente orçamos as alterações, organizando em planilha o
débito dos acréscimos e crédito nas retiradas de elementos que haviam sido propostos no
projeto inicial.”
151

12. Os moradores acreditam que isso pode trazer problemas para a manutenção do edifício?

Segundo o entrevistado os clientes não têm ressalvas quanto a personalização dos


apartamentos, pois confiam que os requisitos técnicos serão atendidos pela construtora.

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