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Física Geral e

Experimental II
Material Teórico
Hidrostática e Fluidodinâmica

Responsáveis pelo Conteúdo:


Prof. Dr. José Agostinho Gonçalves de Medeiros
Prof. Eduardo Landulfo

Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota.
Hidrostática e Fluidodinâmica

·· Introdução
·· Pressão
·· Variação da Pressão com a profundidade
·· Lei de Pascal
·· Medidas de Pressão
·· Princípio de Arquimedes
·· Fluidodinâmica
·· A equação de Bernoulli
·· Aplicações da Fluidodinâmica

A proposta desta aula é apresentar os conceitos e as ideias relacionadas à


mecânica de fluidos em repouso e em movimento.
Ao fim desta aula, esperamos que seja capaz de :
··Enunciar a Lei de Pascal e o princípio de Arquimedes;
··Classificar o escoamento de um fluido;
··Enunciar a equação de Bernoulli.

A leitura do Conteúdo Teórico com atenção é essencial para compreender os conceitos


apresentados. Nesta unidade, a linguagem matemática é utilizada ao longo de todo o texto;
portanto, você deve se familiarizar com as principais funções matemáticas utilizadas. Os exemplos
e exercícios resolvidos ajudam a consolidar os conceitos estudados.
Não deixe de utilizar todos os recursos disponíveis e acessar aos links sugeridos no texto.

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Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica

Contextualização

“Uma combinação de erros humanos e falhas técnicas provocou


o acidente do voo AF 447 da Air France, que deixou 228 mortos
em junho de 2009 ao cair no Oceano Atlântico, segundo apontou
o relatório final divulgado na manhã desta quinta-feira (5), em
Paris, pelo BEA (Escritório de Investigação e Análises), órgão
francês encarregado das investigações. O G1 divulgou algumas das
conclusões da investigação no início de junho.
Os pilotos não entenderam que o avião havia entrado em situação
de estol (perda de sustentação) e começado a cair por esse motivo,
de acordo com o diretor do órgão, Jean Troadec. Ele afirmou ainda
que, nos momentos finais, era praticamente impossível reverter a
queda. “Não esperem que a gente aponte responsabilidades”, disse.
O BEA divulgou uma sequência de fatores que contribuíram para
a queda: primeiro, a incoerência nas informações de velocidade,
devido ao congelamento dos sensores pitot, provocou a queda do
piloto automático.”
Fonte: http://glo.bo/LR51oD

O texto acima relata um dos mais graves acidentes aéreos


dos últimos anos. Talvez, para uma grande maioria dos
brasileiros, tenha sido a primeira vez que tomaram contato
com o termo sensores pitot. Os sensores pitot medem
a velocidade do avião e possuem o seu funcionamento
baseado na equação de Bernoulli.
Fonte: Kolossos / Wikimedia Commons

Conheça mais sobre sensores pitot em:


http://culturaaeronautica.blogspot.com.br/2011/04/tubo-de-pitot-como-funciona.html

São inúmeros os instrumentos que estão baseados no princípio de Arquimedes, princípio


de Pascal e na equação de Bernoulli; portanto, o estudo da hidrostática e fluidodinâmica é de
fundamental importância na formação dos engenheiros.

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Introdução

Um fluido é uma coleção de moléculas aleatoriamente organizadas e mantidas juntas por


uma força de coesão e por forças exercidas nas paredes de um recipiente. Líquidos e Gases são
fluidos. Um líquido possui volume definido, mas não tem forma definida. Além disso, um gás
não tem nem volume nem forma definidos.

No estudo de fluidos, a física pode observá-los quando em repouso: Fluidoestática ou em


movimento: Fluidodinâmica.
Figura 1 – Fluidos podem ser um gás ou um líquido.

Fonte: iStock / Getty Images

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Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica

Pressão

Fluido são, em geral, incompressíveis e quando submergimos um objeto em um fluido estático


o mesmo tende a exercer força perpendicularmente às paredes do objeto. A pressão exercida
pelo fluido é definida como a razão da força pela área do objeto:

F
P=
A
Cuja unidade vai ser 1 N/m2, denominada pascal Pa

1 Pa = 1 N / m 2

Exemplo:
Um colchão d’água tem 3,00 m de comprimento por 4,00 m de largura por 30,0 cm de
profundidade. A pressão do colchão cheio da água sobre o assoalho é de:
(densidade d’água = 1000 kg/m3 e g= 9,8 m/s2)
a) 2,94 x 104 N
b) 2,94 x 105 N
c) 2,94 x 103 N
d) 2,94 x 102 N
e) 2,94 x 10 N

Resolução:
O peso do colchão vai ser:

A pressão é dada por:

F 35, 28 ×103
P
= = = 2,94 ×103 Pa
A 3, 00 × 4, 00

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Variação da Pressão com a profundidade

Quem já mergulhou no mar ou mesmo se projetou em uma piscina profunda percebeu que,
à medida que formos para o fundo do mar ou da piscina, a pressão aumenta.
Como se sabe a densidade de uma substância é a razão da massa por unidade de volume.
Num fluido, em repouso, a densidade é igual em todo o líquido, isto é, o fluido é incompressível.
Se selecionarmos uma amostra de líquido contida em um cilindro imaginário com área
transversal A que se estenda de uma profundidade d a d + h. A diferença de pressão entre o
topo do cilindro e a parte de baixo deve ser contrabalançada pelo peso do líquido contido no
volume do cilindro para que o sistema se mantenha em equilíbrio. Sendo assim, temos:

∑F = P. Aˆj − Po . Aˆj − Mgˆj = 0


Mas a massa do líquido pode ser reescrita em função da sua densidade e o volume contido
no cilindro imaginário:

M = ρ Ah
E a relação da força acima:
PA − Po A − ρAhg
ρ Ahg
PA − Po A =
Figura 2
Uma parcela do fluido em um volume
Dividindo os dois lados por A:
maior. A força resultante nesta parcela
deve ser zero, pois o mesmo está em P= Po + ρ gh
equilíbrio.

A pressão P em uma profundidade h abaixo de um ponto no líquido em que a pressão for


Po aumenta de ρgh. Se o líquido estiver exposto à atmosfera, a superfície do líquido estará à
pressão atmosférica Patm. Normalmente, a pressão atmosférica é definida como:

atm 1, 013×105 Pa
Patm 1, 00=
=

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Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica

Lei de Pascal

A lei de Pascal dita que a mudança de pressão aplicada Figura 3 – Esquema de um macaco hidráulico
a um fluido é transmitida sem perdas para todos os pontos
do fluido e para as paredes do recipiente em que ele está
contido. Isso porque o fluido, sendo incompressível, faz com
que qualquer mudança de pressão seja passada para todo o
fluido. Essa lei tem muitas aplicações conhecidas, entre elas o
macaco hidráulico.
No macaco hidráulico, uma força de magnitude F1 é
aplicada a um pistão de área A1, a pressão P = F1 / A1 é
transmitida para uma seção maior A2 com força aplicada
F2, como as pressões são iguais temos: Fonte: Darbyshmr/Wikipedia Commons

F1 F2
P
= =
A1 A2
E, assim, a relação entre F1 e F2 passa a ser:

A2
F=
2 F1 ×
A1
Exemplo 1:
Um veículo de 13300 N de peso é erguido em um posto de troca de óleo e um pequeno
pistão exerce uma força em uma seção circular de 5,00 cm. A pressão é transmitida por um
líquido a um pistão de 15,0 cm de raio. A pressão do ar para exercer essa força é de:

a) 1,88 × 105 Pa
b) 1,88 × 104 Pa
c) 1,88 × 103 Pa
d) 1,88 × 102 Pa
e) 1,88 × 106 Pa
Resolução:

 A1  π (0, 050) 2
F1   =
= F2 = 1477, 78 ≈ 1, 48 ×103 N
×13300
 A2  π (0,150) 2

A pressão do ar vai ser:

F1 1, 48 ×103
P
= = = 1,88 ×105 Pa
A1 π (0, 050) 2

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Exemplo 2:
Ao mergulharmos a uma profundidade de 5,00 m, a pressão exercida no tímpano dos nosso
ouvidos é de aproximadamente (área do tímpano = 1 cm2, densidade da água = 1,00 x 103 kg/
m3, g=9,8 m/s2) :

a) 1 x 104 Pa
b) 2 x 104 Pa
c) 3 x 104 Pa
d) 4 x 104 Pa
e) 5 x 104 Pa

Resolução

Pfundo – Po = ρ .g .h = 1, 00 ×103 × 9,8 × 5, 0 = 4,9 ×104 ≈ 5, 0 ×104 Pa

Exemplo 3:
Uma comporta tem uma altura de 15 m e largura de 80 m. Considerando que a pressão
varia linearmente, a força total exercida na parede é de (g=9,8 m/s2 e densidade da água =
1000 kg/m3:

a) 8,82 x 108 N
b) 8,82 x 107 N
c) 1,96 x 106 N
d) 1,96 x 105 N
e) 8,82 x 104 N
Resolução:
= .g .h ρ .g . ( H − y )
P ρ=

= ρ g ( H − y ) ω dy
dF PdA
=

H
1 1
∫PdA =∫0 ρ g ( H − y ) ω dy =2 ρ gω H =2 .1000.9,8.80.15 =
2 2
F= 8,82 ×107 N

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Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica

Medidas de Pressão

Umas das informações fornecidas, em um relatório meteorológico, é a pressão


barométrica, que é a pressão atmosférica em torno do valor padrão fornecido.
Para se obter essa medida, utiliza-se um barômetro comum, inventado por
Evangelista Torriccelli.

O barômetro de Torricelli era um simples artefato que consistia numa cuba


preenchida por mercúrio líquido e com um tubo de cabeça para baixo emborcado
nela. A pressão na coluna de mercúrio dentro do tubo pode ser estimada, sendo
que na parte de cima fechada do tubo o espaço entre o topo da coluna e o final do
tubo deverá estar em vácuo, e, portanto, com pressão nula. E da altura da coluna,
podemos estimar a pressão atmosférica:

P0 1, 013 ×105
P0 ρ Hg .g .h →=
= h = = 0, 760 m ou 760 mm
ρ Hg g 13, 6 ×103 × 9,8
Um outro instrumento utilizado para medir a pressão de um gás contido em tubo em forma
de “U” é o manômetro.

O manômetro é curvado para que o gás não escape pelo tudo aberto do outro lado e
conhecendo-se a densidade do líquido, que preenchemos o tubo e parte do balão, podemos
saber a pressão absoluta do gás:

P= P0 + ρ .g .h

Ou a pressão manométrica:

ρ .g.h
P − P0 =

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Princípio de Arquimedes

O conhecimento das propriedades dos fluidos em repouso já eram


conhecidas desde a antiguidade. Isso é natural, pois há relatos de grandes frotas
navais e para a construção das mesmas era necessário um bom conhecimento
de hidrostática. Na Grécia antiga, Arquimedes era um destacado “cientista”
que teve várias contribuições para a matemática, física e engenharia. E a ele
devemos o conceito do empuxo ou força de flutuação.

Quando imergimos um corpo na água, vemos que o mesmo pode afundar ou há casos em
que ele fica boiando parcialmente submerso. Sendo assim, por equilíbrio, deve haver uma força
que se contraponha contra seu peso e esta força deve ser o empuxo. E pode-se deduzir que a
quantidade de líquido deslocada vezes a aceleração da gravidade é igual ao peso do fluido, e
igual ao empuxo. Em outras palavras, a magnitude da força de flutuação ou empuxo é igual ao
peso do fluido deslocado pelo objeto. Essa afirmação é o princípio de Arquimedes.
O empuxo pode ser compreendido como a diferença de pressões em um objeto na sua parte
superior e inferior:
E = (Pb − Pt ) A = ρ fluido .g .h. A = ρ fluido .g .V

Onde V é o volume do fluido deslocado pelo cubo. Como ρfluido.V é a massa do fluido
deslocado pelo objeto, temos:

E = M .g
Onde M.g é o peso do fluido deslocado pelo objeto.
Quando um objeto é totalmente submerso em um fluido, o empuxo sempre será para cima.
E a força resultante será:
E − P ρ fluido .g .V fluido − ρobjeto .g .Vobjeto
=
Mas o volume deslocado de líquido é igual ao volume do objeto, portanto:

P ρ fluido .g .Vobjeto − ρobjeto .g .Vobjeto


E −= = (ρ fluido − ρobjeto ) g .Vobjeto

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Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica

E aqui temos três situações:

ρ fluido > ρobjeto - a força resultante é para cima e o objeto retorna à superfície;
ρ fluido < ρobjeto – a força resultante é para baixo e o objeto afunda;
ρ fluido = ρobjeto – a força resultante é nula e o objeto permanece parado em equilíbrio.

Quando tivermos um objeto flutuando, com uma parte submersa, em equilíbrio, teremos
ρ fluido > ρobjeto e as forças de empuxo e do peso do objeto se equilibram. Agora, os volumes do
objeto e do fluido deslocado não são iguais, mas E - P = 0, assim:
ρ fluido .g.V fluido − ρobjeto .g .Vobjeto =
0

V fluido ρobjeto
=
Vobjeto ρ fluido
A fração dos volumes é inversamente proporcional à razão das densidades.

Figura 7 – Um objeto flutuando na superfície de um fluido sujeito a duas forças, da gravidade


(Peso) e Empuxo. Como o objeto está em equilíbrio E=P.

Exemplo 1:
Um iceberg é uma grande ameaça à navegação, pois boa parte dele está submersa.
Percentualmente, esta fração é de (densidade da água salgada = 1030 kg/m3 , densidade do
gelo 917 kg/m3):
a) 95 %
b) 89 %
c) 78 %
d) 50 %
e) 20%
Resolução:

Vágua ρ gelo 917


=f = = = 0,890 ou 89 %
Vgelo ρ água 1030

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Exemplo 2:
Uma bola de ping-pongue tem 4,00 cm de diâmetro e densidade de 0,064 g/cm3, a força
necessária para mantê-la submersa na água é de:
a) 0,258 N
b) 0,268 N
c) 0,297 N
d) 0,307 N
e) 0,418 N
Resolução:

4 3 4
Vbola
= = πr π .(2,=
00)3 33,5103 cm3
3 3
E−P
= (ρ água − ρbola ) g .V= (1, 00 − 0, 064 ) 9,8 × 33,5103 ×10−=3 0,307383 N ≈ 0,307 N

Exemplo 3:
Um cientista desenvolveu um barômetro de vinho de densidade de 984 kg/m3. A altura h do
vinho à pressão atmosférica vai ser de (Patm=1,013x105 Pa):
a) 15,5 m
b) 13,5 m
c) 12,5 m
d) 11,5 m
e) 10,5 m

Resolução:

P0 1, 013 ×105
=h = = 10,5048 m ou 10,5 m
ρVinho g 984 × 9,8

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Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica

Exemplo 4:
Para que um balão preenchido com Hélio suba 400 kg de carga até uma altura de 4000 m,
deve-se preenchê-lo com um volume de: (Considere que a densidade do ar no solo seja
z
1,25 kg/m3 e que a densidade do ar varie com altitude segundo a equação, ρ = ρ e - 8000 e que
0
a densidade do Hélio seja 0,180 kg/m3)
a) 697 m3
b) 695 m3
c) 692 m3
d) 687 m3
e) 682 m3
Resolução:
Ao atingir 4000 m, o balão está em equilíbrio e as forças de empuxo do ar e o peso do balão
devem se cancelar. Sendo assim:
E − Pbalão − C = 0 → E − Pbalão = C

ρ ar .V .g − ρ He .V .g =
M .g
z
-
Mas ρar = ρ0 e 8000
,

z
− z
ρ0 e 8000
.V - ρ He . V= M → V(P0 e - − ρ He ) = M
8000
Então, a 4000 m:

M 400
V = = = 691, 8m3 ≈ 692m3
 −
z
  −
4000

 ρ0 e 8000
− ρ He  1, 25e 8000
− 0,180 
   

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Fluidodinâmica

Até o momento, detemo-nos com fluidos em repouso. Ao lançarmos nossa atenção aos fluidos
em movimento, podemos classificar o escoamento de um fluido de duas maneiras: laminar,
onde as partículas constituintes seguissem um fluxo sem interferirem umas com as outras e um
dado importante: a velocidade das partículas do fluido passando em cada ponto é a mesma
com o tempo.
Figura 8 – Tipos de escoamento de um fluido: Turbulento e desordenado ou Laminar e constante.

Fonte: Adaptado de blog.nialbarker.com

O outro tipo de escoamento é aquele em que, após ser atingida uma velocidade crítica,
o fluxo deixa de ser ordenado e pequenos vórtices são formados, e, assim, denominamos
escoamento turbulento.

Uma grandeza importante na descrição de fluidos em movimento vai ser a viscosidade


que retrata um certo grau de “atrito” interno ao fluido. Esse atrito ou força viscosa é associada
à resistência entre duas camadas adjacentes no fluido em relação ao seu movimento relativo,
isto é, uma camada em relação à outra. A viscosidade é responsável em transforma a energia
cinética do fluido em energia interna.

Fluidos, em geral, são estruturas complexas e a sua descrição e compreensão não são
completas. Assim, na Física, certas considerações devem ser levadas em conta para que uma
descrição das suas propriedades sejam razoáveis. Essas considerações são aproximações que
levam a um modelo de escoamento de fluido ideal, que seriam:
O fluido é não viscoso, isto é, o atrito interno é desprezado e um objeto movendo através
1 de um fluido não estaria sujeito a forças viscosas;
O escoamento é constante, ou seja, laminar e a velocidade em todos os pontos do fluido
2 permanece constante.

3 O fluido é incompressível, ou seja, de densidade constante.

4 O fluido é irrotacional, isto é, não tem momento angular em nenhum ponto.

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Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica

Consideremos um fluido ideal em um ducto de tamanho não uniforme. Em um intervalo


de tempo ∆t , o fluido em uma extremidade do ducto move-se de ∆x1 = v1∆t , se A1 é a área
seccional do tubo nesta extremidade. Então, a massa do fluido contida e transportada vai ser
m1 = ρ A1∆x1 = ρ A1v1∆t , onde ρ é densidade (constante) do fluido ideal.

Figura 9 – Esquema de escoamento num tubo com variações na sua vazão.

Analogamente, na outra extremidade, teremos para um mesmo intervalo de tempo a massa


m2 ρ A2v2∆t , como o fluido é incompressivel e seu escoamento constante, a massa que
=
passa por uma extremidade deve ser igual à massa que passa pela outra extremidade, isto é,
m1 = m2, ou:

ρ A1v1∆
=t ρ A2 v2 ∆t → A1=
v1 A2=
v2 constante
Que é a equação de continuidade para fluidos.

Exemplo:
Uma cachoeira escoa com 600 m3/s de água de uma queda de 100 m de largura. A
profundidade da água é de 2,00 m. Assim, sua velocidade é de:

a) 3 m/s
b) 2 m/s
c) 1 m/s
d) 6 m/s
e) 0,3 m/s

Resolução
A área de escoamento vai ser A = 100 x 2 = 200 m2
A taxa de escoamento é de 600 m3/s que é igual a A x v, então:

600 600
=v = = 3m / s
A 200

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A equação de Bernoulli

Um fluido, ao escoar através de uma região em que há variações de velocidade e altitude em


relação ao solo, terá variações na sua pressão, conforme as mudanças ocorrerem.
O físico suíço Daniel Bernoulli foi o primeiro a considerar essa situação e em 1738, desenvolveu
um equacionamento que estipulava a relação entre a velocidade de um fluido, sua pressão e
altitude (elevação). Para tanto, ele considerou um segmento de um escoamento de um fluido
ideal num intervalo ∆t, conforme a figura 9. As duas seções mostradas e destacadas (azul claro)
nos permite calcular o trabalho realizado pelas forças F1 e F2 que são respectivamente iguais a
P1A1 e P2A2 e assim:
W1 = F1∆x1 = P1 A1∆x1 = PV
1

e
W2 = F2 ∆x2 = P2 A2 ∆x2 = PV
2

E a variação de trabalho vai ser:


W
= ( P1 − P2 )V
Essa variação de trabalho será parte devido à variação de energia cinética e parte devido à
variação de energia potencial:

1
∆K
=
2
(
m v22 − v12 )
U mg ( y2 − y1 )
∆=
e lembrando que podemos escrever que m = ρV e que W = ∆K + ∆U:

1
( P1 − P2=
)V
2
( )
ρV v22 − v12 + ρV ( y2 − y1 )

isolando os termos referentes à seção 1 e à seção 2:

1 2 1 2
P1 + ρ v1 + ρ gy1 =+
P2 ρ v2 + ρ gy2
2 2
E, assim, aplicando a conservação de energia total, temos:

1 2
P+ ρ v + ρ gy =
constante
2
Que é a equação de Bernoulli.

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Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica

Exemplo 1:
Um tubo de Venturi é aquele em que o fluxo de um fluido é medido. A velocidade da vazão
no ponto 2 para uma diferença de pressão P1 – P2 é dada por:

2 ( P1 − P2 )
a) v2 = A2
ρ ( A12 − A22 )

2 ( P1 − P2 )
b) v2 = A1
ρ ( A12 − A22 )
( P1 − P2 )
c) v2 = A1
ρ ( A12 − A22 )

( P1 − P2 )
2

d) v2 = A1
ρ ( A12 − A22 )

( P1 − P2 )
2

e) v2 = A1
ρ (A 1
2
− A22 )

Resolução:

1 2 1 2
(1) P1 + ρ v1 + ρ gy1 =+
P2 ρ v2 + ρ gy2
2 2

A2
(2) v1 = v2
A1

substituindo (2) em (1)

2
1 A  1
P1 + ρ  2  v22 = P2 + ρv22
2  A1  2

2 ( P1 − P2 )
v2 = A1
ρ ( A12 − A22 )

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Exemplo 2:
Um tanque fechado contendo um líquido de densidade ρ possui um furo na sua lateral a uma
distância y1 do fundo do tanque. O furo está aberto à atmosfera e seu diâmetro é bem menor
que o diâmetro do tanque. O ar acima do nível do líquido está a uma pressão P2. A velocidade
que o líquido escoa, quando deixa o furo e o nível dele estiver a uma distância h, é de:

 P2 − P1 
a) v1 = 2  + gh 
 ρ 
2(P1 −P 2)
b) v1 = + 2 gh
ρ

2(P2 − P1)
c) v1 = + 2 gh
ρ

2(P2 − P1)
d) v1 = + gh
ρ

(P2 − P1)
e) v1 = + 2 gh

Resolução:

Como o diâmetro do tanque é bem maior que o do furo, temos que o topo do líquido está
praticamente em repouso e assim v2 = 0, aplicando à equação de Bernoulli:

1 2 1 2
P1 + ρ v1 + ρ gy1 =+
P2 ρ v2 + ρ gy2
2 2

1 2
P1 + ρ v1 + ρ gy1 =P2 + ρ gy2
2
como:

y2 − y1 =
h

2(P2 − P1)
v1 = + 2 gh
ρ

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Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica

Aplicações da Fluidodinâmica
A fluidodinâmica apresenta muitas aplicações, das quais destacamos a aerodinâmica, que é
responsável pelo estudos aeronáuticos.
Figura 10 - Esquema das quatro forças da aerodinâmica, atuando na asa de um avião

Fonte: Wikipedia Commons

Para fazer um avião voar, deve ser gerada uma força para compensar o peso. Essa força é chamada
sustentação e é gerada pelo movimento do avião através do ar. A sustentação é uma força aerodinâmica
(“aero” significa ar, e “ dinâmica” significa movimento). A sustentação é perpendicular (em ângulo reto)
à direção do escoamento incidente (vento). O escoamento incidente e o sentido/direção do voo não
são necessariamente os mesmos, sobretudo em manobras.
Assim como acontece com o peso, cada parte do avião contribui para uma única força de
sustentação, mas a maior parte da sustentação do avião é gerada pelas asas. À medida que
o avião se move através do ar, há uma outra força aerodinâmica presente. O ar resiste ao
movimento do avião, e essa força de resistência é denominada arrasto (ou atrito).
Tal como a sustentação, há muitos fatores que afetam a magnitude da força de arrasto, como
a forma do avião, a viscosidade do ar e a velocidade. E tal como acontece com a sustentação,
consideram-se, usualmente, todos os componentes individuais como se estivessem agregados
num único valor de arrasto de todo o avião. O sentido da força de arrasto é sempre oposto ao
sentido do voo e o arrasto atua através do centro de pressão.
Outra aplicação, até então inusitada, é a utilização da fluidodinâmica nos esportes, como o
tênis, voleibol, futebol, beisebol, etc. Todos envolvem objetos esféricos ou esferoides (bola de
futebol americano) que ao se moverem no ar (ou seja num fluido), vão sofrer os mesmos efeitos
de sustentação e arrasto.

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Figura 11 – Força de arrasto atuando numa bola de futebol.

Fonte: Wikipedia Commons

Explore:
Sugerimos aos entusiastas do esporte consultarem o artigo “A
aerodinâmica da bola de futebol” por C.E. Aguiar e G. Rubini:
http://www.ufv.br/des/futebol/artigos/Revista Brasileira de Ensino de Física.pdf

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Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica

Material Complementar

Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta Unidade, veja os vídeos indicados e


consulte a bibliografia indicada.
Vídeos:
http://www.fundacaolemann.org.br/khanportugues/ciencias/fisica/fluidos
https://www.youtube.com/watch?v=6-Zm044M68w
http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/pratica-pedagogica/video-ciencias-fluidos-pressao-bolha-sabao-604739.shtml

Vídeo - Curso Unicamp


http://univesptv.cmais.com.br/fisica-ii/fluidos

Leituras:
Cursos Unicamp - Física Geral II - Fluidos
http://midia.cmais.com.br/assets/file/original/5e65aa10ea18e05c27b856de0beca8e62281d38f.pdf

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Referências

ALONSO, M. Física: um curso universitário. – 12a. edição – São Paulo: Edgard Blucher, 2011.

HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: gravitação, ondas e


termodinâmica – 9ª. Edição - Rio de Janeiro: LTC editora, 2012.

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25
Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica

Anotações

26

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