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FICHA TÉCNICA Edição, Validação e Homologação - UNA - SUS

Paulo Biancardi Coury


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Jitone Leônidas Soares
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Sumário

Organização..................................................................... 5 Flebotomíneos.............................................................. 29

Objetivos.......................................................................... 6 Triatomíneos................................................................. 29

Apresentação.................................................................. 7 Indicadores de competência


e capacidade vetorial.................................................... 34
Atividade 1 – Vigilância Entomológica:
Indicadores de competência e
Conceitos e Objetivos................................................... 11 capacidade vetorial....................................................... 35
Planejamento da vigilância entomológica................. 16
Culicídeos....................................................................... 36
Atividade 1- Exercícios.................................................. 21
Indicadores de competência
Atividade 2 - Indicadores de Vigilância e capacidade vetorial.................................................... 37
Entomológica e Métodos de Captura de
Insetos Vetores.............................................................. 22 Flebotomíneos.............................................................. 38

Culicídeos....................................................................... 23 Triatomíneos................................................................. 39

Culicídeos: Método para ovo....................................... 24 Indicadores relacionados a fatores ambientais ...... 40

Culicídeos: Método para larvas................................... 25 Sistema de informações entomológicas.................... 44

Culicídeos: Método para pupa.................................... 26 Métodos de captura de insetos vetores.................... 47

Culicídeos: Método para culicídeos adultos.............. 27


Atividade 2 - Exercícios................................................. 52 Gossário......................................................................... 84

Atividade 3 - Controle vetorial: Mapa Mental................................................................. 85


objetivos e métodos..................................................... 53
Referências.................................................................... 86
Atividade 3 - Exercícios................................................. 68
Sobre o autor................................................................ 89
Atividade 4 - Métodos de Controle de Culicideos,
Flebotomíneos e Triatomíneos................................... 69

4
Organização

5
Objetivos

6
Apresentação

Olá, seja bem-vindo(a) à Unidade Vigilância Entomológica e A interpretação dos dados entomológicos é fundamental
Métodos de Controle Vetorial! para o planejamento das atividades de controle de vetores de
interesse em saúde pública, que objetiva limitar ou eliminar
Esta unidade aborda conceitos e objetivos da vigilância e insetos ou outros artrópodes que transmitem patógenos
controle de insetos vetores, apresentando os principais causadores de doenças.
métodos e indicadores para alcançar os objetivos, com foco em
flebotomíneos, em culicídeos e em triatomíneos. Para alcançar esses objetivos, podem ser usados diferentes
métodos de controle: químico, mecânico, biológico, legal,
A vigilância entomológica é um instrumento fundamental para genético e ações educativas. Para se alcançar os objetivos da
administrar e operacionalizar os indicadores nos programas e vigilância entomológica e do controle de insetos vetores, são
controle de doenças transmitidas por vetores. Para realização fundamentais: a capacitação dos agentes de saúde, a interação
dessa atividade, há a necessidade de conhecer os indicadores com as vigilâncias ambiental e epidemiológica e o planejamento
entomológicos e os métodos de captura de vetores para gerar das ações, como veremos nesta Unidade Didática. 7
esses indicadores.

Vamos começar nossos estudos com um pouco de história

Você sabia que, apenas no final do século XIX, descobriu-se que algumas espécies de insetos poderiam
transmitir patógenos durante a picada.

Pois é, foi apenas em 1878 que Sir Patrick Manson demonstrou que Wuchereria bancrofti (agente
etiológico da filariose linfática) era transmitida durante a picada de fêmeas infectadas de mosquitos do
gênero Culex.

Posteriormente, Grassi e colaboradores (1898) comprovaram que os mosquitos anofelinos eram capazes
de transmitir os plasmódios (agentes etiológicos da malária) para humanos.
Já em 1901, Walter Reed evidenciou que a febre amarela urbana era transmitida pelos mosquitos Aedes
aegypti.

A partir da confirmação da transmissão de agentes etiológicos por meio de insetos vetores, surgiu a
necessidade de identificar as espécies separando-as daquelas sem importância médica (Machado-
Allison, 2004).

Portanto, era necessário distinguir bem os transmissores dos não-transmissores para que as estratégias
de controle fossem específicas e eficazes.

Passamos agora para o início do século XX, quando os caracteres morfológicos permitiram a identificação
das espécies, o que culminou em centenas de descrições de insetos vetores.

Nessa época, também foram realizados os primeiros esforços, em grande escala, de controle de febre
amarela e malária, baseados na busca de larvas de mosquitos e eliminação de criadouros por meio de
controle mecânico, aplicação de óleo em copos de água (para evitar que as larvas respirem) e pulverização
de vapores de enxofre ou piretro.
Em 1939, na Suíça, Paul Muller desenvolveu o primeiro inseticida sintético de efeito prolongado ou
propriedade residual conhecido como DDT (dietildlicloro difeniltricloroetano).

Durante a Segunda Guerra Mundial, o DDT foi muito utilizado contra piolhos humanos, pulgas dos ratos
e mosquitos. O DDT era aplicado, em forma de pó, por meio de uma mangueira na abertura das roupas
dos soldados para eliminar as pulgas que causavam o tifo.

Estima-se que aproximadamente 1,3 milhões de pessoas tenham sido tratadas e, pela primeira vez na
história, conseguiu-se deter uma epidemia do Tifo. Após a Segunda Guerra Mundial, também houve
redução do número de casos da febre amarela em muitas áreas devido à aplicação do DDT e das vacinas,
diminuindo assim o interesse pelo estudo dos artrópodes vetores (Machado-Allison, 2004).

No início dos anos 1960, inúmeras populações de insetos vetores tornaram-se resistentes ao DDT e este
foi sendo substituído por outros inseticidas (carbamatos e fosforados).

A partir da década de 1970, houve o aumento da ocorrência de doenças como malária, leishmanioses,
Doença de Chagas, filarioses, Doença de Lyme, dengue e outras arboviroses, necessitando-se da formação
de novos grupos de entomologistas, aliados com profissionais nos campos da Imunologia, da Bioquímica
e da Biologia Molecular para se alcançar uma melhor compreensão da dinâmica e dos mecanismos de
transmissão vetorial e das formas de controle.

Nessa época os inseticidas piretróides começaram a ser utilizados amplamente por causa da baixa
toxicidade para os mamíferos e para o meio ambiente.
Depois dessa viagem no tempo,

convidamos você...

10 a estudar conceitos e
objetivos da vigilância
e do controle de insetos vetores,
com foco em culicídeos,
flebotomíneos e triatomíneos.
Atividade 1 – Vigilância Entomológica: Conceitos e Objetivos

A vigilância entomológica é a observação e a avaliação de


características biológicas dos insetos vetores e de suas
interações com hospedeiros humanos e animais reservatórios
(Gomes, 2002).

Os principais objetivos são detectar qualquer mudança no 11


perfil de transmissão dos patógenos e recomendar medidas de
prevenção e de controle adequadas.

A seguir, apresentamos os objetivos específicos.

Figura 1. Insetos vetores, doenças relacionadas e formas de controle.


Fonte: Marcos T. Obara e Rodrigo Gurgel Gonçalves.
12
Identificar espécies de vetores (exóticos e nativos) por meio de caracteres morfológicos;

Analisar aspectos biológicos e ecológicos dos vetores que podem estar associados à domiciliação e à transmissão;

Propor indicadores entomológicos compatíveis com níveis de transmissão e avaliá-los continuamente para o
embasamento das estratégias de intervenção;
Objetivos
Identificar situações ambientais que favoreçam a reprodução e as estações climáticas mais sujeitas à disseminação
de patógenos;

Recomendar as medidas para eliminar ou para reduzir a abundância de vetores;

Avaliar o impacto das intervenções na ocorrência dos vetores.

13

A vigilância entomológica deve utilizar informações das


interações dos vetores com os patógenos, seus hospedeiros
e com o ambiente para avaliar quais fatores podem alertar
precocemente a ocorrência da transmissão ou da epidemia.
Essas interações ocorrem em diferentes níveis e podem ser
diversas (Figura 2).

Figura 2. A exposição à doença depende de fatores relacionados aos patógenos,


hospedeiros e ambiente.
A Figura 3 mostra um exemplo da diversidade de fatores que
podem estar relacionados com a transmissão dos patógenos
por Ae. aegypti (Rouquayrol & Goldbaum, 2003). Dessa forma,
14
há a necessidade de uma equipe multidisciplinar na vigilância
para identificar os indicadores entomológicos mais adequados
na predição da ocorrência de epidemias.

Figura 3. A exposição à doença depende de fatores relacionados aos Sinergismo


mulfifatorial na produção e manutenção da dengue.
Fonte: adaptado de Rouquayrol & Goldbaum, 2003.
A equipe multidisciplinar deve, ainda, interagir com as vigilâncias
ambiental e epidemiológica (Figura 4).

Para o desenvolvimento das atividades com vistas ao alcance 15


dos objetivos, faz-se necessário planejar.

Vamos falar sobre isso?

Figura 4. Organização estrutural da vigilância ambiental,


epidemiológica e entomológica.
Planejamento da vigilância entomológica

Após propor os indicadores mais representativos para medir o risco em uma área ainda livre ou infestada pelo vetor, deve-se
16 estabelecer um estudo piloto para verificar a ocorrência de novos focos ou a extensão da área infestada.

Ao se planejar o sistema de vigilância para cada vetor, deve-se considerar se a vigilância aplica-se à áreas livres do vetor, embora
potencialmente sujeitas à emergência ou à reemergência, e se há abundância de vetores tanto exóticos como autóctones.

Essas informações são fundamentais para o desenvolvimento das estratégias em diferentes níveis hierárquicos dos programas de
vigilância e de controle nos âmbitos locais, estaduais, nacionais e iniciativas internacionais.
Diretrizes operacionais

Na vigilância dos vetores da doença de Chagas, há uma


clara relação entre esses níveis e a hierarquia biológica dos 17
triatomíneos, de indivíduos a espécies. Figura 5. (Abad-Franch
et al., 2016).

Figura 5. Classificação hierárquica de quatro níveis de triatomíneos e sua relação


com estratégias de vigilância de controle vetorial hierarquicamente estruturadas.
Fonte: Abad-Franch et al. 2016 (adaptado pelo autor).
18

Conhecer o cenário das espécies e das populações colonizadoras em um


determinado local é relevante para planejar a vigilância e prever as infestações.
Quadro 1. Itens fundamentais para operacionalização da vigilância entomológica

1 Identificação dos vetores;

2 Determinação da densidade dos vetores;

3 Impacto potencial das medidas de intervenção contra o vetor;


19

4 Custo e factibilidade da intervenção versus eficácia;

5 Existência de medidas eficazes de profilaxia e de controle;

6 Identificação de área do vetor sujeita ao risco de transmissão humana.


Quadro 2. Etapas de implementação da vigilância entomológica:

20
Atividade 1
Exercícios

Atividade para complementar o estudo da Unidade


(atividade livre, discutir os resultados com os gestores locais)

1. Buscar e avaliar criticamente as informações do planejamento da vigilância entomológica no município para mosquitos,
flebotomíneos e triatomíneos. Caso não seja possível, elaborar um projeto-piloto de vigilância para esses insetos vetores
baseados nos conceitos e nos objetivos da vigilância entomológica apresentados nesta atividade.
21
Atividade 2
Indicadores de Vigilância Entomológica
e Métodos de Captura de Insetos Vetores

A identificação de indicadores de transmissão vetorial é


22 fundamental para a vigilância das doenças, sendo úteis no
planejamento e na administração do serviço de saúde.

É atribuição da vigilância entomológica propor esses indicadores,


representados por valores quantitativos e qualitativos, os quais
devem descrever a situação epidemiológica, comparar essa
situação entre áreas ou períodos e avaliar os programas a Os indicadores na vigilância entomológica estão
qualquer tempo. fundamentados em quatro parâmetros, que são os métodos
para ovo, larvas, pupa e adultos (Gomes, 2002).
Para comparar as frequências de um indicador, torna-se
necessário transformá-los em valores relativos, com numerador De acordo com Gomes (2002): Os métodos estão descritos a
e denominador, geralmente representados por proporções seguir de acordo com o grupo de inseto vetor.
(Gomes et al., 1998).
Culicídeos

Os culicídeos constituem grupo de vetores de grande importância em saúde pública.

São insetos que apresentam metamorfose completa


(ovo, larva, pupa e adultos, ver detalhes da morfologia e da biologia na Unidade 1).

Em qualquer um desses estágios, há indicadores.

23
Culicídeos: Método para ovo

24
Culicídeos: Método para larvas

25
Culicídeos: Método para pupa

26
Culicídeos: Método para culicídeos adultos

27

Figura 13. Detalhes do aparelho bucal de flebotomíneos.


28

Figura 6. Indicadores entomológicos para mosquitos. Indicadores entomológicos: Culicídeos.


Fonte: Gomes et al. (1998)
Flebotomíneos

Como visto na Unidade 1, os criadouros de flebotomíneos são pouco conhecidos. Essa característica dificulta o desenvolvimento
de indicadores de larva ou de pupa. Assim sendo, a taxa de infestação de um local tem sido determinada pelo cálculo da infestação
domiciliar, baseado na captura manual das fêmeas que buscam alimentação sanguínea nas casas.

Outra forma de medida da densidade relativa pode ser feita com aspirador elétrico. O resultado é o cálculo da densidade por técnica
ou a quantidade de espécies de flebotomíneos por armadilha (Figura 7). Para esse indicador, normalmente, utiliza-se a armadilha
CDC ou HP (ver Atividade 3). Quando se utiliza a armadilha de Shannon, calcula-se a média horária.

29
Triatomíneos

A presença de triatomíneos adultos é um indicador de infestação domiciliar (Figura 7) no intra e peridomicílio. Quando não são
encontradas as ninfas nos ambientes, o adulto serve de alerta para vigilância entomológica na vigilância da sua colonização.

A presença de ninfas é um indicador da infestação domiciliar ou anexos domiciliares (Gurgel-Gonçalves et al., 2012). A densidade
triatomínica domiciliar (número de exemplares de triatomíneos capturados dividido pelo número de unidades domiciliares
pesquisadas e a colonização (número de unidades domiciliares com presença de ninfas x 100, dividido pelo número de unidades
domiciliares pesquisadas) também são indicadores usados na vigilância dos vetores da doença de Chagas nas regiões Sul, Sudeste,
Centro-Oeste e Nordeste do Brasil.
30

Figura 7. Indicadores entomológicos para triatomíneos e flebotomíneos.


Fonte: Gomes et al. (1998)
Indicadores entomológicos foram utilizados junto com indicadores ambientais, demográficos e socioeconômicos para analisar
a vulnerabilidade para transmissão vetorial de T. cruzi no Brasil (Vinhaes et al., 2014). Nesse estudo, foram analisados dados de
ocorrência de triatomíneos domiciliados no Brasil entre 2007 e 2011. A vulnerabilidade dos municípios foi avaliada com base em
indicadores socioeconômicos, demográficos, entomológicos e ambientais e verificou-se que 2.275 municípios foram positivos
para, pelo menos, uma das seis espécies de triatomíneos (Panstrongylus megistus, T. infestans, T. brasiliensis, T. pseudomaculata, T. 31
rubrovaria e T. sordida). Os municípios que eram mais vulneráveis à transmissão vetorial ocorreram na região Nordeste e exibiram
maior ocorrência de triatomíneos domiciliados, baixos níveis socioeconômicos e áreas antropizadas mais extensas. Essas análises
permitiram identificar os estados e municípios mais vulneráveis à transmissão de T. cruzi por triatomíneos domiciliados, o que é
fundamental para direcionar atividades adequadas de vigilância, de prevenção e de controle.

Nos estados da região Norte, mais Maranhão e norte do Mato Grosso esses indicadores não são adequados, porque o comportamento
dos triatomíneos dessa região é diferente, pois dificilmente colonizam as casas. Em vez disso, eles ocorrem em habitats naturais
ao redor de casas, como palmeiras, por exemplo (Abad-Franch et al., 2015).
Triatomíneos do gênero Rhodnius (ver Unidade 1) são frequentemente encontrados em palmeiras, as quais são comuns em
diferentes ecossistemas na América do Sul, assim como em ambientes urbanos. Triatomineos frequentemente invadem casas
desde palmeiras próximas, as quais podem manter colônias com mais de 300 indivíduos. Trinta e oito espécies de palmeiras
têm sido registradas com infestação por cerca de 39 espécies de triatomíneos. As taxas de infestação variam de 49% a 55%,
dependendo da espécie de palmeira. Palmeiras maiores e frondosas com muita matéria orgânica na copa (por exemplo, babaçus)
32 apresentam maiores colônias de triatomíneos do que palmeiras com copas menores, como carnaúbas. As palmeiras apresentam
habitat adequado climaticamente e nelas são encontrados animais (anfíbios, répteis, aves e mamíferos) que servem como fontes
alimentares para os triatomíneos, e elas têm sido consideradas indicadores da transmissão enzoótica de Trypanosoma cruzi
nas Américas. Além disso tem sido registrada a invasão de triatomíneos em apartamentos provenientes de palmeiras exóticas
(palmeira imperial, por exemplo) presentes em avenidas de cidades. Dessa forma, conhecer as taxas de infestação e as densidades
de triatomíneos por palmeira é importante para subsidiar as estratégias de vigilância e de controle de triatomíneos (Abad-Franch
et al., 2015).

Há a necessidade de desenvolver novos indicadores nos quais não haja o vetor domiciliado, por exemplo, baseando-se na presença
de palmeiras infestadas, na densidade de triatomíneos por palmeira e na proximidade delas das casas. Além disso, a taxa de
infecção natural por Trypanosoma cruzi (Figura 7) é um indicador da circulação do protozoário no ambiente domiciliar.
33
Indicadores de competência e capacidade vetorial

A competência vetorial é a capacidade de uma população infectar-se com um patógeno e transmiti-lo após um período. Ela depende
tanto da interação vetor-patógeno, assim como de fatores ambientais, como a temperatura.
34
A capacidade vetorial é o conjunto de características fisiológicas e comportamentais intraespecíficas, as quais, associadas às condições
ambientais, favorecem a transmissão natural das doenças. Essa capacidade pode ser representada por fórmulas matemáticas
incluindo parâmetros da biologia do inseto vetor, como reprodução, sobrevivência e número de picadas (Brady et al., 2016).

Outras características, como atividade horária diurna e noturna, preferências alimentares das fêmeas por tipos de hospedeiros,
atividade intradomiciliar e picos de abundância sazonal, também podem ser avaliadas para determinar a capacidade vetorial.
Indicadores de competência e capacidade vetorial

Doenças transmitidas por insetos vetores

As espécies de triatomíneos, culicídeos e flebotomíneos podem


apresentar diferentes níveis de capacidade e competência
vetorial, sendo que esses parâmetros são fundamentais para
a determinação das espécies com maior importância médica 35
e, consequentemente, dos principais alvos para a vigilância e
controle.

A seguir, serão citados exemplos de espécies de insetos vetores


que apresentam grande capacidade e competência vetorial.
Culicídeos

Aedes aegypti é comprovadamente uma espécie de mosquito com relevante capacidade e competência vetorial para diferentes vírus
(dengue, Zika, Chinkungunya e febre amarela). As fêmeas podem apresentar deslocamento significativo (ver Unidade 1), sendo
que a espécie já mostrou ter ampla capacidade de dispersão considerando-se a extensão de sua distribuição geográfica após
36 reintrodução.

É antropofílica, endofágica, endofílica, domiciliada e suscetível a diferentes linhagens do vírus da dengue, assim com Zika,
Chinkungunya e febre amarela.

Dessa forma, é o principal alvo para as campanhas de controle de mosquitos. Alguns estudos mostram que a capacidade vetorial
de Ae. aegypti é dependente da temperatura e que as mudanças climáticas podem ter efeito na ocorrência desse mosquito e,
consequentemente, no potencial de transmissão de dengue (Naish et al., 2014).
Indicadores de competência e capacidade vetorial

Outro mosquito relevante na transmissão de arboviroses é


Aedes albopictus, o qual apresenta capacidade de proliferação
similar a do Ae. aegypti.
Culex quinquefasciatus é o principal vetor do verme W. bancrofti
(ver Unidade 1), porém pesquisas recentes têm sugerido que
esse mosquito também pode ser vetor de Zika. Portanto,
a comprovação desses resultados é fundamental para o
desenvolvimento das estratégias de controle (Guedes et al.,
2017).
37
Finalmente, Anopheles darlingi é reconhecidamente a principal
espécie transmissora de Plasmodium no Brasil, apresentando
As diferenças morfológicas entre essas espécies foram ampla distribuição, hábitos antropofílicos e endofágicos,
abordadas na Unidade 1. além de ser suscetível para as três espécies de protozoários
responsáveis pelos casos de malária no Brasil (Plasmodium
Apesar de Ae. albopictus ter sido introduzido no Brasil na falciparum, P. vivax e P. malariae), (Marcondes, 2011).
década de 1980, até o momento, não há registro de exemplares
adultos infectados com o vírus da dengue no País.
Flebotomíneos

Existem critérios bem estabelecidos na literatura para incriminar


uma espécie de flebotomíneo como vetora de Leishmania:

38

Poucas espécies já foram estudadas considerando todos


esses aspectos e os poucos estudos feitos para determinar
a capacidade vetorial dos flebotomíneos mostram que
Lutzomyia longipalpis e Lu.cruzi atendem vários dos requisitos
de capacidade vetorial para a transmissão de L. infantum
(Falcão de Oliveira et al., 2017).
Triatomíneos

Vários fatores influenciam a capacidade vetorial de triatomíneos, tais como nível de adaptação ao ambiente domiciliar, alimentação
de sangue humano, quantidade de sangue ingerido, densidade populacional, comportamento de defecação.

Em relação à competência vetorial, muitos estudos foram feitos para determinar tanto a susceptibilidade das espécies de triatomíneos 39
a linhagens de T. cruzi, assim como as taxas de infecção natural. Esses estudos indicam que algumas espécies no Brasil, como
Panstrongylus megistus, Triatoma infestans, T. brasiliensis, T. pseudomacumata, T. sordida e T. rubrovaria, apresentam boa capacidade
vetorial.

T. infestans é uma espécie que apresenta várias caraterísticas que favorecem a transmissão de T. cruzi: grande capacidade hematofágica,
alta densidade populacional, defecação durante ou logo após alimentação, boa capacidade de dispersão e domiciliação, ampla
distribuição geográfica e alta suscetibilidade para T. cruzi (Gurgel-Gonçalves et al., 2012).
Indicadores relacionados a fatores ambientais

Variáveis climáticas podem ser indicadoras de ocorrência de insetos vetores. Valores de temperatura e precipitação mais elevados
estão associados ao aumento da ocorrência de mosquitos pois favorecem o desenvolvimento de seus ciclos de vida.
40
Estudos avaliando a sazonalidade de culicídeos, flebotomíneos e triatomíneos são fundamentais para a avaliação das atividades de
vigilância e de controle. Por exemplo, a ocorrência do mosquito Ae. aegypti e do triatomíneo P. megistus é maior no período quente
e chuvoso (Figura 8) (Souza et al., 2010, Maeda et al., 2012).

Esses estudos devem ser realizados ao longo dos meses por, no mínimo, dois anos para estabelecer-se o período de maior ocorrência
dos vetores.
41

Figura 8. Sazonalidade de insetos vetores. Infestação predial de Aedes aegypti (A)


e pluviosidade média (B) no estado de Goiás. C. Número de Panstrongylus megistus
capturados ao longo do ano no Distrito Federal em domicílios (2002 a 2010).
Fonte:Souza et al. (2010); Maeda et al. (2012).
42
A distribuição das espécies de triatomíneos é influenciada por variáveis climáticas. É possível predizer locais de ocorrência em áreas
onde não existem registros de triatomíneos. Pesquisas mostraram que as condições climáticas no Brasil são muito favoráveis
para a ocorrência de triatomíneos, de modo que, provavelmente em todo o território brasileiro, há a ocorrência de uma ou mais 43
espécies de triatomíneos (Gurgel-Gonçalves et al., 2012b).

Estudos similares com flebotomíneos mostram clara influência de variáveis climáticas na distribuição desses insetos na região
Centro-Oeste do Brasil; a sazonalidade da temperatura é a que tem maior influência na distribuição de espécies (Almeida et
al., 2015). Com esses resultados, é possível produzir mapas de distribuição potencial das espécies de vetores indicando-se as
áreas mais favoráveis para ocorrência dos mesmos. Tal informação pode auxiliar a vigilância entomológica a prever os locais de
ocorrência dos vetores.
Sistema de informações entomológicas

A obtenção dos dados para a produção dos indicadores acima descritos pode ser realizada com a participação comunitária (método
passivo) ou pelos trabalhos de vigilância desenvolvidos por agentes de saúde (método ativo).

44
O método ativo envolve pesquisas de monitoramento dos vetores ou levantamento de fauna realizados pelos agentes com a
utilização de métodos de captura descritos a seguir.

A vigilância ativa é baseada na utilização de métodos sistemáticos e rotineiros de captura dos vetores executados por equipe
especializada. Esse método tem maior custo e necessita de estrutura e de mão de obra especializada, o que dificulta sua continuidade
em larga escala. Os dados gerados são anotados em fichas de campo, as quais são utilizadas de acordo com a realidade local ou o
estado, e alimentam sistemas que produzem indicadores a serem utilizados pela vigilância, como por exemplo, SIVEP-Malária (SVS,
2017), LIRA (Brasil 2013), SISPNCD (SES MG, 2017) e MI-Dengue (disponível em: http://v1.ecovec.com/midengue.php).

A vigilância com participação comunitária conta com pessoas


estimuladas a capturar e a transportar os insetos aos postos A avaliação desse sistema mostra que a notificação voluntária
45
de notificação identificados pelo programa. Esse sistema pode tem resultado de detecção mais sensível para triatomíneos do
funcionar muito bem, por exemplo, na vigilância dos triatomíneos que a pesquisa feita pela equipe de campo (Abad-Franch et al.,
com o auxílio de campanhas educativas e de cartazes para 2014). Para atender a ambos os métodos (ativo e passivo), há
divulgar o programa (Figura 9). Reportagens na televisão e a necessidade de um serviço especializado de laboratório que
em jornais também auxiliam a divulgar o que a comunidade possibilite a identificação do material coletado para gerar a
deve fazer ao encontrar um triatomíneos (ver exemplos em: informação para tomada de decisão nas atividades de controle
http://g1.globo.com/distrito-federal/bom-dia-df/videos/t/ (Gomes, 2002).
edicoes/v/morador-de-aguas-claras-encontra-barbeiro-dentro-
do-quarto-dele/6324217/; http://www.jornaldebrasilia.com.br/
cidades/aparicao-do-inseto-transmissor-da-doenca-de-chagas-
acende-alerta-em-aguas-claras/).
46

Figura 9. Exemplos de cartazes educativos produzidos para a vigilância dos vetores da doença de Chagas.
Fonte: secretaria do Estado de Saúde e Fiocruz - BH
Métodos de captura de insetos vetores
Ovitrampas e larvitrampas (culicídeos)

As ovitrampas são potes escuros com capacidade de, aproximadamente, 500 mL de água contendo uma palheta de Eucatex (Figura
10), onde as fêmeas de Ae. aegypti e Ae. albopictus depositam os ovos (Fay & Eliason, 1966). Esses ovos são identificados e contados
para a obtenção dos indicadores apresentados na atividade anterior.

As larvitrampas são reservatórios de água escuros (pneus ou potes) com água (Figura 10), que são colocadas em locais onde não
existem outras opções para a postura da fêmea dos mosquitos, porém são considerados porta de entrada do vetor adulto (portos,
aeroportos, terminais rodoviários) (Brasil, 2001). As tradicionais são produzidas com pneus, porém existem outras opções, como o
uso de potes com água, mas sem paletas, garrafas PET, e as larvitrampas comerciais (Figura 10).

Nas larvitrampas, podem ser encontradas larvas de outras espécies, não somente Aedes spp. O poder atrativo dessas armadilhas
pode ser melhorado com a adição de solução de feno a 10%. Elas devem permanecer no local de captura por até 5 dias; períodos
maiores não são recomendados para não servirem de criadouros e, dessa forma, produzirem pupas e adultos. 47

Larvitrampa Larvitrampa comercial Ovitrampa

Figura 10. Exemplos de armadilhas para larvas e ovos de mosquitos.


Armadilhas e aspiradores para adultos (mosquitos e flebotomíneos)

Os mosquitos adultos podem ser capturados de várias maneiras. O método de aspiração consiste no uso de aspiradores elétricos
(Figura 11). Após autorização do morador, uma dupla de pesquisadores entra na casa, com um desalojando os mosquitos e com o
outro aspirando com o aspirador grande. Os mosquitos aspirados são retirados do aspirador grande com um aspirador pequeno
48
acoplado a potes de transporte. O tempo de aspiração é registrado em cada casa e o número de mosquitos adultos capturados por
unidade de tempo é considerado com indicador (Brasil, 2001).

Entre as armadilhas para captura, existem aquelas com atrativos baseados em feromônios, como a mosquitrap, a BG sentinela
e aquelas que funcionam apenas com água, como a adultrap (Figura 11). Algumas armadilhas são luminosas para captura de
mosquitos noturnos e flebotomíneos, como a barraca de Shannon e a armadilha CDC ou HP (Figura 11).
Adultrap Mosquitrap BG-sentinel

49

Aspiradores elétricos Barraca de Shannon HP

Figura 11. Exemplos de armadilhas para mosquitos adultos.


Captura de triatomíneos

Os triatomíneos, tradicionalmente, são capturados manualmente nas unidades domiciliares (UDs) por pessoas treinadas e equipadas
com luvas descartáveis, lanternas, pinças e/ou desalojantes químicos, por exemplo, pirisa, que possui baixa concentração de
inseticidas (Figura 12).

As UDs, tais como galinheiros, chiqueiros, currais e galpões, são possíveis locais de abrigo para os triatomíneos. Dessa forma, todo o
ambiente intra e peridomiciliar é investigado (Gurgel-Gonçalves et al., 2012). O tempo de coleta em cada UD deve ser anotado para
que o número de triatomíneos coletados seja usado como um indicador em função do tempo de coleta (método homem/hora).

Outra forma de coleta é o uso de armadilhas adesivas com isca animal (Figura 12). Essas armadilhas são colocadas ao entardecer
e inspecionadas na manhã seguinte, quando os triatomíneos podem ser visualizados aderidos na fita. Esse método tem sido mais
usado em pesquisas relacionadas a triatomíneos silvestres (Noireau et al., 2002)

50

Captura manual de triatomíneos Armadilhas adesivas com isca animal

Figura 12. Métodos de captura de triatomíneos.


51
Atividade 2
Exercícios

Atividade para complementar o estudo da Unidade

1. Verifique que indicadores têm sido usados em seu município para a vigilância de mosquitos, triatomíneos e
flebotomíneos. Caso não estejam sendo utilizados, elaborar os indicadores mais aplicados para a realidade local e os
métodos necessários para gerar esses indicadores.
52
Atividade 3
Controle vetorial: objetivos e métodos

O controle de vetores de interesse em saúde pública objetiva


limitar e/ou eliminar insetos ou outros artrópodes que
transmitem patógenos causadores de doenças.

Para alcançar esse objetivo, podem ser usados diferentes


métodos de controle:
53
• químico; Porém, o consenso é que a melhor estratégia é o controle
• mecânico; integrado de vetores que objetiva a utilização racional,
• biológico; integrada e sinérgica dos diferentes métodos de controle, os
• legal; quais são descritos nessa atividade.
• genético;
• ações educativas.
54
55

O controle químico consiste no uso de substâncias químicas conhecidas como inseticidas, os quais podem ser aplicados com
a utilização de diferentes tecnologias (Figura 13) a serem detalhadas nas Unidades 4 e 5.

Recomenda-se sua utilização para o controle de vetores nas fases imaturas e adulta em caso de não se dispuser de ferramentas
de intervenção menos agressivas e eficazes. Como existem vários registros de desenvolvimento de resistência dos vetores,
torna-se fundamental o uso racional e seguro dessas substâncias nas atividades de controle vetorial. Sua utilização tem
como base as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que preconiza os princípios ativos desses produtos e
recomenda as doses para os vários tipos de tratamento disponíveis. Os detalhes a respeito dos principais inseticidas químicos
serão apresentados na Unidade 3.
56

Fonte: Marcos T. Obara http://agencia.sorocaba.sp.gov.br/ses-utiliza-media-mensal- http://www.ipatinga.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/


de-300-litros-de-veneno-em-nebulizacoes/ ipatinga-faz-alerta-contra-a-leishmaniose-visceral/11224

Figura 13. Diferentes métodos de aplicação de inseticidas químicos.


Para oferecer novas alternativas de produtos que possibilitem alterar princípios ativos, no caso de resistência estabelecida a 57
determinados produtos, nota-se que, nos últimos anos, numerosos produtos são continuamente pesquisados; dentre elas,
destacamos:

• Análogos de Hormônio Juvenil - Como esses produtos têm sua principal atuação na inibição de emergência de adultos, as
larvas sobrevivem e a mortalidade ocorre principalmente no estágio de pupa; se as pupas sobrevivem à mortalidade, irá
ocorrer durante a emergência do adulto. Desses produtos, o Methopreme (Altosid) é o mais conhecido. O piriproxifeno
é outro dos compostos mímicos de hormônio juvenil com grande eficácia e também é recomendado para controle de
mosquitos;

• Inibidores da formação de quitina - Esses produtos interferem com o processo de muda, inibindo a formação de quitina.
Os inibidores de síntese de quitina, como o diflubenzuron e o novaluron, atuam sobre as larvas, ocasionando a morte
durante a ecdise. A larva não consegue eliminar a cutícula velha, pois, aparentemente, devido à inibição da deposição de
quitina, não há rigidez suficiente para isso. As larvas podem sobreviver por algum tempo, mas eventualmente morrerão.
58
O controle mecânico tem como objetivos proteger, destruir ou destinar adequadamente os criadouros, a fim de impedir a
proliferação dos insetos vetores (Figura 14). Recomenda-se que essas atividades sejam realizadas pelo próprio morador/
proprietário sob a supervisão dos agentes de saúde. Outras atividades de controle mecânico podem ser incorporadas pelos
gestores municipais, tais como:

• Coleta de resíduos sólidos com destino final adequado, em áreas com altos índices de infestação;
• Coleta, armazenamento e destinação adequada de pneus, atividade que tem amparo legal na Resolução Conama nº 258
e que é executada em parceria entre a iniciativa privada e os municípios;
• Vedação de depósitos de armazenamento de água, com a utilização de capas e tampas;
• Drenagem e retificação de criadouros;
• Destruição de criadouros temporários;
• Telagem de portas e de janelas.
59

Figura 14. Métodos de controle mecânico de mosquitos.


60
É baseado na utilização de inimigos naturais específicos dos vetores, como predadores (peixes, invertebrados), parasitoides
(vespas), parasitos ou patógenos (bactérias, fungos).

Pode ser classificado como controle biológico natural quando há a ação desses inimigos naturais sem a intervenção humana
ou artificial, quando o homem manipula o agente biológico para incrementar a ação desses agentes. O controle biológico tem
a vantagem de não poluir o meio ambiente e não ser tóxico aos animais.

A bactéria Bacillus thuringiensis israelensis tem elevada propriedade larvicida e seu mecanismo de atuação baseia-se na
produção de endotoxinas proteicas, as quais, quando ingeridas pelas larvas, provocam sua morte (Vilarinhos & Monnerat,
2004). Formulações à base de B. thuringiensis vêm sendo comercializados em vários países para o controle de vetores. No
Brasil, o Ministério da Saúde vem adotando o uso do Bti no controle de Ae. aegypti (Bti, Figura 15).
61

Figura 15. Exemplo de produto usado no controle biológico.


62

O uso da bactéria Wolbachia para controle biológico de mosquitos também tem sido investigado. Essa bactéria é um simbionte
intracelular encontrada em aproximadamente 60% dos insetos e ela reduz pela metade o tempo de vida de um mosquito
adulto, altera a fertilidade dos mosquitos e, ainda, pode bloquear a transmissão dos patógenos pelos mosquitos (Moreira et
al., 2009). A soltura de mosquitos infectados com Wolbachia é uma abordagem de controle inovadora e autossustentável (ver
Atividade 4).
63

Baseia-se na aplicação de normas de conduta regulamentadas por instrumentos legais de apoio às ações de controle dos
vetores. As medidas de controle legal podem ser instituídas, no âmbito dos municípios, pelos códigos de postura, visando
principalmente responsabilizar o proprietário pela manutenção e pela limpeza de terrenos baldios, assegurar a visita domiciliar
dos agentes de saúde nos imóveis fechados, abandonados, e naqueles onde exista recusa à inspeção, além de regulamentar
algumas atividades comerciais consideradas críticas do ponto de vista sanitário (Brasil, 2006).

Desde 2016, os agentes de combate a endemias que trabalham no combate ao Ae. aegypti podem realizar entrada forçada em
imóveis públicos e particulares abandonados ou com ausência de pessoa.
As normatizações para a entrada dos agentes de saúde estão na Lei nº 13.301, de 27 de junho de 2016. A iniciativa deve ser tomada
apenas em situações excepcionais para permitir o controle do mosquito quando há perigo iminente à saúde pública, sendo que a
entrada forçada em imóveis deve ser feita por profissional de saúde devidamente identificado em áreas com potenciais focos de
64
mosquitos. Para comprovar a ausência do morador, é necessário que o agente realize duas notificações prévias em um intervalo
de dez dias.

Os proprietários de imóveis que não tomarem providências para eliminar os focos do mosquito poderão ser multados de acordo
com a Lei nº 6.437, de 1977. Em casos de reincidência, o proprietário será multado em 10% do valor da multa inicial, e esse valor
será dobrado em caso de nova reincidência. Para mais detalhes, recomenda-se a leitura da publicação Programa Nacional de
Controle da Dengue: Amparo Legal à Execução das Ações de Campo – Imóveis Fechados, Abandonados ou com Acesso não Permitido pelo
Morador (disponível em: http://bvsms.saude.gov.br /bvs/publicacoes/dengue_amparo_legal_ web.pdf).
65
Uma estratégia pioneira de controle genético é baseada na técnica do inseto estéril, utilizada há décadas no controle de
pragas agrícolas. Ela se baseia na criação em massa, esterilização por radiação e liberação de muitos machos estéreis em uma
área, os quais cruzam com fêmeas presentes naturalmente na área, reduzindo o potencial reprodutivo da população ao longo
do tempo (Knipling, 1959). Essa técnica tem sido usada contra um número restrito de vetores, pois os machos irradiados são
menos competitivos e apresentam um tempo de vida reduzido.

Outra forma de controle genético baseia-se na liberação de insetos que carregam um gene letal dominante. Nessa estratégia,
o vetor geneticamente modificado (transgênico) cruza com os vetores na área de estudo e suprime a reprodução dos mesmos
(Thomas et al., 2000). Esse sistema foi adaptado para o controle de Ae. aegypti, mostrando-se que o método é seguro e apresenta
grande potencial de controle e que os testes de liberação foram feitos em diversos países com resultados promissores nas
ilhas Cayman. Recentemente, o Brasil aprovou o uso de uma linhagem transgênica de Ae. aegypti para ser comercializada no
País (Paes de Andrade et al., 2016).
66

Essas ações são fundamentais para o controle de doenças transmitidas por vetores. Por exemplo, sabe-se que, quando as
ações educativas contra a proliferação do mosquito Ae. aegypti são implementadas pela população, há redução dos casos de
dengue. Isso acontece porque a população é a principal responsável pelo surgimento dos criadouros dos insetos vetores em
ambientes artificiais, dessa forma, se a mesma for conscientizada, torna-se a principal aliada no controle.

O desenvolvimento dessa estratégia depende de um trabalho multidisciplinar envolvendo profissionais das áreas de saúde,
Biologia, Publicidade e Jornalismo, os quais, juntos, podem promover campanhas educativas com maior impacto, como já
observado para várias doenças, principalmente para aquelas transmitidas pelo Ae. aegypti (Figura 16).
67

Figura 16. Exemplo de campanhas de controle educativo contra mosquitos.


Atividade 3
Exercícios

Atividade para complementar o estudo da Unidade


(atividade livre, discutir os resultados com os gestores locais)

1. Faça uma análise crítica dos métodos de controle apresentados nesta atividade, apontando as vantagens e as
desvantagens de cada um.

68 Leitura do artigo: Zara, Ana Laura de Sene Amâncio, Santos, Sandra Maria dos, Fernandes-Oliveira, Ellen Synthia,
Carvalho, Roberta Gomes, & Coelho, Giovanini Evelim. (2016). Estratégias de controle do Aedes aegypti: uma revisão.
Epidemiologia e Serviços de Saúde, 25(2), pp. 391-404.
Atividade 4
Métodos de Controle de Culicideos,
Flebotomíneos e Triatomíneos

Como visto na atividade anterior, existem diferentes métodos de controle de vetores disponíveis.

Nesta atividade, aprenderemos os métodos mais usados para controle de culicídeos, flebotomíneos e triatomíneos no Brasil e as
novas alternativas de controle.

Vamos lá!

69
Os controles mecânico, químico e ações educativas têm sido amplamente utilizados
Culicídeos para reduzir as populações de mosquitos vetores no ambiente urbano no Brasil,
principalmente Ae. aegypti.

O controle desses insetos pode ser feito com a aplicação de inseticidas químicos
residuais em paredes das casas, o uso de mosquiteiros impregnados com inseticidas de
70
Flebotomíneos longa duração e a realização de manejo ambiental. As telas impregnadas com inseticidas
podem ser instaladas nas janelas e portas dos domicílios. Alguns estudos têm mostrado
que essa estratégia é útil para diminuir a abundância de flebotomíneos no ambiente
domiciliar (Mondal et al., 2016).

Atualmente, o controle químico vem sendo realizado por meio de aplicação residual
sistemática de piretróides no intra e peridomicílio das casas. O controle dos triatomíneos
Triatomíneos também pode ser realizado desde programas de melhoria habitacional. O controle com
ações educativas também é fundamental, pois a população pode aplicar estratégias
para evitar a colonização triatomínica.
Culicídeos

O controle mecânico é baseado na implementação de práticas para a eliminação de


criadouros (por exemplo, coleta do lixo, drenagem de reservatórios, desentupimento
Mecânico de calhas, lavagem de caixas d´água, destruição de pneus velhos etc.) e da proteção
contra a entrada dos adultos nas casas com a instalação de telas em portas e janelas
(ver Atividade 3).

Já o controle químico pode ser feito contra mosquitos adultos e imaturos por meio do
tratamento focal e perifocal e da aspersão aeroespacial de inseticidas em ultra baixo
volume (UBV).

O tratamento focal ocorre com a aplicação de um produto nos depósitos positivos para 71
imaturos de mosquitos que não possam ser eliminados mecanicamente. O tratamento
com UBV é usado para eliminar mosquitos adultos de Ae. aegypti para bloqueio de
transmissão e para controle de surtos ou epidemias. Contudo, seu uso indiscriminado
para combate de outros vetores não é recomendado.

Químico Devido à ocorrência de resistência em populações de Ae. aegypti aos inseticidas


organofosforados, como o temefós (para larvas) e piretroides (para adultos) (ver Unidade
3), as ações de controle de adultos são baseadas atualmente no uso de malathion e,
para o controle de larvas, o programa vem utilizando piriproxifeno.

Para evitar que o mesmo ocorra para esses grupos de inseticidas, é fundamental que
outras estratégias de manejo de resistência sejam implementadas, como a rotação
de inseticidas a cada quatro anos no máximo caso haja resistência estabelecida (ver
Unidade 3).
Culicídeos

O tratamento perifocal é baseado na aplicação de inseticidas de ação residual nas


paredes externas por meio de aspersor manual, indicado para localidades recém-
infestadas. Contudo, necessita-se de avaliação para ele ser incorporado nas atividades
de rotina no controle de Ae. aegypti.
72
Quanto ao controle de larvas, ele tem sido realizado de acordo com o tipo de reservatório
Químico encontrado na casa (Figura 17). Por exemplo, em depósitos de armazenamento de água
para consumo humano (poço, cisterna, caixas d’água, tambores etc.), preconiza-se vedá-
los adequadamente e tratá-los como última alternativa.

Para depósitos móveis (vasos/frascos com água, prato, garrafas, bebedouros em geral,
etc.) ou naturais (bromélias), recomenda-se não tratar, apenas proteger, colocar areia
ou instruir para evitar acúmulo de água.
Culicídeos

73
Figura 17. Classificação dos potenciais
criadouros de Aedes aegypti e ações
preconizadas para cada grupo.
Fonte: Brasil (2001).
Culicídeos
Quanto aos métodos para controle biológico, apesar do realizado com Bti ser eficaz na
redução do número de mosquitos imaturos nos recipientes tratados em curto prazo,
não há evidências robustas de que esse método isolado possa impactar na redução da
morbidade da dengue em longo prazo.

Algumas tecnologias alternativas de controle de mosquitos, principalmente Ae. aegypti,


têm sido desenvolvidas, como medidas sociais, monitoramento seletivo da infestação,
dispersão de inseticidas, novos agentes de controle químico e biológico e procedimentos
moleculares para controle populacional dos mosquitos, inclusive considerando-se
combinações entre técnicas (Zara et al., 2016).

Vamos conhecer mais sobre essas tecnologias? A seguir, destacamos duas delas.

74 O controle é baseado na infecção do mosquito Ae. aegypti com cepas específicas da


Wolbachia e posterior soltura na área. A interrupção do ciclo reprodutivo ocorre quando
mosquitos machos com Wolbachia acasalam com mosquitos fêmeas sem Wolbachia, e
Biológico essas fêmeas fazem a postura de ovos inférteis.

Pesquisas de campo para avaliar essa estratégia estão sendo desenvolvidas no Brasil
para avaliar a capacidade desses mosquitos infectados se estabelecerem no meio
ambiente e reproduzirem com os mosquitos já existentes nos locais de soltura.

Estudos recentes mostram que populações de Ae. aegypti infectadas com Wolbachia são
altamente resistentes à infecção pelo vírus Zika. Os mosquitos infectados apresentaram
menor prevalência viral e ausência do vírus na saliva deles, sugerindo que a transmissão
viral foi bloqueada (Figura 18).

Os dados indicam que o uso de mosquitos infectados por Wolbachia poderia representar
um mecanismo efetivo para reduzir a transmissão do vírus Zika e ele deve ser incluído
como parte das estratégias de controle de Zika (Dutra et al., 2016).

Essa estratégia consiste em atrair as fêmeas de mosquitos até recipientes de água


(estações de disseminação), tratados com micropartículas do inseticida piriproxifeno.
Culicídeos

75

Biológico

Figura 18. Controle usando Wolbachia. Fonte: Dutra et al. 2016.


Culicídeos
A estratégia dos mosquitos dispersores de inseticidas consiste em atrair as fêmeas
de mosquitos até recipientes de água (estações de disseminação), tratados com
micropartículas do inseticida piriproxifeno.

Nas estações de disseminação, o inseticida gruda no corpo dos mosquitos e é levado


por eles até os criadouros, onde passam a ser letais para as larvas dos mosquitos (Figura
19). Essa estratégia é promissora porque os mosquitos contaminam mais que um sítio
por dia, e uma única contaminação do sítio com pequenas quantidades (0,012 partes
76 por bilhão) é suficiente para inativá-lo por aproximadamente quatro meses.
Biológico Também os mosquitos podem levar o larvicida para criadouros não visíveis ou
inacessíveis. Além disso, a estratégia favorece a otimização do uso de recursos humanos,
sendo compatível com outros métodos de controle: aplicam-se o larvicida piriproxifeno,
já disponibilizado pelo Ministério da Saúde, e uma estação disseminadora similar a uma
ovitrampa amplamente usada no serviço, o que facilita o uso pelos agentes.

No Brasil, essa estratégia foi usada em Manaus (Abad-Franch et al., 2015), e seus
resultados mostraram uma redução de adultos de aproximadamente 1.000-3.000 por
mês para cerca de 100 adultos/mês durante o período de disseminação.
Culicídeos

Biológico
77

Figura 19. Controle usando estações disseminadoras. Ao pousar nas estações disseminadoras os mosquitos se contaminam
com o PPF e acabam levando esse inseticida para os criadouros, inviabilizando o desenvolvimento.
Fonte: http://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0003406
Flebotomíneos
O controle químico por meio de inseticidas de ação residual é a medida de controle
vetorial recomendada para controle vetorial das leishmanioses. Essa medida é dirigida
apenas para o inseto adulto e tem como objetivo evitar e/ou reduzir o contato entre
flebotomíneos e a população humana. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde
(Brasil, 2006), essa medida de controle é recomendada em:
78

Químico • Áreas com registro do primeiro caso autóctone de leishmaniose, após a investigação
entomológica;
• Áreas com transmissão moderada e intensa: se a curva de sazonalidade do vetor for
conhecida, a aplicação do inseticida de ação residual deverá ser realizada no período
do ano em que se verifica o aumento da densidade vetorial.

Caso contrário, o primeiro ciclo de tratamento deverá ser realizado ao final do período
chuvoso e o segundo, 3 a 4 meses após o primeiro ciclo.
Flebotomíneos
Em áreas com surto de LV, uma vez avaliada e delimitada a área para o controle químico,
deverá ser realizado imediatamente um ciclo de tratamento com inseticida de ação
residual. A programação de novo ciclo de aplicação do inseticida deverá ser de acordo
com a curva de sazonalidade do vetor. Se essa for conhecida, a aplicação do inseticida
deverá ser realizada no período do ano em que se verifica o aumento da densidade
vetorial. Caso contrário, o primeiro ciclo de tratamento deverá ser realizado ao final do
período chuvoso e 3 a 4 meses após o primeiro ciclo. A borrifação deverá ser feita: 79

Químico • Nas paredes internas e externas do domicílio, incluindo o teto, quando a altura deste
for de até 3 metros;
• Nos abrigos de animais ou anexos, quando os mesmos forem feitos com superfícies
de proteção (parede) e possuam cobertura superior (teto).

Os produtos mais empregados atualmente no controle a esses vetores são a cipermetrina,


na formulação pó molhável, e a deltametrina, em suspensão concentrada.
Flebotomíneos

A eficácia do controle químico tem sido limitada devido à descontinuidade no uso


de inseticidas, ao uso em épocas inapropriadas, à precariedade das habitações, ao

80
Educativo pouco conhecimento acerca dos criadouros dos flebotomíneos e/ou comportamento
desses insetos, os quais podem reinfestar os domicílios desde as florestas adjacentes.
Adicionalmente, o manejo ambiental pode ser feito com:

• Retirada do excesso de matéria orgânica (folhas, frutos, fezes de animais, restos de


alimentos) do solo;
• Diminuição da umidade do solo no peridomicílio com destino adequado para as
Mecânico águas de uso doméstico;
• Distanciamento de galinheiros, canis, chiqueiros e outros abrigos de animais da casa;
• Construção de novas casas a uma distância superior a 500 metros das florestas.
Triatomíneos
As primeiras ações de controle químico dos triatomíneos ocorreram na década de 1940
com a aplicação de hexaclorociclohexano (BHC) nas casas infestadas por esses insetos.
A partir de 1975, foi delimitada a área onde havia risco de transmissão para todo o País.
Verificou-se que Triatoma infestans, principal espécie vetora, encontrava-se presente em
711 municípios.

O Programa Nacional de Controle Vetorial da Doença de Chagas alcançou sua maior


81
cobertura em 1983. Em 1986, com suas ações amplamente consolidadas, o impacto
do programa foi altamente positivo após o controle químico das unidades domiciliares
Químico infestadas.

Em 1991, o Brasil integrou-se à Iniciativa dos Países do Cone Sul destinado a reduzir a
transmissão vetorial da doença de Chagas pela eliminação de T. infestans por meio de
ações regulares e sistemáticas de controle químico com piretróides de ação residual. O
programa foi um sucesso, reduzindo-se drasticamente a ocorrência desse vetor no País
(ver Unidade 1).

Atualmente, o controle químico vem sendo realizado por meio de aplicação residual
sistemática de piretróides no intra e peridomicílio das casas (ver Unidade 4).
Triatomíneos

O controle dos triatomíneos também pode ser realizado desde programas de melhoria
Educativo habitacional considerando-se que a infestação domiciliar é mais intensa em habitações
precárias. Dessa forma, há a necessidade de identificar os municípios e as localidades
prioritários para aplicação dos recursos, o que deve ser baseado em critérios
entomológicos, epidemiológicos e sociais (Vinhaes et al., 2014).
82
O controle com ações educativas também é fundamental, pois a população pode aplicar
estratégias para evitar a colonização triatomínica.

Finalmente, um desafio para o controle da transmissão é a necessidade de desenvolver


estratégias que possam reduzir o risco de transmissão vetorial sem domiciliação, um
Mecânico cenário comum na região Amazônica.

Nesses casos, estratégias baseadas em uso de telas impregnadas com inseticidas,


em proteção dos alimentos para evitar contaminação com fezes de triatomíneos e,
consequentemente, transmissão oral, devem ainda ser avaliadas.
As boas práticas de produção do açaí são fundamentais para prevenção da transmissão oral da doença de Chagas (OMS, 2009).
83
A emergência dessa doença por transmissão oral, especialmente na região Amazônica, está associada ao consumo de alimentos
contaminados pelo T. cruzi (principalmente o açaí) devido à não adoção de boas práticas de higiene na manipulação.

O consumo de açaí (e de outros alimentos) pasteurizado é seguro. Porém, devido à falta de regulamentação em relação à aplicação
dessa técnica para a prevenção da contaminação do alimento com T. cruzi, devem-se fortalecer o consumo em locais com boas
práticas implantadas e submeter os frutos à higienização e ao branqueamento, pois esses procedimentos minimizam o risco de
transmissão oral do T. cruzi.
GLOSSÁRIO

84 Bti: refere-se a uma bactéria que ocorre naturalmente no meio ambiente da espécie Bacillus thuringiensis israelensis (BTI), que
apresenta atividade comprovada para matar larvas dos mosquitos C. quinquefasciatus e A. aegypti. Atualmente o Bti é o principal
ingrediente ativo de inseticidas biológicos especialmente desenvolvidos para controlar as larvas de mosquitos.

Transmissão enzoótica: Transmissão que envolve animais e vetores silvestres.


MAPA MENTAL

85
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Inst. Oswaldo Cruz [online]. 2016, vol.111, n.10, pp.649-651. ISSN 0074-0276. http://dx.doi.org/10.1590/0074-02760160203

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Sobre o autor

Rodrigo Gurgel Gonçalves


Doutor em Ciências da Saúde na área de Protozoologia e Entomologia Médica, atuando principalmente nos se-
guintes temas: biologia de tripanossomatídeos; identificação e ecologia de vetores de doenças tropicais (espe-
cialmente triatomíneos e flebotomíneos); desenvolvimento de aplicativos para identificação de artrópodes de 89
interesse em saúde pública; vigilância e controle dos vetores da Doença de Chagas, Leishmanioses e Dengue.

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