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Ano letivo 2020/2021

Português, 12.º ano


Compreensão da leitura
GRUPOI

Lê o texto.

Não é o que és, é o que fazes


1 Na qualidade do trabalho profissional, o que assenta no talento natural e o que assenta na mestria
que vem da prática? O que se sabe hoje sobre a performance de topo? Como ser um profissional
excecional? É mesmo necessário trabalho, trabalho e mais trabalho? Sim, mas não chega…
A investigação destes últimos anos mostra, por um lado, que ser um profissional de topo não é possível sem
5 anos de prática dedicada, focada em aprender, melhorar e inovar. Por outro lado, essa mesma investigação
indica também que a performance verdadeiramente excecional não fica só a dever-se à prática dedicada,
esforçada em melhorar e inovar, tecnicamente chamada prática deliberada. Há algo mais.
A aprendizagem, a existência de feedback e a melhoria no dia a dia são necessárias para atingir um alto
desempenho, mas a sua relevância varia de atividade para atividade. Na música ou no xadrez, por exemplo,
10 a prática deliberada parece ser mais relevante do que na liderança ou no empreendedorismo.
Outro aspeto importante que o estudo do desempenho de topo tem vindo a apontar é que quanto maior é o
sucesso menos parece ser explicado pela prática deliberada, pelo trabalho dedicado e pela melhoria
contínua.
No 1 ou 2 por cento do topo, seja na alta competição, na música ou nas empresas, todos os profissionais
praticam intensamente, inovam e melhoram. Nesses níveis o que parece, de novo, diferenciar os
profissionais 15 são diferenças fisiológicas, influenciadas pela genética, bem como a personalidade, a
vontade, e o tempo efetivamente afeto à competição com os outros.
A inclinação de cada um, os gostos e habilidades, desde a infância à idade adulta – por exemplo, mais jeito
para atividades em grupo ou individuais, a curiosidade, a vontade de liderar, a facilidade no raciocínio
lógico ou no relacionamento pessoal –, são características que podem pesar no sucesso que podemos vir a
ter. E 20 podem manifestar-se decisivamente quando competimos no topo dos topos.
O natural, o talento à nascença, o que fazemos bem e gostamos de fazer, com prática dedicada e esforço,
pode de facto transformar-se em capacidades profissionais relevantes. Mas, diz Angela Duckworth na
investigação publicada na obra Grit, a verdadeira excecionalidade, o topo do topo só se atinge quando essas
capacidades, que nos fazem ser um profissional muito bom, são sujeitas a novos esforços, a nova prática
intensa, a 25 melhorias e inovações. E aí, mais uma vez, a vontade, a confiança e a determinação
são o que fazem a diferença.
Não é por isso o que somos ou deixamos de ser que é importante. O que faz a diferença é o que fizemos, o
que fazemos e o que vamos fazer. O talento natural pode fazer bons profissionais, mas não faz profissionais
excecionais. A prática deliberada é importante, mas não chega. A determinação e a vontade fazem sempre
30 parte do sucesso.
ILHARCO, Fernando. “Não é o que és, é o que fazes” [Em linha].
Jornal de Negócios, 06-11-2016 [Consult. em 09-11-2016].
Seleciona a opção correta.

1. O texto pertence ao género textual


(A) exposição sobre um tema.
(B) síntese.
(C) apreciação crítica.
(D) artigo de opinião.

2. O segmento que introduz o texto (ll. 1-3) tem como objetivo introduzir o tema
(A) com recurso a sucessivos eufemismos.
(B) com base numa atitude de questionamento.
(C) de forma objetiva e sintética.
(D) apresentando explicitamente o ponto de vista que vai ser defendido.

3. O segundo parágrafo (ll. 8-10) tem como suporte


(A) um argumento histórico.
(B) um argumento de autoridade.
(C) um argumento universal.
(D) um argumento proveniente do saber comum.

4. De acordo com o autor, os desempenhos de topo


(A) são determinados pela liderança e pelo empreendedorismo.
(B) devem-se a fatores semelhantes em todas as atividades.
(C) são condicionados por aspetos de ordem fisiológica e psicológica.
(D) não são determinados pela personalidade.

5. A inclusão da perspetiva de Angela Duckworth tem um intuito argumentativo, pois


(A) funciona como contra-argumento refutado pelo autor do texto.
(B) exemplifica a tese de que o desempenho de topo se deve exclusivamente a fatores genéricos.
(C) demonstra que verdadeira excecionalidade se deve predominantemente à prática intensa.
(D) corrobora o ponto de vista do autor do texto.
G R U P O II

Lê o texto.
[Nasci]
1 §2 Chamo-me Rómulo e nasci no dia de São João da Cruz com sete meses de gestação. Estávamos em 1906,
e era dia 24 de novembro, um sábado.
Algum tempo antes, não muito, tinha estado minha mãe em Évora, com meu pai e as minhas duas irmãs. Iam
todos a subir os degraus que encaminhavam para a portada de uma igreja. Meu pai, indolente e desatento, talvez
5 levasse a Noémia, a mais velha, pela mão, ou a deixasse seguir sozinha. Minha mãe transportava-me no
ventre e carregava ao colo com a Graciete que ia perto dos três anos. Fiquei muito cansada – disse-me um dia
quando eu já era mais alto do que ela. Pensava ter sido essa a causa de eu ter assomado a porta do mundo dois
meses antes da data marcada. No dealbar daquele dia atrás referido, pelas cinco horas da madrugada, enquanto o
planeta, silenciosamente, rodava em torno do seu imaginado eixo, as mãos delicadas e firmes da Dona Anatólia
Féria de 10 Mendonça, moradora na Travessa do Abarracamento de Peniche, n.º 77, 4.º Andar Direito, em
Lisboa, extraíam um frágil ser humano do ventre da Rosinha, minha mãe.
Estávamos em 1906, um ano que parecerá muito distante aos viventes do século XXI, porque os anos deles
começam todos pelo algarismo 2, e aquele é dos antigos, começa em 1, é do segundo milénio da era de Cristo.
Pois foi exatamente nesse ano que nasci. Reinava em Portugal o Senhor D. Carlos, casado com a Senhora Dona
15 Amélia de Orleans, de quem tinha dois filhos, o Manuel e o Luís Filipe, que era o herdeiro do trono. Não
chegou a sentar-se nele, na qualidade de rei, porque foi assassinado a tiro, no Terreiro do Paço, juntamente com
seu pai, tinha eu dois anos. Outros dois anos mais tarde foi implantada a República, e o Manuel, que entretanto
fora aclamado Rei, seguiu exilado para Inglaterra. Terminara a reinação.

CARVALHO, Rómulo (2010). Memórias. Lisboa: FCG, pp. 20-21.

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.

1. Ao longo do texto, o relato de acontecimentos passados articula-se com


(A) a crítica sarcástica ao contexto político da época, marcado pela vigência da monarquia.
(B) a reflexão sobre o contexto histórico em que os mesmos ocorreram.
(C) a comparação com acontecimentos da época medieval.
(D) a recordação de episódios de carácter autobiográfico ocorridos na década de 1920.

2. O discurso pessoal está presente em


(A) “Minha mãe transportava-me no ventre” (ll. 5).
(B) “os anos deles começam todos pelo algarismo 2” (ll. 12-13).
(C) “Não chegou a sentar-se nele, na qualidade de rei, porque foi assassinado a tiro” (ll. 15-16).
(D) “Terminara a reinação.” (l. 18).

3. O único segmento em que não está presente a referência a dois tempos distintos é
(A) “Estávamos em 1906, e era dia 24 de novembro, um sábado.” (ll. 1-2).
(B) “[…] era dia 24 de novembro, um sábado./ Algum tempo antes, não muito, tinha estado minha mãe
em Évora, com meu pai e as minhas duas irmãs.” (ll. 2-3)
(C) “Fiquei muito cansada – disse-me um dia quando eu já era mais alto do que ela” (ll. 6-7).
(D) “Estávamos em 1906, um ano que parecerá muito distante aos viventes do século XXI” (l. 12).
4. Entre as situações descritas nos enunciados “enquanto o planeta, silenciosamente, rodava” e
“as mãos delicadas e firmes da Dona Anatólia […] extraíam um frágil ser humano do ventre da
Rosinha, minha mãe.” (ll. 9-11)
(A) não se estabelece nenhum tipo de relação temporal.
(B) estabelece-se uma relação de anterioridade.
(C) estabelece-se uma relação de simultaneidade.
(D) estabelece-se uma relação de posterioridade.

5. O único vocábulo que deriva do mesmo étimo que “indolente” (l. 4) é


(A) indolor.
(B) índole.
(C) ídolo.
(D) indomável.

6. No contexto em que ocorre, o nome “dealbar” (l. 8) significa


(A) começo.
(B) final.
(C) antevéspera.
(D) dia seguinte.

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