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Equações Diferenciais

Prof. Ruy Piehowiak

2012
Copyright © UNIASSELVI 2012

Elaboração:
Prof. Ruy Piehowiak

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

515.35
P613ePiehowiak, Ruy Equações diferenciais / Ruy Piehowiak. Indaial:
Uniasselvi, 2012.

211 p. : il

ISBN 978-85-7830-595-6

1. Equações diferenciais.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a)! Seja bem-vindo(a) à disciplina de Equações
Diferenciais.

Para estudar Equações Diferenciais não há como desvincular o


estudo do Cálculo Diferencial e Integral, pois as palavras equação e diferencial
sugerem que estudemos equações que envolvam derivadas. As derivadas
são estudadas no segmento da matemática chamado de cálculo diferencial,
que, consequentemente, nos leva ao cálculo integral. O cálculo utiliza ideias
da matemática elementar e as estende para situações mais gerais, ou seja, o
cálculo consiste na matemática elementar (álgebra, geometria, trigonometria)
aperfeiçoada pelo processo do limite.

Nesta disciplina, você irá aprimorar seus conhecimentos sobre o


Cálculo Diferencial e Integral. Se você já se interessou pelo que foi estudado
no cálculo, vai ver que neste caderno terá tópicos mais abrangentes e, também,
interessantes.

A disciplina fornece uma série de ferramental necessária a outras


disciplinas, como, por exemplo, a Física.

O cálculo é considerado um dos maiores feitos do intelecto humano.


Espero que, além de perceber a utilidade, também perceba a beleza
matemática. O entendimento do conteúdo e das nuances que circundam este
estudo é apenas a ponta do iceberg, principalmente para aqueles acadêmicos
que pretendem avançar seus estudos, como em especialização, mestrado etc.

Prof. Ruy Piehowiak

UNI

Quero enfatizar a postura que um(a) acadêmico(a) de matemática deve ter


ao estudar. Inicialmente, para ler um texto de matemática, principalmente na modalidade
de ensino a distância, é bastante diferente de ler uma revista ou um jornal. Assim, não
desanime se precisar ler um conceito ou a resolução de um exemplo mais de uma vez para
entendê-lo. Sugiro que possua um papel, lápis e computador com software matemático
(por exemplo, o winplot) à sua mão para entender o conteúdo trabalhado no Caderno de
Estudos e desenvolver ainda mais a sua habilidade algébrica.

III
UNI

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS .............................................................. 1

TÓPICO 1 – FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS OU MAIS ........................................................ 3


1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 3
2 RECORDANDO A FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL .................................................................. 3
3 FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS ..................................................................................................... 5
3.1 GRÁFICOS DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS ............................................................... 13
4 FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS ........................................................................................ 15
RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................................... 18
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................... 19

TÓPICO 2 – CURVAS DE NÍVEL ......................................................................................................... 21


1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 21
2 CURVAS DE NÍVEL ................................................................................................................................ 22
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................................... 28
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................... 29

TÓPICO 3 – LIMITE E CONTINUIDADE ....................................................................................... 31


1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 31
2 DEFINIÇÕES BÁSICAS ........................................................................................................................ 31
3 LIMITE DE FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS ............................................................. 34
4 CONTINUIDADE DE FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS ....................................... 38
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................................... 41
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................... 42

TÓPICO 4 – DERIVADAS PARCIAIS ............................................................................................... 43


1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 43
2 RELEMBRANDO ALGUMAS REGRAS DE DERIVAÇÃO ................................................. 43
3 DERIVADAS PARCIAIS ...................................................................................................................... 44
3.1 DERIVADAS PARCIAIS DE UMA FUNÇÃO DE DUAS VARIÁVEIS ......................... 44
3.2 INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA ............................................................................................. 51
4 GENERALIZAÇÃO ................................................................................................................................. 53
5 DERIVADAS PARCIAIS DE ORDEM SUPERIOR ................................................................. 54
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 59
RESUMO DO TÓPICO 4 .......................................................................................................................... 63
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................... 64

UNIDADE 2 – DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS ............................ 65

TÓPICO 1 – REGRA DA CADEIA E DERIVAÇÃO IMPLÍCITA ........................................... 67


1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 67
2 REGRA DA CADEIA .............................................................................................................................. 67
3 DERIVAÇÃO IMPLÍCITA .................................................................................................................... 75
RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................................... 79

VII
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................... 80

TÓPICO 2 – DIFERENCIABILIDADE E GRADIENTE ............................................................ 81


1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 81
2 DIFERENCIABILIDADE ..................................................................................................................... 81
3 DIFERENCIAL .......................................................................................................................................... 85
4 GRADIENTE .............................................................................................................................................. 89
5 DERIVADAS DIRECIONAIS ............................................................................................................ 95
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................................... 99
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 100

TÓPICO 3 – MÁXIMOS E MÍNIMOS DE FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS ....... 103


1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 103
2 EXTREMOS LOCAIS .......................................................................................................................... 103
3 PROBLEMAS ENVOLVENDO MÁXIMOS E MÍNIMOS DE FUNÇÕES DE
DUAS VARIÁVEIS .................................................................................................................................. 111
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 117
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 118

TÓPICO 4 – INTEGRAIS MÚLTIPLAS ......................................................................................... 119


1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 119
2 INTEGRAL DUPLA ............................................................................................................................. 119
2.1 INTEGRAL DUPLA SOBRE RETÂNGULO ......................................................................... 119
2.2 INTEGRAIS ITERADAS ............................................................................................................... 120
2.3 INTEGRAL DUPLA SOBRE REGIÕES GENÉRICAS . ..................................................... 124
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 134
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 136
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 137

UNIDADE 3 – EQUAÇÕES DIFERENCIAIS .............................................................................. 139

TÓPICO 1 – EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM ............................... 141


1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 141
2 DEFINIÇÕES E TERMINOLOGIAS ............................................................................................ 141
2.1 TIPOS DE UMA EQUAÇÃO DIFERENCIAL . ..................................................................... 142
2.2 ORDEM DE UMA EQUAÇÃO DIFERENCIAL . ................................................................. 142
2.3 LINEARIDADE DE UMA EQUAÇÃO DIFERENCIAL . ................................................. 143
2.4 SOLUÇÃO DE UMA EQUAÇÃO DIFERENCIAL .............................................................. 143
2.4.1 Solução geral ................................................................................................................................. 145
2.4.2 Solução particular ........................................................................................................................ 145
3 EQUAÇÃO DIFERENCIAL SEPARÁVEL ................................................................................. 148
3.1 MÉTODO DE RESOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DIFERENCIAL ...................................... 149
4 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE 1ª ORDEM ................................................. 158
4.1 MÉTODO DE RESOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DIFERENCIAL ...................................... 159
5 EQUAÇÕES EXATAS ........................................................................................................................... 168
5.1 MÉTODO DE RESOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DIFERENCIAL ...................................... 169
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 175
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 176

TÓPICO 2 – EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE PRIMEIRA


ORDEM – SUBSTITUIÇÕES ............................................................................................................ 177
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 177
2 EQUAÇÕES DE BERNOULLI ......................................................................................................... 177

VIII
2.1 MÉTODO DE RESOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DIFERENCIAL ...................................... 177
3 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS HOMOGÊNEAS ..................................................................... 184
3.1 FUNÇÕES HOMOGÊNEAS ......................................................................................................... 184
3.2 EQUAÇÕES HOMOGÊNEAS . .................................................................................................... 186
3.2.1 Método de resolução da equação diferencial .......................................................................... 187
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 193
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 194

TÓPICO 3 – EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM ..... 195


1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 195
2 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM ............................ 195
3 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE 2ª ORDEM COM COEFICIENTES
CONSTANTES ....................................................................................................................................... 199
3.1 MÉTODO DE RESOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DIFERENCIAL ...................................... 200
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 204
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 207
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 208
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................... 209

IX
X
UNIDADE 1

FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final desta unidade você deverá ser capaz de:

• conhecer os principais conceitos que envolvem funções de diversas variáveis;

• identificar o domínio de funções de diversas variáveis;

• reconhecer as curvas de níveis de forma algébrica;

• reconhecer as curvas de níveis geometricamente;

• calcular os limites de funções de diversas variáveis;

• identificar a continuidade de funções de diversas variáveis;

• calcular as derivadas parciais;

• interpretar geometricamente as derivadas parciais.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos, apresentando os conceitos e
a utilização das funções de diversas variáveis. No Tópico 1 é apresentado o
estudo do domínio de uma função de diversas variáveis e as curvas de nível,
seguido de vários exemplos para auxiliá-lo(a) na compreensão e resolução
dos exercícios propostos no final de cada tópico. No Tópico 2 daremos uma
atenção especial às curvas de nível, tanto na representação gráfica como no
seu reconhecimento algébrico. No Tópico 3 serão estendidos os conceitos de
limite e continuidade estudados para as funções de uma variável. No Tópico
4 aprenderemos como derivar funções de diversas variáveis e, sobretudo,
entender o significado geométrico das derivadas parciais. Finalizamos a
unidade com um texto complementar onde será dada ênfase às personalidades
matemáticas que contribuíram no desenvolvimento do cálculo diferencial e
integral e, consequentemente, das equações diferenciais.

TÓPICO 1 – FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS OU MAIS

TÓPICO 2 – CURVAS DE NÍVEL

TÓPICO 3 – LIMITES E CONTINUIDADE

TÓPICO 4 – DERIVADAS PARCIAIS

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS OU MAIS

1 INTRODUÇÃO
Você já estudou limites, derivadas e integrais: conceitos vistos em funções
de uma variável. Nesta unidade estudaremos as funções de duas ou mais variáveis,
e veremos que as regras do cálculo para funções de uma variável permanecem
essencialmente as mesmas.

Funções com mais de uma variável independente se apresentam mais


costumeiramente em modelos matemáticos aplicados à engenharia, por exemplo,
do que funções de uma variável. Os estudos de probabilidade, estatística, dinâmica
dos fluidos e trabalho são exemplos que conduzem, de uma maneira natural, a
funções de mais de uma variável; daí a importância do seu estudo.

2 RECORDANDO A FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL


Representamos a função de uma variável por duas variáveis x e y, sendo
que chamamos de x a variável independente da função e de y a variável dependente
da função. Assim, denotamos a relação entre as variáveis por y = f (x), deixando
explícito que y depende de x.

Exemplo 1 y = 2x + 1.

x
Exemplo 2 f (x) = 3 +
2-x

Habitualmente, ao trabalharmos com funções, um dos primeiros cuidados


que devemos ter é em relação ao conjunto domínio das funções, isto é, para que
valores reais as funções estão definidas. Então, dada uma função f(x), devemos
encontrar valores para os quais a função tenha imagem.

3
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Exemplo 3
Encontre o domínio da função f(x) =

Resolução
A função f(x) é uma função racional, pois temos a variável x no denominador.

Esta função tem dois cuidados a serem tomados em relação ao domínio.

(i) Desde que iniciamos nossos estudos com frações, sabemos que não é
possível ter zero no denominador das frações. Assim,

(ii) Temos a variável x no radicando da raiz quadrada. Como estamos


considerando f(x) uma função real, o radicando não pode assumir valores
negativos. Logo,

x² – 16 ≥ 0

Assim, juntando as condições (i) e (ii), teremos x² – 16 > 0.

Observe que temos que resolver uma inequação do 2º grau. Para isso,
consideramos inicialmente apenas a equação (igualdade) a fim de obtermos as
raízes.

x² - 16 = 0.

Determinando as raízes desta equação do segundo grau incompleta:

x² = 16
x=
x=

Analisando a função quadrática f(x) = x² - 16, sabemos que seu gráfico


corresponde a uma parábola com concavidade voltada para cima e zeros de função
em x = - 4 e x = 4. Logo, os valores de x que satisfazem a inequação são x < - 4 ou
x > 4.

Assim, D(f) = {x ∈ R | x < - 4 ou x > 4}.

4
TÓPICO 1 | FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS OU MAIS

FIGURA 1 – ANÁLISE DO SINAL DA FUNÇÃO f (x) = x² - 16, ATRAVÉS DE


SEU ESBOÇO GRÁFICO

+ +
R
–4 4

FONTE: O autor

3 FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS


Definição 1.3.1 Suponha que D seja um conjunto de pares ordenados de
números reais (x,y). Uma função real f de duas variáveis em D é uma regra que
associa um único número real z = f(x,y) a cada par ordenado (x,y) em D. O conjunto
D(f) é o domínio de f(x,y).

Os números x, y e z são denominados variáveis. Como os valores da função


f(x,y) dependem de x e de y, e os valores de z dependem da escolha de x e de y,
então x e y são denominadas variáveis independentes e z é denominada variável
dependente.

Uma função de duas variáveis é uma função cujo domínio é um subconjunto


do R2 e cuja imagem é um subconjunto de R. Uma maneira de visualizá-la é através
de um diagrama de flechas, conforme a seguir:

FIGURA 2 – DIAGRAMA DE FLECHAS REPRESENTANDO O DOMÍNIO E A IMAGEM DE


UMA FUNÇÃO DE DUAS VARIÁVEIS
y

(x, y)
f

z
x
f(x, y) 0
FONTE: O autor

5
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Exemplo 4
Dada a função que calcula o perímetro de um
x
retângulo f(x,y) = 2(x + y), calcule o valor de f (2,5).

y
Resolução
Basta substituir, em f(x,y), o x por 2, o y por 5 e calcular.
Então:
f(2,5) = 2(2 + 5)
f(2,5) = 2 · 7
f(2,5) = 14

Exemplo 5
A função T (x,y) = 60 - 2x² - 3y² representa a temperatura em qualquer
ponto de uma chapa. A temperatura oscila em relação à distância percorrida no
sentido dos eixos positivos x e y. Calcule a temperatura da chapa (Figura 3) no
ponto (3, 1) em graus Celsius.

Resolução
T (3,1) = 60 - 2 · 3² - 3 · 1²
T (3,1) = 60 - 2 · 9 - 3 · 1
T (3,1) = 39° C

FIGURA 3 – AQUECIMENTO DE UMA CHAPA


y

chapa

FONTE: O autor

Exemplo 6
Dada a função f(x,y) = x² + y², calcule f(1, - 2). .

6
TÓPICO 1 | FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS OU MAIS

Resolução
f(x,y) = x² + y²
f(1, – 2) = 1² + (–2)²
f(1, – 2) = 1 + 4
f(1, – 2) = 5

NOTA

No estudo do domínio de uma função devemos avaliar quais números reais são
possíveis atribuir para as variáveis x e y para obtermos valores reais para z = f(x,y) . Vamos
relembrar algumas restrições!

Consideremos os casos a seguir em que A e B são expressões em função de x e y.

A
Se f(x,y) = B então, necessariamente, B ≠ 0.

Se f(x,y) = , onde n é par, então, necessariamente, A ≥ 0.

Se f (x,y) = logc A com c > 0 e c ≠ 1 então, necessariamente, A > 0.

Exemplo 7
Encontre o conjunto domínio da função f (x,y) = 3x² – y² .

Resolução
Esta função não apresenta nenhuma restrição para os valores de x e y.
Portanto, D(f) = {(x, y) ∈ R2} ou D( f ) = R2.

Exemplo 8
Determine o conjunto domínio de f (x,y) = e o represente
graficamente.

Resolução
Esta função apresenta restrição para os valores de x e y, pois o radicando
3x – 2y não pode ser negativo.
3x – 2y ≥ 0
– 2y ≥ – 3x

Multiplicando ambos os membros da desigualdade por (–1) e alterando a relação


de ordem:
2y ≤ 3x
3
y≤ 2 x

7
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Portanto,

Para fazer o gráfico do conjunto domínio da função f (x, y) do exemplo


anterior, primeiro trace o gráfico de y = 3
2 x e depois determine qual a região
correspondente à desigualdade y ≤ 3 x.
2

O gráfico de y = 32 x corresponde a uma reta crescente que contém a


origem. Note que esta reta divide o plano em duas regiões. Para identificar qual
região expressa o domínio de f (x,y), atente para a desigualdade estabelecida.
Neste exemplo, como se trata de uma reta e a relação de ordem é dada pelo sinal
“≤”, então isto implica que o domínio é expresso pelos infinitos pontos que se
encontram na reta e abaixo dela.

FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO DOMÍNIO DE f.

FONTE: O autor

Exemplo 9
5x
Determine o conjunto domínio de f (x,y) = .
y – x²
Resolução
Esta função apresenta restrição para os valores de x e y, pois o denominador
y – x² não pode tornar-se nulo.

8
TÓPICO 1 | FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS OU MAIS

Então,
y – x² ≠ 0
y ≠ x²

Portanto,

5x
Para fazer o gráfico do conjunto domínio da função f (x,y) = y – x²
procedemos do mesmo modo que no exemplo anterior. A função que expressa
o domínio é dada por y ≠ x² , cuja representação no plano é uma parábola com
concavidade voltada para cima e que possui seu vértice na origem. A relação de
diferença, porém, implica que pertencem ao domínio todos os pontos do plano,
exceto os que se encontram sobre a parábola expressa pela relação y = x².

FIGURA 5 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO DOMÍNIO DE f

FONTE: O autor

Exemplo 10
Determine o conjunto domínio de f(x,y) = e o represente
graficamente.

Resolução
Esta função apresenta restrição para os valores de x e y, pois o radicando
3x² + y² – 18 não pode ser negativo.

3x² + y² – 18 ≥ 0
3x² + y² ≥ 18

9
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Dividindo ambos os membros da desigualdade por 18:

3x ² y ² 18
+ ≥
18 18 18
x² y²
6
+18 ≥ 1

x² y²
A função + = 1 representa uma elipse centrada na origem do
6 18
plano cartesiano, cujo eixo maior, definido sobre o eixo das ordenadas, é igual a
2 8,48 e cujo eixo menor, definido sobre os eixos das abscissas, é igual a 2
4,90.

Atribuídas as características geométricas da função que define o domínio,


traçamos o seu gráfico. A relação de desigualdade estabelecida é “≥”. Isto implica
que os pontos que pertencem ao domínio se encontram sobre a elipse e fora dela.

ATENCAO

Ao sentir dificuldade em caracterizar as funções quanto à sua representação


geométrica, retome os estudos realizados na disciplina de Geometria Analítica.

FIGURA 6 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO DOMÍNIO DE f

FONTE: O autor

10
TÓPICO 1 | FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS OU MAIS

Exemplo 11
Determine o conjunto domínio de f (x,y) = In (x − 3y + 1) e o represente
graficamente.

Resolução
Como In (x − 3y + 1) é definido somente quando x − 3y + 1 > 0 , então,
x − 3y + 1 > 0
x − 3y > − 1
− 3y > − x − 1

Multiplicando ambos os membros da desigualdade por (-1) e alterando a


relação de ordem:
3y < x + 1
y< x+1
3

Neste exemplo a função domínio, expressa pela desigualdade y < x + 1 ,


3
representa, no plano, uma região que se encontra abaixo da reta y = x + 1 . Observe
3
que os pontos sobre a reta não pertencem ao conjunto domínio.

FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO DOMÍNIO DE f

FONTE: O autor

11
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Exemplo 12
Determine o conjunto domínio de f (x,y) = e o represente
graficamente.

Resolução
Esta função apresenta restrição para os valores de x e y. A expressão que
representa o radicando, 4 – x² – y², não pode ser negativa.
4 – x² – y² ≥ 0
– x² – y² ≥ – 4

Multiplicando ambos os membros da desigualdade por (-1) e alterando a


relação de ordem:
x² + y² ≤ 4

O conjunto domínio da função f(x,y) = , expresso pela


desigualdade x² + y² ≤ 4, compreende os infinitos pontos interiores juntamente
com os infinitos pontos pertencentes à circunferência centrada na origem do plano
cartesiano, de raio 2.

FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO DOMÍNIO DE f

FONTE: O autor

12
TÓPICO 1 | FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS OU MAIS

3.1 GRÁFICOS DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS


Se f é uma função de duas variáveis com domínio D, então o gráfico de f é o
conjunto de todos os pontos (x,y,z) em R3 tal que z = f (x,y) e (x,y) ∈ D .

Fazer a representação gráfica das funções de duas variáveis é normalmente


complicado e requer habilidade manual. Assim, vamos recorrer ao uso de
programas computacionais matemáticos que fazem os gráficos de superfícies. O
objetivo aqui é apenas mostrar os gráficos das funções de duas variáveis e não a
construção manual dos gráficos.

Os gráficos, que você encontrará ao longo do Caderno de Estudos, foram


construídos através do Winplot, que é um software livre disponível na internet, e do
Maple 11, um software comercial que possui inúmeros recursos matemáticos.

DICAS

Caro(a) acadêmico(a)! Você pode baixar o software Winplot diretamente da internet


ou do material de apoio da disciplina no AVA.

Exemplo 13
Represente graficamente a função f (x,y) = 2 – 3x – 4y.

Resolução

FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA FUNÇÃO f (x,y) = 2 – 3x – 4y

30
20
10
0
–10
–20
–30
–5
0 2 4
–2 0
x 5 –4 y
FONTE: O autor

13
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Exemplo 14
Represente graficamente a função f (x,y) = 3x² – y².

Resolução

FIGURA 10 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA FUNÇÃO f (x,y) = 3x² – y²

FONTE: O autor

Exemplo 15
Represente graficamente a função f (x,y) .

Resolução

FIGURA 11 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA FUNÇÃO f (x,y) =

FONTE: O autor

14
TÓPICO 1 | FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS OU MAIS

Exemplo 16
Represente graficamente a função f (x,y) = sen x · sen y

Resolução

FIGURA 12 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA FUNÇÃO f (x,y) = sen x · sen y

FONTE: O autor

4 FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS


Definição 1.4.1 Seja D um subconjunto de Rn. Uma função real f de n
variáveis reais definida em D é uma relação entre D e R, que associa a cada ponto
(x1, x2,..., xn) ∈ D um único valor real z, denotado por z = f (x1, x2,..., xn).

Notação:

As variáveis (x1, x2,..., xn) são as variáveis independentes, e z é a variável


dependente. O conjunto de todos os valores possíveis de f é chamado imagem de f,
e é denotado por lm(f). Assim,

15
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Definição 1.4.2 Seja f uma função de n variáveis com domínio D. O gráfico


de f é o conjunto de todos os pontos do espaço Rn+1 dado por:

graf ( f=
) {( x ,x ,...,x , y ) ∈ R
1 2 n
n +1
, com = }
y f ( x1 ,x 2 ,...,x n ) ( x1 ,x 2 ,...,x n ) ∈ D

No caso em que n = 1 , f será uma função de uma variável e seu gráfico será
uma curva C com equação y = f (x1) .

Quando n = 2, f será uma função de duas variáveis e seu gráfico será uma
superfície S com equação z = f (x1,x2) .

Quando n = 3, não podemos esboçar o gráfico da função f, pois ele está no


espaço de dimensão 4.

Exemplo 17
Esboce o gráfico da função f (x,y) = 6 – 2x + 3y.

Resolução
Para esboçar o gráfico de uma função, temos que conhecer o domínio desta
função. O domínio desta função f é D(f) = R² e o gráfico da função f é o conjunto:

graf (f) = {(x,y,z) ∈ R³ | z = 6 – 2x + 3y}

Geometricamente, o gráfico de f representa um plano.

Vamos fazer algumas considerações sobre a função e os eixos, como se


fôssemos traçar o gráfico manualmente. Então começamos encontrando os pontos
onde o plano intercepta cada um dos três eixos coordenados.

Se na equação z = 6 – 2x – 3y fizermos:
x = 0 e y = 0, vem z = 6
x = 0 e z = 0, vem y = 2
y = 0 e z = 0, vem x = 3 .

Obtemos assim os pontos A1 = (0, 0, 6), A2 = (0, 2, 0) e A3 = (3, 0, 0), nos quais
o plano intercepta os eixos coordenados. A porção do gráfico que está no primeiro
octante está esboçada na figura a seguir.

16
TÓPICO 1 | FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS OU MAIS

FIGURA 13 – PLANO COM EIXOS COORDENADOS


z

(0,0,6)

x (0,2,0)
(3,0,0)
y
FONTE: O autor

Exemplo 18
Determine o conjunto domínio e o conjunto imagem da função f (x, y, z) =

Resolução
Esta função não apresenta restrição para os valores de x, y e z.
Assim, D(f) = R ³ (todo o espaço).
Já para o conjunto imagem, teremos apenas os reais não negativos.
Logo, Im (f) = R+ .

17
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, os principais assuntos estudados foram:

• Definição de função de diversas variáveis.

• Conjunto domínio e conjunto imagem de função.

• Representação gráfica do domínio.

• Representação gráfica das superfícies z = f (x,y) usando recurso computacional.

• Listamos algumas situações envolvendo o estudo do domínio para funções de


diversas variáveis que impõem restrições ao conjunto domínio.

• Consideremos os casos a seguir, em que A e B são expressos em função de x e y.

ü Se f (x,y) = então devemos considerar B ≠ 0.

ü Se f (x,y) = , onde n é par, então devemos considerar A ≥ 0.

ü Se f (x,y) = , onde n é par, então devemos considerar A ≥ 0 e B ≠ 0.

ü Se f (x,y) = , onde n é par, então devemos considerar B > 0.

ü Se f (x,y) = logc A com c > 0 e c ≠ 1 então devemos considerar A > 0.

18
AUTOATIVIDADE

Agora chegou a sua vez de colocar em prática o que foi estudado sobre
funções de diversas variáveis.

1 Nos problemas a seguir, calcule o valor da função nos pontos específicos:

a) f (x,y) = (x ‒ 1)² + 2xy³ ; f (2, ‒ 1); f (1,2)


3x+2y
b) f (x,y) = ; f (1,2) ; f ( ‒ 4,6)
2x+3y
c) g (x,y) = y 2 -x 2 ; g (4,5); g (‒ 1,2)
d) g (u,v) = 10u ½ v ⅔; g (16,27); g (4, ‒1331)
y x
e) f (x,y) = + ; f (1,2); f(2, ‒3)
x y

2 Nos problemas a seguir, descreva o domínio das funções e represente-o


graficamente:
5x + 2y
a) f (x,y) =
4x + 3y
b) g (x,y) = 36 - x 2 - y 2

c) f (x,y) = √ x + y ‒ 2
3x + 5y
d) f (x,y) =
x² + 2y² ‒ 4
e) f (x,y) = In (x + y ‒ 4)
exy
f) g (x,y) =
√ x ‒ 2y

19
20
UNIDADE 1
TÓPICO 2

CURVAS DE NÍVEL

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico veremos como representar uma superfície (figura
tridimensional) em um gráfico bidimensional. Talvez você já tenha visto algum
gráfico nesta situação: na prática, são chamados mapas topográficos.

Nestes mapas, uma paisagem tridimensional, como a extensão de uma


montanha, por exemplo, está representada por linhas de contorno bidimensionais
ou curvas de elevação constante, conforme pode ser visto na figura a seguir.

FIGURA 14 – MAPA DE CONTORNO DE UMA MONTANHA


E
S6 D F
C
S3 G
B
S2 H
A
S1 I

A' B' C' D' E' F' G' H' I'

FONTE: Disponível em: <http://arqaulas.wordpress.com/category/topografia>.


Acesso em: 11 jul. 2011.

O objetivo deste tópico é mostrar como reconhecer algebricamente e


geometricamente as curvas de nível. Muitas das curvas que encontraremos
correspondem a gráficos de funções já conhecidas, as quais você estudou na
disciplina de Geometria Analítica, tais como: reta, parábola, cúbica, circunferência,
elipse e hipérbole.

21
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

2 CURVAS DE NÍVEL
O conjunto de todos os pontos onde uma função f (x,y) tem um valor
constante c ∈ R é chamado de curva de nível de f.

Definição 2.3.1 Seja c um número real. O conjunto de pontos no plano


onde uma função f (x,y) tem um valor constante f (x,y) = c é chamado de curva
de nível de f.

Exemplo 1

Identifique as curvas de nível para g (x,y) = 4 ‒ x ‒ y em c = 0 e c = 6.


Represente graficamente.

Resolução
g (x,y) = c para c = 0
g (x,y) = 4 ‒ x ‒ y
0=4‒x‒y
y=4‒x
y=‒x+4

Esta função representa uma reta decrescente (coeficiente angular –1) que
intercepta o eixo y em 4.

g (x,y) = c para c = 6
g (x,y) = 4 ‒ x ‒ y
6=4‒x‒y
y=4‒6‒x
y=‒x‒2

Esta função representa uma reta decrescente (coeficiente angular –1) que
intercepta o eixo y em –2.

22
TÓPICO 2 | CURVAS DE NÍVEL

FIGURA 15 – CURVAS DE NÍVEL DE g (x,y) = 4 – x – y

FONTE: O autor

Outro exemplo que ilustra as curvas de nível é o que muitos autores


chamam de mapa de contorno, conforme figura a seguir.

FIGURA 16 – MAPA DE CONTORNO DE g (x,y) = 4 – x – y

FONTE: O autor

23
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

E
IMPORTANT

Considerando diferentes valores para a constante c, igualmente espaçados,


obtemos um conjunto de curvas de nível chamado mapa de contorno, representadas no
mesmo plano cartesiano.

Exemplo 2
Identifique as curvas de nível para f (x,y) = x² ‒ y² em c = 0, c = –3 e c = 4.
Represente graficamente.

Resolução
f (x,y) = c para c = 0
x² – y² = 0
y² = x²
y = x ou y = –x

Estas duas equações representam duas retas (Figura 17). A reta de equação
y = x representa, no plano, a bissetriz dos quadrantes ímpares, enquanto que a reta
de equação y = - x representa a bissetriz dos quadrantes pares.

f (x,y) = c para c = ‒ 3
x² ‒ y² = ‒ 3
x² y² ‒3
‒ =
‒3 ‒3 ‒3

x² y²
‒ 1
3 3 =
+

x² y²
A equação ‒ + = 1 representa uma hipérbole equilátera, com
3 3
a = b = √ 3 que tem uma concavidade voltada para cima e a outra para baixo
(Figura 17).

f (x,y) = c para c = 4
x² ‒ y² = 4

x² y² 4
‒ =
4 4 4

x² y²
‒ = 1
4 4

24
TÓPICO 2 | CURVAS DE NÍVEL

Esta equação representa uma hipérbole equilátera, com a = b = 2, centrada


na origem do plano cartesiano, com uma concavidade voltada para a direita e
outra para a esquerda (Figura 17).

FIGURA 17 – CURVAS DE NÍVEL DE f (x,y) = x² – y²

c = -3
2
c=4 c=4

c=0
y 0
c=0

-2 c = -3

-4

-4 -2 0 2 4
x
FONTE: O autor

FIGURA 18 – MAPA DE CONTORNO DE f (x,y) = x² – y²

FONTE: O autor

25
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

DICAS

Caro(a) acadêmico(a)! Para desenhar os mapas de contorno, sugiro que utilize


um software matemático, como, por exemplo, o Winplot. Na internet você encontra
diversos tutoriais sobre o Winplot, inclusive onde baixar o programa, que é freeware. Agora
tente você, identifique as curvas de nível para g (x,y) = 4 – 2x² – y² em c = 0 e c = – 2 e as
represente graficamente.

Exemplo 3
Identifique as curvas de nível para f (x,y) = √ 5 ‒ x ² ‒ y ² em c = 1 e c = 2.
Represente graficamente.

Resolução
f (x,y) = c para c = 1
√5 ‒ x ² ‒ y ² = 1
5 ‒ x² ‒ y² = 1
‒ x² ‒ y² = ‒ 4 (-1)
x² + y² = 4

Esta equação representa uma circunferência centrada na origem do plano


cartesiano, com raio igual a 2 (Figura 19).

f (x,y) = c para c = 2
√5 ‒ x ² ‒ y ² = 2
5 ‒ x² ‒ y² = 4
‒ x ² ‒ y ² = ‒ 1 ( ‒ 1)
x² + y² = 1

Esta equação representa uma circunferência centrada na origem do plano


cartesiano, com raio igual a 1 (Figura 19).

26
TÓPICO 2 | CURVAS DE NÍVEL

FIGURA 19 – CURVAS DE NÍVEL DE f (x,y) = √ 5 ‒ x ² ‒ y ²


y
3

1 2
c=

2 1
c=
x
-3 -2 -1 1 2 3

-1

-2

-3

FONTE: O autor

FIGURA 20 – MAPA DE CONTORNO DE f (x,y) = √ 5 ‒ x ² ‒ y ²


-2

-1

y
0

2
2 1 0 –1 –2
x
FONTE: O autor

27
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico fizemos análises e representações gráficas das curvas de
nível de uma função f.

• Reconhecimento algébrico das curvas de nível.

28
AUTOATIVIDADE

Agora chegou a sua vez de colocar em prática o que foi estudado sobre
funções de várias variáveis.

1 Associe as superfícies de 1 a 4 aos mapas de contorno de A a D.

(A)
3

2
(1)
1

y –2 –1 1 2 3
–1 x

–2

–3
(2)
(B)
1 3 y

0.5 2
0
1
– 0.5 x
–3 –2 –1 1 2 3
–1 –3
– 3– 2 –2 –1
–1 0 –1
0
1 2 21
33 –2

–3

29
(3) (C)
20 –3

10 –2
–1
0
0
– 10 y
1

– 20 2
– 3– 2 2 3
–1 0 0 1 3
1 2 – 1
x 3 –2 y 3 2 1 0 –1 –2 –3

(4) (D)
x
–3 –2 –1 0 1 2 3
3
2
1
y
0
–1

–3 –2 –1 2 3 –2
0 0 1
–1 2 3
–3–2 x y –3

2 Nas questões a seguir, identifique algebricamente as curvas de nível para


valores de c dados.

a) f (x,y) = x ² + y ² ‒ 9 c ∈ {‒ 4, ‒ 2, ‒ 1, 0};
b) f (x,y) = y ² ‒ x c ∈ {0, 1, 2, 3}

3 Nas questões a seguir, represente graficamente as curvas de nível das


funções. Agora, você escolherá alguns valores para c. É importante que você
faça os gráficos manualmente e, se for possível, utilize o software Winplot
para conferir ou como apoio nos estudos.

a) f (x,y) = x ² + 9y ²
b) f (x,y) = y ‒ x³
c) g (x,y) = 3 + 2x ‒ y

30
UNIDADE 1
TÓPICO 3

LIMITE E CONTINUIDADE

1 INTRODUÇÃO
O que estudaremos agora já foi estudado no Cálculo Diferencial e Integral,
onde o conceito de limite e continuidade foi empregado para função de uma
variável.

Neste tópico estenderemos o conceito de limite às funções de duas variáveis,


um conceito fundamental do cálculo do qual decorrem outros, como, por exemplo,
a noção de continuidade. Para isso, enunciaremos algumas definições de Análise
Matemática. Tente entender os conceitos e só depois avance para a próxima seção.

2 DEFINIÇÕES BÁSICAS
Definição 3.2.1 Sejam P = (x1, x2,..., xn) e A = (a1, a2,...an) pontos em Rn. A
distância entre P e A, denotada por ║ P ‒ A║, é dada por:

║ P ‒ A║ = √ (x1 ‒ a1)² + (x2 ‒ a2)² + ... + (xn ‒ an)²

Exemplo 1
Dados os pontos P = (1, ‒ 2, 3) e A = (3, 1, ‒ 2) em R³, encontre ║ P ‒ A║.

Resolução
║ P ‒ A║ = √ (1 ‒ 3)² + (‒2 ‒1)² + (3 ‒ (‒ 2))² = √ 8 u.c.

Definição 3.2.2 Sejam A = (a1, a2,..., an) ∈ Rn e r > 0 um número real. A bola
aberta de centro em A e raio r, que indicaremos por B(A; r), é definida como sendo
o conjunto de todos os pontos P = (x1, x2,..., xn), tais que ║ P ‒ A║< r, ou seja:

B(A; r) = {(x1, x2,...,xn) ∈ Rn; √ (x1 ‒ a1)² + (x2 ‒ a2)² +...+ (xn ‒ an)² <r

31
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Exemplo 2
a) Em R, a bola aberta B(a; r) é o intervalo aberto (a ‒ r, a + r).

FIGURA 21 – INTERVALO EM R

FONTE: O autor

b) Em R², a bola aberta B((a1, a2); r) representa o conjunto dos pontos internos à
circunferência de centro em (a1, a2) e raio r.

FIGURA 22 – r de A

FONTE: O autor

Definição 3.2.1 Seja S um subconjunto de Rn. Um ponto A é um ponto de


acumulação de S, se toda bola aberta de centro em A possui uma infinidade de
pontos de S, mesmo que A não necessariamente pertença a S.

Exemplo 3
Seja S = {(x,y) ∈ R² | x > 0 e y > 2}. Mostre que todos os pontos pertencentes
ao conjunto S são pontos de acumulação.

Resolução
Todos os pontos pertencentes a S são pontos de acumulação de S, pois
atendem à Definição 3.2.1. Ainda, os pontos (0,y), com y ≥ 2, e (x, 2), com x > 0, são
pontos de acumulação de S e não pertencem a S. (Figura 23).

32
TÓPICO 3 | LIMITE E CONTINUIDADE

FIGURA 23 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO CONJUNTO S


y
10
9
8

6
5
4

2
1 x

FONTE: O autor

Exemplo 4
Seja S = {(x,y) ∈ Z2 | ‒ 2 ≤ x ≤ 4 e 1 ≤ y ≤ 5}. Mostre que o conjunto S não
possui pontos de acumulação.

Resolução
Mostraremos que os pontos de S não são pontos de acumulação de S pois
não atendem à Definição 3.2.1. Para qualquer ponto P(x,y) ∈ R2, a bola aberta de
centro P e raio r < 1 não contém uma infinidade de pontos de S.

Portanto, o conjunto S não possui pontos de acumulação. (Figura 24).

FIGURA 24 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO CONJUNTO S

FONTE: O autor

33
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

3 LIMITE DE FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS


A seguir, definiremos limite de uma função de diversas variáveis.

Definição 3.3.1 Sejam f : S ⊂ Rn → R uma função, e A um ponto de acumulação


de S. Dizemos que o limite de f (X) quando X se aproxima de A é um número real L se,
dado ε > 0, existir δ > 0 tal que |f (X) – L| < ε sempre que X ∈ S e 0 < ║ X – A ║ < δ.

Neste caso, escrevemos

lim f (X) = L
x→A

O estudo de funções de três ou mais variáveis (n ≥ 3) difere pouco do estudo


de funções de duas variáveis. Desta forma, por simplicidade de apresentação, vamos
estudar as funções de duas variáveis no restante desta unidade. Começaremos
reescrevendo a definição de limite de funções de duas variáveis.

Definição 3.3.2 Sejam f : S ⊂ R2 → R uma função, e (a, b) um ponto de


acumulação de S. Dizemos que o limite de f (x,y) quando (x,y) se aproxima de (a,b)
é um número real L se, dado ε > 0, existir δ > 0 tal que

|f (x,y) – L| < ε sempre que (x,y) ∈ S e 0 < √ (x ‒ a)2 + (y ‒ b)2 < δ

Neste caso, escrevemos

lim f (x,y) = L
(x,y) → (a,b)

A definição de limite de função pode ser reformulada utilizando o conceito


de bola aberta que vimos anteriormente. De fato, escrever lim f (x,y) = L equivale
(x,y) → (a,b)
a dizer que, dado qualquer ε > 0, podemos encontrar δ > 0 tal que, para todo (x,y) ∈
B ((a,b); δ) tenhamos f (x,y) ∈ (L – ε, L + ε). A figura a seguir ilustra, no caso de uma
função f : A ⊂ Rn → R, a definição de limite.

FIGURA 25 – FUNÇÃO f : A ⊂ Rn → R

A ⊂ Rn f

L+ε
L
L–ε
P₀

FONTE: Disponível em: <http://www.icmc.usp.br/~cmmendes/CalculoII/


Calculo2Diferencia%E7%E3o.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2011.

34
TÓPICO 3 | LIMITE E CONTINUIDADE

Exemplo 5
Usando a definição de limite, mostre que lim (4x – 3y) = 5.
(x,y) → (2,1)

Resolução
Devemos mostrar que ∀ ε > 0, ∃ δ > 0 tal que (4x ‒ 3y) ‒ 5 < ε sempre que
║(x,y) ‒ (2,1)║< δ

Com o objetivo de encontrar o δ desejado, trabalharemos com a desigualdade


que envolve ε . Assim, usando propriedades do valor absoluto, podemos escrever:

(4x ‒ 3y) ‒ 5=4x ‒ 3y ‒ (8 ‒ 3)


=4x ‒ 8 ‒ 3y + 3
=4x ‒ 8 ‒ (3y ‒ 3)
=4 (x ‒ 2) ‒ 3(y ‒ 1)
≤ 4x ‒ 2+ 3 y ‒ 1

Como 0 < √ (x ‒ 2)2 + (y ‒ 1)2 < δ podemos escrever x ‒ 2 ≤


√ (x ‒ 2)2 + (y ‒ 1)2 < δ e y ‒ 1 ≤ √ (x ‒ 2)2 + (y ‒ 1)2 < δ, temos que 4x ‒ 2 +
3y ‒ 1< 4 δ + 3 δ.

ε
Assim, tomando δ = , temos(4x ‒ 3y) ‒ 5≤ 4x ‒ 2+ 3y ‒ 1<
7
ε ε
4
7 +3 · 7
= ε sempre que 0 < √ (x ‒ 2)2 + (y ‒ 1)2 < δ.

Portanto, lim (4x ‒ 3y) = 5


(x,y) → (2,1)

Teorema 3.3.1 Sejam f : S ⊂ R2 → R uma função de duas variáveis, S1 e S2


subconjuntos de S e (a,b) um ponto de acumulação de S1 e S2. Se f (x,y) tem limites
diferentes quando (x,y) tende (a,b) através dos pontos de S1 e S2 então lim f (x,y)
não existe. (x,y) → (a,b)

ATENCAO

Lembre-se de que o fato de o ponto (a,b) ser um ponto de acumulação de S1 e


S2 não significa que (a,b) ∈ S1 ∩ S2 .

Exemplo 6
5xy
Usando a definição de limite, mostre que lim não existe.
(x,y) → (2,1) x + y2
2

35
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Resolução
Observemos que o conjunto domínio de f é R2 ‒ (0,0). Para mostrar que o
limite não existe, usaremos o Teorema 3.3.1.

Consideremos o conjunto de retas que passam pela origem {y = kxk ∈ R,


(x,y) ∈ R2}.

Calculando f (x,y) com y = kx, temos

5xkx
f (x,kx) =
x2 + (kx)2

5kx 2
=
x2 (1+ k2)

5k
=
1+ k2

5k
Então, lim f (x, kx) = lim
(x,y) → (0,0) (x,y) → (0,0) 1+ k2

Assim, o limite de f depende do percurso do ponto (x,y) quando ele tende


à origem. Por exemplo, considere k = 0 e k = 1 (dois caminhos diferentes).

5.1 5 5.0
lim f (x,x) = lim = e lim f (x,a) = =0
(x,y) → (0,0) (x,y) → (0,0) 1+12 2 (x,y) → (0,0) 1 + 02

Note que f assume um valor constante sobre cada reta que passa pela
5k
origem. De fato, para cada coeficiente angular k ∈ R, f (x,kx) = , qualquer que
1+k2
seja x ∈ R, corroborando, assim, o cálculo do limite desenvolvido anteriormente.
5xy
Portanto, concluímos através do Teorema 3.3.1 que lim não
(x,y) → (0,0) x + y2
2
existe.

O teorema a seguir é muito parecido com o que já foi visto em cálculo nas
propriedades de limites de funções de uma variável.

Teorema 3.3.2 Se lim f (x,y) = L e lim g (x,y) = M, e c ∈ R então:


(x,y) → (a,b) (x,y) → (a,b)

36
TÓPICO 3 | LIMITE E CONTINUIDADE

Vamos utilizar este teorema nos exemplos a seguir.

Exemplo 7

Calcule

Resolução

Exemplo 8

Calcule

Resolução

Temos lim (x3 ‒ x2y) = 0 e lim (x2 ‒ y2) = 0.


(x,y) → (2,2) (x,y) → (2,2)

Neste caso, temos uma indeterminação do tipo 0. Para resolver o limite,


0
fatoram-se o numerador e denominador fazendo as simplificações possíveis, como
fazíamos com limites indeterminados, no caderno de Cálculo Diferencial e Integral.

Então,

37
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

4 CONTINUIDADE DE FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS


Você se recorda da definição de continuidade estudada na disciplina de
Cálculo Diferencial e Integral? Agora estudaremos esta definição aplicada às
funções de diversas variáveis. Acompanhe a seguir:

Definição 3.4.1 Sejam f : S ⊂ R2 → R uma função e (a,b) ∈ S um ponto


de acumulação de S. Dizemos que f é contínua no ponto (a,b) se as seguintes
condições forem satisfeitas:

(i) f está definida no ponto (a,b)


(ii) lim f(x,y) existe;
(x,y) → (a,b)

(iii) lim f(x,y) = f(a,b).


(x,y) → (a,b)

Quando uma ou mais destas condições não é satisfeita, dizemos que a


função é descontínua no ponto (a,b).

Dizemos que f é contínua, se f for contínua em todos os pontos do domínio de f.

Exemplo 9

Considere a função de duas variáveis f(x,y) = 3x + y2 .

a) Mostre que f é contínua no ponto (2, 3).

b) Mostre que f é contínua.

38
TÓPICO 3 | LIMITE E CONTINUIDADE

Resolução

a) Precisamos verificar se a função satisfaz as três condições da Definição 3.4.1.

(i) f (2,3) = 3.2 + 32 = 15


(ii) lim f(x,y) = lim (3x + y2) = 3.2 + 32 = 15
(x,y) → (2,3) (x,y) → (2,3)

(iii) lim (3x + y2) = f (2,3)


(x,y) → (2,3)

Logo, f é contínua no ponto (2, 3).

b) Seja (a,b) ∈ D (f) = R2


lim f(x,y) = lim (3x + y2) = 3a + b2 = f (a,b).
(x,y) → (a,b) (x,y) → (a,b)

Como (a,b) é um ponto qualquer, segue que f (x,y) é contínua.

Exemplo 10

Verifique se a função f (x,y) = In (xy + 3x) é contínua no ponto (3,2).

Resolução

Verificaremos se a função satisfaz as três condições da Definição 3.4.1.

Logo, f é contínua no ponto (3, 2).

39
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Exemplo 11

Verifique se a função f (x,y) = é contínua no ponto (3,3).

Resolução

Precisamos verificar se a função satisfaz as três condições da Definição 3.4.1.

(i) f (3,3) = 5, pois x = y

(ii) = ∞, portanto o limite não existe.

(iii) Como lim f(x,y) ≠ f(3,3), concluímos que a função é descontínua no ponto (3,3).
(x,y) → (3,3)

Teorema 3.4.1 Se g(x) for contínua em a e h(y) for contínua em b, então f(x,y) =
g(x) · h(y) é contínua em (a,b).

Teorema 3.4.2 Se h(x, y) for contínua em (a,b) e g(u) for contínua em u = h


(a,b), então a composição f(x,y) = g(h(x,y)) é contínua em (a,b).

Exemplo 12
Use o Teorema 3.4.1 para mostrar que a função f(x,y) = 7x3y5 é contínua.

Resolução

Os polinômios g(x) = 7x3 e h(y) = y5 são contínuos em cada ponto da reta real.

Logo, pelo Teorema 3.4.1, a função f(x,y) = 7x3 y5 é contínua em cada ponto
(x,y) do plano xy, ou seja, f(x,y) é contínua.

Exemplo 13
Use o Teorema 3.4.2 para mostrar que a função f(x,y) = cos (7x3 y5) é contínua.

Resolução
Como h(x,y) = 7x3 y5 é contínua em cada ponto do plano xy e g(u) = cos u é
contínua em cada ponto u da reta real, segue do Teorema 3.4.2 que a composição
f(x,y) = cos (7x3 y5) é contínua em todo R2.

40
RESUMO DO TÓPICO 3
Caro(a) acadêmico(a)! Neste tópico os principais assuntos estudados
foram:

• O conceito de limite de função de diversas variáveis.

• Definição de função contínua e suas propriedades. É importante saber analisar


se uma função é contínua ou não.

• Destacamos a Definição 3.4.1, que trata da continuidade. Lembre que, se


f : S ⊂ R2 → R é uma função, e (a,b) ∈ S é um ponto de acumulação de S, dizemos
que f é contínua no ponto (a,b) se as seguintes condições forem satisfeitas:

(i) f está definida no ponto (a,b);

(ii) lim f(x,y) existe;


(x,y) → (a,b)

(iii) lim f(x,y) = f(a,b).


(x,y) → (a,b)

Lembre-se de que, se uma destas condições não for satisfeita, a função é


descontínua em (a,b).

41
AUTOATIVIDADE

Agora chegou a sua vez de colocar em prática o que foi estudado sobre
limite e continuidade de funções de diversas variáveis.

1 Use a definição de limite para mostrar que lim (2x + 6y) = 12


(x,y) → (3,1)

2 Nos exercícios a seguir, calcule os limites.

a) lim (x2y3 ‒ 2xy + 4).


(x,y) → (2, ‒1)
x + 4y
b) lim
(x,y) → (2, ‒1) 2x2 + 3xy

c) lim x3 + 2x2 + xy2 + 2y2


(x,y) → (0,0) x2 + y2
d) lim x ‒ xy
2

(x,y) → (0,0)
√x + √y
x 2y
3 Mostre que lim não existe.
(x,y) → (0,0) x + y2
4

4 Determine o conjunto dos pontos de continuidade de f (x,y) = 3x2 + y2 +5.


4x 2 ‒ 3x + y
5 Verifique se a função f(x,y) = é contínua no ponto (1,3).
x2 + y2 ‒ 1

6 Verifique se a função f(x,y) =


{ xy
5x + y 2
2
, (x,y) ≠ (0,0)

0, (x,y) = (0,0)
é contínua.

42
UNIDADE 1
TÓPICO 4

DERIVADAS PARCIAIS

1 INTRODUÇÃO
Você se recorda das regras de derivação estudadas na disciplina de Cálculo
Diferencial e Integral?

Aqui veremos como elas se aplicam às funções de duas variáveis


independentes, que permitem uma visualização gráfica, possibilitando um
entendimento, de maneira simples, do conceito de derivadas parciais. Os resultados
aqui obtidos podem ser generalizados para os casos de funções com um número
maior de variáveis.

As regras de derivação que você aprendeu na disciplina de Cálculo


Diferencial e Integral serão utilizadas neste momento novamente.

2 RELEMBRANDO ALGUMAS REGRAS DE DERIVAÇÃO


Se u é uma função real e c, α ∈ R, então:

(c)′ = 0 (eu)′ = eu ⋅ u ′
(c ⋅ u)′ = c ⋅ u′ (sen u)′ = cos u ⋅ u ′
(u α)′ = α ⋅ u α−1 ⋅ u′ (cos u)′ = −sen u ⋅ u ′

Exemplo 1
Se f(x) = 5x3 − 4x + 3ex − 5, então f ′(x) = 15x2 − 4 + 3ex.

Lembre-se que se y = f (x), então a taxa de variação de y em relação a x é


dada pela derivada de f em relação a x, que é definida por

f(x + Δx) − f(x)


f ′(x) = lim
Δx → 0 Δx

43
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

3 DERIVADAS PARCIAIS
Nesta seção estudaremos sobre as derivadas parciais. Acompanhe!

3.1 DERIVADAS PARCIAIS DE UMA FUNÇÃO DE DUAS VARIÁVEIS


A definição de derivada parcial de uma função de duas variáveis é parecida
com a enunciada para funções de uma variável, sendo utilizadas as mesmas regras
de derivação. A diferença aqui é que, como se tem duas variáveis, uma delas deve
ser mantida fixa enquanto se dá acréscimos para a outra, conforme veremos nas
definições a seguir.

Definição 4.3.1.1 Seja f : A ⊆ R2 → R uma função de duas variáveis. As


∂f ∂f
derivadas parciais de f em relação a x e a y são funções e definidas por
∂x ∂y

∂f f (x + h,y) ‒ f (x,y)
= lim
∂x h → 0 h

∂f f (x,y + h) ‒ f (x,y)
= lim
∂y h → 0 h

desde que os limites existam.

O símbolo “∂” chama-se “D-rond” (pronuncia-se derron), que significa


D-redondo, em francês. Esta notação é apenas um outro tipo de simbologia
para a derivada que, quando trabalhamos com funções de uma variável, era
representada por “d”. É conveniente ter essa maneira distinta de estender a
notação diferencial de Leibniz para um contexto de diversas variáveis, pois
aqui não tem sentido falarmos simplesmente em derivada, apenas em derivadas
parciais.

Existem outras notações para representar as derivadas parciais. Se z = f (x,y),
denotamos:

∂f ∂z
= fx (x,y) = = Dx f
∂x ∂x

∂f ∂z
= fy (x,y) = = Dy f
∂y ∂y

44
TÓPICO 4 | DERIVADAS PARCIAIS

ATENCAO

Preste muita atenção na simbologia de derivada. Quando estamos derivando


dy
uma função de uma variável, por exemplo, y = f (x), então a derivada é identificada por .
dx
Mas quando estamos derivando uma função de duas ou mais variáveis, por exemplo, z = f

(x,y), então as derivadas são identificadas por ∂ z e ∂ z .


∂x ∂y

Exemplo 2

Aplicar a definição para achar ∂f e ∂f para f (x,y) = 3x2 ‒ 2xy.


∂x ∂y

Resolução

∂f f (x + h,y) ‒ f (x,y)
= lim
∂x h → 0 h

3 (x + h)2 ‒ 2 (x + h)y ‒ 3x2 + 2xy


= lim
h →0 h

3x2 + 6xh + 3h2 ‒ 2xy ‒ 2hy ‒ 3x2 + 2xy


= lim
h →0 h

6xh + 3h2 ‒ 2hy


= lim
h →0 h

h (6x + 3h ‒ 2y)
= lim
h →0 h

= lim 6x + 3h ‒ 2y
h →0

= 6x ‒ 2y.

∂f f (x,y + h)‒ f (x,y)


= lim
∂y h → 0 h

45
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

3x2 ‒ 2x (y + h) ‒ 3x2 + 2xy


= lim
h →0 h

3x2 ‒ 2xy ‒ 2xh ‒ 3x2 + 2xy


= lim
h →0 h
‒ 2xh
= lim
h →0 h
= lim (‒ 2x)
h →0

= ‒ 2x.

∂f ∂f
Logo, obtemos = 6x ‒ 2y e = ‒ 2x.
∂x ∂y

Exemplo 3
Encontre as derivadas parciais de f (x,y) = 5x3 ‒ 4xy + 3exy³ ‒ 5.

Resolução
Para encontrar a derivada parcial de f em relação a x, devemos olhar para
a variável y da função f como uma constante, e derivamos apenas a variável x, ou
seja, aplicaremos as regras de derivação somente na variável x.

∂f
= 5 ∙ 3x2 ‒ 4 ∙ 1 ∙ y + 3exy³ ∙ 1 ∙ y3 ‒ 0
∂x
= 15x2 ‒ 4y + 3y3 exy³

De forma análoga, para derivar parcialmente f em relação a y, devemos


olhar para a variável x da função f como uma constante, e derivamos apenas a
variável y, ou seja, aplicaremos as regras de derivação somente na variável y.

∂f
= 0 ‒ 4x ∙ 1 + 3exy³ ∙ x ∙ 3y2 ‒ 0
∂y
= ‒ 4x + 9xy2 exy³

Exemplo 4
Encontre as derivadas parciais de f (x,y) = 3x2 ‒ xy + y.

Resolução
Derivando f em relação a x, (lembre-se de considerar y como constante)

∂f
= 6x ‒ y
∂x

46
TÓPICO 4 | DERIVADAS PARCIAIS

E derivando f em relação a y, (agora considere x como constante)

∂f
=‒x+1
∂y

Exemplo 5
Encontre as derivadas parciais de f (x,y) = ex ‒ y ‒ ey ‒ x.

Resolução
∂f
= ex ‒ y ∙ 1 ‒ ey ‒ x ∙ (‒ 1)
∂x
= ex ‒ y + ey ‒ x

∂f
= ex ‒ y ∙ (‒ 1) ‒ ey ‒ x ∙ 1
∂y
= ex ‒ y ‒ ey ‒ x

Exemplo 6
Calcule as derivadas parciais de f (x,y) = (x + y) sen (x ‒ y).

Resolução
Observe que a função f é um produto de outras duas funções u e v. Assim,
lembramos que (u ⋅ v)′ = u ′ ⋅ v + u ⋅ v ′

∂f
= 1.sen(x ‒ y) + (x + y) ∙ 1 ∙ cos (x ‒ y)
∂x

= sen (x ‒ y) + (x + y) ∙ cos (x ‒ y)

∂f
= 1∙ sen (x ‒ y) + (x + y) ∙ (‒1) ∙ cos (x ‒ y)
∂y
= sen (x ‒ y) ‒ (x + y) ∙ cos (x ‒ y)

Exemplo 7
Calcule as derivadas parciais de f (x,y) = exy + In (x2 + y).

Resolução
∂f 2x
= y e xy + 2
∂x x +y
′ u′
Utilizamos a regra ( ln u ) =
u
∂f 1
= x e xy + 2
∂y x +y
47
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Até aqui, estivemos preocupados com o cálculo da derivada parcial de


uma função em relação a uma de suas variáveis. Isso quer dizer que calculamos a
derivada ao longo de uma curva sem ponto fixado. Passemos a ver como se calcula
a derivada fixando um ponto da superfície.

Se (x0, y0) for um ponto do domínio de uma função f (x,y), o plano vertical
y = y0 cortará a superfície z = f (x,y) na curva z = f (x, y0). (Figura 26)

Definição 4.3.1.2 A derivada parcial da função f em relação à variável x é


∂f
representada por e é definida num ponto P (x0, y0) do domínio por:
∂x

∂f (x , y ) = lim f (x0 + Δ x, y0) ‒ f (x0, y0)


0 0 Δx → 0
, se este limite existir.
∂x Δx

FIGURA 26 – FUNÇÃO f (x,y)


z

Eixo vertical no
plano y = y₀
P(x₀, y₀, f (x₀, y₀))
z = f (x,y)
A curva z = f (x,y0)
no plano y = y₀

Reta tangente

0
x₀
y₀
x
(x₀, y₀) y
(x₀ + h, y₀)
Eixo horizontal no plano y = y₀
FONTE: Disponível em: <http://www.matematiques.com.br/download.
php?tabela=documentos&id=646>. Acesso em: 7 jul. 2011.

Se (x0, y0) for um ponto do domínio de uma função f (x,y), o plano vertical
x = x0 cortará a superfície z = f (x,y) na curva z = f (x,y0). (Figura 27)

Definição 4.3.1.3 A derivada parcial da função f em relação à variável y é


∂f
representada por e é definida num ponto P (x0, y0) do domínio por:
∂y
∂f (x , y ) = lim f (x0, y0 + Δ y ) ‒ f (x0, y0) , se este limite existir.
0 0 Δx → 0
∂y Δy

48
TÓPICO 4 | DERIVADAS PARCIAIS

FIGURA 27 – FUNÇÃO f (x,y)


z

Eixo vertical no
plano x = x₀
Reta tangente

P(x₀, y₀, f (x₀, y₀))

z = f (x,y)

x₀ y₀

x
(x₀, y₀)
y
(x₀, y₀ + k)
A curva z = f (x, y0) Eixo horizontal
no plano x = x₀ no plano x = x₀

FONTE: Disponível em: <http://www.matematiques.com.br/download.


php?tabela=documentos&id=646>. Acesso em: 7 jul. 2011.

Exemplo 8
Sendo f (x,y) = 2x2y – 4y3, calcule ∂f , ∂f , ∂f (3,1), ∂f (3,1).
∂x ∂y ∂x ∂y

Resolução

∂f ∂f
= 2 ⋅ 2x ⋅ y – 0 (3,1) = 4 ⋅ 3 ⋅ 1 = 12
∂x ∂x
∂f
= 4xy
∂x

∂f ∂f
= 2x 2 ⋅ 1 – 4 ⋅ 3y 2 (3,1) = 2 ⋅ 32 – 12 ⋅ 12
∂y ∂y
∂f ∂f
= 2x 2 – 12y 2 (3,1) = 2 ⋅ 9 – 12 ⋅ 1 = 18 – 12 = 6
∂y ∂y

Exemplo 9

Sendo f (x,y) =
{ 5xy
2x + 3y
, se (x,y) ≠ (0,0)

0, se (x,y) = (0,0)
, calcule ∂f e ∂f .
∂x ∂y

49
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Resolução
Nos pontos (x,y) ≠ (0,0), podemos aplicar as regras de derivação. Assim,
temos

∂f 5y · (2x + 3y) ‒ 5xy · 2


=
∂x (2x + 3y)2

10xy + 15y 2 ‒ 10xy


=
(2x + 3y)2

15y 2
=
(2x + 3y)2

∂f 5x · (2x + 3y) ‒ 5xy · 3


=
∂y (2x + 3y)2
10x2
=
(2x + 3y)2

Para calcularmos as derivadas de f na origem, usamos a definição de


derivada parcial,

∂f (0,0) = lim
∂x h →0
( f (0 + h , 0 ) ‒ f (0,0)
h (
= lim
h →0
( ( 5h · 0
2h
h
‒0
= 0.

∂f (0,0) = lim
∂y h →0
( f (0,0 + h) ‒ f (0,0)
h (
= lim
h →0
( ( 5·0·h
3h
h
‒0
= 0.

Assim, obtemos as derivadas parciais da função f com relação a x e com


relação a y em todos os pontos (x,y) do domínio.

50
TÓPICO 4 | DERIVADAS PARCIAIS

3.2 INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA


A interpretação das derivadas parciais é análoga à interpretação da
derivada simples. Sabemos que, para a função y = f (x), a derivada f ′ (x0) pode ser
interpretada ou como a taxa de variação de y em relação a x no ponto x0 ou como a
inclinação da reta tangente ao gráfico de f no ponto x0.

Para interpretar as derivadas parciais, consideramos a função z = f (x,y) e


∂f
as suas derivadas parciais no ponto (x0, y0). Vamos interpretar (x , y ): suponha
∂x 0 0
que C1 é a interseção da superfície z = f (x,y) com o plano y = y0 (o que equivale a
∂f
considerar y como constante). Geometricamente, (x , y ) pode ser interpretada
∂x 0 0
como a inclinação da reta tangente à curva C1 no ponto (x0, y0) que se denota por
∂f
(x , y ) = tg α.
∂x 0 0

Da mesma forma, supondo C2 a interseção da superfície z = f (x,y) com


o plano x = x0 (o que equivale a considerar x como constante), interpretamos
∂f (x , y ),geometricamente, como a inclinação da reta tangente à curva C no ponto
0 0 2
∂y ∂f
(x0, y0) que se denota por (x , y ) = tg b. Veja na Figura 28 a situação descrita
∂y 0 0
anteriormente.

∂f
A derivada parcial (x , y ) também pode ser interpretada como a taxa de
∂x 0 0 ∂f
variação de z em relação a x ao longo da curva C1. E a derivada parcial (x , y )
∂y 0 0
também pode ser interpretada como a taxa de variação de z em relação a y ao longo
da curva C2. Assim, estes valores representam a velocidade com que z cresce (ou
decresce) quando apenas uma variável está sendo alterada.

FIGURA 28 – INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA DAS DERIVADAS PARCIAIS

c₂ c₁

y₀
x₀ y
b

x α

FONTE: Disponível em: <http://www.matematiques.com.br/download.


php?tabela=documentos&id=646>. Acesso em: 7 jul. 2011.

51
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Exemplo 10
A função T (x,y) = 60 ‒ 2x2 ‒ 3y2 representa a temperatura em qualquer ponto
de uma chapa. Encontre a razão de variação da temperatura em relação à distância
percorrida ao longo da chapa na direção dos eixos positivos x e y, no ponto (1, 2).
Considere a temperatura medida em graus Celsius, e a distância em cm.

Resolução

∂T ∂T
= 0 ‒ 2 ⋅ 2x = ‒ 4x (1, 2) = ‒ 4 ⋅ 1 = ‒ 4°C / cm
∂x ∂x
Assim, podemos interpretar o valor ‒ 4°C / cm obtido na derivada em x da
seguinte forma: a temperatura está diminuindo 4°C à medida que x aumenta uma
unidade.

∂T ∂T
= 0 ‒ 2 · 3y = ‒ 6y (1, 2) = ‒ 6 · 2 = ‒ 12°C / cm
∂y ∂y
Assim, o valor ‒ 12°C / cm significa que a temperatura diminui 12°C à
medida que y aumenta uma unidade.

Exemplo 11
Suponha que D = √ x 2 + y 2 é o comprimento da diagonal de um retângulo,
cujos lados têm comprimentos x e y que são permitidos variar. Determine uma
fórmula para a taxa de variação de D em relação a x, se x varia, com y considerado
constante, e utilize esta fórmula para determinar a taxa de variação de D em relação
a x no ponto x = 3 e y = 4.

Resolução
A fórmula para a taxa de variação de D em relação a x é

D = √x 2 + y 2

D = (x 2 + y 2)½

∂D 1 2
= (x + y 2)-½ (2x)
∂x 2
∂D x
=
∂x √ x + y 2
2

A taxa de variação instantânea de D em relação a x, no ponto (3, 4), é

∂D 3 3
(3, 4) = =
∂x √3 + 4
2 2 5

3
Assim, D aumenta a uma taxa de de unidade para cada unidade de
aumento de x no ponto (3, 4). 5

52
TÓPICO 4 | DERIVADAS PARCIAIS

4 GENERALIZAÇÃO
Na seção anterior estudamos as derivadas parciais de funções de duas
variáveis. Agora vamos generalizar este conceito para as derivadas parciais de
funções de n variáveis reais.

Definição 4.4.1 Seja f : A ⊆ Rn → R uma função de n variáveis, e seja x = (x1, x2,..., xn)
∈ A. Definimos a derivada parcial de f no ponto x em relação a xi por

∂f f (x1 ,..., xi + h,..., xn ) − f (x1 ,..., xn ) , quando esse limite existir.


(x) = lim
∂xi h →0 h

Definição 4.4.2 Seja f : A ⊂ Rn → R uma função de n variáveis e seja B ⊆ A o


∂f
conjunto formado por todos os pontos x tais que (x) existe. Definimos a função
∂xi
derivada parcial de 1ª ordem de f em relação a xi como a função que a cada x ∈ B associa

o número
∂f
∂xi ∂x i
h→0 (
(x) dado por ∂f (x) = lim f (x1,..., xi + h,..., xn) ‒ f (x1,..., xi ,..., xn) .
h (
Exemplo 12
Calcule as derivadas de primeira ordem da função f (x, y, z) = 1 + xy 2 ‒ 2z3.

Resolução
Ao derivar f em relação a x, lembre-se de considerar y e z como constantes

∂f
= y2
∂x
Derivando f em relação a y, (agora considere x e z como constantes)

∂f
= 2xy
∂y
E derivando f em relação a z, (considere x e y como constantes)

∂f
= ‒ 6z2
∂z

Exemplo 13
Calcule as derivadas de primeira ordem da função f (x, y, z) = yz In (xy).

Resolução
Observe primeiramente que a função é dada por um único termo e teremos
que usar as regras do produto e do logaritmo natural.

53
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Derivando f em relação a x (considere y e z como constantes). Como a


variável x aparece apenas no logaritmando, usaremos a regra do logaritmo natural.

∂f y yz
= yz ∙ =
∂x xy x

Derivando f em relação a y (considere x e z como constantes).

Como a variável y aparece no fator que multiplica o logaritmo e também


no logaritmando, então aplicaremos a regra do produto junto à regra do logaritmo
natural.

∂f x
= z In (xy) + yz · = z In (xy) + z
∂y xy

E derivando f em relação a z (considere x e y como constantes), a variável z


aparece apenas no fator que multiplica o logaritmo, então aplicaremos a regra da
derivada simples em z.

∂f
= y In (xy).
∂z

5 DERIVADAS PARCIAIS DE ORDEM SUPERIOR


∂f ∂f
As derivadas parciais e são funções de x e y, e assim, elas mesmas
∂x ∂y
podem ter derivadas parciais. Com isso, teremos outras quatro derivadas parciais,
estas de segunda ordem de f, as quais são definidas por:

Exemplo 14
Sendo f (x,y) = y2 ex + 5y, calcule as derivadas parciais de segunda ordem de f.

54
TÓPICO 4 | DERIVADAS PARCIAIS

Resolução

∂f ∂f
=y e
2 x
= 2y ex + 5
∂x ∂y
Para fazermos as derivadas parciais de segunda ordem, vamos derivar
parcialmente cada uma das derivadas de primeira ordem em relação a x e a y.
Fique atento(a) à notação!

Exemplo 15
Sendo f (x,y) = x2 cos y + y2 sen x, encontre as derivadas parciais de segunda
ordem de f.

Resolução

55
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Exemplo 16
Encontre as derivadas parciais de segunda ordem de f (x,y) = √ x + 3y .

Resolução
Primeiro, devemos escrever a função na forma de potência.
f (x,y) = (x + 3y)½
Observe que devemos aplicar a regra da potência para a derivação
(u α)′ = α u −1 u′.
α

Exemplo 17
Dada a função f (x,y) = x3y + 4x2y3, calcule:

a) ∂ f ; b) ∂ f c) ∂ f d) ∂ f
2 2 3 3

∂y∂x ∂x 2
∂x∂y∂x ∂y∂x2

56
TÓPICO 4 | DERIVADAS PARCIAIS

Resolução

∂2 f ∂  ∂f  ∂f
a) =   b) = 3 x 2 y + 8 xy 3
∂y∂x ∂y  ∂x  ∂x
∂2 f ∂2 f
=
∂y∂x ∂y

(
3 x 2 y + 8 xy 3 ) ∂x 2
= 6 xy + 8 y 3

∂2 f
= 3 x 2 + 24 xy
y2
∂y∂x

∂f ∂f
c) = 3 x 2 y + 8 xy 3 d) = 3 x 2 y + 8 xy 3
∂x ∂x
∂2 f ∂2 f
= 3 x 2 + 24 xy 2 2
= 6 xy + 8 y 3
∂y∂x ∂x
∂3 f ∂3 f
= 6 x + 24 y 2 2
= 6 x + 24 y 2
∂x∂y∂x ∂y∂x

UNI

Talvez você tenha percebido nos exemplos que as derivadas mistas de segunda ordem
∂2f e ∂2f são iguais. Será que isto ocorre sempre?
∂x∂y ∂y∂x

Respondendo à pergunta. A igualdade entre as derivadas parciais mistas


ocorre quando a função f (x,y) e suas derivadas parciais ∂ f , ∂ f , ∂ f e ∂ f forem
2 2 2 2

todas contínuas, fato este que nem sempre ocorre. ∂x2 ∂x∂y ∂y∂x ∂y2

UNI

∂2 f ∂2 f
Caro(a) acadêmico(a), mostre que
∂x∂y
( 0, 0 ) = 0 e
∂y∂x
( 0 , 0 ) = 1, considerando a
 xy 3
 , se ( x , y ) ≠ ( 0 , 0 )
função f ( x , y ) =  x 2 + y 2

 0 , se ( x , y ) = ( 0 , 0 )

57
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

Este fato se repete para função de três variáveis, isto é, teremos a igualdade
∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f ∂2 f ∂ 2f
das seis derivadas parciais mistas = , = e = se f
∂x∂y ∂y∂x ∂x∂z ∂z∂x ∂y∂z ∂z∂y
(x, y, z) e todas as suas derivadas parciais de primeira e segunda ordem forem
contínuas.

UNI

Verifique se, de fato, as derivadas mistas são iguais para a função f (x, y, z) = x y2z3
+ 3 yz.

Teorema 4.5.1 (Teorema de Schwarz) Suponhamos que f seja uma função de


duas variáveis, x e y , definida em bola aberta B, com derivadas parciais de segunda
∂2 f ∂ 2f
ordem contínuas em B. Então (a, b) = (a, b) , para todo (a, b) ∈ B.
∂x∂y ∂y∂x

Como consequência do teorema, se a função z = f (x,y) tem todas as derivadas


parciais contínuas em uma bola aberta, então a ordem da derivada não importa. Por
exemplo:

UNI

A seguir, apresentaremos a biografia de dois grandes matemáticos: Johann


Bernoulli e Leonhard Euler, que, entre outros, também contribuíram bastante para o
desenvolvimento do cálculo diferencial e integral.

58
TÓPICO 4 | DERIVADAS PARCIAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

JOHANN BERNOULLI (1667-1748)

Johann Bernoulli, irmão de Jacques Bernoulli, nasceu no dia 27 de julho


na Basileia. Seus pais, Nicolaus e Margaretha Bernoulli, queriam que ele fosse
comerciante ou médico. Johann pode ter sido influenciado quando criança pelo
seu irmão Jacques, que já estava na carreira matemática.

Em 1682, com 15 anos de idade, trabalhou no comércio durante um ano,


porém não gostou da atividade. Em 1683 ingressou na Universidade da Basileia
para estudar Medicina, apesar de ter sempre gostado de Matemática. Quatro anos
depois seu irmão foi nomeado professor de Matemática na Universidade e, de 1687
a 1690, Johann e Jacques Bernoulli estudaram juntos as teorias de Leibniz sobre o
Cálculo. Na época, essas teorias não tinham sido compreendidas por nenhum outro
matemático e os irmãos Bernoulli foram os primeiros a estudá-las. Os dois irmãos
e Leibniz iniciaram uma série de artigos publicados na Acta Eruditorum, dando
origem à difusão do Cálculo Leibniziano, tornando-o amplamente conhecido.

Em 1691, Johann foi à França, onde conheceu o marquês de L’Hospital.


O marquês interessou-se pelo novo Cálculo e ofereceu um bom salário para que
Johann lhe ensinasse. O acordo permitia ao marquês usar todo o conteúdo ensinado
como o desejasse. A consequência disso foi a importante contribuição de Johann
Bernoulli, conhecida como Regra de L’Hospital, publicada pelo marquês em seu
primeiro livro sobre Cálculo, em 1696. No prefácio do livro, L’Hospital fez menção
a Johann Bernoulli, mas não lhe atribuiu o famoso teorema. Só depois da morte
do marquês, Johann contestou a autoria, porém havia perdido a credibilidade no
assunto, devido às desavenças públicas, principalmente com seu irmão Jacques
Bernoulli. Esse reconhecimento só aconteceu em 1922, quando encontraram uma
cópia do curso na Basileia.

59
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

A determinação da equação da catenária foi o primeiro problema importante


resolvido por Johann Bernoulli, em 1691. Esse problema existia há mais de 50
anos e Galileo, em 1636, sugerira uma solução. Em 1646, Huygens provou que
a solução de Galileo era falsa, mas também não conseguiu resolver o problema.
A catenária é a forma assumida por uma corda ou corrente suspensa livremente
por dois pontos. O problema era determinar sua equação. Utilizando o Cálculo
Leibniziano, Johann Bernoulli resolveu o problema e esse foi o primeiro sucesso
público do novo Cálculo.

Em 1694 ele estudou as curvas exponenciais y = ax e y = xx. Para Bernoulli,


a integração era a operação inversa da diferenciação. Tal concepção permaneceu
até a época de Cauchy.

Johann teve três filhos: Nicolaus (1695-1726), Daniel (1700-1782) e Johann


(1710-1790). Todos eles foram matemáticos e Daniel produziu um trabalho sobre
Hidrodinâmica conhecido como Princípio de Bernoulli.

Johann nunca chegou a publicar seu livro sobre o Cálculo, porém


escreveu sobre a isócrona, sólidos de resistência mínima, trajetórias, problemas
isoperimétricos, conseguindo tal reconhecimento pelo seu trabalho que, após
a morte de seu irmão em 1705, foi chamado para ocupar a cadeira dele na
Universidade de Basileia.

Johann Bernoulli morreu no dia 1º de janeiro de 1748, na Basileia.

FONTE: E-CÁLCULO. Mapa da história: Leibniz. Disponível em: <http://ecalculo.if.usp.br/historia/


bernoulli1.htm>. Acesso em: 10 jun. 2008.

EULER, LEONHARD (1707-1783)

60
TÓPICO 4 | DERIVADAS PARCIAIS

Nascido na Basileia, Suíça, Leonhard Euler foi a figura matemática


dominante do seu século e o matemático mais prolífico de que se tem notícia. Era
também astrônomo, físico, engenheiro e químico. Foi o primeiro cientista a dar
importância ao conceito de função, estabelecendo desse modo uma base sólida
para o desenvolvimento do cálculo e de outras áreas da matemática. A coleção
completa dos livros e trabalhos de Euler (mais de 870 artigos e livros) chega a mais
de 80 volumes. Ele contribuiu enormemente no campo da geometria analítica, da
trigonometria, do cálculo e da teoria dos números.

Ainda jovem, Euler demonstrou um futuro promissor como matemático,


apesar de seu pai preferir que estudasse teologia. Felizmente, Johann Bernoulli
convenceu o pai a permitir que Euler se concentrasse no estudo da matemática.
Graduou-se pela Universidade da Basileia, defendendo uma tese em que
comparava o trabalho de Descartes ao de Newton. Euler conseguiu uma posição
em São Petersburgo e durante alguns anos foi médico na Marinha russa. Em 1733
tornou-se professor de Matemática na Academia de Ciências de São Petersburgo.
Em 1736 publicou a obra Mechanica, em dois volumes, na qual aplicou
sistematicamente o cálculo à matemática de uma massa e incorporou muitas
equações diferenciais novas à mecânica. Em 1738 ele perdeu a vista direita. Em
1741 conseguiu uma posição como diretor matemático da Academia de Ciências
de Berlim. Lá desenvolveu alguns trabalhos, como a tradução e a melhoria de
Principles of Gunnery, de Robin; a publicação de Scienia navalis em 1749 e Letters
to a german princess, de 1768 a 1772; e o ensino de Lagrange por correspondência.
Em 1766, Euler retornou à Rússia a convite de Catarina, a Grande. Em 1771,
perdeu a visão no olho esquerdo, ficando completamente cego. Seu trabalho foi
do cálculo e da análise à medida que publicou sua trilogia, Introductio in analysin
infinitorum, Institutiones calculi differentialis e Institutiones calculi integralis. Esses
trabalhos, que perfaziam um total de seis volumes, fizeram da função uma parte
central do cálculo e tratavam de álgebra, trigonometria, geometria analítica e
teoria dos números. Por meio desses tratados, Euler influenciou grandemente o
ensino da matemática. Diz-se que todos os livros didáticos de cálculo desde 1748
são essencialmente cópias de Euler ou cópias de cópias dele. Algumas de suas
contribuições para as equações diferenciais são as seguintes: a redução da ordem,
o fator integrante, coeficientes indeterminados, a teoria das equações lineares de
segunda ordem e soluções das séries de potências. Ele também incorporou o
cálculo vetor e as equações diferenciais em seus trabalhos.

Euler deu à geometria analítica moderna e à trigonometria o que o livro


Elements, de Euclides, deu à geometria, e a tendência resultante de apresentar
a matemática e a física em termos matemáticos prosseguiu desde então. Euler
enriqueceu a matemática com muitos conceitos técnicos e notações ainda em uso
nos dias de hoje. Ele deu ordem ao caos da notação matemática. Estabeleceu a
maior parte da notação que utilizamos hoje (seno, co-seno, e, "pi", "i", sigma, f
para função). A contribuição de Euler para a teoria dos números e para a física
foi igualmente impressionante. Em sua obra Theoria motus corporum solidorum
seu rigidorum (Theory of the motions of rigid bodies), de 1765, ele fundou as bases da
mecânica contínua e da teoria lunar. Sua influência no campo da física matemática

61
UNIDADE 1 | FUNÇÕES DE DIVERSAS VARIÁVEIS

foi tão difusa que a maior parte das descobertas não é creditada a ele. No entanto,
temos as equações de Euler para a rotação de um corpo rígido, fluxo de um fluido
ideal incompressível, flexão de vigas elásticas e carregamentos para empenamento
de colunas. "Ele calculava sem esforço aparente, como os homens respiram, ou
como as águias se sustentam no vento". Euler foi o Shakespeare da matemática
universal, ricamente detalhista e incansável.

Teoremas principais: adição de séries; teorema das pontes de Königsberg.

Principais obras:  Introductio in analysin infinitorum; Institutiones calculi


differentialis; Institutiones calculi integrali; Theoria motus corporum solidorum seu
rigidorum; Mechanica; Letters to a German princess.

FONTE: GUIA para a história do Cálculo: Euler, Leonhard. Disponível em: <http://cwx.prenhall.
com/bookbind/pubbooks/thomas_br/chapter1/medialib/custom3/bios/euler.htm>. Acesso em:
17 jul. 2011.

62
RESUMO DO TÓPICO 4
Caro(a) acadêmico(a)! Neste tópico foram estudadas as derivadas parciais.

• Você deve ter percebido que o seu cálculo é similar ao cálculo de derivadas
simples, a diferença está no fato de ter, agora, duas variáveis e ter que derivar a
função em termos de uma delas enquanto a outra é considerada como constante.
Ou seja, ∂f estamos derivando f (x,y) em relação a x considerando y como
constante.∂x

• A derivada parcial
∂f
(x , y ) é a inclinação da reta tangente à curva da superfície
∂x 0 0
z = f (x,y) no plano vertical y = y0.

∂f
• Analogamente, (x , y ) é a inclinação da reta tangente à curva da superfície
∂y 0 0
z = f (x,y) no plano vertical x = x0.

63
AUTOATIVIDADE

Agora chegou a sua vez de colocar em prática o que foi estudado sobre
derivadas parciais.

1 A função T (x,y) = 60 ‒ 2x2 ‒ 3y2 representa a temperatura em qualquer ponto de


uma chapa. Foram calculadas as derivadas parciais no ponto (2, 3) e chegou-
∂z ∂z
se aos resultados (2, 3) = ‒ 8 e (2, 3) = ‒ 18. Dê os significados para
∂x ∂y
os dois valores obtidos com as derivadas parciais no ponto (2, 3).

∂f ∂f
2 Nos exercícios a seguir, calcule as derivadas parciais e das funções:
a) f (x,y) = 2x2 ‒ 3y ‒ 4 ∂x ∂y
b) f (x,y) = (x2 ‒ 1) (y + 2)
c) f (x,y) = (xy ‒ 1)2
1
d) f (x,y) =
x+y
e) f (x,y) = ex+y+1
f) f (x,y) = In (2x + y)

3 Calcule as derivadas parciais de segunda ordem ∂ f , ∂ f , ∂ f e ∂ f das


2 2 2 2

funções a seguir: ∂x2 ∂x∂y ∂y∂x ∂y 2


a) f (x,y) = e3x sen y
b) f (x,y) = xey + y + 1

64
UNIDADE 2

DIFERENCIABILIDADE E
INTEGRAIS MÚLTIPLAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Nessa unidade vamos:

• conhecer os principais conceitos que envolvem derivadas de funções de


várias variáveis;
• aplicar a regra da cadeia nas derivadas parciais;
• calcular implicitamente as derivadas de funções de várias variáveis;
• entender o conceito de diferenciabilidade;
• entender o conceito de vetor gradiente e saber calculá-lo;
• entender o conceito de derivada direcional e saber calculá-la;
• calcular os mínimos e máximos locais de funções de várias variáveis;
• resolver problemas envolvendo minimização e maximização de funções
de várias variáveis;
• aplicar o conceito de integrais múltiplas;
• calcular as integrais múltiplas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos, apresentando os conceitos e a
utilização das derivadas parciais e também a integração de funções de várias
variáveis. Dando continuidade ao estudo da unidade anterior, seguimos com a
regra da cadeia e a derivação implícita de funções de várias variáveis, resolven-
do diversos exemplos para auxiliá-lo(a) na compreensão e resolução dos exer-
cícios propostos no final de cada tópico como você já está habituado em nossos
cadernos de estudos. Nos tópicos seguintes, continuamos explorando outros
conceitos e aplicações relacionados com as derivadas parciais tais como: dife-
renciabilidade de uma função de várias variáveis, diferencial, vetor gradiente,
derivadas direcionais, extremos locais e problemas envolvendo a otimização
(minimização e maximização) de funções de várias variáveis. Encerramos esta
unidade com o estudo das integrais múltiplas que é a integração de funções de
várias variáveis. Esperamos que este material possa auxiliá-lo em seus estudos.

TÓPICO 1 – REGRA DA CADEIA E DERIVAÇÃO IMPLÍCITA

TÓPICO 2 – DIFERENCIABILIDADE E GRADIENTE

TÓPICO 3 – MÁXIMOS E MÍNIMOS DE FUNÇÕES DE VÁRIAS


VARIÁVEIS

TÓPICO 4 – INTEGRAIS MÚLTIPLAS

65
66
UNIDADE 2
TÓPICO 1

REGRA DA CADEIA E DERIVAÇÃO IMPLÍCITA

1 INTRODUÇÃO
A regra para funções compostas é tradicionalmente chamada de regra da
cadeia. Nesta seção, vamos apresentar a regra da cadeia para funções de várias
variáveis.

2 REGRA DA CADEIA
Inicialmente, consideramos dois casos específicos de funções de duas
variáveis e em seguida, apresentamos a regra da cadeia generalizada.

Teorema 1.2.1 (Regra da Cadeia – derivada total) Suponha que z = f (x,y)


seja uma função diferenciável de x e y, onde x = x (t) e y = y (t) são funções
diferenciáveis de t. Então a função z = f (x(t), y (t)) é uma função diferenciável de t e

dz ∂z dx ∂z dy
= ⋅ + ⋅
dt ∂x dt ∂y dt

FIGURA 29 – DIAGRAMA DA ÁRVORE PARA A REGRA DA CADEIA

z
∂z ∂z
∂x ∂y

x y
dx dy
dt dt

t t

FONTE: O autor

67
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Exemplo 1
Sejam z = f (x,y) = 4x 3 y2, x = t 4 e y = 3t 2

Resolução
Começamos calculando as derivadas parciais

∂z ∂z
= 12x2y2 = 8x 3y
∂x ∂y

e em seguida calculamos as outras derivadas

∂x dy
= 4t 3 = 6t
∂t dt

Aplicamos a regra da cadeia, substituindo as derivadas calculadas


anteriormente:

Substituindo x = t 4 e y = 3t 2 na expressão acima temos


dz
= 12(t 4)2 (3t 2)2 ∙ 4t 3 + 8(t 4)3 ∙ 3t 2 ∙ 6t
dt
= 144t 15 + 144t 15

= 288t 15.

Exemplo 2
Sejam z = f (x,y) = In (3x 2 + y), x = t + 1 e y = 5t.

∂z
a) Calcule usando a regra da cadeia.
∂t
b) Determine a função composta z = f (t + 1,5 t) e calcule dz .
dt

Resolução

a) Aplicaremos a regra da cadeia

u′
Sabendo que y = In u ⇒ y ′ = , calcularemos separadamente
u
.

68
TÓPICO 1 | REGRA DA CADEIA E DERIVAÇÃO IMPLÍCITA

Agora aplicamos

Substituindo x = t + 1 e y = 5t na expressão anterior, temos

dz 6(t + 1) + 5
=
dt 3(t + 1)2 + 5t
ou seja,
dz 6t + 11
=
dt 3(t + 1)2 + 5t

b) A função composta é
z = f (t + 1,5 t)
z = In (3(t + 1)2 + 5 t).

A derivada de z em relação a t (calculada a partir desta expressão) é

dz 3.2(t + 1) + 5
=
dt 3(t + 1)2 + 5t

dz 6t + 11
=
dt 3(t + 1)2 + 5t

UNI

Compare os resultados obtidos nos itens (a) e (b) do Exemplo 2. A facilidade do


uso da regra da cadeia está em derivar funções “menores” e posteriormente, na substituição,
ter menos trabalho algébrico.

69
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Exemplo 3
Sejam z = x2 + 2xy + y2, x = cos t e y = sen t. Determine dz .
dt
Resolução
Usando a regra da cadeia:

dz ∂z . dx ∂z . dy
= +
dt ∂x dt ∂y dt
= (2x + 2y) (‒ sen t) + (2x + 2y) (cos t)
= (2x + 2y) (cos t ‒ sen t)
= 2(cos t + sen t) (cos t ‒ sen t),
ou seja,

dz 2(cos2 t ‒ sen2 t).


=
dt

Vimos no Teorema 1.2.1 como aplicar a regra da cadeia no caso da derivada


total quando a função tem duas variáveis independentes. Vamos generalizar esta
derivada total para funções com mais de duas variáveis.

Se a função tiver mais de duas variáveis, representaremos por f (x1, x2, x3,... xn),
onde x1(t ), x2(t ), x3(t ), ... xn (t ) são funções de t. Sua derivada em relação a t é dada pela
regra da cadeia:

Como a derivada acima possui muitas parcelas, é possível reescrever a


regra usando o somatório

Exemplo 4
Dada a função f (x,y,z) = 3x ‒ 2y 3 + z2, onde x = sen t, y = e2t e z = 4t 2 ‒ 3,
encontre a derivada de f com relação a t.

Resolução
Usando a regra da cadeia

70
TÓPICO 1 | REGRA DA CADEIA E DERIVAÇÃO IMPLÍCITA

df ∂f dx ∂f dy ∂f dz
= ⋅ + ⋅ + ⋅
dt ∂x dt ∂y dt ∂z dt
∂ d ∂ d 2t ∂ d
=
∂x
( dt
)
3 x − 2 y 3 + z 2 ⋅ ( sen t ) +
∂y
(
3x − 2 y 3 + z 2 ⋅
dt
) ( )
e +
∂z
(
3x − 2 y 3 + z 2 ⋅
dt
) (
4t 2 − 3 )
= 3 ( cos t ) + −6 y 2( )( 2e ) + 2z ⋅ 8t
2t

= 3 cos t − 12 y 2 e 2 t + 16 zt

( ) ( )
2
os t − 12 e 2 t
= 3 co e 2 t + 16 4t 2 − 3 t
= 3 cos t − 126 t + 64t 3 − 48t

ou seja,

df 2
= 3 cos t − 12 e 4 t + 2 t + 64t 3 − 48t
dt

Exemplo 5
A que taxa está crescendo a área de um retângulo se seu comprimento é de
8 cm e está crescendo a uma taxa de 0,5 cm/s enquanto que sua largura é de 6 cm
e está crescendo 0,2 cm/s?

Resolução
A área de um retângulo pode ser escrita como A (x,y) = xy, consideremos
x o comprimento e y a largura. Através do enunciado, percebe-se que devemos
dA dx dy
calcular , já que as outras taxas dadas são: = 0,5 e = 0,2 . O cálculo da
dt dt dt
derivada deve ser feito para o ponto de coordenadas (8, 6).

Como a área está em função de duas variáveis x e y, e estas por sua vez
estão relacionadas ao tempo através da regra da cadeia, temos:

Calculamos as derivadas parciais para A (x,y) = xy, obtendo:


∂A ∂A
=y =x
∂x e ∂y

Substituindo na regra da cadeia,


dA
= y · 0,5 + x · 0,2
dt
= 6 ⋅ 0,5 + 8 ⋅ 0,2
= 4,6

71
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

dA
Dizer que = 4,6 cm2/s significa que a área de um retângulo de dimensões
dt
8x6, está crescendo 4,6 cm2 a cada segundo.

Exemplo 6
Uma peça cilíndrica tem 12 cm de raio e 18 cm de altura. Se o raio diminuir
à razão de 0,02 cm/s e a altura aumentar à razão de 0,03 cm/s, então determine a
taxa de variação do volume em relação ao tempo.

Resolução
Sejam r e h o raio e a altura de uma peça cilíndrica, respectivamente, e seja t
o tempo em segundos. Podemos interpretar as taxas dadas como derivadas

dr dh
= −0 , 02 e = +0 , 03 no instante em que r = 12 e h = 18.
dt dt
dV
Queremos calcular nesse instante. Para isso, usamos a fórmula V (r, h)
dt
= pr 2h do volume do cilindro para obter:

dV ∂V . dr ∂V . dh
= +
dt ∂r dt ∂h dt

= 2prh . dr + pr 2. dh
dt dt

Substituindo os dados na regra da cadeia, temos:

dV 2p12 . 18 . (‒0,02) + p122 . 0,03


=
dt
= ‒ 8,64p + 4,32p
= ‒ 4,32p

Portanto, dV = ‒4,32p cm3/s significa que o volume de um cilindro de 12


cm de raio e 18 cmdtde altura, está diminuindo 4,32p cm3 a cada segundo.

Teorema 1.2.2 (Regra da cadeia para derivadas parciais) Suponha que z = f


(u,v) seja uma função diferenciável de u e v, onde u = u (x,y) e v = v (x,y) são funções
diferenciáveis de x e de y. Então z = f (u(x,y),v(x,y)) é uma função de x e y, e:

Vamos construir um esquema, denominado de diagrama da árvore, para


melhor compreensão e execução da regra da cadeia. Proceda da seguinte forma:

72
TÓPICO 1 | REGRA DA CADEIA E DERIVAÇÃO IMPLÍCITA

I) Trace um diagrama em árvore, exprimindo as relações entre as variáveis


envolvidas.
II) Para cada ramificação da árvore, determine a derivada parcial com relação a estas
variáveis.
III) Multiplique as derivadas determinadas em cada passo, ao longo do caminho.
IV) Some as contribuições de cada caminho.

FIGURA 30 – DIAGRAMA DA ÁRVORE PARA A REGRA DA CADEIA PARA


DERIVADAS PARCIAIS

Z
∂z ∂z
∂u ∂v

U V
∂u ∂u ∂v ∂v
∂x ∂y ∂x ∂y

x y x y

FONTE: O autor

Exemplo 7
∂z ∂z
Se z = f (u,v) = eu cos v, onde u = xy e v = x + y 2, determine e usando
∂x ∂y
a regra da cadeia.

Resolução
∂z ∂f ∂u ∂f ∂v
= ⋅ + ⋅
∂x ∂u ∂x ∂v ∂x

∂ u ∂ ∂ u ∂
=
∂u
( ∂x
)
e cos v ⋅ ( xy ) +
∂v
e cos v ⋅(∂x
x + y2 ) ( )
= e u cos v ⋅ y − senv ⋅ e u .1

( ) (
= e xy  y cos x + y 2 − sen x + y 2 
  )
e

∂z ∂f ∂u ∂f ∂v
= ⋅ + ⋅
∂y ∂u ∂y ∂v ∂y

73
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Teorema 1.2.3 (Regra da cadeia generalizada) Suponha que w = f (u1, u2,..., un)
seja uma função diferenciável de n variáveis u1, u2,..., un, onde cada uj é uma função
diferenciável de m variáveis, x1, x2,..., xm. Então w é uma função de x1, x2,..., xm e

para cada i = 1, 2, ..., m.

Exemplo 8
Suponha que todas as funções sejam diferenciáveis w = f (x, y, z), x = x (r, θ,
∂w ∂w ∂w
γ), y = y (r, θ, γ) e z = z (r, θ, γ). Determine , e .
∂r ∂θ ∂γ

Resolução
Aplicando o Teorema 1.2.3 temos

Exemplo 9
∂z ∂z
Utilize a regra da cadeia para encontrar as derivadas parciais e para
∂s ∂t
as funções z = x2 + xy + y2, x = s + t e y = st.

Resolução
Aplicando o Teorema 1.2.2 temos:

74
TÓPICO 1 | REGRA DA CADEIA E DERIVAÇÃO IMPLÍCITA

3 DERIVAÇÃO IMPLÍCITA
Vimos no estudo das funções de uma variável (no Caderno de Estudos da
disciplina de Cálculo Diferencial e Integral) que uma equação do tipo F (x,y) = 0
define y implicitamente como uma função diferenciável de x, ou seja, y = f (x). Nesta
seção, vamos estudar a derivação parcial de funções dadas de forma implícita.
Consideraremos duas situações específicas.

Suponhamos que a função y = f (x) seja definida implicitamente pela equação


∂F
F (x,y) = 0. Se f e F são funções diferenciáveis e
∂y
( x, f ( x )) ≠ 0 , então podemos
dy
encontrar a derivada derivando ambos os lados da equação F (x,y) = 0 em
dx
relação a x. Usando a regra da cadeia temos,

∂F dx ∂F dy
⋅ + ⋅ =∈
0.
∂x dx ∂y dx

∂F dx
Como
∂y
( x, f ( x )) ≠ 0 e
dx
1 , segue
=∈

∂F dy ∂F dx
⋅ =− ⋅
∂y dx ∂x dx

∂F
dy − ∂x .
= ∈
dx ∂F
∂y

A situação colocada anteriormente pode ser escrita sob condição da função


F estar definida em uma bola aberta, conforme estamos tratando as funções de
duas variáveis. A seguir veremos como aplicar a derivada implícita neste contexto.

75
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Se F é definida numa bola aberta contendo (a,b), onde F (a,b) = 0, ∂F = (a,b) ≠ 0


∂y
∂F ∂F
e e são funções contínuas nessa bola, então a equação F (x,y) = 0 define y
∂x ∂y
como uma função de x perto do ponto (a,b), e a derivada dessa função é dada pela
fórmula obtida anteriormente.

Essa relação nos dá um caminho mais simples para encontrar derivadas de


funções definidas implicitamente.

Teorema 1.3.1 Suponha que F (x,y) seja diferenciável e que a equação


F (x,y) = 0 define y como uma função diferenciável de x. Então em qualquer
ponto onde ∂F ≠ 0,
∂y

Exemplo 10
Supondo que a função y = f (x) é definida implicitamente pela equação
In (x y) + 2x3 = 4y, determine sua derivada dy .
2

dx

Resolução
A equação dada pode ser escrita da seguinte forma:
F (x,y) = In (x2y) + 2x3 ‒ 4y = 0.

Calculando as derivadas parciais temos

∂F 2xy 6x2 2
= + = + 6x2
∂x x2 y x
e
∂F x2 1
= 2 ‒4= ‒4
∂y x y y

Aplicando a fórmula do Teorema 1.3.1 obtemos

76
TÓPICO 1 | REGRA DA CADEIA E DERIVAÇÃO IMPLÍCITA

Vamos ver como fica o Teorema da Função Implícita para funções de duas
variáveis independentes.

Suponhamos que a função z = f (x,y) seja dada implicitamente pela equação F


∂F
(x,y,z) = 0. Se f e F são funções diferenciáveis e (x, y, f (x,y)) ≠ 0, podemos aplicar a
∂z
regra da cadeia para obter as ∂z e ∂z . Derivando os dois membros da equação F
∂x ∂y
(x,y,z) = 0 em relação a x, temos

Mas ∂ (x) = 1 e ∂ (y) = 0, portanto


∂x ∂x

De modo semelhante, obtém-se:

Como no caso anterior, estamos assumindo que a equação F (x,y,z) = 0


define z implicitamente como função de x e y. Outra versão do Teorema da Função
Implícita fornece as condições para que a hipótese seja válida.

Teorema 1.3.2 Suponha que F (x,y,z) seja continuamente diferenciável e que


z = f (x,y) é uma função diferenciável que satisfaz a equação F (x,y,z) = 0. Então em
∂F
qualquer ponto (x,y,z) onde ≠ 0,
∂z
77
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Exemplo 11
∂z ∂z
Determine e se x4 + y4 + z4 = 5xyz ‒ 2.
∂x ∂y
Resolução
A equação x4 + y4 + z4 = 5xyz ‒ 2 pode ser escrita da seguinte forma:
F (x,y,z) = x4 + y4 + z4 ‒ 5xyz + 2 e esta função é continuamente diferenciável.

Vamos calcular as derivadas parciais de F.

Então, pelo Teorema 1.3.2, temos:

Exemplo 12
Suponha que a função diferenciável z = f (x,y) seja definida pela equação
xy + zez = 0.

Resolução

78
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você viu que:

• Se a função tiver mais de duas variáveis, representaremos por f (x1, x2, x3..., xn),
onde x1(t), x2(t), x3(t), ... xn(t), são funções de t, então a sua derivada em relação a
“t” é dada pela regra da cadeia

• Se z = f (x,y) é uma função das variáveis x e y que dependem de duas outras


variáveis, digamos, u e v. Então:
z = f (x(u, v), y (u, v))
é uma função composta de u e v. Dizemos que u e v são as variáveis independentes.

• Se w = f (u1, u2,..., un) é uma função diferenciável de n variáveis u1, u2,..., un,
onde cada uj é uma função diferenciável de m variáveis, x1, x2,..., xm. Então
w é uma função de x1, x2,..., xm e

para cada i = 1, 2, ..., m.

∂z ∂z
• A derivada implícita é usada para encontrar as derivadas parciais e
∂x ∂y
quando z estiver definida implicitamente por uma equação F (x,y,z) = 0. Então em
qualquer ponto (x, y, z) onde ∂F ≠ 0,
∂z

79
AUTOATIVIDADE

Agora chegou a sua vez de colocar em prática o que foi estudado sobre
diferenciabilidade de funções de várias variáveis.

1 Considere as funções f (x,y) = 4y ‒ 3x2, x (t) = t3 ‒ 1 e y (t) = 1 ‒ t3.

Calcule a função composta z = f (x(t), y(t)).

Encontre dz usando a função composta.


dt
dz
Encontre usando a regra da cadeia.
dt
∂z ∂z
2 Use a regra da cadeia para determinar e , sabendo que z = u 2 + v 2,
∂x ∂y
u=x ‒y ev=e .
2 2 2xy

3 Determine a derivada da função implícita f tal que y = f (x) está definida pela
equação x4 ‒ y + 4xy3 ‒ 78 = 0.
∂z ∂z
4 Se x3 ‒ xy + 4xz ‒ 5 = 0, calcular e usando a regra de derivação de função
∂x ∂y
implícita.

5 Mostre que a equação F (x,y) = x2y + sen y = 0 define implicitamente uma


função derivável y = f (x).

6 O raio da base de um cone circular reto está aumentando a uma taxa de


3 cm/s e a altura está diminuindo a uma taxa de 2 cm/s. A que taxa está
variando o volume do cone no instante em que a altura é igual a 20 cm e o
raio é igual a 14 cm?

7 Um carro A está viajando para o norte na rodovia 16, e um carro B está


viajando para o oeste na rodovia 83. Os dois carros se aproximam da
interseção dessas rodovias. Em certo momento, o carro A está a 0,3 km
da interseção viajando a 90 km/h, ao passo que o carro B está a 0,4 km da
interseção viajando a 80 km/h. Qual a taxa de variação da distância entre os
carros nesse instante?
∂z ∂z
8 Determine e se xyz3 = cos (x + y + z).
∂x ∂y

∂z ∂z
9 Determine e se yz = In (x + z).
∂x ∂y

80
UNIDADE 2 TÓPICO 2

DIFERENCIABILIDADE E GRADIENTE

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos estender o conceito de diferenciabilidade de função de
uma variável às funções de duas variáveis. Esse conceito tem consequências muito
importantes no cálculo, assim como nos problemas de otimização que estudaremos
no próximo tópico. Também será estudado o vetor gradiente e as derivadas
direcionais, conceitos que possuem grande aplicabilidade nas engenharias.

2 DIFERENCIABILIDADE
Vamos então introduzir o conceito de diferenciabilidade, que entre outras
propriedades, garante a continuidade da função. Introduziremos este importante
assunto por analogia com o conceito de diferenciabilidade de funções de uma
variável.

Considere uma função f de uma variável real. Dizer que f é diferenciável

em x = x0 significa que o existe, ou seja, é um número real. Em

outras palavras, f é diferenciável em x0 quando existe um número real denotado

por f ′ (x0), tal que

Podemos reescrever este limite da seguinte forma:

81
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

que é equivalente a

Assim, f é diferenciável em x0 se existir um número real, f ′ (x0), tal que

Neste caso, se uma função é derivável num ponto, ela é contínua no ponto.

Com isso temos condições de apresentar a definição de diferenciabilidade


de função de duas variáveis.

Definição 2.2.1 Seja f : A ⊂ R2 → R uma função definida no conjunto aberto


A. Dizemos que f é diferenciável no ponto (x0, y0) ∈ A, se as derivadas parciais
∂f
(x0, y0) e ∂f (x0, y0) existem e se
∂x ∂y

Quando f é diferenciável em todos os pontos de seu domínio, dizemos que


f é diferenciável.

Da Definição 2.2.1 podemos destacar alguns pontos:

• Para provar que uma função é diferenciável em (x0, y0) usando a definição,
devemos mostrar que as derivadas parciais existem em (x0, y0) e, além disso, que
o limite

• Se uma das derivadas parciais não existe no ponto (x0, y0), f não é diferenciável
no ponto (x0, y0).

82
TÓPICO 2 | DIFERENCIABIBLIDADE E GRADIENTE

• Se o limite

for diferente de zero ou não existir, f não será diferenciável no ponto (x0, y0) mesmo
se existirem as derivadas parciais nesse ponto.

Exemplo 1
Use a Definição 2.2.1 para mostrar que f (x,y) = 5x + 2y é diferenciável.

Resolução
Seja (x0, y0) ∈ D (f ) = R 2. Para mostrar que f é diferenciável em (x0, y0) devemos
mostrar que ∂f (x0, y0) e ∂f (x0, y0) existem e que o limite da Definição 1.2.1 é zero.
∂x ∂y

A função f tem derivadas parciais em (x0, y0) e são dadas por


∂f (x , y ) = 5 e ∂f (x , y ) = 2.
∂x 0 0 ∂y 0 0
Agora,

Como (x0, y0) é um ponto qualquer em R 2, temos que f é diferenciável.

Teorema 2.2.1 Se f é diferenciável em A ⊂ R2 então f é contínua em cada


ponto de A.

Exemplo 2

Verifique se a função f (x, y) = é contínua no ponto (3,3).

83
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Resolução
Precisamos verificar se a função satisfaz as três condições da Definição 3.4.1
(Unidade 1).

(i) f (3,3) = 5, pois x = y.

(ii) portanto este limite

não existe.

Como concluímos que a função é descontínua no

ponto (3,3). Mostramos que f é descontínua no ponto (3,3), portanto pelo Teorema
2.2.1 f não é diferenciável em (3,3).

Nem sempre é fácil usar a Definição 2.2.1 para verificar a diferenciabilidade


de uma função. O teorema a seguir fornece uma condição suficiente para que uma
função seja diferenciável.

∂f ∂f
Teorema 2.2.2 Se as derivadas parciais e existem em algum conjunto
∂x ∂y
aberto A contendo (x0, y0) e são contínuas em (x0, y0), então f (x,y) é diferenciável
em (x0, y0).

Exemplo 3
Mostre que a função f (x,y) = cos (xy) é diferenciável em todo R2.

Resolução
Para mostrar que f é diferenciável, aplicaremos o Teorema 2.2.2. Para isso,
calcularemos as derivadas parciais.

∂f ∂f
= ‒y . sen(xy) e = ‒x . sen(xy)
∂x ∂y

Temos que as derivadas parciais são contínuas em todo ponto (x,y) ∈ R2.

Logo, pelo Teorema 2.2.2, a função f (x,y) é diferenciável em todo ponto de R2.

Exemplo 4
Os polinômios (funções polinomiais) em várias variáveis são claramente
diferenciáveis em todo ponto de Rn.

Exemplo 5
Verifique se a função f (x,y) = x2 ‒ 3y2 é diferenciável em R2.

84
TÓPICO 2 | DIFERENCIABIBLIDADE E GRADIENTE

Resolução
A função f tem derivadas parciais em todos os pontos de R2 e são dadas
∂f ∂f
por = 2x e = ‒6y.
∂x ∂y

As derivadas parciais são contínuas, pois são funções polinomiais.

Portanto, f é diferenciável em R2.

Exemplo 6
Verifique se a função g (x,y) = ex+y é diferenciável em R2.

Resolução
A função g tem derivadas parciais em todos os pontos de R2. Estas são
∂g ∂g
dadas por = ex+y e = ex+y.
∂x ∂y

Daí segue que as funções derivadas parciais são contínuas em R2.

Portanto, g é diferenciável em R2.

3 DIFERENCIAL
Suponha que saibamos o valor de uma função derivável em um ponto
(x0,y0) e que desejamos prever a variação que esse valor sofrerá se formos para um
ponto x0 + dx. Como os valores da reta são mais simples de calcular, o cálculo da
variação da reta nos oferece um modo prático de estimar a variação em f conforme
podemos observar na Figura 31.

FIGURA 31 – REPRESENTAÇÃO GEOMÉTRICA DA DIFERENCIAL DA FUNÇÃO DE UMA


VARIÁVEL
y

y₀ + ∆y

C ∆y

A a
y₀
dx B

a
x
0 x₀ ∆x x₀ + ∆x
FONTE: Disponível em: <http://www.slideshare.net/rafaelmmoreira/unifei-clculo-1-
exerccios-aula-25>. Acesso em: 23 jun. 2011.

85
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Dessa definição decorre que ∆y representa a variação da altura da curva


y = f (x).

Nesta seção, vamos definir a diferencial de uma função de duas variáveis


z = f (x,y), e veremos que esta representa uma boa aproximação para o acréscimo
da variável z quando os acréscimos das variáveis independentes são pequenos.

Se z = f (x,y), então o incremento (aumento ou diminuição) de z é ∆z = f (x + ∆x, y


+ ∆y) ‒ f (x,y).

Definição 2.3.1 Seja z = f (x,y) uma função diferenciável. A diferencial de


∂z ∂z
f, denotada por df ou dz, é dada por dz = dx + dy, onde dx e dy são as
∂x ∂y
diferenciais das variáveis independentes x e y respectivamente.

A diferencial dz também é chamada de diferencial total de f (x,y), a mesma


que estudamos no tópico anterior.

Se nos movermos de (x0,y0) para um ponto (x0 + ∆x, y0 + ∆y) próximo, a


∂f ∂f
variação resultante é dada por df (x0,y0) = (x0,y0) dx + (x0,y0) dy.
∂x ∂y

Exemplo 7
Calcule a diferencial dz da função z = 4x2y3 ‒ 3y2 + 6.

Resolução
Para calcular a diferencial de z temos primeiro que calcular as derivadas
∂z ∂z
parciais = 8xy3 e = 12x2y2 ‒ 6y.
∂x ∂y

Pela Definição 2.3.1 temos


∂z ∂z
dz = dx + dy
∂x ∂y
dz = 8xy3 dx + (12x2y2 ‒ 6y) dy.

Exemplo 8
Calcule a diferencial de f (x,y) = x2 + y2 no ponto (1,2).

Resolução
A diferencial de f no ponto (1,2) é dada por
∂f ∂f
dz = (1,2) dx + (1,2) dy
∂x ∂y

∂f ∂f
Como (1,2) = 2 e (1,2) = 4, temos
∂x ∂y
dz = 2dx + 4dy.

86
TÓPICO 2 | DIFERENCIABIBLIDADE E GRADIENTE

Podemos estimar a variação com diferenciais. Suponha que conheçamos os


valores de uma função diferenciável f (x,y) e suas derivadas parciais em um ponto
(x0,y0) e queiramos predizer quanto o valor de f variará se nos movermos para um
ponto (x0 + ∆x, y0 + ∆y) próximo. Em outras palavras, podemos estimar a variação ∆z
de z pelo valor do diferencial dz, em que dx é a variação em x e dy é a variação em y.

Exemplo 9
Considere a função z = 7x + 3y2.
a) Determine a diferencial total dz.
b) Calcule ∆z e dz, se x variar de 2 para 2,05 e y variar de 1 para 0,98. Compare os
valores de ∆z e dz.

Resolução
a) Da Definição 2.3.1 temos a diferencial total
∂f ∂f
dz = dx + dy
∂x ∂y
dz = 7dx + 6y dy.

b) O ponto (x0,y0) = (2,1), dx = ∆x = 0,05 e dy = ∆y = ‒ 0,02.


O incremento de z é
∆z = f (2,05; 0,98) ‒ f (2,1)
∆z = 7 (2,05) + 3 (0,98)2 ‒ (7 . 2 + 3 . 12) = 0,2312
e a diferencial total é
dz = 7(0,05) + 6 . 1(‒0,02) = 0,23.

Portanto, observe que ∆z ≈ dz.

Exemplo 10
O raio e a altura de um cilindro são medidos com 3 m e 8 m respectivamente,
com possíveis erros de 0,05 m. Use diferenciais para calcular o erro máximo no
cálculo do volume.

Resolução
Primeiro recordamos a fórmula do cálculo do volume de um cilindro.
V = π r2 h

Para estimarmos a variação de V calculamos


∂V ∂V
dV (r0,h0) = (r0,h0) dr + (r0,h0) dh
∂r ∂h

dV = 2π r0 h0 dr + π r02 dh
= 2π 3 . 8 . 0,05 + π 32 . 0,05
= 2,4π + 0,45π
= 2,85π ≈ 8,95 m3.

Portanto, o erro de 0,05 m nas medidas do raio e da altura pode nos levar
a um erro de 8,95 m3.

87
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Exemplo 11
Ao redor do ponto (1,0), f (x,y) = x2 (y + 1) é mais sensível a variações em x ou y?

Resolução
Primeiro vamos entender o que o enunciado está nos pedindo. Querer
saber sobre a sensibilidade à variação é o mesmo que pedir para estimar a variação
da função no ponto. Assim, vamos calcular a diferencial de f
∂f ∂f
dz = (1,0) dx + (1,0) dy.
∂x ∂y

Para facilitar o cálculo das derivadas parciais escrevemos f (x,y) = x2y + x2,
daí segue
∂f ∂f
= 2xy + 2x e = x2
∂x ∂y
∂f ∂f
(1,0) = 2 e (1,0) = 1.
∂x ∂y

Então, temos o cálculo da variação da função causada por pequenas


variações dx e dy

dz = 2dx + 1dy.

Portanto, uma variação de x em uma unidade variará f em cerca de 2


unidades e, uma variação de y em uma unidade variará f em cerca de 1 unidade.
A função é 2 vezes mais sensível a uma pequena variação de x que a uma pequena
variação de tamanho igual a de y.

Exemplo 12
O comprimento e a largura de um retângulo são medidos com erros de,
no máximo, 3% e 5%, respectivamente. Use diferenciais para aproximar o erro
percentual máximo na área calculada.

Resolução
A área do retângulo dado por x de comprimento e y de largura é a função
A(x,y) = xy.

Temos, ∂A = y e ∂A = x .
∂x ∂y
Cada erro é de, no máximo, 3% e 5%, isto é, |∆x| ≤ 0,03x e |∆y| ≤ 0,05y. Para
achar o erro máximo na área, tomamos o maior erro nas medidas de x e y. Daí,
tomamos dx = 0,03x e dy = 0,05y.

Calculando a diferencial, obtemos:


∂z ∂z
dz = dx + dy = y ⋅ x ⋅ 0,03 + x ⋅ y ⋅ 0,05 = 0,08 xy
∂x ∂y
dz = A ⋅ 0 , 08

88
TÓPICO 2 | DIFERENCIABIBLIDADE E GRADIENTE

Estimamos que o erro percentual máximo em A é de 8%.

4 GRADIENTE
Vimos nas seções anteriores que as derivadas parciais nos fornecem taxas
de variação de uma função de várias variáveis e que estas taxas dependem da
escolha da direção e sentido da variação. Como essas variações são indicadas
por vetores, é natural usar vetores para descrever a derivada de f numa direção
e sentido específicos. Nesta seção, vamos definir o gradiente de uma função, que
aparece em diversas aplicações matemáticas.

Definição 2.4.1 Seja z = f (x,y) uma função que admite derivadas parciais no
ponto (x0,y0). O gradiente de f no ponto (x0,y0), denotado por f (x0,y0), é um vetor

cujos componentes são as derivadas de f nesse ponto, ou seja,

∂f ∂f ∂f  ∂f 
f (x0,y0) = (x0,y0), (x0,y0) = (x0,y0) i + (x0,y0) j .

∂x ∂y ∂x ∂y

NOTA

∆ ∆
O gradiente f associa um vetor f (x0,y0) a cada ponto (x0,y0) do domínio de f.
Usamos a notação a,b para o par ordenado que se refere a um vetor para não confundir
com o par ordenado (a,b) que corresponde a um ponto no plano.

NOTA

   
Ao representar vetores com a notação v = ai + bj , lembramos que i e j
representam os vetores canônicos, ou seja, vetores no R2 onde suas respectivas coordenadas
 
são dadas por i = 1,0 e j = 0,1 .

Quando trabalhamos com um ponto genérico (x,y), escrevemos


∂f ∂f ∂f  ∂f 
f (x,y) = , = i+ j.

∂x ∂y ∂x ∂y

89
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

O símbolo f é lido como “gradiente de f”.



O símbolo , denominado “del”, é um delta grego maiúsculo invertido.

O uso de para o gradiente foi popularizado pelo físico escocês P.
G. Tait (1831 – 1901) que o denominava “nabla”. Em hebraico, nabla

significa harpa e se refere à semelhança de um com uma harpa antiga
de dez cordas. O grande físico James Clerk Maxwell relutou em adotar
essa notação e chamava o gradiente de “inclinação”. Em 1871 escreveu
ao seu amigo Tait provocando: “Ainda harpejando naquela nabla?”
(ROGAWKI, 2009, p. 809).

Em seguida, estendemos a definição de gradiente para funções com n


variáveis.

Definição 2.4.2 Sejam A ⊂ Rn aberto, p = (x1, x2, ...xn) ∈ A e f : A → R uma


função tal que as derivadas parciais existem em p. O gradiente de f no ponto p é o
vetor do Rn denotado por f (p) e definido por

∂f ∂f ∂f
f (p) = ∂x (p), ∂x (p), ..., ∂x (p) .

1 2 n

Exemplo 13
Determine o gradiente da função f (x,y) = 3x2 ‒ 2xy + 5y.

Resolução
Primeiro precisamos calcular as derivadas parciais de f.
∂f ∂f
= 6x ‒ 2y e = ‒ 2x + 5
∂x ∂y

Em seguida, escrevemos o vetor gradiente de acordo com a Definição 2.4.1


f (x,y) = 6x ‒ 2y, ‒ 2x + 5 .

Exemplo 14
Calcule o gradiente da função f (x,y) = 3x2y ‒ x⅔ y2 no ponto (1,3).

Resolução
Faremos o mesmo que no Exemplo 11 acrescentando apenas o cálculo do
vetor no ponto (1,3).
∂f 2 ∂f
= 6xy ‒ x -⅓ y2 e = 3x2 ‒ 2x ⅔y
∂x 3 ∂y
2 -⅓ 2 2
Então, f = 6xy ‒ x y , 3x ‒ 2x ⅔y .

3
Agora, no ponto, f (1,3)

2
f (1,3) = 6 ⋅ 1 ⋅ 3 ‒ ⋅ 1 -⅓ ⋅ 32, 3 ⋅ 12 ‒ 2 ⋅ 1 ⅔ ⋅ 3 = 12, ‒3 .

Portanto, o gradiente 3 de f no ponto (1,3) é o vetor f (1,3) = 12, ‒3 .

Exemplo 15
Determine o gradiente da função g(x,y,z) = xyz2 em um ponto (x,y,z).

90
TÓPICO 2 | DIFERENCIABIBLIDADE E GRADIENTE

Resolução
∂g ∂g ∂g
Temos, = yz2, = xz2 e = 2xyz.
∂x ∂y ∂z
Então, g (x,y,z) = yz2, xz2, 2xyz .

Exemplo 16
1
Encontre o gradiente de f(x,y) = (x2 + y3) em (0, ‒2) e esboce alguns vetores
6
gradientes.

Resolução
∂f 2 x ∂f 3 y 2
As derivadas parciais são = e = .
∂x 6 ∂y 6
1  1 2
f (x,y) = xi+ y j

3 2
Para construir o gráfico formado pelos vetores gradientes procedemos da
seguinte forma: escolhemos um ponto, por exemplo (x0,y0). O ponto (x0,y0) é o
início do vetor e o vetor gradiente f (x0,y0) = a,b fornece o representante do vetor

que irá no ponto (a,b). Lembramos que um vetor de componentes a,b tem início
na origem do plano e extremidade no ponto (a, b). Quando desejamos graficar
um vetor fora da origem, usamos um representante do vetor a,b . Em seguida é
mostrado como representar graficamente o vetor gradiente no ponto (0, ‒ 2). Temos

f (0,‒ 2) = 2 j , isto é, o vetor 0,2 – tem origem no ponto (0, 0) e extremidade no

ponto (0, 2). Conforme podemos ver na Figura 32.

1
FIGURA 32 – VETORES GRADIENTES DE f (x,y) = (x2 + y3)
6

FONTE: Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/58852098/18/


Gradiente-Curva-de-N%C2%B4%C4%B1vel-Superf%C2%B4%C4%B1cie-de-
N%C2%B4%C4%B1vel>. Acesso em: 5 set. 2011.

91
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Do gráfico construído no Exemplo 16 é possível pensar num campo de


vetores gradiente de uma função, que podem ser representados geometricamente
por um conjunto de vetores que fornece em cada ponto distinto do plano o vetor
gradiente da função.

Como vimos, o gradiente é um vetor. Talvez você esteja agora se


perguntando: e se calcularmos || f (x,y)|| (norma do vetor gradiente) a que isso

corresponde? Vamos responder resolvendo o Exemplo 17.

Exemplo 17
Encontre o gradiente de f (x,y) = x2 ‒ y2 e esboce alguns vetores gradientes.

Resolução
∂f ∂f
As derivadas parciais são = 2x e = ‒2y.
∂x ∂y
 
Então, f = 2x i ‒ 2y j .

Vamos calcular alguns vetores gradiente em pontos específicos e suas


normas.

(x,y) f (x,y) || f (x,y)||


∆ ∆

(0,0) (0,0) 0
(1,0) (2,0) 2
(x,0) (2x,0) 2x
(0,y) (0,‒2y) 2y
(1,1) (2,‒2) 2√ 2
(x,y) (2x,‒2y) 2||(x,y)||

Interpretando a coluna da direita, percebe-se que à medida que o ponto se


afasta da origem, o comprimento do gradiente aumenta ficando igual a duas vezes
a distância do ponto à origem.

92
TÓPICO 2 | DIFERENCIABIBLIDADE E GRADIENTE

FIGURA 33 – GRÁFICO DOS VETORES GRADIENTES E DAS CURVAS DE NÍVEL DE


f (x,y) = x2 – y2 .

FONTE: Disponível em: <http://www.ime.uerj.br/~calculo/LivroIII/campos.pdf>.


Acesso em: 5 set. 2011.

Teorema 2.4.1 Suponha que z = f (x,y) seja diferenciável numa bola aberta
centrada em P0 (x0,y0) e que f (x0,y0) ≠ 0 .

i) Então f (x0,y0) é normal à curva de nível passando por P0 (x0,y0).


ii) A taxa máxima de crescimento de γ no ponto P0 (x0,y0) ocorre na direção e no


sentido do gradiente. Analogamente, a taxa mínima de crescimento de γ no
ponto P0 (x0,y0) ocorre na direção contrária a do gradiente.

NOTA

Lembramos que um vetor é normal à curva, se o vetor é perpendicular.

NOTA

O gradiente de γ no ponto P0(x0,y0) aponta na direção de maior variação da


função numa vizinhança do ponto.

93
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

A figura a seguir ilustra o Teorema 2.4.1.

FIGURA 34 – VETOR GRADIENTE NORMAL À CURVA DE NÍVEL

y ∆
f(P₀)
γ

P₀ (x₀, y₀)

FONTE: O autor

Exemplo 18
O potencial elétrico V em (x,y,z) é dado por V = x2 + 4y 2 + 9z2. Ache a direção
e a taxa máxima de variação de V em (3,‒2,1).

Resolução
De acordo com o Teorema 2.5.1 a direção onde ocorre a taxa máxima de
variação é dada pelo vetor gradiente. Então,
∂V ∂V ∂V
= 2x, = 8y e = 18z.
∂x ∂y ∂z
Assim, V = 2x, 8y, 18z .

Calculando o gradiente no ponto (3,‒2,1), obtemos:


V (3,‒2,1) = 6, ‒16, 18 que nos indica a direção de crescimento do potencial

elétrico.

E a taxa de variação do gradiente é dada pela sua norma:

2 2 2
 ∂V   ∂V   ∂V 
∇V ( x , y , z ) =   +  + 
 ∂x   ∂y   ∂z 

∇V ( 3 , − 2 , 1) = 6 2 + ( −16 ) + 18 2 = 616
2

∇V ( 3 , − 2 , 1) ≈ 24 , 8

94
TÓPICO 2 | DIFERENCIABIBLIDADE E GRADIENTE

Portanto, o gradiente V (3,‒2,1) = 6, ‒16, 18 nos dá a direção onde a taxa



de variação é máxima || V (3,‒2,1)|| ≈ 24,8.

5 DERIVADAS DIRECIONAIS
Caro acadêmico! Já estudamos as derivadas parciais que nos fornecem a
variação da função em duas direções diferentes, na direção do eixo x através de
∂f ∂f
(x0,y0) e na direção do eixo y através de (x ,y ). Nesta seção, veremos como
∂x ∂y 0 0
utilizar a derivada para determinar a inclinação em qualquer direção; para isto
definiremos um novo tipo de derivada chamada direcional.

Suponha que uma função f (x,y) seja definida em uma região R no plano
  
xy, que P(x0,y0) seja um ponto em R e que u = u1i + u2j seja um versor. Então as
equações

x = x0 + su1 e y = y0 + su2

parametrizam a reta que passa por P paralelamente a u . Se o parâmetro s


mede o comprimento de arco de P na direção de u , encontramos a taxa de variação


de f em P na direção de u calculando df em P (Figura 7).


ds

NOTA

Lembramos que versor é um vetor unitário, ou seja, um vetor cuja norma é 1.

  
Definição 2.5.1 A derivada de f em P(x0,y0) na direção do versor u = u1i + u2j
é o número

desde que o limite exista.

95
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

FIGURA 35 – A TAXA DE VARIAÇÃO DE f EM P NA DIREÇÃO DE u


FONTE: O autor

∂f
Quando u = i , a derivada direcional em P é calculada em (x0,y0). Quando

∂x
u = j , a derivada direcional em P é ∂f calculada em (x0,y0). A derivada direcional

∂y
generaliza as duas derivadas parciais. Então, assim é possível encontrar a taxa de

variação de f em qualquer direção u .


Teorema 2.5.1 Se f (x,y) for diferenciável em P (x0,y0), então

é o produto escalar do gradiente de f em P e u .


A expressão do Teorema 2.5.1 por ser escrita como

Em seguida, apresentaremos a definição de derivada direcional para uma


função de várias variáveis, fazendo uma extensão da Definição 2.5.1.

96
TÓPICO 2 | DIFERENCIABIBLIDADE E GRADIENTE

Definição 2.5.2 Sejam A Rn aberto, P (x1, x2, ..., xn) ∈ A, f : A → R uma


função e u um vetor unitário em Rn. A derivada direcional de f no ponto (x1, x2, ...,

xn) e na direção do versor u é denotada por


Esta definição generaliza o conceito de derivada parcial, isto é, as derivadas


parciais de uma função podem ser obtidas como casos particulares das derivadas
direcionais.

Exemplo 19
Calcule a derivada direcional da função f (x,y) = x3y + 2y 2 no ponto (1,‒2) na
 
direção do vetor v = 4i + 3j .

Resolução
Note que v não é um versor (vetor unitário) e a Definição 2.5.1 pede que o

vetor direção seja unitário. Assim, vamos primeiro calcular o vetor unitário u na

direção de v .

Agora, calculamos o vetor gradiente de f no ponto (1,‒2).

97
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Portanto, pelo Teorema 2.5.1, temos:

∂f 
 ( 1, − 2) = ∇f ( 1, − 2 ) ⋅ u
∂u
4 3
=( − 6 , −8) ⋅  , 
5 5
−6 ⋅ 4 + ( −8 ) ⋅ 3
=
5
−48
=
5

∂f
A derivada direcional (1,‒2) representa a taxa de variação de z na
∂u

direção de u . Isto é a inclinação da reta tangente à curva obtida pela interseção da


superfície f (x,y) = x3y + 2y 2 e o plano vertical que passa por (1,‒2,0) na direção de u .

98
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você viu:

• O conceito de diferenciabilidade através do cálculo de limite.

• Destacamos o Teorema 2.2.1. Se f é diferenciável em A R2 então f é contínua em


cada ponto de A.

∂f ∂f
• Outro resultado importante; Teorema 2.2.2. Se as derivadas parciais e
∂x ∂y
existe em algum conjunto aberto A contendo (x0,y0) e são contínuas em (x0,y0),

então f (x,y) é diferenciável em (x0,y0).

• A aplicação da diferencial e como se calcula: a diferencial de f, denotada por df


∂z ∂z
ou dz, é dada por dz = dx + dy.
∂x ∂y

• O gradiente de uma função f é o vetor das derivadas parciais:

• Geometricamente, o vetor gradiente é normal à curva de nível de f (x,y) por P.

• A derivada direcional: Se f (x,y) for diferenciável em P (x0,y0), então

o produto escalar do gradiente de f em P e u .


99
AUTOATIVIDADE

Agora chegou a sua vez de colocar em prática o que foi estudado sobre
diferenciabilidade e gradiente.

Mostre que as funções a seguir são diferenciáveis em R2.

1 f (x,y) = 3x2y + 4xy 2

2 f (x,y) = x2 ‒ 7xy + 2xy 2

3 f (x,y) = sen (xy 2)

4 Se z = x2 ‒ xy + 3y2 e (x,y) varia de (3, ‒1) a (2,96; ‒0,95), compare os valores de


dz e ∆z.

5 O comprimento e a largura de um retângulo foram medidos como 30 cm e 24


cm, respectivamente, com um erro de medida de, no máximo 0,1 cm. Utilize
a diferencial para estimar o erro máximo cometido no cálculo da área do
retângulo.

6 O período T de um pêndulo simples com uma pequena oscilação é calculado


L
da fórmula T = 2π , onde L é o comprimento do pêndulo e g é a aceleração
g √
da gravidade. Suponha que os valores de L e g tenham erros de, no máximo,
0,05% e 0,01%, respectivamente. Use diferencias para aproximar o erro
percentual máximo no valor calculado de T.

7 O raio de um cilindro circular reto é medido com um erro de, no máximo, 2%


e altura é medida com um erro de, no máximo, 4%. Qual o erro percentual
máximo possível no volume calculado?

Nas questões de 8 a 10, determine o vetor gradiente das seguintes


funções nos pontos indicados:

8 z = x2y + 3xy + y2, P (0,3)

π
9 f (x,y) = xy ‒ sen (x + y), P = ,0
2

10 f (x,y,z) = xy + xz + yz, P (‒1,3,5)

100
10xy
11 Se T (x,y) = é a temperatura em graus Celsius, sobre uma
x2 + 4y 2 + 4
lâmina metálica, x e y medidos em cm, determine a direção de crescimento
máximo de T a partir do ponto (1,1) e a taxa máxima de crescimento de T,
nesse ponto.

101
102
UNIDADE 2
TÓPICO 3

MÁXIMOS E MÍNIMOS DE FUNÇÕES


DE VÁRIAS VARIÁVEIS

1 INTRODUÇÃO
Uma aplicação importante de cálculo diferencial de várias variáveis, é a da
otimização de funções. Otimizar uma função significa encontrar seu desempenho
máximo ou mínimo. No Caderno de Cálculo Diferencial e Integral, você já estudou
como encontrar os máximos e mínimos de funções de uma variável. Quando as
derivadas primeiras forem nulas, temos pontos extremos que podem ser máximos
ou mínimos.

Vamos fazer algo parecido neste tópico para as funções de várias variáveis.
Veremos como usar as derivadas parciais para localizar os pontos de máximo e
mínimo de uma função de duas variáveis.

2 EXTREMOS LOCAIS
Suponha que um fabricante produza dois modelos de um determinado
produto, o modelo de luxo e o modelo padrão, e que o custo total para produzir x
unidades do modelo de luxo e y unidades do modelo padrão seja dado pela função
C (x, y). Como determinar o nível de produção x = a e y = b para o qual o custo é
mínimo?

Iniciaremos definindo os extremos locais que são chamados de máximos e


mínimos de uma função.

Definição 3.2.1 Sejam A R2 aberto, P (x0, y0) ∈ A, f : A → R uma função.


i) P (x0, y0) é um ponto de máximo local de f se f (x, y) ≤ f (x0, y0) para todo (x, y)
numa vizinhança de (x0, y0);

ii) P (x0, y0) é um ponto de mínimo local de f se f (x, y) ≥ f (x0, y0) para todo (x, y)
numa vizinhança de (x0, y0).

Definição 3.2.2 Dizemos que um ponto P (x0, y0) do domínio de uma função
f (x, y) é um ponto crítico (ou estacionário) se:

103
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

∂f ∂f
i) (x0, y0) = 0 e (x , y ) = 0, ou
∂x ∂y 0 0
∂f ∂f
ii) pelo menos uma das derivadas parciais (x0, y0), (x , y ) não existe.
∂x ∂y 0 0
O teorema a seguir nos diz que os extremos locais ocorrem em pontos
críticos, assim como acontece em função de uma variável.

Teorema 3.2.1 Se f (x, y) tem um mínimo ou máximo local em (x0, y0), então
(x0, y0) é um ponto crítico de f (x, y).

Geometricamente, um ponto é ponto crítico de uma função quando o gráfico


da função nesse ponto não tem plano tangente ou o plano tangente é horizontal.

Vamos ver no exemplo a seguir como encontrar os pontos críticos de uma


função de duas variáveis.

Exemplo 1
y3
Encontre os pontos críticos da função f (x, y) = 9x3 + ‒ 4xy.
3
Resolução
y3
Queremos encontrar os pontos críticos da função f (x, y) = 9x3 + ‒ 4xy.
3
Aplicando a Definição 3.2.2, devemos igualar as derivadas parciais a zero.

∂f ∂f
Calculando as derivadas parciais, temos = 27x2 ‒ 4y e = y2 ‒ 4x.
∂x ∂y
Igualando as derivadas parciais a zero e resolvendo as equações obtemos,

27 x 2 − 4 y = 0
 2
 y − 4 x = 0
y2
Isola-se x na segunda equação x = e substitui na primeira equação
4

27 x 2 − 4 y = 0
2
 y2 
27   − 4 y = 0
 4 
 
27 y 4 − 64 y = 0
( )
y 27 y 3 − 64 = 0
y = 0 ou 277y 3 − 64 = 0
64
y3 =
27
4
y2 = e y1 = 0
3

104
TÓPICO 3 | MÁXIMOS E MÍNIMOS DE FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS

Substituímos os valores de y na segunda equação

y2 y2
x= x=
4 4

2
4
02
x1 = x2 = 3
4
4
4
x1 = 0 x2 =
9

4 4
Portanto, (0,0) e são os pontos críticos de f (x, y).
9 , 3

NOTA


Lembre-se de que já estudamos gradiente de uma função f (x,y) em que
∂f ∂f
f (x,y) = ∂x , ∂y . Então na Definição 3.2.2 poderíamos dizer que P (x0,y0) é um ponto

∆ ∆
crítico se f (x0,y0) = 0 ou se f (x,y) não existe.

Exemplo 2
Mostre que f (x,y) = x2 + y2 ‒ xy + x tem um ponto crítico.

Resolução
Segundo a Definição 3.2.2, devemos igualar as derivadas parciais a zero
para encontrar os pontos críticos, se existem.

∂f ∂f
As derivadas parciais são = 2x ‒ y + 1 e = ‒ x + 2y. Então, igualando
∂x ∂y
as derivadas parciais a zero e resolvendo o par de equações temos,

2x ‒ y + 1 = 0
‒ x + 2y = 0

105
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

agora, resolvemos o sistema pelo método da adição.

1
y=‒
3

2 1 2 1
Assim, x = ‒ ey=‒ . Existe apenas um ponto crítico P ‒ ,‒ .
3 3 3 3
Para sabermos se este ponto crítico é um ponto máximo ou mínimo da
função podemos aplicar a Definição 3.2.1 o que pode ser complicado em algumas
situações. Porém, podemos usar o recurso gráfico tanto da superfície como das
curvas de nível (mapa de contornos), através de um software computacional como
veremos na Figura 37.

FIGURA 36 – GRÁFICO DA FUNÇÃO FIGURA 37 – MAPA DE CONTORNOS DE


f (x,y) = x2 + y2 – xy + x. f (x,y) = x2 + y2 – xy + x.

80 –4

60 –2
40
0
20 y
2
0
4
2 4
0
x 4 2 0 –2 –4
–2 –4
–2 x
–4 0
4 2
y FONTE: O autor
FONTE: O autor

106
TÓPICO 3 | MÁXIMOS E MÍNIMOS DE FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS

Pelo gráfico da função (Figura 36) é possível dizer que o ponto P

2 1
‒ ,‒ é mínimo local, e na Figura 37 as curvas de nível são curvas fechadas
3 3

que circundam o ponto P indicando assim um extremo local.

Acabamos de ver que é possível determinar o tipo de ponto crítico a partir


do mapa de contorno, então podemos classificar os pontos críticos através das
seguintes características gráficas:

i) se P (x0, y0) é um mínimo local, então as curvas de nível próximas de P são


curvas fechadas que circundam P e o mapa de contornos mostra que f (x, y)
cresce em todas as direções a partir de P (Figura 37);

ii) se P (x0, y0) é um máximo local, então as curvas de nível próximas de P são
curvas fechadas que circundam P e o mapa de contornos mostra que f (x, y)
decresce em todas as direções a partir de P;

iii) se P (x0, y0) é um ponto de sela, então as curvas de nível de f (x, y) que passam
por P consistem em duas retas que se intersectam e dividem a vizinhança de
P em quatro regiões. O mapa de contornos mostra que f (x, y) é decrescente na
direção x e crescente na direção y (Figura 38);

iv) se P (x0, y0) é um ponto de sela – outra situação, então as curvas de nível em (x0,
y0) tem uma forma padrão “número oito” (Figura 39).

FIGURA 38 – MAPA DE CONTORNOS FIGURA 39 – MAPA DE CONTORNOS –


DESTACANDO O PONTO DE SELA PONTO DE SELA PADRÃO “NÚMERO OITO”

x
4 2 0 –2 –4 2
–4
1
–2
y 0
y 0
–1
2
–2
4
–2 –1 0 1 22

FONTE: O autor x
FONTE: O autor

107
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Segue da Definição 3.2.2 e do Teorema 3.2.1 que os extremos relativos


ocorrem nos pontos críticos. Contudo, uma função não precisa ter um extremo
relativo em cada ponto crítico, isto quer dizer que um ponto crítico nem sempre é
um ponto extremante. Um ponto crítico que não é um máximo relativo nem um
mínimo relativo é chamado de ponto de sela.

NOTA

Nas funções de duas variáveis, não temos pontos de inflexão, como em funções
de uma variável. Podemos ter um ponto de sela, quando numa direção a função atinge
um máximo num ponto e em outra direção, um mínimo no mesmo ponto. O nome se
dá pela semelhança com uma sela de cavalo: máximo na direção das pernas do cavaleiro
(transversal ao cavalo ) e mínimo na direção longitudinal (dorso) do cavalo.

Em seguida, vamos estudar um método que permite classificar os pontos


críticos com critérios bem definidos. Mas, antes definiremos a hessiana.

Definição 3.2.3 Sejam A R2 aberto, P (x0, y0) ∈ A, f : A → R uma função de


classe C2. A matriz hessiana de f, representada por H(f), é dada por

 ∂2 f ∂2 f 
 2 ( x0 , y0 ) ( x0 , y0 ) 
∂x ∂x∂y
H ( x0 , y0 ) =  2 
∂ f 2
∂ f 
 ( x0 , y0 ) ( x 0 , y 0 ) 
 ∂y∂x ∂y 2 

Exemplo 3
Seja f (x,y) = 3x2 + y2. Calcule a matriz hessiana de f no ponto (0,0).

Resolução
Pela Definição 3.2.3, calculamos as derivadas parciais no ponto dado.

∂f ∂f ∂ 2f ∂2f = 0, ∂2f = 0 e ∂2f = 2


= 6x, = 2y, 2 = 6,
∂x ∂y ∂x ∂x∂y ∂y∂x ∂y2

6 0
Portanto, H (0,0) = é a matriz hessiana de f no ponto (0,0).
0 2

Teorema 3.2.2 (Teste da segunda derivada) Sejam A R2 aberto, P (x0, y0) ∈ A,


f : A → R uma função de classe C2. Suponhamos que P (x0, y0) seja um ponto crítico da
função f.

108
TÓPICO 3 | MÁXIMOS E MÍNIMOS DE FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS

i) Se det H (x0,y0) > 0 e ∂ f2 (x0,y0) > 0, então (x0,y0) é um ponto mínimo local de f.
2

∂x
∂2
ii) Se det H (x0,y0) > 0 e f2 (x0,y0) < 0, então (x0,y0) é um ponto máximo local de f.
∂x
iii) Se det H (x0,y0) < 0, então (x0,y0) é um ponto de sela.

iv) Se det H (x0,y0) = 0, nada se conclui.

Para facilitar o entendimento e visualizar a classificação dos pontos críticos


apresentamos o gráfico e um texto explicativo.

Os pontos P e Q são pontos de máximo, porque qualquer deslocamento


em sua vizinhança irá descer. O ponto S é uma sela porque nos sentidos SP e SQ
sobe, mas no sentido SL ou ST desce.

FONTE: CANESIN, Wilson. Funções de várias variáveis – Notas de aula – parte II. Disponível em:
<http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/72/ifvv01.pdf>. Acesso em: 28 out. 2011.

FIGURA 40 – GRÁFICO DE SUPERFÍCIE


Q

P
S
F(x,y)
T

FONTE: Disponível em: <http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/


setores/72/ifvv01.pdf>. Acesso em: 28 out. 2011.

Veremos em seguida exemplos onde aplicaremos o Teorema 3.2.2.

Exemplo 4
Considere a função f (x,y) = x2 + y2 ‒ xy + x. Determine, caso existam, os pontos
de máximo e os pontos de mínimo local da função.

Resolução
2 1
Vimos no Exemplo 2 que o ponto ‒ ,‒ é o único ponto crítico de f.
3 3
Para classificá-lo vamos usar o Teorema 3.2.2. Calculando as derivadas parciais de
segunda ordem. Temos

109
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

∂2f = 2, ∂2f = ‒1, ∂2f = ‒1 e ∂2f = 2. Então,


∂x2 ∂x∂y ∂y∂x ∂y2

 2 1  2 −1
det H  − , −  = =3
 3 3  −1 2

2 1 ∂ 2f 2 1 2 1
Como H ‒ ,‒ >0e ‒ ,‒ > 0, segue que ‒ ,‒ é
3 3 ∂x2 3 3 3 3

um ponto mínimo local de f.

Exemplo 5
1 3 1 3
Encontre os máximos e mínimos de f (x,y) = x + y ‒ x ‒ 4y + 20, caso
3 3
existam.

Resolução
∂f ∂f
Vamos encontrar inicialmente os pontos críticos de f, fazendo =0e = 0.
∂x ∂y
∂f ∂f
= x2 ‒ 1 e = y2 ‒ 4
∂x ∂y

x2 ‒ 1 = 0
y2 ‒ 4 = 0

Resolvendo o sistema, temos os pontos críticos (1,2), (1,‒2), (‒1,2) e (‒1,‒2).

Calculando as derivadas parciais de segunda ordem. Temos

∂2f = 2x, ∂2f = 0, ∂2f = 0 e ∂2f = 2y.


∂x2 ∂x∂y ∂y∂x ∂y2

Agora, calculamos o determinante hessiano. Então,

2 0 2 0
det H (1, 2 ) = = 8 e det H (1, −2 ) = = −8,
0 4 0 −4
−2 0 −2 0
det H ( −1, 2 ) = = −8 e det H ( −1, −2 ) = = 8.
0 4 0 −4

Para classificar os pontos críticos, usaremos o Teorema 3.2.2.

110
TÓPICO 3 | MÁXIMOS E MÍNIMOS DE FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS

Vamos analisar o ponto (1,2).

∂ 2f
Temos det H (1,2) > 0 e (1,2) > 0, logo (1,2) é um ponto mínimo local de f.
∂x2
Vamos analisar o ponto (1,‒2).

Temos det H (1,‒2) < 0, logo (1,‒2) é um ponto de sela de f.

Vamos analisar o ponto (1,‒2).

Temos det H (‒1,2) < 0, logo (‒1,2) é um ponto de sela de f.

Vamos analisar o ponto (‒1,‒2).

∂ 2f
Temos det H (‒1,‒2) > 0 e (‒1,‒2) < 0, logo (‒1,‒2) é um ponto máximo local de f.
∂x2
Os gráficos (Figura 41 e Figura 42) gerado por computador usando o
software Maple 11, ilustram os cálculos apresentados anteriormente.

FIGURA 41 – GRÁFICO DA SUPERFÍCIE DE f FIGURA 42 – MAPA DE CONTORNOS DE f


4

30
y 2
25
20
15 –4 –2 0 2 4
x
10
–2
3 2
10 –2–3
–1 1 0 –1
–2
x –3 2 y –4
FONTE: O autor FONTE: O autor

3 PROBLEMAS ENVOLVENDO MÁXIMOS E MÍNIMOS DE


FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS
O estudo feito no item anterior pode ser perfeitamente aplicado em
problemas de maximização e minimização de funções de várias variáveis. Como,
por exemplo, em problemas geométricos, físicos, econômicos, entre outros.

Exemplo 6
Determine as dimensões de uma caixa retangular aberta no topo, com um
volume de 32 cm3 e que requer uma quantidade mínima de material para a sua
construção.
111
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Resolução
x: comprimento da caixa (cm)
y: largura da caixa (cm)
z: altura da caixa (cm)
A: área da superfície da caixa (cm2)
V: volume da caixa (cm3)

32
V = xyz ⇒ xyz = 32 ⇒ z =
xy
Queremos minimizar a área de superfície.

A = xy + 2xz + 2yz com a restrição do volume.

Substituindo z obtemos

32 32
A = xy + 2x + 2y
xy xy
64 64
A(x,y) = xy + + , x > 0 e y > 0.
y x
Como a região é aberta, o mínimo deve ocorrer num ponto crítico de A.
Passemos então a determiná-los:

∂A 64 ∂A 64
= y ‒ 2 =x‒ 2
∂x x ∂y y

64 64
y‒ = 0 x‒ =0
x2 y2

64
64 2
y = 2 x ‒ 64 =0
x
x2
x4
y2 = 4 x ‒ =0
64

x3
x 1 ‒ =0
64

x1 = 0 e x2 = 4

112
TÓPICO 3 | MÁXIMOS E MÍNIMOS DE FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS

Assim, o ponto (4,4) é ponto crítico de A.

Usando o teste da segunda derivada (Teorema 3.2.2), obtemos:


∂2A 128 ∂2A ∂ 2A ∂ 2f 128
= , = 1, = 1, = 3
∂x2
x 3
∂x∂y ∂y∂x ∂y 2
y

Calculando o determinante hessiano, temos

2 1
det H (4,4) = =4‒1=3
1 2

∂2 A
Daí, det H (4,4) > 0 e (4,4) > 0, portanto o ponto (4,4) é o mínimo local de A.
∂x2
Logo, a caixa que usa o mínimo de material tem altura z = 2 e base quadrada
x = y = 4.

Exemplo 7
A função T (x,y) = x2 + y2 ‒ 8x + 5y + 20 dá a temperatura, em graus Celsius
de cada ponto (x, y) de uma chapa circular (exceto as bordas, que é constituída de
outro material) de raio 6 cm, localizada no centro do plano xy. Determine o ponto
mais quente e o mais frio no interior da chapa, se existir.

Resolução
A função T (x,y) = x2 + y2 ‒ 8x + 5y + 20 tem domínio D(T) = {(x,y) | x2 + y2 < 36}.

Calculando as derivadas parciais de primeira ordem, temos:

∂T ∂T
= 2x ‒ 8 e = 2y + 5
∂x ∂y

2x ‒ 8 = 0
2y + 5 = 0

5 5
Resolvendo o sistema, temos o único ponto crítico 4, ‒ e T 4, ‒
2 2
9
=- = ‒ 2,25 °C .
4

Calculando as derivadas parciais de segunda ordem. Temos:

∂2T ∂2T ∂2T ∂2T


= 2, = 0, = 0, = 2.
∂x2 ∂x∂y ∂y∂x ∂y2

113
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Agora, calculamos o determinante hessiano. Então,

5 2 0
det H 4, ‒ = = 4.
2 0 2
5 ∂ 2T
Pelo Teorema 3.2.2, temos det H 4, ‒ >0e > 0, assim, o ponto
2 ∂x2
5
4, ‒ é mínimo.
2
Portanto, o ponto mais frio da chapa tem temperatura de – 2,25ºC e está
5
localizado no ponto 4, ‒ .
2

Exemplo 8
Para o projeto de uma calha, tem-se uma folha metálica de 12 cm de
largura, que se deseja dobrar de forma a se ter uma capacidade máxima.

Resolução

A área da seção da calha é formada pela área do retângulo, mais a área


dos dois triângulos, conforme a figura.

A = 2 (triângulo) + retângulo

x cos θ . x sen θ + (12 ‒ 2x) . x sen θ


A=2.
2
A = f (x,θ) = x2 cos θ . sen θ + 12x sen θ ‒ 2x2 sen θ

Agora vamos estudar os extremos (máximos e mínimos) da função.


Deriva-se a função, obtendo

∂f
= 2x sen θ cos θ + 12 . sen θ ‒ 4x sen θ
∂x

∂f
= ‒ x2 sen2 θ + x2 cos2 θ + 12x cos θ ‒ 2x2 cos θ
∂θ

114
TÓPICO 3 | MÁXIMOS E MÍNIMOS DE FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS

Igualando as derivadas a zero e resolvendo o sistema, temos

2x sen θ cos θ + 12 . sen θ ‒ 4x sen θ = 0

2x cos θ = 4x ‒ 12

4x ‒ 12
cos θ =
2x
6
cos θ = 2 ‒
x

‒ x2 sen2 θ + x2 cos2 θ + 12x cos θ ‒ 2x2 cos θ = 0

x2 (‒ sen2 θ + cos2 θ) + 12x cos θ ‒ 2x2 cos θ = 0

x2 cos 2θ + 12x cos θ ‒ 2x2 cos θ = 0

x (2 cos2 θ ‒ 1) ‒ 2x cos θ + 12 cos θ = 0

x (2 cos2 θ ‒ 2 cos θ ‒ 1) + 12 cos θ = 0

6
Substituímos o valor cos θ = 2 ‒ na segunda equação e resolvendo,
x
6 1
encontra-se x = 4 que resulta em cos θ = 2 ‒ = .
x 2

1 π
cos θ = ⇒ θ = rad ou θ = 60°
2 3

O ponto (4,60°) encontrado parece ser bastante razoável, omitiremos o


teste da segunda derivada, também por causa do trabalho que estas dariam.
Mas para ter certeza podemos calcular a área A para valores de x e θ.

115
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

x θ A
4 30 14.928
4 36 17.013
4 42 18.662
4 48 19.846
4 54 20.553
4 60 20.785
4 66 20.562
4 72 19.919
4 78 18.904

Então, pelos valores obtidos na tabela confirmamos que a capacidade é


máxima no ponto (4,60°).

FONTE: Disponível em: <www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/72/ifvv01.pdf.>. Acesso


em: 30 maio 2012.

116
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você estudou alguns conceitos e teoremas importantes:

∂f ∂f
• Dizemos que P (x0,y0) é um ponto crítico de f (x,y) se (x , y ) = (x , y ) = 0
ou se não existir uma das duas derivadas parciais. ∂x 0 0 ∂y 0 0

• Definimos a matriz hessiana de f (x,y) por .

• O Teorema 3.2.2 (Teste da segunda derivada) facilita bastante na classificação


do ponto crítico de f (x,y). Suponhamos que P (x0,y0) seja um ponto crítico da
função f.

∂2f (x ,y ) > 0, então (x ,y ) é um ponto mínimo local de f.


i) Se det H (x0,y0) > 0 e
∂x2 0 0 0 0

∂2
ii) Se det H (x0,y0) > 0 e f2 (x0,y0) < 0, então (x0,y0) é um ponto máximo local de f.
∂x
iii) Se det H (x0,y0) < 0, então (x0,y0) é um ponto de sela.

iv) Se det H (x0,y0) = 0, nada se conclui.

117
AUTOATIVIDADE

Nos exercícios 1 e 2, encontre os pontos críticos das funções dadas.

1 f (x,y) = x2 + y2 + xy ‒ 6x + 2

2 f (x,y) = x2 + 8y4 + xy ‒ 3y2 ‒ y3

Nos exercícios 3 a 7, encontre os pontos críticos e os extremos locais das


funções dadas

3 f (x,y) = x3 + y3 ‒ 6xy

1 4 2 3
4 f (x,y) = ‒ x + x + 4xy ‒ y2
3 3
5 f (x,y) = x3 + y2 ‒ 6xy + 6x + 3y ‒ 2

6 f (x,y) = 4x ‒ 3x3 ‒ 2xy2

7 f (x,y) = x4 + y4 ‒ 4xy

8 A temperatura T (°C) em cada ponto de um painel plano é dada pela


equação T (x,y) = 16x 2 + 24x ‒ 40y 2. Encontre a temperatura nos pontos
mais quentes e mais frios da região.

9 Um supermercado de uma pequena cidade do interior trabalha com duas


marcas de suco de laranja, uma marca local que custa no atacado R$ 0,30
a garrafa e uma marca nacional muito conhecida que custa no atacado R$
0,40 a garrafa. O dono do supermercado estima que se cobrar x centavos
pela garrafa da marca local e y centavos pela garrafa da marca nacional,
venderiam 70 ‒ 5x + 4y garrafas da marca local e 80 + 6x + 7y garrafas da
marca nacional por dia. Por quanto o dono do supermercado deve vender
as duas marcas de suco de laranja para maximizar o lucro?

118
UNIDADE 2 TÓPICO 4

INTEGRAIS MÚLTIPLAS

1 INTRODUÇÃO
Na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral estudamos que a integral
indefinida ∫ f (x) dx resulta em outra função, denominada função primitiva de f (x).

Estudamos também que a integral definida é dada por ,

desde que tal limite exista. O valor calculado na integral definida, quando f (x) ≥ 0, tem
como interpretação imediata o cálculo da área da região compreendida entre o eixo x,
o gráfico de f (x) e as retas x = a e x = b.

Neste tópico, vamos estudar a integral dupla definida, cuja interpretação


geométrica, quando f (x,y) ≥ 0, corresponde ao cálculo do volume do sólido
delimitado superiormente pelo gráfico de z = f (x,y) e inferiormente pela região
definida sobre o plano xy.

2 INTEGRAL DUPLA

2.1 INTEGRAL DUPLA SOBRE RETÂNGULO


Definição 4.2.1.1 (Volume sob uma superfície) Se f é uma função de duas
variáveis, contínua e não negativa, numa região R do plano xy, então o volume do
sólido compreendido entre a superfície z = f (x,y) e a região R é definido por

A ideia envolvida na Definição 4.2.1.1 é a mesma empregada na integral


definida simples. Assim, a região R é dividida em sub-retângulos. Faremos isso
com o intervalo em x (∆x) e com o intervalo y (∆y), formando os sub-retângulos Rij
cada um com área ∆A = ∆x∆y.

119
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

FIGURA 43 – INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA DA INTEGRAL DUPLA,


QUANDO f (x,y) ≥ 0

FONTE: Disponível em: <www.pucrs.br/famat/beatriz/calculoII/


INTEGRAL_DUPLA.doc>. Acesso em: 30 maio 2012.

Definição 4.2.1.2 A integral dupla de f sobre o retângulo R é

se esse limite existir.

A soma presente nas duas definições acima é chamada de soma dupla de


Riemann e é usada como uma aproximação do valor da integral dupla.

2.2 INTEGRAIS ITERADAS


Nas integrais duplas que estudaremos neste tópico, serão consideradas
apenas as integrais duplas definidas. E na sua resolução, aplicaremos o Teorema
Fundamental do Cálculo. O cálculo da integral dupla é muito complicado pela
definição, então veremos como calcular a integral dupla através da integral iterada,
cujo valor pode ser obtido calculando-se duas integrais de funções de uma variável
real. A expressão iterada quer dizer repetida.

UNI

Este procedimento segue a mesma ideia para calcular as derivadas parciais.

120
TÓPICO 4 | INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Suponha que f seja uma função de duas variáveis contínua no retângulo


R = [a,b]x[c,d].


• A integral f (x,y) dy significa que a variável x é mantida fixa (como constante) e
c
f (x,y) é integrado em relação a variável y, com y variando de c até d.

• Como ∫f (x,y) dy
c
é um número que depende do valor de x ele define uma
função de x,
d


F (x) = f (x,y) dy .
c

• Integrando a função F(x) em relação a variável x de a até b, obtemos



.

E
IMPORTANT

Lembre-se, quando a integral é definida, aplicamos o Teorema Fundamental do


b


Cálculo f (x) dx = F(b) ‒ F(a).
a

Exemplo 1

Calcular a integral .

Resolução
Resolvendo a integral dupla como integral iterada, temos

Vamos resolver primeiro a integral que está dentro dos colchetes,


considerando como constante a variável x, já que a função está sendo integrada
primeiramente em relação a variável y (pois a diferencial nesta integral é dy).

121
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS


Assim, xy2 dy = 3x .
‒1

Agora, substituímos este resultado na integral final. E verifique que a


integral que falta resolver é uma integral apenas na variável x.

Portanto, .

Exemplo 2
Calcular a integral .

Resolução
Resolvendo a integral dupla como integral iterada, temos

122
TÓPICO 4 | INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Vamos resolver primeiro a integral que está dentro dos colchetes,


considerando como constante a variável y, já que a função está sendo integrada
primeiramente em relação a variável x (pois a diferencial nesta integral é dx).

Assim, ∫ (x + y + 1) dx = 2y + 2
‒1
.

Agora, substituímos este resultado na integral final. E verifique que a


integral que falta resolver é uma integral apenas na variável y.

=1

Portanto, .

Teorema 3.2.2.1 (Teorema de Fubini) Se f for contínua no retângulo R =


[a,b]x[c,d], então

123
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

UNI

Verifique a aplicação do teorema de Fubini no Exemplo 2.

2.3 INTEGRAL DUPLA SOBRE REGIÕES GENÉRICAS


Vamos considerar funções contínuas definidas sobre regiões fechadas, que
denotaremos por D, onde D R2.

Convém separarmos a região plana D em dois casos que chamaremos de


Tipo I e Tipo II.

• Uma região plana D é dita do tipo I, se está contida entre o gráfico de duas
funções contínuas de x, ou seja

D = {(x,y)/ a ≤ x ≤ b, g1(x) ≤ y ≤ g2(x)}

onde g1(x) e g2(x) são contínuas em [a,b].

FIGURA 44 – ÁREA ENTRE CURVAS


y

y₂ = g₂(x)

y₁ = g₁(x)
x
a b

FONTE: O autor

124
TÓPICO 4 | INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Definição 3.2.3.1 Se f é contínua em uma região D do tipo I tal que

D = {(x,y)/ a ≤ x ≤ b, g1(x) ≤ y ≤ g2(x)}

então

Exemplo 3

Escreva ∫∫f (x,y) dA


D
sobre a região D que está compreendida entre o

gráfico das funções y = √ 1 ‒ x 2 e y = 1 ‒ x.

Resolução
Vamos escrever esta integral considerando a região do tipo I.

Assim, g1 (x) = 1 ‒ x e g2 (x) = √ 1 ‒ x 2 .

Então usaremos

125
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

FIGURA 45 – ÁREA ENTRE CURVAS

FONTE: O autor

• Uma região plana D é dita do tipo II, se está contida entre o gráfico de duas
funções contínuas de y, ou seja

D = {(x,y)/ c ≤ y ≤ d, h1(y) ≤ x ≤ h2(y)}

onde h1(y) e h2(y) são contínuas em [c,d].

FIGURA 46 – ÁREA ENTRE CURVAS


y

d x₂ = h₂(y)

c x₁ = h₁(y) x

FONTE: O autor

126
TÓPICO 4 | INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Definição 3.2.3.2 Se f é contínua em uma região D do tipo II tal que

D = {(x,y)/ c ≤ y ≤ d, h1(y) ≤ x ≤ h2(y)}

então

Exemplo 4

Escreva ∫∫f (x,y) dA


D
sobre a região D que está compreendida entre o

gráfico das funções y = √ 1 ‒ x 2 e y = 1 ‒ x .

Resolução
Vamos escrever esta integral considerando a região do tipo II.

FIGURA 47 – ÁREA ENTRE CURVAS

FONTE: O autor

Assim, h1 (y) = 1 ‒ y e h2 (y) = √ 1 ‒ y 2 .

Então usaremos

127
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

Exemplo 5

1
Seja f (x,y) = xy calcule ∫∫f (x,y) dA sobre a região D compreendida entre
x, y = √ x , x = 2 e x = 4.
D
y=
2
Resolução
Conforme pode ser observada a região no gráfico, convêm aplicar o tipo I.

FIGURA 48 – ÁREA ENTRE CURVAS

FONTE: O autor

Assim, .

128
TÓPICO 4 | INTEGRAIS MÚLTIPLAS

11
=
6

11
Portanto, ∫∫f (x,y) dA =
D 6
.

Exemplo 6

Calcule ∫∫(xy ‒ y ) dA sobre a região D mostrada no gráfico abaixo.


D
3

Resolução
Conforme pode ser observada a região no gráfico, vamos aplicar o tipo II.

A projeção da região D sobre o eixo dos y dá o intervalo 0 ≤ y ≤ 1 e as


funções tem que estar na variável y. Então,
1
h1 (y) = y 4 e h2 (y) = y 2.

129
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

FIGURA 49 – ÁREA ENTRE CURVAS

2 y = x²

y = x¹ ⁴
1

x
1 2

FONTE: O autor

Assim, .

130
TÓPICO 4 | INTEGRAIS MÚLTIPLAS

UNI

Você estudou integração no final do Caderno de Cálculo Diferencial e Integral


e verificou que é possível calcular a área entre duas curvas utilizando a integral simples.
Vamos ver agora que também é possível calcular a área entre duas curvas utilizando a
integral dupla.

Exemplo 7
1
Calcule a área compreendida entre as curvas y = x, y = √ x , x = 2 e x = 4.
2

Resolução
A área compreendida entre as curvas dadas é a mesma mostrada no
Exemplo 5.

Assim, aplicamos o a integral dupla do tipo I. Para a montagem da integral


o procedimento é o mesmo feito no exemplo 5.

131
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

FIGURA 50 – ÁREA ENTRE CURVAS

FONTE: O autor

Portanto, a área definida entre as curvas é dada por .

132
TÓPICO 4 | INTEGRAIS MÚLTIPLAS

E
IMPORTANT

Concluindo a ideia do cálculo da área entre curvas, verifique que a montagem


da integral dupla tem o mesmo procedimento mostrado no item 2.3. A única diferença é que
devemos considerar a função integrante como a constante unitária, isto é, f (x,y) = 1.

Exemplo 8
Calcule a área entre as curvas y = 5 ‒ x2 e y = x + 3.

Resolução
A área compreendida entre as curvas dadas acima está representada a
seguir.

Assim, aplicamos a integral dupla do tipo I. Para a montagem da integral o


procedimento é o mesmo feito anteriormente.

Precisamos encontrar os limites numéricos da variável x igualando a


variável y.

FIGURA 51 – ÁREA ENTRE CURVAS


y
5
y=x+3
4

1 y = 5 – x²

x
–2 –1 1 2

FONTE: O autor

133
UNIDADE 2 | DIFERENCIABILIDADE E INTEGRAIS MÚLTIPLAS

9
=
2

9
Portanto, a área definida entre as curvas é dada por .
2

LEITURA COMPLEMENTAR

GEORG FRIEDRICH BERNHARD RIEMANN


(1826 - 1866)

Nasceu no dia 17 de setembro de 1826 em


Breselenz, Alemanha. Era filho de um ministro luterano
e teve uma boa instrução estudando em Berlim e
Göttingen, mas em condições muito modestas por causa
de sua saúde frágil e de sua timidez. Ainda no ensino
secundário estudou os trabalhos de Euler e Legendre.

Aos 19 anos, Riemann foi, com todo o apoio do


pai, para a Universidade de Göttingen estudar teologia
com o objetivo de tornar-se clérigo. Mais tarde, pediu
permissão ao pai e mudou o foco dos seus estudos para
a Matemática, transferindo-se, um ano depois, para a
Universidade de Berlim, onde atraiu o interesse de
Dirichlet e Jacobi.

Em 1849, retornou a Göttingen, onde obteve o grau de doutor em 1851.


Sua brilhante tese foi desenvolvida no campo da teoria das funções complexas.
Nessa tese encontram-se as chamadas equações diferenciais de Cauchy-Riemann -
conhecidas, porém, antes do tempo de Riemann - que garantem a analiticidade de
uma função de variável complexa e o produtivo conceito de superfície de Riemann,
que introduziu considerações topológicas na análise.

Três anos mais tarde, foi nomeado Privatdozent, cargo considerado o primeiro
degrau para a escalada acadêmica. Com a morte de Gauss em 1855, Dirichlet foi
chamado a Göttingen como seu sucessor e passou a incentivar Riemann, primeiro
com um pequeno salário e depois com uma promoção a professor assistente. Em
1859, morreu Dirichlet e Riemann foi nomeado professor titular para substituí-lo.

134
TÓPICO 4 | INTEGRAIS MÚLTIPLAS

O período de 1851 a 1859, do ponto de vista econômico, foi o mais difícil da


vida de Riemann, mas ele criou suas maiores obras justamente nesses anos.

Riemann era um matemático de múltiplos interesses e mente fértil,


contribuindo não só para o desenvolvimento da geometria e da teoria dos números
como também para o da análise matemática.

Riemann tornou claro o conceito de integrabilidade de uma função através


da definição do que atualmente chamamos Integral de Riemann.

Durante uma conferência-teste, generalizou todas as geometrias, euclidianas


e não euclidianas, estabelecendo a Geometria Riemanniana, que serviu de suporte
para a Teoria da Relatividade de Einstein.

Em 1859, publicou seu único trabalho em Teoria dos Números: um artigo


dedicado ao Teorema dos Números Primos, no qual partindo de uma identidade
notável descoberta por Euler, chegou a uma função que ficou conhecida como
Função Zeta de Riemann. Nesse artigo, provou várias propriedades importantes
dessa função, e enunciou várias outras sem prová-las. Durante um século, depois
de sua morte, muitos matemáticos tentaram prová-las e acabaram criando novos
ramos da análise matemática.

Riemann morreu de tuberculose, no dia 20 de Julho de 1866 em Selasca, na


Itália, durante a última de suas várias viagens para fugir do clima frio e úmido do
norte da Alemanha.

FONTE: Disponível em: <http://ecalculo.if.usp.br/historia/riemann.htm>. Acesso em: 12 jun. 2008.

135
RESUMO DO TÓPICO 4
Estudamos no Tópico 4 as integrais múltiplas. Primeiramente, vimos que
o procedimento do cálculo destas integrais é feito por iteração, isto é, repetição.
Resolvendo a integral de dentro (interna) para a de fora e substituindo os limites
de integração pelo Teorema Fundamental do Cálculo.

● Depois estudamos como calcular áreas de formas irregulares utilizando as


integrais duplas por dois processos.

● Projetando a região sobre o eixo dos x, que chamamos de tipo I e escrevemos a

integral como .

● Projetando a região sobre o eixo dos y, que chamamos de tipo II e escrevemos a

integral como .

E finalizando, também estudamos a possibilidade de calcular a área entre


curvas usando a integral dupla com o mesmo procedimento revisto acima, onde a
função integrante é dada por f (x,y) = 1.

136
AUTOATIVIDADE

Calcule a integral, onde R : 0 ≤ x ≤ 2, 1 ≤ y ≤ 4.

1 ∫∫x dxdy
R
2

2 ∫∫xy dxdy
R
2

Calcule a integral, onde R : 0 ≤ x ≤ 2, 0 ≤ y ≤ x.

3 ∫∫x y dxdy
R
3

4 ∫∫e
R
x+y
dxdy

5 Encontre a área da região no primeiro quadrante limitada por xy = 2, y = 1


e y = x + 1.

Calcule, por integração dupla, a área da região limitada determinada pelo par
de curvas dado.

6 x2 = 4y e 2y ‒ x ‒ 4 = 0

7 y = x e x = 4y ‒ y2

8 x + y = 5 e xy = 6.

137
138
UNIDADE 3

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os principais conceitos que envolvem as equações diferenciais;

• identificar os diferentes tipos de equações diferenciais;

• diferenciar as equações diferenciais;

• resolver as equações diferenciais.

PLANO DE ESTUDOS
Na Unidade 3 estudaremos as equações diferenciais ordinárias de primeira
ordem e algumas equações diferenciais de segunda ordem. Neste intuito, a
unidade será dividida em três tópicos. O Tópico 1 inicia com a definição de
equações diferenciais, ordem e classificação. Na sequência serão apresenta-
das as equações diferenciais ordinárias de primeira ordem separáveis, linea-
res e exatas e seus respectivos métodos de resolução. No tópico 2, destacare-
mos as equações diferenciais de primeira ordem que envolvem substituições
em suas resoluções, em particular as equações de Bernoulli e as equações
homogêneas. Finalizamos a unidade com o Tópico 3, estudando as equações
diferenciais lineares de segunda ordem. Nesse tópico, nosso estudo se res-
tringirá às equações lineares homogêneas com coeficientes constantes.

TÓPICO 1 – EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

TÓPICO 2 – EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE


PRIMEIRA ORDEM – SUBSTITUIÇÕES

TÓPICO 3 – EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE


SEGUNDA ORDEM

139
140
UNIDADE 3
TÓPICO 1

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos abordar as características de uma equação diferencial
quanto ao seu tipo, a sua ordem e a sua linearidade. Na sequência, discutiremos os
processos de resolução de uma equação diferencial de primeira ordem, segundo
sua classificação em separáveis, lineares ou exatas.

Vejamos alguns exemplos de equações diferenciais:

2 DEFINIÇÕES E TERMINOLOGIAS
Uma equação que relaciona uma função desconhecida a uma ou mais de
suas derivadas é chamada de uma equação diferencial.

As equações são classificadas quanto ao tipo, à ordem e à linearidade.

141
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

2.1 TIPOS DE UMA EQUAÇÃO DIFERENCIAL


Uma equação diferencial pode ser classificada como ordinária ou parcial.
Se a função envolvida for uma função de somente uma variável, dizemos que
a equação é ordinária (EDO). Se uma equação diferencial contém, pelo menos,
uma derivada parcial, então é denominada de equação diferencial parcial (EDP).
Vejamos alguns exemplos:

∂u ∂u
i) = – 5 , u = u(x, y) parcial
∂y ∂x

d 2y dy
ii) –6 + 8y = 0 ordinária
dx2 dx

∂ 2z ∂ 2z ∂z
iii) + 2–2 = 0, z = z(x, y) parcial
∂x ∂y
2
∂y

2.2 ORDEM DE UMA EQUAÇÃO DIFERENCIAL


Quanto à ordem uma equação diferencial pode ser de 1ª, de 2ª, ..., de
n-ésima ordem dependendo da derivada de maior ordem presente na equação.

i) y′ – 3xy = x 1° ordem

ii) y″ + y′ = cos t 2° ordem

2
dy
iii) + 3y = 2 1° ordem
dx

d 2y dy
iv) –6 + 8y = 0 2° ordem
dx2 dx

d 3y dy
v) –t + (t 2 – 1)y = et 3° ordem
dt 3 dt

vi) xy′ – 5y = 0 1° ordem

142
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

2.3 LINEARIDADE DE UMA EQUAÇÃO DIFERENCIAL


Uma equação diferencial é dita linear se a função e suas derivadas
envolvidas na equação forem de primeiro grau. Caso contrário, dizemos que a
EDO é não linear. Vejamos alguns exemplos:

dy
i) + 3y = 2 linear
dx

dy
ii) + sen y = 2 não linear
dx

d 3y dy
iii) –x + 7y = ex linear
dx 3
dx

d 3 y dy
iv) + + t (y 2 – 1) = et não linear
dt 3 dt

2.4 SOLUÇÃO DE UMA EQUAÇÃO DIFERENCIAL


Uma função y = y(x) é solução de uma equação diferencial em um dado
intervalo I, se a equação diferencial for satisfeita para todo x ∈ I, ou seja, se y(x) e
suas derivadas satisfizerem à equação diferencial neste intervalo para todo x ∈ I.

Exemplo 1
1 3 2
Verifique se a função y(x) = + e–x é solução de y′(x) + 2xy = x.
2 2
Resolução
1 3 –x 2
Dado a função y(x) = + e , vamos encontrar a derivada de primeira
ordem. 2 2

3 2
y′(x) = (– 2x)e–x
2

2
y′(x) = –3xe–x

Agora, substituímos y e y′ na equação diferencial y′ (x) + 2xy = x.

143
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

1 3
Então, a função y(x) = + e–x 2 satisfaz à equação diferencial e, portanto
2 2
y é solução da equação diferencial dada.

Exemplo 2
d 2y
Verifique se a função y(x) = e2x é uma solução da equação diferencial –5
dy dx2
+ 6y = 0.
dx
Resolução
Dado a função y(x) = e2x, vamos encontrar as derivadas de primeira e
segunda ordem.

dy d 2y
= 2e2x e = 4e2x
dx dx2
d 2y dy
Agora, vamos substituí-las na equação diferencial –5 + 6y = 0.
dx 2
dx
4e2x – 5 · 2e2x + 6e2x = 0

4e2x – 10e2x + 6e2x = 0

De fato, a função y(x) = e2x satisfaz à equação diferencial.

Exemplo 3
Verifique se a função y(x) = x(In x)2 + 7x é solução da equação diferencial
xy′(x) – y(x) = 2xIn x.

Resolução
Dado a função y(x) = x(In x)2 + 7x, vamos encontrar a derivada de primeira
ordem.

144
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

Agora, substituímos y e y′ na equação diferencial xy′(x) – y(x) = 2xln x,


obtendo:

2x In x = 2x In x

Portanto, a função y(x) = x(In x)2 + 7x satisfaz à equação diferencial.

2.4.1 Solução geral


Dada uma equação diferencial, dizemos que a sua solução é uma função
que satisfaz a identidade proposta por esta equação. Esta função, expressa por y =
F(x) + c, contém uma constante arbitrária, oriunda do processo de integração. Então,
dizemos que y = F(x) + c, c ∈R é uma família de soluções da EDO e, assim, para
cada valor arbitrário de c temos uma solução (função) diferente para a mesma
EDO. Porém, observe que derivando-as obteremos as mesmas funções, tendo em
vista que a derivada de uma constante é zero.

Por exemplo, dada a equação diferencial y′(x) = 5x – 2, sua solução geral é dada por
5 2 5 5
y(x) = x – 2x + c. Vamos considerar c = –1 e c = 3, então y1(x) = x2 – 2x – 1 e y2(x) =
2 2 2
x – 2x + 3. Agora vamos derivar estas soluções (funções) y′1 (x) = 5x – 2 e y′2 (x) = 5x – 2.
2

Podemos ver que as derivadas são iguais.



Daí o fato da solução y = F(x) + c, c ∈R ser denominada de solução geral da
EDO.

2.4.2 Solução particular


A solução deduzida da solução geral atribuindo-se valores particulares à
constante arbitrária c é chamada de solução particular.

Quando uma equação diferencial é utilizada como um modelo matemático


em alguma aplicação, há normalmente uma condição inicial y(x0) = y0 que torna
possível calcular a constante arbitrária c, que aparece na solução geral.

145
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

NOTA

Um problema com uma equação diferencial satisfazendo alguma condição


adicional (por exemplo, y(x0) = y0 é denominado problema do valor inicial (PVI).

Exemplo 4
dy
Considerando = 2x, então y = x2 + c é uma solução geral da EDO, c ∈R.
dx
Resolução
Vamos encontrar a solução particular, utilizando a condição adicional y(3)
= 4. Desse modo, a partir da solução geral y = x2 + c, atribuímos a x o valor 3 e a y o
valor 4, determinando assim a constante c:

y = x2 + c
4 = 32 + c
4=9+c
c = –5

Substituindo o valor de c na solução geral obtemos a solução particular


da EDO:

y = x2 – 5.

TURO S
ESTUDOS FU

Caros acadêmico(a)! Leia com bastante atenção o texto a seguir sobre as EDOs.
Assim, vamos saber um pouco mais sobre o que estamos estudando e quais são as suas
finalidades.

O que uma ED de primeira ordem pode nos dizer

Vamos imaginar por um momento que temos uma equação diferencial


dy
de primeira ordem na forma normal = f (x,y) e, além disso, que não podemos
dx
encontrar nem inventar um método para resolvê-la analiticamente. Essa
situação não é tão ruim quanto parece, uma vez que muitas vezes é possível
juntar informações úteis sobre a natureza das soluções, diretamente da própria
∂f
equação diferencial. Por exemplo, já vimos que, quando f (x,y) e satisfazem
∂y

146
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

determinadas condições de continuidade, as questões qualitativas sobre a


existência e a unicidade de soluções podem ser respondidas. Veremos nesta seção
que outras questões qualitativas sobre propriedades da solução – Como uma
solução se comporta nas proximidades de um determinado ponto? Como uma
solução se comporta quando x → ∞? – podem frequentemente ser respondidas
quando a função f depende somente da variável y. Vamos começar, porém,
dy
com um conceito simples de cálculo: a derivada de uma função diferenciável
dx
y = y(x) dá as inclinações das retas tangentes em pontos sobre seu gráfico.

Inclinação

Como uma solução y = y(x) de uma equação diferencial de primeira ordem


dy
= f (x,y) é necessariamente uma função diferenciável em seu intervalo I, a
dx
curva integral correspondente em I não deve ter interrupções e deve ter uma reta
tangente em cada ponto (x,y(x)). A inclinação da reta tangente em (x,y(x)) sobre
dy
uma curva integral é o valor de sua derivada primeira nesse ponto e isso
dx
é sabido da equação diferencial: f (x,y(x)). Suponha agora que (x,y) representa
qualquer ponto em uma região do plano xy sobre o qual a função f está definida.
O valor f (x,y) que a função atribui ao ponto representa a inclinação de uma reta
ou, como iremos pensar, um segmento de reta denominado elemento linear. Por
dy
exemplo, consideramos a equação = 0,2xy, onde f (x,y) = 0,2xy. No ponto, de
dx
coordenadas (2, 3), por exemplo, a inclinação de um elemento linear é f (2,3) = 1,2.
A figura (a) mostra um segmento de reta com inclinação positiva passando por
(2,3). Conforme mostrado na figura (b), se uma curva integral também passar por
(2,3), fará isto tangenciando esse segmento de reta; em outras palavras, o elemento
linear é uma miniatura da reta tangente nesse ponto.

Figura 2 – Figura 1.1.b: o elemento linear


Figura 1.1.a: elemento linear em um ponto é uma tangente à curva integral que
passa pelo ponto

147
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Campos de Direções

Se sistematicamente calcularmos f sobre uma malha retangular de


pontos (x,y) no plano xy e em cada ponto (x,y) desenharmos um elemento linear
com a inclinação (x,y), a coleção de todos os elementos lineares será chamada
dy
de campo de direções ou campo de inclinações da equação diferencial =f
dx
(x,y). Visualmente, o campo de direções sugere a aparência, ou forma, de uma
família de curvas integrais da equação diferencial e, consequentemente, pode
ser possível vislumbrar determinados aspectos qualitativos das soluções – por
exemplo, regiões no plano nas quais uma solução exibe um comportamento
não usual. Uma única curva integral que segue seu caminho em um campo de
direções deve acompanhar o padrão de fluxo do campo; ela é tangente a um
elemento linear quando intercepta um ponto da malha.

FONTE: Zill (2003, p. 41-42)

3 EQUAÇÃO DIFERENCIAL SEPARÁVEL


Estudaremos alguns tipos de equações diferenciais que requerem métodos
distintos de resolução. Vamos iniciar pelas equações diferenciais separáveis,
caracterizando-as e determinando seu processo de resolução.

Definição 1.3.1 A equação y′ = f (x,y) será separável se f puder ser expressa


como um produto de uma função p(x) e uma função q(y), com q(y) ≠ 0. Assim, a
equação diferencial terá a forma

y′ = p(x) . q(y) ou

dy
= p(x) . q(y) ou
dx
1
y′ . = p(x),
q(y)

onde p(x) e q(y) são contínuas em seu domínio.

148
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

3.1 MÉTODO DE RESOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DIFERENCIAL


Considerando a equação diferencial dada, o primeiro passo para resolvê-
lo é separar as variáveis y e x juntamente com as suas respectivas diferenciais,
obtendo a seguinte igualdade

1
dy = p(x)dx.
q(y)

A seguir, integramos ambos os lados da igualdade

1
∫ q(y) dy = ∫ p(x)dx.
E, sempre que for possível, escrevemos a função (solução geral da EDO) na
sua forma explícita.

Vamos resolver um exemplo para aplicarmos o método.

Exemplo 5
dy
Resolva a equação diferencial = 6ex.
dx
Resolução
dy
= 6ex
dx
Inicialmente, vamos separar as variáveis:

dy = 6ex dx

Integrando ambos os lados da igualdade:

∫ dy = ∫ 6e dx
x

∫ dy = 6 ∫ e dx
x

y + c1 = 6ex + c2

Isolando a variável y:

y = 6ex + c2 – c1

149
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Para deixar uma única constante na função, consideramos c = c2 – c1, donde


temos que:

y = 6ex + c

Exemplo 6
dy x
Resolva a equação diferencial = .
dx y2
Resolução
dy x
=
dx y2
Dada a equação diferencial acima, vamos separar as variáveis:

Multiplicando ambos os lados da igualdade por y2, temos:

y 2 dy = x dx

Integrando ambos os lados da igualdade:

∫y 2

dy = x dx

y3
x2
+ c1 = + c2
3 2
Isolando a variável y:

y3 x2
= + c2 – c1
3 2

3x2
y3 = + 3(c2 – c1)
2
Para deixar uma única constante na função, consideramos c = 3(c2 – c1).

150
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

Portanto, as soluções da EDO dada são da forma c ∈R.

NOTA

Não há necessidade de usar duas constantes na integração de uma equação


separável
∫ q(y) dy =
∫ p(x) dx, pois se escrevermos Q(y) + c = P(x) + c , a diferença c –
1 2 2

c1 poderá ser substituída por uma única constante c, resultando Q(y) = P(x) + c. Em várias
ocasiões ao longo deste tópico, renomearemos constantes de forma conveniente. Por
exemplo, múltiplos de constantes ou combinações de constantes podem, algumas vezes, ser
substituídas por uma única constante.

Definição 1.3.2 Chamamos de família de funções ao conjunto de várias


funções da forma y = f (x) + c, c ∈R, ou seja, ao conjunto formado pelas funções que
tem o mesmo comportamento, a menos da constante c ∈R.

Exemplo, a família de funções y(x) = x 3 – 2x² + c.

FIGURA 52 – Figura 1.2.


y
4
x 3 – 2x² + c
3

1
x
–2 –1 1 2 3 4
–1

–2

–3

–4
FONTE: O autor

151
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Exemplo 7
Resolva a equação diferencial y′ y + x = 0.

Resolução
Podemos reescrever a equação dada como:

dy
y + x = 0.
dx
Subtraindo x em ambos os lados da igualdade, obtemos:

dy
y = –x
dx
dy
y = –x
dx

dy
y dx = –x dx
dx

y dy = –x dx

∫ y dy = –∫ x dx
Vamos escrever apenas uma constante ao lado direito da igualdade, junto
à variável x:

y 2 −x2
= +c
2 3
−2 x 2
y2 = + 2c
3

Considerando k = 2c, temos:

−2 x 2
y2 = +k
3

Podemos deixar a função na forma implícita:

2 2
x + y2 = k
3

Neste caso, é interessante deixar esta solução na forma implícita, pois


facilita a identificação quanto ao tipo de curva obtida. Neste exemplo, obtemos
uma elipse.

152
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

OBSERVAÇÃO: Note que, para não carregar a notação, aplicamos a ideia


de escrever apenas uma letra para as constantes que surgem no cálculo.

Exemplo 8
dy
Determine a solução geral da equação diferencial = sen (2x).
dx
Resolução
Repetindo o procedimento utilizado nos exemplos anteriores, temos:

dy = sen (2x) dx.

Integrando os dois lados da igualdade:

∫ dy = ∫ sen (2x) dx.


Para resolver a integral obtida do lado direito da igualdade, vamos aplicar
a técnica de substituição:

1
y=
2 ∫ sen u du u = 2x
1
y= (–cos u) + c du = 2 dx
2

1 1
y=– cos (2x) + c du = dx
2 2

FIGURA 53 – GRÁFICO DAS SOLUÇÕES DA EDO


3
3 3 y 3
2
2 2 2
2
1
1 1 1
1
0
0 0 0 x
0
-1
-1 -1 -1
-1
-2
-2 -2 -2
-2
-3 -3
-3 -2 -1 0 1 2 3
FONTE: O autor

153
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Exemplo 9
dy
Encontre a solução geral da equação diferencial = e t – y.
dt
Resolução
dy
= et – y
dt
Primeiramente, vamos recordar a propriedade do produto de potências de
mesma base, onde am . an = a m + n, com a, m, n ∈ R.

Utilizaremos a propriedade da direita para a esquerda, ou seja, separando


a expressão am+n em um produto de duas potências de mesma base:

dy
= e t · e –y
dt
dy = e t · e –y dt

ey dy = et dt

∫ e dy = ∫ e dt
y t

ey = et + c

Para isolar y, precisamos aplicar o logaritmo natural (ln) a ambos os


membros da igualdade.

In ey = In (et + c)

Pelas propriedades operatórias dos logaritmos, em particular a propriedade


da potência do logaritmo, temos que In ak = k · In a e, portanto:

y In e = In (et + c)

Como In e = 1, temos:

y = In (et + c).
A
Portanto, y(t) = In (et + c) é solução da EDO proposta c ∈ R.

Exemplo 10
Resolva a equação diferencial (2 + y) dt + (t – 3) dy = 0 .

Resolução
Na equação (2 + y) dt + (t – 3) dy = 0 devemos separar as variáveis. Neste
caso, deixamos y do lado esquerdo da igualdade e t do lado direito da igualdade:

154
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

(t – 3) dy = –(2 + y) dt

dy dt
=–
2+y t–3
Agora, basta integrar os dois lados da igualdade:

dy dt
∫ 2 + y = –∫ t – 3
Estas integrais são resolvidas aplicando a técnica de substituição; donde
obtemos:

In(2 + y) = – In(t – 3) + c

In(2 + y) + In(t – 3) = c

Agora, aplicamos a propriedade do produto de logaritmos de mesma base,


para a qual, teremos In (a · b) = In a + In b. Utilizaremos a propriedade da direita
para a esquerda, ou seja, multiplicaremos os logaritmandos e, obteremos assim:

In[(2 + y) · (t – 3)] = c

Portanto, a igualdade (2 + y) · (t – 3) = ec,


A
c ∈ R , é uma solução, na forma
implícita, da EDO proposta.

Exemplo 11
Resolva a equação diferencial y ′ = x e y – x.

Resolução
Primeiramente, vamos mudar a notação da derivada:

dy
= x ey – x
dx
Para resolver a equação, devemos separar as variáveis:

dy
= x e y e –x
dx
Para isso, multiplicamos ambos os lados da igualdade por e –y:

dy
e –y = xe –x
dx
e –y dy = xe –x dx

Integramos ambos os lados da igualdade:

155
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Para resolver a integral (1), utilizaremos a técnica da substituição:

w = – y ⇒ dw = – dy

∫e –y

dy = – ew dw = – ew + c1 = – e –y + c1

Enquanto que, para a integral (2), aplicaremos a técnica da integração por


partes:

∫ udv = u · v –∫ vdu u=x

∫ xe –x

dx = x · (– e–x) – (– e–x) dx du = dx

∫ xe –x
dx = – xe–x – e–x + c2 dv = e–x dx

v = – e–x

∫ ∫
Retomando a igualdade e –y dy = xe–x dx, temos:

∫e –y

dy = xe–x dx

–e –y + c1 = –xe–x –e–x + c2

Vamos escrever apenas uma constante do lado direto da igualdade e


multiplicar ambos os lados por (-1), obtendo:

e –y = xe–x + e–x + c

Colocando a expressão e–x em evidência, no lado direito da igualdade:

e –y = e–x (x + 1) + c

Para isolar a variável y, aplicamos o logaritmo natural em ambos os lados


da igualdade:

In e –y = In [e–x (x + 1) + c]

156
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

Pela propriedade operatória da potência do logaritmo, temos:

–y = In [e–x (x + 1) + c]
A
Portanto, y(x) = –In [e–x (x + 1) + c] é solução da EDO proposta, c ∈ R.

Exemplo 12
xy – y
Encontre a solução particular da equação diferencial y′ = no ponto
y+1
y(2) = 1.

Resolução

Deixamos a solução na forma implícita. Agora, substituímos as variáveis x


e y, pelos valores dados no enunciado.

157
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

y(2) = 1

c=1

A função y que satisfaz à equação diferencial e atende à condição y(2) = 1


é dada por

4 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE 1ª ORDEM


Continuamos a busca por soluções de equações diferenciais de primeira
ordem examinando a seguir as equações lineares.

Definição 1.4.1 Uma EDO da forma:

y′ + p(x)y = q(x) ou

dy
+ p(x)y = q(x),
dx
onde p(x) e q(x) são funções contínuas em algum intervalo I é chamada de
equação diferencial linear de primeira ordem.

NOTA

Observe a forma deste tipo de EDO. Cada equação diferencial que estudaremos
possui uma forma-padrão diferente. Fique bastante atento!

Teorema 1.4.1 A solução da equação

dy
+ p(x)y = q(x) é
dx

158
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

1
y=
v(x) ∫ v(x) q(x)dx

onde v(x) = eH(x); com H(x) = p(x)dx. A função v(x) é chamada fator integrante.

UNI

Desafie-se e faça a demonstração matemática da solução da equação diferencial


linear!

4.1 MÉTODO DE RESOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DIFERENCIAL


Vamos descrever os passos para resolver uma equação diferencial linear a
qual utilizaremos o fator integrante.

• Escreva a equação linear dada na forma-padrão y′ + p(x)y = q(x).

• Encontre uma primitiva de p(x), isto é, resolva p(x)dx. ∫


• Encontre o fator integrante v(x) = e∫p(x)dx.

• Multiplique ambos os lados da equação diferencial y′ + p(x)y = q(x) pela função


v(x).

• Identifique do lado esquerdo da igualdade da derivada do produto.

• Resolva a equação e, se possível, dê a solução na forma explícita.

Aplicaremos o método em alguns exemplos para entendê-lo melhor.

Exemplo 13
Encontre a solução geral da equação y′ + 3y = 12 (método do fator integrante).

Resolução
Observe que a equação diferencial já está na forma-padrão y′ + p(x)y = q(x),
onde p(x) = 3 e q(x) = 12.

O primeiro passo é calcular a primitiva de p(x).


H(x) = p(x)dx, então, temos

159
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS


H(x) = 3dx = 3x.

Escrevendo o fator integrante v(x) = e∫p(x)dx,

v(x) = eH(x) ⇒ v(x) = e3x

Agora, multipliquemos a EDO por v(x).

e3x y′ + 3e3x y = 12e3x

Observemos o lado esquerdo: nele, devemos identificar a derivada do


produto

(u · v)′ = u′ · v + u · v′.

Se considerarmos as funções u = y e v = e3x, teremos u′ = y′ e v′ = 3e3x. Então

Integrando ambos os lados da igualdade:


e3x y = 12 e3xdx


Atente para o fato de que a integral e3xdx foi resolvida pelo método da
substituição.

12 3x
e3x y = e +c
3
e3x y = 4e3x + c

Isolando a variável y,

y = 4e3x · e–3x + c e–3x

Portanto, y(x) = 4 + c e–3x, c ∈ R é solução geral da EDO.

Vamos deduzir um modelo de solução geral para as equações lineares


ordinárias de primeira ordem com coeficientes constantes (dedução do fator
integrante), ou seja,

dy
+ ay = b ou y′ + ay = b
dt
160
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

Comparando a EDO apresentada com a forma-padrão y′ + p(x)y = q(x),


identificamos que p(x) = a e q(x) = b. Assim, p(x) e q(x) são constantes. Neste caso,


H(x) = p(x)dx


H(x) = adx = ax

e o fator integrante v(x) = e∫p(x)dx fica

v(x) = eH(x) ⇒ v(x) = eax

Multiplicando a EDO por v(x),

eax y′ + aeax y = beax

Observe o lado esquerdo da equação: nele, devemos identificar a derivada


do produto

(u · v)′ = u′ · v + u · v′.

Se considerarmos as funções u = y e v = eax, teremos u′ = y′ e v′ = aeax. Então

Integrando ambos os membros da igualdade:


eax y = b eaxdx


A integral eaxdx foi resolvida pelo método da substituição.

b ax
eax y = e +c
a
Isolando a variável y

b ax –ax
y= e . e + c e–ax
a
b
Portanto, y(x) = + c e–ax, c ∈ R é a solução geral da EDO y′ + ay = b.
a

161
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

UNI

Caro(a) acadêmico(a)! Que tal voltar ao exemplo 13 e resolvê-lo usando o


resultado demonstrado anteriormente?

Exemplo 14
Encontre a solução geral da equação y′ + y = x.

Resolução
Observe que a equação diferencial já está na forma-padrão y′ + p(x)y = q(x),
com p(x) =1 e q(x) = x.

Vamos calcular a primitiva de p(x).


H(x) = p(x)dx, então, temos


H(x) = dx = x.

Assim, o fator integrante v(x) = e∫p(x)dx é

v(x) = eH(x) ⇒ v(x) = ex.

Multiplicamos a EDO por v(x).

ex y′ + ex y = xex

Observe o lado esquerdo da igualdade, e identifique a derivada do produto

(u · v)′ = u′ · v + u · v′.

Se considerarmos as funções u = y e v = ex, teremos u′ = y′ e v′ = ex. Então

Integrando ambos os lados da igualdade:


ex y = x ex dx

162
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM


Para resolver esta integral x ex dx precisaremos aplicar o método da
integração por partes. Considerando u = x e dv = ex dx teremos du = dx e v = ex. Então,


aplicando a fórmula da integração por partes u dv = u · v­ – v du.∫

ex y = xex – ex dx

ex y = xex – ex + c

Isolando a variável y,

y = xexe–x – exe–x + c e–x

Portanto, y(x) = x – 1 + c e–x, c ∈ R é a solução geral da EDO.

Exemplo 15
dy
Encontre a solução geral da equação x = x2 – 5y.
dx
Resolução
Veja que a equação diferencial não está na forma-padrão y′ + p(x)y = q(x).

Então, primeiro, temos que reescrevê-la na forma-padrão.

5
Assim, identificamos p(x) = e q(x) = x.
x
Vamos calcular a primitiva de p(x).

5
H(x) = ∫ x dx = 5 In x.
= In x5

163
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

E, assim, o fator integrante v(x) = e∫p(x)dx pode ser escrito como:

v(x) = eH(x) ⇒ v(x) = eIn x 5.

v(x) = x5.

Multiplicando a EDO por v(x),

5
x5 y′ + x5 y = x . x5
x
x5 y′ + 5x4 y = x6.

Observe o lado esquerdo da igualdade. Nele devemos identificar a derivada


do produto

(u · v)′ = u′ · v + u · v′.

Se considerarmos as funções u = y e v = x5, teremos u′ = y′ e v′ = 5x 4. Então:

Integrando ambos os lados da igualdade:


x5 y = x6 dx

x7
x5 y = +c
7
x7 –5
y= x + cx –5
7
x2 A
Portanto, y(x) = + cx –5 é a solução geral da EDO, x ∈ R.
7
Exemplo 16
dy
Encontre a solução geral da equação + 4x3 y = 20x3.
dx
Resolução
Observe que a equação diferencial já está na forma-padrão y′ + p(x) y = q(x).

Identificamos p(x) = 4x3 e q(x) = 20x3.

Vamos calcular a primitiva de p(x).

164
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM


H(x) = p(x) dx, então, temos


H(x) = 4x3 dx = x 4.

Escrevemos o fator integrante v(x) = e∫p(x)dx.

v(x) = eH(x) ⇒ v(x) = ex 4.

Multiplicamos a EDO por v(x).

ex 4 y′ + 4x3 ex 4 y = 20x3 ex 4

Observamos o lado esquerdo da igualdade, nele devemos identificar a


derivada do produto: (u · v)′ = u′ · v + u · v′.

Se considerarmos as funções u = y e v = ex4 teremos u′ = y′ e v′ = 4x3 ex4. Então

Integramos ambos os lados da igualdade:


ex 4 y = 20 x3 ex 4 dx


A integral x3 ex 4 dx foi resolvida pelo método da substituição.

4 1 4
e x y = 20 ⋅ e x + c
4
x4 4 4
y = 5 ⋅ e ⋅ e−x + c ⋅ e−x

4
Portanto, y = 5 + c ⋅ e − x , x ∈ R é a solução geral da EDO.
A

O exemplo a seguir traz uma aplicação prática de EDO no movimento


retilíneo uniformemente variado.

165
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Exemplo 17
Sabe-se que, no movimento retilíneo uniformemente variado, a aceleração
dv
a= é constante. Supondo que o movimento parte do repouso, e sabendo que
dt
ds
v= , determine s(t).
dt
Resolução
Partimos da primeira EDO apresentada:
dv ds
= a =v
dt dt
ds
∫ ∫
dv = a dt
dt
= at + v0

v = at + c1 ds = (at + v0) dt ∫ ∫
at 2
v(t) = at + c1 s = + v0t + c2
2
at 2
Fazendo
s(t) c1 = v0, onde v0 será a = + v0t + c2
velocidade inicial. 2
• • v(t) = at + v

0 Substituindo c2 = s0, onde s0 será a
posição inicial.

at 2

•• s(t) = + v0t + s0
2

O próximo exemplo traz um problema de valor inicial (PVI). Vamos


entender como se resolve um problema que apresenta uma condição inicial.

Exemplo 18
2
Resolva o seguinte problema do valor inicial y′ + y = x, x > 0, y(2) = 3.
x
Resolução
2
Identificamos p(x) = e q(x) = x.
x
Vamos calcular a primitiva de p(x).

2
H(x) = ∫ x dx = 2 In |x|
H(x) = In x 2.

Escrevemos o fator integrante v(x) = e∫p(x)dx.

v(x) = eH(x) ⇒ v(x) = eIn x 2


v(x) = x 2
166
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

Multiplicamos a EDO por v(x).

2
x 2 y′ + x 2 y = x2x
x
x 2 y′ + 2xy = x 3

Observando o lado esquerdo, devemos identificar a derivada do produto

(u · v)′ = u′ · v + u · v′.

Se considerarmos as funções u = y e v = x 2 teremos u′ = y′ e v′ = 2x. Então:

Integramos ambos os lados da EDO:


x 2 y = x 3 dx

x4
x2 y = +C
4

x2 C A
Portanto, y(x) = + 2 , x ∈ R é a solução geral da EDO.
4 x

Agora, substituímos as variáveis x e y, pelos valores dados no enunciado


y(2) = 3 para encontrarmos a solução particular.

22 C
y= + 2 =3
4 2

C
1+ =3
4

C
=2
4
C=8

167
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

x2 8 A
Portanto, y(x) = + 2 , x > 0 é a solução particular da EDO.
4 x
Observe que a solução deste problema de valor inicial é válida em todo
intervalo ]0, +∞[, conforme a figura a seguir mostra esta solução.

FIGURA 54 – SOLUÇÃO DO PROBLEMA

FONTE: O autor

5 EQUAÇÕES EXATAS
Estudaremos outro tipo de equação diferencial de primeira ordem, as
chamadas equações diferenciais exatas onde destacamos o uso das derivadas
parciais. A seguir, veremos a definição de uma equação diferencial exata e o
teorema que estabelece um critério para identificar se uma EDO é exata.

Definição 1.5.1 Uma expressão diferencial M(x,y) dx + N(x,y) dy é uma


diferencial exata em uma região R do plano xy se ela corresponde à diferencial
total de alguma função F(x,y), ou seja dF= M(x,y) dx + N(x,y) dy.

Teorema 1.5.1 (Critério para diferencial exata) Sejam M(x,y) e N(x,y)


contínuas e com derivadas parciais de primeira ordem contínuas em uma região
R (retangular) definida por a < x < b e c < y < d. Então uma condição necessária
∂M ∂N
e suficiente para que M(x,y) dx + N(x,y) dy seja uma diferencial exata é: = .
∂y ∂x

168
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

5.1 MÉTODO DE RESOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DIFERENCIAL


• Verificar se a equação M(x,y) dx + N(x,y) dy é exata.

∂f
• Se for exata, então existe uma função f para a qual = M(x,y).
∂x
• Integrando a equação exata em relação a variável x (mantendo o y constante) para

encontrar f, obtemos f (x,y) = M(x,y) dx + o (y), onde a função arbitrária o (y) é a
constante de integração.

• Agora, precisamos encontrar a função arbitrária o (y). Derive a função f (x,y) em


∂f
relação a variável y encontrada anteriormente e supomos que = N(x,y). Da
∂y
comparação, determina-se o′(y).

• Finalmente, integramos o′ (y) em relação a y e substituímos o valor encontrado


para o (y) na função f (x,y).

• A solução é a função implicíta f (x,y) = c

Exemplo 19
Resolva a equação diferencial (x+y)dx + (e y + x)dy = 0.

Resolução
Em primeiro lugar, precisamos verificar se esta equação é exata.

∂M ∂N
Sendo M(x,y) = x + y e N(x,y) = e y + x, verificaremos se = .
∂y ∂x

∂M ∂N
Como =1e = 1, a EDO é exata.
∂y ∂x
∂f
Então, existe f (x,y) tal que = x + y.
∂x

∂f
Vamos integrar = x + y em relação à variável x (mantendo o y constante)
∂x
para encontrar f.


f (x,y) = (x + y) dx

x2
f (x,y) = + xy + o (y).
2

Para encontrar a função arbitrária o (y), derivemos a função f (x,y) em


relação à y.

169
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

∂f
Comparando a derivada parcial encontrada = x + o′ (y) com N(x,y),
∂f ∂y
= N(x,y).
∂y
x + o′ (y) = e y + x, daí, temos:

o′ (y) = e y.

Agora, vamos integrar o′ (y) = e y. Então:

∫o′(y)dy = ∫ e dy y

o (y) = e y + c

Voltando na f (x,y) e substituindo o (y), temos:

x2
f (x,y) = + xy + e y + c, c ∈ R.
2
Definição 1.5.2 Chamamos de curvas integrais as várias funções (soluções)
de uma EDO.

Exemplo 20
Encontre as curvas integrais de 2xy dx + (x 2 – 1) dy = 0.

Resolução
Sendo M (x,y) = 2xy e N (x,y) = x 2 – 1, temos

∂M ∂N
= 2x =
∂y ∂x
Assim, a EDO é exata.

∂f
Então existe f (x,y), tal que = 2xy.
∂x
∂f
Integrando = 2xy em relação a x, obtemos
∂x


f (x,y) = 2xy dx

f (x,y) = x2 y + o (y)

Agora encontraremos a função arbitrária o (y) derivando f (x,y) em y.

∂f
= x 2 + o′ (y)
∂y

170
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

∂f
Comparamos a derivada parcial encontrada acima com N (x,y), = N (x,y).
∂y
x 2 + o′ (y) = x 2 – 1, daí

o′ (y) = –1.

Agora, integramos o′ (y) = –1. Então:


o (y) = – dy

o (y) = – y + c.

Logo, f (x,y) = x2 y – y + c, c ∈ R.

UNI

Nos exemplos 19 e 20, a função f (x,y) está na forma implícita. Escreva a função
na forma explícita y = f (x).

Exemplo 21
Resolva a EDO (y cos x + 2x e y) dx + (sen x + x 2 e y – 1) dy = 0

Resolução
Verifiquemos se a equação diferencial é exata.

Sendo M (x,y) = y cos x + 2x e y e N (x,y) = sen x + x 2 e y – 1, temos

∂M ∂N
= cos x + 2x e y =
∂y ∂x
Assim, a EDO é exata.

∂f
Logo, existe f (x,y) tal que = y cos x + 2x e y.
∂x
∂f
Integrando = y cos x + 2x e y em relação à x, obtemos:
∂x


f (x,y) = (y cos x + 2x e y) dx

f (x,y) = y sen x + x 2 e y + o (y)

Agora encontraremos a função arbitrária o (y) derivando f (x,y) em y:

171
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

∂f
= sen x + x 2 e y + o′ (y)
∂y
∂f
Comparemos a derivada parcial encontrada = sen x + x 2 e y + o′ (y) com
N (x,y). ∂y

sen x + x 2 e y + o′ (y) = sen x + x 2 e y – 1,

o′ (y) = – 1.

Então,


o (y) = – dy

o (y) = –y + c, c ∈ R.

Logo, f (x,y) = y sen x + x 2 e y – y + c.

Exemplo 22
1
Verifique se a equação (x In y – e –xy) dx + + y In x dy = 0 é exata.
y

Resolução
1
Sejam M (x,y) = x In y – e –xy e N (x,y) = + y In x,
y

∂M 1 ∂N 1
Então, =x· + xe –xy e =y· .
∂y y ∂x x
∂M ∂N
vsAssim, ≠
∂y ∂x

Portanto, a EDO não é exata.

UNI

OBSERVAÇÃO: Para resolver esta equação diferencial é preciso utilizar um outro


procedimento, que não veremos neste caderno, mas que você pode encontrar, por exemplo,
em BOYCE, W.; DI PRIMA, R. C. Equações diferenciais elementares e problemas de valores
de contorno. 7ª Ed. São Paulo: LTC, 2002.

172
TÓPICO 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

Exemplo 23
Encontre a curva integral da equação (2x sen y + e x cos y) dx + (x 2 cos y – e x
π
sen y) dy = 0 que passa pelo ponto y (0) = .
4
Resolução
O enunciado do exemplo 23 nos traz um problema de valor inicial para
uma EDO exata.

Verificaremos se a EDO é exata.

Sendo M (x,y) = 2x sen y + e x cos y e N (x,y) = x 2 cos y – e x sen y, temos

∂M ∂N
= 2x cos y – e x sen y = .
∂y ∂x
Assim, a EDO é exata.

∂f
Como a equação é exata, então existe f (x,y) tal que = 2x sen y + e x cos y.
∂x
∂f
Integrando = 2x sen y + e x cos y em relação a x, obtemos
∂x


f (x,y) = (2x sen y + e x cos y) dx

f (x,y) = x 2 sen y + e x cos y + o (y).

∂f
= x 2 cos y – e x sen y + o′ (y)
∂y

∂f
Comparamos a derivada parcial encontrada = x 2 cos y – e x sen y + o′ (y)
com N (x,y). ∂y

x 2 cos y – e x sen y + o′ (y) = x 2 cos y – e x sen y,

o′ (y) = 0.

Agora, integramos o′ (y) = 0. Então,

o (y) = c.

Logo, f (x,y) = x 2 sen y + e x cos y + c, c ∈ R é a solução geral da EDO.

Agora, substituímos as variáveis x e y, pelos valores dados no enunciado


π
y (0) = .
4

173
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

x 2 sen y + e x cos y = c

π π
02 sen + e 0 cos =c
4 4

√2
c= .
2

√2
Portanto, x 2 sen y + e x cos y = é a solução particular da EDO, ou seja, a
2
π
curva integral que passa pelo ponto y (0) = .
4

NOTA

Caro(a) acadêmico(a)! Se depois da leitura do Tópico 1 e da realização dos


exercícios, ainda tiver dúvidas procure esclarecê-las antes de iniciar o estudo do Tópico 2.
Bons estudos!

174
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, estudamos as Equações Diferenciais de Primeira Ordem.

• Iniciamos conhecendo os termos e conceitos relativos às equações diferenciais, e


a partir daí, estudamos três tipos de equações diferenciais.

• O primeiro tipo de equação estudada foi a Separável, cuja forma-padrão é dada


dy
por y′ = p(x) · q(y) ou = p(x) · q(y) ou y′ q(y) = p(x). A resolução deste tipo de
dx
EDO é feita através da separação das variáveis e em seguida faz-se a integração
da igualdade.

• O segundo tipo de equação estudada foi a Equação Diferencial Linear de Primeira


dy
Ordem que tem a forma-padrão y′ + p(x) y = q(x) ou + p(x) y = q(x). Para a sua
dx

resolução, utilizamos o fator integrante v(x) = eH(x), onde H(x) = p(x)dx.

• E o terceiro tipo de equação diferencial estudada foi a Equação Exata, cuja forma-
padrão é expressa por M (x,y) dx + N (x,y) dy. O procedimento de resolução requer
∂f ∂f
que trabalhemos com = M (x,y) e = N (x,y) seguindo todo o procedimento
∂x ∂y
já estudado.

175
AUTOATIVIDADE

Nos problemas 1 e 2, resolva, por separação de variáveis, as equações


diferenciais dadas.

dy
1 = (x + 1)2
dx

dy t 2
2 =
dt y 2
Nos problemas 3 e 4, resolva as equações diferenciais lineares de primeira
ordem dadas.

dy 3
3 – y=x
dx x

dy
4 + y = e 3x
dx
Nos problemas 5 e 6, resolva as equações diferenciais exatas.

5 (5x + 4y)dx + (4x – 8y3)dy = 0

6 (sen y – y sen x)dx + (cos x + x cos y)dy = 0

Nas EDO a seguir, identifique o tipo de EDO e encontre a função desconhecida.

7 y′ + 3x 2 y = x 2

dy 3x 2 + 4x + 2
8 = , y (0) = 1
dx 2 (y – 1)
9 (3x 2 – 2xy + 2) + (6y 2 – x 2 + 3) y′ = 0

dy
10 = e 3x + 2y
dx

176
UNIDADE 3
TÓPICO 2

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE


PRIMEIRA ORDEM – SUBSTITUIÇÕES

1 INTRODUÇÃO
No Tópico 2, estudaremos mais tipos de equações diferenciais lineares
de primeira ordem tais como: Equações de Bernoulli e Equações homogêneas. A
resolução destas equações requer algum tipo de substituição.

2 EQUAÇÕES DE BERNOULLI
Definição 2.2.1 Uma equação de primeira ordem da forma y′ + p(x) y = q(x) y n,
onde p(x) e q(x) são funções definidas e contínuas em algum intervalo I, e n é um número
real tal que n ≠ 0 e n ≠ 1, é chamada de equação de Bernoulli.

2.1 MÉTODO DE RESOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DIFERENCIAL


• Escrever a equação na forma-padrão y′ + p(x) y = q(x) y n.

• Identificar as funções p(x), q(x) e o valor de n.

• Indicar a substituição que será feita e aplicar a fórmula u′ + (1 – n) p(x) u = (1 – n) q(x).

• Agora, a EDO é uma linear de primeira ordem, sendo u′ + p(x) u = q(x).

• Calcular o fator integrante e obter a solução.

177
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

NOTA

A equação de Bernoulli y' + p(x) y = q(x) y n que, embora seja de primeira ordem
e não linear (quando n ≠ 1), se transforma em uma equação diferencial linear através da
substituição u = y 1 – n.

Vamos mostrar como que se chega à fórmula u′ + (1 – n) p(x) u = (1 – n) q(x).

Seja a equação de Bernoulli, dada por

y′ + p(x) y = q(x) y n.

Multipliquemos a equação por u = y –n

y′ y –n + p(x) yy –n = q(x) yn y –n

y′ y –n + p(x) y 1 – n = q(x)

Vamos fazer uma substituição u = y 1 – n. Daí:

u′ = (1 – n) y –n y′

u′
y′ = .
(1 – n) y –n
Retornando à equação e fazendo as substituições, obtemos:

u′
+ p(x) u = q(x)
(1 – n)
u′ + (1 – n) p(x) u = (1 – n) q(x).

Exemplo 1
dy
Encontre as curvas integrais para a equação x + y = x 2 y 2.
dx
Resolução
Primeiro, precisamos escrever a EDO na forma-padrão de uma equação de
Bernoulli.

1
Seja xy′ + y = x 2 y 2. Multiplicando ambos os lados da igualdade por , com
x ≠ 0, obtemos: x

1 1
· (xy′ + y) = · x 2 y 2
x x

178
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE PRIMEIRA ORDEM – SUBSTITUIÇÕES

1 · xy′ + 1 · y = 1 · x 2 y 2
x x x
1
y′ + y = xy 2
x
Agora, a EDO está na forma y′ + p(x) y = q(x) y n, e poderemos transformá-la
numa equação diferencial linear, considerando u = y –1 e:

1
p(x) = , q(x) = x e n = 2.
x
u′ + (1 – n) p(x) u = (1 – n) q(x)

1
u′ + (1 – 2) · · u = (1 – 2) · x
x
1
u′ + (–1) u = (–1) x
x
1
u′ – u = –x
x
Agora, seguimos o procedimento já estudado para resolver este tipo de
EDO. Vamos encontrar o fator integrante v(x) = e∫p(x)dx.

1
H(x) = ∫ –
x
dx

H(x) = –In x

v(x) = e –In x

v(x) = x –1

Multiplicando o fator integrante v(x) = x –1 em ambos os lados da igualdade,


obtemos:

1 –1
x –1 u′ – x u = –xx –1
x

x –1 u = – dx∫
x –1 u = –x + c

u = –x 2 + cx

179
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Voltando para a variável y através da substituição u = y –1 feita no início:

y –1 = –x 2 + cx

y = (–x 2 + cx)–1

1
Portanto, y(x) = , c ∈ R.
–x + cx
2

Exemplo 2
Resolva a EDO y′ + 4y = 3e 2x y 4.

Resolução
A EDO já está na forma-padrão de uma equação de Bernoulli.

Então, aplicamos a fórmula u′ + (1 – n) p(x) u = (1 – n) q(x), para transformar


a equação numa equação diferencial linear. Considerando u = y –3 e:

p(x) = 4, q(x) = 3e 2x e n = 4.

u′ + (1 – n) p(x) u = (1 – n) q(x)

u′ + (1 – 4) · 4 · u = (1 – 4) · 3e 2x

u′ + (–3) · 4u = (–3) · 3e 2x

u′ –12u = –9e 2x

Agora, seguimos o procedimento já estudado para resolver este tipo de


EDO. Vamos encontrar o fator integrante v(x) = e∫p(x)dx.


H(x) = (–12) dx

H(x) = –12x

v(x) = e –12x

Multiplicando o fator integrante v(x) = e –12x em ambos os membros da


igualdade, obtemos:

e –12x u′ – 12 e –12x u = e –12x (–9e 2x)

180
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE PRIMEIRA ORDEM – SUBSTITUIÇÕES


e –12x u = (–9e –10x) dx

Para resolver esta integral, vamos aplicar o método da substituição,


considerando:

w = –10x ⇒ dw = –10 dx

9
Então, e –12x u =
10 ∫
ew dw

9 w
e –12x u = e +c
10
9 –10x
e –12x u = e +c
10
9 –10x 12x
e –12x e12x u = e e + c · e12x
10
9 2x
u= e + c · e12x
10
Voltando para a variável y através da substituição u = y –3 feita no início:

9 2x
u= e + c · e12x
10
9 2x
y –3 = e + c · e12x
10

–⅓
9 2x
Portanto, y(x) = e + c · e12x , c ∈ R, é solução geral da EDO proposta.
10

Exemplo 3
Encontre a solução geral para a equação xy′ + y = –xy 2.

Resolução
Escrevendo a EDO na forma-padrão de uma equação de Bernoulli.

1
Seja xy′ + y = –xy 2, multiplicamos ambos os lados da igualdade por :
x
1 1 1
· xy′ + · y = – xy 2
x x x
1
y′ + y = –y 2
x
Assim, a EDO está na forma y′ + p(x) y = q(x) y n.

Então, aplicamos a fórmula mostrada acima, para transformar a equação


numa equação diferencial linear. Considerando u = y –1.

181
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

1
p(x) = , q(x) = –1 e n = 2.
x
u′ + (1 – n) p(x) u = (1 – n) q(x)

1
u′ + (1 – 2) · · u = (1 – 2) (–1)
x
1
u′ + (–1) u = (–1) (–1)
x
1
u′ – u=1
x
Agora, seguimos o procedimento já estudado para resolver este tipo de
EDO. Vamos encontrar o fator integrante v(x) = e∫p(x)dx.

1
H(x) = ∫ –
x
dx

H(x) = –In x

v(x) = e –In x

v(x) = x –1

Multiplicando o fator integrante v(x) = x –1 na equação, obtemos:

1 –1
x –1 u′ – x u = x –1
x
x -1
 x -2u = x -1
′-
u
derivada do produto

d  -1  -1
x u = x
dx 
1
x –1 u = ∫ x dx
x –1 u = In x + c

u = x In x + cx.

Voltando para a variável y através da substituição u = u = y –1. feita no início:

y –1 = x In x + cx

1
Portanto, y(x) = , c ∈ R é a solução geral da EDO.
x In x + cx
Exemplo 4
2 y3
Encontre as curvas integrais para a equação y′ + y= 2.
x x
182
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE PRIMEIRA ORDEM – SUBSTITUIÇÕES

Resolução
A EDO é uma equação de Bernoulli. Então, aplicamos a fórmula u′ + (1 – n)
p(x) u = (1 – n) q(x), para transformar a equação numa equação diferencial linear.
Considerando u = y –2.

2 1
p(x) = , q(x) = 2 e n = 3.
x x
u′ + (1 – n) p(x) u = (1 – n) q(x)

2 1
u′ + (1 – 3) · · u = (1 – 3) 2
x x
2 1
u′ + (–2) u = (–2) 2
x x
4
u′ – u = –2x –2
x
Logo, obtemos uma EDO linear. Agora, seguimos o procedimento já estudado
para resolver este tipo de EDO. Vamos encontrar o fator integrante v(x) = e∫p(x)dx.

4
H(x) = ∫ –
x
dx

H(x) = – 4 In x

v(x) = e – 4 In x
–4
v(x) = e In x

v(x) = x – 4

Multiplicando o fator integrante v(x) = x – 4 na equação, obtemos

4 –4
x – 4 u′ – x u = – 2x–2 · x – 4
x


x –4 u = – 2 x –6 dx
x –5
x –4 u = – 2 +c
–5
2 –5
x –4 u = x +c
5
2
x 4 · x –4 u = x –5 · x 4 + c · x 4
5
183
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

2 –1
u= x + c · x4
5
Voltando para a variável y através da substituição u = y –2 feita no início
2
y –2 = + cx 4
5x

Portanto, , c ∈ R são curvais integrais (soluções) da EDO.

3 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS HOMOGÊNEAS


Vamos estudar equações diferenciais lineares de primeira ordem que
podem ser transformadas em equações já estudadas em seções anteriores.

3.1 FUNÇÕES HOMOGÊNEAS


Definição 2.3.1.1 Uma função f = f (x,y) é dita homogênea de grau n se,
substituindo-se x por λx e y por λy for verdadeira a igualdade f (λx,λy) = λn f (x,y),
para todo real λ ≠ 0.

Por exemplo, as funções listadas a seguir são homogêneas de graus


respectivamente três, um e zero: f (x,y) = xy 2 + x 2 y, f (x,y) = , f (x,y) =
x+y
.
x – 3y

Exemplo 5

Verifique se a função f (x,y) = xy 2 + x 2 y é homogênea, e se for, indique o grau.

Resolução
Para mostrar que f é homogênea, devemos verificar a igualdade f (λx,λy)
= λn f (x,y), λ ∈ IR.

f (λx,λy) = λx (λy) 2 + (λx) 2 λy

f (λx,λy) = λxλ2 y 2 + λ2x 2 λy

f (λx,λy) = λ3xy 2 + λ3x 2y

f (λx,λy) = λ3 (xy 2 + x 2y)

f (λx,λy) = λ3 f (x,y)

184
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE PRIMEIRA ORDEM – SUBSTITUIÇÕES

Portanto, a função f é homogênea de grau 3.

Exemplo 6
Verifique se a função f (x,y) = é homogênea e se for, indique o
grau.

Resolução

Portanto, a função f é homogênea de grau 1.

Exemplo 7
Verifique se a função f (x,y) = xy 2 + ex + y é homogênea e, se for, indique o grau.

Resolução

f (λx,λy) = λx (λy) 2 + eλx + λy

f (λx,λy) = λxλ2y 2 + eλx + λy

f (λx,λy) = λ3xy 2 + eλ(x + y)

f (λx,λy) ≠ λn f (x,y)

Portanto, a função f não é homogênea.

185
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Exemplo 8
x+y
Verifique se a função f (x,y) = é homogênea e, se for, indique o grau.
x – 3y
Resolução
λx + λy
f (λx,λy) =
λx – 3λy

λ(x + y)
f (λx,λy) =
λ(x – 3y)

x+y
f (λx,λy) =
x – 3y

f (λx,λy) = f (x,y)

Portanto, a função f é homogênea de grau zero.

3.2 EQUAÇÕES HOMOGÊNEAS


Definição 2.3.2.1 Uma equação diferencial homogênea é uma equação da
forma

y′ = f (x,y)

onde f = f (x,y) é uma função homogênea de grau zero, ou seja,


A
f (λx,λy) = f (x,y), λ ≠ 0

Definição 2.3.2.2 As equações diferenciais homogêneas podem ser


transformadas, em equações do tipo M (x,y) dx + N (x,y) dy = 0, onde M e N são
funções homogêneas do mesmo grau.

Isto quer dizer que a equação M (x,y) dx + N (x,y) dy = 0 será homogênea se


M (λx,λy) = λn M (x,y), λ ∈ IR e N (λx,λy) = λn N (x,y), λ ∈ IR.

Exemplo 9
Verifique se a equação (x 2 – y 2) dx – 5xy dy = 0 é homogênea.

Resolução
Temos que verificar se M (λx,λy) = λn M (x,y) e N (λx,λy) = λn N (x,y) têm
mesmo grau.

186
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE PRIMEIRA ORDEM – SUBSTITUIÇÕES

M (x,y) = x 2 – y 2 N (x,y) = –5xy

M (λx,λy) = (λx) 2 – (λy) 2 N (λx,λy) = –5 (λx)(λy)

M (λx,λy) = λ2 x 2 – λ2 y 2 N (λx,λy) = –5 λ2xy

M (λx,λy) = λ2 (x 2 – y 2) N (λx,λy) = λ2 (–5xy)

M (λx,λy) = λ2 M (x,y) N (λx,λy) = λ2 N (x,y)

Portanto, a equação (x 2 – y 2) dx – 5xy dy = 0 é homogênea.

Pode-se resolver uma equação diferencial homogênea, transformando-a


em uma equação de variáveis separáveis fazendo uma substituição adequada.

3.2.1 Método de resolução da equação diferencial


Seja uma EDO homogênea de primeira ordem, vejamos como proceder
para resolver esta equação diferencial homogênea.

dy y
O primeiro passo é colocar a equação na forma =g , onde g é uma
dx x
função contínua de uma única variável.

y
Fazendo v = , então y = vx e
x

dy dv y
=x +v e g fica g (v).
dx dx x

Então a equação pode ser escrita como

dv
x + v = g (v),
dx
que pode ser reescrita na forma

dv dx
= .
g (v) – v x

Note que essa equação é separável. Então, podemos resolvê-la como


uma equação diferencial separável e escrever a solução em função de x e de y,
y
substituindo v por .
x

187
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Vejamos outra situação; seja uma equação homogênea dada na forma M


(x,y) dx + N (x,y) dy = 0.

dy M (x,y)
Então, M (x,y) dx = -N (x,y) dy ⇒ = .
dx N (x,y)
Como a equação é homogênea, M e N têm o mesmo grau de homogeneidade
M (x,y)
n. Então, se dividirmos M e N por λn , transformaremos – numa função do
N (x,y)
dy y
tipo =g .
dx x

Daí segue o mesmo procedimento acima.

Exemplo 10
3x 2 + y 2
Mostre que a equação diferencial y′ = é homogênea e encontre sua
xy
solução geral.

Resolução
A equação é homogênea: pois, supondo λ ≠ 0,

3(λx) 2 + (λy) 2
f (λx,λy) = (λx) (λy)

λ2 (3x 2 + y 2)
f (λx,λy) = λ2 (xy)

3x 2 + y 2
f (λx,λy) = xy

f (λx,λy) = f (x,y).

y
Definindo v = , e substituindo na equação diferencial, temos
x

dy dv
Como y = vx, então =x + v.
dx dx
dv 3 + v2
Logo nossa equação diferencial fica x +v= .
dx v

188
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE PRIMEIRA ORDEM – SUBSTITUIÇÕES

dv 3 + v 2
x = –v
dx v

dv 3
x =
dx v

3
v dv = dx
x
Essa é uma equação separável que podemos resolver facilmente:

3
∫v dv = ∫ x dx
v2
= 3 In |x| + c, c ∈ R
2
v 2 = 6 In |x| + 2c, c ∈ R

y
Substituindo v por e k = 2c, temos
x
y2
= 6 In |x| + k, k ∈ R
x2
Logo, a solução geral tem a forma y 2 = 6x 2 In |x| + x2k, k ∈ R

Exemplo 11
2y 4 + x 4
Mostre que a equação y′ = é homogênea, e resolva a equação
xy 3
diferencial.

Resolução
Vamos mostrar que a EDO é homogênea de grau zero, supondo λ ∈ IR.

2(λy) 4 + (λx) 4
f (λx,λy) = (λx) (λy) 3

2λ4 y 4 + λ4 x 4
f (λx,λy) = λ4xy 3

λ4 (2y 4 + x 4)
f (λx,λy) = λ4xy 3

f (λx,λy) = f (x,y).

y
Definindo v = , e substituindo na equação diferencial, temos
x

189
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

dy 2y 4 + x 4
= xy 3
dx

dy 2v + 1
4

= v3 .
dx
dy dv
Como y = vx, então =x + v.
dx dx
dv 2v 4 + 1
Logo, nossa equação diferencial fica x +v = v3 .
dx
dv 2v + 1
4

x = v3 –v
dx
dv v + 1
4

x = v3
dx
v3 dx
v + 1 dv = x
4

Essa é uma equação separável que podemos resolver facilmente:

v3 dx
∫v 4
+ 1 dv = ∫x
1
In (v 4 + 1) = In |x| + c, c · R
4

In (v 4 + 1) = 4 In |x| + 4c

4 + 1)
eIn (v = e 4 In |x| + 4c
4 + 4c
v 4 + 1 = e In x

v 4 + 1 = x 4 e 4c, c ∈ R

Fazendo k = e 4c, temos

v 4 + 1 = kx 4

Isso nos dá

v 4 = kx 4 – 1, k · R

190
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE PRIMEIRA ORDEM – SUBSTITUIÇÕES

y
Substituindo v por , temos
x
y4
= kx 4 – 1.
x4

Logo, y 4 = kx 8 – x 4, k ∈ R é a solução geral da EDO.

Exemplo 12
y2 – x2
Encontre a solução geral da equação homogênea y′ = .
2xy

Resolução
dy dv
Sejam y = vx e =x + v. A EDO não linear homogênea assume a forma
dx dx

dy y 2 – x 2
=
dx 2xy

dy v 2 – 1
= 2v .
dx
dv v2 – 1
Então, nossa equação diferencial fica x + v = 2v .
dx
dv v 2 – 1
x = 2v – v
dx

dv –v 2 – 1
x = 2v
dx

2v dx
dv = –
v +12
x
Essa é uma equação separável que podemos resolver facilmente

2v dx
∫v 2 ∫
+ 1 dv = – x

In |v 2 + 1| = –In |x| + c, c ∈ R

In |v 2 + 1| + In |x| = c

191
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

2 + 1| + In |x|
eIn |v = ec

2 + 1|
eIn |v e In |x| = e c

|v 2 + 1||x| = ec

y
Substituindo v por e k = ec, temos
x

y2
Portanto, + x = k, k ∈ R é solução da EDO.
x

192
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, vimos outros dois tipos de equações diferenciais lineares


de primeira ordem:

• As equações de Bernoulli e as equações exatas.

• A diferença das equações estudadas no tópico anterior é que, nestas precisamos


fazer alguma substituição para resolvê-las.

• A equação linear de Bernoulli tem a forma-padrão y′ + p(x) y = q(x) y n. A


substituição que temos que fazer é dada por u = y 1–n e utilizamos a fórmula u′ +
(1 – n) p(x) u = (1 – n) q(x). Com isso, a equação é reduzida a uma equação linear.

• A outra equação estudada foi a equação homogênea com forma-padrão M (x,y)


dx + N (x,y) dy = 0, onde M e N são funções homogêneas do mesmo grau.
dy y
Para obter a solução, devemos escrever a EDO na forma =g e fazer a
dx x
y
substituição v = .
x

193
AUTOATIVIDADE

Nos problemas 1 e 2, resolva as equações diferenciais lineares de Bernoulli.

dy 1
1 x +y= 2
dx y

2 y′ = y (xy 3 – 1)

3 Resolva a equação diferencial homogênea (x – y) dx + x dy = 0.

Nas EDO a seguir, identifique o tipo de EDO e encontre a função desconhecida.

dy
4 xy 2 = y 3 – x 3, y (1) = 2
dx

dy
5 x 2 + y 2 = xy
dx

6 (x 2 + y 2) dx + xy dy = 0

194
UNIDADE 3
TÓPICO 3

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES


DE SEGUNDA ORDEM

1 INTRODUÇÃO
Finalizamos a unidade com o Tópico 3, as equações diferenciais lineares
de segunda ordem. Aqui, estudaremos apenas as equações lineares homogêneas
com coeficientes constantes. Estas equações são de resolução mais simples devido
a um procedimento de substituição por uma equação de segundo grau, chamada
de equação característica ou auxiliar.

2 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA


ORDEM
Definição 3.2.1 Uma equação diferencial linear de segunda ordem é da
forma

d2 y dy
a1 (x) + a2 (x) + a3 (x)y = o (x),
dx 2 dx

onde os coeficientes a1 (x), a2 (x), a3 (x), são contínuos e o (x) também é uma
função contínua em algum intervalo I.

Definição 3.2.2 Uma equação diferencial linear de segunda ordem da forma

d2 y dy
a1 (x) + a2 (x) + a3 (x)y = 0
dx 2 dx

é chamada de homogênea, onde os coeficientes a1 (x), a2 (x), a3 (x) são


contínuos em algum intervalo I.

195
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

NOTA

Para as equações lineares homogêneas, é válido o princípio da superposição


que diz que, se y1 (x) e y2 (x) são soluções da equação diferencial, então

y (x) = c1 y1 (x) + c2 y2 (x)

também o é, para todas as constantes c1 e c2. A expressão colocada anteriormente é


chamada combinação linear de y1 (x) e y2 (x).

Isso é o que diz o teorema da superposição, onde a soma ou superposição


de duas ou mais soluções de uma equação diferencial linear homogênea é também
uma solução.

Teorema 3.2.1 (Princípio da superposição – Equações Homogêneas) Se y1


(x) e y2 (x) são soluções da equação diferencial homogênea em algum intervalo I,
então a combinação linear

y (x) = c1 y1 (x) + c2 y2 (x)

onde c1 e c2 são constantes arbitrárias, é também uma solução no intervalo I.

Definição 3.2.3 Para as equações diferenciais lineares homogêneas, fixadas


as soluções y1 (x) e y2 (x), definimos o wronskiano dessas soluções pelo determinante

UNI

Józef Maria Wronski (1778-1853) foi um matemático polonês. O wronskiano é


definido como um determinante cuja primeira linha é ocupada pelas funções e as linhas
seguintes são formadas pelas suas derivadas até a ordem n – 1. E o wronskiano pode ser
utilizado como um teste de independência linear para as soluções das EDOs.

Suponha que y1 (x) e y2 (x), sejam duas soluções. Então, a combinação linear
dessas duas soluções é uma solução geral dada por

y (x) = c1 y1 (x) + c2 y2 (x).

196
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

Derivando y (x), temos

y′ (x) = c1 y′ 1 (x) + c2 y′ 2 (x).

Substituindo-se x = x 0 nas equações obtemos o sistema de equações

y (x0) = c1 y1 (x0) + c2 y2 (x0)


y′ (x0) = c1 y′ 1 (x0) + c2 y′ 2 (x0)

que pode ser escrito na forma A • X = B em que

Logo, o determinante da matriz A leva o nome de Wronskiano e é


denotado por

W (y1, y2) (t) = det

Exemplo 1
As funções y1(x) = e 5x e y2(x) = e –5x são ambas soluções da equação diferencial
linear homogênea y′′ – 25y = 0 no intervalo ]–∞, ∞[. Verifique que o wronskiano é
diferente de zero e escreva a solução da EDO.

Resolução
Sejam y1(x) = e 5x e y2(x) = e –5x. Precisamos derivar as funções para calcular o
wronskiano.

y′1(x) = 5e 5x e y′2(x) = –5e –5x, então

W(x) = –5e –5x · e 5x – 5e 5x · e –5x = – 10 ≠ 0

W(x) =

Conforme o teorema acima, a solução dessa EDO tem a forma y (x) = c1 y1


(x) + c2 y2 (x).

Então, y (x) = c1 e 5x + c2 e –5x.

197
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Teorema 3.2.2 Sejam y1 (x) e y2 (x) soluções da equação diferencial


homogênea em algum intervalo I. Então, o conjunto de soluções será linearmente
independente em I se e somente se W (x) ≠ 0, x ∈ I.
A

NOTA

Em resumo, do que vimos sobre o wronskiano podemos concluir: para que y1 (x)
e y2 (x) formem um conjunto fundamental de soluções da equação diferencial homogênea,
A
basta que o wronskiano W (x) ≠ 0, x ∈ I.

Exemplo 2
Mostre que y1 (t) = t ½ e y2 (t) = t –1 formam um conjunto fundamental de
soluções da equação diferencial linear homogênea 2t 2 y′′ + 3ty′ – y = 0 no intervalo
]0, ∞[.

Resolução
Precisamos verificar primeiro se y1 (t) e y2 (t) são soluções da EDO.

1 –½ 1 -3
Se y1 (t) = t ½, então y′1 (t) = t e y′′1 (t) = - t 2 .
2 4
Se y2 (t) = t –1, então y′2 (t) = –t –2 e y′′2 (t) = 2t – 3.

Substituindo y1 (t) e suas derivadas na EDO, temos

 1 -3  1 -1 1
2t 2  - t 2  + 3t t 2 -t 2 = 0
 4  2

1 1 3 1 1
- t 2 + t 2 -t 2 = 0
2 2

Portanto, y1 (t) é solução da EDO.

Agora, substituindo y2 (t) e suas derivadas na EDO, temos

2t 2 (2t – 3) + 3t (– t – 2) – t – 1 = 0

4t – 1 – 3t – 1 – t – 1 = 0.

Portanto, y2 (t) é solução da EDO.

Para que as funções y1 (t) e y2 (t) formem um conjunto fundamental de soluções

198
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

da EDO, pelos teoremas anteriores, basta verificarmos que o wronskiano é diferente


de zero para algum t > 0. Assim,

1 – 3
W (x) = –t – – t = – t – ≠ 0.
3 3 3
2 2 2

2 2
Logo, y1 (t) = t ½ e y2 (t) = t –1 formam um conjunto fundamental de soluções
da equação 2t 2 y′′ + 3ty′ – y = 0. Assim, y (t) = c1t ½ + c2t –1.

3 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE 2ª ORDEM COM


COEFICIENTES CONSTANTES
Vamos considerar apenas equações diferenciais da forma

d2 y dy
a +b + cy = 0
dx 2 dx
onde a, b e c são números reais e a ≠ 0. Para esta equação diferencial linear
homogênea existem valores constantes de λ tais que y = eλx é uma solução.

dy d2 y
Substituindo-se y = eλx, = λeλx e = λ2eλx na EDO obtemos
dx dx 2
aλ2eλx + bλeλx + eλx = 0

eλx (aλ2+ bλ + c) = 0

d2 y dy
Como eλx ≠ 0, então y = eλx é solução de a +b + cy = 0 se, e somente
dx 2 dx
se, λ é solução da equação aλ2+ bλ + c = 0.

Definição 3.3.1 A equação aλ2+ bλ + c = 0 é chamada de equação característica


ou equação auxiliar da equação diferencial linear homogênea.

199
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

3.1 MÉTODO DE RESOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DIFERENCIAL


d2 y
A natureza das soluções da equação diferencial linear homogênea a +b
dy dx 2
+ cy = 0 depende da natureza das raízes da equação característica correspondente.
dx

Para escrever as soluções das equações diferenciais, teremos três casos a


considerar. Vamos empregar o teorema apresentado a seguir.

Teorema 3.3.1.1: Dada a equação ay′′ + by′ + cy = 0, formamos a equação


característica aλ2+ bλ + c = 0.

i) Se a equação característica tem duas raízes reais distintas λ1 e λ2, então a solução
geral tem a forma

y = c1eλ1x + c2eλ2x.

ii) Se a equação característica tem apenas uma raiz real λ, então a solução geral tem
a forma

y = c1eλ1x + c2xeλx ou

y = (C1 + C2x) eλx.

iii) Se a equação característica tem duas raízes complexas λ1 = α + βi e λ2 = α – βi,


então a solução geral tem a forma

y = c1eαx cos βx + c2eαx sen βx ou

y = eαx (c1 cos βx + c2 sen βx).

NOTA

As raízes λ1 e λ2 da equação característica são chamados de autovalores.

Exemplo 3
Encontre a solução geral da equação y′′ + 4y′ + 4y = 0.

Resolução
Conforme vimos acima, devemos escrever a equação característica
λ2 + 4λ + 4 = 0 e encontrar as suas raízes.

200
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

Aplicando a fórmula , temos

–4
λ=
2
λ = –2

Assim, a solução geral da EDO é dada por y = c1e–2x + c2xe–2x.

Exemplo 4
Encontre a solução geral da equação y′′ + 2y′ – 15y = 0. Depois encontre a
solução particular que satisfaz as condições iniciais y (0) = 0 e y′­­(0) = –1.

Resolução
Resolvendo a equação característica λ2 + 2λ – 15 = 0, temos

–2 ± 8
λ=
2

–2 – 8
λ1 = = –5
2

–2 + 8
λ2 = =3
2
A solução geral é y = c1e– 5x + c2e3x.

Substituindo as condições iniciais y (0) = 0 e y′­­(0) = –1 na solução geral,


obtemos

y = c1e– 5x + c2e3x e y (0) = 0, então

201
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

. .
c1e– 5 • 0 + c2e3 • 0 = 0

c1 + c2 = 0

Agora, y′­­= – 5c1e– 5x + 3c2e3x e y′­­(0) = –1, então


. .
– 5c1e– 5 • 0 + 3c2e3 • 0 = –1

– 5c1 + 3c2= –1

c1 + c2 = 0 1 1
Resolvendo o sistema , encontramos c1 = e c2 = – .
– 5c1 + 3c2= –1 8 8

Portanto, a solução que satisfaz as condições iniciais é dada por


1 – 5x 1 3x
y= e – e .
8 8
Exemplo 5
Encontre a solução geral da equação y′′ + 2y′ + 5y = 0.

Resolução
Conforme vimos acima, devemos escrever a equação característica
λ2 + 2λ + 5 = 0 e encontrar as suas raízes.

Aplicando a fórmula , temos

– 2 ± 4i
λ=
2
λ = – 1 ± 2i

λ1 = – 1 – 2i

λ2 = – 1 + 2i

Assim, pelo teorema a solução geral da EDO é dada por y = e–x (c1 cos 2x +
c2 sen 2x).

202
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

Exemplo 6
Encontre a solução geral da equação y′′ + 2y′ + y = 0.

Resolução
Resolvemos a equação característica λ2 + 2λ + 1 = 0.

Aplicando a fórmula , temos

–2
λ=
2
λ = –1

Assim, a solução geral da EDO é dada por y = c1e–x + C2 xe–x.

No gráfico a seguir (Figura a seguir) estão algumas soluções da equação


diferencial y′′ + 2y′ + y = 0.

FIGURA 55 – ALGUMAS SOLUÇÕES DA EQUAÇÃO DIFERENCIAL

FONTE: O autor

203
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Exemplo 7
Encontre a solução geral da equação y′′ + 12y = 0.

Resolução
Resolvemos a equação característica λ2 + 12 = 0, temos

λ2 = –12

λ = ± √ –12

λ = ± √ 12i

λ = ± √ 22 • 3i

λ = ± 2 √ 3i

λ1 = 2 √ 3i

λ2 = –2 √ 3i

Daí, temos que α = 0 e β = 2 √ 3


. .
y = c1e0 • x cos (2 √ 3 x) + c2e0 • x sen (2 √ 3 x)

Portanto, a solução geral da EDO é dada por y = c1 cos (2 √ 3 x) + c2 sen (2 √ 3 x).

LEITURA COMPLEMENTAR

Equações Diferenciais como Modelos Matemáticos

MODELOS MATEMÁTICOS: É frequentemente desejável descrever o


comportamento de algum sistema ou fenômeno da vida real em termos matemáticos,
quer sejam eles físicos, sociológicos ou mesmo econômicos. A descrição matemática
de um sistema ou fenômeno, chamada de modelo matemático, é constituído
levando-se em consideração determinadas metas. Por exemplo, talvez queiramos
compreender os mecanismos de um determinado ecossistema por meio do estudo
do crescimento de populações de animais nesse sistema ou datar fósseis por meio
da análise do decaimento radioativo de uma substância que esteja no fóssil ou no
extrato no qual foi descoberta.

A construção de um modelo matemático de um sistema começa com

(i) a identificação das variáveis responsáveis pela variação do sistema.


Podemos a princípio optar por incorporar todas essas variáveis no modelo. Nesta
capa, estamos especificando o nível de resolução do modelo.

204
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

A seguir,

(ii) elaboramos um conjunto de hipóteses razoáveis ou pressuposições


sobre o sistema que estamos tentando descrever. Essas hipóteses deverão incluir
também quaisquer empíricas aplicáveis ao sistema.

Para alguns propósitos, pode ser perfeitamente razoável nos contentarmos


com um modelo de baixa resolução. Por exemplo, você provavelmente já sabe
que, nos cursos básicos de Física, a força retardadora do atrito com o ar é às vezes
ignorada, na modelagem do movimento de um corpo em queda nas proximidades
da superfície da Terra, mas se você for um cientista cujo trabalho é predizer
precisamente o percurso de um projétil de longo alcance, terá de levar em conta a
resistência do ar e outros fatores, como curvatura da Terra.

Como as hipóteses sobre um sistema envolvem frequentemente uma taxa


de variação de uma ou mais das variáveis, a descrição matemática de todas essas
hipóteses pode ser uma ou mais equações envolvendo derivadas. Em outras
palavras, o modelo matemático pode ser uma equação diferencial ou sistema de
equações diferenciais.

Depois de formular um modelo matemático, que é uma equação diferencial


ou um sistema de equações diferenciais, estaremos de frente para o problema nada
insignificante de tentar resolvê-los. Se pudermos resolvê-lo, julgaremos o modelo
razoável se suas soluções forem consistentes com dados experimentais ou fatos
conhecidos sobre o comportamento do sistema.

Porém, se as predições obtidas pela solução forem pobres, poderemos


elevar o nível de resolução do modelo ou levantar hipóteses alternativas sobre
o mecanismo de mudança no sistema. As etapas do processo de modelagem são
então repetidas, conforme disposto no seguinte diagrama:

FIGURA 56 – DIAGRAMA
Expresse as hipóteses
FORMULAÇÃO
HIPÓTESES em termos de equações
MATEMÁTICA
diferenciais

Se necessário, altere as
hipóteses ou aumente a Resolva as EDs
resolução do modelo

COMPARE AS
PREDIÇÕES DO Exponha as predições do
OBTENHA AS
MODELO COM OS modelo (por exemplo,
SOLUÇÕES
FATOS CONHECIDOS graficamente)

FONTE: O autor

205
UNIDADE 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Naturalmente, aumentando a resolução aumentaremos a complexidade


do modelo matemático e, assim, a probabilidade de não conseguirmos obter uma
solução explicita.

Um modelo matemático de um sistema físico frequentemente envolve a


variável tempo t. Uma solução do modelo oferece então o estado do sistema; em
outras palavras, os valores da variável (ou variáveis) para valores apropriados de
t descrevem o sistema no passado, presente e futuro.

DINÂMICA POPULACIONAL: Uma das primeiras tentativas de


modelagem do crescimento populacional humano por meio da matemática foi
feita pelo economista inglês Thomas Malthus, em 1978. Basicamente, a ideia por
trás do modelo malthusiano é a hipótese de que a taxa segundo a qual a população
de um país cresce em um determinado instante é proporcional à população total
do país naquele instante. Em outras palavras, quanto mais pessoas houver em um
instante t, mais pessoas existirão no futuro.

Em termos matemáticos, se P(t) for a população no instante t, então essa


hipótese pode ser expressa por

dP dP
∞ P ou =k·P (1)
dt dt

onde k é uma constante de proporcionalidade. Esse modelo simples,


embora não leve em conta muitos fatores que podem influenciar a população
humana tanto em seu crescimento quanto em seu declínio (imigração e emigração,
por exemplo), não obstante resulta ser razoavelmente preciso na previsão da
população dos Estados Unidos entre os anos de 1970 e 1980. As populações que
crescem à taxa descrição por (1) são raras; entretanto, (1) é ainda usada para
modelar o crescimento de pequenas populações em um curto intervalo de tempo
(crescimento de bactérias em placas de Petri, por exemplo).

FONTE: Zill (2003, p. 22-24)

206
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, vimos:

d2 y dy
• A equação diferencial na forma-padrão a +b + cy = 0. A sua resolução se
dx 2
dx
resume em encontrar as raízes de uma equação do segundo grau aλ2+ bλ + c = 0.
Após encontrar as raízes da equação aplica-se o teorema a seguir.

• Teorema 3.3.1.1 Dada a equação ay′′ + by′ + cy = 0, formamos a equação


característica aλ2+ bλ + c = 0.

• Se a equação característica tem duas raízes reais distintas λ1 e λ2, então a solução
geral tem a forma

y = c1eλ1x + c2eλ2x.

• Se a equação característica tem apenas uma raiz real λ, então a solução geral tem
a forma

y = c1eλ1x + c2xeλx ou

y = (C1 + C2x) eλx.

• Se a equação característica tem duas raízes complexas λ1 = α + βi e λ2 = α – βi,


então a solução geral tem a forma

y = c1eαx cos βx + c2eαx sen βx ou

y = eαx (c1 cos βx + c2 sen βx).

207
AUTOATIVIDADE

Encontre a solução geral das seguintes EDOs.

1 y′′ – 3y′ + 2y = 0

2 8y′′ + 4y′ + y = 0

3 4y′′ + y′ = 0

4 y′′ – y′ – 6y = 0

5 y′′ + 9y = 0

6 12y′′ – 5y′ – 2y = 0

7 y′′ – 4y′ + 5y = 0

8 y′′ – 2y′ + y = 0

208
REFERÊNCIAS
ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo. v. 2. Poro Alegre: Bookman, 2007.

BOYCE, Willian E.; DIPRIMA, Richard C. Equações diferenciais elementares e


problemas de valores de contorno. Rio de Janeiro: LTC, 2002.

FINNEY, R.; WEIR, M.; GIORDANO, F. Cálculo de George B. Thomas Jr. v. 2.


São Paulo: Addison Wesley, 2002.

FLEMMING, Diva Marília; GONÇALVES, Mirian Buss. CÁLCULO B: funções


de várias variáveis, integrais duplas e triplas. 2° ed. São Paulo: Makron Books do
Brasil, 2007.

LEITHOLD, Louis. O Cálculo com geometria analítica. v. 2. 3° ed. São Paulo:


Harbra, 1994.

SIMMONS, George F. Cálculo com geometria analítica. v. 2. São Paulo: Pearson


Makron Books, 1987.

ROGAWKI, Jon. Cálculo. v. 2. Porto Alegre: Bookman, 2009.

STEWART, James. Cálculo. v. 2. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006.

ZILL, Dennis G. Equações diferenciais com aplicações em modelagem. São


Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.

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ANOTAÇÕES

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