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RESENHA 1 – MUNANGA. KABENGELE.

“ARTE AFRO-BRASILEIRA: O QUE É


AFINAL? ”

O texto “Arte Afro-Brasileira: o que é afinal? ” foi publicado na edição de 2019 da


Paralaxe, (revista eletrônica da PUC-SP) e escrito por Kabengele Munanga, professor titular
aposentado da Universidade de São Paulo (USP). Munanga é graduado em antropologia
cultural pela Université Officielle Du Congo à Lubumbashi (1969) e doutor em ciências
sociais (antropologia social) pela USP (1977).

O autor inicia o excerto contando que, a princípio, a arte afro-brasileira era, em suas
próprias palavras, “religiosa, funcional e utilitária”. Isso ocorreu porque os africanos
escravizados eram política e ideologicamente reprimidos - a única cultura permitida a ser
expressada era a dos invasores cristãos. Assim, essa forma de arte religiosa só conseguiu vigorar
pois encontrou uma simbologia correspondente no cristianismo, se misturando a ele. Além
disso, as práticas da religião eram muito ligadas à natureza no continente africano, que é
semelhante à brasileira.

Por muito tempo, essa expressão artística passou despercebida, existindo apenas no
espectro da clandestinidade. Porém, a partir das décadas de 30 e 40 isso mudou. Os artistas
passam a ser conhecidos e “...alguns deles começam a trabalhar dentro do conceito das
chamadas artes "popular" e "primitiva", encorajados pelo movimento modernista e pela busca
do nacionalismo. ” (MUNANGA, 2019, p. 14).

A partir dessa contextualização, Munanga nos convida a refletir sobre como seria viável
classificar o que seria a arte afro-brasileira afinal. Apesar de sugerir diversos sistemas para tal,
procurando uma visão não arbitrária, biológica, étnica ou politizada, ele acaba chegando à
conclusão de que não é possível fazer uma categorização desse jeito, “É o preço que devemos
pagar ao aceitar a (...) curadoria de um módulo que representa a produção artística de um dos
segmentos étnicos mais excluídos da vida nacional brasileira. ” (MUNANGA, 2019, p. 21).

Assim, o autor finaliza o texto ressaltando que as obras produzidas pelos


“...politicamente “negros” e historicamente “afro-brasileiros”...” contribuíram na formação da
identidade brasileira e engrandeceram o país, logo, o fato de que o segmento étnico desses
artistas é um dos mais excluídos deixa muito a desejar e deve ser revisto.

A visão do autor pode ser associada ao vídeo UFOP Conhecimento - Aleijadinho,


postado no canal de YouTube da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), no qual a Profa.
Dra. Guiomar de Grammont conta um pouco sobre a vida de Antônio Francisco Lisboa, mais
conhecido como Aleijadinho. A professora fala que o artista teve sua vida retratada em dois
momentos: por um sábio local para participar de um concurso histórico geográfico regido pelo
próprio Dom Pedro II e, a posteriori, no período do movimento modernista brasileiro.

No primeiro momento, foi ressaltado as origens portuguesas de Aleijadinho, numa


tentativa de embranquece-lo. Já no segundo, salientou-se que ele era mestiço, e que foi um
grande artista nacional que produziu arte afro-brasileira ao congregar elementos da negritude
aos europeus, resultando em uma estética inédita e rica em significados. Como o movimento
modernista almejava a construção e valorização da arte nacional, a figura do artista acabou por
ser agigantada e ficou internacionalmente conhecida e admirada.

Em conclusão, apesar de ter sido exagerada, essa imagem do Aleijadinho é muito


necessária pois ajuda a evidenciar e trazer o devido reconhecimento a todo um segmento de arte
brasileira que foi por muito tempo negligenciado, e ainda é, de certa forma, até os dias de hoje.

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