Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
POVOS INDÍGENAS NO
SUL E SUDESTE DO PARÁ
ACESSO AOS DIREITOS DOS POVOS
INDÍGENAS NO SUL E SUDESTE DO
PARÁ
Bernardo Tomchinsky
1ª edição
Marabá, 2020
A quem pertence esta cartilha?
- Nome:
- Território:
- Aldeia/Comunidade:
- Área do território:
- População do território:
- Situação do território:
1
Quem são os povos indígenas do Sul e Sudeste do Pará?
No Brasil, existem 896,9 mil indígenas, pertencentes a 305 etnias e que falam
274 idiomas diferentes, segundo dados do censo indígena de 2010 do IBGE. Em
todo o estado do Pará, vivem cerca de 70 mil indígenas de mais de 50 etnias, em
mais de 80 territórios indígenas que estão em diferentes fases de demarcação ou
em áreas urbanas de pelo menos 50 municípios paraenses.
No Sul e Sudeste do Pará, área compreendida entre os rios Xingu e Tocantins-
Araguaia, habitam cerca de 15 mil indígenas de pelo menos 18 povos indígenas.
Esses indígenas vivem em 21 terras demarcadas ou homologadas, em projetos de
assentamento agrário ou nas cidades.
Convivem na região, povos que viviam aqui desde antes da chegada dos não
indígenas, incluindo os Amanayé, Anambé, Araweté Bïde, Assurini do Tocantins,
Gavião (Akrãtikatêjê, Kykatêjê e Parkatêjê), Kayapó Mebêngôkre (Gorotire,
Kôkraimôrô, Kuben Kran Krên, Kôkraimôrô, Kararaô, Mekrãgnoti, Metyktire ),
Xikrin Mebengôkre, Parakanã Awaeté e Suruí Aikewara e outras etnias que
migraram em um período mais ou menos recente como os Atikum, Guajajara
Tenetehara, Guarani Mbya, Tembé, Kaingang, Kanela, Karajá, Krahô, Xerente e
Warao (da Venezuela).
Apesar das diferenças históricas e culturais, muitos dos desafios encontrados
por estes diferentes povos para a sua sobrevivência são semelhantes.
2
POVOS INDÍGENAS DO SUL E SUDESTE DO PARÁ
POVO TERRITÓRIO POPULAÇÃO* MUNICÍPIO**
TI Barreirinha 86 Paragominas
Amanayé
TI Sarauá 184 Ipixuna do Pará
Anambé TI Ananbé 161 Moju
Senador José Porfírio,
TI Araweté
Araweté Bïde 467 São Félix do Xingu e
Igarapé Ipixuna
Altamira
Assurini do Tocantins TI Trocará 708 Baião e Tucuruí
Kanaí 36 Canaã dos Carajás
Atikun Ororobá 72 Itupiranga
Omã 70 Redenção
Gavião Akrãtikatêjê, TI Mãe Maria & Bom Jesus do
1000
Kykatêjê e Parkatêjê Faz. Mabel Tocantins
Guajajara Tenetehara Guajanaíra 31 Itupiranga
Guarani-M´bya Nova Jacundá 72 Rondon do Pará
Altamira, Matupá,
TI Menkragnoti 1264 Peixoto de Azevedo e
São Felix do Xingu
Santa Cruz do Xingu,
TI Kapôt Nhinore sem dados Vila Rica e São Felix do
Kayapó Mebêngôkre
Xingu
(Gorotire, Kôkraimôrô,
Bannach, Cumaru do
Kuben Kran Krên,
Norte, Ourilândia do
Kôkraimôrô, Kararaô, TI Kayapo 4548
Norte e São Félix do
Mekrãgnoti, Metyktire)
Xingu
Pau d´Arco, Floresta do
TI Las Casas 409
Araguaia e Redenção
São Félix do Xingu e
TI Badjonkore 230
Cumaru do Norte
Senador José Porfírio,
TI Trincheira-
746 São Félix do Xingu,
Bacajá
Altamira e Anapu
Xikrin Mebengôkre
Parauapebas, Água
TI Catete 1606 Azul do Norte e
Marabá
TI Apyterewa 729 São Félix do Xingu
Parakanã Awaeté Itupiranga e Novo
TI Parakanã 1787
Repartimento
Brejo Grande do
TI Sororó & Araguaia, Marabá, São
Suruí Aikewara TI Tuwa 513 Domingos do Araguaia
Apekuokawera e São Geraldo do
Araguaia
* dados da SESAI, SEDUC e CIMI (2020); **segundo documento de registro da criação de cada Território.
3
Leis para quem?
5
Estados e Munícios, como entes da união, também possuem a divisão entre
os poderes, de acordo com normativas relacionadas. O chefe do executivo do
estado é o governador, da prefeitura é o prefeito. Os representantes legislativos
do estado são os deputados estaduais, das prefeituras os vereadores. Todos eles
são eleitos pelo povo para mandatos de quatro anos. É importante estabelecer
contato com cada um deles para garantir que as demandas dos povos indígenas
sejam conhecidas e atendidas e seus direitos respeitados.
6
OUTROS TERMOS JURÍDICOS
- Cláusula pétrea: são leis que não podem ser mudadas na constituição por emenda.
- Convenção, Tratado ou Declaração Internacional: pactos e acordos criados em
conferências internacionais para estabelecer entendimentos comuns entre os grupos que
participaram da sua criação. Pode ter força de lei nos países que a adotam e a ratificam.
- Decreto: é uma ordem emitida por autoridade superior que, dentro da legislação
existente, traz uma ordem ou resolução com validade imediata após publicação. Pode ser
contestada pelo legislativo quando for emitida pelo poder executivo.
- Diário Oficial: publicação onde todo ato do governo, legislativo e judiciário deve ser
publicado e divulgado.
- Emenda constitucional: mudança pontual nas leis existentes.
- Estatuto: é um regulamento ou conjunto de regras que fala sobre como determinada
organização ou coletivo deve funcionar; ou um conjunto de leis sobre determinado
assunto.
- Instrução normativa: norma sobre determinado aspecto administrativo de instituição.
- Lei: é uma regra escrita e estabelecida pelo poder competente. Para ser criada ela passa
por um rito, de acordo com a instituição que a cria. De acordo com o artigo 5 da CF88,
ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude da
lei.
- Medida provisória: pode ser emitida pela presidência da república, dentro da legislação
existente, com força de lei, mas precisa ser aprovada no congresso em até 120 dias para
manter a validade.
- Ofício: documento oficial utilizado para diversos fins (solicitação, notificação,
comunicação, reinvindicação), com número de registro.
- Portaria: ato administrativo ou documento emitido por uma autoridade com instruções
sobre aplicação de leis ou regulamentos, recomendações, normas, nomeações ou outros
atos.
- Portaria interministerial: ato administrativo ou documento emitido por mais de um
ministério, quando o tema é abordado por mais de uma pasta.
- Projeto de lei: nova lei ou alteração em lei existente, precisa ser aprovada no congresso
e sancionada pelo presidente para ter validade. Em alguns casos, entra em vigor antes de
completar este processo.
- Recomendação, notificação ou requisições: são emitidas pelos órgãos de fiscalização ou
ministério público em processos específicos para outras instituições, a fim de melhorar o
atendimento público, alcançar direitos ou procurar explicações para fatos analisados.
- Regimento: conjunto de regras ou normas sobre o funcionamento de uma organização.
- Resolução: norma usada para disciplinar assuntos relacionados ao congresso nacional.
7
Direitos humanos Universais: para todos e em todo o mundo!
Os direitos humanos são direitos básicos e universais para todo e qualquer ser
humano de todo o mundo, sem distinção de qualquer espécie, seja origem
nacional ou social, riqueza, etnia, raça, cor, religião, gênero, orientação sexual,
idade ou qualquer outra variante, garantidos desde o nascimento e que não
podem ser retirados.
São direitos humanos universais que seres humanos nasçam livres e iguais em
dignidade e direitos, que possuam direito a vida e à liberdade, a saúde, educação,
paz, propriedade, que são proibidos castigos cruéis e a escravidão, a garantia do
acesso à justiça plena, liberdade de ir e vir, liberdade de pensamento, liberdade
religiosa, entre outros.
- A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi escrita pela Assembleia Geral
das Nações Unidas (ONU) em 1948 depois do fim da Segunda Guerra Mundial. O
Brasil, assim como todos os países que participam da ONU, devem respeitá-la e
considerá-la na sua legislação nacional.
8
Legislação indigenista: Direito indígena, dever do estado
Cada povo indígena possui suas leis e normas próprias, criadas dentro da sua
cultura, na qual sabem o que é certo ou errado. Por exemplo, como tomar as
decisões coletivas, com quem posso casar, como dar o nome para uma criança,
quem irá cuidar das crianças que nascem, onde posso morar dentro da aldeia ou
comunidade, como plantar, caçar, pescar, como dividir com os outros as caças e
produções, como são tomadas as decisões coletivas, entre outras questões que
permitem as boas relações do grupo. Estas regras não precisam ser escritas, pois
são de conhecimento da sociedade local.
Entretanto, por viverem dentro do território brasileiro, os povos indígenas
também estão sujeitos as leis que estão escritas na Constituição Federal e em
outras leis e textos do Brasil.
O Brasil já teve diversos tipos de governo que mudaram ao longo da história
como o Império, a Primeira República, Segunda República, o Estado Novo, a
Ditadura Militar, e a República Federativa (período atual). Em cada um destes
períodos existiu uma constituição (conjunto de leis) própria. A constituição de
1988, também chamada de constituição cidadã por ter sido escrita por
representantes eleitos, é a sétima nesta sequência e a única que vale
atualmente. Cada constituição tratava das questões do país de acordo com o que
quem a escreveu acreditava na época, influenciando o que o nosso país é hoje
em dia.
Mesmo antes da independência do Brasil de Portugal, haviam leis específicas
para governar o país que tratavam também sobre questões relacionadas aos
povos indígenas. As leis sobre os direitos específicos dos povos indígenas são
conhecidas como legislação indigenista. Ou seja, além das leis gerais para
indígenas e não indígenas, existem leis específicas sobre os direitos dos povos
indígenas e o governo deve obedecê-las.
Por suas particularidades, outras leis também possuem impacto direto na vida
dos povos indígenas, como aquelas sobre meio ambiente, mineração, educação,
saúde, seguridade social, entre outras que veremos aqui.
O estatuto do Índio (Lei no 6001/1973) trouxe diversas questões sobre a
relação do estado e da sociedade com os povos indígenas. Esta lei de 1973
considerava os indígenas incapazes que deveriam ser tutelados (sua vida e seus
bens seriam administrados) por um órgão indigenista. Ele também considerava
9
que seria necessário adotar uma política integracionista, onde as diferentes
culturas indígenas seriam incorporadas pela sociedade não indígena. Apesar de
ter sido substituído pela Constituição Federal de 1988, alguns artigos desta lei
continuam servindo de referência. Recentemente, foi proposto pelo Congresso
Nacional um novo texto para o estatuto do índio com diversas modificações, mas
que ainda não foi aprovado. O Código Civil (Lei no 10.406/2002), junto com a
constituição de 1988, reafirma a autonomia e capacidade jurídica dos indígenas.
A legislação indigenista atual reconhece o direito dos povos indígenas
manterem as suas próprias culturas e conservarem os seus territórios, colocando
o governo federal como responsável pela proteção destes direitos.
O artigo 231 da Constituição Federal de 1988 é o mais direto sobre a questão
indígena:
10
comunidades tradicionais, desde autodeterminação, território, segurança
alimentar, cultura, saúde, políticas públicas, acesso a direitos e produção.
O estado do Pará criou em 2019 o Conselho Estadual de Política Indigenista
(CONEPA/PA, lei 8.611/2018 e Decreto 93/2019 PA) para discutir, implementar e
monitorar políticas públicas voltadas para os povos indígenas. Ele possui em sua
composição representantes dos povos indígenas e diferentes grupos temáticos.
Existem documentos internacionais que tratam sobre os direitos dos povos
indígenas:
Autoidentificação e Autodeterminação
Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se
reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam
e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social,
religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados
e transmitidos pela tradição. (Decreto no 6.040/2007, art. 3.)
11
A quem recorrer quando nossos direitos não são respeitados?
15
CONTATOS DE INSTITUIÇÕES PARA DEFESA DOS DIREITOS
✓ MPF Regional:
✓ MPF Brasília (6ª câmara):
✓ MPPA:
✓ Defensoria do Pará:
✓ OAB regional:
✓ Advogado:
✓ Jornalista:
CONTATOS DA FUNAI:
✓ FUNAI Regional:
✓ FUNAI Brasília:
✓ FUNAI outra:
16
Direito à demarcação e proteção do território
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter
permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à
preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua
reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse
permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos
nelas existentes.
3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a
pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com
autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes
assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos
sobre elas, imprescritíveis.
5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, ad referendum do
Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua
população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional,
garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.
6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por
objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a
exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado
relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não
gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na
forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé.
17
A constituição de 1988, no artigo 231, garante a demarcação e regularização
de todas as terras indígenas tradicionalmente ocupadas ou necessárias para a sua
sobrevivência, para a realização de práticas culturais dos povos indígenas ou para
usufruto e posse permanente das populações indígenas, sendo dever do governo
federal a sua proteção. A constituição previa a demarcação de todas as terras
indígenas do país em até cinco anos, ou seja 1993 (Art. 67 ADCT). Entretanto até
hoje, segundo a FUNAI, das 585 Terras Indígenas identificadas no Brasil, 126
ainda seguem em estudo e muitos povos vivem em áreas de conflito e
ameaçadas enquanto o processo de demarcação não é concluído. Já segundo o
CIMI, são 1.294 territórios indígenas no Brasil, dos quais apenas 63% estão sob
estudo ou demarcados, enquanto os demais não possuem nenhuma garantia.
A maior parte das terras indígenas está na região norte do país, mas mesmo
aquelas tituladas e regularizadas seguem ameaçadas pelo governo e pela ação de
invasores. Não é exagero afirmar que a demarcação das terras indígenas é
fundamental para a sobrevivência dos povos indígenas e que negar o acesso à
terra é negar o direito de existir. Estes territórios garantem a realização de
práticas culturais, a sua segurança alimentar, acesso a medicamentos naturais,
conservação de locais sagrados e a proteção contra não indígenas.
A dificuldade em se demarcar novas terras indígenas se dá pela má vontade
do governo federal e por muitas delas serem áreas de disputa e conflitos com
grileiros, madeireiros e outros invasores. A situação se torna mais crítica com a
desmobilização da FUNAI, a falta de ação do governo federal em encaminhar
processos avançados de demarcação e a judicialização de processos em
andamento.
O processo de demarcação possui um rito que envolve o estudo, delimitação,
declaração, homologação e regularização do território, sob a coordenação da
FUNAI. Cada etapa depende de procedimentos específicos e acarreta maior
segurança na proteção destes territórios. Por exemplo, as Terras Indígenas
homologadas só precisam da assinatura do presidente e do registro em cartório
para serem regularizadas; as declaradas também precisam da assinatura do
ministério da justiça; as delimitadas precisam de laudo antropológico; e as em
estudo também precisam de um estudo antropológico mais complexo para
seguir no processo. Atualmente, segundo a FUNAI, no Brasil são 468 Terras
Indígenas regularizadas, 13 homologadas, 49 declaradas, 28 delimitadas e 126
em estudo. Já o CIMI contabiliza 1296 territórios indígenas no Brasil.
18
Processo de demarcação das Terras Indígenas no Brasil
19
para o monitoramento, proteção e manejo dos territórios considerando a
sociobiodiversidade, recursos naturais e dinâmica cultural e territorial.
Nestes documentos, de acordo com suas especificidades, podem ser
apresentadas informações sobre a população indígena e a sua história; como ela
vive; quais problemas enfrentam; a relação com o governo e o resto da
sociedade; eventuais conflitos; descrição do território e sociobiodiversidade;
quais os recursos naturais, como são utilizados e por quem; quais as ameaças ao
território; quais os planos futuros e projetos da comunidade dentro de uma
discussão mais ampla sobre a perspectiva da comunidade e bem viver.
Apesar da proteção dos territórios indígenas ser responsabilidade do Governo
Federal e da FUNAI, as comunidades precisam ser protagonistas neste processo,
assumindo a responsabilidade de monitorar e proteger seus territórios. Para isso
é necessário conhecer o território bem. Alguns povos indígenas do Brasil criaram
grupos de guardiões que fazem o monitoramento de seus territórios contra
invasores. Outros territórios possuem brigadas de combate a incêndio apoiadas
pelo IBAMA ou pelo estado, que possuem como função também a proteção dos
territórios contra incêndios e o plantio de mudas.
Quais as ameaças ao meu território? (*Marque quais destas situações ocorrem no seu território)
20
Licenciamento ambiental, o que é?
21
O EIA irá estudar todos os aspectos socioambientais afetados pelo
empreendimento, com uma proposta inicial de ações para controlar e reduzir os
eventuais danos. Entre os impactos estudados estão a poluição de solos, das
águas, do som e do ar, impactos na vegetação e nos animais, e o impacto nas
populações humanas afetadas ou que vivem próximas do empreendimento,
levando em consideração todas as fases do empreendimento, desde a sua
implementação até a sua desativação, incluindo obras de acesso, eletrificação,
drenagem e toda a infraestrutura necessária para o seu funcionamento. O EIA
deverá ser aprovado pelo órgão ambiental para a continuidade do processo.
Junto do EIA é produzido um Relatório de Impacto Ambienta (RIMA), com as
informações contidas no EIA de forma mais acessível e resumida.
O Componente indígena será necessário quando o empreendimento for gerar
impacto para os povos indígenas e seus territórios. Neste caso, a FUNAI deverá
ser consultada e participar do processo de licenciamento ambiental. Apesar de
sabermos que os impactos socioambientais costumam ser maiores do que os
apontados nestes estudos, existe uma legislação específica que trata sobre o
procedimento do licenciamento ambiental e que considera o tipo de
empreendimento, a localização dele e a distância dos territórios indígenas.
O estudo do componente indígena deve ser realizado por uma equipe
multidisciplinar considerando todos os impactos negativos do empreendimento
nas comunidades afetadas, como na disponibilidade e acesso aos recursos
naturais, caça, alimentos, água, locais sagrados, saúde da população e poluição.
Esta etapa é monitorada por uma equipe da FUNAI.
Necessidade de Estudo de Componente Indígena para empreendimento na Amazônia Legal
Fonte: portaria interministerial no 60/2015 MMA/MINC/MJ (Anexo I)
Tipo de empreendimento Distância da Terra Indígena
Rodovias e hidrelétricas 40 km
Ferrovias, portos, mineração e termoelétricas 10 km
Linhas de transmissão 8 km
Dutos 5 km
22
questionamentos sobre os resultados dos estudos. A FUNAI e o órgão ambiental
devem garantir a participação de todos nas audiências e que ela seja realizada
dentro das terras indígenas com a tradução na língua indígena para a melhor
compreensão da comunidade afetada, se for necessário. Todos os
questionamentos levantados durante a audiência e após alguns dias dela serão
analisadas pelo órgão ambiental licenciador e pela FUNAI, que após análise
poderá solicitar complementação dos estudos.
Seguindo o rito do licenciamento ambiental, se aprovado o EIA-Rima, é
emitida uma Licença Prévia para a implantação das atividades preliminares do
empreendimento.
Deve ser realizado então pela empresa solicitante um Plano Básico Ambiental
(PBA), com o detalhamento das ações que serão realizadas para reduzir os
impactos socioambientais, incluindo projetos, programas ou outros tipos de
compensação. A FUNAI deve acompanhar este processo e aprovar ou não junto
da comunidade indígena o PBA. É muito importante o envolvimento de toda a
comunidade no PBA, pois a partir dele que serão definidas as condicionantes de
operação do empreendimento.
A OIT 169, que será melhor vista a seguir nesta cartilha, garante que antes do
início de qualquer empreendimento ou ação que terá impacto na vida dos povos
indígenas, eles devem ser consultados previamente, de forma clara e com a
autonomia de autorizar ou não a sua execução.
Com a aprovação do PBA proposto é emitida uma Licença de Instalação, que
será trocada por uma Licença de Operação quando as condicionantes forem
atendidas de acordo com o processo de licenciamento ambiental e o calendário
aprovado.
Todo o processo de licenciamento ambiental deve ser transparente a
acessível para todos, com o registro oficial de todas as etapas e divulgação em
meios digitais ou impressos (resolução no 06/1986 CONAMA). As audiências
devem ser bem divulgadas com antecedência e serem em locais acessíveis para
toda a população afetada participar.
Se qualquer etapa do licenciamento ambiental desrespeitar o rito existente, a
legislação vigente ou a autonomia dos povos indígenas, ou se a comunidade
considerar que houve qualquer violação ou má fé no processo, o Ministério
Público Federal pode ser acionado para intervir no processo de licenciamento
ambiental.
23
Como é o processo de licenciamento Ambiental (Cartilha Funai)
Solicitação do Empreendimento
- Para o orgão ambiental licenciador responsável (municipal, estadual ou federal/IBAMA)
de acordo com o tipo de empreendimento;
- O órgão licenciador irá elaborar um termo de referência com os estudos necessários.
Estudo de Impacto ambiental (EIA)
- Deve ser elaborado de acordo com especificação do termo de referência emitido pelo
órgão ambiental;
- Funai é consultada sobre a necessidade de realização de estudo do Componente
Indígena;
Audiência Pública
- Deve ser bem divulgada com antecedência e aberta para toda a população afetada
participar;
- Resultados do Estudo de Impacto Ambiental e do Relátorio de Impacto Ambiental
(EIA/RIMA) são apresentados para as comunidades afetadas;
- São recolhidas sugestões e questionamentos;
- FUNAI e Orgão ambiental analisam o resultado e emitem parecer técnico;
- Òrgão ambiental aprova o EIA-RIMA ou solicita adequaçãos;
Licença Prévia (LP)
- Autoriza a continuidade do processo e atividades preliminares do empreendimento com
condicionamentes que devem ser atendidas;
Plano Básico Ambiental (PBA)
- Documento que traz as medidas mitigadores e compensatórias em relação as atividades
do empreendimento que aparecem no EIA-RIMA;
- Deve trazer solução para todas as questões levantadas no EIA-RIMA, inclusive em
relação as populções humanas afetadas;
- As comunidades afetadas devem ser escutadas durante a elaboração do PBA;
- A OIT 169 garante a consulta prévia, livre e esclarecida aos povos indígenas;
- precisa da aprovação da FUNAI e da comunidade afetada;
Licença de Instalação (LI)
- Com a aprovação do PBA pelo órgão ambiental, é emitida a Licença de Instalação para o
empreendimento com as condicionantes do PBA;
Execução do PBA
- A realização das ações planejadas no PBA devem ser realizadas como condicionamente
para a liberação de operação plena do empreedimento;
- A FUNAI deve acompanhar as ações do PBA relacionadas aos povos indígenas;
Licença de Operação (LO)
- Licença concedida pelo órgão ambiental para o inicio das atividades do empreednimento
de acordo com a realização das condicionanates;
- Se o empreedimento não cumprir todas as condicionantes previstas, ou cometer algum
crime ambiental, a LO poderá ser cancelada.
24
Compensação monetária ou não monetária?
25
Documentação civil básica
26
Geralmente, é necessário levar foto 3x4 e certidão de nascimento para a sua
emissão (Resolução conjunta 03 de 2012).
Cadastro de Pessoa Física (CPF) é um documento da Receita Federal do Brasil
emitido em agências do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal ou Correios
com custo ou em entidade pública conveniada de forma gratuita. Ele é necessário
para abrir conta em banco, solicitar empréstimos, declarar impostos de renda, e
para receber alguns dos benefícios sociais ou solicitar alguns outros documentos.
A inscrição é feita pela internet e necessita de documento de identificação e
título de eleitor para maiores de 18 anos.
Título de Eleitor é o documento que permite que um cidadão vote em seus
representantes nas eleições ou se candidate a cargo eletivo. Ele é exigido para a
emissão de uma série de outros documentos no Brasil, para prestar concursos
públicos e para acessar outros direitos em nosso país, sendo facultativo para
cidadãos com mais de 16 anos e obrigatório para os com mais de 18 anos
alfabetizados. Ele é feito pela primeira vez em cartórios eleitorais de forma
gratuita, com a apresentação de RG ou certidão de nascimento, comprovante de
endereço e comprovante de quitação militar para homens com mais de 18 anos.
Carteira de Trabalho e Previdência Social é um documento utilizado para
registrar a vida profissional das pessoas. Ele é importante para conseguir algumas
garantias previdenciárias e direitos trabalhistas. Ela é gratuita e pode ser tirada
em diferentes locais, dependendo do município. Atualmente, ela está sendo
transformada para o formato digital.
Certidão de Casamento ou Atestado de União Estável, são documentos que
comprovam a relação estável entre duas pessoas registrado em cartório civil. Ele
é gratuito para pessoas com baixa renda.
Atestado de óbito é um documento assinado por profissional médico ou por
duas testemunhas que declara a morte de uma pessoa. É utilizado para a emissão
da Certidão de óbito, que registra a morte em cartório de Registro Civil. Os dois
documentos são gratuitos.
Quem pode ajudar nestes casos: FUNAI, MPF, MPPA, Defensoria Pública,
Secretaria de Assistência Social do Estado e dos Municípios, Cartório de Registro
Civil Local, Advogado particular.
27
Direitos sociais e previdenciárias
28
LISTA DE DIREITOS SOCIAIS E PREVIDENCIÁRIOS
Nome O que é? Responsável
Aposentadoria por Para artesãos ou indígenas habitantes de área rural
INSS
idade com 60 anos para homens e 55 para mulheres.
Aposentadoria por
Aposentadoria por incapacidade permanente. INSS
invalidez
Pago a dependentes ou companheiro da vítima que
Pensão por morte INSS
faleceu
Benefício para a pessoa com mais de 65 anos que
Pessoa idosa não possui renda suficiente para manter a si mesmo e INSS
a sua família
Auxilio Reclusão Auxílio pago a dependente de pessoa presa INSS
Auxílio pago a pessoas com deficiência que não
Pessoa com
possui meios de prover a própria manutenção, nem INSS
deficiência
de tê-la provida pela sua família
Benefício para garantir assistência financeira
Caixa
Seguro desemprego temporária ao trabalhador dispensado com carteira
Econômica
assinada
Salário Benefício pago por até 120 dias após o Caixa
maternidade nascimento/adoção de criança Econômica
Indenização paga em decorrência de acidente que
Caixa
Auxílio acidentes reduza permanentemente a capacidade para o
Econômica
trabalho
Auxílio pago ao trabalhador que necessite ficar mais Caixa
Auxílio doença
de 15 dias afastado por motivo de doença ou acidente Econômica
Programa do governo federal para subsidiar a
Minha casa minha Caixa
aquisição da casa própria para famílias de baixa
vida Econômica
renda
Programa do governo federal para acesso a energia Distribuidora
Luz para todos
elétrica em regiões desprovidas de energia
Desconto na energia elétrica de consumidores de Distribuidora
Tarifa Social
baixa renda de energia
Auxílio pago a famílias em situação de pobreza ou
Caixa
Bolsa família extrema pobreza (famílias com renda mensal de até
Econômica
R$ 178,00 por pessoa)
Auxílio pago a famílias em situação de pobreza ou
extrema pobreza que desenvolvam atividades nas
áreas de florestas nacionais, extrativistas, Caixa
Bolsa verde
assentamento agroextrativista e povos e populações Econômica
tradicionais. Ministério do Meio Ambiente que faz o
levantamento dos beneficiários.
Benefício pago a pescadores artesanais registrados
Seguro defeso durante o período de defeso, quando a pesca está INSS
proibida
29
Para acesso aos benefícios sociais para famílias de baixa renda é importante
realizar o Cadastro Único do Governo Federal, que pode ser feito pela
Assistência Social dos Municípios. A maior parte dos municípios do Pará possui
Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) que deve ofertar e orientar
ações relacionadas aos direitos sociais de forma gratuita. A Assistência Social
também atua na proteção de populações vulneráveis, como crianças, idosos e
portadores de deficiência.
Caso haja alguma dificuldade de acessar estes benefícios é possível solicitar
auxílio para a FUNAI, Defensoria Pública, Ministério Público, CRAS ou advogados.
CONTATOS LOCAIS
✓ Assistente social:
30
O que é racismo e preconceito?
Racismo é crime! Discriminar qualquer pessoa por sua etnia, cor, origem, religião,
gênero sexual ou orientação sexual é considerado crime no Brasil, passível de
processo, punição e até prisão!
A lei no 7716 de 1989 caracteriza como crime de racismo o impedimento de
ingresso em estabelecimentos públicos e privados, restaurantes, hospedagem
em hotéis, matrícula em escola, circulação em espaços públicos, acesso a
transportes públicos ou a não contratação de pessoas em função da etnia, cor ou
origem das pessoas.
Casos de racismo e preconceito podem ser identificados em discursos de ódio,
no uso de palavras pejorativas ou ofensivas, nas piadas sobre a origem das
pessoas, sobre a língua ou modo de falar, sobre a forma de vestir, de cortar o
cabelo, no desrespeito às práticas culturais, ou na responsabilização injusta e
infundada de que determinado grupo é responsável pelos problemas de outros.
Como cidadão brasileiro, todo indígena deve ter seus direitos respeitados,
inclusive na proteção de suas práticas culturais, no direito de ir e vir, de falar a
sua língua, liberdade de pensamento, de realizar as suas tradições e práticas
religiosas. Quando alguém se coloca contra estes direitos em função da etnia ou
origem da pessoa, este ato pode ser configurado como crime de racismo. A fala
de algumas lideranças religiosas de que indígenas devem ser convertidos e
abandonar suas tradições por que elas são erradas também pode ser
interpretado como racismo e crime.
A discussão sobre preconceito e racismo é complexa. Mas podemos
considerar que o racismo e as diferentes formas de preconceito existem porque
uma parcela da sociedade aprendeu a não tolerar essas diferenças. Quando o
preconceito e racismo incomodar determinado grupo ou indivíduo, ele deve
denunciar esta prática e registrar boletim de ocorrência, para que as pessoas
racistas sejam processadas e penalizadas.
31
Direito à saúde
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.
32
assim precisar. A recusa ao atendimento de indígenas por qualquer profissional
ou setor do SUS, se configura como negligência ou racismo, e é crime passível de
punição.
Algumas etnias possuem convênios e acordos com empresas que impactam o
seu território e a sua vida, como mineradoras ou empresas de energia elétrica, e,
por isso, possuem planos de saúde particulares que possibilitam o atendimento
pela rede privada de saúde quando precisarem.
Os indígenas possuem representação nos conselhos de saúde de alguns
Municípios, do Estado do Pará e da SESAI/DSEI. É importante conhecer como
funcionam estes conselhos e quem são os seus representantes para cobrá-los e
fiscalizar as ações dos governos. A ouvidoria de cada instituição pode ser utilizada
para denunciar a má atuação de profissionais públicos. Também podem ser
abertos processos para a garantia ou expansão desses direitos, como a
construção de postos de saúde em comunidades maiores, contratação de mais
profissionais, aquisição de automóveis, aquisição de materiais ou a reforma ou
construção de mais CASAIs.
CONTATOS DA SAÚDE:
✓ CASAI:
✓ Hospital regional:
✓ Posto de saúde:
33
Direito à educação
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento,
a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições
públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
Art. 201. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a
assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos,
nacionais e regionais.
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada
às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos
próprios de aprendizagem.
A educação é uma questão central para qualquer sociedade. Ela deve ser
garantida pelo estado de forma gratuita, com qualidade e respeito à diversidade.
Várias comunidades indígenas encontram na educação escolar uma estratégia
importante para valorizar e fortalecer sua cultura, através do ensino das línguas
maternas, transmissão de práticas culturais e para o preparo dos mais jovens
para entender e conviver com a sociedade não indígena.
No Brasil o Ministério da Educação (MEC) é responsável pelas políticas
nacionais de educação e por coordenar as ações referentes à educação indígena,
que serão desenvolvidas pelas Secretarias de Educação dos Estados e Municípios
(Decreto no 26 de 1991). Faz parte da estrutura do MEC o Conselho Nacional de
Educação (CNE), órgão responsável, dentre outras coisas, pela elaboração de
Resoluções e Diretrizes para a educação escolar de todo o país, inclusive a criação
de resoluções que garantem o direito à educação escolar indígena, intercultural e
bilíngue.
Nos estados, há as Secretarias Estaduais de Educação e os Conselhos
Estaduais de Educação. No estado do Pará, existe na Secretaria de Estado de
34
Educação (SEDUC) a Coordenação de Educação Escolar Indígena (CEEIND). Nos
municípios há as Secretarias Municipais de Educação e os Conselhos municipais
de educação e, em alguns deles, coordenações para a educação escolar indígena.
Em alguns estados, como Amazonas e Tocantins, os povos indígenas, a partir de
sua organização, conseguiram a criação de Conselhos Estaduais de Educação
Escolar Indígena. Essa é ainda uma luta importante dos povos indígenas do
estado do Pará, pois aqui só temos o Conselho Estadual de Educação e nele há
somente dois indígenas para representar os interesses de todos os povos
indígenas do estado.
Os estados e municípios seguem diretrizes de ensino da Base Nacional
Curricular Comum (BNCC). A BNCC é um documento normativo para as escolas
de todo o país para a construção dos currículos no Ensino Infantil, Fundamental e
Médio. Esse documento, porém, não trata das especificidades e dos direitos
educacionais dos povos indígenas, conforme previsto nos artigos 210 e 231 da
constituição de 1988.
Nem sempre a educação escolar oferecida pelos estados e municípios está de
acordo com as necessidades dos povos indígenas. Para a construção de uma
educação escolar indígena que respeite o projeto de cada povo indígena, os
estados e municípios devem seguir as normativas e diretrizes que constam nos
artigos 78 e 79 da Lei Federal no 9.394/1996, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional; e, principalmente, a Resolução n° 05/2012 do CNE que Define
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na
Educação Básica. A regulamentação sobre as normas da Educação Básica do Pará
está na Resolução no 01/2010 do Conselho Estadual de Educação.
Apesar da garantia legal de que que as escolas indígenas possam adotar a
língua materna no ensino e que sejam respeitados aspectos culturais de cada
povo, os estados e municípios têm dificuldade de atender estas especificidades.
O Projeto Político Pedagógico (PPP) das escolas indígenas é um documento que
deve ser elaborado pelas próprias comunidades indígenas, com a participação
das lideranças, professores indígenas, pais e estudantes. O PPP é um documento
no qual cada comunidade indígena descreve qual a importância da escola para o
seu povo e como a educação escolar indígena na aldeia deve ser feita, incluindo
a decisão da comunidade sobre qual a língua em que se realizará o ensino na
escola, práticas pedagógicas, conteúdos ensinados, atuação dos professores,
calendário escolar, entre outras especificidades. Este documento é muito
35
importante para que os estados e municípios compreendam quais as
necessidades de cada comunidade. Algumas etnias e comunidades da região já
elaboraram o seu PPP e utilizam este documento para garantir um ensino escolar
indígena adequado e de qualidade na comunidade.
É importante destacar os direitos de autodeterminação e de consulta prévia,
livre e esclarecida (OIT 169/1989 e CF88), que garantem que a população
indígena deve ser consultada antes de atos dos estados e municípios também
relacionados a educação que irão ter impacto nas suas vidas.
Caso seja necessário ou se assim desejar, é direito dos indígenas poder se
matricular em escolas públicas ou particulares fora de territórios indígenas.
Comunidades com muitas crianças em idade escolar podem demandar a
instalação e construção de escolas dentro das comunidades para o estado ou
município. Nestas escolas é importante a presença de professores indígenas que
conhecem a cultura local e que estejam aptos para ensinar os mais jovens.
Professores não indígenas que atuem nestas escolas devem respeitar as tradições
e a cultura local. Uma das grandes dificuldades na implementação destas escolas
é o apoio e envolvimento do estado e municípios nesta questão, pois acabam
dependendo dos recursos disponíveis e dos políticos e administradores atuantes.
O estado do Pará e alguns municípios possuem coordenações especiais de
educação escolar indígena que podem ser procuradas. A presença de indígenas
em conselhos municipais e estaduais de educação é importante nesta luta.
Uma discussão importante que deve ser feita em cada comunidade, é se é
mais vantajoso implementar uma escola estadual ou municipal nela. Pode ser
levado em consideração a facilidade de diálogo, capacidade financeira, estrutura
das secretarias de educação, participação nos conselhos de educação, respeito as
tradições e cultura, forma de contratação dos professores e outras questões
pertinentes. Cada caso é um caso.
Muitas instituições de ensino superior público e gratuito da região, como a
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Para (UNIFESSPA), Universidade do
Estado do Pará (UEPA), Instituto Federal do Pará (IFPA), Universidade Federal
Rural da Amazônia (UFRA) e a Universidade Federal do Pará (UFPA), possuem
programas ou ações para a inclusão de indígenas, com cursos específicos,
processos seletivos especiais e auxílios de permanência para os alunos durante os
cursos (Portaria no 389/2013 MEC). O ingresso de alunos nestas instituições é
feito através da prova do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) ou de
36
processos seletivos especiais dentro de calendários divulgados anualmente. Estas
instituições e seus professores podem ser parceiros estratégicos para a defesa
dos direitos dos povos indígenas.
O ministério da Educação possui o Programa Universidade Para Todos
(Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) para auxiliar no
pagamento de cursos superiores em instituições privadas de ensino. A inscrição
nestes programas obedece a um cronograma com calendário divulgado
anualmente e obedece alguns pré-requisitos que devem ser consultados antes do
cadastro.
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) garante o direito dos
alunos de todas as etapas da educação básica em instituições públicas terem
acesso a merenda escolar de qualidade durante o período de aula. Esta merenda
deve ser fornecida pelos estados e municípios de acordo com a cultura local,
através de repasse do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
O PNAE garante que ao menos 30% da merenda fornecida nas escolas públicas,
incluindo as indígenas, seja adquirida de pequenos agricultores ou da própria
comunidade, contribuindo com a geração de renda, respeito às tradições
alimentares e acesso a alimentação de qualidade.
Algumas organizações importantes para discutir a educação escolar indígena
e aberta a participação de todos os povos indígenas são o Fórum Nacional de
Educação Escolar Indígena (FNEEI), O Grupo de Trabalho de Educação Escolar
Indígena do Fórum Regional de Educação do Campo do Sul e Sudeste do Pará
(FREC-SUPA) e a Associação dos Professores Indígenas do Sul e Sudeste do Pará
(APISSPA) que realizam reuniões periódicas.
CONTATOS DA EDUCAÇÃO
✓ Secretaria Municipal:
✓ Secretaria Estadual:
37
Direito a manifestações e violência do estado
40
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (Lei no 8.069/1990) é um
conjunto de leis relacionadas à proteção das crianças e dos adolescentes. Ela
descreve o Trabalho infantil como o emprego de crianças em qualquer trabalho
que as priva de sua infância, interfere na capacidade de frequentar a escola
regularmente e é considerado mentalmente, fisicamente, socialmente ou
moralmente perigoso e prejudicial. O ECA prevê, em certas condições, o trabalho
de crianças e jovens com mais de 14 ou 16 anos. A mendicância com crianças,
caracterizado pelo pedido de esmola na rua por crianças com a supervisão dos
país, pode ser considerado crime, segundo o ECA, com a responsabilização dos
supervisores e risco de perda de guarda das crianças.
É importante diferenciar situações estabelecidas entre povos indígenas,
dentro de suas práticas culturais e tradições, com situações vivenciadas na
relação de trabalho entre indígenas e não indígenas para a caracterização
criminal de trabalho análogo à escravidão, trabalho forçado ou trabalho infantil.
Por exemplo, para alguns povos indígenas é comum que crianças participem de
atividades na roça, coleta, caça ou pesca. Ou que sejam realizados trabalhos
coletivos para a construção de casas, derrubada de mata, coleta da castanha ou
plantio da roça, que são regulamentados pelas regras locais segundo cada
cultura.
✓ Exército:
✓ Polícia Federal:
✓ Polícia Militar:
✓ Polícia Municipal:
✓ Polícia Ambiental:
✓ IBAMA:
41
Representatividade e organização Social
Nas diferentes sociedades indígenas e para cada etnia, dentro de sua cultura, as
normas sociais e as decisões são tomadas de forma diferente. Estas normas
dizem respeito a como cada um deve se relacionar com outras pessoas, com
quem pode casar ou a quem deve respeito ou para quem pedir conselhos em
cada situação. Entretanto, a sociedade não indígena tem dificuldade de entender
e respeitar estas diferentes formas de organização.
Para se relacionar com a sociedade não indígena em aspectos específicos
como comercialização de produtos, captação de recursos financeiros e
representatividade social, os povos indígenas podem se organizar em associações
ou cooperativas, que são instituições com personalidade jurídica.
As associações são organizações que têm por finalidade a promoção de
assistência social, educacional, cultural, representação política, defesa de
interesses e articulação política e social. Quando constituída com personalidade
jurídica, uma associação precisa ser formalizada em cartório, com endereço,
registro de estatuto, ata de constituição e ata de eleição da diretoria. A Ata é um
documento que registra o que ocorre em uma reunião com a assinatura dos
presentes atestando veracidade. No estatuto da associação é descrito os
objetivos da associação, como ela foi constituída, quem são os seus participantes
e como é feita a eleição e controle das suas atividades. Quando há
movimentação financeira é necessário fazer prestação de contas.
A cooperativa é uma forma de associação de pessoas com interesses comuns,
geralmente econômico, monetário ou não. A sua constituição possui legislação
própria, desde a formação até a prestação de contas e divisão de lucros e
benefícios. Ela pode ser interessante para a produção e comercialização de
produtos diversos e artesanatos, onde todos os cooperados possuem o mesmo
peso nas decisões.
É interessante que dentro das terras indígenas onde existem muitas
comunidades sejam formados conselhos das lideranças para a discussão e
tomada de decisões conjuntas sobre questões que irão afetar todo o território,
como a proteção contra invasores, queimadas, impactos de empreendimentos de
fora, saúde e educação, ou para resolução de conflitos internos. Estes conselhos
podem ser organizados de diversas formas de acordo com cada cultura.
42
Outras formas de organização, sem necessidade de personalidade jurídica,
que os povos indígenas podem participar são Conselhos, Assembleias,
Articulações, Coletivos, Redes de apoio, Fóruns, Federações, Confederações, cada
uma com características próprias.
Algumas destas organizações importantes são a Federação dos Povos
Indígenas do Pará (FEPIPA), Coordenação das Organizações Indígenas da
Amazônia (COIAB), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e a
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia (COICA). Quanto maior e
mais organizada, maior a representatividade destas organizações. Também é
importante a participação de indígenas nos conselhos municipais e estaduais de
educação, saúde, assistência social, da criança e do adolescente e de meio
ambiente.
É cada vez mais frequente a participação de indígenas em eleições, ocupando
importantes cargos nas câmaras de vereadores, prefeituras, assembleias
legislativas estaduais e federal. Como estratégia, é importante que todos os
parentes se mobilizem para viabilizar a candidatura dos que possuem mais
chances de serem eleitos, evitando a divisão de votos ou o voto em pessoas não
comprometidas com a causa indígena.
✓ APIB:
✓ COIAB:
✓ FEPIPA:
43
Proteção ao conhecimento tradicional e pesquisas científicas
44
pesquisadores e a realização de pesquisas dentro de territórios indígenas
depende da autorização da comunidade e de cada pessoa envolvida.
A comunidade pode “testar” o pesquisador antes do começo das pesquisas
para conhecê-lo melhor e saber o seu comprometimento com a causa indígena.
Toda pesquisa com pessoas deve possuir um Termo de Anuência Prévia ou
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), por meio do qual o
pesquisador irá explicar de forma compreensível quais os objetivos do seu
trabalho, como ele será realizado e os possíveis impactos positivos e negativos. A
pesquisa também deve obter a autorização do Conselho de Ética em Pesquisa da
sua instituição ou do Ministério da Saúde.
Algumas pesquisas podem ser importantes para a comunidade, como o
resgate de tradições, a busca por uma alimentação de melhor qualidade, registro
da língua, geração de renda, monitoramento do território, mas outras também
podem ter impacto negativo ou expor questões delicadas da comunidade. Os
próprios indígenas podem participar como pesquisadores ou envolver os alunos
das escolas da comunidade na pesquisa como forma de acompanhar e controlar
o que está sendo feito pelos pesquisadores.
É possível solicitar condições ou contrapartidas dos pesquisadores como a
apresentação das autorizações para pesquisa que eles possuem, apresentação
dos resultados, cópia de todas as publicações e documentos produzidos, ou ajuda
em outras questões relacionadas à pesquisa, como no monitoramento do
território, na elaboração do projeto político pedagógico da escola, na produção
de materiais didáticos para as escolas, plano de manejo das plantas e animais ou
no desenvolvimento de projetos produtivos.
✓ UEPA:
✓ UFRA:
✓ UNIFESSPA:
✓ IFPA:
✓ Outras:
45
Protocolos de Consulta Prévia
Apesar das garantias constitucionais escritas nas leis do Brasil e por organizações
internacionais, os direitos dos povos indígenas são frequentemente ignorados ou
desrespeitados. Nestas leis está escrito que devem ser respeitadas as práticas
culturais e organizações dos povos indígenas e que eles devem ser consultados
previamente antes de qualquer atividade que terá impacto nas suas vidas, mas
sabemos que raramente isto acontece.
A Organização Mundial do Trabalho, entidade que faz parte da Organização
das Nações Unidas, em sua convenção no 189 de 1989 (OIT 169), trata sobre
povos indígenas e Tribais. A OIT 169 foi aprovada pelo Brasil em 2003 e passou a
ser adotada pelo país. Entretanto, a cada 20 anos, o país precisa reafirmar o
interesse em permanecer nessa convenção, para que ela mantenha validade.
A OIT 169 é um dos instrumentos mais importantes e utilizados em todo o
mundo para a defesa dos povos indígenas. Ela trata sobre as responsabilidades
dos estados com estas populações na defesa da igualdade e dos direitos
humanos, respeito às práticas culturais e autoidentificação, proteção dos
territórios, além da garantia do direito à consulta prévia, esclarecida, livre e de
boa fé em ações que terão impacto na vida destas comunidades.
48
Para os não indígenas, por exemplo, todas as relações sociais são mediadas de
forma superficial por dinheiro: quanto custa a árvore? quanto custa o animal?
quanto custa a saúde? quanto custa a terra? quanto custa a vida? Será que esta
forma de enxergar o mundo, através do dinheiro, consegue representar a cultura
indígena e garantir a sua sobrevivência?
A discussão do que é o bem viver é um exercício interessante para cada povo
indígena, importante para a construção dos protocolos de consulta prévia ou até
mesmo para discutir a compensação de empreendimentos que irão afetar a sua
vida.
Um outro conceito elaborado a partir do bem viver é o Plano de Vida, um
documento elaborado por toda a comunidade onde é discutido e apresentado o
que a comunidade quer para o seu futuro sobre diferentes aspectos como saúde,
educação, cultura, território e meio ambiente, atividades produtivas ou outros
temas relevantes para o grupo. Estes documentos sempre levam em
consideração a perspectiva e cultura de cada povo, por isso cada etnia, povo e
comunidade pode ter o seu próprio plano de vida.
Alguns povos indígenas do Brasil e de países vizinhos já elaboraram
documentos onde apresentam o que é o seu plano de vida. Junto ao protocolo de
consulta prévia, o plano de vida serve de referência para que pessoas de fora da
comunidade, como o estado e empreendimentos, entendam como a comunidade
se organiza e como ela deve ser respeitada em atividades que irão impacta-la.
É fundamental que tanto o Protocolo de Consulta Prévia, o Plano de Vida ou a
discussão sobre o Bem viver, sejam realizados pelas próprias comunidades
indígenas, envolvendo todos, lideranças, jovens e anciões, homens e mulheres.
Parceiros de fora da comunidade, não indígenas ou outros parentes, com
experiência na elaboração destes documentos e discussões, podem ajudar a
comunidade nestes processos.
A construção do plano de vida leva algum tempo de acordo com as discussões
levadas na comunidade. Ele pode ser escrito de diversas formas e deve ser bem
divulgado quando concluído para que todos o conheçam.
49
Violação dos meus direitos
Liste todas as vezes que os seus direitos foram desrespeitados e violados
50
Outras referências para consulta
- Direitos das pessoas indígenas em conflito com a lei (CNJ, 2020). Disponível em:
https://www.ibccrim.org.br/media/posts/arquivos/arquivo-16-07-2020-14-26-16-637806.pdf
51
Realização:
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA)
Pró-reitora de Extensão (PROEX)
Instituto de Estudos em Saúde e Biológicas (IESB)
Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia (PDTSA-ICH)
Capes PROCAD Amazônia
Rede de Apoio Mútuo Indígena do Sul e Sudeste do Pará
Autor:
Bernardo Tomchinsky
Colaboração:
Maria Cristina Macedo de Alencar
Richelly de Nazaré Lima da Costa
Tomchinsky, Bernardo.
Acesso aos direitos indígenas no Sul e Sudeste do Pará /
Bernardo Tomchinsky. Marabá: Rosivan Diagramação & Artes Gráficas,
2021.
56 p. :il.
ISBN 978-65-999583-1-9
CDU 342,71
T656a
Imagem da Capa: Gusmão HNB, Baldassa TT. 2020. MapBox. Disponível em:
https://deolhonosruralistas.com.br/car-indigenas/
Contra capa: a) TI Parakanã; b) TI Menkragnoti, Kayapó, Baú, Paraná e Badkonkre; c) TI Mãe Maria; d) TI
Trocará; e) TI Nova Jacundá; f) TI Xikrin do Rio Catete; g) TI Anambé; h) Guajanaíra; i) TI Las Casas; j) TI
Barreirinha e TI Sarauá; k) TI Trincheira Bacajá, TI Apyterewa. TI Araweté Igarapé Ipixuna, TI Koatinemo, TI
Arara da Volta Grande do Xingu, Ti Arara e TI Kararao; l) TI Sororó e TI Tuwa Apekuokawera
b)
a)
d)
f)
c)
e)
i)
g)
h)
j)
k)
l)