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Emerson Franchini*
Monica Yuri Takito**
José Nilton De Campos Pereira***
emersonfranchini@hotmail.com
(Brasil)
RESUMO
1/1
Introdução
O jiu-jitsu é uma luta de origem japonesa cujo objetivo é arremessar o adversário ao solo e
dominá-lo através de técnicas de imobilização, estrangulamento ou chave articular. As técnicas
de estrangulamento e de chave articular têm como finalidade fazer com que o adversário
desista da luta. Nessa modalidade os atletas são subdivididos de acordo com a graduação e a
massa corporal. Um dos princípios do jiu-jitsu é utilizar golpes que constituem alavancas
mecânicas e nesse sentido possibilitam que um indivíduo com menor força muscular consiga
vencer um adversário mais forte, porém com menor habilidade nas execuções das técnicas.
Contudo, poucos estudos existem sobre essa modalidade (Dubas et al., 2002; Gulak et al.,
2003; Moreira et al., 2001; Moreira et al., 2003; Silva et al., 2003), com alguns deles
apresentando descrições de características antropométricas dos praticantes ou sua força
isométrica em situações não específicas (Dubas et al., 2002; Moreira et al., 2001; Moreira et al.,
2003). Portanto, pouco se sabe sobre as alterações fisiológicas durante a luta. Assim, esse
estudo objetivou verificar: (1) o aumento da freqüência cardíaca e a alteração da força
isométrica de preensão manual durante uma simulação de luta de jiu-jitsu de 5 minutos; (2) se
havia diferença significante entre a média da força de preensão manual durante a luta e a
média da força de preensão manual em 15 contrações consecutivas, assim como qual a
possibilidade de predição da força durante a luta com base em 15 preensões consecutivas; (3)
descrever as características antropométricas de atletas de jiu-jitsu.
Materiais e métodos
Amostra - 22 atletas de jiu-jitsu do sexo masculino que concordaram em participar desse
estudo após leitura e assinatura de um termo de consentimento informado.
Medidas durante a luta - a luta foi realizada entre atletas com a mesma graduação e de
categorias similares. O tempo de luta foi estabelecido em cinco minutos, mesmo que houvesse
a desistência de um dos atletas, o que em competição determinaria o término da luta. A cada
minuto a luta era interrompida por no máximo 30 s e a freqüência cardíaca era medida
utilizando um monitor da marca Polar, modelo Pacer. Durante a mesma interrupção os atletas
eram solicitados a realizar uma preensão isométrica máxima. Os valores da força de preensão
manual durante a luta também foram expressos em termos relativos à força isométrica máxima
de preensão manual.
Dados perdidos - Para seis atletas houve perda do valor da freqüência cardíaca em um dos
cinco minutos, o que constitui uma perda de 5,4% dos valores (6 em 110 medidas). Um atleta
não realizou o teste de 15 preensões manuais consecutivas, o que constitui perda de 4,5% (1
em 22 atletas).
Análise estatística - A força isométrica durante a luta e a força isométrica média durante as
15 contrações (direita e esquerda), a força isométrica durante a luta e a força isométrica
máxima (direita e esquerda), a FC e a FIPM durante os diferentes momentos da luta foram
comparadas através de uma ANOVA a um fator com medidas repetidas.
Resultados
Os atletas tinham 24,5 + 5,8 anos de idade, 76,7 + 11,2 kg de massa corporal, 175,2 + 6,4
cm de estatura e 3,5 + 2,1 anos de prática de jiu-jitsu.
Dos 22 atletas, apenas um era canhoto. A força isométrica máxima de preensão manual
direita (54,2 + 6,7 kgf) era superior à esquerda (51,4 + 6,1 kgf) (t = 3,720; gl = 21; p =
0,001). A força isométrica de preensão manual média durante as 15 contrações consecutivas
apenas aproximou-se da diferença estatística (t = 2,060; gl = 20; p = 0,054) ao comparar a
mão direita (47,3 + 6,7 kgf) e a esquerda (45,3 + 7,7 kgf).
Figura 1: Freqüência cardíaca (bpm) a cada minuto durante uma luta de jiu-jitsu de cinco minutos (os valores representam
média + desvio padrão).
Foi identificada diferença significante entre os momentos de mensuração (F4,60 = 14,66; p
= 0,0000). A freqüência cardíaca no primeiro minuto era menor do que a FC dos minutos 3 (p
= 0,003), 4 (p = 0,025) e 5 (p = 0,000).
A Figura 2 apresenta a força de preensão manual medida a cada minuto durante a luta de
jiu-jitsu.
Figura 2: Força de preensão manual (kgf) a cada minuto durante uma luta de jiu-jitsu de cinco minutos (os valores
representam média + desvio padrão).
Para a força de preensão manual, não foi verificada alteração no decorrer da luta (F4,84 =
1,50; p = 0,209).
Porém, havia diferença significante entre a força isométrica de preensão máxima, tanto da
mão direita quanto da esquerda, em relação à força medida do primeiro ao quinto minuto de
luta (F6,126 = 154,99; p = 0,000). Em percentual da força máxima de preensão da mão
dominante, a força durante a luta apresentou o seguinte comportamento: 1o minuto = 87,6 +
7,9%; 2o minuto = 85,4 + 9,3%; 3o minuto = 85,3 + 9,1%; 4o minuto = 83,4 + 8,9%; 5o
minuto = 84,4 + 7,7%.
A relação entre força de preensão manual média durante as 15 contrações consecutivas com
a média da força isométrica de preensão manual mantida durante a luta é apresentada na
Figura 3.
Figura 3: Relação entre força de preensão manual média durante 15 contrações consecutivas e a média da força isométrica de
preensão manual mantida durante a luta, respectiva equação para predição e erro padrão da estimativa (EPE).
O erro padrão da estimativa de 2,9 kgf representa cerca de 6,2% de erro se considerado que
os valores médios mantidos durante a luta foram de 46,5 kgf.
Discussão
As características antropométricas apresentadas pelos atletas de jiu-jitsu aqui analisados são
similares ao observado em atletas de outras modalidades de luta de domínio, como a luta
olímpica (Horswill et al., 1989) e o judô (Franchini, 2001). Esses atletas são caracterizados por
um bom desenvolvimento muscular e pequena espessura de dobras cutâneas, especialmente
nos membros superiores (Franchini, 2001).
Conclusão
Com base nos resultados desse estudo, pode-se concluir que os atletas de jiu-jitsu
apresentam bom desenvolvimento muscular e pequenas espessuras de dobras cutâneas, não
apresentam valores muito elevados de força isométrica máxima de preensão manual, mas
conseguem manter sua força isométrica de preensão manual em valores próximos do máximo
durante a luta, isto é, há queda de aproximadamente 15%. A freqüência cardíaca tende a
aumentar durante o período de luta, com exceção do quarto minuto. A média da força
isométrica de preensão manual durante o combate: (1) pode ser predita pela realização de 15
preensões manuais consecutivas em situação sem fadiga prévia, indicando a possibilidade de
monitoração da resistência de força na luta por meio desse procedimento; (2) estava associada
à circunferência do antebraço, indicando possibilidade de aumento da força média durante a
luta com o aumento da circunferência do antebraço.
Referências