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Ética

1. Ética, Moral e Moralidade 5


Conceito de Ética 5
A Ética e a Moral 6
Reflexões sobre a Moralidade 9
Exercícios de Fixação 10

2. A Ética no Pensamento Ocidental, o Mundo


do Trabalho e a Ética Empresarial 12
A Ética no Pensamento Ocidental 12
O Mundo do Trabalho e a Globalização 15
A Ética Empresarial 22
Capitalismo, Comércio, Indústria e a Ética
do Interesse Particular e a Globalização 26
Exercícios de Fixação 29

3. A Ética Profissional em um Mundo Globalizado,


Responsabilidade Social, a Atuação Profissional
e os Dilemas Éticos 31
A Ética Profissional 31
Os Pilares do Relacionamento Profissional 32
Relacionamento Interpessoal Profissional 34
Relacionamento Interpessoal Pessoal 34
Relacionamento Interpessoal Virtual 35
Responsabilidade Social 35
Exercícios de Fixação 40

4. Ética e Moral 42
O Problema da Ação e dos Valores 42
Aristoteles 42
Distinção entre Moral e Ética 43
Moral e Direito 43
Moral e Liberdade 44
Liberdade e Responsabilidade 45

02
Transformações da Moral 45
Exercícios de Fixação 46

5. Gabaritos 49
Unidade I 49
Unidade II 49
Unidade III 50
Unidade IV 50

6. Referências Bibliográficas 52

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APOSTILA DE ÉTICA

1. Ética, Moral e Moralidade

Fonte: Integralidade1

Conceito de Ética refere à conduta humana, avaliando


o ponto de vista do bem e do mal de
Iniciaremos nossa jornada uma determinada sociedade.
estudando o conceito de ética e sua De acordo com Srour (2005), a
evolução ao longo de nossa história. ética tem por objeto de estudo a
A origem da palavra é derivada do moralidade; possui conhecimento
grego “ethos”, significando aquilo sobre os fundamentos históricos da
que pertence ao caráter, ou melhor, moral; torna adaptáveis os códigos
traduzido, o modo de ser da pessoa. morais divulgados pela coletividade;
Diversas são as suas conceituações. dá ênfase às escolhas realizadas em
De início, SIMPLICIO (2.013) situações cotidianas, evitando que
assim a conceitua: estas transgridam os padrões mo-
A ética pode ser conceituada rais, elaborando regras de análise
como o estudo do senso, em que se aplicadas universalmente.

1 Retirado em http://www.integralidade.com.br/

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APOSTILA DE ÉTICA

Segundo Sá (2010), o ser hu- como o indivíduo deve se comportar


mano vai construindo sua conduta, no âmbito da sua profissão.
discernindo entre o certo e o errado Na filosofia, a ética não se re-
por meio de respostas aos estímulos sume à moral, que geralmente é
mentais comandados pelo cérebro. entendida como costume ou hábito,
A ética teve sua origem na mas busca a fundamentação teórica
Antiguidade Grega através dos estu- para encontrar o melhor modo de
dos de Sócrates, Platão e Aristóteles, viver. É a busca do melhor estilo de
que se preocuparam em refletir vida. O tema da ética no serviço
sobre as ideias do bem e da virtude público está diretamente relaciona-
ética. do com a conduta dos funcionários
De acordo com Vázquez (20 que ocupam os cargos públicos.
06, p. 270), “Resumindo, para Só- Tais indivíduos devem agir
crates, bondade, conhecimento e fe- conforme um padrão ético, exibindo
licidade se entrelaçam estreitamen- valores morais como a boa fé, a
te”. Para ele, a ética é a felicidade, honestidade, a transparência, a hu-
mas para alguém ser feliz é neces- manidade, legalidade, a impessoa-
sário ser bom e para ser bom é pre- lidade, a razoabilidade, a eficiência,
ciso ser sábio. a educação e outros princípios ne-
Aristóteles mencionava que a cessários para uma vida saudável no
virtude era o hábito do homem agir seio da sociedade. Feitas essas con-
em conformidade com o dever e que siderações iniciais, vamos agora à
se manifestava por meio do conhe- distinção entre ética e moral.
cimento, do amor e do esforço vo-
luntário, adquiridos ao longo de sua A Ética e a Moral
existência. Não adiantava o homem
ter virtudes se não as praticasse. Vistos alguns conceitos sobre
Para agir de maneira virtuosa, ética, vamos ampliar um pouco mais
deve-se conhecer o dever e o amar. a nossa visão.
Em outras palavras, respeitar, aca- Os valores morais de uma
tar de maneira incondicional, e, tal- sociedade vão sofrendo alterações
vez o mais difícil, agir com esforço ao longo dos anos. O que em épocas
voluntário. passadas era um comportamento
A ética abrange uma vasta reprovável, por exemplo o uso de
área, podendo ser aplicada à ver- uma minissaia na década de 30, hoje
tente profissional. Existem códigos é visto de maneira natural. Um beijo
de ética profissional que indicam

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APOSTILA DE ÉTICA

em público entre um casal apaixo- É interessante mencionar que


nado, naquela mesma época, era alguns valores ainda são mantidos
também considerado uma conduta de forma rígida em nossa sociedade.
inaceitável. Um advogado ao participar de uma
Notem que não estamos tra- audiência no âmbito do poder ju-di-
tando de condutas delituosas. Um ciário deve estar trajado socialmen-
homicídio sempre foi tratado como te, com terno e gravata. Um desem-
crime, ou seja, uma conduta delitiva bargador em audiência está com a
e antissocial, sempre reprovável. sua famosa toga.
SIMPLÍCIO (2.013) menciona O próprio indivíduo tem os
que na filosofia existem algumas seus limites definidos em princípios
diferenças entre a ética e a moral em legais e morais. A lei deve refletir o
seus conceitos. A ética é a parte da valor moral da sociedade. Nesse
filosofia que extrai do comporta- viés, pode-se citar que uma pessoa
mento humano o conhecimento so- não pode andar nua pelas ruas, não
bre as noções e princípios que fun- pode urinar nos espaços públicos,
damentam a vida moral. A moral é o não pode cortar árvores plantadas
conjunto de regras de conduta que nas ruas da cidade, nem tampouco
são estabelecidas dentro dos precei- jogar lixo em rodovias, ruas e es-
tos de cada sociedade. Ambas são tradas. Por outro lado, notem que
muito importantes e têm a respon- interessante, em praias de natura-
sabilidade de conduzir e a ensinar a listas, as pessoas, naquele local, po-
melhor maneira de agir e de se com- dem ficar nuas.
portar em sociedade. Bernardes (2.019) menciona
Muitos mencionam que, ao que a ética é uma reflexão siste-
longo dos anos, perdemos valores mática sobre o comportamento mo-
morais em nossa sociedade, como o ral. Ela investiga, analisa e explica a
respeito pelos professores, pelas au- moral de uma determinada so-
toridades, pelos idosos e pelos pró- ciedade.
prios pais. Esses valores são essen-  Ética = Caráter/Reflexão;
ciais na formação e no comporta-  Moral = Costume.
mento do ser humano. A noção do
certo e do errado vão formando o Define a moral como o con-
caráter de uma pessoa. O respeito às junto de normas, princípios e cos-
normas, as leis, ao meio ambiente tumes que orientam o comporta-
são aspectos relevantes da vida em mento humano, tendo como base os
sociedade. valores próprios de uma comu-

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APOSTILA DE ÉTICA

nidade ou grupo social. A moral é devo, mas não posso e tem coisa
que eu posso, mas não quero.”
normativa, isto é, um conjunto de
regras, valores, proibições e tabus Compete à ética, por exemplo,
que provêm de fora do ser humano, o estudo da origem da moral, da
ou seja, que são cultivados ou im- distinção entre comportamento mo-
postos pela política, costumes so- ral e outras formas de agir, da liber-
ciais, religiões ou ideologias. dade e da responsabilidade e de
Como as comunidades ou gru- questões tais como a prática do
pos sociais são distintos entre si, in- aborto, eutanásia e da pena de
clusive no tempo, os valores também morte.
podem ser distintos, dando origem a A ética não diz o que deve e o
códigos morais bastante diferentes. que não deve ser feito em cada caso
A moral é mutável e está diretamen- concreto, pois isso é da competência
te relacionada com práticas cultu- da moral, de modo que, a partir dos
rais. Por exemplo: o homem ter mais fatos morais, a ética tira conclusões,
de uma esposa é moral em algumas elaborando princípios sobre o com-
sociedades, mas em outras não. portamento moral.
A ética é um estudo reflexivo Cita ainda, a referida autora,
das diversas morais, no sentido de dez exemplos de ética e moral.
explicitar os seus pressupostos, ou São exemplos de debates éticos
seja, as concepções sobre o ser hu- na atualidade:
mano e a existência humana que  Reflexões sobre a legalidade
sustentam uma determinada moral. do aborto
Desse modo, a ética pensa a moral.  Estudos sobre o uso de cé-
A ética é uma reflexão siste- lulas-tronco na Medicina,
mática sobre o comportamento mo-  Observações sobre o ato da
ral, pois investiga, analisa e explica a eutanásia
moral de uma determinada so-  Pena de morte
ciedade. São exemplos de conduta mo-
Para o professor Mário Sergio ral no nosso cotidiano:
Cortella:  Não jogar lixo na rua
 Ajudar ao próximo
“Ética é o conjunto de valores e
 Não maltratar animais
princípios que nós usamos para
decidir as três grandes questões  Não cometer atos ilícitos
da vida: ‘Quero?’, ‘Devo?’, “Pos-  Não ser corrupto
so?”. Tem coisa que eu quero,  Não usar drogas
mas não devo, tem coisa que eu

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APOSTILA DE ÉTICA

Reflexões sobre a Morali- Cada cultura ou grupo social


dade tem uma moralidade, que envolve
uma série de padrões morais, que
são um dos principais elementos in-
tegradores da vida social.
Continua o referido autor, ci-
tando que esses elementos são cria-
dos dentro da história e, portanto,
não existe no mundo um único mo-
delo abstrato de moralidade, mas
Fonte: https://chronus.tur.br/ uma série de padrões de moralidade
socialmente definidos.
COSTA (2.019) destaca que, O Bem, a Virtude e a Moral
atualmente, moralidade indica um não existem em abstrato, mas ape-
fenômeno social e ética designa uma nas como elementos de reali-dades
disciplina filosófica. Nesse sentido, a culturais concretas. Apesar disso, fa-
ética apresenta-se como uma re- lamos da Virtude, da Moral e do
flexão sobre a moralidade, o que faz Bem como se eles tivessem uma
com que ela também receba o nome existência em si, como se fossem
de filosofia moral. Segue o referido algo além de conceitos abstratos que
autor que, por exemplo, falamos de inventamos para dar sentido às
ética profissional e nunca de moral nossas próprias experiências.
profissional para nos referirmos aos Dessa forma, a moral antecede
códigos de conduta de cada pro- a ética. A pergunta sobre o que devo
fissão. De toda forma, um processo fazer é um questionamento moral
de moralização da política parece relevante e presente em todas as
melhor descrito como um incre- culturas. Porém, a resposta a essa
mento da ética na política e não da questão normalmente é dada por
moral na política. meio de um discurso interno, que
Essas diferenças apontam pa- esclarece os padrões de compor-
ra um uso preferível do termo ética tamento obrigatórios dentro da
para questões da vida pública e mo- tradição.
ral para questões das relações pri- Somente quando a moralidade
vadas. Tal linha demarcatória não é posta em questão é que a ética
funciona bem, pois faz sentido falar encontra seu espaço. Isso ocorre
tanto de uma moralidade pública normalmente em momentos de
quanto de uma moralidade privada. crise, quando a recusa dos critérios

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APOSTILA DE ÉTICA

tradicionais impele os homens e ____________________


mulheres com pendores filosóficos a ____________________
inventar novos conceitos, mais ca- ____________________
pazes de mediar suas relações con- ____________________
sigo mesmos e com o mundo que os ____________________
cerca.
Assim, a ética não envolve ti- 2. Conceitue moral.
picamente a afirmação de uma rela- ____________________
tividade absoluta, mas sim a elabo- ____________________
ração de critérios objetivos de vali- ____________________
dade, que podem ser utilizados para ____________________
avaliar os padrões morais existentes. ____________________
Para a filosofia ocidental, o ____________________
critério fundamental de objetividade ____________________
é a razão. Somos herdeiros do logos
grego, dessa capacidade que os ho- 3. Cite três exemplos de conduta
mens têm de diferenciar o verda- moral do cotidiano.
deiro do falso. Assim, se somos ca- ____________________
pazes de criticar as tradições cultu- ____________________
rais que nos envolvem, é porque ____________________
existe em nós esse elemento racional ____________________
que nos iguala e nos permite escapar ____________________
da caverna de sombras para obser- ____________________
var o mundo como ele realmente é. ____________________
Como vimos, podemos definir
moralidade como “princípios que
nos fazem distinguir, diferenciar
entre o certo e o errado, o bom e o
mau comportamento, o justo e o
injusto, o verdadeiro e falso, o legal
do ilegal”.

Exercícios de Fixação
1. Conceitue ética.
____________________
____________________

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APOSTILA DE ÉTICA

2. A Ética no Pensamento Ocidental, o Mundo do


Trabalho e a Ética Empresarial

Fonte: Medium2

A Ética no Pensamento realidade que cerca o homem, é a


Ocidental Grécia. Foram os gregos que cunha-
ram e moldaram os termos, os con-

C omo citado, os princípios éticos


só podem ser compreendidos
no seio de uma comunidade, na
ceitos e as palavras nos seus signifi-
cados, aos quais fazem referência os
estudos do mundo ocidental.
complexidade de suas relações, de A vida é um exemplo, e hoje a
suas aspirações etc. A história revela preocupação com a sua proteção vai
que as discussões sobre a ética re- até os limites da experiência intra
montam o chamado período clás- uterina, de modo que uma gestante
sico. pode pedir em juízo uma pensão
O berço da civilização ociden- para o filho que está gerando a um
tal, isto é, o modo de compreender a pai que lhe tem negado amparo.

2 Retirado em https://medium.com/

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APOSTILA DE ÉTICA

A concepção ética do mundo usamos como abrigo da moralidade


ocidental tem origem na Grécia. A já, outrora, ou não existia ou não
ética é uma orientação interna que fazia sentido algum. As verdades que
se preocupa com a harmonia das re- nos abrigam podem ter sido cons-
lações humanas. A ética penetra a truídas, criadas, inventadas desdo-
ordem moral, mas dela independe, a brando-se de princípios diversos.
fim de regê-la com padrões seguros É neste sentido que o filósofo
e autenticamente humanos. A ética alemão Friedrich Nietzsche escreveu
se materializa no diálogo entre o pú- um livro chamado Genealogia da
blico e o privado. Moral. A genealogia quer contar
BARBOSA (2.015) afirma que uma história sobre diversos valores
nem sempre paramos para pensar que acreditamos ser moralmente
de onde vieram nossos costumes, corretos. Nietzsche, ao nos contar
nossos hábitos e a nossa moral. Ao tais histórias, nos faz rever nossas
contrário de pensarmos a morali- estruturas ao descobrirmos surpre-
dade, bradamos que nosso tempo é endentemente que nossa moral nem
de uma inversão moral, de falta de sempre surge das virtudes que pre-
valores, tempos de decadência. Por gamos, mas podem ser frutos do res-
vezes, somos saudosistas por áureos sentimento, da inveja, da falta de
tempos em que a vida era mais, di- confiança em si.
gamos, “moralmente correta”, e des- Sócrates leva o sujeito a en-
consideramos veementemente os contrar a verdade que habita no seu
avanços dos últimos séculos. interior, dissipando-os das contradi-
Os defensores da moral e dos ções que envolvem suas crenças.
bons e velhos costumes, como se diz Nietzsche leva seu interlocutor a
popularmente, são os mais exímios uma revisão profunda de seus valo-
seguidores dela. Desse modo, o que res morais, buscando uma hipótese
pode ser moral, pode ao mesmo que explique o modo pelo qual nossa
tempo passar longe da ética, enten- consciência foi formada. BARBOSA
dida como o bem viver em socie- (2.015) diz que, enquanto Sócrates
dade. Os moralistas, defensores da encaminha o indivíduo para uma
moral, nem sempre são pessoas com coerência valorativa, Nietzsche pro-
virtudes éticas, tais como a gene- voca uma conversão de afetos.
rosidade, a confiança, a bondade e a Agora mencionaremos como
compaixão. os valores legais e morais vão um-
Contudo, esta mesma verdade dando ao longo dos séculos. SAHÃO
que nos vinculamos e, por vezes, (2.014) cita que, há mais ou menos

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APOSTILA DE ÉTICA

5.000 anos, na Mesopotâmia (então Os gregos antigos (3.000 anos


considerado o berço da civilização atrás ou mais) não eram muito me-
no Ocidente), havia em suas leis que lhores quando se trata de derrama-
se uma criança dissesse a seu pai ou mento de sangue. A maneira como
a sua mãe que eles não eram seus eles lidavam com o assassinato era
pais, eles poderiam fazer da criança deixando a família da vítima fazer
uma escrava, vendê-la por dinheiro sua própria justiça, o que levava a
ou levá-la para longe de casa. Por- vendetas sangrentas.
tanto, uma rebelião do filho contra Inicialmente, eles não tinham
os pais poderia colocá-lo à escravi- leis escritas, mas confiavam em “re-
dão. Por outro lado, se um pai dis- gras” passadas oralmente que po-
sesse ao seu filho que ele não era seu diam ser inventadas a qualquer ho-
filho, a lei dizia que mesmo assim o ra. Eventualmente eles começaram
filho deveria sofrer e deixar a casa. um sistema de leis escritas e um no-
Na mesma cultura, se uma tável conjunto de leis foi criado por
mulher fosse infiel ao marido e dis- Draco (um legislador).
sesse: “Você não é meu marido”, ela As leis escritas de Draco fica-
poderia ser jogada no rio. Se um ma- ram conhecidas por sua rigidez, e
rido dissesse para a esposa: “Você seu nome se tornou o adjetivo “dra-
não é minha esposa”, ele deveria pa- coniano”, que significa “severo” ou
gar uma multa. Então, se você fosse “rigoroso”. Suas leis eram tão drás-
uma mulher traída nesse período de ticas que você poderia ter sido morto
tempo, era legal (implicando ética) ao ser pego roubando apenas um
que você pudesse ser jogada no rio – único repolho.
para ser morta. Se você fosse um O mundo antigo está cheio de
homem, você teria apenas que pagar leis semelhantes, que consideramos
uma multa. cruéis e grotescas hoje. Algumas coi-
Se alguém fosse acusado de sas que se destacam a partir desta
algo ilegal naquela época, teria sido época são os castigos físicos (cortar
dada a opção de pular no rio e, se a a orelha, enforcar, decapitar, tor-
pessoa não se afogasse, ela seria tura), castigos materiais (multas e
declarada livre – não culpada. Apa- impostos, tais como pagamentos em
rentemente, a natação não era uma moeda e/ou materiais raros, como
grande habilidade naquela época, ou ouro ou prata) e o fato das leis serem
talvez os rios fossem muito assusta- aplicadas de forma diferente pelas
dores. classes sociais (mulheres e escravos

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APOSTILA DE ÉTICA

eram mais drasticamente punidos, nem as condutas delituosas. A po-


por exemplo). Essas leis banaliza- lícia, o ministério público e o poder
ram os códigos morais da época. Era judiciário têm o dever de investigar
algo absolutamente moral possuir e propiciar ao acusado um julga-
um escravo (ou muitos) ou matar al- mento justo, contemplado com a
guém que tinha roubado um repo- ampla defesa e o contraditório e ao
lho. A pena de morte, ou de execu- sistema prisional de punir e re-
ção, tem sido uma normalidade en- cuperar.
tre todas as tribos (países) nos últi-
mos 2.000 anos, quando se trata de O Mundo do Trabalho e a
conceito da justiça. Para ficar ainda Globalização
mais grotesco, a maioria das execu-
ções eram públicas.
Em 1820, na Grã-Bretanha,
havia 160 crimes puníveis com mor-
te, incluindo furtos, roubos, roubar
gado ou, ainda, o corte de árvores
em um lugar público. O século XX
também foi um período violento.
Dezenas de milhões foram mortos
em guerras entre Estados-nação,
bem como em genocídios perpetra- Fonte:
dos por Estados-nação contra adver- https://www.applango.com/
sários políticos (tanto percebidos
quanto reais), minorias étnicas e re- Sem dúvida a globalização e o
ligiosas: o ataque turco aos Armê- uso das tecnologias de comunicação
nios, a tentativa de Hitler de exter- aproximaram as pessoas e as
minar os judeus europeus, dentre organizações que, outrora, estavam
outros. distantes geograficamente.
Vimos, de forma sucinta, que, ALBUQUERQUE (2.019) as-
ao longo dos últimos séculos, o sis- sim trata tão importante questão:
tema penal e jurídico foi sofrendo
profundas alterações. Importante “O fenômeno da globalização é
um processo em curso, comple-
frisar e deixar bem sedimentado que xo e desafiador, no qual esta-
no Brasil o que vigora é o estado de- mos imersos e, que, portanto,
torna árdua a tarefa de deli-
mocrático de direito. Existe o Código
mitá-lo.”
Penal e outras legislações que defi-

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APOSTILA DE ÉTICA

O discurso da globalização, o que acarreta a insuficiência de


nessa esteira, promete romper fro- conceitos mais abrangentes. Beck
nteiras em prol do desenvolvimento expressa bem a complexidade do fe-
de todos os povos com base na auto nômeno e a dificuldade de sua apre-
regulação do mercado. ensão quando refere que globaliza-
Na perspectiva de Faria, a ção é, com certeza, a palavra mais
crise do padrão monetário mundial usada e a menos definida nos últi-
e os choques do petróleo na década mos tempos.
de 1970 levaram ao esgotamento do Desde o advento do capitalis-
potencial de expansão do modelo mo, com a separação da proprieda-
produtivo, industrial e comercial até de dos meios de produção e da força
então vigente, exigindo respostas de trabalho, que engendrou uma
extremamente rápidas e eficazes verdadeira revolução econômica, o
para contorná-la e que definem hoje processo de acumulação do capital
as peculiaridades da globalização. vem forjando novas técnicas cada
Dentre as respostas está a des- vez mais eficientes, a fim de maximi-
regulamentação dos mercados fi- zar os lucros e minimizar os custos.
nanceiros, a revogação dos mono- Alguns anos após a Revolução
pólios estatais, a abertura do comér- Francesa, formam-se as condições
cio mundial de serviços e informa- necessárias para a Primeira Revolu-
ções, que acarretou a rápida integra- ção Industrial, que incorpora ao pro-
ção mundial do sistema financeiro; a cesso produtivo as primeiras máqui-
ênfase à racionalização das organi- nas capazes de executar tarefas an-
zações produtivas, criando as corpo- tes atribuídas exclusiva-mente ao
rações transnacionais; e, por fim, a homem, acarretando, como conse-
conversão das ciências em técnicas quência, o aumento da produtivi-
produtivas. A globalização, entre- dade. Com esta revolução, a apro-
tanto, não é fruto imediato de um priação da força de trabalho se com-
fato isolado, e sim o resultado de pleta com a transferência do domí-
uma longa evolução da sociedade ca- nio humano sobre os processos pro-
pitalista moderna. dutivos para as máquinas.
O fenômeno, portanto, não é A utilização da ciência como
estanque: é um processo dinâmico e técnica produtiva sustentou a Se-
multidimensional. A globalização gunda Revolução Industrial no iní-
não encerra um conceito unívoco. As cio do século XX. Ao contrário da
diversas linhas teóricas procuram primeira – caracterizada pela ado-
explicá-la sob perspectivas distintas, ção da máquina a vapor –, desta vez

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APOSTILA DE ÉTICA

não houve a adoção de uma nova a produção em massa, o que reduz o


tecnologia, mas um conjunto de custo de produção e, em decor-
alterações técnico-científicas decor- rência, o preço de venda do automó-
rentes da cooptação do conhecimen- vel. Enquanto o taylorismo decom-
to científico pelo capital. põe as tarefas, o fordismo as recom-
Nesse contexto, Frederick põe através da linha de montagem.
Taylor, no final do século XIX, con- Ford ainda padroniza as peças,
cebeu a denominada organização com a intenção de reduzir o tempo
científica do trabalho, ou seja, a ra- de adaptação dos componentes ao
cionalização do trabalho baseada na automóvel, combatendo o desper-
separação entre concepção – enge- dício. Feitas estas transformações
nheiros e técnicos – e execução – no plano organizacional, Ford intro-
operários. Ele propunha a racio- duz novas tecnologias. Com as li-
nalização das tarefas dos operários, nhas automatizadas o tempo de pro-
combatendo o desperdício de tem- dução do veículo é reduzido ainda
po. Uma das formas de racionaliza- mais, obtendo ganhos inimagináveis
ção, com o objetivo de eliminar os com os novos métodos de produção.
movimentos inúteis e diminuir o Nesse contexto, as empresas
tempo na execução das tarefas, é o concorrentes são obrigadas a seguir
parcelamento das tarefas: cada ope- o novo modelo, sob pena de serem
rário faz apenas um determinado expulsas do mercado.
número, diga-se limitado, de gestos O fordismo torna-se domi-
iguais, repetidos durante sua jorna- nante. Mas quando todas as em-
da de trabalho. Com isso, torna-se presas o adotam, já não há vanta-
responsável apenas por uma peque- gens essenciais no nível da organi-
na parte do processo produtivo, não zação. A competição torna-se mais
necessitando de qualificação especí- acirrada e as empresas já não podem
fica. destinar recursos à melhoria das
Henry Ford, por sua vez, pro- condições de trabalho. Ao contrário,
prietário da indústria automobilís- conquista maiores fatias do mercado
tica que leva seu nome, criou uma quem impõe custos mais baixos de
nova estratégia de organização da produção, incluindo a remuneração
produção utilizando os métodos tay- dos trabalhadores. Os operários,
loristas de gerencia-mento. O fordis- destarte, são submetidos a condi-
mo – nova organização da produção ções degradan-tes, desencadeando,
concebida por Ford – para respon- nos anos 70, a crise do fordismo.
der ao aumento da demanda, utiliza

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APOSTILA DE ÉTICA

A partir da década de 80, al- mente os processos de trabalho e,


guns fatores de ordem política e eco- com toda certeza, expulsa do em-
nômica alteraram a cena mundial: o rego milhões de pessoas que cum-
advento da “sociedade informacio- prem tarefas rotineiras, que exigem
nal” como decorrência dos avanços um repertório limitado de conheci-
na microeletrônica, na robótica, na mentos e, sobretudo, nenhuma ne-
telemática; a globalização econômi- cessidade de improvisar em face de
ca; a disseminação do neoliberalis- situações imprevistas.
mo, impulsionado pelas mudanças Com o emprego da ciência
políticas internacionais desencadea- como técnica produtiva, novas for-
das com o desaparecimento, no fi- mas de organização produtiva sur-
nal dos anos 80, do bloco comunista, gem. Dentre as experiências mais
solapando a ameaça socialista. expressivas, pode-se citar o “toyo-
Tais fatores contribuíram para tismo” ou “modelo japonês” ou “pós-
desencadear a Terceira Revolução fordismo”.
Industrial que, novamente, acar-re- O toyotismo, modelo forjado
tará mudanças no mundo do traba- no Japão, foi implantado progres-
lho. Esta, sob diversos aspectos, di- sivamente na Toyota nas décadas de
fere das anteriores. Além da subs- 1950 a 1970 e se disseminou pelo
tituição do trabalho humano pelo mundo na década de 1980. Neste
computador, parece provável a cres- novo modelo produtivo, a “produção
cente transferência de uma série de é puxada pela demanda e o cres-
operações das mãos de funcioná- cimento, pelo fluxo.”. Nessa esteira,
rios que atendem ao público para o a “empresa só produz o que é ven-
próprio usuário, muitas atividades dido e o consumo condiciona toda a
desconectadas do grande capital organização da produção”. Em razão
monopolista passam a ser exercidas disso, os estoques são mínimos. To-
por pequenos empresários, traba- do o desperdício é combatido na To-
lhadores autônomos, cooperativas yota. Nesse contexto, a flexibilidade
de produção etc., o que transforma do aparato produtivo, de forma a
certo número de postos de trabalho atender às exigências mais indivi-
de “empregos” formais em ocupa- dualizadas do mercado no menor
ções que deixam de oferecer as ga- tempo e com maior qualidade pos-
rantias e os direitos habituais e de síveis, acarreta a flexibilização da
carregar os custos correspondentes. organização do trabalho. Os traba-
O que dá para admitir com razoável lhadores atuam em equipe e está
segurança é que ela afeta profunda-

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APOSTILA DE ÉTICA

substitui o parcelamento das tare- operários trabalhem simultanea-


fas, típico do fordismo. A relação um mente com várias máquinas, há o
homem/uma máquina é rompida: “gerenciamento por tensão” através
em média, um trabalhador na To- do sistema de luzes. Os sinais lu-
yota opera cinco máquinas. Para po- minosos são implantados em toda a
der operar várias máquinas dife- cadeia de produção: o verde indica
rentes, o trabalhador tem de tornar- que está tudo em ordem; o laranja
se polivalente, que mais do que aponta intensidade máxima; e o ver-
maior qualificação, significa a exe- melho indica que há um problema e
cução de várias tarefas simplificadas é necessário parar a produção para
no decorrer de sua jornada, ensejan- resolvê-lo. As luzes devem alternar
do maior exploração do trabalho. sempre entre o verde e o laranja para
A equipe de operários, por atingir uma elevação constante do
outro lado, substitui a figura da au- ritmo de produção, pois, oscilando
toridade típica da hierarquia vertical os sinais entre estas cores, a direção
fordista. Agora, a falha de um mem- pode, antecipadamente, descobrir
bro prejudica toda a equipe, que os problemas e acelerar o ritmo até
controla, portanto, a atuação de seus que o próximo apareça.
membros, criando uma forma de Além disso, assim como o apa-
controle invisível e extremamente rato produtivo, as relações de traba-
eficiente. lho também precisam ser flexibiliza-
Diferentemente do modelo das. A força de trabalho é explorada
fordista, onde ocorre uma integ- em razão da demanda. Evita-se, a
ração vertical na linha de produção, todo custo, a ociosidade da força de
com a aquisição das empresas que trabalho. Há um número mínimo de
fabricam as peças, no toyotismo há empregados “estáveis”. Se o merca-
uma integração horizontal, com re- do melhora, contratam-se trabalha-
dução do âmbito de produção da dores temporários ou os operários
montadora, repassando às sub-con- são obrigados a fazer horas extras.
tratadas a produção das peças ne- Todavia, “a política básica é usar o
cessárias à confecção do produto mínimo de operários e o máximo de
final. horas extras.”
No novo sistema de organiza- As empresas automobilísticas,
ção da produção intensifica a explo- “que adquiriram uma sólida lideran-
ração do trabalho: ele exige bem ça no setor, impulsionaram esse for-
mais do trabalhador que o sistema midável aceleramento da rotação de
fordista. Além da exigência de que os capital graças a uma reestruturação

19
APOSTILA DE ÉTICA

completa da organização da pro- nuindo os postos de emprego for-


dução”. Não resta alternativa às em- mais.
presas concorrentes, nesse contexto, A Terceira Revolução Indus-
senão adotar os métodos de produ- trial também opera mudanças pro-
ção da empresa líder. tagonizadas pelo Estado, no sentido
Estas novas formas de organi- de flexibilizar direitos, desregula-
zação do trabalho, não se pode dei- mentar a economia, privatizar em-
xar de enfatizar, estão plenamente presas estatais. O que se verifica,
ligadas ao neoliberalismo e à globa- pois, no capitalismo contemporâ-
lização. A Terceira Revolução Indus- neo, é a precarização das relações de
trial, nesse contexto, provocou drás- trabalho. Os novos postos de tra-
ticas mudanças no universo do tra- balho que surgem em virtude da di-
balho. Todas as revoluções indus- visão internacional do trabalho e das
triais desencadearam o aumento da inovações tecnológicas não mais
produtividade, trazendo, como con- oferecem, na sua grande maioria, as
sequência, o desemprego tecnoló- garantias sociais e trabalhistas con-
gico. Todavia, a Terceira Revolução quistadas pelos trabalhadores ao
Industrial foi mais além: desenca- longo de anos de luta operária. Isto
deou, além do desemprego tecnoló- porque, decorrente da estratégia
gico, o que Singer denomina de “des- empresarial de eliminar o ócio do
centralização do capital”. trabalhador, introduziu-se a flexi-
Com os avanços na telemática, bilidade da organização produtiva e,
as grandes empresas verticalmente por consequência, do próprio tra-
integradas têm sido forçadas pelo balhador.
mercado, em nome da diminuição Outrora, a empresa contratava
dos custos e aumento da produtivi- o empregado. Hoje, ela contrata a
dade, a desintegrarem-se, terceiri- prestação de serviços, forçando os
zando diversos setores produtivos, antigos operários a jogarem-se na
formando uma espécie de rede. Com arriscada tarefa de constituírem pe-
isso, atividades antes desempenha- quenas empresas prestadoras de
das por empregados dessas empre- serviços. Com esta estratégia, as em-
sas agora passam a ser exercidas por presas diminuem o custo do traba-
trabalhadores autônomos, temporá- lho, porquanto não têm de pagar o
rios, pequenos empresários, sem as tempo morto e, ao mesmo tempo,
garantias e os direitos sociais e tra- aumentam a produtividade, pois os
balhistas que antes possuíam, dimi-

20
APOSTILA DE ÉTICA

prestadores de serviço, em razão da a produtividade. Esta mão-de-obra


competitividade, trabalham à exaus- excedente não foi reabsorvida por-
tão para atrair a clientela. que os novos empregos exigem uma
Todas estas transformações qualificação maior e são em menor
afetam a “forma de ser” da classe número, se comparados com os que
trabalhadora. A desconcentração da desapa-receram. Estes indivíduos
classe operária, com o abismo exis- descartados formam as vítimas da
tente entre o núcleo “estável” e a pe- pobreza e da exclusão social.
riferia precarizada e descartável, re- A Terceira Revolução Indus-
duz drasticamente o poder sindical, trial, com a introdução de novas tec-
historicamente ligado aos emprega- nologias e a adoção de novas técni-
dos estáveis, que hoje é incapaz de cas produtivas mais flexíveis, aliada
aglutinar o exército de trabalhado- à globalização e ao neoliberalismo,
res a tempo parcial temporários, contribuiu para a queda nos níveis
subcontratados, precários, perten- de emprego formal, elevando os ní-
centes à economia informal. Os veis de trabalho precário e informal.
trabalhadores já não se identificam Como consequência, o indivíduo que
mais como classe. Perdem a sua é afastado do mercado de trabalho
consciência de classe, dada à extre- formal não consegue mais se rein-
ma heterogeneidade e fragmentação serir.
existente no mundo do trabalho. O acesso ao trabalho (em con-
Surge uma nova pobreza, a dições dignas), nessa perspectiva, é
new poor, formada por indivíduos condicionante dos demais direitos,
que pertenciam à classe média e que visto que é capaz de assegurar ao tra-
perderam seus empregos em razão balhador a manutenção do vínculo
da automação ou da divisão inter- social, principalmente pelo acesso à
nacional do trabalho. Como decor- rede de proteção social, o que resulta
rência desse quadro, emerge uma em o trabalho formal colocar-se co-
crescente desigualdade e polariza- mo uma das principais formas de
ção social levando um número cada emancipação social.
vez maior de indivíduos à exclusão De forma brilhante, ALBU-
social. QUERQUE (2.019) tratou esse te-
Postos de trabalho foram des- ma, nos levando a uma série de re-
truídos com a Terceira Revolução in- flexões. Ao ver que o Brasil conta
dustrial em decorrência do desem- atualmente com milhares de desem-
prego tecnológico que incrementou pregados, nota-se que esse fenôme-

21
APOSTILA DE ÉTICA

no atingiu a grande maioria das or- homens e mulheres estão reade-


ganizações. É comum cada traba- quando-se às novas exigências do
lhador comentar que nos últimos mercado de trabalho e boa parte dos
anos seu setor sofre rígidos cortes. profissionais estão sendo contrata-
Onde havia três funcionários, as ta- dos como pessoa jurídica, em face,
refas, além de ampliadas, fica hoje principalmente, dos encargos tra-
sob a responsabilidade de apenas balhistas.
um. É cediço que os encargos traba-
lhistas e a crise que afeta boa parte
dos países também colaboram para
esse quadro.
Além da perda salarial, muitos
estão se aventurando em vendas
pela internet, usando essa platafor-
ma como forma de se reinserir no
mercado de trabalho. Em síntese, as
pessoas também estão reinventan- Fonte:
do-se para se adaptar à nova rea- https://grupoelithe.com.br/
lidade. Empresas e funcionários
buscam novos processos para sobre- A busca por concursos públi-
viverem, aguardando essa fase tur- cos tornou-se o sonho de consumo
bulenta passar e vão adequando-se de muitos profissionais. No ingresso
às regras impostas, procurando à carreira de policiais, por exemplo,
cumprir os princípios éticos e legais. é muito comum ver candidatos que
se inscrevem nos cursos de forma-
A Ética Empresarial ção de soldados, com qualificação
muito além da exigida, ou seja, com
Feita essa breve exposição so- nível superior em diversas áreas: fi-
bre o mercado de trabalho e a glo- sioterapia, psicologia, letras, peda-
balização, vimos que o trabalhador, gogia, administração, dentre outras,
em especial, sofreu uma série de com fluência em idiomas como in-
prejuízos no que se refere às con- glês, alemão espanhol etc., por um
quistas trabalhistas. A própria legis- salário em torno de R$ 1.900,00,
lação trabalhista e a Justiça do Tra- para ter a estabilidade de emprego.
balho foram intensamente modi- Como o objetivo precípuo de
ficadas recentemente. Sem dúvida, nosso trabalho é a ética e o relacio-

22
APOSTILA DE ÉTICA

namento interpessoal, calha agora sim, essa postura ajudará a com-


mencionar, no outro lado dessa rela- panhia a ser apontada como refe-
ção, a ética empresarial. Em que pe- rência no mercado, atraindo clien-
tes, investidores e bons profissio-
se todas essas mudanças no merca- nais.
do de trabalho, que atingiu a classe A ética empresarial deve estar
trabalhadora, é impres-cindível para presente nas atividades internas e
um relacionamento salutar a estrita externas de uma organização, sendo
observância dos preceitos morais e que as empresas devem prezar pela
éticos no ambiente de trabalho. Va- boa conduta de todos os seus funcio-
mos então aprender sobre o que vem nários. Quando o relacionamento
a ser a ética empresarial. interpessoal é baseado em atitudes e
MARQUES (2.019), assim valores positivos, há a construção de
conceitua: um ambiente de trabalho agradável
para todos, já que os colaboradores
“A ética empresarial envolve os passam a respeitar as regras e nor-
valores de uma empresa e seus
princípios morais dentro da so- mas da organização e ficam mais
ciedade. Esse conceito é funda- abertos a cooperar uns com os ou-
mental para uma organização tros. Todos esses fatores influen-
que pretende construir uma
boa imagem perante seus clien- ciam no aumento da produtividade.
tes internos e externos, parcei- Mas, em nenhum outro cam-
ros e concorrentes.” po, a ética empresarial está tão en-
volvida quanto na obtenção do lu-
Nesse sentido, uma empresa
cro. Ter uma boa rentabilidade é
ética é aquela que pratica os precei-
objetivo de praticamente todas as
tos coletivos e se preocupa com as
organizações, mas os ganhos devem
demandas da população, tendo sua
ser baseados em um trabalho ho-
conduta orientada pela responsa-
nesto e que satisfaça as necessidades
bilidade social e ambiental. Prezar
dos clientes, sem prejudicar as pes-
pela ética empresarial é importante
soas ou o meio ambiente.
para qualquer empresa, indepen-
Além das atitudes morais que
dentemente do seu porte ou se é do
devem nortear todas as suas ativi-
setor público ou privado.
dades, a empresa pode demonstrar
Ao demonstrar que é uma or-
que é ética à sociedade por meio de
ganização transparente, esta será
ações que promovam o bem-estar da
reconhecida por todos pela sua cr-
comunidade em que está inserida
edibilidade e responsabilidade. As-
ou que ajudem a preservar o meio

23
APOSTILA DE ÉTICA

ambiente. Esse senso de respon- tados cada vez mais expressivos e


sabilidade social e ambiental revela alcancemos o sucesso tanto empre-
que a companhia não está alienada sarial quanto em nossas carreiras, é
aos problemas que a rodeiam e se in- importante pensarmos e agirmos de
teressa em contribuir para os forma ética antes de tudo.
combater. Há de se mencionar também a
Em tempos em que os valores ética na administração pública que,
humanos estão cada vez mais sendo além da observância dos preceitos
colocados de lado em nome de aqui citados, deve ser dirigida pelos
maiores lucros, a ética no ambiente princípios constitucionais e legais
corporativo tem se tornado um que a norteiam. Nessa vertente des-
grande diferencial competitivo. Isso tacam-se os princípios da morali-
porque as empresas referências de dade, da legalidade, da impessoali-
boa conduta no mercado conseguem dade, razoabilidade, propo-rcionali-
agregar valor à sua marca e imagem dade, eficiência e publicidade.
e usufruem de maior credibilidade A responsabilidade social será
ao pautar suas ações em princípios tratada em um tópico à parte ainda
éticos e socioambientais, principal- no presente trabalho, mas de plano
mente. Já os profissionais que têm tanto a administração pública quan-
uma conduta ética destacam-se por to a privada devem ter a preocupa-
ajudarem a construir bom relacio- ção nas questões ambientais.
namento interpessoal em seu am- A preservação do meio
biente de trabalho, uma vez que ambiente é a responsabilidade desta
sabem assumir seus erros e têm uma geração, motivo pelo qual os pais
postura flexível, tolerante e humilde devem educar seus filhos na coleta
com seus colegas. do lixo seletivo, no respeito à fauna
Antes de tudo, é sempre bom e à flora, em manter as praias, rios,
compreender a ética empresarial e lagos e mananciais sempre limpos,
profissional como forma de manter em não jogar lixos nas ruas, dentre
a consciência positiva ao exercer outros. Os empresários e adminis-
suas atividades sem prejudicar os tradores públicos devem tomar as
demais ao seu redor. Esse fator é medidas necessárias para que sua
indispensável para o nosso desen- empresa, seus funcionários e cola-
volvimento enquanto seres e em- boradores também tenham essa
presas em constante evolução. Sen- consciência e adotem medidas práti-
do assim, para que tenhamos resul- cas como a coleta seletiva, a econo-

24
APOSTILA DE ÉTICA

mia de água e energia elétrica, a uti- soal desde a integração do no-


lização de equipamentos com o selo vo funcionário, análise de car-
PROCEL, a economia na impressão gos e salários e avaliação de
desempenho.
de documentos etc.
 Recompensar Pessoas:
Outro aspecto a se mencionar
Nesse processo, o principal
é como deve ser a gestão de pessoas. objetivo é incentivar e motivar
Para atingir e alcançar esses objeti- as pessoas, satisfazendo dessa
vos éticos e morais, inserindo-os na forma as suas necessidades in-
política empresarial, é importante dividuais. Aqui estão agrega-
mencionar que a Gestão de Pessoas das as atividades de remune-
auxilia nesse processo. ração de pessoal e a política de
benefícios.
Nesse viés, a gestão de pessoas
 Desenvolver Pessoas: Os
compila todas as atividades da Ad- processos de desenvolver pes-
ministração de Recursos Humanos soas servem para capacitar os
em seis principais processos, que es- colaboradores, ou seja, treiná-
tão interligados entre si. Esses pro- los para desenvolver as suas
cessos foram desenvolvidos por funções. Nesses processos uti-
Chiavenato (1999). Vamos a eles: lizam-se as rotinas de treina-
mento e de capacitação da ad-
 Agregar pessoas: Esse pro- ministração de recursos hu-
cesso consiste em incluir no- manos.
vas pessoas para a empresa,
 Manter Pessoas: O prin-
conforme a necessidade de
cipal objetivo desse processo é
mão de obra e o planejamento
fornecer condições ambientais
de RH. Aqui a Gestão de Pes-
agradáveis e programas moti-
soas incluiu as atividades de
vacionais e psicológicos que
RH, como o recrutamento e a
estimulem os funcionários a
seleção para integrarem o qua-
dar o melhor de si e a alcan-
dro de funcionários da em-
çarem os objetivos desejados.
presa.
 Monitorar Pessoas: São
 Aplicar Pessoas: Aqui se
processos que acompanham e
encontra o processo de ensinar
controlam o desempenho dos
o novo funcionário conforme o
funcionários, analisando re-
perfil esperado da empresa,
sultados. Também são utiliza-
acompanhando a sua integra-
dos processos de sistemas de
ção e orientando o seu desem-
informações gerenciais para a
penho. Nesse processo foram
tomada de decisões e a con-
compiladas as atividades da
sulta ao banco de dados.
antiga administração de pes-

25
APOSTILA DE ÉTICA

Capitalismo, Comércio, In- legalidade, impessoalidade, efi-ciên-


dústria e a Ética do Inte- cia, razoabilidade, proporcionalida-
resse Particular e a Globa- de, publicidade, observando-se rigo-
lização rosamente as condições estabeleci-
das no edital, sem favorecimento de
Como vimos, na ética em-pre- quem quer que seja.
sarial, as organizações, em que pese MATOS (2.014) nos explica
a busca pelo lucro nas atividades do que o fenômeno da globalização
comércio e da indústria, devem estar trouxe o mundo para um estágio
comprometidas com os legais e éti- sem precedentes em sua história.
cos, buscando agregar valores a sua Jamais foi presenciado um desen-
marca. Um funcionário ou um em- volvimento tão acelerado quanto
presário, agindo de forma ética, com esse iniciado na Revolução Indus-
respeito aos ditames legais, com ho- trial e que perdura até os dias de
nestidade de propósitos e transpa- hoje. O capitalismo, principal motor
rência, influencia inegavelmente no do avanço tecnológico e do fenô-
ambiente de trabalho de forma posi- meno denominado globalização, é,
tiva, contagiando os outros a agirem também, o responsável pelas maio-
da mesma maneira. res crises já enfrentadas pela huma-
O lucro não deve ser a meta nidade, sejam elas ambientais, eco-
principal de qualquer organização nômicas e, sobretudo, sociais.
empresarial. Não se admite mais a No mundo de hoje, onde pre-
máxima de se lucrar a qualquer pre- domina a busca pelo poder, consu-
ço ou a qualquer custo. Os valores mo, desigualdade e individualismo,
morais e éticos devem permear as o indivíduo está envolto pela dúvida
organizações e incentivar todos a fa- sobre como ser ético em um contex-
zerem o certo pelo certo, afastando- to com tantas desigualdades. Dessa
se de práticas costumeiras eivadas forma, o bem e o mal, o certo e o er-
de vícios e ilegalidade. Mesmo em rado, a justiça e a injustiça, são sen-
práticas desportivas, precisa ser timentos intrínsecos à humanidade
rechaçada a hipótese de um torcedor e inevitáveis dentro de um corpo
ficar contente porque o seu time ga- social.
nhou com um gol aos 47 minutos do Uma leitura descritiva sobre o
segundo tempo, sendo que o jogador sentimento predominante nos indi-
estava impedido. víduos dos tempos modernos pode
As licitações das empresas pú- ser verificada na obra de Marx. O
blicas devem ser regidas dentro da sociólogo alemão resume a lógica do

26
APOSTILA DE ÉTICA

capitalismo na busca pelo lucro e do, as pessoas são escravas do con-


argumenta que à sociedade está sumo.
imposta a obrigação de seguir as leis Jean-Paul Sartre, um dos ex-
desse sistema. poentes do Existencialismo, apre-
Na abordagem de Marx sobre senta uma reflexão sobre a ética par-
o mundo moderno, é possível perce- tindo do princípio de que os homens
ber que a sociedade gira em torno do são fadados a viver em liberdade.
capitalismo. O objetivo dos indiví- Dessa forma, não importa se as for-
duos resume-se, exclusivamente, na ças externas são mais poderosas do
busca pelo capital, com a sociedade que a vontade subjetiva, sempre há
dividida em duas classes, burguesia uma opção. Se, com efeito, a exis-
e proletariado, onde a primeira de- tência precede a essência, não será
tém o poder das ferramentas de pro- nunca possível referir uma explica-
dução e à outra resta unicamente ção a uma natureza humana dada e
sua força de trabalho para pôr à ven- imutável; por outras palavras, não
da: a desigualdade é predominante. há determinismo, o homem é livre, o
Não há a reflexão sobre a moral ou, homem é liberdade. Essencialmente
se há, é a de uma moral subordinada livres, segundo a concepção de Sar-
às relações de mercado, também tre, os valores morais são sub-jetivos
chamada de “ética do mercado”. para os homens. Ser ético, para o fi-
Acima de tudo, para os burgueses, lósofo, significa agir no mundo cons-
está a busca insaciável pelo lucro, e, ciente de sua ação e das consequ-
para os proletários, a luta pela so- ências proveniente delas, pois o ho-
brevivência. mem tem liberdade para fazer todo
Na concepção clássica, de Só- tipo de escolhas. Nesse sentido, a
crates e Aristóteles, o sujeito ético ou ética é sempre uma possibilidade,
moral é regido apenas pela sua cons- depende de cada indivíduo.
ciência e não se submete aos vícios e A reflexão de Sartre aponta
às vontades de outros. A ética é ob- para um cenário revelador sobre o
tida em ações que considerem o me- conceito de liberdade e ética. No en-
lhor para o indivíduo e para o corpo tanto, de acordo com a perspectiva
social do qual ele faz parte. Entre- marxista, a emancipação humana e
tanto, na modernidade, esse concei- a realização plena da moral apenas
to é cada vez mais difícil de ser apli- serão possíveis quando a sociedade
cado. Dentro da sociedade capitalis- romper com o sistema vigente, e isso
ta, vestida pela liberdade de merca- só será alcançado quando os homens

27
APOSTILA DE ÉTICA

conseguirem enxergar o mundo reitos efetivados e sua dignidade re-


como ele realmente é e o quanto eles conhecida e protegida que podere-
são explorados, ou seja, quando a mos dizer que vivemos numa socie-
sociedade deixar de ser alienada. dade justa. Até porque, sem o prin-
Conclui a autora que, na era do cípio de justiça, não pode haver so-
capitalismo, a moral da história é a ciedade, pois nela deixariam de exis-
moral do sistema. PEQUENO (20 tir a confiança e o respeito mútuo
19), outro autor que trata da ética e entre os indivíduos. A justiça é a
da cidadania, nos ensina que a ética maneira de reconhecer que todos
trata do comportamento do homem, são iguais perante a lei (igualdade) e
da relação entre a sua vontade e a que todos devem receber de acordo
obrigação de seguir uma norma, do com seus méritos, qualidades e rea-
bem e do mal, do que é justo e injus- lizações (equidade). A justiça é, des-
to, da liberdade e da necessidade de se modo, representada pelos prin-
respeitar o próximo. É comum afir- cípios de igualdade e equidade. As-
mar que ser cidadão significa pos- sim, quando a sociedade revela-se
suir direito ao voto, à liberdade de justa, torna-se possível instituir um
expressão, à saúde, à educação, ao clima de confiança nas Instituições e
trabalho, à locomoção, à alimenta- de liberdade entre os indivíduos. A
ção, à habitação, à justiça, à paz, a justiça é a condição de um viver soli-
um meio-ambiente saudável, à feli- dário, responsável, fraterno. Quan-
cidade, dentre outros. A cidadania é do a mesma deixa de ser praticada,
a condição social que confere a uma os indivíduos ficam sujeitos ao arbí-
pessoa o usufruto de direitos que lhe trio, à violência e à barbárie. A jus-
permitem participar da vida política tiça é, antes de tudo, um valor moral,
e social da comunidade no interior podendo ainda ser concebida como
da qual está inserida. A esse indiví- o principal fundamento da vida em
duo que pode vivenciar tais direitos sociedade. Portanto, é uma virtude
chamamos de cidadão. Ser cidadão, que deve ser praticada por todo su-
nessa perspectiva, é respeitar e par- jeito moral, já que sem ela torna-se
ticipar das decisões coletivas, a fim impossível o exercício dos direitos
de melhorar sua vida e a da sua co- fundamentais e de cidadania.
munidade. O desrespeito a tais direi- Eis o grande desafio do ser hu-
tos, por parte do Estado, de Institui- mano, dos empresários e dos admi-
ções ou pessoas, gera exclusão. nistradores: buscar o lucro com res-
Nessa perspectiva, é somente ponsabilidade social, dentro dos pa-
quando cada homem tiver seus di-

28
APOSTILA DE ÉTICA

drões éticos e morais, cumprindo os 3. Em que consiste o processo de


preceitos legais e as normas que agregar pessoas?
regem a sociedade. Ou seja, fazer o ____________________
certo pelo certo, cumprir a sua mis- ____________________
são, a sua tarefa da melhor maneira ____________________
possível, se posicionando contrário ____________________
quando algo se aproxima da ilega- ____________________
lidade, não concordando com práti- ____________________
cas ilícitas, que ferem os princípios ____________________
morais e éticos. É o dizer simples de
nossos antepassados: “Deitar e dor-
mir com a consciência tranquila”.

Exercícios de Fixação

1. O que é uma empresa ética?


____________________
____________________
____________________
____________________
____________________
____________________
____________________

2. Quais as mudanças protago-


nizadas pelo Estado na Tercei-
ra Revolução Industrial?
____________________
____________________
____________________
____________________
__________________
____________________

29
APOSTILA DE ÉTICA

3. A Ética Profissional em um Mundo Globalizado,


Responsabilidade Social, a Atuação Profissional e
os Dilemas Éticos

Fonte: Tribuna3

A Ética Profissional afeta toda a sociedade. Além do có-


digo de conduta de cada profissão,

A pós tão importante explanação


sobre a parte conceitual e filo-
sófica da ética e da moral, abran-
há os valores éticos e morais que de-
vem ser observados por todos.
A palavra profissão vem do la-
gendo o mercado de trabalho, a glo- tim “professione” e possui diversos
balização e seus efeitos no mundo significados nesse idioma. Na atuali-
em que vivemos, vamos agora a uma dade, profissão representa a prática
parte mais prática de nosso estudo. constante de um ofício, de um labor
A ética profissional, sem dú- (SÁ, 2009). De acordo com Masiero
vida, é extremamente importante e (2007, p. 455), “ética profissional

3 Retirado em https://www.tribuna.com.mx/

31
APOSTILA DE ÉTICA

reúne um conjunto de normas de Quando o ser humano elege


conduta, exigida no exercício de seu trabalho, ele compromete-se
qualquer atividade econômica”. com todos os deveres éticos de ofere-
No papel de “reguladora” da cer com satisfação e qualidade suas
ação, a ética age no desempenho das atividades. Sá (2009) relaciona uma
profissões, levando a respeitar os série de virtudes chamadas de valo-
semelhantes no exercício de suas res necessários e compatíveis à prá-
funções. Ela envolve o relaciona- tica dos serviços profissionais. Algu-
mento de profissionais, a fim de res- mas delas são: abnegação, atitude,
gatar a dignidade humana e a cons- benevolência, coerência, disciplina,
trução do bem comum. eloquência, fidelidade, gratidão, ho-
A atuação profissional e conse- nestidade, idealismo, respeito, edu-
quentemente as profissões possuem cação, entre outras. Quando as vir-
um grande valor para a sociedade, tudes são realizadas com qualidade,
seja na área da saúde, lazer, habi- é possível identificar o caráter do
tação, educação, administrativa, en- profissional e o exercício de sua pro-
tre outros. A seus profissionais são fissão. Assim como as atitudes vir-
concedidas responsabilidades no tuosas garantem o bem, a ética tem
campo social que trazem benefícios sido um caminho para o benefício de
através de seus trabalhos, gerando todos.
satisfação para a comunidade e inte-
ragindo com essa. Para Camargo (20 Os Pilares do Relaciona-
08, pp. 31-32), “ética profissional e a mento Profissional
aplicação da ética geral no campo
das atividades profissionais; a pes-
soa tem que estar imbuída de certos
princípios para vivê-los nas suas ati-
vidades do trabalho”. Para que o
profissional conduza seu trabalho
com eficiência, eficácia e efetivida-
de, é preciso ter responsabilidade in-
dividual perante seu grupo. De acor-
do com Sá (2009, p. 163), “nem sem-
pre a escolha coincide com a voca- Fonte:
ção, mas feita a eleição, inicia-se um https://br.pinterest.com/
compromisso entre o indivíduo e o
No desempenho de suas fun-
trabalho que se propõe a realizar”.
ções, seja na esfera pública ou priva-

32
APOSTILA DE ÉTICA

da, todo o profissional se relaciona sagens de trabalho. “Ao enviar


com pessoas. um e-mail, por exemplo, mui-
Para nos ajudar melhor a en- tas vezes as pessoas deixam de
desejar ‘bom dia’ ou ‘boa tar-
tender como deve se desenvolver os
de’”. Pela forma como o e-mail
nossos relacionamentos profissio- é usado como ferramenta de
nais dentro dessa visão ética, vamos trabalho, muitas vezes são en-
mencionar os cinco pilares, segundo viadas mensagens secas, sem
a consultora GIANETE (2014): mesmo um “por favor” ou um
 Autoconhecimento: A di- “obrigado”.
versidade comportamental no  Empatia: “Esta é a habilidade
ambiente de trabalho é muito de colocar-se no lugar dos ou-
rica, e antes de conhecer os de- tros”, afirma Regina. Segundo
mais, você precisa saber como a educadora, é preciso consi-
você mesmo funciona. A partir derar as opiniões e sentimen-
do momento que conhece as tos dos colegas. Caso contrá-
suas características positivas, rio, não é possível um relacio-
você vai ter boas referências na namento realmente proveitoso
hora de buscar que os colegas para os dois lados. “É preciso
também as tenham. “Além dis- se colocar no lugar do outro
so, o autoconhecimento ajuda para entender o ponto de vista
a elaborar estratégias para mi- dele”. Ouvir, entender o cole-
nimizar conflitos na hora do ga. Situações de trabalho nos
relacionamento com os co- colocam juntos, e se não tiver
legas”. consciência disso, tudo fica
 Cordialidade: A caracterís- mais difícil.
tica que foi mais recentemente  Assertividade: Para o suces-
adicionada à lista, aparente- so de um relacionamento, as-
mente, trata de algo óbvio: é ber ouvir é essencial, mas tam-
preciso ser cordial na hora de bém é preciso saber falar. Por
se relacionar. “É simples e ób- isso, um dos pilares listados
via a necessidade de ser cor- pela educadora é a assertivida-
dial, mas nem sempre estamos de. “Ser assertivo é se expres-
atentos a isso. A cordialidade sar, dizer o que pensa, mostrar
se revela em pequenos gestos o ponto de vista, sentimento”.
que vão nos fazer ser vistos co- Algumas pessoas têm tendên-
mo simpáticos”, alerta a edu- cia a ser mais retraídas, isso é
cadora. Segundo ela, porém, é natural.
comum deixar de lado a cor-  Ética: De nada adianta se co-
dialidade em situações corri- nhecer bem, ser cordial, ter
queiras, como o envio de men- empatia e ser assertivo se fal-

33
APOSTILA DE ÉTICA

tar um dos pilares: a ética. “Se Este tipo de relacionamento


você não é ético, não consegui- também está muito ligado à cultura
rá ter bons relacionamentos. organizacional que a empresa pos-
Em algum momento vai ter
sui. Normalmente, o setor de recur-
problemas. Essa máscara vai
cair”. sos humanos cria critérios de com-
patibilidade entre a empresa e o fun-
Cabe, também, citar os três ti- cionário antes dele ser contratado.
pos de relacionamento interpessoal, Se a empresa valoriza o dina-
segundo a mesma autora: mismo entre hierarquias de traba-
lho, preza pelo lado criativo de seus
Relacionamento Interpessoal colaboradores, novidade e empreen-
Profissional dedorismo, as pessoas que serão
contratadas terão perfis semelhan-
As habilidades de relaciona- tes: serão eficazes, práticas, dinâmi-
mento interpessoal geralmente cos- cas e procurarão esta-belecer um
tumam ser trabalhadas e exigidas no ambiente mais competitivo.
ambiente profissional, ou seja, no Conhecendo o perfil predomi-
conceito do relacionamento inter- nante entre seus colaboradores, fica
pessoal profissional. mais fácil de gerir e estabelecer prá-
Esta habilidade no mundo ticas que facilitem o convívio entre
business é cada vez mais relevante, eles. Se há um consenso entre a
por isso vem crescendo o número de equipe de como lidar com essas co-
empresas e organizações que inves- nexões, o processo de como o em-
tem em palestras sobre esse assunto pregador irá lidar com seu time é
para os seus colaboradores. facilitado.
Prezar pela forma como os
funcionários reagem às conexões Relacionamento Interpessoal
estabelecidas com os colegas de tra- Pessoal
balho mais próximos ou como eles
lidam com os clientes traz lucro tan- O relacionamento interpessoal
to para a instituição como para o pessoal envolve a forma como lida-
funcionário. Isso acontece porque mos com as pessoas mais próximas
em um ambiente de trabalho mais a nós. Familiares, cônjuges, amigos,
harmonioso e fluído, onde os funcio- namorado ou namorada, enfim, co-
nários têm uma boa comunicação, mo encaramos as situações que se
há menores chances de erros e maio- revelam nessas relações.
res chances de crescimento.

34
APOSTILA DE ÉTICA

Relacionamento Interpessoal por isso ainda devem predominar o


Virtual uso do respeito, empatia, responsa-
bilidade, dentre outras diversas ca-
racterísticas morais que conduzi-
riam a uma relação agradável e
coerente.
Nesse sentido, procure ser
simpático também nos meios digi-
tais e sempre leia o que escreveu
antes de enviar.

Responsabilidade Social

A importância da Responsabi-
lidade Social nas empresas é uma
das maiores preocupações, inclusi-
ve, pelo impacto que tem na socie-
dade em geral e nas comunidades
mais necessitadas.
Após a Segunda Guerra Mun-
dial, tiveram início manifestações de
preocupação com questões sociais,
Fonte: https://medium.com/
ambientais e o futuro das organiza-
ções no mundo.
Já o relacionamento interpes-
No Brasil, o discurso sobre as
soal virtual é visto como algo mais
questões sociais cresceu a partir da
recente. Mesmo que não estejamos
reforma do Estado, no final dos anos
presentes fisicamente, diretamente
80, descentralizando ao mercado a
ao lado das pessoas, no momento de
responsabilidade pelo crescimento
criar uma conexão virtual com al-
econômico e atendimento às neces-
guém precisamos lembrar que, ain-
sidades sociais (ESTIGARA, 2009).
da assim, devemos seguir algumas
O processo econômico decor-
regras das normas comportamen-
rente da globalização, as transfor-
tais que rege nossa sociedade.
mações políticas e sociais mundiais,
No ambiente de trabalho ou
a inovação tecnológica e científica e
pessoalmente, as consequências de
os impactos das mudanças climáti-
utilizarmos mal uma ferramenta di-
cas têm ressaltado a necessidade de
gital pode ser altamente prejudicial,

35
APOSTILA DE ÉTICA

revisão dos atuais padrões insus- ambiental elevam os níveis de de-


tentáveis de produção e consumo e senvolvimento social, proteção ao
dos modelos econômicos adotados meio ambiente e respeito aos direi-
pelos países desenvolvidos e econo- tos humanos, os quais se traduzem
mias emergentes, como é o caso do em uma gestão responsável.
Brasil. As cooperativas, assim como
Este cenário tem conduzido todas as organizações, se caracteri-
Inúmeros debates sobre o papel dos zam como sistemas abertos, que in-
indivíduos, das empresas e das ins- teragem com o meio onde estão in-
tituições na promoção de práticas e seridas e que, com o decorrer do
atitudes que conduzam ao desenvol- tempo, adotam práticas para se
vimento sustentável. adaptar à realidade e manter a com-
No âmbito das instituições petitividade no mercado.
(públicas, privadas ou do terceiro
setor), o conceito utilizado é o de
responsabilidade social ou respon-
sabilidade socioambiental, visando
a identificar e estruturar ações para
atender as demandas da sociedade
(TAVARES, 2012).
As questões relacionadas à
responsabilidade socioambiental
são globais e, dependendo do con-
Fonte: https://parsol.pai.pt/
texto, sua compreensão por parte
das empresas e demais instituições A responsabilidade social e a
pode acontecer de formas diferen- ética estão presentes nos negócios
tes, levando-se em consideração os desde o século XIX, mas foi a partir
impactos e influências dos desafios de 1919 que esses conceitos ganha-
econômicos, sociais e ambientais a ram maior atenção como o caso
serem enfrentados, e dos padrões in- Dodge versus Ford. O pre-sidente e
ternacionais e nacionais adotados acionista majoritário da Ford, Hen-
como referência para o desenvolvi- ry Ford, contrariou os interesses dos
mento nos diferentes países (BRA- demais acionistas John e Dodge, ale-
SIL, 2009). gando objetivos sociais. Ele defendia
Empresas que investem em a não distribuição de uma parte dos
práticas de responsabilidade socio- dividendos, os quais reverteriam pa-

36
APOSTILA DE ÉTICA

ra uma série de ações, como inves- tários de conduta da família ISO


timentos na produção e aumentos 14000 tornava-se um diferencial pa-
de salários. No entanto, o julgamen- ra as empresas, não só no cenário
to foi favorável a Dodge, justificado nacional, mas também no interna-
pelo fato de que a organização exis- cional, além da responsabilidade
tia para beneficiar os acionistas, e com uma produção mais limpa. Para
que o lucro não deveria ser utilizado minimizar os impactos, procuravam
para outros fins que não fosse em identificar as falhas e trabalhar pela
benefício dos mesmos. Nesse caso, o melhoria contínua.
investimento em filantropia e na O termo sustentabilidade ou
imagem da organização só poderia desenvolvimento sustentável trata,
ser feito se beneficiasse o lucro dos basicamente, de algo que devemos
acionistas. preservar aqui e agora, para garantir
Barbieri (2011) menciona que um futuro de qualidade às gerações
as primeiras manifestações de ges- que estão por vir. Nesse sentido, ve-
tão ambiental foram estimuladas jam algumas providências que são
pelo esgotamento de recursos, como sugeridas pelo autor Marques, dis-
a escassez de madeira para a cons- poníveis em http:
trução de moradias, fortificações, //marcusmarques.com.br/estrategi
móveis, instrumentos ecombustível, as-de-negocio/10-praticas-
cuja exploração havia se tornada in- sustentaveis-empresas/, para mini-
tensa desde a era medieval. mizar os impactos no meio am-
Nos anos de 1980, as indús- biente:
trias começaram a ter uma mudança  Nada de copos descartá-
de pensamento e com isso entendeu veis: Empresas sustentáveis
que era preciso uma mudança nos incentivam seus colaborado-
seus processos de produção. Um dos res a eliminarem o uso de co-
pos ou qualquer tipo de ma-
pontos principais estava na minimi-
terial descartável, pois, quanto
zação de resíduos e na reciclagem. mais eles são utilizados, mais
Pode-se dizer que naquela década o lixo eles geram.
empresariado começava a ver o  Economize papel, água e
tema Meio Ambiente com outros energia: Lembre-os de sem-
olhos. pre pensarem duas vezes antes
Nos anos de 1990, uma nova de fazerem uma impressão, de
fecharem a torneira quando
onda veio para mudar o cenário am-
não estiverem usando a água e
biental no mundo. Os códigos volun- de desligarem as luzes e os

37
APOSTILA DE ÉTICA

equipamentos todos os dias ao ambientais que precisam ser


final do expediente. cumpridas não só por empre-
 Invista na reciclagem: Es- sas, mas também pela socie-
palhar pela empresa lixeiras dade como um todo. Neste
para facilitar a separação do sentido, é primordial que você
lixo orgânico do reciclável. conheça a lei, como ela fun-
 Utilize equipamentos eco- ciona, bem como quais são
nômicos: Ar condicionado, suas obrigações enquanto em-
geladeira, impressora, compu- presário e empreendedor, para
tadores, entre outros equipa- não ferir qualquer uma de suas
mentos, podem ajudá-lo a eco- normas.
nomizar energia e tornar a sua  Não polua: Essa é uma das
empresa ainda mais suste- formas que mais degrada o
ntável. meio ambiente e que impacta
 Incentive o uso de trans- diretamente no nosso modo de
portes alternativos: Incen- viver, pois, a partir do momen-
tive o uso de transporte coleti- to que uma empresa lança
vo ou a irem trabalhar de bici- produtos químicos nos rios,
cleta, caso seja possível. por exemplo, ela está poluindo
 Invista em treinamentos o lugar em que muitos animais
sobre sustentabilidade: vivem e, consequentemente,
Promova treinamentos sobre tiram o sustento de muitas
sustentabilidade para todas as famílias.
suas equipes de trabalho, mos-  Utilize fontes de energia
trando a elas a importância de renováveis: Nos processos
adotar práticas sustentáveis, de produção da sua empresa,
não só no ambiente empresa- verifique a possibilidade de
rial, mas também em casa e utilizar fontes de energia reno-
nas ruas das cidades onde cada vável, como energia solar, por
um reside. exemplo, que já é uma reali-
 Crie projetos de preser- dade em muitas organizações
vação do meio ambiente: ao redor do mundo, e sua ins-
Crie dentro de sua empresa, talação deixou de ter um alto
com a ajuda de seus colabo- custo para a empresa que ado-
radores, projetos de preserva- ta esta medida.
ção do meio ambiente. Esta é  Deve se mencionar também
uma maneira eficiente de ser as cores representativas da
ainda mais sustentável e de coleta seletiva de lixos:
agregar valor diante de seus a. Azul: Papel E Papelão
clientes e stakeholders. b. Vermelho: Plástico
 Respeite as leis ambien- c. Verde: Vidro
tais: Muitos países têm leis

38
APOSTILA DE ÉTICA

d. Amarelo: Metal dos empregadores perante os em-


e. Preto: Madeira pregados deve ser permeada por um
f. Laranja: Resíduos Pe- tratamento digno, remunerando
rigosos
bem e cumprindo com todas as obri-
g. Branco: Resíduos Am-
bulatoriais E De Serviços gações trabalhistas.
De Saúde As empresas, na medida do
h. Roxo: Resíduos Ra- possível, devem apoiar as artes, os
dioativos museus, a ópera, a orquestra sinfô-
nica, os desportos, dentre outras,
Para melhor compreensão, se- além de contribuir, financeiramen-
gue uma figura ilustrativa contendo te, com as causas filantrópicas e co-
as lixeiras recicláveis: munitárias.
A afirmação mais radical da
responsabilidade social das empre-
sas talvez tenha sido a do prefeito da
cidade de Nova Iorque, John Lin-
dsay, na década de sessenta. Ele
exortou as maiores empresas da ci-
dade de Nova Iorque a adotar um
gueto negro, garantindo aos habi-
tantes da área condições mínimas
para satisfazer as necessidades bá-
sicas, a educação e a conseguir em-
prego aquela comunidade.
É importante ressaltar o Siste-
Fonte: ma de Gestão Integrado, também
https://www.carrefour.com.br/ conhecido como SGI, que é básica-
mente um software que organiza as
Cabe ressaltar que na relação operações da empresa, tornando
entre a ética privada e a ética pú- possível a execução de tarefas e pro-
blica, a organização não deve admi- cessos internos. (Fonte:
tir comportamentos ilegais ou antié- www.magistech.com.br) É aplicado
ticos, primando por um am-biente a organizações de todos os portes e
onde deve permanecer a ordem ju- não carece de certificação, tendo
rídica e o tratamento com urbanida- aplicabilidade no mais amplo es-
de a todos. A responsabilidade social pectro setorial, indo desde o setor

39
APOSTILA DE ÉTICA

governamental até ONG’s e empre- 3. A lixeira de cor vermelha deve


sas privadas. Tem os seguintes ob- coletar que tipo de resíduos?
jetivos: ____________________
 Redução de custos. ____________________
 Controle das informações de ____________________
dados. ____________________
 Redução do trabalho fun- ____________________
cional. ____________________
 Informações mais confiáveis. ____________________
 Aumento de produção.
 Controle à distância.
 Total segurança.
 Melhor comunicação interna.

Exercícios de Fixação
1. Cite três pilares do relaciona-
mento interpessoal.
____________________
____________________
____________________
____________________
____________________
____________________
____________________

2. Conceitue relacionamento in-


terpessoal virtual.
____________________
____________________
____________________
____________________
____________________
____________________
____________________

40
41
APOSTILA DE ÉTICA

4. Ética e Moral

Fonte: Medium4

O Problema da Ação e dos Aristoteles


Valores
A característica especifica do

N a vida diária, nos deparamos homem em comparação com os ou-


com situações em que temos tros animais é que somente ele tem
de fazer escolhas e tomar decisões. o sentimento do bem e do mal, do
Geralmente elas dependem daquilo justo e do injusto e de outras quali-
que consideramos bom, justo ou dades morais. (Política, p.15)
correto. Quando isto acontece esta- Sendo assim, o ser humano
mos diante de uma decisão que en- age no mundo de acordo com valo-
volve um julgamento moral, a partir res, isto é, a partir daquilo que tem
do qual vamos orientar nossa ação maior importância ou é prioridade
ou ações de outras pessoas. para ele segundo certos códigos
morais.

4 Retirado em https://medium.com/

42
APOSTILA DE ÉTICA

Isto significa que as coisas e as que investiga o que é a moral, como


ações que um individuo realiza ela se fundamenta e se aplica, ou
podem ser hierarquizadas conforme seja, a ética ou filosofia moral estuda
as noções de bem e de justo com- os diversos sistemas morais elabora-
partilhadas por um grupo de pessoas dos pelos seres humanos.
em determinado momento histó- Busca compreender a funda-
rico. Em outras palavras, o ser hu- mentação das normas e interdições
mano é um ser moral: um ser capaz (proibições) próprias a cada um e
de avaliar sua conduta a partir de explicitar seus pressupostos, isto é,
valores morais. as concepções sobre o ser humano e
a existência humana que os sus-
Distinção entre Moral e tentam.
Ética
Moral e Direito
Embora os termos moral e
ética por vezes sejam usados como
sinônimos, é possível fazer uma dis-
tinção entre eles.
A palavra moral vem do latim
mos, mor, “costumes”, e refere-se ao
conjunto de normas que orientam o
comportamento humano tendo co-
mo base os valores próprios a uma
comunidade ou cultura. Fonte:
https://direitodiario.com.br/
Como as comunidades huma-
nas são distintas entre si, tanto no Eis uma pergunta que talvez
espaço quanto no tempo, os valores você esteja se fazendo: “normas mo-
também podem ser distintos de uma rais e normas jurídicas são a mesma
comunidade para outra, o que coisa? Há diferença entre elas?
origina códigos morais diferentes. Sabemos que as normas mo-
A palavra ética por sua vez, rais e jurídicas são estabelecidas pe-
vem do grego ethikos, “modo de los membros da sociedade e que am-
ser”, “comportamento”. Portanto, bas se destina a regulamentar as re-
etimologicamente os dois termos lações nesse grupo de pessoas.
querem dizer quase a mesma coisa. Há, então, vários aspectos co-
No entanto, ética designa mais muns entre normas morais e jurí-
especificamente disciplina filosófica dicas:

43
APOSTILA DE ÉTICA

 São imperativas, ou seja, de- A moral não se traduz em um


vem ser seguidas por todos; código formal, enquanto o direito
 Buscam promover um convi- sim. O direito mantém um relação
vência melhor entre os indi- estreita com o Estado, enquanto a
víduos;
moral não apresenta necessaria-
 Orientam-se por valores cultu-
mente essa vinculação.
rais próprios de uma socie-
dade;
 Tem caráter histórico, isto é, Moral e Liberdade
se modificam de acordo com
as transformações historico-
sociais.

Existem, no entanto, diferen-


ças fundamentais entre a moral e o
direito:
 Normas morais são seguidas a
partir de convicções indivi-
duais e grupais enquanto nor-
mas jurídicas são cumpridas
sob pena de punição. Fonte:
https://police2peace.com/
 Punição no campo do direito
esta prevista na legislação en-
quanto no campo moral a Parece estranho vincular a
eventual sanção varia por que ideia de norma moral com liberda-
depende da consciência moral de. Existe, no entanto, uma relação
do sujeito que infringe o códi- intima entre ambas.
go moral vigente da sociedade
A consciência talvez seja a me-
em que vive.
lhor característica que distingue o
A esfera da moral é mais ser humano dos outros animais. Ela
ampla e abrange diversos aspectos permite o desenvolvimento do saber
da vida humana, enquanto a esfera e da racionalidade, que se empenha
do direito restringe-se a questões es- em separar o falso do verdadeiro.
pecificas nascidas da interferência Além dessa consciência ra-
de condutas sociais. O direito costu- cional, lógica, o ser humano possui
ma ser regido pelo principio de que também consciência moral, isto é, a
tudo é permitido, exceto aquilo que faculdade de observar a própria con-
a lei expressamente proíbe. duta e julgar (isto é, formular juízos)

44
APOSTILA DE ÉTICA

sobre os atos passados, presentes e julgar moralmente a ação de uma


as intenções futuras. Observemos pessoa se essa ação foi praticada em
que a palavra julgar vem do latim liberdade. Quando não se tem esco-
judicare, “avaliar”, “ponderar” – ou lha (liberdade), quando se é coagido
seja, julgar é atribuir um valor, um a praticar uma ação, é impossível
peso para cada coisa que se decidir entre o bem e o mal (que é o
apresenta. que faz a consciência moral).
Nota-se ainda que é somente A decisão, nesse caso, é im-
depois de julgar que a pessoa tem posta pelas forças coativas, isto é,
condições de escolher, entre as cir- que determinam uma conduta.
cunstancias possíveis, suas ações e Quando, porém, estamos livres para
seu próprio caminho para a vida. E é escolher entre esta ou aquela ação e
justamente essa possibilidade que fazemos uma escolha, tornamo-nos
cada individuo tem de escolher seu responsáveis pelo que praticamos e
caminho, de construir sua maneira podemos ser julgado moralmente
de ser e sua historia que chamamos por isso.
liberdade. Observemos que o termo res-
ponsabilidade vem do latim respon-
Liberdade e Responsabili- dere “responder”, e significa estar
dade em condições de responder pelos
atos praticados, isto é, de justificá-
los e assumi-los. É essa responsabili-
dade, enfim, que pode ser julgado
pela consciência moral do próprio
individuo ou do seu grupo social.

Transformações da Moral

Dissemos que o sistema moral


de cada grupo social é elaborado ao
longo do tempo de acordo com os
Fonte: valores reconhecidos por aquele
https://www.eloisegratton.com/ grupo como significativos para a
convivência social. Num primeiro
Sendo assim, se a consciência momento, esses valores são adqui-
moral e a liberdade estão intima- ridos pelos indivíduos como uma he-
mente relacionadas, só tem sentido rança cultural. Cada pessoa assimi-

45
APOSTILA DE ÉTICA

la, desde a infância, as noções do que de conduta verdadeiramente moral.


e bom e desejável, assim como do Em sua relação com a socie-
que e ruim, desaconselhável ou re- dade, o indivíduo pode reafirmar e
pugnante. De acordo com esses va- consolidar a moralidade existente.
lores, passará a julgar como bom ou Mas pode também negá-la e, dessa
mau seu próprio comportamento e o forma, contribuir para a transfor-
dos outros. mação dessa moralidade. Assim, po-
demos caracterizar essa relação
entre sociedade e indivíduo como
dialética, ou seja, de mutua influen-
cia entre dois pólos.
De um lado, há um ser singular
que e levado pela educação à univer-
salidade expressa nos costumes e
normas morais. Isso significa que
cada indivíduos assimila os prin-
cípios morais concebidos pelos gru-
Fonte: pos sociais e consolidados ate então
https://www.pinterest.co.kr/
como próprios do ser humano.
De outro lado, estão aqueles
No entanto, é importante no-
que, não assimilando passivamente
tar que, apesar desse caráter social,
esses princípios, se propõem a exa-
a moral tem também um aspecto
miná-los e questioná-los a luz de
pessoal, como salientaram vários
novas condições historico-sociais,
filósofos. Ou seja, embora herdemos
podendo então decidir por interferir
um conjunto estabelecido de nor-
em sua formulação e acabar trans-
mas morais, chega um momento em
formando as normas e costumes
nossas vidas em que podemos re-
morais.
fletir sobre elas, aceita-las conscien-
te e livremente ou rejeitá-las. Exercícios de Fixação
Por isso dissemos anterior-
mente, na comparação entre normas 1. Embora sejam usadas muitas
morais e jurídicas, que o com-por- vezes como sinônimos, que
tamento moral caracteriza-se essen- significados específicos pos-
cialmente pela livre escolha do indi- suem as palavras moral e ética
víduo. Isso significa que a liberdade respectivamente?
é a base, a condição de possibilidade a. Liberdade e responsabili-
dade.

46
APOSTILA DE ÉTICA

b. Costumes e comportamen-to. c. Nota-se ainda que é somente


c. Jurídico e costumes. depois de julgar que a pessoa
d. Comportamento e liberda-de. tem condições de escolher,
e. Direito e responsabilidade. entre as circunstancias possí-
veis, suas ações e seu próprio
2. Em relação aos aspectos em caminho para a vida.
comum e as diferenças fun- d. Quando não se tem escolha,
quando se é coagido a praticar
damentais entre moral e di-
uma ação, é impossível decidir
reito analise as afirmativas em entre o bem e o mal (que é o
verdadeiras ou falsas. que faz a consciência moral).
( ) São imperativas, ou seja, de- e. E é justamente essa possibili-
vem ser seguidas por todos. dade que cada individuo tem
( ) Não buscam promover um de escolher seu caminho, de
convivência melhor entre os construir sua maneira de ser e
indivíduos. sua historia que chamamos li-
( ) Normas morais são seguidas a berdade.
partir de convicções indivi-
duais e grupais enquanto nor-
mas jurídicas são cumpridas
sob pena de punição.
() Orientam-se por valores cul-
turais próprios de uma so-
ciedade.

3. Só faz sentido julgar moral-


mente as ações de uma pessoa
se as mesmas foram pratica-
das em liberdade. De acordo
com esta afirmação assinale a
alternativa que está em
desacordo.
a. O ser humano possui também
consciência moral, isto é, a fa-
culdade de observar a própria
conduta e julgar.
b. A palavra julgar vem do latim
judicare, “avaliar”, “ponderar”
– ou seja, julgar é atribuir um
valor, um peso para cada coisa
que se apresenta.

47
48
TITULO DA APOSTILA

5. Gabaritos

Fonte: IBahia5

Unidade I ao próximo, não maltratar ani-


mais, não cometer atos ilícitos,
1. A ética pode ser conceituada não ser corrupto, não usar
como o estudo do senso, no se drogas.
refere à conduta humana, ava-
liando o ponto de vista do bem Unidade II
e do mal de uma determinada
sociedade. 1. Uma empresa ética é aquela
2. A moral é o conjunto de regras que pratica os preceitos coleti-
de conduta que são estabe- vos e se preocupa com as de-
lecidas dentro dos preceitos de mandas da população, tendo
cada sociedade. sua conduta orientada pela
3. Não jogar lixo na rua, ajudar responsabilidade social e am-
biental.

5 Retirado em https://www.ibahia.com/

49
TITULO DA APOSTILA

2. A Terceira Revolução Indus- Unidade IV


trial opera mudanças prota-
gonizadas pelo Estado, no 1. b) Costumes e comportamen-
sentido de flexibilizar direitos, to.
desregulamentar a economia, 2. b) V;F;V;V
3. d) Quando não se tem escolha,
privatizar empresas estatais. quando se é coagido a praticar
3. Esse processo consiste em uma ação, é impossível decidir
incluir novas pessoas para a entre o bem e o mal (que é o
empresa, conforme a necessi- que faz a consciência moral).
dade de mão de obra e o plane-
jamento de RH. Aqui a Gestão
de Pessoas incluiu as ativida-
des de RH, como o recruta-
mento e a seleção para integra-
rem o quadro de funcionários
da empresa.

Unidade III

1. Autoconhecimento, empatia,
cordialidade, ética e assertivi-
dade.
2. Relacionamento interpessoal
virtual é visto como algo mais
recente. Mesmo que não este-
jamos presentes fisicamente,
diretamente ao lado das pes-
soas, no momento de criar
uma conexão virtual com al-
guém precisamos lembrar que
ainda assim devemos seguir
algumas regras das normas
comportamentais que rege
nossa sociedade.
3. Os resíduos plásticos.

50
51
APOSTILA DE ÉTICA

6. Referências Bibliográficas
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