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ESTADO DO ACRE

POLÍCIA MILITAR
DIRETORIA DE ENSINO

DEONTOLOGIA POLICIAL
MILITAR

RIO BRANCO – AC
JUNHO 2021
AULAS 1 A 4
Para entendermos a essência da deontologia é necessário o aprendizado de
conceitos que se insere no entendimento desta matéria, tais quais a moral e a ética,
uma vez que a deontologia é uma disciplina da ética especialmente adaptada ao
exercício de uma profissão.
CONCEITO DE ÉTICA
Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais. A
palavra ética é derivada do grego, e significa aquilo que pertence ao caráter.
Num sentido menos filosófico e mais prático podemos compreender um pouco
melhor esse conceito examinando certas condutas do nosso dia a dia, quando nos
referimos por exemplo, ao comportamento de alguns profissionais tais como um
médico, jornalista, advogado, empresário, um político e até mesmo um professor. Para
estes casos, é bastante comum ouvir expressões como: ética médica, ética
jornalística, ética empresarial e ética pública.
A ética abrange uma vasta área, podendo ser aplicada à vertente profissional.
Existem códigos de ética profissional que indicam como um indivíduo deve se
comportar no âmbito da sua profissão. A ética e a cidadania são dois dos conceitos
que constituem a base de uma sociedade próspera.
Ética no Serviço Público
O tema da ética no serviço público está diretamente relacionado com a conduta
dos funcionários que ocupam cargos públicos. Tais indivíduos devem agir conforme
um padrão ético, exibindo valores morais como a boa fé e outros princípios
necessários para uma vida saudável no seio da sociedade.
Quando uma pessoa é eleita para um cargo público, a sociedade deposita nela
confiança, e espera que ela cumpra um padrão ético. Assim, essa pessoa deve estar
ao nível dessa confiança e exercer a sua função seguindo determinados valores,
princípios, ideais e regras. De igual forma, o servidor público deve assumir o
compromisso de promover a igualdade social, de lutar para a criação de empregos,
de desenvolver a cidadania e de robustecer a democracia. Para isso ele deve estar
preparado para pôr em prática políticas que beneficiem o país e a comunidade no
âmbito social, econômico e político.
Um profissional que desempenha uma função pública deve ser capaz de pensar
de forma estratégica, inovar, cooperar, aprender e desaprender quando necessário,

elaborar formas mais eficazes de trabalho. Infelizmente os casos de corrupção no


âmbito do serviço público são fruto de profissionais que não trabalham de forma ética.
CONCEITO DE MORAL
Ética vem do grego “ethos” que significa modo de ser, e Moral tem sua origem
no latim, que vem de “mores”, significando costumes. Moral é um conjunto de normas
que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são
adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano. Já a palavra Ética, Motta
(1984) define como: “um conjunto de valores que orientam o comportamento do
homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo,
outrossim, o bem-estar social”, ou seja, Ética é a forma como o homem deve se
comportar no seu meio social.
A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência moral que
o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive. A ética investiga e explica
as normas morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou
hábito, mas principalmente por convicção e inteligência

DIFERENÇA DE ÉTICA E MORAL


Ética e moral são temas relacionados, mas são diferentes, porque moral se
fundamenta na obediência a normas, costumes ou mandamentos culturais,
hierárquicos ou religiosos e a ética, busca fundamentar o modo de viver pelo
pensamento humano.
Na filosofia, a ética não se resume à moral, que geralmente é entendida como
costume, ou hábito, mas busca a fundamentação teórica para encontrar o melhor
modo de viver; a busca do melhor estilo de vida. A ética abrange diversos campos,
como antropologia, psicologia, sociologia, economia, pedagogia, política, e até mesmo
educação física e dietética.
O que se entende por moral? Existe diferença entre ética e moral? As duas
estão entrelaçadas. A moral é entendida como um conjunto de normas para o agir
específico ou concreto. Assim, constitui-se de valores e preceitos ligados aos grupos
sociais e às diferentes culturas, determinando o que é ou não aceito por este grupo
como bom ou correto. Já a ética é a reflexão sobre a moral.
A ética discute os valores que se traduzem em existências humanas mais
felizes, mais realizadas, com mais bem-estar e qualidade de vida. Além disso, busca
os valores que signifiquem dignidade, liberdade, autonomia e cidadania.
A apreensão e a aprendizagem formal dos valores éticos só podem se dar por
meio das relações humanas que o homem precisa estabelecer desde cedo. Muitos
dos valores que possuímos são apreendidos (subjetivamente) na família e na
comunidade, principalmente pela observação das atitudes e comportamentos dos
adultos e de outras crianças.
Um bom exercício profissional significa não apenas uma boa formação e
competência teórico-técnica, mas também uma boa formação pessoal que promova o
desenvolvimento da capacidade de respeitar e ajudar a construir o Homem, a
dignidade humana, a cidadania e o bem-estar daqueles com os quais nos
relacionamos profissionalmente e que dependem de nossa ação, ou seja, significa
compromisso ético (CONTRERAS, 2002).
A ética é, portanto, a reflexão moral acerca da ação. É a ética que vai garantir
às ações das pessoas a correção moral, sendo que, muitas vezes, uma ação
moralmente ética pode não se enquadrar na moral de uma determinada sociedade.
Por exemplo, se, em um país que segue a lei islâmica, uma mulher comete
adultério, ela pode ser condenada à morte por apedrejamento. Isso faz parte da moral
daquela sociedade, mas não é eticamente correto. Se, em uma situação hipotética,
alguém salva uma mulher prestes a morrer daquela maneira, essa pessoa está
atentando contra a moral, mas está agindo certo, de acordo com a ética.

ÉTICA MORAL
A ética é o estudo e a reflexão sobre
os princípios da moral, das regras de A moral se refere às regras de conduta
conduta aplicadas a alguma que são aplicados à determinado grupo,
Definição organização ou sociedade. em determinada cultura.
De onde
vem Individual. Sistema social.
Porque Porque acreditamos que algo é certo Porque a sociedade nos diz que é o
seguimos ou errado. certo.
A moral tende a ser consistente dentro de
A ética é normalmente consistente, um determinado contexto, sendo
embora pode mudar caso as crenças aplicado da mesma forma a todos.
de um indivíduo mudem ou Porém, pode variar de acordo com cada
Flexibilidade dependendo de determinada situação. cultura ou grupo.

Uma pessoa que segue rigorosamente


os princípios morais de uma sociedade
pode não ter nenhuma ética. Da mesma
Uma pessoa poderá ir contra sua ética forma, para manter sua integridade ética,
para se ajustar a um determinado pode violar os princípios morais dentro de
Exceções princípio moral, como por exemplo. um determinado sistema de regras.
Ética vem da palavra grega ethos que Tem origem na palavra latina moralis,
Significado significa "conduta", "modo de ser". que significa "costume".
Origem Universal. Cultural.
Tempo Permanente. Temporal.
Uso Teórico. Prático.
No Brasil é imoral ter mais de uma
João teve uma atitude antiética ao esposa, enquanto em alguns países,
Exemplo furar a fila do banco. como a Nigéria, é moralmente aceito.

CONCEITO DE DEONTOLOGIA
O termo Deontologia surge das palavras gregas “déon, déontos” que significa
dever e “lógos” que se traduz por discurso ou tratado. Sendo assim, a deontologia
seria o tratado do dever ou o conjunto de deveres, princípios e normas adoptadas por
um determinado grupo profissional. A deontologia é uma disciplina da ética especial
adaptada ao exercício de uma profissão.
Existem inúmeros códigos de deontologia, sendo esta codificação da
responsabilidade de associações ou ordens profissionais. Regra geral, os códigos
deontológicos têm por base as grandes declarações universais e esforçam-se por
traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando-o, no entanto, às
particularidades de cada país e de cada grupo profissional. Para além disso, estes
códigos propõem sanções, segundo princípios e procedimentos explícitos, para os
infratores do mesmo. Alguns códigos não apresentam funções normativas e
vinculativas, oferecendo apenas uma função reguladora. A declaração dos princípios
éticos dos psicólogos da Associação dos Psicólogos Portugueses, por exemplo, é
exclusivamente um instrumento consultivo.
AULAS 5 A 12
DECRETO Nº. 1.053, DE 17 DE AGOSTO DE 1999 – APROVA O
REGULAMENTO DE ÉTICA PROFISSIONAL DOS MILITARES DA POLÍCIA

MILITAR E DOS MILITARES DO CORPO DE BOMBEIROS MILITARES DO


ESTADO DO ACRE.

REGULAMENTO DE ÉTICA PROFISSIONAL DOS MILITARES DA POLÍCIA


MILITAR E DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO ACRE
DOE Nº 7.594, de 19 Agosto 1999
“Regulamento de Ética Profissional dos Militares da Polícia Militar e do Corpo
de Bombeiros.”

ANEXO ÚNICO

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES


Art. 1º - O Regulamento de Ética Profissional dos Militares da Polícia Militar e
do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre, norteia-se por princípios que
formam a consciência profissional do militar estadual e representa imperativos de sua
conduta, traduzindo-se pelo fiel cumprimento à lei e às ordens das autoridades
constituídas, ao cumprimento dos princípios norteadores dos direitos humanos e dos
demais princípios que norteiam a vida em sociedade.

Art. 2º - A função militar está revestida de certa parcela do Poder Estatal,


possibilitando tomadas de decisões, impondo regras, dando ordens, por vezes
restringindo bens e interesses jurídicos, direitos individuais e coletivos dentro dos
limites autorizados por lei.

Art. 3º - Para o desempenho da missão, o militar estadual deve possuir


atributos intelectuais, técnico-profissionais, e, acima de tudo morais, colocando-o
como espelho de cidadania; deve possuir firmeza de caráter, dedicação ao trabalho e
profissionalismo, atuando sempre com senso de justiça, pré-requisitos que a
sociedade espera e exige do verdadeiro militar estadual.

Art. 4º - O militar estadual, ao ingressar na carreira, prestará o compromisso


de honra, em caráter solene afirmando a sua consciente aceitação dos valores
profissionais, dos deveres éticos, do sentimento do dever, do pundonor, do decoro da
classe e a firme disposição de bem cumpri-los.

§ 1º - Honra Militar é a qualidade intima do militar estadual que se conduz com


integridade, honestidade, honradez e justiça, observando com rigor os deveres morais
que tem consigo e seus semelhantes.
§ 2º - Sentimento do Dever Militar consiste no envolvimento a uma tomada de
consciência perante o caso concreto, ou seja, realidade, implicando no
reconhecimento da obrigatoriedade de um comportamento militar coerente, justo e
equânime.

§ 3º - Pundonor Militar é o sentimento de dignidade própria, procurando o militar


estadual ilustrar e dignificar a Corporação, através da beleza e retidão moral que se
conduz, resultando honestidade e decência.

§ 4º - Decoro da Classe Militar é a qualidade do militar estadual baseada no


respeito próprio dos companheiros e da comunidade para a qual serve, visando o
melhor e mais digno desempenho da profissão militar.

CAPÍTULO II
DA DEONTOLOGIA MILITAR

Art. 5º - A Deontologia Militar é constituída pelo elenco de valores e deveres


éticos, traduzidos em normas de conduta, que se impõem para que o exercício da
profissão militar atinja plenamente os ideais de realização do bem comum, através da
preservação da ordem pública.
Parágrafo Único – Aplicada aos militares estaduais, independentemente de
posto ou graduação, a Deontologia Militar reúne valores úteis e lógicos a valores
espirituais superiores, destinados a elevar a profissão militar a nível de missão.

SEÇÃO I
DOS VALORES MILITARES

Art. 6º - Os valores militares, determinantes da moral do militar estadual, são


os seguintes:

I – patriotismo, revelado no amor e dedicação à Pátria;


II – civismo, através do culto aos símbolos e tradições da Pátria, das Policias
Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares, além da dedicação ao interesse
público;
III – hierarquia, traduzida no respeito e valorização dos postos e
graduações;
IV – disciplina, significando exato cumprimento do dever e essencial à
preservação da ordem pública;
V – profissionalismo, pelo exercício da profissão com entusiasmo e perfeição;
VI – lealdade, manifestada pela fidelidade aos compromissos para com a Pátria,
Policiais Militares, Corpos de Bombeiros Militares e aos superiores hierárquicos;
VII – constância, como firmeza de ânimo e fé nas Policias Militares e nos Corpos
de Bombeiros Militares;
VIII – espirito de corpo, orgulhando-se de suas Instituições, mediante
identificação legítima entre seus componentes;
IX – honra, como busca legítima do reconhecimento e consideração, tanto
interna, quanto externamente, às Policias Militares e aos Corpos de Bombeiros
Militares;
X – dignidade, respeitando a si próprio e aos seus semelhantes,
indistintamente;
XI – honestidade, através da probidade, tanto no exercício da função pública
quanto na vida particular;
XII – coragem, demonstrando destemor ante o perigo e devotando-se à
proteção de pessoas, do patrimônio e do meio ambiente.

SEÇÃO II
DOS DEVERES DO MILITAR ESTADUAL

Art. 7º - Os deveres éticos, emanados dos valores militares e que conduzem a


atividade profissional sob o signo da retidão moral, são os seguintes:
I – cultuar e zelar pela inviolabilidade dos símbolos e das tradições da Pátria,
dos Estados, das Policias Militares e Corpos de Bombeiros Militares;
II – cumprir os deveres de cidadão;
III – preservar a natureza e o meio ambiente;
IV – servir á comunidade, procurando no exercício da suprema missão de
preservar a ordem pública, promover sempre o bem-estar comum;
V – atuar com devotamento ao interesse público, colocando-o acima dos
interesses particulares;
VI – atuar de forma disciplinada e disciplinadora, respeitando os superiores e
preocupando-se com a integridade, física, moral e psíquica dos subordinados,
envidando esforços para bem encaminhar a solução dos problemas apresentados;
VII – cumprir e fazer cumprir a Constituição, as leis e as ordens legais de
autoridades competentes, exercendo sua atividade profissional com responsabilidade,
incutindo também, o senso de responsabilidade, em seus subordinados;
VIII – ser justo na apreciação de atos e méritos de subordinados;
IX – dedicar-se em tempo integral e exclusivamente ao serviço militar,
buscando com todas as energias, o êxito do serviço, o aperfeiçoamento técnico-
profissional e moral;
X – estar sempre preparo para as missões que venha a desempenhar,
entendendo que a atividade profissional não se deve misturar os problemas
particulares;
XI – exercer as funções com integridade e equilíbrio, seguindo os princípios que
regem a administração pública, não sujeitando o cumprimento do dever às influências
indevidas;
XII – abster-se, quando no serviço ativo, do uso de influência de pessoas ou
autoridades estranhas, para a obtenção de facilidades pessoais ou para esquivar-se
ao cumprimento da ordem ou obrigações impostas, em razão do serviço ou de
circunstâncias que se encontre;

XIII – procurar em manter boas relações com outras categorias profissionais,


conhecendo e respeitando os limites de competência, mas elevando o conceito e os
padrões de sua própria profissão, sendo cioso de sua competência e autoridade;
XIV – ser fiel na vida militar, cumprindo os compromissos com a Pátria, com o
Estado, com sua Instituição e com seus superiores hierárquicos, bem como na vida
familiar;
XV – manter ânimo forte e fé nas Policias Militares e Corpos de Bombeiros
Militares, mesmo diante das maiores dificuldades, demonstrando persistência no
trabalho para solucioná-las;
XVI – zelar pelo bom nome da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros Militar e
de seus componentes, aceitando seus valores e cumprindo com seus deveres éticos;
XVII – manter ambiente de harmonia e camaradagem na vida militar, evitando
comentários desairosos sobre os componentes da Corporação, ainda que na reserva
ou reformados, solidarizando-se nas dificuldades que possam ser minimizadas com
sua ajuda ou intervenção;
XVIII – não pleitear para si, cargo ou função que esteja sendo exercido por outro
militar;
XIX – proceder sempre de maneira ilibada na vida pública e particular;
XX – conduzir-se de modo que não seja subserviente e nem venha a ferir os
princípios de respeito e decoro militar, ainda que na inatividade;

XXI – abster-se do uso do posto, graduação ou cargo para obter facilidades


pessoais de qualquer natureza ou para encaminhar negócios particulares ou de
terceiros;
XXII – abster-se, ainda que na inatividade, do uso das designações hierárquicas
em:
a) atividade político-partidária, salvo quando candidato a cargo eletivo;
b) atividade comercial ou industrial;
c) pronunciamento público a respeito de assunto político que influencie o
ambiente militar, salvo de natureza técnica;
d) exercício de cargo ou função de natureza civil;
XXIII – garantir assistência moral e material à família;
XXIV – amar a verdade e a responsabilidade como fundamentos de dignidade
pessoal;
XXV – exercer a profissão sem alegar restrições de ordem religiosa, política,
racial ou social;
XXVI – respeitar a integridade física, moral e psíquica da pessoa do condenado
ou de quem seja objeto de incriminação;
XXVII – observar as normas de boa educação, sendo discreto nas atitudes,
maneiras, na linguagem escrita e falada;
XXVIII – manter-se constantemente, cuidadoso com sua apresentação e
postura pessoal, sabendo que a elegância de porte e de espírito revelam o cavalheiro
ou a dama que todo o militar estadual deve representar em público e na vida particular;
XXIX – evitar publicidade visando a própria promoção pessoal;
XXX – agir com isenção, equidade e absoluto respeito pelo ser humano, não
usando sua condição de autoridade pública para a prática de arbitrariedades;
XXXI – não abusar dos meios e dos bens públicos postos à sua disposição,
nem os distribuir a quem quer que seja, em detrimento dos fins da administração
pública, coibindo ainda a transferência de tecnologia própria das funções militares;
XXXII – exercer a função pública com honestidade, não aceitando vantagem
indevida de qualquer espécie, sendo incorruptível, como também, se opor
rigorosamente a todos os atos dessa natureza;
XXXIII – atuar com eficiência e probidade, zelando pela economia e
conservação dos bens públicos, cuja utilização lhe for confiada;
XXXIV – proteger as pessoas, o patrimônio e o meio ambiente com
abnegação e desprendimento pessoal, arriscando, se necessário, a própria vida;
XXXV – atuar sempre, respeitados os impedimentos legais, mesmo não
estando de serviço, para preservar a ordem pública ou prestar socorro, desde que
não exista, naquele momento e no local, força de serviço suficiente;
XXXVI – manter sigilo de assuntos de natureza confidencial de que venha a ter
ciência em razão da atividade profissional, exceto para satisfazer interesse da justiça
e da disciplina militar;
XXXVII – exercer todos os atos de serviço com presteza e pontualidade,
desenvolvendo o hábito de estar na hora certa no local determinado e no momento
certo, para exercer a sua habilidade.

§ 1º - A dedicação integral e exclusiva ao serviço militar que trata o inciso X


deste artigo, obriga ao militar estadual, independente de quadro, qualificação,
especialização, atividade técnica, sexo ou nível hierárquico, ao cumprimento de
jornada de trabalho que compreende serviços de polícia ostensiva de preservação
da ordem pública ou de bombeiro, instrução, ações e operações, exercícios de
adestramento, revistas, formaturas, paradas, diligências, patrulhamento, expediente,
serviços de escalas normais, EXTRAORDINÁRIAS ou especiais e outros encargos
estabelecidos pelo respectivo chefe ou comandante, por períodos e turnos variáveis
e subordinados apenas aos interesses do dever ou da missão militar.
§ 2º - Além das condições fixadas no parágrafo anterior, o militar estadual
está sujeito ás exigências das situações extraordinárias da tropa, decorrentes de
ordens de sobreaviso, de prontidão e de marcha.
§ 3º - Ao militar estadual da ativa é vedado exercer atividade de segurança
privada, fazer parte de firmas comerciais, de empresas industriais e serviços de
qualquer natureza, ou nela exercer função ou emprego remunerado, exceto como
acionista, quotista em sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada.
§ 4º - Os militares estaduais, em atividade, podem exercer diretamente a gestão
de seus bens, desde que não infrinjam o disposto no parágrafo anterior.
§ 5º - São proibidas aos militares estaduais da ativa quaisquer manifestações
individuais ou coletivas sobre atos de superiores, de caráter reivindicatórios, de
cunho político-partidário e sobre assuntos de natureza militar de caráter sigiloso,
sujeitando-se às demonstrações internas de boa e sã camaradagem e aos preceitos
expressos no Regulamento Disciplinar.
§ 6º - Observados os preceitos da ética militar e os valores militares em suas
manifestações essenciais, é assegurado ao militar estadual inativo e aos agregados,
para concorrerem a cargos eletivos, o direito da participação no meio civil em
atividades político-partidárias e em manifestações sobre quaisquer assuntos,
excetuados os de natureza militar de caráter sigilosos.
§ 7º - A prescrição do parágrafo anterior não se aplica aos militares estaduais
inativos quando na situação de mobilizados ou convocados para o serviço ativo.
§ 8º - É vedado a utilização de componentes das Polícias Militares e dos
Corpos de Bombeiros Militares em órgãos civis, públicos ou privados, sob pena

de responsabilidade de quem os permitir, ressalvadas as situações previstas


expressamente em lei ou regulamentos.
§ 9º - É vedado também, aos militares estaduais, da ativa, o comparecimento e
a participação, fardado, em quaisquer manifestações político-partidárias, exceto
quando em serviço.
§ 10 – Ao militar estadual é proibido o exercício cumulativo de cargos ou
empregos públicos, ressalvados o contido na Constituição Federal.
§ 11 – Os militares estaduais não devem cometer qualquer ato de corrupção.
Devem, igualmente, opor-se rigorosamente e combater todos os atos desta índole.
§ 12 – O Comandante Geral poderá determinar aos seus subordinados da ativa
que, no interesse da salvaguarda da dignidade dos mesmos, informem sobre a origem
de seus bens, quando haja razões que recomendem tal medida.

CAPÍTULO II
DA VIOLAÇÃO DOS VALORES E DOS DEVERES ÉTICOS

Art. 8º - A violação dos valores e dos deveres éticos dos militares estaduais
constituirá crime, contravenção ou transgressão disciplinar, conforme o disposto em
legislação específica.
§ 1º - É obrigado de todo militar estadual cumprir e fazer cumprir os deveres
éticos;
§ 2º - A violação dos preceitos, será tão mais grave quanto mais elevado for o
grau hierárquico de quem a cometer;
§ 3º - Havendo concurso de crime militar e transgressão disciplinar, da mesma
natureza, a apuração de responsabilidade criminal militar não sobrestará o
procedimento disciplinar;
§ 4º - A inobservância ou falta de exação no cumprimento dos deveres
especificados em legislação e regulamentos, poderá acarretar ao militar estadual
responsabilidade de ordem civil, administrativa e criminal;
§ 5º - A responsabilidade de que trata o parágrafo anterior, pela participação de
mais de um militar estadual, é solidária, respondendo cada um
PROPORCIONALMENTE pelos danos causados.

CAPÍTULO IV
DOS DIREITOS HUMANOS

Art. 9º - Cabe a todo militar estadual a observância das prescrições contidas


no Código de conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da
Lei, instituído pela Organização das Nações Unidas , e ratificado pelo Governo
Brasileiro.
Art. 10 – Ao militar estadual cabe o cumprimento da lei, no âmbito de suas atribuições,
servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, em
conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a sua profissão requer.
Art. 11 – No cumprimento do seu dever, o militar estadual deve respeitar e
proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos fundamentais de todas as
pessoas.
Art. 12 – Somente será permitido ao militar estadual o emprego da força
quando tal se afigure ESTRITAMENTE NECESSÁRIA e NA MEDIDA EXIGIDA para o
cumprimento do seu dever.
Art. 13 – Nenhum militar estadual pode INFLIGIR, INSTIGAR OU TOLERAR
qualquer ato de tortura ou qualquer outra forma de tratamento cruel, desumano ou
degradante, nem invocar ordens superiores ou circunstâncias excepcionais tais
como o estado de guerra ou uma ameaça á segurança nacional, instabilidade política
e interna ou qualquer outra emergência pública como justificação para torturas ou
outras formas de tratamento cruéis, desumanos ou degradantes.
Art. 14 – Os militares estaduais devem assegurar a proteção da saúde das
pessoas QUE ESTIVEREM SOB SUA GUARDA.
Art. 15 – Deve o militar estadual RESPEITAR a capacidade e as limitações
individuais de todo o cidadão, sem qualquer espécie de preconceito ou distinção de
raça, sexo, nacionalidade, cor, idade, religião, cunho político, posição social e
quaisquer outras formas de discriminação.

CAPÍTULO V
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 16 – O Código Disciplinar da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar


do Estado do Acre, deve refletir no seu conteúdo as normas de conduta e os preceitos
estabelecidos neste Regulamento.
Art. 17 – Os princípios de Deontologia Militar, Direitos Humanos e Cidadania,
tratados neste Regulamento e que integram historicamente as atividades policiais
militares e bombeiros militares, deverão, cada vez mais, ser incrementados na
formação, adaptação e aperfeiçoamento do militar estadual.
Art. 18 – Este Regulamento entra em vigor na data de sua aprovação.
Art. 19 – Revogam-se as disposições em contrário.

Rio Branco – Acre, 17 de agosto de 1999, 111º da República, 97º


do Tratado de Petrópolis e 38º do Estado do Acre.

Jorge Viana
Governador do Estado do Acre

AULAS 13 A 16
CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS
RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI
Introdução
Um Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela aplicação da
lei estabelecendo que todos aqueles que exercem poderes de polícia devem respeitar
e proteger a dignidade humana e defender os direitos humanos de todas as pessoas,
foi adaptado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 17 de dezembro de
1979.
A Assembleia recomendou aos Governos que estudassem o uso do C6digo de
Conduta no quadro da Legislação ou da prática nacional, como um corpo de princípios
a ser observados pelos funcionários responsáveis pela aplicação da Lei.
Uma resolução estabelecendo o C6digo de Conduta (Nº 34/169) declarou que
a natureza das funções de aplicação da lei em defesa da ordem pública e a maneira
pela qual estas funções eram exercidas tinham um impacto direto na qualidade de

vida dos indivíduos, como também na sociedade como um todo. A Assembleia afirmou
que estava consciente da importante tarefa que os agentes policiais estavam
realizando diligentemente e com dignidade, mas também estava consciente, no
entanto, do potencial de abuso acarretado pelo exercício de tais deveres.
Além de exortar todos os funcionários responsáveis pela aplicação da lei a
defenderem os direitos humanos, o Código de Conduta, entre outras coisas, proíbe a
tortura, estabelece que a força só pode ser usada quando estritamente necessária e
exige proteção completa para a saúde das pessoas detidas.
Cada um dos oito artigos do Código de Conduta é acompanhado com um
comentário com informações destinadas a facilitar o uso do Código no quadro da
legislação nacional ou da sua prática.
O texto do Código de Conduta é apresentado abaixo.
Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei
ARTIGO 1º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem sempre cumprir o
dever que a lei Ihes impõe, SERVINDO a comunidade E PROTEGENDO todas as
pessoas contra atos ilegais, em conformidade com o elevado grau de
responsabilidade que a sua profissão requer.
Comentário
O termo "funcionários responsáveis pela aplicação da lei" inclui todos os
agentes da lei, quer nomeados, quer eleitos, que exerçam poderes policiais,
especialmente poderes de prisão ou detenção.
Nos países onde os poderes policiais são exercidos por autoridades militares,
quer em uniforme, quer não, ou por forças de segurança do Estado, será entendido
que a definição dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei incluirá os
funcionários de tais serviços.
O serviço à comunidade deve incluir particularmente a prestação de serviços
de assistência aos membros da comunidade que, por razões de ordem pessoal.
econômica, social e outras emergências, necessitam de ajuda imediata. Esta cláusula
deve incluir não só todos os atos violentos, destruidores e prejudiciais, mas também
toda a gama de proibições sujeitas a medidas penais. Estende•se à conduta de
pessoas não susceptíveis de incorrerem responsabilidade criminal.
ARTIGO 2º
No cumprimento do dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei
devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos
humanos de todas as pessoas.
Comentário
Os direitos humanos em questão são identificados e protegidos pelo direito
nacional e internacional. De entre os instrumentos internacionais relevantes
contam·se a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Pacto
Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, a declaração sobre a Proteção
de Todas as Pessoas contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes, a Declaração das Nações Unidas sobre a
Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, a Convenção
Internacional sobre a Supressão e Punição do Crime de Apartheid, a
Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, as Regras
Mínimas para o Tratamento de Presos, e a Convenção de Viena sobre Relações
Consulares.
Os comentários nacionais a esta cláusula devem indicar as provisões regionais
ou nacionais que identificam e protegem estes direitos.
ARTIGO 3º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a
força quando estritamente necessária e na medida exigida para o cumprimento do
seu dever.
Comentário
Esta cláusula salienta que o emprego da força por parte dos funcionários
responsáveis pela aplicação na lei deve ser excepcional. Embora admita que estes
funcionários possam estar autorizados a utilizar a força de uma forma razoável,
conforme as circunstâncias para a prevenção do crime ou ao efetuar ou ajudar à
detenção legal de transgressores ou de suspeitos, qualquer outra força empregue fora
deste contexto não é permitida.
A lei nacional normalmente restringe o emprego da força aos funcionários
responsáveis pela lei de acordo com o princípio da proporcionalidade. Deve-se
entender que tais princípios nacionais de proporcionalidade devem ser respeitados na
interpretação desta cláusula. De nenhuma maneira esta cláusula deve ser interpretada

no sentido da autorização do emprego da força em desproporção com o legítimo


objetivo a atingir.
O emprego de armas de fogo é considerado uma medida extrema. Devem-se
fazer todos os esforços no sentido de excluir a utilização de armas de fogo,
especialmente contra as crianças. Em geral, só se deveriam utilizar armas de fogo
quando um suspeito oferece resistência armada, ou, de outro modo, por em risco as
vidas alheias e não são suficientes medidas menos extremas para dominar ou deter
o delinqüente suspeito.
Cada vez que uma arma de fogo for disparada, deve-se fazer rapidamente um
relatório às autoridades competentes.
ARTIGO 4º
Os assuntos de natureza confidencial em poder dos funcionários responsáveis
pela aplicação da lei devem ser mantidos confidenciais, a não ser que o cumprimento
do dever ou necessidade de justiça estritamente exijam outro comportamento.
Comentário
Devido à natureza dos seus deveres, os funcionários responsáveis pela
aplicação da lei obtêm informações que podem relacionar•se com a vida particular de
outras pessoas ou ser potencialmente prejudiciais aos seus interesses, e
especialmente à sua reputação.
Deve•se ter a máxima cautela na salvaguarda e utilização dessas informações,
as quais só deveriam ser divulgadas na desempenho do dever ou ao serviço de
necessidades da justiça. Qualquer divu1gação dessas informações para outros fins é
totalmente imprópria.
ARTIGO 5º
Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir, instigar ou
tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outro tratamento ou pena cruel,
desumano ou degradante, nem nenhum destes funcionários pode invocar ordens
superiores ou circunstâncias excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma
ameaça de guerra, uma ameaça à segurança nacional, instabilidade política interna
ou qualquer outra emergência pública como justificação para torturas ou outros
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.
Comentário
Esta proibição deriva da Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas
contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes,
adaptada pela Assembléia Geral, de acordo com a qual: "[tal ato é] uma ofensa contra
a dignidade humana e será condenado como uma negação aos propósitos da Carta
das Nações Unidas e como uma violação aos direitos humanos e liberdades
fundamentais afirmados na Declaração Universal dos Direitos do Homem [e noutros
instrumentos internacionais sobre os direitos humanos]".
A Declaração define tortura da seguinte forma:
"tortura significa qualquer ato pelo qual uma dor violenta ou sofrimento físico ou
mental, é imposto intencionalmente a uma pessoa por um funcionário público, ou por
sua instigação, com objetivos tais como obter dela ou de uma terceira pessoa
informação ou confissão, punindo•a por um ato que tenha cometido ou se supõe tenha
cometido, ou intimidando•o ou a outras pessoas. Não se trata de dor ou sofrimento
apenas resultantes, inerente ou conseqüência de sanções legais, até o ponto em que
são coerentes com as Regras Mínimas para o Tratamento de Presos".
O termo "tratamento ou penas cruéis, desumanos ou degradantes" não foi
definido pela Assembléia Geral, mas deveria ser interpretado de forma a abranger o
mais amplamente possível a proteção contra abusos, quer físicos quer mentais.
ARTIGO 6º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem assegurar a
proteção da saúde das pessoas à sua guarda e, em especial, devem tomar as
medidas imediatas para assegurar tais cuidados médicos sempre quenecessário.
Comentário
"Cuidados Médicos", significando serviços prestados por qualquer pessoal
médico incluindo médicos possuidores de certificados, e para • médicos, devem ser
assegurados quando necessários ou solicitados.
Embora provavelmente o pessoal médico esteja ligado à ação da aplicação da
lei, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem tomar em consideração
a opinião de tal pessoal, quando este recomendar que deve proporcionar•se à pessoa
detida tratamento adequado, através ou em colaboração com pessoal médico não
ligado à aplicação da lei.

Subentende•se que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem


assegurar também cuidados médicos às vítimas de violação da lei ou acidentes que
decorram no decurso de violações da lei.
ARTIGO 7º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer
qualquer ato de corrupção. Também se devem opor rigorosamente e combater todos
estes atos.
Comentário
Qualquer ato de corrupção, tal como qualquer outro abuso de autoridade, é
incompatível com a profissão dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei. A
lei deve ser aplicada na íntegra em relação a qualquer destes funcionários que cometa
um ato de corrupção, dado que os Governos não podem esperar aplicar a lei entre os
cidadãos se não puderem, ou não aplicarem a lei contra os seus próprios agentes e
dentro dos seus próprios organismos.
Embora a definição de corrupção deva estar sujeita à legislação nacional, deve
entender•se como incluindo a execução ou a omissão de um ato no desempenho ou
em relação a qualquer dever, em contrapartida de ofertas, promessas ou incentivos
pedidos ou aceites, ou com aceitação ilícita destes, uma vez a ação cometida ou
omitida.
A expressão "ato de corrupção", anteriormente referida, deveria ser entendida
no sentido de abranger tentativas de corrupção.
ARTIGO 8º
Os funcionários responsáveis peta aplicação da lei devem respeitar a lei e este
Código.
Devem, também, na medida das suas possibilidades, evitar e opor•se
rigorosamente a quaisquer violação da lei e do Código.
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que tiverem motivos para
acreditar que houve ou que está para haver uma violação deste Código, devem
comunicar o fato aos seus superiores e, se necessário, a outras autoridades
adequadas ou organismos com poderes de revisão e reparação.
Comentário
Este Código será observado sempre que tenha sido incorporado na legislação
nacional ou na sua prática. Se a legislação ou a prática contiverem disposições mais

limitativas do que as do atual Código, devem observar•se essas disposições mais


limitativas.
O artigo procura preservar o equilíbrio entre a necessidade de disciplina interna
do organismo do qual em larga escala depende a segurança pública, por um lado, e
a necessidade de, por outro lado, cuidar das violações dos direitos humanos básicos.
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem relatar as violações no
âmbito da via hierárquica, e tomar medidas legais ativas fora da via hierárquica
somente quando não houver outros meios disponíveis ou eficazes. Subentende•se
que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem sofrer sanções
administrativas ou de outra natureza pelo fato de terem comunicado que houve ou que
está prestes a haver uma violação deste Código.
O termo "autoridades adequadas ou organismos investidos com poderes de
revisão e reparação" refere•se a qualquer autoridade ou organismo existente ao abrigo
da legislação nacional, quer relativos aos organismos de aplicação da lei quer
independentes destes, com poderes estatuários, consuetudinários ou outros para
examinarem injustiças e queixas resultantes de violações no âmbito deste Código.
Em alguns países, pode considerar•se que os meios de comunicação social
("mass media") desempenham funções de exame de queixas, análogas às descritas
na alínea anterior.
A atuação dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei poderá, portanto,
justificar•se, como último recurso, e de acordo com as leis e os costumes dos próprios
países e com as disposições do artigo 4º deste Código, através dos meios de
comunicação social, apresentarem à consideração da opinião pública as violações a
este Código.
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que cumpram as
disposições deste Código merecem o respeito, o total apoio e a colaboração da
sociedade, do organismo de aplicação da lei no qual servem e a comunidade policial.

AULAS 17 E 18
REFLEXÕES SOBRE A DEONTOLOGIA POLICIAL-MILITAR
Cel. PM RR Wilson Odirley Valla

INTRODUÇÃO

Se por um lado, vive-se numa sociedade com uma gradação elevada de


democracia, paradoxalmente, de outro, o valor democrático é regido e fortemente
direcionado à CORRUPÇÃO. Atualmente, também, regido pelo fenômeno da violência
crescente. Estas experiências difíceis vivificadas pela sociedade brasileira, estimulada
pela IMPUNIDADE, de um lado, e influenciada pela desintegração dos valores e
costumes, de outro lado – desvalorização dos laços familiares, desapreço à lei,
alienação cívica, desobrigação aos deveres, imoralidades, afastamento da natureza,
maus exemplos gerados por uma parcela significativa de pessoas que integra dos
cidadãos, com destaque para os direitos humanos, as Polícias Militares vêm sendo
apontadas, também, inclusive por organizações internacionais, como violentas, em
que desvios de conduta marcados pela violência policial têm conquistado significativos
espaços na mídia, nas discussões e nos debates, inclusive no âmbito do Congresso
Nacional.
Em razão de tudo isso, assiste-se, com preocupação, ao surgimento de um
outro fenômeno, que, diga-se de passagem, não se trata de novidade, mas está se
acentuando - O MENOSPREÇAMENTO DA SOCIEDADE PELA SUA POLÍCIA - cujo
processo segue em espiral descendente e, naturalmente, deter-se-á em algum ponto,
nada desejável.
Comentário - Lamentavelmente, o que não se pode prever, é se a força que
restar será suficiente para a defesa da sociedade. Uma das causas deste desequilíbrio
está relacionada AO AFASTAMENTO APARENTE DA VIDA PROFISSIONAL ÀS
NORMAS DA ÉTICA, com graves repercussões no desprestígio da hierarquia e da
disciplina, nas instituições policiais-militares.
A CRISE NAS POLÍCIAS MILITARES E A RELAÇÃO ÀS EXIGÊNCIAS DA
EXPECTATIVAPROFISSIONAL.
Na realidade, ressalvadas algumas exceções, a situação das Polícias Militares
pode ser visualizada pelo quadro da página seguinte. Ao centro do referido quadro,
imagine-se, por exemplo, uma escala gráfica, cuja variação oscila entre "n" a 100. Ao
lado direito e na extremidade superior desta escala, está assentada a MISSÃO
POLICIAL-MILITAR, obviamente, influenciada pelos ideais profissionais e ancorada,
de um lado, na proeminência da legislação em relação às incumbências e de outro,
nas expectativas da sociedade no que diz respeito ao papel das forças policiais. É
prudente não esquecer que estas expectativas tendem a se desvanecer, à medida
que a sociedade percebe os sintomas de desorientação nas forças policiais, deixando
de satisfazer as demandas por segurança, particularmente daquelas pessoas
sintonizadas com a lei.
Do outro lado do quadro, contempla-se a PROFISSÃO, muito aquém do nível
correspondente à missão, sendo pressionada e sufocada por um enorme peso, em
conseqüência dos constantes desvios éticos incitados pelos, o que se convencionou
apelidar, ditos paradoxos – VIOLÊNCIA, CORRUPÇÃO, VÍCIO e INCOMPETÊNCIA -
que têm grassado nos meios policiais, levando-as ao descrédito público. Além disso,
não se podem esquecer as constantes ligações e associações de policiais com o crime
organizado. Na verdade, tais desvios éticos vêm provocando a ruptura e o
conseqüente desmoronamento das virtudes, consideradas as alavancas morais das
Instituições em apreço, pois é através delas que se presidem as tradições, os
procedimentos e os deveres com relação ao próximo. Apenas para citar algumas: a
honestidade; a honra; a lealdade; o desprendimento e o sentimento do dever.
Obviamente, este processo induzido por um padrão de disciplina em decadência vem
projetando negativamente a profissão policial-militar para patamares cada vez mais
baixos, fazendo com que as noções de valores e dos deveres profissionais - éticos -
permaneçam, a cada dia que passa, mais distantes e rarefeitas, quando não,
simplesmente vulgarizadas ou tergiversadas. Tudo isso vem provocando a liberação
de uma considerável carga de energia negativa nas corporações.
Esta energia negativa - também reconhecida em Administração como entropia
- caso não seja detida e revertida no seu processo, poderá conduzir as forças policiais,
pelo desgaste, a uma situação de CAOS. Esta realidade, que em si já é grave, tende
a se exacerbar na medida que, um número expressivo de policiais ou de segmentos
destes, vem colocando seus objetivos pessoais ou de círculos em conflito com os
objetivos mais elevados das Polícias Militares. Por exigir um grande esforço de todos,
particularmente daqueles que exercem cargos de comando e chefia, o que
infelizmente tem sido dificultado por uma série de limitações - morais, políticas,
insumos, capacitação técnica, incluindo-se os maus exemplos - tenta-se, agora,
mediante um processo inverso, porém temeroso, o rebaixamento das expectativas da
missão aos patamares que correspondem aos interesses de valores subjetivos, aliás,
justamente como querem aqueles que torcem, freneticamente, pelo enfraquecimento
das corporações policiais-militares, interpretando-as como meras empresas

prestadoras de serviços ou, não obstante a isso, o que é pior, como outras
organizações quaisquer.
Lastimavelmente, este quadro adverso favorece, na prática, a progressão de
uma ordem moral descompromissada dos valores tradicionais que se constituem nos
verdadeiros arrimos da investidura militar. Basta verificar a movimentação nas
corporações, tais como: ensaios de paralisações; greves violentas já deflagradas em
vários Estados; protestos contra autoridades publicados na imprensa; cláusulas
reivindicatórias, políticas e representativas de classe inseridas nos estatutos
associativos; agremiações comuns aos círculos de oficiais e praças e outras. Este
panorama, ferreteado com a cicatriz da fuga aos compromissos, sugere a tendência
de uma nova racionalidade ética, contudo na contramão do discurso, que atualmente
pode ser assim traduzida: trabalhar pouco - cada vez menos, se possível - porém,
ganhando sempre mais; a relevância da missão pouco interessa. Da mesma forma,
pela desatenção gradativa aos pressupostos básicos da atividade policial-militar -
tempo integral de dedicação exclusiva - está se estimulando reivindicações por
remuneração de horas extraordinárias e adicional noturno, encontrando ressonância
em alguns Estados, o que não deixa de se constituir em mais absurdos, considerando-
se o regime jurídico exigido pela investidura militar.
Comentário - Esses inválidos profissionais não percebem a coerção da
sociedade, muito menos da corporação à qual pertencem. Sua moralidade inferior
navega junto aos paradoxos já citados, até o momento de encalhar na transgressão
ou no crime. Parafraseando José Ingenieros (2), pode-se consignar que esses
policiais-militares atuam na Corporação como os insetos nocivos à natureza.
DEONTOLOGIA POLICIAL-MILITAR
Para contrapor-se a esse quadro de crise, o resgate da reflexão moral e a
retomada da discussão ética são alguns dos mecanismos que se deve viabilizar, na
tentativa de restaurar o equilíbrio de determinados julgamentos e valores, que são
tidos de grande apreço, indispensáveis à sobrevivência das Instituições policiais-
militares e afiançadores de uma certa estabilidade em relação à emergência da
sociedade civil organizada.
Cada profissão exige de quem está cumprindo as obrigações a ela inerentes, a
observância dos princípios comuns de toda a sociedade. Apesar disso, vai além e
separa algumas regras de procedimentos que para outras profissões ou grupos de

pessoas, teriam pouco ou nenhum alcance. Essas regras de procedimentos


específicos é que vão se constituir no cerne da questão ética dentro das respectivas
profissões. Portanto, tomando-se por base os fundamentos legais e axiológicos que
edificam as instituições castrenses, percebe-se que há uma nítida diferença nas
exigências em relação ao militar. Por conseguinte, a diferença entre ele e os demais
agentes da Administração Pública está na formação militar, que por ser calcada na
disciplina e na hierarquia, é fundamentalmente voltada ao cumprimento do dever,
cujas regras são definidas pela Deontologia. Em vista disso, muitas vezes, o que para
o civil é uma faculdade, para o militar é um compromisso. É essa afeição constante
ao cumprimento do dever que faz o militar ser diferente, notadamente daqueles que
"hipertrofiam os direitos e definham os deveres". Como conseqüência, o policial-
militar ou bombeiro-militar deve organizar sua vida profissional e estar preparado
para responder às adversidades de toda a ordem, ciente de que sua existência poderá
ser sacrificada para que a lei, a liberdade ea integridade preponderem.
Não são necessários muitos estudos para evidenciar que os estilos e posturas,
adotados como próprios na execução do policiamento ostensivo de uma organização
policial-militar, refletem os valores aí inseridos e estimulados. Uma organização que,
independentemente de outros aspectos, admite procedimentos técnicos e táticos
agressivos e indiferentes aos direitos do cidadão, naturalmente adota um conjunto de
valores muito discordantes daqueles de outra organização, em que a comunidade,
além de respeitada, tem suas percepções e demandas priorizadas na administração
da ordem pública, ou ainda, daquela outra, em que os esforços de policiamento
atendem apenas às prioridades do comando, ou os interesses políticos subalternos,
muito mais do que uma ampla dedicação aos princípios básicos que regem as
atividades da polícia ostensiva.
Assim, a Deontologia vem estabelecer as normas que presidem a atividade
profissional sob a égide da retidão moral ou da honestidade, sendo o bem a
preponderar e o mal a evitar no exercício da atividade profissional. De tal sorte, a vida
profissional não pode conservar-se alheia à norma ética.
Decorrente deste conceito geral, a Deontologia Policial-Militar é constituída
pelo conjunto de valores e deveres éticos, traduzidos em normas de conduta, que se
impõem para que o exercício da profissão policial-militar atinja plenamente os

ideais de realização do bem comum, mediante a preservação da ordem pública. Os


valores profissionais, determinantes da moral do policial-militar, são os seguintes:
patriotismo, civismo, hierarquia, disciplina, profissionalismo, lealdade, constância ou
perseverança, espírito de corpo, honra, dignidade, honestidade e coragem. De
antemão, os deveres éticos, provindos ,dos valores e que conduzem a atividade
profissional sob o signo da retidão moral, dentre vários, destacam-se: cumprir os
deveres de cidadão; atuar com devotamento no interesse público, colocando-o
acima dos interesses particulares; dedicar-se integral e exclusivamente ao serviço
policial-militar, buscando com todas as energias, o êxito do serviço e o
aprimoramento técnico-profissional e moral; proteger a vida, o patrimônio e o meio
ambiente com abnegação e desprendimento pessoal, arriscando, se necessário, a
própria vida; e assim por diante. Tudo isso, objetivando uma conduta ética elevada,
consoante aos padrões de moralidade esperados, de sua polícia, pela sociedade.
Conduta ética essa, firmada mediante compromissos públicos solenes, traduzidos em
obrigações, cuja violação constituirá crime ou transgressão disciplinar, conforme o
disposto em legislação específica ouprópria.
O Cap. PMSP Paulo Marino LOPES, no seu ensaio "Da Deontologia Policial-
Militar", realça que a ética prevalecente nas Corporações Milicianas deve ser a do
militar de polícia, guardião da ordem pública, incumbindo manifestar,
particularmente, as seguintes características:
a. importância dos vínculos pessoais com a instituição, resultando do alto
nível de identificação individual com os objetivos institucionais, bem como a defesa
dos costumes, experiências e tradições que lhes são próprias;
b. estabilidade dos fatores internos de segurança, obtida pela aproximação
permanente entre os líderes e a tropa, permitindo o conhecimento mútuo e
compartilhado das agruras;
c. senso de identificação comunitária, oriundo do espírito de sacrifício em prol
da comunidade e agravado pela perspectiva real de perda da própria vida no
cumprimento do dever.
Com a devida vênia do ilustre autor citado, pode-se associar estas
características acima transcritas que envolvem a ética policial-militar em: MISSÃO,
MORAL DE TROPA ELEVADA e PATRIOTISMO. De tal sorte que, pelo nível

crescente de engajamento na missão a cumprir é que se elevam, também, os vínculos


pessoais com a instituição, traduzidos pelo sentimento do dever. Outrossim, nenhuma
organização policial-militar será bem sucedida se estes fatores de estabilidade
internos forem baixos, ou seja, resultante de um moral baixo. Portanto, direitos
privilegiando os altos escalões da hierarquia, rompimento do escalonamento salarial,
afastamento dos oficiais da tropa, injustiça na apreciação dos atos e méritos dos
subordinados, falta de atenção pelos comandantes às necessidades básicas dos
subordinados, armamento, munição e equipamento insuficientes ou inadequados,
insegurança pessoal e familiar diante das ameaças das quadrilhas, incompetência,
boatos, falta de informações e treinamento, estímulos ao servilismo ou à adulação e
impunidade, são alguns exemplos de rompimento desta estabilidade, atraindo como
conseqüência natural, o rebaixamento do moral da tropa. Em relação à adulação de
agentes públicos, seja dito de passagem, muito freqüente, José INGENIEROS além
de considerá-la sempre desleal e interessada, acrescenta ainda: "Pertence à raça dos
„covardes felizes‟, como os batizou Leconte de Lisle. A adulação é uma injustiça.
Engano. O bajulador é sempre desprezível, mesmo quando o faz por uma espécie de
benevolência vulgar ou pelo desejo de agradar a qualquer preço". Por fim, o
patriotismo que é necessário ser alçado na devida proporção em que se elevam os
sentimentos de identificação e solidariedade à comunidade que se deve servir,
tornando grande aos olhos tudo o que poderia, humanamente, parecer pequeno e
insignificante.
Além do mais, conclui com peculiar lucidez o aludido miliciano, transportando à
tona preceito estabelecido na legislação específica (Art. 16, R/200), o qual desvela a
verdadeira pedra angular onde está alicerçada a atividade policial-militar, mas que
infelizmente, não é levado com seriedade por muitos:
A Polícia Militar, convém lembrar, enquadra-se entre as organizações totais,
nas quais os seus integrantes devem dedicar-se integralmente à profissão. Nesse
sentido, transcendendo a esfera doutrinária, vem o mandamento legal do Decreto
Federal n.º 88.777, de 30 setembro de 1983 (R-200): A carreira policial-militar é
caracterizada por atividade continuada e inteiramente devotada às finalidades
precípuas das Polícias Militares, denominada Atividade Policial-Militar.
Apesar do policial-militar ser considerado como o "homem do dever", que
deveria trabalhar pelo prazer profissional, pelo devotamento infatigável, na ânsia de

servir, em conformidade com as posturas que são projetadas em ditosos discursos,


ao contrário, em verdade o que são projetadas no cotidiano, como performances
habituais? Atitudes ambíguas e contraditórias, tendentes a construir uma forma
particular de ética segundo a sua própria perspectiva, deixando para trás os valores
mais elevados. Fato, aliás, que poderá ser discutido oportunamente.
Nesse intervalo de tempo, o Cel. PM José Francisco PROFÍCIO, Ex-
Comandante-Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, ao falar de disciplina e
legislação penal militar, assuntos comuns às Forças Armadas, às Polícias Militares e
aos Corpos de Bombeiros Militares, insistiu em reafirmar as necessidades da inclusão
de novos dispositivos disciplinares, mais adequados aos reclamos sociais e à própria
ampliação de funções que o momento histórico mais recente, tem reservado às
corporações, devendo, além daqueles já consagrados, regerem-se pelos seguintes
pressupostos:
a) respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente
quanto ao tratamento de presos e observância dos direitos individuais durante os atos
de polícia;
b) aspectos éticos (deontológicos) e de exclusividade no exercício profissional,
para combater as novas formas de desvios de finalidade e coibir atividade
extracorporação, verdadeira praga a corroer o profissionalismo policial militar [sem
negrito no original];
c) respeito ao meio ambiente;
d) peculiaridade do serviço policial moderno, que inclui novos processos e
meios, sobre os quais se cometem abusos específicos, exigindo assim
enquadramento apropriado.
Como se constata, os pressupostos apresentados pelo Cel. PM PROFÍCIO,
dentro daquelas três características básicas da ética policial-militar, sucedidas
anteriormente, dizem respeito à missão e ao moral de tropa. Em resposta aos anseios
expressos pelo esclarecido oficial da milícia paulista, é oportuno destacar que medidas
já adotadas pelo Governo vêm ao encontro do primeiro e quarto pressupostos,
sobressaindo-se: o julgamento pela Justiça Comum dos crimes dolosos contra a vida,
praticados por policiais-militares ou bombeiros-militares em serviço de policiamento; a
descaracterização de crime militar daqueles ilícitos praticados fora de serviço, com
arma ou material bélico pertencente às Corporações e a definição dos crimes de

tortura com as respectivas sanções. E, mais recentemente, a lei que estabelece


normas para a organização e manutenção de programas especiais de proteção a
vítimas e a testemunhas.

O ESTATUTO E O DELINEAMENTO DEONTOLÓGICO POLICIAL-MILITAR


Ainda que, propugne-se pelo delineamento deontológico autônomo para as
milícias brasileiras, a fixação de valores profissionais e seus correspondentes deveres
éticos, no Brasil, tradicionalmente, são fixados em capítulo específico do Estatuto
próprio e constituído por lei. Na realidade, conforme já examinado, há necessidade
urgente de serem fixados nas respectivas normas estatutárias, de maneira clara e
abrangente, os valores e seus adequados deveres éticos, balisadores da conduta
profissional dos militares dos estados e ajustados aos novos tempos de valorização
da cidadania. Nada tem a ver com propostas equivocadas, como a de substituição do
Regulamento Disciplinar por um Código de Ética específico. Além do mais, há melhor
código de ética do que o tradicional, inevitável e insubstituível Regulamento Disciplinar
em vigor? Obviamente, conforme já realçado, adequado às exigências do serviço
policial moderno e às demandas da opinião pública por menos violência e
incorruptibilidade dos organismos policiais. Afora isso, aplicado com conhecimento,
prudência e bom senso, na expectativa de fazer-se justiça. Justiça, antes, porém, é
propiciar tratamento condigno a cada subordinado, considerando suas grandezas e
suas limitações.
Como se percebe, a Deontologia Policial-Militar é constituída de deveres ou
obrigações e compromissos, não apenas de natureza profissional, mas também,
aqueles de natureza privada ou particular.
Os deveres e compromissos de natureza privada ou particular constituem
transgressões gerais da profissão policial-militar, ou seja, os ditames relativos que não
devem ferir a ética e a honra pessoal, configuradores do homem honesto ou de boa
reputação. Todos os atos devem ser revestidos de moralidade elevada. A sociedade
precisa divisar, além da farda, o exemplo de integridade e não, apenas, um servidor
público fardado. Segundo as anotações do Dr. Volney Ivo CARLIN, ao discorrer sobre
as obrigações deontológicas de ordem privada inerentes ao juiz e que, seja dito,
também se inserem nos deveres e obrigações do militar, manifesta: "Este domínio
geralmente escapa aos artigos deontológicos, pois estes proíbem, rigorosamente,

tudo o que seja contrário à moral profissional, mas em termos extremamente largos e
genéricos". Como se observa, os códigos de ética das profissões civis, também,
apontam preceitos de ordem geral e de natureza restrita, porém limitados às normas
profissionais. Ao contrário, a ordem deontológica que rege a vida castrense, neste
particular, além de alcançar aquelas ilicitudes relacionadas à atividade profissional,
tem eficácia, também, sobre os demais atos que revestem a moralidade privativa do
militar, mesmo que não relacionados ao múnus profissional. Por isso, todo o policial-
militar deve abster-se, mesmo fora dos limites da órbita funcional, de todas as
atividades e atitudes consideradas suspeitas ou incompatíveis. Eis a razão pela qual
atitudes, como não se revelar bom cidadão, ou bom pai ou mãe, filho ou filha, esposo
ou esposa, ou não satisfazer compromissos financeiros assumidos, ou ainda, manter
ligações com pessoas de reputação duvidosa, ou pelo simples fato de não se trajar
adequadamente, embora genéricas e de natureza restrita, são alcançadas pelo
Regulamento Disciplinar ou pelas leis que regulam os Conselhos de Justificação e
Disciplina.
Comentário - Em serviço ou fora dele, ativo ou inativo, o policial-militar deve
manter elevado padrão de disciplina e dignidade e sua conduta moral deve ser
pautada em função dos objetivos da Instituição. E, um destes objetivos é a inteireza
moral.
Já, por sua vez, os deveres e compromissos de natureza profissional são
relativos ao exercício profissional e compreendem as normas inerentes ao
desempenho da profissão, que envolve a atividade de polícia ostensiva e a investidura
militar. Aí, inclusos, aqueles ditames que objetivam preservar o pundonor militar e o
próprio decoro da classe. Visto desta forma, fica fácil perceber que a ética que se
propugna para atividade profissional, além de preencher as características já
analisadas, introduz não apenas aquelas relações do profissional com a Corporação,
mas também reforçando o que já foi repetido, do profissional com o cidadão, com a
comunidade, com o Estado e, sobretudo, com a Pátria. Deste modo, excluindo por
ilação lógica, o exercício de toda outra atividade julgada incompatível, implica em
obediência e subordinação à lei, regulamentos e às autoridades hierárquicas, quer se
trate de decisões regulamentares, quer dos recursos a serem interpostos. De sorte
que, manifesta-se afeiçoada ao fortalecimento do Estado de Direito e da própria
cidadania, na medida que inclui a proteção dos direitos humanos na sua plenitude, os

aspectos éticos exclusivos ao exercício profissional para combater as novas formas


de desvios ou finalidades, o respeito ao meio ambiente e o enquadramento apropriado
de processos e outros meios face às peculiaridades do serviço policial moderno,
contudo sem olvidar a condição de forças auxiliares e reserva do Exército.
Como coloca em evidência o Dr. Volney Ivo CARLIN: "O conjunto destas
prescrições é acompanhado geralmente de certas interdições, suscetíveis de, se não
observadas, prejudicarem, direta ou indiretamente, o próprio manejo da Instituição". É
preciso entender esta atitude antideontológica, contestada por muitos, como uma
demonstração de resistência às decisões dos superiores hierárquicos e à própria
hierarquia, cuja tutela, hoje, encontra guarida no caput do artigo 42 da Constituição
Federal, disposta pela Emenda Constitucional n.º 18, de 05 de fevereiro de 1998.
Enquanto ao civil a atitude de recorrer das decisões desfavoráveis na esfera
administrativa é facultativa, ao militar é obrigatória, inclusive vinculada ao juramento
solene de aceitação e cumprimento dos valores profissionais e deveres éticos, ou seja,
fazendo cumprir rigorosamente as leis e os regulamentos, respeitando e acatando os
superiores hierárquicos. Em contrapartida, compete ao superior hierárquico decidir
com justiça, eqüidade e dentro dos prazos regulamentares os recursos interpostos
pelos subordinados e nas condições fixadas na legislação.
Comentário - Por isso, devem ser evitados, em razão dos deveres e
compromissos específicos, certos comportamentos antideontológicos, como por
exemplo, recorrer ao judiciário, sem antes esgotar todos os recursos administrativos
e respectivos prazos previstos no Estatuto e no Regulamento Disciplinar, sob pena de
sanções disciplinares.
O princípio constitucional que ampara o fato da lei não excluir da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito, não é absoluto e pode ceder terreno a
outros princípios, entre os quais, os que asseguram a funcionalidade das
organizações militares, ou seja, através da hierarquia e da disciplina, também,
conforme já foi expresso acima, tutelados constitucionalmente. Estas tutorias,
obviamente, dão-se em razão de um interesse maior do Estado e da própria
sociedade, como por exemplo, manter as forças militares não apenas disciplinadas,
sobretudo, controladas, medidas e limitadas. Uma força militar não pode, pela sua
potencialidade, converter-se em fator de risco e agressão à sociedade ou ao Estado.
Aliás, é da própria essência constitucional, inclusive no que tange às garantias

individuais, a supremacia dos interesses do Estado. Ou por outra, estas e outras


particularidades das regras deontológicas, às vezes, não assimiladas, fazem parte da
ética, portanto, se sobrepõem à própria ordem jurídica, circunstância já consagrada
pela doutrina.
Encadeando estes argumentos, é insofismável a lição da Juíza Alice PEZARD,
citada pelo Dr. Volney Ivo CARLIN, ao indagar acerca das regras de comportamento
(deontologia) dentro da hierarquia das normas jurídicas. Assim ensina a ilustre
magistrada:
Sobre o tema, podemos lançar mão de três perspectivas básicas:
- A ordem deontológica é superior à ordem jurídica: princípios éticos que a lei
disciplina;
- A ordem deontológica independe da jurídica preexistente: as normas
inscrevem-se de maneira autônoma no direito positivo;
- A ordem deontológica compele mais que a jurídica: há dados sensíveis que
precedem a ordem jurídica (salários, desemprego, desestabilização, etc.), os quais
orientam o comportamento profissional.

CONCLUSÃO
É evidente que as leis, parafraseando José Ingenieros, não podem dar
hombridade às sombras, caráter ao tosco, coragem ao timorato, dignidade ao aviltado,
virtude ao desonesto, afã de obediência ao servil ou bajulador, mas subordinam e
condicionam o indivíduo a princípios que o tornam responsável, que,
indiscutivelmente, se não eliminam os fatos reprováveis, ao menos freia-lhes os
excessos. Obviamente, também, o fato de existir uma Deontologia específica, mesmo
que baseada em formulações éticas exemplares, por si só, não suprimirá os
problemas relacionados aos comportamentos aéticos, a exemplos da omissão diante
do dever, da corrupção, da violência policial, da incompetência profissional, do abuso
da coisa pública, do desamor à profissão, da indisciplina, além de outros. Contudo, se
compreendida e bem utilizada, contribuirá de forma marcante para a diminuição dos
desvios de conduta, proporcionando um padrão de comportamento MELHOR
DEFINIDO, daquele existente na atualidade. Além do mais, influenciará na seleção de
candidatos, com base num perfil profissional, alinhado às exigências atuais das

missões, cujo embasamento, além de estar fundamentado em padrões éticos


elevados, deverá incluir as demandas e percepções da sociedade.

AULAS 19 E 20
PARA SERVIR E PROTEGER
DIREITOS HUMANOS E DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIA PARA FORÇAS
POLICIAIS E DE SEGURANÇA
MANUAL PARA INSTRUTORES
Conduta Ética e Legal na Aplicação da Lei
Introdução A função da aplicação da lei é um serviço público previsto por lei, com
responsabilidade pela manutenção e aplicação da lei, manutenção da ordem pública e
prestação de auxílio e assistência em emergências. Os poderes e autoridades que são
necessários ao eficaz desempenho dos deveres da aplicação da lei também são
estabelecidos pela legislação nacional. No entanto, estas bases legais não são suficientes por
si só para garantir práticas da aplicação da lei que estejam dentro da lei e que não sejam
arbitrárias: elas simplesmente apresentam um arcabouço e geram um potencial. O
desempenho correto e eficaz das organizações de aplicação da lei depende da qualidade e
da capacidade de desempenho de cada um de seus agentes. A aplicação da lei não é uma
profissão em que se possam utilizar soluções-padrão para problemas-padrão que ocorrem a
intervalos regulares. Trata-se mais da arte de compreender tanto o espírito como a forma da
lei, assim como as circunstâncias únicas de um problema particular a ser resolvido. Espera-
se que os encarregados da aplicação da lei tenham a capacidade de distinguir entre inúmeras
tonalidades de cinza, ao invés de somente fazer a distinção entre preto e branco, certo ou
errado. Esta tarefa deve ser realizada cumprindo-se plenamente a lei e utilizando-se de
maneira correta e razoável os poderes e autoridade que lhes foram concedidos por lei. A
aplicação da lei não pode estar baseada em práticas ilegais, discriminatórias ou arbitrárias por
parte dos encarregados da aplicação da lei. Tais práticas destruirão a fé, confiança e apoio
públicos e servirão para solapar a própria autoridade das corporações. Os encarregados da
aplicação da lei devem não só conhecer os poderes e a autoridade concedidos a eles por lei,
mas também devem compreender seus efeitos potencialmente prejudiciais (e potencialmente
corruptores). A aplicação da lei apresenta várias situações nas quais os encarregados da
aplicação da lei e os cidadãos aos quais eles servem encontram-se em lados opostos.
Freqüentemente os encarregados da aplicação da lei serão forçados a agir para prevenir ou
investigar um ato claramente contra a lei. Não obstante, suas ações deverão estar dentro da
lei e não podem ser arbitrárias. Os encarregados podem, em tais situações, sofrer ou perceber
uma noção de desequilíbrio ou injustiça entre a liberdade criminal e os deveres de aplicação

da lei. No entanto, devem entender que esta percepção constitui a essência daquilo que
separa os que aplicam a lei daqueles infratores (criminosos) que a infringem. Quando os
encarregados recorrem a práticas que são contra a lei ou estão além dos poderes e autoridade
concedidos por lei, a distinção entre os dois já não pode ser feita. A segurança pública seria
posta em risco, com conseqüências potencialmente devastadoras para a sociedade. O fator
humano na aplicação da lei não deve pôr em risco a necessidade da legalidade e a ausência
de arbitrariedade. Neste sentido, os encarregados da aplicação da lei devem desenvolver
atitudes e comportamentos pessoais que os façam desempenhar suas tarefas de uma
maneira correta. Além dos encarregados terem de, individualmente, possuir tais
características, também devem trabalhar coletivamente no sentido de cultivar e preservar uma
imagem da organização de aplicação da lei que incuta confiança na sociedade à qual estejam
servindo e protegendo. A maioria das sociedades reconheceu a necessidade dos profissionais
de medicina e direito serem guiados por um código de ética profissional. A atividade, em
qualquer uma dessas profissões, é sujeita a regras, e a implementação das mesmas é gerida
por conselhos diretores com poderes de natureza jurídica. As razões mais comuns para a
existência de tais códigos e conselhos consistem no fato de que são profissões que lidam com
a confiança pública. Cada cidadão coloca seu bem-estar nas mãos de outros seres humanos
e, portanto, necessita de garantias e proteção para fazê-lo. Estas garantias estão relacionadas
ao tratamento ou serviço correto e profissional, incluindo a confidencialidade de informações,
como também a proteção contra (possíveis) consequências da má conduta, ou a revelação
de informações confidenciais a terceiros. Embora a maioria dessas caracterizações seja
igualmente válida à função de aplicação da lei, um código de ética profissional para os
encarregados da aplicação da lei, que inclua um mecanismo ou órgão supervisor, ainda não
existe na maioria dos países. Definição O termo Ética geralmente refere-se a: “...a disciplina
que lida com o que é bom e mau, e com o dever moral e obrigação... ...um conjunto de
princípios morais ou valores. os princípios de conduta que governam um indivíduo ou grupo
(profissional)... ...o estudo da natureza geral da moral e das escolhas morais específicas. ...as
regras ou padrões que governam a conduta de membros de uma profissão....... a qualidade
moral de uma ação; propriedade.”
Ética Pessoal, Ética de Grupo, Ética Profissional. As definições podem ser usadas em
três níveis diferentes, com consequências distintas: ética pessoal refere-se à moral, valores e
crenças do indivíduo. É inicialmente a ética pessoal do indivíduo encarregado da aplicação da
lei, que vai decidir o curso e tipo de ação a ser tomada em uma dada situação. Ética pessoal
pode ser positiva ou negativamente influenciada por experiências, educação e treinamento. A
pressão do grupo é um outro importante instrumento de moldagem para a ética pessoal do
indivíduo encarregado da aplicação da lei. É importante entender que não basta que esse
indivíduo saiba que sua ação deve ser legal e não arbitrária. A ética pessoal (as crenças
pessoais no bem e no mal, certo e errado) do indivíduo encarregado da aplicação da lei deve
estar de acordo com os quesitos legais para que a ação a ser realizada esteja correta. O
aconselhamento, acompanhamento e revisão de desempenho são instrumentos importantes
para essa finalidade. A realidade da aplicação da lei significa trabalhar em grupos, trabalhar
com colegas em situações às vezes difíceis e/ou perigosas, vinte e quatro horas por dia, sete
dias por semana. Estes fatores podem facilmente levar ao surgimento de comportamento de
grupo, padrões subculturais (isto é, linguagem grupal, rituais, nós contra eles, etc.), e a
conseqüente pressão sobre membros do grupo (especialmente os novos) para que se
conformem à cultura do grupo. Assim o indivíduo, atuando de acordo com sua ética pessoal,
pode confrontar-se com uma ética de grupo estabelecida e possivelmente conflitante, com a
pressão subsequente da escolha entre aceitá-la ou rejeitá-la. Deve ficar claro que a ética de
grupo não é necessariamente de uma qualidade moral melhor ou pior do que a ética pessoal
do indivíduo, ou vice-versa. Sendo assim, os responsáveis pela gestão em organizações de
aplicação da lei inevitavelmente monitorarão não somente as atitudes e comportamento em
termos de éticas pessoais, mas também em termos de ética de grupo. A história da aplicação
da lei em diferentes países fornece uma variedade de exemplos onde éticas de grupo
questionáveis levaram ao descrédito da organização inteira encarregada da aplicação da lei.
Escândalos de corrupção endêmica, envolvimento em grande escala no crime organizado,
racismo e discriminação estão frequentemente abalando as fundações das organizações de
aplicação da lei, ao redor do mundo. Estes exemplos podem ser usados para mostrar que as
organizações devem almejar níveis de ética entre seus funcionários que, efetivamente,
erradiquem esse tipo de comportamento indesejável. Quando nos consultamos com um
médico ou advogado por razões pessoais e privadas, geralmente não passa por nossas
cabeças que estamos agindo com grande confiança. Acreditamos e esperamos que nossa
privacidade seja respeitada e que nosso caso seja tratado confidencialmente. Na verdade,
confiamos é na existência e no respeito de um código de ética profissional, um conjunto de
normas codificadas do comportamento dos praticantes de uma determinada profissão. As
profissões médicas e legais, como se sabe, possuem tal código de ética profissional com
padrões relativamente parecidos em todos os países do mundo. Não se reconhece a profissão
de aplicação da lei como tendo alcançado uma posição similar em que exista um conjunto de
normas, claramente codificadas e universalmente aceitas, para a conduta dos encarregados
de aplicação da lei. No entanto, junto ao sistema das Nações Unidas, bem como junto ao
Conselho da Europa, desenvolveram-se instrumentos internacionais que tratam das questões
de conduta ética e legal na aplicação da lei. Esses são os instrumentos que serão discutidos
a seguir.
As práticas da aplicação da lei devem estar em conformidade com os princípios da
legalidade, necessidade e proporcionalidade. Qualquer prática da aplicação da lei deve estar

fundamentada na lei. Seu emprego deve ser inevitável, dadas as circunstâncias de um


determinado caso em questão, e seu impacto deve estar de acordo com a gravidade do delito
e o objetivo legítimo a ser alcançado. A relação entre as práticas da aplicação da lei e a
percepção e experiências dos direitos e liberdades e/ou qualidade de vida, geralmente em
uma sociedade, são assuntos que ainda recebem atenção e consideração insuficientes. A
questão da ética profissional na aplicação da lei tem recebido alguma consideração nos
instrumentos internacionais de Direitos Humanos e Justiça Criminal, de maneira mais
destacada no Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei (CCEAL),
adotado pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em sua resolução 34/169, de 17 de
dezembro de 1979. A resolução da Assembléia Geral que adota o CCEAL estipula que a
natureza das funções dos encarregados da aplicação da lei na defesa da ordem pública, e a
maneira pela qual essas funções são exercidas, provocam um impacto direto na qualidade de
vida dos indivíduos assim como da sociedade como um todo. Ao mesmo tempo que ressalta
a importância das tarefas desempenhadas pelos encarregados da aplicação da lei, a
Assembléia Geral também destaca o potencial para o abuso que o cumprimento desses
deveres acarreta. O CCEAL consiste em oito artigos. Não é um tratado, mas pertence à
categoria dos instrumentos que proporcionam normas orientadoras aos governos sobre
questões relacionadas com direitos humanos e justiça criminal. É importante notar que (como
foi reconhecido por aqueles que elaboraram o código) esses padrões de conduta deixam de
ter valor prático a não ser que seu conteúdo e significado, por meio de educação, treinamento
e acompanhamento, passem a fazer parte da crença de cada indivíduo encarregado da
aplicação da lei. O artigo 1º estipula que os encarregados da aplicação da lei devem sempre
cumprir o dever que a lei lhes impõe. No comentário do artigo, o termo encarregados da
aplicação da lei é definido de maneira a incluir todos os agentes da lei, quer nomeados, quer
eleitos, que exerçam poderes policiais, especialmente poderes de prisão ou detenção. O
artigo 2º requer que os encarregados da aplicação da lei, no cumprimento do dever, respeitem
e protejam a dignidade humana, mantenham e defendam os direitos humanos de todas as
pessoas. O artigo 3º limita o emprego da força pelos encarregados da aplicação da lei a
situações em que seja estritamente necessária e na medida exigida para o cumprimento de
seu dever. O artigo 4º estipula que os assuntos de natureza confidencial em poder dos
encarregados da aplicação da lei devem ser mantidos confidenciais, a não ser que o
cumprimento do dever ou a necessidade de justiça exijam estritamente o contrário. Em relação
a esse artigo, é importante reconhecer o fato de que, devido à natureza de suas funções, os
encarregados da aplicação da lei se vêem em uma posição na qual podem obter informações
relacionadas à vida particular de outras pessoas, que podem ser prejudiciais aos interesses
ou reputação delas. A divulgação dessas informações, com outro fim além do que suprir as
necessidades da justiça ou o cumprimento do dever, é imprópria, e os encarregados da

aplicação da lei devem abster-se de fazê-lo. O artigo 5° reitera a proibição da tortura ou outro
tratamento ou pena cruel, desumana ou degradante. O artigo 6° diz respeito ao dever de
cuidar e proteger a saúde das pessoas privadas de sua liberdade. O artigo 7° proíbe os
encarregados da aplicação da lei de cometer qualquer ato de corrupção. Também devem
opor-se e combater rigorosamente esses atos. O artigo 8° trata da disposição final exortando
os encarregados da aplicação da lei (mais uma vez) a respeitar a lei (e este Código). Os
encarregados da aplicação da lei são incitados a prevenir e se opor a quaisquer violações da
lei e do código. Em casos onde a violação do código é (ou está para ser) cometida, devem
comunicar o fato a seus superiores e, se necessário, a outras autoridades apropriadas ou
organismos com poderes de revisão ou reparação.

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BRASIL. Decreto n° 1.053, de 17 de agosto de 1999. Aprova o Regulamento de Ética


Profissional dos Militares da Polícia Militar e dos Militares do Corpo de Bombeiros
Militares do Estado do Acre. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência, Acre,
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VALLA, Wilson Odirley – Cel PM RR. Reflexões sobre a deontologia policial-


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