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Transformadores e Máquinas Elétricas

Capítulo 3

Transformadores Trifásicos

1 - Considerações iniciais
Partindo do princípio que o transformador trifásico é formado a partir de três
transformadores monofásicos, a composição mais plausível entre os núcleos seria a ilustrada
na figura 1.1.

120o

Figura 1.1 – Aspecto teórico de um núcleo trifásico.

Um sistema trifásico simétrico e equilibrado possui três correntes com mesmo


módulo, porém defasadas entre si de 120o elétricos. Pela lei de Ampère, essas correntes
originam fluxos nos núcleos monofásicos, também defasados de 120 o elétricos. De forma
análoga as correntes, quando os fluxos fluírem para um ponto comum do circuito magnético
(nó) a soma dos fluxos será nula. Desta forma, não há a necessidade de sua utilização e,
portanto é conveniente retirá-lo do circuito resultando em uma economia de material.

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O núcleo trifásico apresentado na figura 2 é o ideal; entretanto possui uma
geometria inconveniente, além de exigir uma quantidade excessiva de material magnético
para sua confecção, o que reflete nos custos e inviabiliza sua utilização.

Figura 1.2 – Núcleo trifásico ideal.

A solução adotada, em termos práticos, é bastante simples, retira-se um dos


núcleos e inserindo entre as colunas (ou pernas) laterais uma terceira coluna nas mesmas
dimensões ocupando a posição central. A figura 1.3 ilustra o aspecto do núcleo com as
soluções adotadas.
O circuito magnético das três fases, neste caso é equilibrado, por outro lado a
relutância da coluna central é menor que as duas laterais, motivo pelo qual existe uma
pequena diferença nas correntes de magnetização em cada fase.
Existem diversos tipos de núcleo utilizados em transformadores, entretanto o
ilustrado na figura 1.3 é o mais utilizado devido à sua facilidade construtiva e de transporte.
Este tipo de núcleo, em relação a três monofásicos, apresenta como vantagem o
fato de que, qualquer desequilíbrio magnético causado pelas diferentes condições
operacionais das três fases, tendem a desaparecer graças à interconexão magnética existente
entre elas; assim, o fluxo de cada perna distribui-se obrigatoriamente pelas outras duas.
Além disso, existe o aspecto economia de material envolvido em relação aos três
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monofásicos, apresentados na figura 1.2, fato que também resulta na diminuição das perdas
magnéticas no núcleo.

B
A C

F D
E

Segmentos:
ABC e DEF denominam- se culatras
AF, FE e CD denominam- se pernasou colunas.

Figura 1.3 – Núcleo trifásico utilizado em transformadores.

Uma outra forma possível de se obter transformadores trifásicos é através da


composição de três unidades monofásicas, obtendo-se um banco trifásico. Sejam por
exemplo três transformadores monofásicos denominados por T 1, T2 e T3, conforme ilustra a
figura 1.4. Essas unidades monofásicas podem ser conectadas em delta ou estrela conforme a
necessidade do nível de tensão disponibilizada pelo sistema. Neste caso os transformadores
foram conectados em delta do lado de TS e em estrela do lado de TI e formam um banco de
transformadores, constituídos a partir de três monofásicos.
A vantagem do banco é que se pode obter maior potência a partir de três unidades
monofásicas. Outra vantagem é o transporte que fica mais barato o transporte de pequenas
unidades monofásicas em relação a uma unidade trifásica. As unidades reservas são
monofásicas com apenas 1/3 da potência o que reduz também o custo.
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H1 x1

T1

H2 x2

H1 x1

T2

H2 x2

H1 x1

T3

H2 x2

Figura 1.4 – Unidade trifásica obtida a partir de três unidades transformadoras monofásicas,
formando um banco de transformadores trifásicos.

A desvantagem das unidades trifásicas é que os transformadores reservas são mais


caros, pois deverão ser de potência total do transformador a ser substituído.

2 - Conexões utilizadas em transformadores trifásicos


Os transformadores trifásicos comumente utilizam basicamente três conexões
trifásicas em seus enrolamentos, de acordo com a conveniência e exigência do sistema em
que será utilizado.

2.1 - Conexão delta ou triângulo


Nesta conexão os terminais das bobinas de cada uma das fases são interligados
entre si, onde o início de uma é conectada ao fim da outra e assim sucessivamente. Neste
caso a tensão aplicada às bobinas é a tensão de linha e a corrente que entra em quaisquer dos
nós é também denominada de corrente de linha. Porém a corrente que circula em quaisquer
da bobinas é denominada por corrente de fase. A figura 2.1 ilustra o aspecto de uma conexão
delta, que pode ser delta horário ou anti-horário. Observa-se no diagrama de fasores

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apresentado na figura 2.1 que, entre a conexão delta anti-horário e delta horário os
respectivos fasores de tensão sofrem uma defasagem de 600.

a
b
c
Ia Ib Ic Ia Ib
VL  V f
Iab Icb Ica Iac Ica Icb
Vab Vbc Vca Vac Vba Vcb IL  3I f

Vca Vab Vcb

Vbc Vba Vac


Figura 2.1 – Formas de se fechar a conexão delta e seu comportamento e as relações de
tensão e corrente.

A conexão delta é geralmente utilizada do lado de tensão superior dos


transformadores (primário) de força e de distribuição. Em casos particulares como em
pontes conversoras a semicondutores, fornos a arco, e em casos em que não se deseja
circulação de corrente de terra no caso de uma falta entre fase e terra.

2.2 - Conexão estrela


Nesta conexão os terminais iniciais ou finais das bobinas são conectados a um
ponto comum, resultando em uma ligação em três ou quatro fios. A tensão aplicada entre
quaisquer pontos da estrela é denominada de tensão de linha. E a corrente que circula nos
ramos da estrela é denominada de corrente de linha. A tensão existente entre cada uma das

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pontas da estrela e o ponto comum é denominada por tensão de fase. A figura 2.2 ilustra o
aspecto da conexão estrela e as duas formas de se efetuar a conexão.

a
b
c IL  I f
Ia Ib Ic Ia Ib Ic
Vca VL  3V f
Vab Vbc
Van Vbn Vcn Vna Vnb Vnc
Vba Vcb
Vac
Vcn Vnb

Van Vna

Vbn Vnc
Figura 2.2 – Formas de se fechar a conexão estrela e seu comportamento e as relações de
tensão e corrente.

A conexão estrela pode ser obtida de duas maneiras, através de um jumper no


início das bobinas ou deslocando-se o jumper para a extremidade final das bobinas,
conforme ilustra a figura 2.2. Observa-se que para uma alteração no modo de fechamento da
estrela, resulta em uma inversão na polaridade das bobinas do transformador, conforme o
diagrama de fasores da figura 2.2.

2.3 - Conexão ziguezague


Para se efetuar esta conexão é necessário que a bobina de cada fase seja composta
de duas meias bobinas. Desta forma pode-se conectar em estrela um conjunto de meias
bobinas e as outras extremidades ligar-se duas a duas em serie duas fases distintas. A figura

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2.3 ilustra o aspecto da conexão ziguezague e as duas formas de se efetuar a conexão. A
conexão ziguezague é uma conexão tipicamente de baixa tensão.

a
b
c
Ia Ib Ic Ia Ib Ic

Vcn
Van
Vcn

Vbn
Van
Vbn

Figura 2.3 – Formas de fechar a conexão ziguezague e seu comportamento.

A figura 2.3 mostra que o comportamento da conexão zig-zag é semelhante ao da


conexão delta, ou seja, entre o zig-zag anti-horário e o horário existe uma defasagem entre os
fasores de tensão de 60o.

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Quanto à relação de tensão e correntes de linha e fase pode-se recorrer à figura 2.4
para obterem-se as relações.

VL
3 IL  I f

VL
3
VL
Figura 2.4 – Relação de tensão e de corrente para conexão ziguezague.

Exercício 2.1
Mostrar que as relações apresentadas para conexão ziguezague, na figura 2.4, são válidas.

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3 - Princípio de funcionamento
O princípio de funcionamento é igual ao do monofásico, tanto no comportamento à
vazio, em curto circuito e sob carga.
A figura 3.1 ilustra o núcleo do transformador trifásico com seus enrolamentos
utilizando a conexão Dy. Os terminais H 1, H2, H3 são os de tensão superior, e x1, x2 e x3 são
os de tensão inferior, denominados na prática por primário e secundário.

VCA
VAB VBC

H1 (A) H2 (B) H3 (C)


IOA IOB IOC

IOAB IOBC IOCA

EAB EBC ECA

EBN ECN
EAN

x1 (a) x2 (b) x3 (c)


Figura 3.1 – Transformador trifásico operando a vazio.

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Ao aplicar as tensões VAB, VBC e VCA ao lado de tensão superior (primário), as
correntes de magnetização de cada fase (IOAB, IOBC e IOCA) circularão pelos respectivos
enrolamentos. O efeito resultante será o surgimento de três fluxos magnéticos alternados e
defasados de 120o elétricos entre si (MA, MB e MC); pela lei de Faraday, serão induzidas
tensões nos enrolamentos primários (EAB, EBC e ECA) e nos enrolamentos secundários (Eab, Ebc
e Eca).
Naturalmente, ao acoplar cargas ao secundário, surgirão correntes opondo-se à
variação do fluxo mutuo M e, em conseqüência, tentam desmagnetizar o núcleo. Assim
essas correntes são compensadas por parcelas adicionais de corrente que serão absorvidas
junto à rede, à qual o transformador está conectado, mantendo-se sempre constante o
módulo do fluxo mutuo M, e desta forma as tensões induzidas nos enrolamentos, conforme
estabelece a lei de Faraday-Lens.

4 - Circuito equivalente e parâmetros


De uma forma geral, os elementos passivos em sistemas de potência são
representados por apenas uma fase e um neutro, ou seja por fase, considerando as restantes
como simétricas; evidentemente, consegue-se tal representação sempre através da conexão
. No caso dos parâmetros percentuais, tal fato é irrelevante, pois independem das conexões
dos enrolamentos, enquanto que os parâmetros do ramo magnetizante; ocorre exatamente o
contrário. Assim no caso do primário em ligação em delta, utiliza-se transformá-la na estrela
equivalente. Através deste procedimento, o transformador trifásico será representado pelos
parâmetros de uma fase, supondo as conexões primárias em estrela e carga trifásica
simétrica e equilibrada.

5 - Grandezas características
Serão analisadas as características nominais dos transformadores, como: potência,
tensão dos enrolamentos etc. E ainda outras características que determinam o

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comportamento do transformador em condições normais ou mesmo de faltas, como:
corrente de curto circuito e rendimento.
Entende-se por características nominais aquelas que o transformador possa operar
fornecendo corrente nominal sob condições de carga constante, porém sem que exceda o seu
limite de elevação de temperatura afixada por normas. Admite-se que o transformador
opere sempre com a tensão nominal e freqüência nominal.
A característica nominal é constituída, basicamente das seguintes grandezas:
1) potência nominal;
2) tensões nominais dos enrolamentos;
3) correntes nominais dos enrolamentos;
4) freqüência nominal;
5) níveis de isolamento dos enrolamentos.

5.1 - Potência nominal


Considerando o princípio físico da conservação de energia aplicado a
transformadores tem-se que:

Potência de entrada  Energia de saída  Energia perdida

ou
Energia de entrada  Energia de saída  Energia perdida

A potência nominal que deve ser considerada em um transformador é a sua


potência aparente medida em VA (Volt-Ampèr e seus múltiplos) anotada em placa e
garantida pelo fabricante, este valor define um corrente nominal que pode ser retirada do
equipamento sob tensão nominal aplicada à carga. Sob o aspecto limite térmico, a potência
nominal pode ser definida como a maior potência que o transformador pode fornecer sem
que haja aquecimento, produzido pelas perdas, em regime de trabalho normal porém sem
que ultrapasse a temperatura limite estabelecida em seu projeto. Isto significa que se o

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transformador operar com potência nominal não haverá perigo de sobreaquecimento e
envelhecimento excessivo do sistema isolante e condutores.
Quanto aos enrolamentos dos transformadores a sua potência aparente está
relacionada àquela que estes podem entregar ou receber, em serviço contínuo e por tempo
ilimitado, a do enrolamento de tensão superior ou inferior igual à potência do
transformador. Em transformadores, um enrolamento pode possuir várias potências
nominais, no entanto quando for indicada em placa uma única potência nominal,
subentende-se que esta será válida para todas as tensões nominais indicadas em placa.
A tabela 3.1 mostra as potências nominais mais usuais para transformadores
monofásicos e a tabela 3.2 fornece a dos transformadores trifásicos.

Tabela 3.1 – Potências nominais para unidades monofásicas (conforme norma ABNT).

Potências normalizadas de transformadores monofásicos [kVA]


5 50 333 2500 10000 33333
10 75 500 3333 12500 50000
15 100 833 5000 16667 75000
25 167 1250 6667 20000
37,5 250 1667 8333 25000

Tabela 3.2 – Potências nominais para transformadores trifásicos (conforme norma ABNT).

Potências normalizadas de transformadores trifásicos [kVA]


15 150 1000 7500 30000 100000
30 225 1500 10000 37500 150000
45 300 2500 15000 50000 225000
75 500 3750 20000 60000
112,5 750 5000 25000 75000

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As potências apresentadas nas tabelas anteriores são as de placa e podem ser
aumentadas através de ventilação forçada ou outro meio de refrigeração. A norma NBR 5356
– EB91/1993, estabelece que a potência máxima deve ser considerada como a nominal.
Conhecidas as tensões e correntes do transformador, calcula-se a potência aparente
(S) através das equações (3.1) e (3.2).
Para transformadores monofásicos conforme (3.1).

S  V1 I 1  V2 I 2 (3.1)

Para transformadores trifásicos utiliza-se (3.2).

S  3V1I1  3V2 I2 (3.2)

Para a potência ativa denominada por (P) e reativa denominada por (Q) calculam-
se os seus valores respectivos por:
Para transformadores monofásicos (3.3) e (3.4):

P  V2 I 2 cos  2 (3.3)

Q  V2 I2 sen2 (3.4)

Para transformadores trifásicos (3.5) e (3.6):

P  3V2 I2 cos 2 (3.5)

Q  3V2 I2 sen2 (3.6)

As expressões são validas para qualquer regime de carga do transformador.

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5.2 - Tensão nominal
Define-se a tensão nominal como a tensão a ser aplicada ou induzida em vazio aos
terminais dos enrolamentos do transformador. Deve-se observar que as tensões nominais de
todos os enrolamentos se manifestam simultaneamente sob as condições em vazio, quando
em um deles se aplica a respectiva tensão nominal.
A NBR 5356 – EB91/1993 sugere que as tensões nominais sejam:
a) Transformadores de distribuição (NBR 5440 – PB99/1999).

Tabela 3.3 – Tensões nominais em transformadores conforme norma NBR 5440.

Tensão V
Tensão Derivação Primário Secundário
máxima do No
Transformadores Transformadores
equipamento
Trifásico e Monofásico trifásicos Monofásicos
kV (eficaz)
monofásico (fase)
(linha)
1 2 3 4 5 6
1 13800 7967
15,0 2 13200 7621 380/220 2 terminais
220 ou 127
3 12600 7275
ou
1 23100 13337
3 terminais
25,8 2 22000 12702
ou 440/220 ou
3 20900 12067

1 34500 19919 254/127 ou


38,0 2 33000 19053 220/127 240/120 ou
230/115
3 31500 18187

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b) transformadores subterrâneos (NBR 5356 – EB91/93).

Tabela 3.4 – Tensões nominais em transformadores subterrâneos conforme estabelecido pela


norma NBR 5356 – EB91/93.
Tensões V
Primária Secundária
216,5 /125
12000 220 /127
13200 231 /133
13800 380 /220
400 /133
216,5 /125
220 /127
21000 231 /133
380 /220
400 /231

c) Transformadores para transmissão (transformadores de força)


Preferencialmente, as tensões devem ser:

Tabela 3.5 – Tensões nominais típicas para transformadores de transmissão.


Tensões típicas para transformadores utilizados em sistemas de transmissão kV
6,6 13,8 24 34,5 44 69 88 138 230 345 440 500 765

Ainda conforme a NBR 5356 – EB91/1993, salvo indicação em contrário, os


transformadores devem ser capazes de operar, na derivação principal, com tensão diferente
da nominal nas seguintes condições:

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1) com tensão aplicada ao enrolamento primário, no máximo de 5% além
da sua tensão nominal, porém mantida a corrente secundária no valor
nominal;
2) com tensão aplicada ao enrolamento primário superior a 105% da sua
tensão nominal e inferior a 110% da mesma; esta tensão, para uma
corrente secundária igual a k vezes a corrente nominal, deve ser
limitada ao valor dado pela expressão (3.7).

V %  110  5k 2 (3.7)

Onde: 0  k 1
Nota:
Considerando-se as condições operacionais estabelecidas nos itens 1 e 2, o acréscimo
devido a elevação de temperatura é geralmente muito pequeno que pode ser
desprezado.

3) Com tensão primária 5% abaixo da tensão nominal do enrolamento


primário, mantida a potência nominal do enrolamento secundário,
sendo que, nesta condição, as elevações de temperatura das várias
partes do transformador não devem ultrapassar em mais de 5 oC as
elevações de temperatura obtidas em condições nominais;

4) Em vazio, com tensão aplicada ao enrolamento primário igual a 110%


da sua tensão nominal, sem que as elevações de temperatura
ultrapassem os limites fixados na própria norma;

As condições estabelecidas nos itens anteriores, para derivação principal, são


aplicáveis a qualquer outra derivação, substituindo-se os termos “tensão nominal” e

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“corrente nominal” respectivamente, pelos termos “tensão de derivação” e “corrente de
derivação”.

5.3 - Tensão de curto circuito ou impedância percentual


É o valor da tensão expressa geralmente em porcentagem do valor nominal, que
deve ser aplicada aos terminais de um dos enrolamentos de tal forma obter-se a corrente
nominal no outro enrolamento, cujos terminais encontram-se curtocircuitados.
A NBR 5440 – PB99/1999 fornece valores máximos admissíveis da tensão de curto
circuito percentual em função da potência e tensão máxima dos transformadores.
Para transformadores trifásicos tem-se a tabela 3.6.

Tabela 3.6 – Impedâncias percentuais estabelecidas por norma em função da tensão e da


potência dos transformadores.

Tensões máximas kV Potências kVA Faixa de impedância Z%


1 5
15 15 a 150 3,5
225 a 300 4
De 25,8 a 38 1 5
15 a 150 4

Para transformadores monofásicos conforme tabela 3.7.


Tabela 3.7 – Impedâncias percentuais estabelecidas por norma em função da tensão e da
potência dos transformadores.

Tensões máximas kV Potências kVA Faixa de impedância Z%


1 5
15 3 a 100 2,5
1 5
De 25,8 a 38 3 a 100 3 (para 38 kV)
2,5% (para 25,8 kV)

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5.4 - Corrente
a) Corrente nominal: A corrente nominal é a corrente para a qual o enrolamento
foi dimensionado, de tal forma a produzir a potência nominal quando aplicada a
tensão nominal em seus terminais.
b) Corrente em vazio: Estando o transformador com os terminais secundários em
aberto, ao aplicar-se a tensão nominal no primário fica estabelecida a corrente
responsável pela magnetização do núcleo, estabelece o fluxo principal.
A NBR 5440 – PB99/1999 indica os valores máximos admissíveis para a corrente
em vazio em função da potência e tensão máxima do transformador, sendo tais
valores mostrados na forma percentual da corrente nominal; na tabela 3.8 para
transformadores trifásicos e na tabela 3.9 para transformadores monofásicos.

Tabela 3.8 – Corrente a vazio percentual para transformadores trifásicos.

Tensão em kV
Potência 25,8 a 38 15
kVA Corrente em vazio I o .100
I 1N

1 2,0 2,0
15 6,0 5,0
30 5,0 4,3
45 4,5 3,9
75 4,0 3,4
112,5 3,6 3,1
150 3,3 2,9
225 3,0 2,6
350 2,8 2,4

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Tabela 3.9 – Corrente a vazio percentual para transformadores monofásicos.

Tensão em kV
Potência 25,8 a 38 15
kVA Corrente em vazio I o .100
I 1N

1 2,0 2,0
3 6,0 5,2
5 5,0 4,2
10 4,2 3,5
15 3,8 3,2
25 3,3 2,8
37,5 3,0 2,5
50 2,8 2,3
100 1,6 2,0

5.5 - Corrente de curto circuito


A ocorrência de curtos-circuitos em transformadores é causada pela operação
indevida dos mesmos devido a fatores como falha do sistema isolante, surtos de tensão, ação
de animais, vendavais etc.
Os curtos-circuitos podem ser classificados em:
a) trifásicos;
b) bifásicos sem contato com a terra;
c) bifásicos com contato com a terra;
d) monofásico a terra (uma fase à terra);
e) duplo curto a terra.

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Inúmeros são os problemas que podem ocorrer em um transformador
combinando-se os tipos de curtos-circuitos apresentados.
A maioria das faltas que ocorrem são assimétricas, ou seja, conforme as citadas nos
itens de b até e. Nestes tipos, as tensões não se anulam no ponto de ocorrência do defeito, o
que torna seu cálculo bastante complexo, devendo-se utilizar a teoria dos componentes
simétricos (seqüências positiva, negativa e zero).
Entre os curtos-circuitos assimétricos o tipo fase a terra é o de maior importância.
Pois este tipo de defeito não somente é o mais freqüente, como também o que apresenta a
maior faixa de valores de corrente de curto-circuito.
Por outro lado, quando da ocorrência de curtos-circuitos trifásicos, as tensões no
ponto de defeito caem a zero e os três condutores passam a ser percorridos por correntes de
curto-circuito simétricos; desta forma, é o tipo mais fácil de ser calculado, podendo assim ser
calculado para apenas uma fase.
A incidência deste tipo de curto-circuito é pequena, estatisticamente, mas, em geral
resulta na maior corrente de circulação no ponto de defeito.
A ocorrência de um curto-circuito pode se dar na passagem da corrente pelo zero
ou não. Neste último caso, ocorre um pico de corrente de curto-circuito.

ICC simétrico

Figura 5.1 – Oscilograma de um curto circuito trifásico.

Observe-se que na figura 5.1, a existência das correntes de curto-circuito de


impulso ou de crista (ICR) e uma permanente ou simétrica (ICC).

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A relação entre os valores instantâneos da corrente de curto-circuito de crista e da
simétrica é definida pelo fator de impulso k, ou seja:

I CR  2kI a (3.8)

Onde:

k  1  e R / X (3.9)

Sendo:
X  soma das reatâncias do transformador e do sistema;
R → soma das resistências do transformador e do sistema.

5.6 - Curto-circuito no transformador


No caso da ocorrência de um curto-circuito próximo às buchas do secundário do
transformador, pode resultar em grandes avarias no transformador devido aos seus efeitos
térmicos e eletrodinâmicos.
Observe-se que os únicos fatores limitantes da corrente de curto-circuito são a
impedância do sistema (em geral, muito baixa) e a do transformador.
Em relação aos curtos-circuitos, os transformadores trifásicos ou bancos são
classificados em duas categorias de potência nominal, ou seja:
a) Categoria I
SN  10000 kVA

b) Categoria II
SN > 10000 kVA
A corrente de curto-circuito simétrica pode ser calculada (valor eficaz) por (3.10):

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100 (3.10)
I CC  IN
Z%
Onde:
IN → é a corrente nominal do primário ou do secundário e, para a categoria I;
Z% → impedância percentual do transformador, para a categoria II;
Z% → impedância percentual do transformador mais a do sistema;
Observar que a impedância percentual do sistema é dada por (3.11):

S (3.11)
Z%  100 N
SCC

Onde:
SCC → é a capacidade de curto-circuito do sistema e deve ser obtida junto à
concessionária no local de instalação do transformador.

A intensidade e o tempo máximo da corrente de curto circuito suportável pelo


transformador são estabelecidos por normas.
Para o caso em que a corrente ICC calculada seja superior a 25 vezes a corrente
nominal, o transformador deverá suportar durante 3 segundos 25xI N. Porém, para o caso de
ICC calculada seja inferior, o equipamento deve suportar durante 2 segundos a mesma
corrente do caso anterior.
Deve-se no entanto observar que a corrente de crista provoca esforços mecânicos
elevados e é necessário que os enrolamentos estejam bem escorados através de calços e
amarrações de material isolante. Estes procedimentos transmitem a resistência mecânica
necessária ao conjunto núcleo e bobinas.
A componente de corrente de curto denominada de pico afeta mecanicamente a
estrutura do transformador. Por outro lado a componente de regime permanente afeta de
forma térmica o transformador.

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Transformadores e Máquinas Elétricas
5.7 - Freqüência nominal
Em sistemas elétricos existem duas freqüências adotadas; a 50Hz e a 60Hz, os
países adotaram as respectivas freqüências por razões históricas durante o início da
utilização da eletricidade em cada país. No Brasil a freqüência adotada é 60Hz.

5.8 - Nível de isolamento


A determinação do nível de isolamento depende da tensão de linha do sistema ao
qual o transformador será conectado e são padronizadas pela NBR 5356 – EB91/1993.

5.9 - Regulação
Define-se regulação de um transformador, para um determinado fator de potência, a
variação da tensão secundária ao passar do estado em vazio ao funcionamento em carga,
permanecendo constante a tensão aplicada ao primário e a freqüência. Esta variação de
tensão secundária é praticamente igual à diferença existente entre a tensão primária (V 1) e a
tensão secundária referida ao primário (V’2), ou seja conforme estabelecido em (3.12).

Re g  V  V1  V'2  E2  V2 (3.12)

O parâmetro regulação será mais detalhado nos assuntos seguintes, porém serão
estabelecidos neste item alguns fatores pertinentes às grandezas características dos
transformadores. Ao analisar-se a expressão (3.12) significa que uma grande diferença entre
E2 e V2 resulta em um valor elevado de regulação, o que significa uma grande queda de
tensão. Por outro lado valores pequenos de regulação significam pequenas quedas de tensão.
Portanto quando se deseja boa regulação, ou seja baixa queda de tensão os valores
da reatância percentuais baixos; o contrário é observado para valores de regulação elevados
(má regulação). No entanto valores baixos de reatância significam elevados valores de
corrente de curto circuito no sistema, ainda mais se este for de grande porte. Assim sendo

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Transformadores e Máquinas Elétricas
durante o projeto há a questão a decidir; entre a segurança e a obtenção de boas regulações
para uma larga faixa de valores de fatores de potência.

Referências
[1] João Mamede Filho – Manual de Equipamentos Elétricos - Ed. LTC S.A., R.J. 1994, vol. 2,
págs. 1 a 149.
[2] Antônio T. L. Almeida, João R. Cogo, José P. G. Abreu., Apostila de transformadores,
publicação FUPAI, 1992.

Luiz Octávio Mattos dos Reis Ronaldo Rossi

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