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Criminologia
Criminologia
ISBN 978-85-9502-464-9
CDU 159.9:343.1
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar as teorias explicativas do crime e a
contribuição de cada uma delas para o desenvolvimento da ciência da
criminologia. Além disso, você vai conhecer a teoria do controle social,
a teoria da anomia, teoria da frustração.
A criminologia pode ser considerada uma ciência moderna e atual, na
qual é possível aplicar as teorias desenvolvidas por meio de tantas outras
ciências que lhe complementam. Entre os objetos mais importantes
da criminologia estão o crime, o criminoso, o controle social e a vítima,
havendo uma conexão entre esses elementos.
Escola de Chicago;
associação diferencial;
2 Teorias explicativas do crime
Escola de Chicago
A Escola de Chicago, também chamada de teoria da ecologia criminal ou
teoria da desorganização social, trata-se de uma vertente criminológica
(FIGUEIREDO, 2018). Ela surgiu durante a Revolução Industrial nos Es-
tados Unidos, onde os estudos sociológicos foram carregados de influência
religiosa. Com a Revolução, houve aproximação entre as elites e a classe
baixa, sobretudo por uma matriz de pensamento, formada na Universidade
de Chicago, que se denominou teoria da ecologia criminal ou desorganiza-
ção social, cujos maiores expoentes foram Clifford Shaw e Henry Mckay
(PENTEADO FILHO, 2012).
A Escola de Chicago foi a primeira instituição a formular estudos urbanos
tendo a cidade como objeto. A Universidade de Chicago foi fundada em
1895, mediante uma generosa doação de verbas operacionalizada por John D.
Rockefeller, milionário americano que fez fortuna com indústrias de petróleo
e teve uma vida marcada por grandes trabalhos filantrópicos.
Essa vertente criminológica buscou, por meio da análise empírica da cidade
de Chicago, explicar o surgimento da criminalidade. Assim, tentou, com base
na observação, apontar os locais na cidade com maior densidade criminal e
a razão disso. Chicago recebeu, nos anos 1900, um grande movimento mi-
gratório, o que fez com que mais da metade de sua população fosse formada
principalmente por estrangeiros que buscavam melhores oportunidades de
vida. Assim, a partir desse cenário, foram realizados inquéritos sociais, com
acompanhamentos individuais. Para tanto, dividiu-se a cidade em círculos
concêntricos, o que ficou conhecido como teoria dos círculos concêntricos
(FIGUEIREDO, 2018).
Observe a Figura 1, a seguir, que representa as zonas da cidade de Chicago.
Teorias explicativas do crime 3
Zona de transição
Zona residencial
de pessoas pobres
Zona residencial de
pessoas de classe média
Zona residencial
de pessoas ricas
Na Figura 1, você pôde notar que as indústrias estavam nas regiões cen-
trais. Nessas regiões também se localizavam as residências das pessoas mais
pobres (os trabalhadores). Já nos círculos mais periféricos se localizavam as
residências das pessoas mais abastadas. Com os inquéritos sociais, percebeu-se
que o centro era menos organizado. Os estrangeiros se aglomeraram, por clara
necessidade, nos centros próximos aos seus locais de trabalho. Os ricos, por
sua vez, viviam em um ambiente mais confortável (nos extremos), distante
da poluição pobre e das indústrias (FIGUEIREDO, 2018).
Assim, as análises feitas demonstraram que os locais de maior desorga-
nização social eram mais suscetíveis à atuação criminosa. Além disso, essas
análises constataram existir uma organização peculiar de cidades dentro das
cidades. Você pode considerar, portanto, que o conceito tradicional de cidade
não se aplica. É perfeitamente possível que haja, em um dos círculos, altos
índices de criminalidade e, em outro círculo, baixo nível de criminalidade. Não
se pode concluir que os habitantes que vivem nos círculos centrais cometerão
crimes, todavia a ocorrência criminosa nesses locais se mostrou muito mais
acentuada (FIGUEIREDO, 2018).
Na Escola de Chicago, são pilares de estudo: o funcionalismo em psicologia,
a sociologia urbana, a ecologia humana, as formas sociológicas da psicologia
social que receberam o nome de behaviorismo social e o interacionismo sim-
bólico. Todas essas áreas produzem contribuições relevantes até os dias atuais,
4 Teorias explicativas do crime
A Escola de Chicago pode ser considerada uma escola de atividade, não de pensamento.
Ela reuniu pessoas que trabalhavam juntas, mesmo sob orientações teóricas diferentes.
Se fosse uma escola de pensamento, englobaria um grupo de pessoas que pensavam
de modo semelhante (BECKER, 1996).
Labelling approach
A teoria do labelling approach (interacionismo simbólico, etiquetamento,
rotulação ou reação social) é considerada uma das mais importantes teorias
de conflito. Essa teoria surgiu nos anos 1960, nos Estados Unidos, e seus
principais expoentes foram Erving Goffman e Howard Becker. Os ensina-
mentos dessa teoria pairam sobre a ideia de que a criminalidade não é uma
qualidade da conduta humana, mas a consequência de um processo em que
se atribui tal “qualidade” (estigmatização). Assim, o criminoso apenas se
diferencia do homem comum em razão do estigma que sofre e do rótulo que
recebe (PENTEADO FILHO, 2012).
O cerne dessa teoria é o processo de interação em que o indivíduo é chamado
de criminoso. A sociedade define que “conduta desviante” é o comportamento
6 Teorias explicativas do crime
Uma versão mais radical da teoria da rotulação de criminosos aponta que a crimina-
lidade é apenas a etiqueta aplicada por policiais, promotores, juízes criminais, isto é,
pelas instâncias formais de controle social. Outros, menos radicais, entendem que o
etiquetamento não se acha apenas na instância formal de controle, mas também no
controle informal, no interacionismo simbólico na família e na escola (“irmão ovelha
negra”, “estudante rebelde”, etc.) (PENTEADO FILHO, 2012).
As condutas desviantes estudadas pela teoria do labelling approach são aquelas cujos
praticantes são rotulados pelos demais membros de uma sociedade. Para compreender
melhor essa teoria, observe a Figura 2, a seguir.
Teoria da anomia
Existem dois conceitos básicos para se estudar a ecologia criminal e seu efeito
criminógeno:
Uma cidade desenvolve-se, de acordo com a ideia central dos principais autores
da teoria ecológica, segundo círculos concêntricos, por meio de um conjunto
de zonas ou anéis a partir de uma área central. No mais central desses anéis
estava o Loop, zona comercial com os seus grandes bancos, armazéns, lojas
de departamento, a administração da cidade, fábricas, estações ferroviárias,
etc. A segunda zona, chamada de zona de transição, situa-se exatamente entre
zonas residenciais (3ª zona) e a anterior (1ª zona), que concentra o comércio e
a indústria. Como zona intersticial, está sujeita à invasão do crescimento da
zona anterior e, por isso, é objeto de degradação constante.
funcionalistas, como você já viu, e foi criada por Merton com apoio na doutrina
de E. Durkheim (MERTON, 1970).
Para essa teoria, a sociedade é um ente feito para funcionar perfeitamente,
e para isso necessita que os indivíduos interajam num ambiente de valores
e regras comuns. Porém, a cada falha do Estado, é necessário resgatá-lo,
preservando-o; se assim não ocorrer, haverá uma disfunção.
Para Merton (1970), o comportamento desviado caracteriza-se, no campo
sociológico, como um sintoma de dissociação entre as aspirações socioculturais
e os meios desenvolvidos para alcançar tais aspirações. Assim, o fracasso no
atingimento das aspirações ou metas culturais em razão da impropriedade
dos meios institucionalizados pode levar à anomia, isto é, a manifestações
comportamentais em que as normas sociais são ignoradas ou contornadas
(MERTON, 1970). Assim, você pode considerar que a anomia é resultado de
uma falta de coesão e ordem, sobretudo no que diz respeito a normas e valores.
Na Figura 4, a seguir, você pode ver uma charge que ilustra uma das dinâmicas
utilizadas pelos sujeitos para serem bem-sucedidos.
Figura 4. De acordo com Merton (1970), em toda sociedade existem objetivos a serem
atingidos.
Fonte: Tirinhas... (2013).
Teoria da frustração
Em 1924, Rosenzweig criou a teoria geral da frustração, entendendo ser este
um fenômeno criado por situações de privações, conflitos, pelo não atingimento
da satisfação com algo ou alguém e por experiências traumáticas (MOURA,
2008). O autor considerou a frustração como um fenômeno vinculado aos
conceitos de não adaptação, tensão e desequilíbrio ou perturbação da home-
ostase (ligação entre o organismo e os fatores ambientais). Acreditava ainda
que a frustração estaria vinculada a um significado biológico das defesas do
indivíduo. Para ele, a ideia de frustração, em especial dos impulsos sexuais,
não teve uma exploração ou um estudo sistemático necessário para seu total
entendimento (MOURA, 2008). Neste contexto, surge a Teoria Geral da
Frustração na tentativa de reformular conceitos da psicanálise e proporcionar
estudos experimentais na área da frustração.
Segundo Rosenzweig, para analisar a frustração, seria preciso compreender
os tipos de situações frustrantes ou o fenômeno das classes gerais de situações
frustrantes a que um ser humano pode vir a sucumbir (experimentar). Essas
situações frustrantes, segundo o teórico, podem ser definidas em quatro
aspectos (MOURA, 2008):
14 Teorias explicativas do crime
AGNEW, R. Foundation for a General Strain Theory of Crime and Delinquency. Crimi-
nology, vol. 30, p. 47-87, 1992.
BECKER, H. Conferência: a escola de Chicago. Mana: Estudos de Antropologia Social,
v. 2, n. 2, 1996.
CERQUEIRA, D. LOBÃO, Waldir. Determinantes da criminalidade: arcabouços teóricos
e resultados empíricos. DADOS-Revista de ciências sociais, v. 47, n. 2, 2004. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/dados/v47n2/a02v47n2.pdf> Acesso em: 29 maio 2018.
FIGUEIREDO, R. G. Escola de Chicago: um tema atual! 2018. Disponível em: <http://
cursocliquejuris.com.br/blog/escola-de-chicago-um-tema-atual/>. Acesso em: 26
maio 2018.
MERTON, R. K. Estrutura social e anomia: revisão e ampliações. Lisboa: Meridiano, 1970.
MOLINA, A. G.-P. de; GOMES, L. F. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
MONTINEGRO. M. M. F. A desordem gera desordem: conheça a teoria das janelas que-
bradas. 2015. Disponível em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2015/05/26/a-
desordem-gera-desordem-conheca-a-teoria-das-janelas-quebradas/>. Acesso em:
26 maio 2018.
MOURA, C. F. de. Reação à frustração: construção e validação da medida e proposta
de um perfil de reação. Curso de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho
e das Organizações - Universidade de Brasília, 2008.
PENTEADO FILHO, N. S. Direitos humanos. 4. ed. São Paulo: Método, 2012.
PIETRO, M. S. Z. D. Direito administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 1998. v. 19.
SHECAIRA, S. S. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
SOUSA, A. Teoria da anomia de Merton. 2010. Disponível em: <http://sociuslogia.blogs-
pot.com.br/2009/02/teoria-da-anomia-de-merton.html>. Acesso em: 26 maio 2018.
TIRINHAS sobre ética. 2013. Disponível em: <http://aeticadocuidar.blogspot.com.
br/2013/05/blog-post_155.html>. Acesso em: 26 maio 2018.
Leituras recomendadas
MOLINA, A. G.-P. De. Criminologia: introdução e seus fundamentos teóricos. 2. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
SANTOS, J. C. dos. A criminologia radical. 3. ed. Curitiba: Lumen Juris, 2008.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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