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Reflexão sobre o texto “O PENSAMENTO DE FREUD SOBRE A EDUCAÇÃO” do livro

“Freud e a Educação” de Maria Cristina Kupfer.

Francielli Bispo Bertagnolli*


Lucas da Silva Andrade**
Renato Pereira da Silva***

Resumo: Este trabalho relata a investigação e reflexão sobre trabalhos


relacionados a Freud e a educação, focando sua história pessoal, a superação do
mestre, e a relação das concepções que podem ser aplicadas na compreensão do
processo educativo, de onde, percebe-se a fundamental relação afetiva conexa a
motivação e superação de resultados
Palavras chave: Freud, educação, afetividade, resultados.

Abstract: This paper reports the research and reflection on work related to
Freud and education, focusing on his personal history,
overcoming the master, and the relationship of concepts that can be applied in
understanding the educational process, from where we see
the fundamental relationship related affective motivation and overcoming results
Keywords: Freud, education, affection, results.

DESENVOLVIMENTO DA ANÁLISE
Independente do que for dito, é preciso deixar claro que está em jogo nas relações é a
“REALIZAÇÃO PESSOAL”. E para que não se perverta, a prioridade de satisfação segue a
um código para a vida em sociedade. Para apropriar-se deste código é necessário o processo de
humanização ou educativo, e neste processo firma-se um campo de interação e conflito. E é aí
que se encontra a tarefa da educação.

*Francielli Bispo Bertagnolli, graduando de Licenciatura em Educação Física pela UFPR.


**Lucas da Silva Andrade, graduando de Licenciatura em Educação Física pela UFPR.
***Renato Pereira, graduando de Licenciatura em Física pela UFPR.
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Das observações de Paulo César Souza, em Freud e a Educação (KUPFER, 1989), já no
prefácio, chama-se a atenção para colocação de Freud, onde a educação é colocada como tarefa
impossível.

[...] Na relação professor-aluno está em jogo à enunciação de dois desejos – o


desejo de ensinar e o de saber. A ação destes dois sujeitos na cena pedagógica
será sempre mediada por estes desejos. O professor, ao fazer seu planejamento
didático, prepara-se para o previsível considerando o seu desejo. Ao ingressar
na sala de aula, se depara com o imprevisível ocorrendo aí o desencontro entre
o seu desejo e o do aprendiz. Este desencontro põe em cena a necessidade de
considerar o desejo do outro. E é neste momento que entra em cena a angústia.
O que eu penso que o outro quer de mim? Essa expectativa é vivida com muita
ansiedade, pois por meio do desejo do outro, resgatamos e colocamos em cena
o nosso desejo [...]. (ZIBETTI, 2004, p. 221).

Porém, reconhecendo-se as limitações pedagógicas impostas pela singularidade de cada


indivíduo e que perceba, é multiplicado pela coletividade da sala de aula, mesmo assim pode-se
determinar um processo educativo com função pré-definida, que graças à evolução e
comparação com a psicanálise, norteia para o equilíbrio entre proibição e permissão sem
traumas e neuroses, limitando os instintos e desejos individuais (não construtivos), orientando
para evolução do ser humano em “sua” plenitude favorecendo a realização “pessoal”, na
interação social produtiva e afetivamente, inclusive angustias e decepções sentimentos inerentes
à existência humana. E para esta tarefa complexa de educar Kupfer mostra dicas valiosas de
Freud sobre técnicas e conceitos por ele desenvolvidos para o campo da psicanálise,
perfeitamente aplicados à educação, como por exemplo; recalque, sublimação, complexo de
Édipo, pulsões inconscientes, transferência, e a facilitação do laço afetivo como efeito
motivador na educação (KUPFER, 1989).
Freud inicialmente acreditava que repressão sexual, social aumenta as neuroses. Então
bastaria uma educação mais liberal e conscientizadora (tangendo a sexualidade), desde a
infância. Porém no final da vida muda de ideia. Sua filha tenta efetivar pesquisas e até afeta
alguns educadores, que tem contato com alguns dos conceitos freudianos como os estágios
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“oral, anal e fálico”. Porém não se concretizam as implementações, ou projetos, revela-se ainda
que muitos psicanalistas sejam contrários com as relações pedagógicas. E realmente instaura-se
certa confusão, pois Freud, pensador e até um dos Mestres da Educação é visto como
antipedagogo. Escreveu e pensou visceralmente, revolucionando a si próprio ao mundo de
forma irreversível. Era tão apaixonado que se dedicava até chegar aos extremos de certo
autoritarismo, e a isso é dado certo crédito, pois “afeta” seus discípulos, e é esta característica,
conflitante que serve de direção na tarefa de educar.

[…] A nós cabe a tarefa de compreender o trabalho de Freud e dele extrair se


possível alguma inspiração para pratica do dia-a-dia do professor [...].
(KUPFER, 2010, p. 8.)

Freud também tem o mérito sobre a reflexão de o que é ensinar e o que é aprender, e a
relação ou conflito de interesse entre dois indivíduos em uma interação qualquer. Na educação,
a transferência motiva, da impressão de relação de partilha, gerando a confiança, que é propício
para um ensino eficaz (KUPFER, 1989).

[…] O processo de ensino-aprendizagem, atividade consciente do ser humano,


não envolve somente questões cognitivas. No entanto, durante décadas, a visão
dicotomizada do ser humano, afeto/cognição, influenciou profundamente a
área educacional, gerando uma ênfase quase exclusiva no processo de
transmissão do conhecimento, envolvendo apenas suas dimensões cognitivas.
Mais recentemente, a partir de pressupostos teóricos com fortes marcas nos
determinantes sociais da aprendizagem, a concepção de homem tem se
transformado, dando origem a uma visão integradora que defende a
indissociabilidade dos aspectos afetivos e cognitivos. Na educação, isso tem
implicado numa revisão das práticas pedagógicas, pois, a partir dessa visão
integradora, é preciso caracterizar as relações de ensino aprendizagem também
enquanto um processo afetivo. Os estudos baseados na abordagem histórico-
cultural demonstram a importância do Outro – sujeito mediador na construção
do conhecimento e também na constituição do próprio sujeito e suas formas

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de agir […]. (LEITE; TAGLIAFERRO, 2005 p. 258.)

E a confirmação parte da própria experiência de Freud, em “O pensamento de Freud


sobre a educação” (KUPFER, 1989), nas passagens da vida de Freud e momentos da
estruturação e concepção da psicanálise. Nos relatos mostrados por Kupfer, é demonstrada
toda a valorização incentivo, e desafios, expectativas e esperanças, levaram ao seu sucesso.

[…] os motivos sociais são secundários e da ordem da aprendizagem, pois os


motivos biológicos os antecedem por estarem ligados à sobrevivência do
indivíduo (Sawrey & Telford, 1973). Os motivos sociais constituem-se de:
motivo gregário, motivo de prestígio e motivo de aceitação. O motivo gregário
está relacionado ao afeto e refere-se à relação aluno professor, considerado
como um dos fatores mais importantes para motivar. Infelizmente, percebe-se
que é um motivo pouco utilizado. Já o motivo de prestígio e o motivo de
aceitação são usados com mais frequência pelos professores. O aluno tende a
perpetuar o comportamento positivo quando recebe elogio por parte dos
colegas, pais, professores e outros indivíduos e a diminuir ou extinguir os
comportamentos negativos. Além disso, o aluno tende a repetir o
comportamento em que ele se sai bem, isto é, se tiver mais sucesso na prova de
vôlei do que na de basquete, a tendência é de motivar-se mais pelo vôlei e,
consequentemente, praticá-lo mais […] (BIDUTE, 2011, p. 50.)

No caso de Freud, o investimento emocional e intelectual de seus pais, que inclusive lhes
conferiram algumas vantagens dentro da própria casa (seletividade natural), como quando, por
exemplo, Freud ganha um quarto de estudos (ainda que minúsculo), na modesta casa de três
quartos para oito pessoas, e quando até os estudos de piano de sua irmã foram interrompidos
para não incomodar os estudos de Freud.

[…] – o fato é que, desde cedo, seus pais esperavam que se tornasse um

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grande homem […]. Tal expectativa não deixou de ter consequências. A
partir dela, Freud desenvolveu, em alto grau, sua autoconfiança. Por ela,
no entanto, precisou lutar […]. Ao ser considerado privilegiado, dele
eram exigidas responsabilidades […]. Assim “sua inteligência era
constantemente desafiada com problemas intrincados, estimulando-o a
desejar sempre compreender” conta-nos Ernest Jones, seu biografo
oficial. […]. KUPFER, 2010, p. 17.

Este conjunto de fatores favoráveis, ainda que na escassez financeira, associados ao


amor e dedicação aos estudos, e as oportunidades e clareza de objetivos que não eram
modestos, motivaram e conspiraram para o sucesso de sua formação. Aqui uma constatação, há
o desejo de saber, então uma escolha de o que aprender. Seguindo sua trajetória Freud tem
contato com seus mestres. O contato com seus mestres se dá no mesmo modelo, admiração,
regras, libertação, logo por interesses. Desenvolve-se uma relação onde Freud, entra consciente
de o que quer, e até onde a relação chegará, a superação do mestre ou pai simbólico. Evidente
que está em jogo é a realização pessoal, logo será natural o esgotamento, discordância ou
superação, que se dará conforme a relação se desfaz.

Mestre BRUCK, MEYNERT FREUD CHARCOT BREUER FLIESS


Ernest
Motivo da Admiração Conduta Falta de Interesse Admiração Compatibili-
aproximação material científico dade, e ação
(Afetividade) (Afetividade)
reflexiva.
Resultado Conduta Científico Inicio da Científico Cientifico Autoanalise
autonomia
Motivo do Financeira Discordância Busca Superação Superação Superação
rompimento teórica constante cientifica cientifica

Tabela 01. Alguns mestres, motivos de aproximação, resultados e motivos do rompimento, experimentados por Freud.

Novamente a evidência de que o educando é levado ao vinculo afetivo e posterior


desafio para superação.
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[…] Mais uma vez entra em cena o permanente movimento de apego


apaixonado e de superação de cada mestre […]. Freud sabia ser necessário
ocupar a posição de mestre de si mesmo, já que desejava ardentemente criar
algo novo, gerar conhecimento. Mas alguma coisa o impedia – alguma coisa de
natureza inconsciente, […]. Era necessário a Freud superar definitivamente não
a relação com os mestres, mas com o pai, relação que, como já se disse, era
subjacente a ela […] .KUPFER, 2010, p. 26.

Desta concepção, ainda existe algo a ser superado (subconsciente), Freud percebe que
deve compreender a relação inconsciente da transferência, que mistura as figuras pai e mestre.
E ao se tornar mestre de si mesmo não o fara ocupar o lugar de seu pai junto à mãe (complexo
de Édipo). Com a libertação, Freud torna-se multiplicador de uma gama de discípulos de
abrangência internacional. E alguns autores atribuem certo autoritarismo que leva ao
rompimento com alguns discípulos, quando da discordância ou novidades a ele apresentadas.

A história de Freud nesta ótica evidencia a relação razão emoção, que se confundem.
Quando a razão sobressai ele avança no trabalho intelectual. Quando a emoção sobressai ele
chega ao ponto de ruptura. Porém o final de sua história é surpreendente quando fica claro, que
ele sempre foi motivado pela emoção visceral da busca pela satisfação racional do seu trabalho.
Mas com a perda do neto, a revelação que nada mais lhe dá prazer ou sentido.

CONCLUSÃO

Com base nas referências e literatura, verifica-se o campo de convergência, onde impera
a concordância entre todos os autores e trabalhos consultados. E fica claro que a relação afetiva
com os pais é imperativa no que tange a “condução” para formação do indivíduo. Esta relação
afetiva continua no processo educativo se dá por transferência com o professor.

Sendo assim pode-se concluir que, o professor tem melhores resultados evitando
desgastes, se conscientemente criar o vinculo afetivo, valorizado e compreendido pelos

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estudantes, por consequência confiança, e aí sim lhe é entregue, ao professor, a direção e
domínio da sala, e efetiva aula. Então após este vinculo afetivo, cabe-se o desafio, o conflito,
que afeta e evolui efetivando-o à busca e conhecimento, que será prejulgado antes da
apropriação pelo inconsciente ou valores ou conceitos do pai simbólico. Também percebe-se
que será natural e necessário, o rompimento com este professor ou pais simbólicos, para que se
efetive a superação e autossuficiência. E desta forma segundo Freud haverá a melhor taxa
educativa relativamente possível.

Referências:
BIDUTTE, Luciana de Castro. Motivação nas aulas de educação física em uma escola
particular. Psicol. Esc. Educ. (Impr.), Campinas, v. 5, n. 2, dez. 2001 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
85572001000200006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 20 mar. 2011.

LEITE, Sérgio Antônio da Silva; TAGLIAFERRO, Ariane Roberta. A afetividade na


sala de aula: um professor inesquecível. Psicol. Esc. Educ. (Impr.), Campinas, v. 9, n. 2, dez.
2005 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
85572005000200007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 20 mar. 2011. doi: 10.1590/S1413-
85572005000200007.

KUPFER, Maria Cristina. Freud e a Educação o Mestre do Impossível. (Pensamento e


Ação no Magistério) São Paulo editora Scipione, 3ª edição, 2010, p. 8.

STOLTZ, Tania. Notas de aulas 2011.

ZIBETTI, Marli Lúcia Tonatto. A Angústia de nenhum professor


Ofício. Psicol. Esc. Educ.(Impr.) , Campinas, v. 8, n. 2, dezembro 2004. Disponível a partir do
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
85572004000200010&lng=en&nrm=iso>. acesso em 20 de março de 2011. doi:
10.1590/S1413-85572004000200010.

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