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MANUAL SOBRE A ATIVIDADE

DE INFLUENCIADOR DIGITAL
Sumário

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 3
ASPECTOS TRABALHISTAS ...................................................................................................................... 4
ASPECTOS CONTRATUAIS ....................................................................................................................... 5
MELHORES PRÁTICAS ............................................................................................................................. 5
CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E LICENÇA DE DIREITOS .................................................. 6
CONFIDENCIALIDADE.......................................................................................................................... 7
ASPECTOS TRIBUTÁRIOS......................................................................................................................... 8
IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA (ISS)............................................................ 8
INFLUENCIADORES DIGITAIS QUE PRESTAM SERVIÇOS COMO AUTÔNOMOS .............................. 10
Descontos do Prestador de Serviço (Influenciador Digital) ........................................................ 11
INFLUENCIADORES DIGITAIS QUE PRESTAM SERVIÇOS POR MEIO DE PESSOA JURÍDICA ............ 12
EXEMPLO PRÁTICO ............................................................................................................................... 12
INTRODUÇÃO

A profissão de influenciador digital se tornou relevante nos últimos anos como uma
estratégia de “marketing de influência”, aproximando as marcas dos consumidores através de
uma voz com quem o consumidor se identifica prontamente. O influenciador digital é uma
pessoa que, de alguma forma, é muito popular nas mídias sociais. O compartilhamento
constante de conteúdo com o seu público o torna conhecido e com grande engajamento,
capaz de influenciar o comportamento dos seus seguidores.

As empresas logo enxergaram a oportunidade de inserir suas marcas de forma mais


orgânica. Seja para um público novo, um público específico, ou ainda para aumentar seu
alcance. Mas para que tudo funcione da maneira correta, as empresas precisam seguir uma
série de regras da legislação brasileira, além da necessidade de se resguardarem
juridicamente. Este manual visa esclarecer pontos importantes no exercício da profissão de
influenciador digital, englobando questões contratuais, trabalhistas e tributárias da
contratação do influenciador para campanha de uma marca específica por meio de uma
agência de publicidade, que faz a ponte entre empresa e influenciador.
ASPECTOS TRABALHISTAS

Por ser uma profissão nova, ainda não existe no Brasil regulamentação específica.
Assim, a contratação de influenciadores digitais segue as regras previstas no Código Civil,
Código de Defesa do Consumidor, normas do CONAR, na Lei de Direitos Autorais, bem como
normas genéricas aplicadas às relações contratuais.

O principal ponto de atenção a ser observado por empresas, agências de publicidade


e pelos influenciadores é evitar o vínculo empregatício. Os requisitos que configuram a
relação de emprego são: a subordinação, não eventualidade, pessoalidade e onerosidade.
Todavia, na maioria das vezes a relação entre influenciador e marca não se restringe à
exclusividade, o que reduz o risco de caracterizar vínculo de emprego. Ainda que exista
exclusividade durante o período de contrato e o influenciador não possa utilizar ou divulgar
uma marca concorrente, por exemplo, essa obrigação se extingue com a finalização do
contrato.

Vale destacar que não pode haver subordinação jurídica, ou seja, o contratante não
tem poder de comando em relação à atividade desenvolvida pelo Influenciador Digital no
curso desta contratação. É possível verificar a liberdade do influenciador digital no modo
como o serviço é prestado: de forma autônoma, sem controle rígido de horários, formatos,
tempo alocado na execução dos serviços.

Para evitar possíveis processos judiciais futuros, recomenda-se incluir cláusulas


específicas sobre a autonomia e independência das partes no contrato, bem como de
inexistência de vínculo empregatício.
ASPECTOS CONTRATUAIS

Por ser uma profissão nova, exercida inicialmente de forma muito amadora, é possível
perceber que na prática muitas relações começam de forma informal. Até mesmo as marcas
e agências de publicidade optam por fechar acordos à distância, por telefone, e-mail,
WhatsApp e demais mídias sociais.

No entanto, a informalidade gera insegurança para todas as partes envolvidas, pois a


ausência de um contrato deixa indefinidos os prazos para cumprimento de obrigações tanto
do influenciador quanto pelas marcas e agências de publicidade. Caso exista um processo
judicial, é difícil comprovar o que de fato aconteceu e onde estão as falhas, pois
provavelmente haverá falhas em todos os lados envolvidos.

MELHORES PRÁTICAS

É necessário estar atento às melhores práticas aprovadas pelo mercado publicitário,


que funcionam há anos sem maiores problemas.

Sobre a contratação de Influenciadores Digitais por agências de publicidade, a


Associação Brasileira dos Agentes Digitais (ABRADi) lançou em julho de 2017 o “Código de
Conduta para Agências Digitais na Contratação de Influenciadores”, recomendando maior
transparência nas veiculações. Isto é, informar para o público-alvo que o que é divulgado pelo
Influenciador Digital decorre de um acordo comercial entre ele e a marca, como uma
estratégia de propaganda remunerada e não apenas uma opinião pessoal do Influenciador.
Para atender a essa recomendação, a ABRADi propõe, inclusive, o uso de palavras como
“promo”, “publi”, “ad” ou “brinde”, que podem ser apresentadas como #hashtags.
A propaganda invisível ou oculta, do ponto de vista do Código de Defesa do
Consumidor, é considerada uma prática desleal contra o consumidor, sendo um direito básico
“a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou
desleais (...)”, pois “a publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e
imediatamente, a identifique como tal”.

No Brasil, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR)


desempenha o papel de supervisão das atividades publicitárias e desde 2012 analisa
denúncias contra as más práticas realizadas por empresas brasileiras. O CONAR ainda não
aplica multas, mas quando comprovadas violações no código de conduta pode dar
advertências e até solicitar a remoção do conteúdo.

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E LICENÇA DE DIREITOS

A contratação de influenciadores digitais costuma se dar por meio de contratos de


prestação de serviços e licença de direitos entre a empresa, a agência de publicidade e os
influenciadores digitais. A marca ou a agência de publicidade deve refletir sobre as
particularidades de sua relação comercial com o influenciador digital e a campanha a ser
realizada, sendo recomendável que esteja previsto no contrato:

 Quantos influenciadores digitais serão contratados para determinada


campanha;
 Quantas atividades serão desempenhas pelo influenciador: se ele irá criar,
produzir, veicular vídeos, posts ou estar presente em eventos, vídeos ao vivo,
sessões de foto, etc.
 Cronograma das atividades a serem desempenhadas pelo influenciador, bem
como os prazos de postagem e o tempo em que o conteúdo será mantido no
ar;
 Quais penalidades e multas serão impostas em caso de atraso ou ausência do
cumprimento do cronograma;
 A anuência e orientação prévia da marca em relação ao conteúdo a ser
produzido pelo Influenciador, que não pode deixar de fazer alusão à marca;
 Negociação para a reexecução dos serviços com novos prazos de entrega em
decorrência da empresa não julgar adequado o serviço prestado pelo
Influenciador;
 Reforço à atitude de transparência da campanha perante o público;
 Licença e transferência dos direitos da marca, em caráter temporário, ao
Influenciador Digital;
 Contraprestação financeira do Influenciador Digital pela prestação dos serviços
e concessão dos conteúdos.

CONFIDENCIALIDADE

Por fim, o Código de conduta ABRADi também recomenda a adoção de cláusulas de


confidencialidade no Contrato de Prestação de Serviços ou de um Acordo de
Confidencialidade próprio (também conhecido como non-disclosure agreement - NDA), que
tem como objetivo resguardar a propriedade intelectual da marca e do Influenciador, tais
como planos estratégicos, fórmulas e listas de clientes, que muitas vezes representam
vantagens competitivas em relação aos concorrentes. Esse é o instrumento contratual que
busca preservar tais informações, mediante a aplicação de multas contratuais e outras
penalidades previstas em lei, no caso de violação.

ASPECTOS TRIBUTÁRIOS

A relação a ser estabelecida entre os influenciadores digitais e as contratantes poderá


implicar em uma série de serviços que poderão ser prestados por meio de um contrato. Seja
a produção de conteúdo, merchandising, postagem de conteúdo em seus canais de
divulgação, atuação, entre outros.

Vale ressaltar que a forma como o Influenciador Digital presta seus serviços, como
pessoa física ou jurídica, apresenta diferenças importantes no cálculo dos tributos incidentes,
sejam eles: ISS, INSS, IRRF. Aqui serão apresentadas as hipóteses de Influenciadores Digitais
que prestam serviços como:

a) autônomos ou
b) por meio de pessoas jurídicas.

IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA (ISS)

O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) é um tributo exigido quando há


prestação de serviços previstos na lista da Lei Complementar 116/2003 (LC 116/03). A
cobrança desse imposto é de competência municipal, ou seja, é necessário que cada um dos
municípios crie sua própria lei específica para estabelecer a cobrança do imposto.
O contribuinte do imposto é quem efetivamente presta o serviço, ou seja, na maioria
dos casos, seria o próprio Influenciador Digital o responsável pelo pagamento do ISS e pela
emissão da nota fiscal. No entanto, em algumas hipóteses, as leis municipais atribuem ao
Contratante do serviço a responsabilidade pelo recolhimento.

Destacamos os serviços que podem ser prestados por Influenciadores Digitais,


utilizando, como exemplo, a lista de serviços prevista na Lei Municipal 13.701/2003, da cidade
de São Paulo.

Serviços Alíquota
1.09 - Disponibilização, sem cessão 2,9%
definitiva, de conteúdo de áudio, vídeo,
imagem e texto por meio da internet,
respeitada a imunidade de livros, jornais e
periódicos.
13.01 - Fonografia ou gravação de sons, 5%
inclusive trucagem, dublagem, mixagem e
congêneres
13.02 - Fotografia e cinematografia, inclusive
revelação, ampliação, cópia, reprodução,
trucagem e congêneres
17.24 - Inserção de textos, desenhos e 2,9%
outros materiais de propaganda e
publicidade, em qualquer meio (exceto em
livros, jornais, periódicos e nas modalidades
de serviços de radiodifusão sonora e de sons
e imagens de recepção livre e gratuita).
37.01 - Serviços de artistas, atletas, modelos 5%
e manequins.

INFLUENCIADORES DIGITAIS QUE PRESTAM SERVIÇOS COMO AUTÔNOMOS

No município de São Paulo, o trabalhador autônomo é isento do pagamento do ISS,


desde que esteja inscrito no Cadastro de Contribuintes Mobiliários - CCM. Vale ressaltar que
isso não o exime de obrigações acessórias, como emissão de recibo.

O Recibo de Pagamento Autônomo é o recibo a ser emitido pelo serviço prestado por
uma pessoa física que não tem CNPJ para emitir Nota Fiscal. A empresa contratante deve
emitir o RPA contendo os seguintes dados:

 Nome Completo
 CPF, RG e Nome da Mãe
 PIS
 Endereço
 Número de inscrição do contribuinte no Cadastro de Contribuintes Mobiliários
– CCM (se houver)
 A descrição do serviço prestado
 Valor do serviço.
Caso o Influenciador Digital não forneça o CCM, a Contratante é responsável pela
retenção do ISS.

Descontos do Prestador de Serviço (Influenciador Digital)

Serão descontados do influenciador digital os seguintes valores:

ISS – Caso não possua Cadastro de Contribuintes Mobiliários CCM (para


influenciadores que morem na cidade de São Paulo). Caso o influenciador resida em outro
município deve-se informar qual o município para verificação da alíquota do ISS vigente. As
alíquotas variam de 2% a 5%.

INSS – 11% do valor total do serviço prestado. Caso o influenciador trabalhe como CLT
em outro local e recolha o INSS pelo teto, deve enviar o comprovante deste recolhimento e
assim não terá o desconto dos 11%.

IRRF – Caso o valor total do serviço ultrapasse R$ 1.903,98 por mês, deve ser utilizada
a Tabela Progressiva abaixo, para retenção dos valores. As alíquotas variam de 7,5% a 27,5%.

Base de Cálculo (R$) Alíquota (%) Parcela a deduzir do IRPF (R$)


Até 1.903,98 - -
De 1.903,99 até 2.826,65 7,5% R$ 142,80
De 2.826,66 até 3.751,05 15% R$ 354,80
De 3.751,06 até 4.664,68 22,5% R$ 636,13
Acima de 4.664,68 27,5% R$ 869,36
INFLUENCIADORES DIGITAIS QUE PRESTAM SERVIÇOS POR MEIO DE PESSOA JURÍDICA

Para os influenciadores digitais que prestem serviços por meio de uma pessoa jurídica
não haverá descontos dos valores a serem recebidos.

O influenciador deve emitir uma nota fiscal com o valor total do serviço prestado e o
valor será pago integralmente.

EXEMPLO PRÁTICO

Um influenciador digital presta o serviço de publicação de vídeo sobre conteúdo da


marca. O valor contratado foi de R$ 5.000,00. Quanto o influenciador irá receber se prestar o
serviço como pessoa física autônoma e quanto receberá emitindo a Nota Fiscal como Pessoa
Jurídica?

PESSOA FÍSICA PESSOA JURÍDICA


Valor Total – R$ 5.000,00 Valor Total – R$ 5.000,00
(-) ISS – R$ 145,00
(-) INSS – R$ 550,00
(-) IRRF – R$ 365,12
Valor Líquido a Receber – R$ 3.939,88 Valor Líquido a Receber – R$ 5.000,00

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