Você está na página 1de 9

jusbrasil.com.

br
17 de Janeiro de 2022

Como funciona o contrato de digital influencer

O surgimento da Internet, seu desenvolvimento e o crescimento das


redes sociais tornaram possível a criação de novas profissões.

O chamado Marketing Digital, por exemplo, criou dezenas de


empregos. Muito, em grande parte, em razão de profissões já existentes
no mundo físico, como, por exemplo, o copywriter, que é uma espécie
de redator publicitário, o suporte digital, que é uma espécie de SAC de
empresas e outros.

Atividades antes restritas apenas à televisão, como, por exemplo, a


propaganda de determinado produto em horário nobre (das 19h às
21h), graças à Internet, agora pode ser feita por qualquer pessoa e em
praticamente qualquer lugar.

E é aqui que se encaixa a figura do digital influencer, ou influenciador


digital. Hoje, praticamente toda rede social tem o potencial de se
tornar um meio de propaganda e de ganhar muito dinheiro com esse
trabalho.
Contudo, como em qualquer outra relação que exista numa sociedade,
alguns mecanismos de proteção e formalidade devem sempre ser
adotados, e em razão disso surge a figura do contrato de influenciador
digital.

O que é um influenciador digital?


Nos moldes de hoje, o influenciador digital é uma pessoa comum com
uma rede social – Instagram, por exemplo – cheia de pessoas que o
admiram, o acompanham e o seguem.

Pessoas como jogadores de futebol e atores são famosos e conhecidos,


normalmente, no mundo todo. O influenciador digital,
necessariamente, não é conhecido no mundo todo; às vezes, não é nem
conhecido no Brasil todo. O que vai definir a sua capacidade de ser um
digital influencer são as métricas de sua rede e sua personalidade.

Uma pessoa que ensine em suas redes sociais sobre malhação, vida
fitness, academia e alimentação pode atrair a atenção de outras pessoas
interessadas no assunto. Essa pessoa não precisa criar um produto
para vender para seus seguidores. O que ele pode fazer é ser
patrocinado por uma loja que venda camisas para academia, por uma
loja de suplementação ou mesmo uma academia.

E é aqui que reside a questão em volta do digital influencer: alguém


contrata a imagem do influenciador para que este faça
propaganda de suas coisas. É por isso que qualquer um pode se
tornar um influenciador digital, desde que tenha um público engajado
para isso.

Os valores que eram pagos às emissoras de televisão para a


propaganda em horário nobre hoje são pagos a muitos
influenciadores. E isso se torna ainda mais evidente quando se vê a
infinidade de jovens que acompanham seus influencers e tem o sonho
de um dia se tornarem um.
Os próximos anos prometem uma expansão ainda maior disso tudo e é
claro que o direito não pode ficar de fora.

Como fazer um contrato com um


influenciador digital?
O contrato feito com um digital influencer é um contrato como
qualquer outro, porém, deve seguir as especificidades da situação do
contratante – empresa – e do contratado – influencer –, que veremos
agora.

Interessante ressaltar que hoje existem empresas de influenciadores


digitais, isto é, empresas que são contratadas por outras marcas para
encontrar influenciadores digitais adequados e certeiros. Funciona
mais ou menos como uma imobiliária: você quer uma casa, então
procura na imobiliária dentro das especificações que você deseja.

Há também, hoje, cursos que ensinam a pessoa a ser um


influenciador digital. Como o mercado cresce e novas profissões
surgem, o direito não pode ficar alheio a isto. Ter um bom contrato,
portanto, é a garantia de profissionalismo, seriedade e
dedicação ao trabalho.

Vejamos alguns pontos que não podem ser esquecidos na hora de


confeccionar um contrato com um influenciador digital.

Qual o CNAE do influenciador digital?


A sigla CNAE significa Classificação Nacional de Atividades
Econômicas, e é a classificação oficial adotada pelo Brasil a respeito
das profissões “regulamentadas”.
Como a atividade de influenciador digital é uma atividade nova, não
há nenhum CNAE para ela. Mas não se preocupe, afinal,
quase todas as atividades digitais estão na mesma situação.

Isso significa que o influenciador digital ou o contratante vão sofrer


algum prejuízo? Não! A atividade no Brasil, desde que lícita, é livre, e
se não há a regulamentação, não significa que não possa ser exercida.

O que fazer então? No contrato, ao especificar o que é um influenciador


digital, explicar o que a pessoa faz ou deve fazer, e procurar encaixar
em uma atividade existente parecida. Por exemplo, existe o CNAE
7311-4/00 usado por agências de publicidade. Um influenciador digital
poderia utilizar-se dele, inclusive, para a abertura de uma MEI
(microempresa individual).

É muito importante colocar essas explicações em um contrato, uma vez


que um contrato é feito para ser lido, é um documento, um acordo de
vontades e, caso surja algum problema na relação e o contrato precise
ser levado ao Poder Judiciário, explicar o que um influenciador digital
faz deixa a situação muito melhor para que o juiz entenda do que se
trate.

A base para o contrato de prestação


de serviços de digital influencer
A base para um contrato com um digital influencer reside nos artigos
593 e seguintes do Código Civil que tratam da prestação de serviços.
Diz a Lei que a prestação de serviço quando não sujeita às leis do
trabalho ou leis especiais serão mantidas pelo Código Civil.

Em outras palavras, uma vez que as características da relação de


emprego (da CLT, sendo onerosidade, habitualidade, subordinação e
pessoalidade) não estão previstas, pode-se fazer um contrato
baseando-se nas regras da lei civil, e é assim que tais contratos
normalmente são feitos. Inclusive, previsões de que no contrato não
existe relação de subordinação, um dos elementos da relação de
emprego, são recomendáveis.

Além disso, a lei civil diz, no artigo 594 algo relevante e que demonstra
o que já foi dito assim: não é porque não há regulamentação da
profissão de influenciador digital que alguém não pode
trabalhar com isso:

Art. 594. Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou


imaterial, pode ser contratada mediante retribuição.

Em resumo, se as partes forem capazes (maiores, normalmente), o


objeto da prestação de serviço lícito (o serviço de influencer é lícito) e
não houver impedimento legal (como não há), os requisitos do artigo
104 do Código Civil estarão preenchidos e, portanto, o negócio será
válido.

Há que se ressaltar que se o prestador de serviço for menor


de idade, entre 14 e 15 anos, os pais deverão assinar o
contrato por ele, agindo como representantes; no caso de 16
a 17 anos, os pais deverão assinar junto ao adolescente. O
motivo é bastante simples: a relação tratada aqui é uma relação de
direito civil, e não de direito trabalhista, por isso se reforça a
importância de não demonstrar os requisitos da relação de emprego,
sob pena de o contratante ser prejudicado futuramente em eventual
desavença e ajuizamento de uma ação trabalhista por parte do
influenciador digital.

O que não pode faltar em um


contrato com um influenciador
digital?
Seja você o contratante (empresa) ou o contratado (influencer), preste
atenção em alguns pontos. Eles vão servir para que você entenda
melhor o seu negócio.

3.1 Quantidade de seguidores e mídia social a ser utilizada

Lembre-se de colocar, no momento em que for qualificar o


influenciador digital, a quantidade de seguidores que ele tem na
respectiva rede social de trabalho. Por exemplo: “Paulo Sousa,
brasileiro, solteiro, CPF X, residente e domiciliado em X, influenciador
digital com 300 mil seguidores no Instagram na data da assinatura do
contrato”.

A razão disso é bastante simples: você já deixa claro que um dos


motivos que levou à contratação foi a quantidade de seguidores na rede
social. Se você for um influenciador digital, talvez seja interessante não
colocar esse dado. Na prática, não haverá tanta diferença, mas um bom
profissional, no caso de algum problema, poderá usar disso.

Há que se falar também sobre a possibilidade de conferir o


engajamento. Há muitas pessoas que fraudam seus perfis com
esquemas de compra de seguidores. Quando o perfil é acessado, nota-
se milhões de seguidores, contudo, o perfil é totalmente desengajado
(sem movimentação e distribuição dos conteúdos públicos para as
pessoas). É interessante colocar uma cláusula falando sobre isso no
caso de compra de seguidores ou na descoberta de que o perfil teve
seguidores comprados.

3.2 Onde o marketing de influência vai acontecer?

Se o influenciador for dono de uma conta no Instagram, por exemplo, e


o marketing disser respeito a isso, convém esclarecer por onde as
propagandas serão feitas, se nos stories, feed ou em ambos. Se haverá
reels ou outros tipos de publicações como o IGTV.
Isso é interessante principalmente do ponto de vista do influenciador,
pois ele poderá negociar junto ao contratante, de modo que se forem
necessárias mais plataformas de divulgação, outros preços poderão ser
cobrados.

Contratos genéricos podem dar interpretações ambíguas e prejudiciais


para ambas as partes, por exemplo, “o presente contrato estabelece que
o influenciador Paulo Sousa terá que usar o seu Instagram para as
propagandas, divulgações e afins”. Ora, quantas vezes? Por quanto
tempo? Tudo isso deve ser pensado. É muito comum esse tipo de
questionamento surgir somente quando a situação gera problema,
portanto, sempre esteja pronto.

3.3 Quais são as obrigações do influencer e do contratante?

Preste atenção: talvez este seja um dos tópicos mais importantes de


todos. As obrigações são os alicerces dos contratos. Fazem-se
contratos por obrigações, por direitos e deveres. Quais são as
obrigações de ambas as partes?

Quanto a isso, fique sempre muito atento e pergunte-se: quais são os


produtos que o contratante (a empresa) quer que sejam divulgados?
Quantos? Em quais datas? Haverá algum cronograma? Nunca faça um
contrato sem pensar nisso.

Outros pontos fundamentais: qual a qualidade do vídeo e áudio


utilizados pelo influenciador? O influenciador vai postar na sua página
(direto) ou vai repostar (indireto) da página do contratante? O
influenciador vai receber algum produto? Este produto pertencerá a
ele? Em qual data o influenciador vai receber o seu pagamento? Qual
será a forma de pagamento? Fixo ou comissão?

Por fim, será permitido algum ato de concorrência por parte do


influenciador? Se isso acontecer, como ficará o contrato? O
influenciador, após o término do contrato, terá de manter as
publicações no seu perfil?
São perguntas totalmente capazes de te auxiliar a refletir a respeito de
todas as possíveis variáveis que existem dentro de uma relação
“contratante-influenciador”.

3.4 O influenciador teve uma opinião polêmica. E agora?

É bastante comum encontrarmos na mídia diversos personagens que,


em razão de suas opiniões, perderam contratos de patrocínios. Qual a
motivação por detrás disso? Ora, a Internet, quando quer, torna-se
uma máquina de moer, capaz de acabar com a vida de pessoas.

Quando uma pessoa está ligada a uma marca, o efeito,


costumeiramente, se reflete na marca. É por isso que há rompimento
entre tais partes. Normalmente, além das cláusulas vedando a
concorrência e garantindo a exclusividade, faz-se uma cláusula,
normalmente, chamada de “Cláusula Moral”.

Em resumo, essa cláusula garante que o contrato seja


desfeito no caso de o influencer manifestar alguma opinião
polêmica ou discriminatória que venha a manchar o nome da
marca ou empresa.

Tal previsão é totalmente lícita e, uma vez prevista, restará apenas


definir alguns aspectos como valores de multas e indenizações cabíveis.

Vale a pena fazer um contrato com


um influenciador digital?
Vale! Não somente com um influenciador digital, mas sim
com qualquer pessoa. É muito comum as pessoas dizerem que
“contrato não segura ninguém”, que “se a pessoa não quiser pagar, ela
não vai mesmo”. Ora, isso não é verdade.
É plenamente possível planejar e negociar de modo a garantir o risco
do contrato, ou seja, se em eventual discordância e rescisão, se será
possível receber os valores combinados. Uma das formas de isso
acontecer é convencionando pagamento antecipado. Contudo, isso é
apenas um detalhe.

O que as pessoas precisam tomar consciência é que um


contrato não é simplesmente um mecanismo de defesa, mas
sim um mecanismo de formalidade, de segurança, de
seriedade, formalidade e respeito.

Empresas grandes só negociam mediante contrato. Quem quer que seja


que se proponha a crescer deve pensar nisso.

E é mais do que evidente que há tantas outras cláusulas possíveis e


ideias possíveis para se convencionar, e aqui reside a beleza no direito
contratual: as partes podem fazer praticamente tudo, basta saberem o
que estão fazendo.

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado. É impossível trabalhar


todos os detalhes, mas aqui tentamos mostrar alguns pontos centrais
e esperamos que eles sirvam de auxilio.

Um abraço!

Você tem alguma dúvida sobre os contratos de digital


influencer? Escreva aqui nos comentários que nós te
ajudaremos.

Disponível em: https://afamadeu.jusbrasil.com.br/artigos/1353187708/como-funciona-o-


contrato-de-digital-influencer

Você também pode gostar