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Compliance

Concorrencial
Módulo

4 Ações preventivas no Compliance Concorrencial


Fundação Escola Nacional de Administração Pública

Presidente
Diogo Godinho Ramos Costa

Diretor de Desenvolvimento Profissional


Paulo Marques

Coordenador-Geral de Produção de Web


Carlos Eduardo dos Santos

Equipe
Alden Caribé (Conteudista, 2021).
Ana Beatrice Neubauer (Revisora, 2021)
Erley Ramos Rocha (Coordenador Web e Implementador Articulate, 2021)
João Paulo Albuquerque Cavalcante (Diagramação e produção gráfica, 2021)
Juliano Pimentel (Conteudista, 2021).
Lavínia Cavalcanti (Coordenadora de desenvolvimento, 2021).
Rodrigo Mady da Silva (Implementador Moodle, 2021)

Desenvolvimento do curso realizado no âmbito do acordo de Cooperação Técnica FUB / CDT /


Laboratório Latitude e Enap.

Enap, 2021

Enap Escola Nacional de Administração Pública


Diretoria de Educação Continuada
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF

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Sumário
Unidade 1: Adoção de código de conduta.................................................................................6
1.1. O compliance concorrencial no código de conduta................................................................6
1.2. Exemplos de padrões de condutas relacionados a riscos concorrenciais...............................8
1.3. Elaboração do código de conduta.........................................................................................14

Unidade 2: Comunicação e treinamento................................................................................17

Unidade 3: Comprometimento da alta gestão........................................................................21

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4
Módulo
Ações preventivas no Compliance Concorrencial

Olá!

Desejamos boas-vindas ao módulo 4 do curso Compliance Concorrencial.

É um prazer ter você como participante e auxiliar na construção do seu conhecimento acerca
desse tema.

Neste módulo abordaremos os seguintes tópicos:

Unidade 1: Adoção de código de conduta


Unidade 2: Comunicação e treinamento
Unidade 3: Comprometimento da alta gestão

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Unidade 1: Adoção de código de conduta
Objetivos de Aprendizagem

Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer a importância da adoção do código de
conduta para a efetiva implementação do programa de compliance em uma organização.

O código de conduta talvez seja a face mais visível do compliance em uma organização. Trata-
se de um documento central, que orienta e explicita as condutas consideradas adequadas,
inadequadas e aquelas consideradas inaceitáveis (em inglês, DOs and DON’Ts).

O que se busca com o programa de compliance é que o padrão de conduta considerado adequado
e desejado pela organização seja cumprido. O código de conduta orienta e sistematiza esse
padrão de comportamento a ser atendido pela organização e seus colaboradores.

O padrão de conduta apresentado no código abrange todas as dimensões legais


e éticas consideradas importantes pela organização. Assim, é fundamental que
considere também os parâmetros de comportamento sob a ótica concorrencial.

1.1. O compliance concorrencial no código de conduta


O código de conduta da organização e as iniciativas de comunicação a ele relacionadas devem
contemplar os principais conceitos do programa de compliance concorrencial. Dessa maneira,
a empresa transmite a todos os colaboradores a mensagem de que eventual envolvimento em
práticas que infrinjam a legislação concorrencial será também considerada uma violação do
referido código, o que resultará na aplicação das penalidades disciplinares nele previstas.

Duas características essenciais do código de conduta são:


acessibilidade e alcance.

A acessibilidade do código de conduta

O código de conduta deve ser acessível, ou seja, deve ser fácil entendimento e compreensão por
parte do público a que se destina.

Nesse sentido, é fundamental que o código seja elaborado em linguagem simples e apropriada
ao público da organização. Entenda algumas características fundamentais para garantir sua
acessibilidade:

Objetividade

Deve ser redigido de forma clara, objetiva e direta. É recomendável que o código

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não seja um documento longo, para não desencorajar sua leitura completa. Se
necessário, podem ser desenvolvidos documentos complementares para disciplinar
determinados aspectos que demandam mais atenção (por exemplo, sobre a relação
com fornecedores, com o poder público, relação trabalhista, entre outros).

Linguagem simples

Devem ser evitados termos e jargões jurídicos

Uso de exemplos

Sempre que possível, o código deve apresentar exemplos do que pode e do que
não pode ser feito, sempre em situações concretas adequadas à realidade da
organização.

Perguntas frequentes

Considere a elaboração de uma seção de perguntas e respostas.

Canal de comunicação

Considere a criação de um canal para consultas, dúvidas e lacunas sobre a aplicação


do código no caso concreto.

O alcance do código de conduta

Quanto ao alcance, o código de conduta deve alcançar todos os colaboradores internos, do


CEO ao funcionário de menor nível hierárquico. Se for o caso, inclusive parceiros externos da
organização, como subsidiárias, empresas consorciadas, colaboradores terceirizados, clientes
fornecedores, entre outros.

Para definir o público a ser atingido pelo programa de compliance, é fundamental que seja
realizado o mapeamento de riscos.

Assim, se o mapeamento identificar a existência de riscos na relação com terceiros, deve-se


considerar a prescrição de padrões de comportamento de colaboradores na relação com
parceiros externos, mas também a adoção de mecanismos para a aplicação do código também
a esses terceiros.

Por exemplo: uma empresa pode estabelecer regras contratuais com seus
fornecedores, exigindo que seja adotado o padrão de comportamento previsto
no código de conduta.

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Para que se alcance todo o público sujeito ao programa de compliance, é recomendável que a
organização adote estratégias e ações de divulgação, comunicação e treinamento.

O documento com o código de conduta deve estar disponível a todos, inclusive a terceiros.
Muitas organizações adotam uma postura de transparência ativa e disponibilizam o código de
conduta em sua página na internet.

O conteúdo do código de conduta deve ser concreto

As regras de conduta devem ser concretas e devem se aplicar de forma específica aos riscos
identificados pela organização.

Padrões de conduta previstos de forma genérica dificilmente transformam o comportamento


dos colaboradores.

Assim, o código de conduta deve buscar sempre situações mais próximas do dia a dia da
organização

Por exemplo, uma regra prevista de forma genérica seria: “Os


colaboradores devem observar a Legislação de Defesa da Concorrência,
em especial a Lei 12.529/2011”.

A Lei 12.529/2011 é muito ampla e apresenta apenas um rol exemplificativo


de condutas passíveis de serem consideradas uma infração à ordem
econômica.

Por exemplo, se uma empresa participa de eventos e associações em


que há contatos com concorrentes, uma forma concreta de estabelecer
a regra de conduta seria:

“Se houver contato com representantes de concorrentes, é expressamente


proibida a discussão de assuntos relacionados a preços ou quantidades
vendidas, produzidas ou em estoque”.

1.2. Exemplos de padrões de condutas relacionados a riscos concorrenciais


Agora, acompanhe uma lista de condutas, ordenadas por tipo de risco, que devem ser evitadas
para não configurar irregularidade concorrencial:

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Risco da prática de cartel:

• É proibido qualquer entendimento, combinação, acordo, ajuste, discussão ou


sinalização de preços, descontos, reajustes entre concorrentes.
• É proibido qualquer entendimento, combinação, acordo, ajuste, discussão ou
sinalização de quantidades produzidas ou ofertadas.
• É proibido qualquer entendimento, combinação, acordo, ajuste, discussão ou
sinalização para divisão de clientes, fornecedores ou área geográfica.
• Qualquer comunicação (por telefone, aplicativo, reunião, etc.) que possa indicar a
ocorrência de alguns dos eventos indicados deve ser imediatamente interrompida,
registrando-se o motivo.

Exemplo: um conhecido, funcionário de empresa concorrente, entra em


contato com você por uma rede social e pergunta se a empresa iria repassar
os custos decorrentes do aumento nos preços dos insumos. Responda que
a pergunta é inapropriada por violar o código de conduta e a legislação de
defesa da concorrência.

Entenda outros exemplos de práticas a serem evitadas, de acordo com o Guia de Compliance do
Cade (CADE, 2016, p. 32):

Nunca compartilhar com concorrentes informações próprias


confidenciais, concorrencialmente sensíveis ou relacionadas às
estratégias da empresa;
Não discutir, negociar, fazer acordo com concorrentes sobre preços
ou divisão de mercados e/ou estabelecimento de limites de atuação
no que se refere a territórios, produtos e/ou clientes;
Caso a conversa telefônica da qual participe com concorrentes
caminhe para temas relacionados a informações concorrencialmente
sensíveis, recusar-se a tratar do tema e, caso o interlocutor insista no
assunto, desligar o telefone. Proceder da mesma forma ainda que
esteja presente na conversa (conferência telefônica – conference
call) apenas como ouvinte, avisando a todos do desligamento.
Solicitar para sempre deixar registrado em ata o motivo da saída;
Caso a reunião da qual participe com concorrentes caminhe para
temas relacionados a informações concorrencialmente sensíveis,
recusar-se a tratar do tema e, caso o interlocutor insista no assunto,
sair do recinto e fazer constar a recusa e o registro de saída na
Ata de Reunião (se houver). Proceder da mesma forma ainda que
esteja presente na conversa apenas como ouvinte;
Faça-se acompanhar de advogado da empresa em reuniões com
concorrentes que se façam estritamente necessárias. O advogado
servirá não apenas para esclarecimentos de dúvidas quanto a
temas possíveis de serem abordados, como também para fiscalizar
e atestar a regularidade dos temas tratados;

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Reportar imediatamente ao Departamento Jurídico qualquer
conversa imprópria de iniciativa de um concorrente ou a divulgação
por ele, por qualquer meio, de informações concorrencialmente
sensíveis, para conhecimento e eventuais providências pelo
Jurídico da organização.

Dica: é fundamental o treinamento dos colaboradores que se relacionam com


concorrentes. Eles devem ter claro conhecimento sobre quais informações
podem ser compartilhadas e quais não podem.

Risco da prática de cartel em licitações públicas:

• É proibido qualquer entendimento, combinação, acordo, ajuste, discussão ou


sinalização de preços e descontos entre concorrentes para participação em licitações
públicas.
• É proibida a apresentação de propostas fictícias ou propostas de cobertura em
licitações públicas.

Os funcionários que atuam em processos licitatórios, na elaboração de


propostas ou na participação de sessões de apresentação de
propostas também devem ser especificamente treinados.

Risco de adoção ou promoção de conduta coordenada:

Associações representativas de algum setor econômico são formas legítimas de promoção de


interesses em uma democracia. Contudo, a adoção de algumas políticas ou práticas podem
resultar em infração à ordem econômica.

• É proibida a adoção de tabelas de preços. Salvo expressa previsão legal, não devem
ser adotadas tabelas de preços sob qualquer forma (preços máximos, mínimos,
referenciais, etc.).
• É vedada a comunicação, sinalização ou orientação que digam respeito à definição
de preços, reajustes, descontos, custos, estoques, níveis de produção, entre outros.

Saiba mais
Exemplo: Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim,
Balas e Derivados – ABICAB, entidade que reúne as maiores empresas de
chocolates do país, foi investigada pelo Cade e celebrou acordo com Cade
com pagamento de contribuição pecuniária, após ter anunciado publicamente
a expectativa de percentual de aumento de preços para a Páscoa em 2009. O

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anúncio público quanto aos reajustes representou uma sinalização para agentes
do setor, com efeito potencial de coordenação sobre a política de preços. Para
saber mais sobre o caso, acesse: http://www.cade.gov.br/noticias/cade-celebra-
tcc-com-associacao-de-empresas-de-chocolates

Dica: é recomendável que o funcionário de empresa que participa de reuniões


em associações passe por treinamentos de compliance concorrencial e tenha
acompanhamento direto pela área de compliance, de modo que esteja instruído
quanto ao que pode e o que não pode ser discutido com concorrentes.

Entenda sobre outras recomendações do Guia de Compliance do Cade (CADE, 2016, p. 35) para
organizações membro de associações e sindicatos:

Nunca associar-se a entidades cujo próprio objeto é a


coordenação entre concorrentes;

Analisar com cautela quais serão os colaboradores que


participarão de reuniões, evitando, quando possível, que eles
sejam diretores comerciais, gerentes de vendas, e funcionários
diretamente envolvidos com a estratégia comercial da
organização;

(...) Sempre e todas as vezes solicitar reconhecimento em ata


de tudo quanto ocorrer nos encontros, sendo importante que,
uma vez que a empresa acredite que o tópico de discussão
apresenta risco concorrencial, ela se retire da reunião e tenha
esse fato registrado;

Fazer exame prévio da pauta das reuniões, recusando-se de


antemão a participar daquelas em que o objetivo do próprio
encontro seja discutir temas concorrencialmente sensíveis;

Ao comparecer em reuniões nas quais os concorrentes estejam


presentes, não se engajar em atividades legalmente proibidas
mesmo se elas forem “oficialmente aprovadas” pelo grupo que
estiver promovendo a reunião ou por outras pessoas que já
estiverem dela participando;

Ao tomar conhecimento de qualquer atividade proibida


no âmbito da associação/sindicato, entre em contato
imediatamente com a equipe de compliance;

Sempre revisar e aprovar o conteúdo a ser divulgado pela


associação/sindicato.

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Finalmente, confira as recomendações que o Guia do Cade traz para as próprias associações e
sindicatos:

• TRANSPARÊNCIA quanto à pauta das reuniões, enviando-as com antecipação aos


membros.
• AGREGAÇÃO DAS INFORMAÇÕES a serem divulgadas para não permitir a
identificação dos dados individuais das empresas.
• AUDITAR as coletas de dados junto aos seus associados.
• APENAS DADOS HISTÓRICOS devem ser requisitados.
• PUBLICIDADE dos dados, sempre que possível, disponibilizando os dados coletados
não somente para os seus membros, mas também ao público, ainda que apenas
por meio de pagamento, a fim de eliminar qualquer desconfiança sobre suas
práticas.
• NÃO DEVEM SER DIVULGADOS preços atuais e futuros, custos, níveis de produção,
estoques, planos de marketing, planos de crescimento, política de descontos de
seus associados, entre outras informações concorrencialmente sensíveis de seus
membros.
• SIGILO na solicitação e recebimento de informações individuais concorrencialmente
sensíveis, jamais compartilhando com os demais associados.
• NÃO DISCRIMINAR agentes na admissão de novos membros (CADE, 2016, pp. 35 e
36).

Risco da prática de abuso de posição dominante

A definição das práticas que podem ser consideradas ilícitas pela Lei 12.529/2011 é meramente
exemplificativa. Não é possível estabelecer, de antemão, uma relação de práticas permitidas e
proibidas.

A mesma prática adotada por duas empresas diferentes pode ser uma infração para uma e
para outra não haver qualquer consequência legal. Ou, a mesma prática adotada pela mesma
empresa pode ter enquadramentos distintos ao longo do tempo: pode ser considerada legal
quando implementada e depois, verificados os seus efeitos, pode ser considerada ilegal.

No caso de práticas adotadas por empresas que possuem posição dominante em um determinado
mercado relevante (a Lei 12.529/2011 adota a presunção de dominância quando controlar 20%
ou mais de um mercado relevante), as práticas comerciais e seus efeitos potenciais devem ser
avaliados antes, durante e após a sua adoção.

Existe uma “linha cinzenta” entre o que pode e o que não pode ser feito, tornando complicado
o exercício de elencar práticas de condutas unilaterais lícitas e ilícitas em um código de conduta.
Essa particularidade torna o compliance concorrencial ainda mais desafiador em relação a outras
áreas de compliance.

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Contudo, isso não isenta a organização de adotar medidas para prevenir,
detectar e mitigar riscos de infração à ordem econômica. Nesses casos, a política
comercial da organização deve ser acompanhada pela equipe de compliance
concorrencial, devendo-se avaliar seus efeitos potenciais e concretos.

Risco da prática de consumação antecipada de ato de concentração (gun jumping):

Entende-se por gun jumping a infração concorrencial decorrente da consumação de um ato de


concentração antes da sua devida aprovação pelo Cade.

Quando a empresa se envolver em operações de fusões e aquisições, deverá adotar medidas


para não consumar a operação antes da aprovação no Cade.

A notificação e a validação prévia do Cade são necessárias nas operações em que um dos grupos
envolvidos tenha faturamento bruto anual ou volume de negócios Brasil, no ano anterior à
operação, equivalente ou superior a R$ 750 milhões, e pelo menos um outro grupo envolvido
tenha faturamento bruto anual ou volume de negócios Brasil, no ano anterior à operação,
equivalente ou superior a R$ 75 milhões.

Nesses casos, as empresas deverão estar atentas e adotar medidas para manter o ambiente
concorrencial o mais intacto possível até a conclusão da análise pelo Cade, adotando-se cautelas
para evitar a ocorrência de:

• Trocas de informações concorrencialmente sensíveis, de forma a prejudicar a


concorrência entre elas caso o ato de concentração não seja consumado.
• Definição de cláusulas contratuais que regem a relação entre agentes econômicos
antes de concluída análise antitruste pelo Cade, permitindo a integração prematura
das atividades das partes envolvidas no ato de concentração.
• Atividades das partes antes e durante a implementação do ato de concentração,
que implicam a consumação efetiva de ao menos parte da operação antes da sua
devida aprovação pelo Cade, como a transferência de ativos ou exercício de direitos
políticos.

Saiba mais
Os parâmetros de análise e procedimentos para evitar a ocorrência do gun
jumping podem ser verificados no Guia para Análise de Consumação Prévia de
Atos de Concentração do Cade.

Dada a especificidade do tema, não é possível estabelecer disposições específicas e exaustivas


sobre gun jumping nos códigos de conduta. Nesses casos, é importante que as operações sejam

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acompanhadas pelo responsável pelo compliance concorrencial.

1.3. Elaboração do código de conduta


O código de conduta pode ser elaborado internamente na empresa ou externamente, quando se
contrata um consultor para essa tarefa. Em ambos os casos, é fundamental que haja o envolvimento
dos colaboradores centrais da organização e que haja a participação e comprometimento da alta
direção no processo de elaboração.

Esse cuidado é fundamental para que o código de conduta tenha credibilidade, legitimidade e
aderência com a cultura da organização e os riscos envolvidos.

Nesses termos, é relevante a contribuição do Guia de Compliance do Cade (CADE, 2016, p. 23):

A estratégia de elaboração de qualquer material escrito, seja ele


um Código de Conduta, um guia ou ainda orientações voltadas
especificamente ao compliance, precisa levar em conta a estrutura
da organização a que este material se destina. Cartilhas, códigos,
guias e orientações que adotam objetivos irreais, descrevem as
situações de forma idealizada ou demasiado distante do que se
apresenta no dia-a-dia da entidade costumam não surtir efeitos –
ou, em certos casos, até mesmo surtir efeitos negativos, pois os
colaboradores passam a questionar a validade de um programa
que não compreende a realidade por eles vivida.

É recomendável que o código seja revisto ao final por um profissional da área jurídica para
evitar que contenha disposições que contrariem a legislação. No entanto, é importante ter em
mente que a elaboração do código de conduta não é só uma tarefa normativa e não deve se
encerrar na análise jurídica do documento, sob o risco de se tornar um documento inócuo. Ele
deve ser avaliado pela sua capacidade de ser compreendido e de efetivamente transformar o
comportamento do público da organização. Assim, aderência à cultura organizacional é mais
importante do que a qualidade técnica do código de conduta.

Cuidado: ao elaborar um código de conduta, é comum uma organização copiar


o código de outra, ainda que parcialmente. A busca por boas práticas e a
consulta aos códigos de outras organizações pode ser positiva, mas a adoção
de códigos ou trechos de códigos deve ser feita com muito cuidado e com a
devida adaptação para a realidade da sua organização, sob pena de elaborar
um documento meramente formal, um código de fachada.

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Procedimentos e medidas disciplinares

Além de apresentar os comportamentos considerados adequados e inadequados, o código


de conduta deverá explicitar os procedimentos a serem adotados em situações de risco
concorrenciais, assim como as punições para os comportamentos inadequados.

Os colaboradores não devem apenas saber distinguir o certo do errado.


Devem saber agir quando identificarem situações de risco ou violações
ao padrão de comportamento, reportando devidamente a
área de compliance sobre o ocorrido.

É importante que as medidas disciplinares sejam proporcionais e efetivamente aplicáveis,


sob pena de comprometer a credibilidade e a efetividade das regras de conduta adotadas.

Saiba mais
Para saber mais sobre o assunto, acesse ao vídeo:

8 Dicas para Desenvolver um Código de Conduta para sua Empresa, ele está
disponível na plataforma YouTube, no canal ProdutividadeMaxima.

Referências
BRASIL. Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011. Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência. […] e dá outras providências. Presidência da República, Brasília, 2011.

BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia Programas


de Compliance: orientações sobre a estruturação e benefícios da adoção de programas de
compliance concorrencial. Brasília: CADE, 2016. Disponível em: https://cdn.cade.gov.br/
Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/guia-compliance-versao-oficial.pdf?_
ga=2.115214023.1762744349.1612482262-741839812.1586804804. Acesso em: 04 fev. 2021.

BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia para Análise
da Consumação Prévia de Atos de Concentração Econômica. Brasília: CADE, 2015. Disponível
em: https://cdn.cade.gov.br/Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/gun-
jumping-versao-final.pdf Acesso em: 23 abr. 2021.

IBGC. Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Compliance à Luz da Governança


Corporativa. IBGC: São Paulo, 2017. Disponível em: https://www.legiscompliance.com.br/
images/pdf/ibgc_orienta_compliance_a_luz_da_governaca.pdf. Acesso em: 04 fev. 2021.

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ICC. International Chamber of Commerce. The ICC Antitrust Compliance Toolkit: practical
antitrust compliance tools for SMEs and larger companies. ICC Commission on Competition,
2013. Disponível em: https://iccwbo.org/publication/icc-antitrust-compliance-toolkit/. Acesso
em: 04 fev. 2021.

KPMG. Pesquisa Maturidade do Compliance no Brasil. 4. ed. Brasília: KPMG, 2019. Disponível
em: https://assets.kpmg/content/dam/kpmg/br/pdf/2019/10/br-pesquisa-de-maturidade.pdf.
Acesso em: 04 fev. 2021.

United Kingdom. Office of Fair Trade. How your business can achieve compliance with
competition law. Londres: OFT, 2011. Disponível em: https://assets.publishing.service.gov.uk/
government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/284402/oft1341.pdf. Acesso em:
04 fev. 2021.

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Unidade 2: Comunicação e treinamento
Objetivos de Aprendizagem

Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer as principais características da


comunicação e do treinamento para a efetiva implementação do programa de compliance em
uma organização.

As iniciativas de treinamento e comunicação são formas comuns de disseminação, compreensão e


mobilização dos colaboradores para promoção de uma cultura de compliance. Uma característica
dos bons programas de compliance é a adoção de treinamentos e estratégias de comunicação
sob medida para a organização. Alguns exemplos de estratégia são:

Crie um plano para a sua organização

Essa estratégia pode ser construída por meio da elaboração de um plano de comunicação e
treinamento, com o objetivo de promover, reforçar e engajar a organização para a cultura de
compliance. Esse plano de comunicação e treinamento deve prever as iniciativas de comunicação
e treinamento, o público de cada uma, a periodicidades, assim como formas de monitorar e
avaliar a aderência das iniciadas ao programa de compliance e o engajamento dos colaboradores.

Trace um diagnóstico

O plano deve considerar os riscos mapeados, a cultura organizacional, o público a ser atendido,
a quantidade e o perfil das pessoas e o conhecimento prévio sobre o tema. Com base nessas
informações, estabeleça objetivos, metas e estratégias e iniciativas para alcançá-los.

Atenção às especificidades das organizações multinacionais

Organizações multinacionais ou que atuam em diversas regiões do país devem ficar atentas às
especificidades locais, linguísticas e culturais.

Treinamento de funcionários e parceiros

A política de compliance, o código de conduta e os procedimentos devem ser integrados à


organização, inclusive por meio de treinamentos periódicos dos funcionários, especialmente
aqueles em posições chave e, se for o caso, parceiros.

No caso do compliance concorrencial, é fundamental que os funcionários que atuem na área


comercial e no setor de licitações sejam capacitados de forma periódica e frequente.

Maiores esforços e recursos devem ser dedicados aos treinamentos de funcionários em atividades
que envolvem maiores riscos.

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Treinamento da alta gestão

Atores centrais na organização, como os diretores, membros do conselho de administração e


funcionários que atuam em funções centrais de controle devem receber treinamento diferenciado
e personalizado.

O treinamento da alta gestão é essencial, não apenas pela sua posição de comando e decisão na
organização, mas também para dar o exemplo e demonstrar comprometimento com a cultura
de compliance.

Canais de comunicação

A comunicação e divulgação pode aproveitar os canais internos disponíveis na organização, como


a intranet, e-mails, mídias sociais, jornais e cartazes.

Treinamento prático

Os treinamentos devem incluir conselhos práticos e podem envolver o estudo de casos, situações-
problema e dilemas relacionados com contextos cotidianos. Discuta com o seu setor de gestão
de pessoas sobre os métodos de treinamento mais adequados à realidade da sua organização.

Algumas organizações podem também optar por cursos curtos, direcionados para pessoas
centrais na organização e que visam atingir alguma questão específica sobre um risco identificado
na organização.

Uma outra boa prática é sempre incluir mensagens e módulos de compliance em outras iniciativas
de comunicação e treinamento da organização.

Certificações de treinamento

Para garantir a ciência de todos sobre o código de conduta e as políticas de compliance,


a organização pode, por exemplo, certificar os colaboradores treinados e solicitar que os
funcionários atestem formalmente, por escrito, que foram treinados e que conhecem o seu
conteúdo.

Faça revisões periódicas

Reveja o Plano de Comunicação e Treinamento periodicamente, assim como as iniciativas


de comunicação, sendo atualizadas para incorporar novas mudanças na legislação ou na
jurisprudência do Cade.

A ICC, em seu Guia com Ferramentas para o Compliance Antitruste, sugere algumas orientações
práticas sobre o treinamento em compliance antitruste. São elas:

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• Treine as pessoas certas. Identifique os empregados que devem ser treinados
prioritariamente. Foque nos colaboradores que estão mais submetidos aos riscos
concorrenciais, por exemplo, a equipe de vendas ou setor comercial, colaboradores
que participam de reunião em associações, sindicatos e eventos setoriais em que
há encontros com concorrentes, assim como os colaboradores responsáveis pela
participação em licitações públicas.
• Treine os novos colaboradores em posição de risco concorrencial, tanto os recém-
contratados quanto aqueles que mudaram de posição na organização.
• No caso de profissionais em situação de risco concorrência, dê preferência para os
treinamentos presenciais e em grupos menores.
• Se sua organização é pequena e não tem condições de desenvolver um curso
específico sobre direito concorrencial, considere enviar alguns funcionários em
posição central para um curso externo, de modo que possam atuar como
multiplicadores dentro da organização.
• Explore diferentes métodos de treinamento (estudos de casos, sessões de perguntas
e respostas, sessões de discussão, rodas de conversa e outros métodos interativos)
como forma de atrair a atenção e engajar os colaboradores.
• Registre as atividades de treinamento para auxiliar o monitoramento e a mensuração
de resultados.

Referências
BRASIL. Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011. Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência. […] e dá outras providências. Presidência da República, Brasília, 2011.

BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia Programas


de Compliance: orientações sobre a estruturação e benefícios da adoção de programas de
compliance concorrencial. Brasília: CADE, 2016. Disponível em: https://cdn.cade.gov.br/
Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/guia-compliance-versao-oficial.pdf?_
ga=2.115214023.1762744349.1612482262-741839812.1586804804. Acesso em: 04 fev. 2021.

BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia para Análise
da Consumação Prévia de Atos de Concentração Econômica. Brasília: CADE, 2015. Disponível
em: https://cdn.cade.gov.br/Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/gun-
jumping-versao-final.pdf Acesso em: 23 abr. 2021.

IBGC. Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Compliance à Luz da Governança


Corporativa. IBGC: São Paulo, 2017. Disponível em: https://www.legiscompliance.com.br/
images/pdf/ibgc_orienta_compliance_a_luz_da_governaca.pdf. Acesso em: 04 fev. 2021.
ICC. International Chamber of Commerce. The ICC Antitrust Compliance Toolkit: practical
antitrust compliance tools for SMEs and larger companies. ICC Commission on Competition,
2013. Disponível em: https://iccwbo.org/publication/icc-antitrust-compliance-toolkit/. Acesso
em: 04 fev. 2021.

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KPMG. Pesquisa Maturidade do Compliance no Brasil. 4. ed. Brasília: KPMG, 2019. Disponível
em: https://assets.kpmg/content/dam/kpmg/br/pdf/2019/10/br-pesquisa-de-maturidade.pdf.
Acesso em: 04 fev. 2021.

United Kingdom. Office of Fair Trade. How your business can achieve compliance with
competition law. Londres: OFT, 2011. Disponível em: https://assets.publishing.service.gov.uk/
government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/284402/oft1341.pdf. Acesso em:
04 fev. 2021.

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Unidade 3: Comprometimento da alta gestão
Objetivos de Aprendizagem

Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer a importância do comprometimento da


alta gestão para a efetiva implementação do programa de compliance em uma organização.

Você sabia que muitos programas de compliance falham mesmo sendo bem desenhados, com
procedimentos bem definidos, conduzidos por profissionais qualificados e por uma equipe bem
treinada?

Um fator essencial e absolutamente necessário para garantir a efetividade de um programa de


compliance é o real comprometimento da alta direção da organização.

Em lugares em que a cultura de compliance é claramente apoiada pela alta


gestão, os colaboradores naturalmente irão atuar de acordo com os padrões
de conduta. Essa adesão dos colaboradores ocorre não pelo medo de punição,
mas pela crença de que é o certo a ser feito. O apoio da alta gestão oferece a
segurança de que o certo é bem-vindo e esperado.

Um termo em inglês muito utilizado para designar esse comprometimento da mais alta gestão é
tone at the top (em tradução livre, “o tom vem de cima”), em que os líderes definem o “tom”: a
mensagem, imagem e atitude da organização.

Se os dirigentes exigem resultados a todo custo, a mensagem é a de que não há valor no compliance
e práticas antiéticas e ilícitas serão toleradas se trouxerem resultados. Não há como a cultura do
compliance prosperar nessa organização, por melhor que seja o seu código de conduta ou seu
programa de compliance.

O suporte e comprometimento dos dirigentes máximos da organização são essenciais para


construir e manter uma cultura de ética e compliance. Assim, o compliance deve ser uma das
prioridades estratégicas da gestão. Os dirigentes devem participar da concepção do programa e
acompanhar sua implementação, do mesmo modo, a equipe de compliance deve participar de
reuniões frequentes com a alta gestão (por exemplo, o Conselho de Administração) para reportar
a implementação e resultados do programa.

É fundamental que o compliance tenha sempre espaço na agenda das lideranças e seja um tópico
de destaque nas reuniões de gestão, sendo estabelecidas metas de compliance entre as metas
estratégicas da organização.

Sobretudo, a alta direção deve dar o exemplo em suas ações. A atitude fala
mais do que palavras. Os executivos devem atuar em absoluta conformidade
com as regras de conduta, também devem participar das ações de treinamento
e comunicação. Se necessário, os dirigentes podem ser submetidos às medidas
disciplinares, assim como os demais colaboradores.

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Temas de compliance também precisam ser incluídos nos comunicados, mensagens e declarações
públicas das lideranças, o comprometimento da alta gestão deve ser sustentado. Não é suficiente
que o gestor participe apenas durante a criação e lançamento do programa de compliance ou do
código de condutas, o comprometimento deve ser praticado e demonstrado no dia a dia.

Gerentes de nível intermediário também possuem uma função central. Eles são a ponte entre a
alta direção e o restante da organização (mood at the middle, em português, “humor da média
gestão”) e devem ter consciência dos principais riscos da organização, reforçar os padrões de
conduta, encorajar seus funcionários a cumpri-los e, sobretudo, atuarem em estrita obediência
aos padrões de conduta da organização.

Assim, é importante que a alta gestão converse com os gerentes intermediários sobre compliance.
Pergunte o que eles têm trabalhado sobre temas de compliance com suas equipes e o que pode
ser feito para envolver a equipe e melhorar o compliance da organização.

Pesquisa da KPMG sobre a maturidade dos programas de compliance nas empresas brasileiras revela
uma maior preocupação da alta gestão em reforçar a importância da cultura de compliance.
Fonte: adaptado de KPMG, 2019, p. 13.

Referências
BRASIL. Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011. Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência. […] e dá outras providências. Presidência da República, Brasília, 2011.

BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia Programas


de Compliance: orientações sobre a estruturação e benefícios da adoção de programas de
compliance concorrencial. Brasília: CADE, 2016. Disponível em: https://cdn.cade.gov.br/
Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/guia-compliance-versao-oficial.pdf?_
ga=2.115214023.1762744349.1612482262-741839812.1586804804. Acesso em: 04 fev. 2021.

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BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia para Análise
da Consumação Prévia de Atos de Concentração Econômica. Brasília: CADE, 2015. Disponível
em: https://cdn.cade.gov.br/Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/gun-
jumping-versao-final.pdf Acesso em: 23 abr. 2021.

IBGC. Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Compliance à Luz da Governança


Corporativa. IBGC: São Paulo, 2017. Disponível em: https://www.legiscompliance.com.br/
images/pdf/ibgc_orienta_compliance_a_luz_da_governaca.pdf. Acesso em: 04 fev. 2021.
ICC. International Chamber of Commerce. The ICC Antitrust Compliance Toolkit: practical
antitrust compliance tools for SMEs and larger companies. ICC Commission on Competition,
2013. Disponível em: https://iccwbo.org/publication/icc-antitrust-compliance-toolkit/. Acesso
em: 04 fev. 2021.

KPMG. Pesquisa Maturidade do Compliance no Brasil. 4. ed. Brasília: KPMG, 2019. Disponível
em: https://assets.kpmg/content/dam/kpmg/br/pdf/2019/10/br-pesquisa-de-maturidade.pdf.
Acesso em: 04 fev. 2021.

United Kingdom. Office of Fair Trade. How your business can achieve compliance with
competition law. Londres: OFT, 2011. Disponível em: https://assets.publishing.service.gov.uk/
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04 fev. 2021.

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