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Compliance

Concorrencial
Módulo

2 Mapeamento de riscos concorrenciais de uma


organização
Fundação Escola Nacional de Administração Pública

Presidente
Diogo Godinho Ramos Costa

Diretor de Desenvolvimento Profissional


Paulo Marques

Coordenador-Geral de Produção de Web


Carlos Eduardo dos Santos

Equipe
Alden Caribé (Conteudista, 2021).
Juliano Pimentel (Conteudista, 2021).
Lavínia Cavalcanti (Coordenadora de desenvolvimento, 2021).
Erley Ramos Rocha (Coordenador de Produção Web e Implementador Moodle, 2021).
João Paulo Albuquerque Cavalcante (Diagramação e produção gráfica, 2021).

Desenvolvimento do curso realizado no âmbito do acordo de Cooperação Técnica FUB / CDT / Laboratório
Latitude e Enap.

Enap, 2021

Enap Escola Nacional de Administração Pública


Diretoria de Educação Continuada
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF

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Sumário
Unidade 1: Identificando riscos concorrenciais........................................................................6
1.1. O potencial de conflito Agente-Principal dentro das organizações.........................................6
1.2. Principais infrações..................................................................................................................7
1.3. Métodos para identificação dos riscos concorrenciais..........................................................10

Unidade 2: Estimando e avaliando riscos...............................................................................14

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2
Módulo
Mapeamento de riscos concorrenciais de uma organização

Olá!

Desejamos boas-vindas ao módulo 2 do curso Compliance Concorrencial.

É um prazer ter você como participante e auxiliar na construção do seu conhecimento acerca
desse tema.

Neste módulo abordaremos os seguintes tópicos:

Unidade 1: Identificando riscos concorrenciais


Unidade 2: Estimando e avaliando riscos

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Unidade 1: Identificando riscos concorrenciais
Objetivos de Aprendizagem

Ao final desta unidade, você será capaz de classificar as principais infrações e os métodos para
a identificação dos riscos concorrenciais.

1.1. O potencial de conflito Agente-Principal dentro das organizações


Empresas e organizações desempenham atividades por meio das ações de pessoas naturais,
sucede que os integrantes das organizações possuem formação anterior, uma cultura própria
que nem sempre está conforme as expectativas das organizações. É para assegurar ou minimizar
tais choques de expectativas que existe o compliance, um conjunto de ações de educação,
treinamento, comunicação, detecção e controle visando que toda pessoa que aja no interesse
de empresas e organizações, o faça em acordo com o padrão ético esperado por elas.

O principal alvo das ações de compliance é desenvolver uma cultura


organizacional aderente ao cumprimento de normas e legítimas expectativas
de todos os seus stakeholders

Sob a rubrica Teoria do Agente-Principal, a literatura econômica estuda a dissonância entre os


interesses particulares dos agentes das organizações e os papéis que as organizações esperam
que eles desempenhem. A Teoria do Agente-Principal parte da premissa de que alguém que
executa uma tarefa em nome de outro possui sempre mais informações do que outro em nome
de quem ele age. Quem executa a tarefa é chamado de Agente. Quem tem a tarefa executada
em seu nome chama-se Principal. E o desnível de conhecimento sobre a atividade, que favorece
o Agente em face do Principal, é chamado de assimetria de informação.

As ações para garantir que o Agente atue em real benefício do Principal, e que não haja conflito
de interesse, é matéria de grande preocupação do pensamento administrativo-econômico. O
foco dessas ações é alinhar interesses entre essas duas figuras de uma organização. Tais objetivos
de alinhamento são também buscados pelos programas de compliance. Entenda, nos exemplos a
seguir, algumas medidas que aumentam o alinhamento entre Agente e Principal:

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Melhorar monitoramento, reduzindo a assimetria de informação.

Ao registrar e conhecer detalhes das ações de seus agentes, as organizações


podem tomar providências em casos de detecção de desvios. Observa-se ainda
que o simples monitoramento eficiente já pode, por si só, inibir comportamentos
desviantes, tendo em conta que, na falta da confiança da assimetria em seu favor, o
Agente pode simplesmente desistir da ação em conflito de interesse.

Altos salários

Um trabalhador que recebe altos salários tende a evitar comportamento oportunista


porque, uma vez detectado, pode não encontrar outro emprego que o remunere
tão bem.

Pagamentos adiados

Ao adiar pagamentos, a organização busca que o Agente se comporte tendo em


conta a sustentabilidade de longo prazo, o que induz a obediência de regras que, se
violadas no curto prazo, podem comprometer seriamente a solvência e desempenho
da organização em momento posterior.

Dentro da linguagem do compliance, as medidas que aumentam o alinhamento entre o Agente


e o Principal são chamadas ações de prevenção, controle ou mitigação. O objetivo dessas ações
é reduzir os riscos às atividades da organização.

Qualquer ação representa a priorização de recursos da organização em desfavor de outras


iniciativas que poderiam ser contempladas. É certo que investimentos em compliance asseguram
a sustentabilidade das organizações em longo prazo, preservando sua reputação e evitando
exposição a sanções que podem ser extremamente onerosas. Há medidas, contudo, que
promovem o programa de forma mais focalizada, investindo recursos em prevenção, controle e
mitigação de riscos efetivamente mapeados.

Para isso, faz-se necessário identificar as situações que podem gerar exposição
da organização à responsabilização, avaliar a probabilidade de ocorrência e o
grau de impacto de um risco que venha a se concretizar, bem como eleger as
medidas mais aderentes ao controle dos tipos de riscos mapeados.

1.2. Principais infrações


Antes de ingressar em procedimentos de identificação de riscos relevantes para o compliance
concorrencial, convém assistir este vídeo, do Tribunal de Contas da União (TCU), que ilustra bem
como funciona o processo de identificação de riscos de um modo geral:

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Vídeo "O que é gestão de risco".

Afunilando o tema para o âmbito do nosso estudo, podemos definir os riscos concorrenciais
como aqueles em que uma organização pode ser responsabilizada pela falta de adoção, por
parte de seus representantes, de comportamento conforme às regras concorrenciais. Faz-se
necessário conhecer, então, as principais condutas desconformes. São elas:

• Cartel
• Influência à adoção de conduta uniforme.
• Abuso de posição dominante.
• Abuso de direito de petição com fins anticoncorrenciais.
• Consumação antecipada de ato da concentração.

Agora, compreenda as características de cada uma dessas infrações:

Cartel

Cartel é qualquer acordo ou prática concertada entre concorrentes para fixar preços, dividir
mercados, estabelecer quotas ou restringir produção, adotar posturas pré-combinadas em
licitação pública, ou que tenha por objeto qualquer variável concorrencialmente sensível.

Os cartéis, por implicarem aumentos de preços, restrição de oferta e nenhum benefício


econômico compensatório, causam graves prejuízos aos consumidores, tornando bens e serviços
completamente inacessíveis a alguns e desnecessariamente caros para outros.

Influência à adoção de conduta uniforme

A influência à adoção de conduta uniforme pode ser caracterizada como a realização de medidas
com o objetivo ou efeito de uniformizar a atuação de concorrentes em um dado mercado.
Por exemplo, quando organizações concorrentes, de maneira coordenada, deixam de aplicar
desconto; boicotam certos consumidores ou fornecedores; e trocam informações sensíveis
como lista de clientes, preços ou planos de negócios. A adoção de tabelas de preço para uma
determinada categoria, de forma a uniformizar os preços dos agentes, é outro exemplo de
medida com esse objetivo.

Os efeitos desse tipo de conduta são semelhantes aos de um cartel. Quando dirigida a orientar
comportamentos de agentes competidores, tem ilicitude presumida, ainda que apenas sugestiva.
Tal prática muitas vezes é realizada por associações e sindicatos.

No Brasil é possível punir, a título de influência à adoção de conduta uniforme, a prática de troca
de informações sensíveis entre concorrentes. Trata-se de comunicações, diretas ou intermediadas
por terceiro, que implicam obtenção ou trocas de informações de relevo comercial. Consideram-
se informações sensíveis aquelas que podem motivar alteração de comportamento estratégico

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de um competidor. São exemplos: níveis de reajustes de preços a serem praticados no futuro,
lista de clientes, custos das empresas envolvidas, capacidade instalada e planos de expansão,
estratégias de marketing, política de precificação de produtos (preços e descontos), principais
clientes e descontos assegurados, salários de funcionários, principais fornecedores e termos de
contratos com eles celebrados, informações não públicas sobre marcas, patentes e Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D), planos de aquisições futuras e estratégias competitivas, entre outros.

Abuso de posição dominante

O abuso de posição dominante é passível apenas para empresas que tenham posição de
dominância no mercado, que é a situação na qual uma empresa ou um grupo empresarial tem
capacidade de alterar condições de mercado, reduzindo contestação efetiva ou potencial. Isso
afeta negativamente o nível de preços, a qualidade e a variedade dos produtos ou serviços
transacionados. No Brasil, o parágrafo 2º do artigo 36 da Lei nº 12.529/2011 define que se
presume posição dominante sempre que uma empresa ou um grupo de empresas controlar 20%
(vinte por cento) ou mais do mercado relevante.

Os abusos de posição dominante são qualificações que recaem sobre práticas ou cláusulas
contratuais que envolvem a organização infratora. Conhecedoras da relação de dependência dos
interlocutores com elas, as empresas impõem, abusivamente, condições que inibem potenciais
competidores de contestar-lhes a dominância no mercado. São exemplos de condutas que
podem configurar abuso de posição dominante: preço excessivo; discriminação de preços; preço
predatório; compressão de margens por empresas integradas; cláusula de exclusividade em
negociar; recusa em negociar ou vender; venda casada; fixação de preço de revenda; e a criação
de dificuldades à entrada de competidor.

No entanto, uma prática comercial com potencial deletério pode também ter efeitos benéficos
ao incremento de transações no mercado. Por isso, a conduta passível de punição por abuso
de posição dominante depende de uma avaliação dos seus efeitos preponderantes. Se forem
positivos, será descartada a ilicitude.

Um exemplo de abuso de posição dominante é a prática de preço predatório. Considera-se preço


predatório a oferta, por agente com poder de mercado, de bens ou serviços por preços abaixo
do custo, com a intenção de excluir rivais ou aumentar barreiras à entrada em um mercado. A
racionalidade por trás da prática estaria em permitir aumentos de preços no longo prazo, com
recomposição das perdas sofridas no curto prazo.

Sucede que algumas circunstâncias, que não a exclusão de competidores, podem justificar a
prática de preços de alguns bens ou serviços abaixo do custo. Imagine-se, por exemplo, um
grande varejista com estoque de um certo produto que esteja próximo ao vencimento. Ou,
ainda, que esse mesmo varejista tenha inaugurado uma nova unidade em um novo bairro. Pode
ele reduzir perdas ou acelerar a frequência de clientes que ainda não conhecem a loja, via a
venda de produtos por preços abaixo do custo? A princípio, sim. São exemplos de condutas que,
em razão dos efeitos positivos, não se qualificariam como preço predatório.

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Abuso de direito de petição com fins anticoncorrenciais

O abuso do direito de petição caracteriza-se pela propositura de diversos pedidos de intervenção


ao poder público com a clara finalidade de onerar, retardar entrada ou prejudicar funcionamento
de competidor. Das circunstâncias, deve estar claro que não há legítimo interesse em discutir o
mérito do pleito, mas tão somente criar custos e travas, visando proteção de mercado.

Não se trata de mera consequência de propositura de ação judicial ou pedido administrativo


sem fundamento, mas sim de geração de custos e ônus significativos, com o claro objetivo de
gerar dano ao competidor, que poderia ter potencial para contestar o poder de mercado do
proponente das petições.

Consumação antecipada de ato de concentração (gun jumping)

Segundo o artigo 88 da Lei 12.529/2011, com valores atualizados pela Portaria Interministerial
994, de 30 de maio de 2012, devem ser notificados ao Cade os atos de concentração, em qualquer
setor da economia, em que pelo menos um dos grupos envolvidos na operação tenha registrado
faturamento bruto anual ou volume de negócios total no Brasil, no ano anterior à operação,
equivalente ou superior a R$ 750 milhões e, pelo menos, um outro grupo envolvido na operação
tenha registrado faturamento bruto anual ou volume de negócios total no Brasil, no ano anterior
à operação, equivalente ou superior a R$ 75 milhões.

O artigo 90 da mesma lei define ato de concentração como a operação nas quais: (i) duas ou
mais empresas anteriormente independentes se fundem; (ii) uma ou mais empresas adquirem,
direta ou indiretamente, por compra ou permuta de ações, quotas, títulos ou valores mobiliários
conversíveis em ações, ou ativos, tangíveis ou intangíveis, por via contratual ou por qualquer
outro meio ou forma, o controle ou partes de uma ou outras empresas; (iii) uma ou mais
empresas incorporam outra ou outras empresas; ou (iv) duas ou mais empresas celebram
contrato associativo, consórcio ou joint venture.

O controle dos atos de concentração econômica, que deve ser obrigatoriamente submetido
à aprovação do Cade, será prévio, o que significa que tais atos não poderão ser consumados
antes de apreciados pelo conselho. Considera-se consumação a realização de qualquer ato que
descaracterize os grupos empresariais envolvidos como entidades independentes. A infração em
questão acontece quando a consumação antecede a aprovação do Cade em uma operação de
comunicação obrigatória.

1.3. Métodos para identificação dos riscos concorrenciais


Uma vez que se conhece quais são as infrações que podem gerar responsabilização, passa-se
para a etapa de identificar quais atividades das organizações podem ser enquadradas como
alguma dessas infrações – ou seja, passa-se a identificar os riscos concorrenciais.

Há diversos métodos para se fazer essa identificação, sendo que, nesse momento, a orientação

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é registrar o máximo de riscos diferentes que se consiga mapear.

São métodos para identificação dos riscos concorrenciais:

Brainstorming

Conhecedores dos processos internos da organização, seus integrantes, parcialmente ou em


todos os níveis, reúnem-se para apontar quais situações da rotina da empresa podem implicar
responsabilização concorrencial. O máximo de registros é feito.

É importante que o ambiente encoraje as colaborações, evitando ser fórum


de apuração de possíveis responsabilidades individuais. O foco deve ser nos
processos e não nas condutas dos indivíduos. Pessoas com elevado senso
crítico são especialmente úteis nessa ocasião, por terem percepção mais
rigorosa do que pode ser exposto à organização.

Uma vez registradas as situações da rotina da empresa que podem gerar responsabilização, é
necessário comparar as situações identificadas para confirmar suas diferenças. Isso, porque
eventualmente, o uso de linguagens diferentes pode induzir a identificar duas ou mais
circunstâncias de risco quando, na realidade, trata-se de uma única.

Entrevistas

O brainstorming pode desencorajar a contribuição de alguns membros da organização, seja pelo


fato de o grupo alterar o comportamento individual das pessoas, ou pelo receio de personalizar
algumas indicações de condutas de risco (fulanização).

Para contornar essas restrições, pode-se utilizar o recurso da entrevista: a equipe de planejamento
do programa de compliance entrevista membros de todos os níveis da organização com o objetivo
de registrar os diversos riscos que sejam reconhecidos para a atividade dela.

Checklist

Muitas organizações e muitos julgados por autoridades de defesa da concorrência já identificaram,


no passado, situações de vulnerabilidade legal. O método de identificação por aplicação de
checklist baseia-se nessas experiências passadas. Trata-se de preencher lista de verificação de
situações em que comumente foram observadas infrações. Os responsáveis pela implantação
do sistema respondem “sim” ou “não” a uma série de perguntas. As respostas “sim” apontarão
para situações que normalmente implicam risco. As situações de risco não indicam ocorrência
de infração, mas risco que precisa de encaminhamento para redução da exposição. A apuração
de risco tem como foco os processos e a rotina da organização, enquanto a apuração de infração
tem como referência o esclarecimento de fatos específicos. O método de identificação de risco
por aplicação de checklist tem por vantagem ser um método de menor custo, especialmente
adaptável a pequenas empresas.

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A lista a seguir compila um checklist elaborado a partir de propostas do Guia de Compliance
Antitruste da Câmara Internacional de Comércio (ICC) e do Guia de Compliance do Escritório
de Comércio Justo do Reino Unido (OFT). Essa lista pode servir de suporte para um processo
simplificado de identificação de riscos concorrenciais em pequenas e médias empresas.

Clique aqui para fazer o download do checklist. Assim você pode preenchê-lo e verificar as
situações de risco concorrencial na sua organização.

Referências

BRASIL. Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011. Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da


Concorrência. […] e dá outras providências. Presidência da República, Brasília, 2011.

BRASIL. Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990. Define crimes contra a ordem tributária,
econômica e contra as relações de consumo, e dá outras providências. Presidência da República,
Brasília, 1990.

BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia Programas


de Compliance: orientações sobre a estruturação e benefícios da adoção de programas de
compliance concorrencial. Brasília: CADE, 2016a. Disponível em: https://cdn.cade.gov.br/
Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/guia-compliance-versao-oficial.pdf?_
ga=2.115214023.1762744349.1612482262-741839812.1586804804. Acesso em: 22 abr. 2021.

BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia Termo


de Compromisso de Cessação para casos de cartel. Brasília: CADE, 2016b. Disponível em:
https://cdn.cade.gov.br/Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/guia-tcc-
atualizado-11-09-17.pdf?_ga=2.43319653.1762744349.1612482262-741839812.1586804804.
Acesso em: 22 abr. 2021.

BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia Programa


de Leniência Antitruste do Cade. Brasília: CADE, 2016c. Disponível em: https://cdn.cade.gov.
br/Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/2020-06-02-guia-do-programa-de-
leniencia-do-cade.pdf?_ga=2.157598330.1762744349.1612482262-741839812.1586804804.
Acesso em: 22 abr. 2021.

ICC. International Chamber of Commerce. The ICC Antitrust Compliance Toolkit: practical
antitrust compliance tools for SMEs and larger companies. ICC Commission on Competition,
2013a. Disponível em: https://iccwbo.org/publication/icc-antitrust-compliance-toolkit/. Acesso
em: 22 abr. 2021.

ICC. International Chamber of Commerce. Why complying with competition law is good for
your business: practical tool for smaller businesses to improve compliance. ICC Commission on

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Competition, 2013b. Disponível em: https://iccwbo.org/publication/icc-sme-toolkit-complying-
competition-law-good-business/. Acesso em: 22 abr. 2021.

MANKIW, G. Introdução à Economia. 3. ed. São Paulo: Thomson, 2006.

NIELS, G.; JENKINS, H.; KAVANAGH, J. Economics for Competition Lawyers. 2nd ed. Oxford:
Oxford University Press, 2016.

SAGERS, C. L. Antitrust: Examples & Explanation. 2nd ed. Alphen aan den Rijn: Wolters Kluwer,
2014.

SCHAPIRO, M.; MARINHO, S. Compliance concorrencial: cooperação regulatória na defesa da


concorrência. São Paulo: Almedina, 2019.

United Kingdom. Office of Fair Trade. How your business can achieve compliance with
competition law. Londres: OFT, 2011. Disponível em: https://assets.publishing.service.gov.uk/
government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/284402/oft1341.pdf. Acesso em:
22 abr. 2021.

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Unidade 2: Estimando e avaliando riscos
Objetivos de Aprendizagem

Ao final desta unidade, você será capaz de recordar os principais elementos para o mapeamento
de riscos organizacionais, reconhecendo sua probabilidade e impactos potenciais.

Uma vez que os riscos sejam identificados, deve-se fazer uma avaliação qualitativa quanto às
suas probabilidades de concretização e quanto ao impacto em caso de concretização. As duas
avaliações, tanto de probabilidade quanto de impacto, devem levar em conta o risco existente,
desconsiderando medidas de controle existentes ou a se implantar. O risco nessa condição recebe
o nome de risco inerente, ele é considerado na inexistência de qualquer medida de tratamento
ou mitigação.

Todos os riscos inerentes identificados devem ser registrados em uma matriz


que relaciona a sua probabilidade de ocorrência e o impacto estimado.

Quanto à probabilidade, a ideia é ordená-las em níveis. Uma matriz simples pode começar por
três níveis de probabilidade: baixa, média e alta:

Probabilidade baixa

Para probabilidade baixa, considera-se que o evento raramente pode ocorrer dentro
dos processos usualmente adotados pela organização. Se acontecer, será de forma
casual, inesperada, já que as circunstâncias normalmente observadas pouco indicam
essa possibilidade.

Probabilidade média

Na probabilidade média, seriam enquadrados os riscos inerentes possíveis, mas


elevadamente prováveis, dentro das circunstâncias de processo da organização.

Probabilidade alta

As atividades de risco de ocorrência alta seriam aquelas cuja ocorrência é esperada


periodicamente na organização.

No tópico de avaliação de impacto, qualifica-se o risco quanto às consequências que ele traria à
organização caso se observasse a infração à ordem econômica a esse tipo de risco associado. Os
impactos de condutas de infração à ordem econômica podem ser de muitos tipos:

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Impactos reputacionais

Com risco para as atividades que demandam confiança na organização.

Impactos materiais

Incluindo, por exemplo, obrigações de indenizar ou de se desfazer forçadamente de


um ativo.

Impactos organizacionais

Com desligamento de empregados que já desempenhavam funções, mas


eventualmente não seja mais recomendável que sigam na organização.

Impactos comerciais

Com perdas de contratos com clientes em vista da revelação do ilícito.

Impactos regulatórios

Com perdas de licenças.

O nível do impacto depende de sua magnitude, mas também do tipo da atividade das organizações,
além de sua tolerância a prejuízos. Empresas de capital aberto tendem a sofrer consequências
mais severas por danos reputacionais, visto que passam a ter mais dificuldade de convencer
portadores de ações de boas práticas empresariais e de governança, enquanto micro e pequenas
empresas têm menos resiliência a danos materiais, organizacionais ou regulatórios.

As sanções aplicadas pelo Cade atingem diretamente consequências


reputacionais, comerciais e regulatórias.

As infrações de cartelização, influência à adoção de conduta uniforme, abuso de posição


dominante e abuso concorrencial de direito de petição podem implicar sancionamento por meio
de multa que pode alcançar até 20% do faturamento bruto anual de uma empresa, ou até dois
bilhões de reais no caso de organizações não empresariais - multas que podem ser aplicadas em
dobro no caso de reincidência, segundo o artigo 37, parágrafo 1º, da Lei nº 12.529/2011. Ainda,
é possível aplicar, isolada ou cumulativamente, nos termos dos incisos I a VII do artigo 38 da
mesma lei:

I - a publicação, em meia página e a expensas do infrator, em jornal


indicado na decisão, de extrato da decisão condenatória, por 2
(dois) dias seguidos, de 1 (uma) a 3 (três) semanas consecutivas;
II - a proibição de contratar com instituições financeiras oficiais
e participar de licitação tendo por objeto aquisições, alienações,

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realização de obras e serviços, concessão de serviços públicos, na
administração pública federal, estadual, municipal e do Distrito
Federal, bem como em entidades da administração indireta, por
prazo não inferior a 5 (cinco) anos;
III - a inscrição do infrator no Cadastro Nacional de Defesa do
Consumidor;
IV - a recomendação aos órgãos públicos competentes para que:
a) seja concedida licença compulsória de direito de propriedade
intelectual de titularidade do infrator, quando a infração estiver
relacionada ao uso desse direito;
b) não seja concedido ao infrator parcelamento de tributos federais
por ele devidos ou para que sejam cancelados, no todo ou em
parte, incentivos fiscais ou subsídios públicos;
V - a cisão de sociedade, transferência de controle societário, venda
de ativos ou cessação parcial de atividade;
VI - a proibição de exercer o comércio em nome próprio ou como
representante de pessoa jurídica, pelo prazo de até 5 (cinco) anos;
e
VII - qualquer outro ato ou providência necessários para a
eliminação dos efeitos nocivos à ordem econômica.

No caso de grupo empresarial com atuação no setor de combustíveis, é cabível ainda a revogação
para exercício da atividade econômica (artigo 10, inciso V, da Lei nº 9874/1999).

A infração de consumação antecipada de ato de concentração sujeita o negócio ao desfazimento


pela declaração de nulidade e multa pecuniária, de valor não inferior a R$ 60.000,00 (sessenta
mil reais) nem superior a R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de reais), a ser aplicada nos termos
da regulamentação, sem prejuízo da abertura de processo administrativo (artigo 88, parágrafo
3º, da Lei nº 12.529/2011).

Conceitualmente, os impactos também podem ser graduados, ao menos, em níveis baixo, médio
e alto:

Impacto baixo

Aqueles cujas consequências estariam limitadas a prejuízos materiais de baixa


monta.

Impacto médio

Aqueles de consideráveis consequências reputacionais, organizacionais, comerciais


e regulatórias, comprometendo significativamente a saúde e o desempenho da
organização em médio prazo.

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Impacto alto

Aqueles de consequências múltiplas (reputacionais, materiais, organizacionais,


comerciais e regulatórias) que comprometeriam a existência da organização, ou
reduziriam significativamente seu escopo e atividade por longo tempo.

Uma vez estimada a probabilidade de ocorrência de cada risco e avaliado o seu potencial de
impacto, eles devem ser dispostos em uma matriz de risco que os classifica tendo em conta esses
dois fatores. Para uma matriz simplificada pode-se usar o modelo a seguir:

Um exemplo de conduta de médio impacto é a consumação antecipada de atos de concentração


para empresas que tenham alto faturamento, mas não possuam alta participação de mercado.
Normalmente, tais operações são aprovadas sem restrições, remanescendo, em longo prazo,
apenas a falta administrativa punível com multa, ainda que até a avaliação da operação pelo
Cade possa existir o desfazimento do negócio. Se os grupos empresariais dificilmente promovem
associações ou aquisições, pode-se qualificar o fato como de probabilidade de ocorrência baixa.

No campo da preocupação máxima, do ponto de vista da jurisprudência do Cade, a incursão


em cartéis invariavelmente ocasiona impactos significativos para as organizações, com grau de
exposição elevado em caso de condenação, como exemplifica o registro da condenação do cartel
de trens e metrôs no Jornal Nacional, de 8 de julho de 2019:

Vídeo "Cade identificou indícios de acordos anticompetitivos em obras do metrô".


Jornal Nacional, 8 de julho de 2019.

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Como programas de compliance orientam-se para o reforço de culturas empresariais pautadas por
uma forte carga ética, deve-se empreender medidas de prevenção, monitoramento e mitigação
de envolvimento nos ilícitos prioritariamente orientadas para riscos de maior probabilidade
e impacto. A revisão periódica do programa para fins de seu aperfeiçoamento lhe assegurará
maior êxito.

Referências

BRASIL. Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011. Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da


Concorrência. […] e dá outras providências. Presidência da República, Brasília, 2011.

BRASIL. Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990. Define crimes contra a ordem tributária,
econômica e contra as relações de consumo, e dá outras providências. Presidência da República,
Brasília, 1990.

BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia Programas


de Compliance: orientações sobre a estruturação e benefícios da adoção de programas de
compliance concorrencial. Brasília: CADE, 2016a. Disponível em: https://cdn.cade.gov.br/
Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/guia-compliance-versao-oficial.pdf?_
ga=2.115214023.1762744349.1612482262-741839812.1586804804. Acesso em: 22 abr. 2021.

BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia Termo


de Compromisso de Cessação para casos de cartel. Brasília: CADE, 2016b. Disponível em:
https://cdn.cade.gov.br/Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/guia-tcc-
atualizado-11-09-17.pdf?_ga=2.43319653.1762744349.1612482262-741839812.1586804804.
Acesso em: 22 abr. 2021.

BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Guia Programa


de Leniência Antitruste do Cade. Brasília: CADE, 2016c. Disponível em: https://cdn.cade.gov.
br/Portal/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-do-cade/2020-06-02-guia-do-programa-de-
leniencia-do-cade.pdf?_ga=2.157598330.1762744349.1612482262-741839812.1586804804.
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