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DISCLOURE

Todas as informações disponibilizadas na presente apostila e no Curso Online de


Investigações Internas de Compliance da LEC – Legal, Ethics & Compliance (“LEC”) são
públicas e de fontes de pesquisa disponíveis na Internet.

As pessoas físicas e jurídicas aqui mencionadas refletem apenas casos para estudo, sem
qualquer juízo de valor da LEC e de seus professores e coordenadores.

A reprodução deste material e de qualquer outro material concedido pela LEC no Curso
Online de Investigações Internas de Compliance, no todo ou em parte, é vedada, exceto se
mediante autorização prévia e por escrito da LEC.

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SUMÁRIO

Apresentação

Recomendações Preliminares

Implementação do Programa de Compliance

1. Auditoria e Monitoramento
1.1. Auditoria
1.2. Monitoramento

2. Investigações Internas
2.1. Reporte para as autoridades

3. Due diligence de terceiros e em estruturações societárias


3.1. Due diligence de terceiros
3.2. Due diligence em estruturações societárias
Uma visão mais específica sobre o Compliance

4. Compliance Digital
4.1. Contextualização do Tema Compliance Digital
4.2. Cenário Legislativo Brasileiro
4.3. Limites para os Controles Tecnológicos
4.4. Preservação e Produção das Provas Eletrônicas

5. Compliance na área da saúde


5.1. Expansão do mercado global da saúde
5.2. A evolução dos Programas de Compliance
5.3. Regras aplicáveis
5.4. Foco do Compliance na área da saúde

6. Prevenção à lavagem de dinheiro


6.1. Conceito de Lavagem de Dinheiro
6.2. Formas de Lavagem de Dinheiro
6.3. Prevenção ao Financiamento do Terrorismo
6.4. Setores obrigados
6.5. Algumas Resoluções do COAF
6.6. Programa de Prevenção à Lavagem de Dinheiro
6.7. “Conheça Seu Cliente" (KYC)
6.8. Pessoas Politicamente Expostas (PEP)
6.9. Comunicação ao COAF
6.10. Penalidades
Versões

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APRESENTAÇÃO

A LEC – Legal, Ethics & Compliance (“LEC”) existe para cumprir a missão de identificar,
reunir e formar agentes transformadores, líderes de uma revolução ética, sustentada por uma
grande comunidade de pessoas aliadas por identidade de valores.

A visão da LEC é difundir cultura de compliance, direito e ética, a fim de elevar as exigências
de transparência e integridade corporativa no Brasil e na América Latina, cumprindo a sua
parte na luta por um mundo livre de corrupção.

Assim, o principal objetivo da LEC é difundir conhecimento em compliance, ética, riscos,


fraudes e direito. Além disso, a LEC contribui com a construção de um mundo melhor,
inclusive por meio da orientação e capacitação de gestores e especialistas que possam
aprimorar o seu trabalho promovendo cultura de integridade e ética corporativa.

Nesse sentido, a LEC criou o Curso Online Anticorrupção focando no estudo da corrupção,
da legislação anticorrupção nacional e estrangeira, e na aplicação prática de implementação
do programa de compliance considerando o dia a dia de uma empresa.

Nesta linha, um dos principais objetivos foi o de guiar os profissionais que atuam na área de
compliance nas mais diversas empresas, independentemente do tamanho e da natureza
jurídica. Portanto, o Curso Online Anticorrupção terá diversos exemplos e situações práticas
que poderão ser adaptados à realidade e necessidade de cada empresa.

Além disso, vale lembrar que as empresas devem assegurar e existência de um programa
de compliance robusto e efetivo que previna e detecte condutas impróprias, bem como auxilie
na remediação de tais condutas. Nesta linha, um programa de compliance deve conter
elementos e procedimentos que assegurem: (i) suporte da alta administração; (ii) avaliação
de riscos; (iii) código de conduta e políticas; (iv) controles internos; (v) comunicação e
treinamento; (vi) canais de comunicação (dúvidas e denúncias); (vii) investigações internas;
(viii) due diligence de terceiros e em estruturações societárias; e (ix) auditoria e
monitoramento.

Bom curso!

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RECOMENDAÇÕES PRELIMINARES

A existência de um Programa de Compliance robusto requer, dentre diversos fatores, o


conhecimento pelo profissional de compliance da empresa em que trabalha, bem como do
setor de atuação e das práticas de mercado. Assim, quanto mais informações o profissional
de compliance tiver, melhor.

Além disso, com relação à implementação do programa de compliance, é sempre válido


lembrar que o profissional de compliance deverá buscar compreensão da legislação nacional
e estrangeira relacionada à anticorrupção. Também é importante lembrar que a legislação
estrangeira deve ser adaptada as práticas locais e peculiaridades de cada cultura.

Assim, o conteúdo que será apresentado neste Curso Online Anticorrupção busca ser uma
base no estudo da corrupção, da legislação anticorrupção nacional e estrangeira, e na
aplicação prática de implementação do programa de compliance considerando o dia a dia de
uma empresa. Este conteúdo deve ser um guia que deverá ser ajustado caso a caso, não
devendo ser utilizado como um instrumento rígido e imutável.

Em caso de dúvidas, entre em contato com a equipe da LEC, através do e-mail


suportecursoonline@lecnews.com.br.

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IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA DE COMPLIANCE

A implementação do programa de compliance deve considerar elementos e procedimentos


que assegurem: (i) suporte da alta administração; (ii) avaliação de riscos; (iii) código de
conduta e políticas; (iv) controles internos; (v) comunicação e treinamento; (vi) canais de
comunicação (dúvidas e denúncias); (vii) investigações internas; (viii) due diligence de
terceiros e em estruturações societárias; e (ix) auditoria e monitoramento.

Neste módulo serão abordados os pilares finais para a implementação de um Programa de


Compliance, que poderá ser utilizado independentemente do tamanho e da área de negócio
da empresa. No módulo anterior, você encontrará mais detalhes sobre os pilares iniciais.

1. Auditoria e Monitoramento

A auditoria e o monitoramento são etapas do programa de compliance que dão suporte para
as empresas medirem a capacidade e a efetividade de seus controles internos e
procedimentos. O objetivo principal destas etapas é identificar possíveis falhas para
aprimoramento dos controles e do Programa de Compliance.

1.1. Auditoria

A auditoria do programa de compliance deverá ser realizada como a auditoria em qualquer


outro departamento. Assim, a auditoria deve ser conduzida por auditores treinados e
experientes, os quais serão capazes de confrontar a realidade com os padrões estabelecidos
nas políticas e normas internas. Os desvios de conformidade encontrados devem ser
registrados em relatórios formais que assegurem a falha encontrada e as recomendações
para correção.

Além disso, as auditorias devem apresentar um plano de ação que estabeleça prazos para
a correção dos desvios de finalidades encontrados. O objetivo é assegurar que tais falhas
não sejam novamente encontradas quando da realização de uma nova auditoria.

A auditoria também visa melhorar os procedimentos e controles existentes, ainda que não
sejam identificados desvios de conformidade. Os auditores devem estar atentos aos
controles e procedimentos que podem ser aperfeiçoados, a fim de otimizar o processo ou
evitar que uma possível falha venha a acontecer. As melhorias podem ser inseridas no
relatório de auditoria como pontos de atenção ou sugestões.

A condução da auditoria pode ser feita por auditores internos ou externos. Em algumas
empresas são realizados os dois tipos de auditoria. A auditoria interna para se verificar
quantas possíveis inconformidades existem e a externa para atestar tais inconformidades,
bem como demonstrar, na visão de um terceiro independente, eventuais outras falhas nos
controles internos e procedimentos da empresa.

O terceiro independente possui uma visão diferente do auditor interno, pois não está no dia
a dia da empresa e não está sujeito a vícios do dia a dia. Entretanto, o auditor externo não

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conhecerá tão bem a empresa quando o interno. Desta forma, é altamente recomendável
que as empresas realizem tanto a auditoria interna quanto a externa.

Seguem abaixo alguns exemplos de temas que podem ser abordados no processo de
auditoria do programa de compliance.

Tema Processos a serem auditados


Presentes,
Coleta de amostras das pré-aprovações realizadas pela área
hospitalidades,
de compliance e verificações se todos os requisitos foram
doações e
convenientemente atendidos.
patrocínios
Parceiros Checar se os parceiros contratados foram somente após a
Comerciais execução do processo de due diligence.
Refere-se ao fluxo das informações, em todas as direções na
Conflito de
organização, de modo a facilitar a execução dos controles e
interesse
garantir a sua utilidade, após serem realizados.
Verificação se todos os funcionários assinaram as declarações
Monitoramento
de conflito de interesse, conforme política interna.

1.2. Monitoramento
O monitoramento do programa de compliance é a etapa que assegura para as empresas que
o programa de compliance está atualizado com os potenciais e reais riscos aos quais a
empresa está exposta na condução de seus negócios.

Um programa de compliance robusto possui um plano de monitoramento constante para


verificar a sua efetividade e possibilitar a identificação de pontos falhos que possam expor a
empresa. Além disso, o monitoramento possibilita a correção de tais pontos, bem como o
aperfeiçoamento dos procedimentos internos. O monitoramento constante também
possibilita uma resposta rápida a novos riscos aos quais a empresa tenha se tornado
exposta.

De acordo com o guia Programa de Integridade – Diretrizes para Empresas Privadas do


Ministério da Transparência, 1 o monitoramento pode ser realizado a partir da coleta de
informações de diversas fontes.

1
http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-e-integridade/arquivos/programa-de-integridade-diretrizes-para-
empresas-privadas.pdf

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Abaixo um exemplo destas fontes.2

Monitoramento
Relatórios regulares sobre as rotinas do programa de compliance ou sobre
investigações relacionadas.
Tendências verificadas nas reclamações dos clientes da empresa.
Informações obtidas do canal de denúncias.
Relatórios de agências governamentais reguladoras ou fiscalizadoras.

Além da análise de documentos e informações, a empresa também pode verificar a


efetividade de seu programa de integridade através de entrevistas com os colaboradores
sobre as políticas e procedimentos da empresa, bem como se os colaboradores estão
seguindo os procedimentos implementados. Nesta fase, também é válido escutar as
sugestões de melhoria dos controles internos e procedimentos. Assim como ocorre na
auditoria, os pontos falhos e de melhoria identificados devem ser apresentados em um
relatório incluindo o plano de ação para correção e/ ou aperfeiçoamento.

O Programa de Integridade – Diretrizes para Empresas Privadas da extinta CGU,3 também


apresenta as questões que o processo de monitoramento demanda atenção, além das
medidas específicas adotadas por cada empresa. Abaixo as questões para o processo de
monitoramento.4

Processo de Monitoramento
A empresa está́ monitorando adequadamente a aplicação das políticas
relacionadas as suas principais áreas de risco?
A instância responsável pelo Programa de Integridade está conduzindo o
processo de monitoramento de forma objetiva, com independência e
autonomia em relação as áreas monitoradas?
O monitoramento contempla todas as áreas da empresa envolvidas na
implementação do Programa de Integridade?
Os resultados apontados em processos anteriores de auditoria,
monitoramento do Programa de Integridade e outros mecanismos de
revisão foram considerados e corrigidos?
Como a empresa está́ respondendo as questões identificadas durante o
processo de monitoramento? São desenvolvidos planos de ação para
correção das fragilidades encontradas? Existe uma área responsável pelo
acompanhamento desse plano de ação?

2
Programa de Integridade – Diretrizes para Empresas Privadas do Ministério da Transparência, pg. 24:
http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-e-integridade/arquivos/programa-de-integridade-diretrizes-para-
empresas-privadas.pdf
3
Vide nota 1.
4
Idem.

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Por fim, o Manual Prática de Avaliação de Programa de Integridade em Processos
Administrativos de Responsabilização de Pessoas Jurídicas5, publicado em 2018 pela CGU,
“com o objetivo de auxiliar, de forma prática, os servidores do Poder Executivo federal,
especialmente aqueles que irão compor as Comissões de Processo Administrativo de
Responsabilização – CPAR, a avaliarem o Programa de Integridade no âmbito do PAR”,
serve de importante instrumento de parâmetro para qualquer profissional responsável pelo
monitoramento e pela auditoria de um Programa de Compliance, uma vez que o órgão
demonstrar de forma transparente os critérios formais que pretende identificar em eventual
processo de auditoria.

2. Investigações Internas e reportes


A investigação é uma das etapas mais importantes do programa de compliance. Após a
implementação do canal de comunicação, o Departamento de Compliance consegue ficar
ciente de diversas situações ainda que apenas suspeitas podem pôr em risco a empresa e
questionar a efetividade do programa de compliance. Além disso, é dever do Compliance
Officer investigar toda e qualquer informação que é transmitida pelo canal de denúncias a
fim de constatar a sua veracidade.

Da mesma forma, o reporte adequado às autoridades quando necessário deve ser


fundamentado nas legislações existentes, sempre de forma estruturada e levando
em consideração as melhores práticas de mercado.

O objetivo principal de uma investigação é averiguar uma situação reportada, ainda que este
reporte seja sobre uma suspeita de desvio de conduta ou potencial infração das normas
internas da empresa e/ou legislação vigente.

A investigação interna se relaciona com as demais etapas do programa de compliance, pois


apresenta os riscos aos quais a empresa está exposta, demonstra a efetividade do canal de
denúncias e auxilia no monitoramento, na remediação e prevenção das condutas impróprias.

Ainda, a investigação protege os interesses da empresa e de seus sócios/acionistas ao, além


do mencionado acima, (i) garantir que as atividades da empresa estejam de acordo com as
leis e regulamentos aplicáveis; e (ii) identificar os pontos de melhoria nas operações internas.

Além disso, a investigação não deve ser realizada somente com a finalidade de descobrir
fatos suficientes para “ticar uma lista de atividades” ou apenas registrar a ocorrência de um
incidente. É importante que os fatos anteriores e as ações de remediação também façam
parte do processo de investigação para aprimoramento do Programa de Compliance da
empresa.

5
http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-e-integridade/arquivos/manual-pratico-integridade-par.pdf

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Assim, os demais objetivos de uma investigação são: (i) minimizar os riscos; (ii) identificar os
pontos falhos das operações internas; (iii) recuperar ativos da empresa; (iv) obter
informações que poderão ser utilizadas em processos judiciais de responsabilização da
empresa e seus dirigentes; e (v) identificar os indivíduos responsáveis pelas condutas
indevidas.

A condução de investigações é altamente recomendada pelas autoridades norte-americanas


e brasileiras. 6 De acordo com o Programa de Integridade – Diretrizes para Empresas
Privadas do Ministério da Transparência, por exemplo, “a detecção de indícios da ocorrência
de atos lesivos à administração pública, nacional ou estrangeira, deve levar a empresa a
iniciar uma investigação interna, que servirá como base para que sejam tomadas as
providências cabíveis”.7

Importante salientar que as empresas devem possuir normas internas que disponham sobre
os procedimentos que são adotados durante uma investigação, como responsáveis por
apuração das denúncias, prazos, meios de contato com o denunciante (ainda que este seja
anônimo), medidas a serem adotadas, etc.

Outro aspecto relevante nas investigações é a confidencialidade das informações. As


empresas devem envolver o menor número de pessoas possíveis, bem como alertar aos
envolvidos da sensibilidade das informações. Uma investigação malconduzida por gerar
impactos negativos e desastrosos para a empresa. Da mesma forma, não investigar pode
trazer consequências gravíssimas para a empresa.

As investigações podem ser iniciadas por diversos motivos. Geralmente, o responsável por
conduzir a investigação na empresa fica ciente de alguma situação ou fatos que podem
representar violações as normas internas da empresa, bem como a legislação aplicável.

Abaixo seguem os principais eventos que podem dar início a uma investigação.

Eventos que podem dar início a uma investigação


Whistleblowers/ hotlines
Auditoria interna e externa

6
Art. 42, XII, Decreto 8.420/15: “Art. 42. Para fins do disposto no § 4o do art. 5o, o programa de integridade
será avaliado, quanto a sua existência e aplicação, de acordo com os seguintes parâmetros: XII - procedimentos
que assegurem a pronta interrupção de irregularidades ou infrações detectadas e a tempestiva remediação dos
danos gerados”.
7
Programa de Integridade – Diretrizes para Empresas Privadas da extinta CGU, pág. 22.
http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-e-integridade/arquivos/programa-de-integridade-diretrizes-para-
empresas-privadas.pdf

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Entrevistas de desligamento
Due diligence
Procedimentos administrativos judiciais
Investigações do governo
Notícias publicadas na mídia

Após a ocorrência de um dos fatos apresentados acima, a empresa deve iniciar a


investigação interna para verificar a veracidade das informações. A empresa deve analisar
os seguintes fatores ao iniciar a investigação: (i) informações existentes; (ii) credibilidade das
alegações; (iii) natureza das alegações; (iv) leis aplicáveis (nacional e estrangeira); e (v)
definição do escopo.

Além dos fatores mencionados, a empresa precisará definir um plano de ação (“action plan”)
incluindo o passo a passo que será realizado, bem como as pessoas que serão envolvidas
para ajudá-lo. Importante mencionar que o plano de ação é mutável e deve ser sempre
revisitado, pois fatos e evidências novos surgem a todo o momento alterando o rumo da
investigação.

O plano de ação deve conter, pelo menos, (i) lista de pessoas envolvidas, como denunciante,
denunciado(s), testemunha(s); (ii) lista de documentos a serem analisados, como contratos,
folhas de ponto, e-mails, relatórios técnicos; (iii) perguntas que deverão ser feitas a cada uma
das pessoas envolvidas que serão entrevistadas; e (iv) questões a serem discutidas com
outros departamentos como o Jurídico e de Recursos Humanos.

A empresa deve verificar quem conduzirá a investigação interna, se os profissionais do


Departamento de Compliance ou consultores externos. As investigações independentes
conduzidas por profissionais externos especializados, como advogados e auditores, dão
credibilidade e asseguram a imparcialidade dos resultados.

Em seguida, a empresa deve se preocupar em preservar os documentos relevantes. A


preservação e coleta de dados são essenciais para o sucesso de uma investigação. Também
devem ser verificadas quais serão as pessoas que serão entrevistadas, pois assim como
ocorre na etapa de análise de riscos e de due diligence, as entrevistas possuem um papel
importante durante uma investigação.

Geralmente a etapa de entrevistas ocorre após a análise dos documentos. É altamente


recomendável que antes de serem agendadas as entrevistas, a equipe de investigação
colete a maior quantidade de informações possíveis sobre a denúncia reportada, bem como
os indivíduos envolvidos.

Além disso, também é altamente recomendável que a entrevista seja conduzida por dois
profissionais possibilitando que um conduza a conversa enquanto o outro toma notas. Ainda,
a presença de dois profissionais possibilita que o profissional que não conduz a entrevista
seja uma testemunha, caso haja divergência entre entrevistador e entrevistado.

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A entrevista deve ser conduzida de forma a não coagir ou constranger o entrevistado. O
entrevistador deve ter ciência de que ele precisa do entrevistado para apurar os fatos da
denúncia. Ainda, a conversa deve ocorrer sem pressa e um ambiente reservado que permita
ao entrevistado se sentir confortável. As entrevistas devem ser individuais não havendo dois
entrevistados em uma mesma entrevista. O entrevistador deve sempre recordar ao
entrevistado que a conversa é confidencial e que a empresa possui política de não retaliação.

Durante as sessões de entrevistas, os aspectos locais e culturais também devem ser levados
em consideração. Da mesma forma, a entrevista deve ocorrer na língua materna do
entrevistado para que ele não tenha dificuldades para se expressar.

Outro aspecto a ser levado em consideração, é a ordem das entrevistas. Via de regra, as
entrevistas são realizadas de baixo para cima, ou seja, primeiro com o nível operacional,
depois gerência e, por último, a alta administração. Além disso, preferencialmente, o(s)
acusado(s) também é(são) o(s) último(s) a ser(em) entrevistado(s). Ainda, há casos em que
se recomenda a execução de entrevistas simultâneas com mais de uma equipe executando
as entrevistas em salas separadas. Assim, dificulta a conversa entre os envolvidos e que
alinhem as respostas.

Por fim, o entrevistador deve tomar cuidado em não revelar informações da investigação aos
entrevistados. Vale apenas demonstrar dados e/ou documentos em caso de confronto e
exclusivamente sobre aquele aspecto e não sobre toda a investigação até então realizada.

Com os fatos encontrados, a empresa precisará cessar a conduta ilícita e remediar a


situação. Como exemplos de cessão da conduta ilícita, vale mencionar: (i) suspensão/
rescisão de contratos; (ii) due diligence transacional; (iii) suspensão ou demissão de
funcionários, etc. Como exemplos de remediação da conduta ilícita, vale mencionar: (i)
demissão de funcionários que pode ser com ou sem justa causa; (ii) rescisão de contratos;
(iii) aprimoramento dos controles internos; (iv) atualização das políticas; (v) treinamentos; (vi)
aprimoramento de due diligence; (vii) adoção de medidas judiciais, etc.

2.1. Reporte para as autoridades

O reporte para as autoridades faz parte da investigação. As condutas ilícitas são


frequentemente encontradas durante as investigações internas e a conduta dos indivíduos
traz consequências para as empresas.

Ao final da investigação, a empresa verificará quais foram as condutas ilícitas praticadas e


quais serão as possíveis penalidades que poderão ser aplicadas pelas autoridades nacionais
e estrangeiras. Antes de decidir realizar o reporte para as autoridades, a empresa precisa
considerar diversos fatores circunstanciais e questões estratégicas. Da mesma forma, a
empresa precisa também determinar a natureza dos fatos, identificar as jurisdições
potencialmente envolvidas, verificar se existe a obrigatoriedade de reporte e a estratégia a
ser adotada.

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O reporte para as autoridades apresenta aspectos positivos e negativos que deverão ser
avaliados pela empresa. As principais vantagens são (i) redução ou exclusão de penalidades;
(ii) possível tratamento mais leniente das autoridades; e (iii) os fatos podem ser apresentados
de modo mais favorável. Entretanto, as principais desvantagens são: (i) alerta para as
autoridades; (ii) controle da investigação para as autoridades; e (iii) risco à imagem.

É importante que a empresa esteja preparada para responder as perguntas das autoridades
quando do reporte. Seguem abaixo algumas das perguntas geralmente feitas pelas
autoridades.

Perguntas das Autoridades


Quando a conduta foi descoberta?
O que foi feito para investigá-la?
Quais as informações obtidas?
O que foi feito para preservar a documentação relevante? Quando foi feito?
Quais medidas de remediação foram adotadas?

3. Due diligence de terceiros e em estruturações societárias

A due diligence anticorrupção ocorre nos processos de contratações de terceiros e em


estruturações societárias, como fusões e aquisições de empresas. Há diversos casos
recentes de FCPA, bem como o próprio FCPA Guide que destacam a importância da
realização da due diligence anticorrupção. Além disso, a Lei 12.846/13 dispõe da
responsabilidade sucessória nos processos de reestruturação societária.8

A due diligence também pode e deve ser utilizada pelas empresas para reduzir os riscos de
corrupção e propiciar um conhecimento aprofundado sobre os seus fornecedores e demais
terceiros.

3.1. Due diligence de terceiros


A due diligence anticorrupção de terceiros é recomendada para a contratação de
fornecedores, bem como para outros terceiros, como nas associações, patrocínios, doações,
etc.

Ao conduzir uma due diligence anticorrupção nos seus fornecedores, a empresa minimiza
os seus riscos de corrupção. É evidente que as empresas não devem conduzir uma due

8
Art. 4º, §1º, da Lei 12.856/13: “Art. 4o Subsiste a responsabilidade da pessoa jurídica na hipótese de alteração
contratual, transformação, incorporação, fusão ou cisão societária. § 1o Nas hipóteses de fusão e incorporação,
a responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de pagamento de multa e reparação integral do dano
causado, até o limite do patrimônio transferido, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas nesta
Lei decorrentes de atos e fatos ocorridos antes da data da fusão ou incorporação, exceto no caso de simulação
ou evidente intuito de fraude, devidamente comprovados”.

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diligence anticorrupção em todos os seus terceiros e nem com mesmo grau de profundidade.
O processo deve ocorrer com os fornecedores que falem em nome da empresa perante os
órgãos e funcionários públicos, bem como os demais fornecedores de risco que foram
identificados durante a etapa de análise de riscos.

A due diligence anticorrupção pode ser utilizada como uma forma de monitoramento do
fornecedor e deve ser realizada periodicamente e não apenas no momento de contratação.

Além dos fornecedores, as empresas devem verificar os demais terceiros com quem interage
que pode de alguma forma apresentar risco de corrupção. Assim, a due diligence
anticorrupção pode e deve ser conduzida pelas empresas nas associações das quais deseja
fazer parte, nas entidades sem fins lucrativos que deseja ajudar, nos patrocínios que venham
a ser realizados, etc.

As empresas devem estar sempre atentas aos terceiros que falem em seu nome ainda que
o terceiro seja uma associação privada ou uma entidade sem fins lucrativos. Tais terceiros
podem utilizar de modo indevido as mensalidades recebidas, bem como celebrar negócios
escusos para atingir seus objetivos. Desta forma, as empresas devem obter um
conhecimento profundo da associação ou entidade que vise a fazer parte para minimizar os
seus riscos de corrupção.

As etapas da due diligence anticorrupção são (i) análise de documentos; (ii) entrevistas com
as pessoas-chaves; e (iii) verificação das referências do fornecedor/ parceiro de negócios no
mercado.

A due diligence anticorrupção nos terceiros também não deve ser feita apenas no momento
de associação ou doação, pois caso a empresa mantenha um relacionamento constante com
o terceiro deverá monitorá-lo periodicamente.

Além disso, caso o terceiro seja aprovado no processo de due diligence, a empresa deve
celebrar um contrato formalizado a relação comercial, especificando o objeto, prazo e forma
de pagamento, além de determinar cláusulas anticorrupção e auditoria periódica que permita
a rescisão ou suspensão do contrato, em caso de descumprimento do contrato.

3.2. Due diligence em estruturações societárias

A due diligence anticorrupção nas estruturações societárias visa verificar se a target, também
conhecida como “empresa alvo” possui riscos ou casos concretos de corrupção ocorrerá
antes da concretização da operação societária.

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A Lei 12.846/13 é clara ao estabelecer a responsabilidade sucessória da empresa
adquirente,9 além de incluir nos parâmetros dos programas de compliance a necessidade de
condução de due diligence nesses processos e nos de contratação de terceiros. 10

A empresa que está num processo de reestruturação societária tem que verificar se a
empresa alvo cometeu algum desvio pertinente a legislação anticorrupção nacional e
estrangeira. Caso algum desvio seja encontrado, caberá a empresa adquirente a verificação
do processo de mitigação dos riscos, bem como a tomada de decisão se valerá a pena ou
não seguir no processo.

Em muitos casos, as empresas desejam fazer uma joint venture, ou seja, se unirem para a
condução de determinado negócio. Nestas uniões também se deve conduzir uma due
diligence anticorrupção para as empresas interessadas conhecerem umas às outras. Além
disso, é altamente recomendável que a joint venture possua sua própria estrutura de
compliance minimizando os riscos das empresas envolvidas.

O processo de due diligence anticorrupção não é simples e requer habilidade e conhecimento


específicos. Assim como as empresas contratam consultorias especializadas para a
condução da due diligence legal, aquela em que são verificadas as questões ambientais,
trabalhistas, fiscais, etc., é altamente recomendável que a empresa também contrate uma
consultoria especializada para a due diligence anticorrupção.

A due diligence anticorrupção é dividida em etapas similares a de uma investigação e análise


de riscos, porém com um foco diferente.

Assim, na due diligence anticorrupção também ocorrerá a etapa de revisão dos documentos
e a etapa de entrevistas com as pessoas chaves da empresa alvo. Além disso, quem conduz
a due diligence anticorrupção deve ser diligente e verificar, através de diversas fontes lícitas,
o histórico de integridade da empresa alvo.

A due diligence anticorrupção deve ocorrer também nas operações em que são adquiridas
apenas parte da empresa alvo e não apenas nas aquisições integrais, pois ainda que a
empresa adquiria um percentual baixo da empresa alvo e não possua poder decisório, ainda

9
Vide nota 8.
10
Art. 42, XIII e XIV, Decreto 8.420/15: “Art. 42. Para fins do disposto no § 4o do art. 5o, o programa de
integridade será avaliado, quanto a sua existência e aplicação, de acordo com os seguintes parâmetros:
XIII - diligências apropriadas para contratação e, conforme o caso, supervisão, de terceiros, tais como,
fornecedores, prestadores de serviço, agentes intermediários e associados; XIV - verificação, durante os
processos de fusões, aquisições e reestruturações societárias, do cometimento de irregularidades ou ilícitos ou
da existência de vulnerabilidades nas pessoas jurídicas envolvidas”.

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será um sócio da empresa alvo e responderá pelos atos praticados perante as autoridades
brasileiras e norte-americanas.

UMA VISÃO MAIS ESPECÍFICA SOBRE O COMPLIANCE

4. Compliance Digital

O aprimoramento, avanço e a cada vez mais intensa utilização da Tecnologia da Informação


em todos os campos da sociedade contemporânea, em especial no ambiente corporativo,
traz como consequência para os Compliance Officers a necessidade de aprofundamento dos
estudos no tema Compliance Digital.

Nesse cenário, o presente módulo tem por objetivo apresentar os fundamentos da disciplina
Compliance Digital, a fim de fornecer ao aluno conteúdo necessário para o entendimento do
contexto em que ela se insere no cotidiano profissional e a compreensão dos impactos que
as novas tecnologias podem acarretar as questões de conformidade.

A seguir, serão apresentadas as principais leis aplicáveis ao ambiente digital, o


posicionamento dos Tribunais a respeito da validade jurídica dos controles tecnológicos
adotados pelo empregador e a produção de provas eletrônicas para atribuição de
responsabilidades.

4.1. Contextualização do Tema Compliance Digital


A evolução da tecnologia alterou definitivamente a forma como os indivíduos trabalham na
sociedade contemporânea. Inúmeras são as inovações que permitem a geração, a troca e o
armazenamento de informação, em grande volume, variedade e velocidade. Em um mundo
amplamente interconectado, a prática de condutas irregulares pode passar pelo uso de
ferramentas de tecnologia da informação.

No ano de 2002, o escândalo financeiro envolvendo a Enron Corporation, gigante do setor


elétrico americano que manipulava balancetes para reduzir prejuízos e inflar os lucros,
demonstrou a fragilidade dos sistemas informatizados que armazenavam as informações
contábeis da empresa. Esse episódio motivou os norte-americanos a promulgarem a Lei
Sarbanes-Oxley, que dentre outras responsabilidades, impôs a obrigação de implementação
de controles internos voltados para Tecnologia da Informação.

Nos dias atuais, os dados corporativos podem estar armazenados em qualquer lugar: no
servidor dentro da companhia, no smartphone particular do executivo ou em uma plataforma
qualquer de computação em nuvem. As ferramentas de comunicação particulares e
corporativas não são mais segregadas e aplicações de troca de mensagens instantâneas
como WhatsApp e Telegram são utilizadas para tratar de negócios.

Recentemente, a operação Lava Jato veio a demonstrar que as provas eletrônicas estão
sendo amplamente utilizadas pelas autoridades para apuração de atos contra a
administração pública. Não apenas as empresas sofreram buscas e apreensões de seus

15

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dados informáticos, mas muitos de seus executivos tiveram também apreendidos seus
dispositivos particulares.

Posto isso, podemos concluir que o tema Compliance Digital é a disciplina que visa garantir
a conduta corporativa em conformidade também nos meios eletrônicos, a fim de minimizar
os riscos legais e preservar a integridade na condução dos negócios.

4.2. Cenário Legislativo Brasileiro


A evolução das regras jurídicas está intrinsecamente relacionada aos conflitos enfrentados
pela sociedade, os quais se modificam de tempos em tempos, por influência dos mais
variados fatores (mutação dos costumes, contexto histórico, evolução da tecnologia, entre
outros). Um exemplo que pode ilustrar essa situação ocorreu no século XIV, com a invenção
da prensa por Gutenberg: na época, aquela nova tecnologia revolucionou o universo literário,
na medida em que possibilitou a reprodução em larga escala de obras que até então eram
manuscritas. Foi esse episódio que criou a necessidade da criação de um novo paradigma
legislativo para a proteção da propriedade intelectual.

No século XXI, o desafio é criar regras jurídicas que façam sentido no universo das novas
tecnologias. Como regulamentar o UBER, aplicativo que revolucionou o mercado de
transporte privado em todo o mundo, sem empregar um único motorista sequer? Como se
vê, é impossível para o legislador criar leis que regulamentem todas as tecnologias que ainda
serão inventadas, bem como os conflitos delas decorrentes. Assim, o caminho mais usual é
a adaptação do ordenamento jurídico vigente para recepcionar esse avanço.

No Brasil, o entendimento consolidado é que esse ambiente eletrônico é uma extensão do


mundo real, consistente apenas em uma ferramenta para a prática de atos jurídicos.
Portanto, as leis já existentes são perfeitamente aplicáveis ao mundo virtual.

Evidentemente, alguns pontos demandam maior detalhamento, porquanto são situações


genuinamente novas, que não se enquadram no ordenamento jurídico existente. Alguns
crimes cibernéticos se enquadram nesse tipo de situação: a lei previa a invasão de uma
casa, mas não de um computador, por ser uma conduta nova, intrinsecamente relacionada
à tecnologia. Seguem algumas das leis mais relevantes que se inserem nesse contexto.

Leis relevantes
Instituiu a ICP-Brasil (Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira)
Medida Provisória
para garantir autenticidade, integridade e validade jurídica dos
n.º 2.200/2001
documentos eletrônicos certificados nesse âmbito
Instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente, para tratar da
proteção integral da criança e do adolescente. Sofreu várias
alterações até que em 2008, passou a criminalizar a conduta
Lei consistente na distribuição de fotografia, vídeo ou outro registro que
n.º 8.069/90 contenha pornografia infantil através da Internet. Criminalizou
também a conduta de quem assegura os meios para o
armazenamento deste material ou o acesso à rede de
computadores

16

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Alterou o Código Penal para criminalizar a conduta do funcionário
público que insere ou facilita a inserção de dados falsos, altera ou
Lei
exclui indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados
n.º 9.983/2000
ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter
vantagem ou para causar dano
Alterou a Consolidação das Leis do Trabalho para prever que os
Lei meios telemáticos e informatizados de comando, controle e
n.º 12.551/2001 supervisão se equiparam, para fins de subordinação jurídica, aos
meios pessoais e diretos que ocorrem no trabalho presencial
Alterou o Código Penal para criminalizar a conduta de invadir
Lei dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de
n.º 12.737/2012 computadores, mediante violação indevida de mecanismo de
Lei Carolina segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou
Dieckmann informações sem autorização do titular do dispositivo ou, ainda,
instalar vulnerabilidade para obter vantagem ilícita
Regulamentou dispositivo do Código de Defesa do Consumidor,
Decreto
para dispor sobre a contratação no comércio eletrônico. Impôs a
n.º 7962/2013
obrigatoriedade de constar determinadas informações nos sites
Decreto do E-
utilizados para a oferta de produtos ou serviços e/ou conclusão do
commerce
contrato de consumo
Estabeleceu princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da
Lei
Internet no Brasil. Tratou da proteção da privacidade dos usuários,
n.º 12.965/2014
da neutralidade de rede e impôs responsabilidades aos provedores
Marco Civil da
de conexão e de aplicações de Internet quanto à guarda de dados
Internet
que permitam a identificação dos usuários de seus serviços
Lei Instituiu o Novo Código de Processo Civil, lei que define as regras
n.º 13.105/2015 de direito processual. Dentre as inúmeras previsões, tratou da
Código de Processo utilização do documento eletrônico como prova em processo
Civil judicial
Decreto Regulamentou determinados pontos do Marco Civil da Internet.
n.º 8.771/2016 Tratou da neutralidade de rede e da proteção aos registros, dados
Decreto do Marco pessoais e comunicações privadas pelos provedores de conexão e
Civil de aplicações de Internet
Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que dispõe
Lei sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais,
n.º 13.709/2019 por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou
Lei Geral de privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de
Proteção de Dados liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da
personalidade da pessoa natural.

Diante do exposto, constata-se que o ordenamento jurídico brasileiro passou por um


amadurecimento natural para prever questões específicas relacionadas às novas
tecnologias. Portanto, o ambiente virtual não é uma terra sem lei.

4.3. Limites para os Controles Tecnológicos


A Lei Anticorrupção e o Decreto n.º 8.420/2015 impuseram um modelo de governança
corporativa que tem por objetivo garantir a transparência e incorporar um programa de
integridade. Estabelecem que a existência de mecanismos de controle capazes de detectar

17

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desvios, fraudes e irregularidades, bem como a aplicação efetiva de código de ética, serão
levadas em consideração na aplicação de sanções às empresas infratoras. 11 Por seu turno,
o referido decreto estabelece os parâmetros a serem respeitados pelo programa, incluindo o
monitoramento contínuo para o seu aperfeiçoamento, detecção e combate à ocorrência de
atos lesivos.12

Nesse contexto, o controle tecnológico revela-se uma ferramenta de extrema eficiência para
referida governança. O monitoramento dos e-mails corporativos e os logs das operações
contábeis são exemplos claros de mecanismos que podem acompanhar a aderência ao
código de ética pelos empregados e detectar a prática de atos lesivos em tempo real.

Porém, não se pode perder de vista que os programas de integridade serão aplicados aos
empregados, situação que necessariamente passa por questões trabalhistas. Nesse
aspecto, a privacidade do trabalhador é ponto de extrema sensibilidade.

Assim, é importante ter em mente que embora controles dessa natureza sejam altamente
eficientes para fins de garantir conformidade, existem parâmetros para utilizá-los, os quais
devem ser respeitados para garantir que as empresas atuem dentro da legalidade e sem
cometer excessos.

Como inexiste um marco regulatório específico sobre o tema, o Poder Judiciário passou a
interpretar os dispositivos legais existentes no ordenamento jurídico de molde a harmonizá-
los e aplicá-los no julgamento de casos concretos em que houve esse tipo de controle.

As discussões nos vários julgamentos sobre esse tema orbitaram essencialmente em torno
dos seguintes direitos: (i) o empregador tem o direito de propriedade sobre os equipamentos
e informações corporativas;13 (ii) respondem objetivamente por atos do empregado;14 e (iii)
gozam do poder de dirigir a atividade laboral. 15 Enquanto o empregado tem garantido o
direito à sua privacidade16 e inviolabilidade das suas comunicações de dados.17

Cabe trazer à baila nesse ponto um trecho do acórdão do Recurso de Revista n.º 613/2000-
013-10-00, prolatado aos 18.05.2005, pelo Tribunal Superior do Trabalho, considerado um
paradigma sobre o tema: “o empregado, ao receber uma caixa de "e-mail" de seu
empregador para uso corporativo, mediante ciência prévia de que nele somente podem

11
Lei Anticorrupção, art. 7º, VIII.
12
Decreto 8.420/2015, art. 42, XV.
13
Constituição Federal, art. 5º, XXII.
14
Código Civil, art. 932, III.
15
CLT, art. 2º.
16
Constituição Federal, art. 5º, X.
17
Constituição Federal, art. 5º, XII.

18

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transitar mensagens profissionais, não tem razoável expectativa de privacidade quanto a
esta, como se vem entendendo no Direito Comparado (EUA e Reino Unido). 5. Pode o
empregador monitorar e rastrear a atividade do empregado no ambiente de trabalho, em "e-
mail" corporativo, isto é, checar suas mensagens, tanto do ponto de vista formal quanto sob
o ângulo material ou de conteúdo. Não é ilícita a prova assim obtida (...)”.

Após a supramencionada decisão, muitos outros casos foram apreciados pelo Tribunal
Superior do Trabalho, que acabou pacificando a seguinte linha de entendimento.

Linha de Entendimento
O empregador deve implementar regra interna que informe ao trabalhador a
existência do procedimento de monitoramento de ferramentas tecnológicas de
forma clara e transparente
O trabalhador deve ter ciência inequívoca de que o procedimento de
monitoramento é realizado, a fim de afastar eventual expectativa de
privacidade
O monitoramento somente pode ser realizado na conta de e-mail corporativa e
demais ferramentas que sejam de propriedade do empregador, pois ostentam
natureza de ferramenta de trabalho
É vedado o monitoramento de contas de e-mail e demais aplicações
particulares, ainda que acessadas a partir da rede do empregador, pois em
relação a estas os empregados gozam de expectativa de privacidade

Conforme se observa, a existência de regras claras e o conhecimento prévio do empregado


são elementos fundamentais para a legalidade do procedimento, desse modo, impõe-se a
necessidade de adoção de documentos que legitimam esse controle.

Nesse sentido, é necessário estabelecer um Regulamento Interno, documento que atribui


responsabilidades, direitos, deveres e expectativas de acessos aos sistemas informatizados
da empresa, prevendo expressamente a existência do controle da infraestrutura tecnológica,
bem como um Termo de Uso, documento que deve ser assinado pelo empregado para
convalidar a sua ciência acerca das regras.

São esses os pilares e documentos que o Compliance Officer deverá observar para
implementar controles tecnológicos com o objetivo de verificar se os empregados atuam
dentro das diretrizes definidas pelo Código de Ética, bem como para detectar a ocorrência
de atos lesivos em tempo real.

4.4. Preservação e Produção das Provas Eletrônicas

A prova tem por finalidade a formação da convicção de alguém quanto à existência ou não
dos fatos alegados, destinada a um terceiro ou ao próprio agente da demonstração. Trata-
se de instrumento que permite a formação de convencimento sobre a ocorrência ou não de
determinados fatos.

Por sua vez, as provas eletrônicas nada mais são do que provas decorrentes do uso da

19

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tecnologia, armazenadas em um suporte digital.

A lei brasileira consagra o princípio da ampla defesa, garantindo aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo e, aos acusados em geral, o direito de defender-se provando
amplamente os fatos,18 sendo vedada a prova obtida por meios ilícitos.19

Ainda, o ordenamento jurídico adota o princípio da liberdade de forma das provas, permitindo
a utilização de todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não
especificados na lei, para provar a verdade dos fatos.20

Recentemente, as regras de direito processual civil foram alteradas para admitir


expressamente a utilização de documentos eletrônicos como provas em processos
judiciais.21

Assim, de acordo com as regras basilares processuais, as provas eletrônicas são


perfeitamente admissíveis. A lógica desse modelo legislativo não é fixar um valor probante à
cada uma das provas eletrônicas, mas compreender a forma de funcionamento da tecnologia
empregada e seus pontos falhos, a fim de apurar sua capacidade de demonstrar de forma
fidedigna a verdade dos fatos.

Nesse mister, embora admitidas as provas eletrônicas, é necessário ponderar acerca da sua
eficácia probatória, porquanto em razão da peculiaridade do suporte digital de
armazenamento, é possível a aplicação de recursos técnicos que alterem o seu conteúdo.

Assim, somente seria possível atribuir um manto de eficácia jurídica plena aos documentos
eletrônicos, se esses possuírem determinadas características que tornem possíveis a
certeza de autoria (autenticidade) e a garantia de veracidade do conteúdo (integridade).

Não se pode negar que é extremamente fácil um indivíduo se fazer passar por outro através
da Internet, problema relacionado à certeza de autoria, pois nem sempre o que parece ser
no meio eletrônico efetivamente é, uma vez que o autor aparente pode não ser o autor real.
Esta é principal problemática que assola os negócios jurídicos celebrados por meio
eletrônico.

Ainda, por meio da aplicação de recursos tecnológicos, é possível alterar o conteúdo de uma
prova eletrônica, problema relacionado à integridade. Isso porque a depender da tecnologia
utilizada, o conteúdo ou a formação de um arquivo digital pode ser facilmente adulterado.

18
Constituição Federal, art. 5º, LV.
19
Constituição Federal, art. 5º, LVI.
20
Código de Processo Civil, art. 369.
21
Código de Processo Civil, art. 441.

20

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Adicionalmente, tratando-se de prova eletrônica, é importante preservar a cadeia de
custódia, processo que tem por objetivo documentar a história cronológica da prova,
assegurando a sua idoneidade desde a coleta em seu estado inicial até a sua produção final,
para que de futuro possa ser reproduzida em processo administrativo ou judicial, caso seja
necessário.

Assim, sempre que houver a produção de uma prova eletrônica, o Compliance Officer deve
fazer as seguintes indagações durante investigação interna: (i) a prova tem garantia de
autenticidade? (ii) a prova tem garantia de integridade?; e (iii) a cadeia de custódia da prova
foi preservada?.

Algumas ferramentas podem ser utilizadas para dar apoio na missão de garantir que todas
as respostas para os questionamentos acima sejam positivas. Nesse mister, o instrumento
jurídico denominado Ata Notarial é muito útil. Trata-se de documento que tem o mesmo valor
de uma escritura pública, elaborado por Cartório de Notas, cujo trabalho é atestar a
existência de arquivos eletrônicos no ambiente virtual, atribuindo-lhe fé pública.

Essa modalidade específica de prova é prevista no novo Código de Processo Civil, o qual
inclusive menciona que dados representados por imagem ou som gravados em arquivos
eletrônicos poderão constar da Ata Notarial (art. 384, parágrafo único).

A realização de perícia técnica nos dispositivos informatizados é também prova de extrema


valia para a empresa apurar e comprovar responsabilidades, na medida em que utilizamos
dispositivos informatizados para a prática de quase todos os atos do cotidiano profissional.
Como a tecnologia deixa vestígios, uma análise técnica pode revelar com precisão a verdade
dos fatos ocorridos.

O método mais moderno utilizado atualmente para a realização de perícias dessa natureza
é a clonagem, que consiste na realização de uma cópia forense do HD do computador ou da
memória de outros dispositivos, tais como tablet, smartphone, pen drives e etc.

Preservado o equipamento original, um perito em Tecnologia da Informação realiza a análise


da cópia realizada, em busca de evidências que comprovem o objeto da investigação, com
a emissão de um Parecer Técnico.

Este parecer pode subsidiar a aplicação de penalidades, até mesmo de uma demissão por
justa causa. Pode ainda ser apresentado em juízo, para defesa dos interesses da empresa
na esfera judicial. A preservação da integridade do equipamento original é de extrema
relevância, pois caso seja necessário, pode-se depositar em juízo tal dispositivo, para a
realização de nova perícia por Perito Judicial.

5. Compliance na área da saúde

O Compliance na área da saúde tem o foco, também, de combater a corrupção, mas busca
regulamentar condutas no setor. Na indústria da saúde o principal objetivo é evitar que
aquele intermediário entre o cliente/paciente e o acesso à saúde (médicos, farmacêuticos,

21

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operadores de plano de saúde, etc.) seja corrompido ou sofra conflito de interesses.

Não se discute questionam técnicas desses profissionais, que por sinal, merecem o devido
respeito e reconhecimento. Mas quando essa decisão é influenciada por algum ganho
indevido que tenha recebido surge um problema de conduta na indústria da saúde e são
situações como esta que o Compliance tem a função de prevenir, detectar e remediar.

Qualquer produto oriundo da área da saúde (stents, próteses, medicamentos, etc.)


demandam um alto investimento em pesquisas, testes, marketing ou comunicação. É por
isso que surge uma preocupação com determinadas práticas comerciais que podem
desequilibrar a saudável competitividade do mercado.

5.1. Expansão do mercado global da saúde

Com o advento da globalização e a abertura de alguns países a empresas estrangeiras


motivaram grandes empresas multinacionais a buscar novos mercados fora de seus países
de origem. Pode-se dizer que no início dos anos 2000 ocorreu uma “corrida do ouro na área
da saúde”. Surgem assim os mercados farmacêuticos emergentes ou farmarkets, como o
BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Não necessariamente, as práticas comerciais que eram adotadas nos países de origem das
indústrias farmacêuticas (Estados Unidos, Europa e Japão), eram repetidos em suas filiais e
subsidiárias nos mercados emergentes. Assim, o crescimento expressivo dessas
companhias chamou a atenção do Governo Americano, que passou a estudar os
mecanismos utilizados por estas empresas para conquista de novos mercados.

Algumas companhias passaram a ser investigadas e processadas com base na FCPA (a lei
anticorrupção americana) e receberam sanções, seja por condenações ou por acordos em
que reconheceram as violações praticadas, como Johnson & Johnson (US$70 milhões,
2011), Pfizer (US$60.2 milhões, 2012), Eli Lilly (US$29.4 milhões, 2012), Stryker (US$13
milhões, 2013), Bio Rad (US$55 milhões, 2014), Avon (US$ 135 milhões, 2014). Hoje, mais
de 25 empresas de o setor da saúde reconhecerem que estão sob investigação. Assim, a
prática perniciosa na área da indústria da saúde passa a não valer a pena, não apenas do
ponto de vista ético, mas também do ponto de vista financeiro.

5.2. A evolução dos Programas de Compliance

Inicialmente, as empresas multinacionais passaram a implementar no Brasil uma extensão


do seu Programa de Compliance estruturados em seus países de origem. Dessa forma, se
praticava a “tropicalização” do programa, que não era baseado nas características e fatores
de risco locais, mas simplesmente traduzido para o português.

Com o crescimento da importância do Brasil no mercado internacional da saúde, bem como


o surgimento de normas mais rígidas com previsão de sanções às empresas, surge a
necessidade de uma revisão na estrutura dos programas de compliance das filiais ou
subsidiárias brasileiras.

22

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5.3. Regras aplicáveis

Em relação às regras aplicadas ao setor, destacam leis (US Foreign Corrupt Practices Act -
FCPA); UK Bribery Act e Lei Anticorrupção Brasileira) e as Convenções Internacionais
(Convenção da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico contra a
Corrupção e Convenção das Nações Unidas contra Corrupção).

Também se destacam as auto-regulamentações do setor como a IFPMA (Internacional


Federation of Pharmaceutical Manufacturers Associations), a EFPIA (European Federation
of Pharmaceutical Industries and Associations); a PhRMA (Pharmaceutical Research and
Manufacturers of America) e o Código INTERFARMA, que uma das autoridades mais
importantes, ao lado da ANVISA, na aplicação de punições a empresas ligadas à saúde.

Todas essas normas e outras que são complementares, devem ser levados em consideração
no momento da implementação ou na atualização de um Programa de Compliance em uma
empresa do setor da saúde.

5.4. Foco do Compliance na área da saúde

O profissional da área do Compliance na área da saúde não deve se limitar ao conceito de


ética para o desenvolvimento das políticas e estratégias de comunicação do seu programa.
Não que a ética e a moral não sejam relevantes, mas a conduta dos colaboradores,
representantes e parceiros da companhia que devem ser delimitados.

Também, não se trata de preocupar apenas com a corrupção de agentes públicos, mas
principalmente com as relações de quid pro quo 22 que possam caracterizar conflitos de
interesses. Por exemplo, um médico que recebe patrocínio de uma indústria farmacêutica
para a participação em congressos internacionais, pode se pender a receitar medicamentos
produzidos por aquela indústria, favorecendo-a em detrimento dos seus concorrentes. É por
isso que algumas áreas da empresa precisam ser observadas pelo Compliance, como a área
comercial, área de marketing e representantes comerciais.

Ainda, deve-se criar um padrão global para transações comerciais éticas e conformes, além
de promover a transparência nas suas relações, internas e externas (terceiros), como
organizações de contratos de venda, de Pesquisas Clínicas, de Eventos, de Pesquisa
Médica e de Administração de Planta ou Unidade, além de intermediários como agentes,
conselheiros e consultores. Tanto a empresa quanto um funcionário podem ser considerados
responsáveis por um pagamento de suborno feito por um terceiro - como um representante

22
Quid pro quo é uma expressão latina que significa "tomar uma coisa por outra" e serve para designar
situações em que um indivíduo recebe ou lhe é ofertado uma vantagem para ficar vinculado à suas decisões
futuras de acordo com o interesse daquele lhe ofertou ou concedeu a vantagem, em situações claras de conflito
de interesses.

23

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de vendas, consultor, contador ou advogado.

É oportuno lembrar também que no Brasil, diversas unidades de saúde (incluindo locais onde
são conduzidos estudos ou testes clínicos) são de propriedade ou controlados pelo governo,
que significa que muitos dos agentes de saúde trabalhando em tais instalações são
considerados agentes públicos.

Por isso é importante se atentar a qualquer coisa de valor (inclui dinheiro e equivalentes,
presentes, hospitalidade, entretenimento, viagens, passagens, contribuições para
campanhas políticas ou para instituições de caridade, oferta de empregos ou qualquer outro
benefício que um indivíduo pode reconhecer como sendo um bem de valor) que possam
influenciar de forma imprópria uma decisão comercial (inclui a venda de bens, outorga ou
renovação de contratos/concessões, aprovações regulatórias, redução de impostos ou
isenção de taxas ou despesas de importação), especialmente se relacionada a agentes
públicos.

O Programa de Compliance não pode ser um mecanismo estático, mas sim fluído, adequado
a atender as regras e os riscos específicos da área de saúde. É preciso conhecer os
diferentes setores (farmacêutico, hospitalar, operador de planos de saúde, etc.) com as suas
devidas peculiaridades.

6. Prevenção à Lavagem de Dinheiro

Assim como a prevenção à corrupção é um tema de abordagem internacional, prevenção à


lavagem de dinheiro também é. O valor estimado de dinheiro lavado anualmente no mundo
está entre 2% e 5% do PIB mundial, ou seja, algo entre US$ 800 bilhões e US$ 2 trilhões. 23

O principal órgão de atuação internacional no combate à lavagem de dinheiro no mundo é o


GAFI/FATF OU Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento
do Terrorismo, que é uma organização intergovernamental cujo propósito é desenvolver e
promover políticas nacionais e internacionais de combate à lavagem de dinheiro e ao
financiamento do terrorismo, criado em 1989. O GAFI é um organismo elaborador de políticas
que atua visando a gerar a vontade política necessária para realizar reformas legislativas e
regulatórias nessas áreas. Para cumprir este objetivo, publicou suas Recomendações.24

6.1. Conceito de Lavagem de Dinheiro


A lavagem de dinheiro é a utilização de um recurso (ativo) proveniente de um ato ilícito na
economia, com o objetivo de disfarçar a sua origem ilegal. Assim, é o conjunto de operações
comerciais ou financeiras que buscam a incorporação de recursos de origem ilícita na
economia de cada país. Portanto, é necessária a prática de um crime ou uma contravenção
penal anterior, que gere o recurso (ativo).

23
United Nations Office on Drugs and Crime. https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/crime/campanhas.html
24
http://www.coaf.fazenda.gov.br/menu/atuacao-internacional/participacao-no-gafi

24

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O criminoso pode obter recursos da prática de crimes e não se valer da lavagem de dinheiro.
Pablo Escobar perdia R$ 8 bilhões em dinheiro por ano para ratos e vazamentos e não se
importava com isso. O irmão do traficante diz em seu livro: “Pablo estava ganhando tanto
que a cada ano nós descartávamos 10% como perdas, já que os ratos comiam o dinheiro
que estava no depósito ou então era algum vazamento que molhava as notas – ou então se
perdia simplesmente“.25 Este ato de esconder o dinheiro em espécie não configura o crime
de lavagem de dinheiro. No entanto, quando se compra bens, como por exemplo um imóvel,
configura-se a lavagem de dinheiro.

A Lei 9.613/1998 relacionava os crimes que se classificavam como anteriores e que davam
origem à lavagem de dinheiro (por exemplo, tráfico de drogas, terrorismo, contrabando ou
tráfico de armas, extorsão mediante sequestro e crimes contra a administração pública ou
contra o sistema financeiro). No entanto, em uma das recomendações do GAFI foi sugerido
ao Brasil que ampliasse esse rol, com o objetivo de aumentar responsabilização de agentes
pelo crime de lavagem de dinheiro.

Assim, a Lei 12.683/2012 exclui esse rol taxativo de crimes antecedentes e passou entender
como lavagem de dinheiro qualquer ato de “ocultar ou dissimular a natureza, origem,
localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores
provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal“.26 Outras alterações importantes
foram a ampliação do rol de “pessoas obrigadas” a implementarem programas de prevenção
à lavagem de dinheiro e aumento do valor máximo da multa de R$ 20 mil para R$ 20 milhões.

6.2. Formas de Lavagem de Dinheiro


A prática da lavagem de dinheiro pressupõe três fases: colocação, ocultação e integração.

Colocação Ocultação Integração

1. Colocação – fase que se insere o dinheiro no sistema econômico por depósitos, compra
de instrumentos negociáveis ou compra de bens. As técnicas mais utilizadas são: o
fracionamento dos valores e a utilização de estabelecimentos comerciais que usualmente
trabalham com dinheiro em espécie (estacionamentos, lava a jato, restaurantes, salões de
beleza). Assim, o agente consegue declarar que fatura mais do que realmente recebe, nem
que tenha que pagar mais tributos.

25
http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2015/09/pablo-escobar-perdia-r-8-bi-em-dinheiro-
por-ano-para-ratos-e-vazamentos-e-nem-ligava.html
26
Art. 1o da Lei 9.613/1998, cuja redação foi alterada pela Lei 12.683/2012.

25

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2. Ocultação - consiste em dificultar o rastreamento contábil dos recursos ilícitos. As técnicas
mais utilizadas são: movimentação de forma eletrônica, transferindo os ativos para contas
anônimas – preferencialmente, em países amparados por lei de sigilo bancário – ou
realizando depósitos em contas “fantasmas”.

3. Integração - procedimento que transforma recursos oriundos de atividades ilegais em


recursos aparentemente lícitos, valendo-se de múltiplas transações financeiras, como por
exemplo, o recebimento de lucros e dividendos de empresas de fachada, utilizadas na fase
de colocação.

6.3. Prevenção ao Financiamento do Terrorismo

A luta contra o financiamento do terrorismo está intimamente ligada com o combate à


lavagem de dinheiro. Portanto, hoje os Programas de Prevenção à Lavagem de Dinheiro
também atuam na prevenção ao financiamento ao terrorismo. Pressionado pelo GAFI, o
Brasil também criminalizou o terrorismo e seu financiamento.

O artigo 2o da Lei 13.260/2016 define que “o terrorismo consiste na prática por um ou mais
indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar
terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a
incolumidade pública”.

São exemplos: crimes cometidos a bordo de aeronaves; empoderamento ilícito de


aeronaves; atos contra a segurança de civis; e crimes contra pessoas protegidas
internacionalmente (diplomatas, líderes religiosos etc.).

6.4. Setores obrigados

Setores obrigados são pessoas físicas e jurídicas que exercem determinadas atividades que
estão obrigadas a implementar medidas de prevenção à lavagem de dinheiro.

Os setores integrantes do Sistema Financeiro, sujeitos às regulamentações do Conselho


Monetário Nacional (CMN), Banco Central do Brasil (Bacen ou BCB), Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), Superintendência de Seguros Privados (Susep) ou Superintendência
Nacional da Previdência Complementar (Previc) estão no rol desde a Lei 9.613/1998.

Outros setores foram inseridos pela Lei 13.260/2016 como (i) factorings; (ii) seguradoras e
corretoras de seguros; (iii) imobiliárias; (iv) juntas comerciais e registros públicos; (v) gestoras
ou criadoras de sociedades de qualquer natureza, fundações ou fundos fiduciários; (vi) quem
promova ou comercialize obras de arte ou antiguidades, joias, pedras preciosas ou artigos
de luxo em geral, bens de alto valor de origem rural ou animal (ex: bovinos ou equinos),
direitos sobre contratos relacionados a atividades desportivas, artísticas, exposições ou
eventos similares; (vii) Quem preste assessoria, consultoria, auditoria, aconselhamento ou
assistência em qualquer dos temas descritos acima; (viii) quem comercializa bens de luxo ou
alto valor; e (ix) empresas de transporte e guarda de valores.

26

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Se este setor for regulado diretamente, deve seguir as exigências de prevenção à lavagem
de dinheiro impostas por estes órgãos. Caso não seja regulado diretamente, quem dita as
regras é o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão criado no âmbito
do Ministério da Fazenda, foi instituído pela Lei 9.613/1998.

As competências do COAF estão definidas nos artigos 14 e 15 da referida lei, quais sejam:
receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas; comunicar às
autoridades competentes para a instauração dos procedimentos cabíveis nas situações em
que o Conselho concluir pela existência, ou fundados indícios, de crimes de “lavagem”,
ocultação de bens, direitos e valores, ou de qualquer outro ilícito; coordenar e propor
mecanismos de cooperação e de troca de informações que viabilizem ações rápidas e
eficientes no combate à ocultação ou dissimulação de bens, direitos e valores; disciplinar e
aplicar penas administrativas.27

6.5. Algumas Resoluções do COAF


São alguns exemplos de Resoluções do COAF:

▪ Factorings: Resolução nº 21, de 20 de dezembro de 2012 e Manual da ANFAC.


▪ Joalherias e relacionados: Resolução nº 23, de 20 de dezembro de 2012 e Guia do IBGM.
▪ Pessoas que prestam serviços de serviços de assessoria, consultoria, auditoria e
relacionados: Resolução nº 24, de 16 de janeiro de 2013.
▪ Pessoas que comercializem bens de luxo ou de alto valor: Resolução nº 25, de 16 de
janeiro de 2013.
▪ Resolução nº 29, de 7 de dezembro de 2017 - Dispõe sobre os procedimentos a serem
observados pelas pessoas reguladas pelo COAF, na forma do § 1° do artigo 14 da Lei n°
9.613, de 3 de março de 1998, relativamente a pessoas expostas politicamente.

6.6. Programa de Prevenção à Lavagem de Dinheiro

As “pessoas obrigadas” têm o chamado “dever de compliance” previstos nos artigos 10 e 11


da Lei de Lavagem. Portanto, os programas têm alguns pilares obrigatórios que devem ser
observados no momento de estruturação do Programa de Compliance nas companhias
destes setores obrigados. São eles:

▪ Desenvolver e implementar políticas, procedimentos específicos e controles internos


compatíveis com o volume das operações (“Conheça seu Cliente, Funcionário, Fornecedor,
Parceiro”, Avaliação de Novos Produtos e Serviços);
▪ Identificar e manter atualizados os dados cadastrais dos clientes;
▪ Manutenção do registro e monitoramento das operações;
▪ Prestar informações requisitadas pelas autoridades financeiras;
▪ Comunicar a prática de operações suspeitas ou simplesmente de valor para os órgãos
competentes;

27
http://www.coaf.fazenda.gov.br/acesso-a-informacao/Institucional/competencias

27

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▪ Treinamentos; e
▪ Auditoria periódica e permanente.

6.7. “Conheça Seu Cliente" (KYC)


Trata-se de um procedimento considerado como elemento crítico na prevenção e
identificação de operações suspeitas, busca reduzir a possibilidade das organizações se
tornarem veículos ou vítimas de crimes. No processo de KYC, é essencial a existência e
efetiva aplicação de procedimentos e políticas internas relacionadas à aceitação e
cadastramento de clientes.

Deve-se verificar a adequação da documentação dos clientes e compatibilidade das


operações, bem como a manutenção da atualização dos dados e documentos cadastrais.

Conhecimento da origem do patrimônio e


monitoramento da compatibilidade das transações
com o perfil do cliente

REGRAS Identificar a origem e constituição do patrimônio e dos


recursos financeiros do cliente, bem como de suas
E PROCEDIMENTOS instalações, volume de produção e faturamento

Realizar visitas pessoais ao cliente nos seus locais de


trabalho e nas instalações comerciais de sua propriedade
(certificação das informações prestadas/ausência de
irregularidades)

6.8. Pessoas Politicamente Expostas (PEP)


Pessoas Expostas Politicamente (PEP) são “os agentes públicos que desempenham ou
tenham desempenhado, nos últimos cinco anos, no Brasil ou em países, territórios e
dependências estrangeiras, cargos, empregos ou funções públicas relevantes, assim como
seus representantes, familiares (parentes em linha reta de 1º grau como filhos ou pais, o
cônjuge, companheiro e enteado) e outras pessoas de seu relacionamento próximo, nas
condições indicadas pelo Banco Central do Brasil, COAF ou pelas autoridades normativas
responsáveis pela regulação do setor”.28

Quando identificado uma PEP, deve-se considerar pessoas jurídicas que tenham controle,
direto ou indireto, por PEP. Também se observa movimentações com habitualidade de
recursos financeiros de/ ou para PEP cliente da instituição, não justificada por eventos

28
Art. 4º da Circular 3.461/ 2009 com redação pela Circular 3.654/ 2013 do Bacen e outras regulamentações
setoriais

28

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econômicos, como a aquisição de bens ou a prestação de serviços.

Apenas pode ser iniciada relação de negócio de caráter permanente ou dar prosseguimento
a relação dessa natureza já existente com o cliente, se observadas as providências de
identificação e caracterização ou não de PEP (não necessariamente implica no
encerramento da relação), fazendo a devida comunicação ao COAF.

Conforme a Resolução nº 29/2017, “consideram-se pessoas expostas politicamente: I - os


detentores de mandatos eletivos dos Poderes Executivo e Legislativo da União; II - os
ocupantes de cargo, no Poder Executivo da União, de: a) Ministro de Estado ou equiparado;
b) Natureza Especial ou equivalente; c) presidente, vice-presidente e diretor, ou
equivalentes, de entidades da administração pública indireta; e d) Grupo Direção e
Assessoramento Superior - DAS, nível 6, ou equivalente; III - os membros do Supremo
Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e dos Tribunais Regionais Federais, do Trabalho
e Eleitorais; IV - o Procurador-Geral da República, o Procurador-Geral do Trabalho, o
Procurador-Geral da Justiça Militar e os Procuradores-Gerais de Justiça dos Estados e do
Distrito Federal; V - os membros do Tribunal de Contas da União e o Procurador-Geral do
Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União; VI - os presidentes e tesoureiros
nacionais, ou equivalentes, de partidos políticos; VII - os governadores e secretários de
Estado e do Distrito Federal, os Deputados Estaduais e Distritais, os presidentes, ou
equivalentes, de entidades da administração pública indireta estadual e distrital e os
presidentes de Tribunais de Justiça, Militares, de Contas ou equivalente de Estado e do
Distrito Federal; VIII - os Prefeitos, Vereadores, Presidentes de Tribunais de Contas ou
equivalente dos Municípios”.

6.9. Comunicação ao COAF


As comunicações ao COAF fazem parte dos mecanismos de controle definidos na Lei nº
9.613, de 1998, para prevenção e combate ao crime de lavagem de dinheiro e financiamento
ao terrorismo. As pessoas relacionadas no artigo 9º da referida Lei devem efetuar
comunicações ao COAF. Devem ser comunicadas ao COAF todas as operações e propostas
mencionadas no artigo 11 da Lei nº 9.613, de 1998, observadas as orientações contidas nos
normativos específicos emitidos pelos órgãos reguladores das respectivas pessoas físicas e
jurídicas sujeitas à referida Lei, como por exemplo as operações que, nos termos de
instruções das autoridades competentes, possam constituir indícios do crime de lavagem de
dinheiro ou a ele relacionados. 29

Assim, cabe à organização julgar se a situação pode configurar ou não crime, lembrando que
a comunicação de boa-fé não acarretará responsabilidade civil ou administrativa às
organizações, administradores ou seus colaboradores. Há ainda a obrigatoriedade de
manutenção pelo prazo de 5 anos dos documentos relativos às análises de operações ou
propostas que fundamentaram a decisão de efetuar ou não as comunicações ao COAF.

29
http://www.coaf.fazenda.gov.br/backup/Pessoas_Obrigadas/perguntas-e-respostas

29

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6.10. Penalidades

As comunicações devem ser encaminhadas ao COAF no prazo de 24 horas a contar da


conclusão da operação ou da proposta de operação. O não cumprimento das obrigações
previstas na Lei nº 9.613, de 1998, sujeita às sanções dispostas no artigo 12 dessa mesma
Lei. São penalidades no caso de descumprimentos das obrigações estipuladas pela Lei de
Lavagem de Dinheiro:

▪ Advertência
▪ Multa pecuniária variável não superior: (i) ao dobro do valor da operação; (ii) ao dobro do
lucro real obtido ou que presumivelmente seria obtido pela realização da operação; (iii) ao
valor de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais).
▪ Cassação ou suspensão da autorização para o exercício de atividade, operação ou
funcionamento.
▪ Inabilitação temporária, pelo prazo de até dez anos, para o exercício do cargo de
administrador das pessoas jurídicas referidas no art. 9º.

A aplicação de eventuais sanções decorre da instauração de processo administrativo pelo


órgão fiscalizador.

VERSÕES

Data Versão Descrição Autores


Daniel Sibille (Coordenador do Curso de
Compliance Anticorrupção da LEC)
1.0 Criação
14/09/2016
Cláudia Massaia (Monitora do Curso de
Compliance Anticorrupção da LEC)

Fábio Risério (Coordenador do Curso de Gestão


01/2017 1.1 Revisão
e Riscos, Crises e Continuidade de Negócios)

Cláudia Massaia (Monitora do Curso de


21/04/2017 1.2 Revisão
Compliance Anticorrupção da LEC)

Atualização,
Matheus Cunha (Coordenador do Curso Online
11/10/2017 1.3 revisão e
Anticorrupção da LEC em 2017)
remodelagem

Atualização e
31/10/2019 1.4 Matheus Cunha
revisão

QUADRO DE ATUALIZAÇÃO PERIÓDICA

Data Pag. Descrição Referência


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