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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Artes e Comunicação


Departamento de Artes

Maria Nivia Romualdo Guerra

OS TRÊS PROFANOS:
A importância do irreverente Teatro Vivencial

Jaboatão dos Guararapes


2020
Maria Nivia Romualdo Guerra

OS TRÊS PROFANOS:
A importância do irreverente Teatro Vivencial

Artigo apresentado ao curso de Licenciatura


em Teatro, como avaliação parcial da disciplina
Teatro em Pernambuco, ministrada pelo
professor Roberto Lúcio Cavalcante de Araújo.

Jaboatão dos Guararapes


2020
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A escritora, ativista e educadora estadunidense, Gloria Jean Watkins, mais


conhecida pelo seu pseudônimo bell hooks, nos diz que a ficção popular escapista é
admirada por leitores adultos, todavia, a mesma não os desafia a construir uma
educação que estimule um pensamento crítico. É interessante observar essa
colocação, pois, de fato: como podemos nos basear apenas no que nos traz
distração ou bonança e aprender a deixar todo um senso analista de lado? Afinal,
precisamos de um senso crítico ativo, de uma reflexão presente e de figuras reais ou
até mesmo ficcionais que nos estimulem a desenvolver tal parâmetro reflexivo.
Em contrapartida à ideia afirmada pela ativista, o grupo em análise acerta
em cheio no quesito desenvolver o olhar crítico de seu público. O Grupo de Teatro
Vivencial, surgido em Olinda e perdurando-se no espaço-tempo da década de 1970
e 1980, tornou-se um objeto de estudo impactante, surpreendente e admirável para
quem vos fala. Impactante por dois motivos: a) pela sua diversidade, não só na
questão do exercício das sexualidades, mas também no que diz respeito à presença
de minorias sociais e à junção disso com espetáculos baseados nas vivências de
seus integrantes; b) a importância – fator que se tornou o principal aspecto da
pesquisa –, obtida nessa época, essencialmente sociocultural, no que visa à
liberdade de expressão e de ser.
O começo de toda a investigação resume o porquê de toda a surpresa com
o Grupo. Primeiramente, o choque veio ao me questionar sobre o porquê de nunca
ter me dado conta da existência do Vivencial. Sendo assim, o lado leigo tornou-se o
motivo de escolha de ter o Vivencial como matéria de aprofundamento. Ao
amadurecer minhas ideias, me surpreendi com a coragem do coletivo para com sua
época. Uma companhia criada em tempos de ditadura, tendo sua estreia dois meses
após o fim dos Anos de Chumbo (1968-1974), mostrando toda a sua irreverência e
desbunde naquele contexto político-social. Ora, como não se surpreender? Surgiu
uma admiração. Admiração por seus integrantes e pelo modus operandi das
“vivecas” – forma como os integrantes se denominavam –, dentro e fora do palco.
Baseando-me, principalmente, em estudiosos do grupo, como o pesquisador
Rodrigo Dourado e o Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), Mateus Melo dos Santos, foi notório perceber a complexidade da história do
Vivencial, onde seus membros não limitavam suas reivindicações apenas ao palco
ou ao Café-Concerto Vivencial Diversiones, levando, assim, muito de sua liberdade
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e purpurina para além dos palcos. Dessa forma, para construir uma noção concisa
sobre o conjunto, tais autores contribuíram de forma rica e exemplar nessa, até
então, pequena caminhada, pois, abraçando suas histórias, seus detalhes descritos
e seus dados, pude me aprofundar no ponto crucial e que darei foco ao longo de
minha escrita: a importância do Teatro Vivencial a partir de sua história, dando
atenção a três peças importantes na trajetória do grupo.

DO CÉU À IRREVERÊNCIA

O ano era 1974, marcado pelo fim do período de mais força da repressão
militar, durante os Anos de Chumbo, nos quais perseguiam, torturavam e até mesmo
desapareciam com artistas, militantes, políticos, ativistas e músicos. Não obstante,
houve uma instituição que, apesar de favorável ao militarismo da época, sofreu
perseguições durante o já citado intervalo de forte perseguição política. Pode
parecer contraditório, todavia, a Igreja passava por mudanças e, dentre elas, veio o
regresso do trabalho com as classes mais pobres. Em consequência disso, foi
possível perceber a adesão de integrantes do clero aos ideais progressistas, motivo
esse que foi o bastante para que membros da Igreja fossem vítimas de prisões
políticas.

Diante disso, um fator que demonstra muito bem a retomada de valores da


Igreja, referentes ao trabalho com as classes excluídas socialmente, é o fato de que
o nosso objeto de estudo surgiu no ventre da mesma. Dentro da Arquidiocese de
Olinda e Recife existia a Associação dos Rapazes e Moças do Amparo (ARMA). A
associação tinha como finalidade, a partir da reflexão de seus jovens integrantes,
desenvolver atividades ligadas à cultura, geralmente com a criação de grupos de
músicas, artes plásticas e teatro. Naquele ambiente de troca com a juventude surgiu
o Vivencial. Com a diretoria de Guilherme Coelho, então postulante a monge
beneditino na época, em maio de 1974, ano do décimo aniversário da Associação, o
grupo promove a apresentação de um espetáculo.

A estreia acontece no auditório do Mosteiro de São Bento, com o espetáculo


Vivencial I, com direção de Guilherme Coelho. A peça, além de ser marcada pelo
improviso, foi um conjunto de textos de jornal, de dramaturgos e de filósofos. Como
se não bastasse, apesar de ser o primeiro momento do Grupo, o Vivencial deixa
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indícios claros do que viria a acontecer durante a sua história: as temáticas


abarcavam assuntos polêmicos para o contexto social (e político) em que a trupe
estava inserida. Levar assuntos como política, massificação, drogas, violência,
homossexualidade e tecnologia para o palco fez com que o público ficasse numa
linha tênue entre o encantamento e a estranheza. Além disso, um dos traços
marcantes do Grupo foi o fato de seus integrantes levarem sua realidade – ou
vivência – para a cena.

Apesar de grande parte de quem os recebeu mostrar certo êxtase com o que
foi visto, o grupo acabou sendo motivo de desagrado no meio de religiosos, já que
era ligado à pastoral da Igreja. Com isso, o Vivencial é expulso da Arma,
transferindo-se para o Teatro do Bonsucesso, também em Olinda. Lá a trupe se
organiza e passa quase um mês em cartaz, com seus espetáculos totalmente
gratuitos – fato que acontecia como maneira de driblar a censura federal. Contando
com uma equipe grande, além de Guilherme Coelho, o conjunto também contava
com Américo Barreto, Alfredo Neto, Miguel Ângelo e Fábio Coelho. Juntando-se,
após esse momento inicial, Suzana Costa, Ivonete Melo, Auricéia Fraga, Fábio
Costa e Beto Diniz. Assim, o Vivencial, agora como grupo de teatro independente,
se estabelece como pessoa jurídica, configurando-se como Grupo de Teatro
Vivencial Ltda.

A partir da análise do que já foi citado, é possível perceber a essência


transgressora do Vivencial. O fato de estarem ligadas à Igreja não inibiu as vivecas
de mostrarem para o que vieram. Ou seja, os membros do grupo não se limitaram a
algo nos moldes do que era esperado no teatro da época, principalmente ao padrão
que sempre esteve em alta no teatro do Recife (uma cena rebuscada, em
semelhança com o TAP). Com isso, o pesquisador Rodrigo Dourado deixa claro que
o objetivo da trupe era

falar da realidade do jovem da periferia, esmagado pela miséria econômica,


social, e pela opressão política da Ditadura Militar. Para isso, ele se utiliza
da colagem teatral, lançando mão de textos de autores teatrais, cronistas,
contistas e do noticiário da imprensa na criação de seus espetáculos.
(DOURADO, 2009).

Diante disso, não restam dúvidas do quanto a irreverência foi um fator não
só presente, mas também importante, e que serviu como forte influência no
Vivencial. O “desrespeito” de um espetáculo rodeado de sensualidade, expressão
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corporal e desbunde, em um contexto político de forte repressão, principalmente


quanto à marginalidade da trupe e de seus integrantes, parte de minorias sociais,
era como uma afronta aos valores e padrões ditatoriais daquela época. Dando
sequência a essa afirmação, aprofundaremos nossa análise a partir da avaliação de
três espetáculos da trupe, a forma de se expressar e de se organizar do Vivencial,
que se firmava, ao longo do tempo, como um grupo em constante transgressão.

OS TRÊS PROFANOS

De acordo com o Dicionário Online de Português, a palavra “impactante”


define-se como algo “que dá origem ou motiva impacto” (2020). Seguindo essa linha
de raciocínio, o Teatro Vivencial materializou, com excelência, tal definição em
vários sentidos. Sentidos esses que serão esmiuçados nesse capítulo, onde
poderemos falar um pouco sobre o funcionamento e impacto do grupo, com base em
três espetáculos: Genesíaco, Nos abismos da Pernambucália e o sucesso Bonecas
Falando para o Mundo.
No período de 1974 a 1983, o Vivencial enriqueceu a cena teatral
pernambucana, e arrisco dizer brasileira, com 31 espetáculos. Dentre eles, podemos
começar citando a segunda apresentação da trupe, Genesíaco, uma atração feita no
Mercado da Ribeira, em Olinda, em novembro de 1974. Não havia palco, a proposta
dos integrantes era trazer a aproximação deles, atores, com o público. Tornando,
então, os espectadores co-atuantes na peça. Essa maneira de fazer teatro se
estendeu até os últimos dias do grupo, seja incitando nos espectadores uma
reflexão crítica, seja deixando que eles, voluntariamente, interagissem com os
artistas. Outro ponto interessante refere-se à temática do espetáculo. Com a ação
da expressão corporal e da forte sensualidade, o Vivencial traz a relação do sagrado
e do profano para a cena, relação essa que perdurou, graças a Guilherme Coelho,
por toda a trajetória do conjunto (SANTOS, 2018).
A partir disso, é notório que em cada espetáculo apresentado o Vivencial
deixa rastros indicando quem são eles, suas ideias e sua forma de enxergar o
mundo. Além de todo o tom reflexivo, entrelaçado à interação com o público. Na
peça Nos abismos da Pernambucália, foi estabelecida a união do Vivencial com o
cineasta Jomard Muniz Britto, que demonstrou uma forte primeira impressão diante
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do conjunto, na fala do diretor em entrevista ao programa de televisão Opinião


Pernambuco:

“Eu fiquei muito fascinado com a irreverência de tudo. Não era o problema
de nudez, nem do sexo. Era o todo, a bricolagem que eles faziam, sem se
usar esta palavra. E isso é que me fascinou muito, e num momento de muita
repressão sociopolítica” (BRITTO apud SANTOS, 2018, p. 25).

Nos abismos da Pernambucália, além de contar com a influência de Britto,


serviu para que o Vivencial passasse a obter espaço nas páginas de jornais,
recebendo até mesmo elogios vindos de grandes críticos da época, como Valdi
Coutinho (1943-2020).
Aprofundando o olhar sobre a peça em questão, a intenção da trupe com a
mesma era a de diversificação do repertório. Estrelada em novembro de 1975, no
auditório do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), o espetáculo,
além de ser visto como uma provocação à hegemonia armorial (DOURADO, 2009),
serviu também como declaração estética do grupo, pois foi ali que ficou mais do que
perceptível a preocupação do Vivencial não só com a questão política mas também
com a questão social. Foi com a Pernambucália que o grupo contestou a cultura
oficial e fez uso da “semiologia da pobreza”, que evidenciava a preocupação social
do conjunto ao mesmo tempo que se colocavam como subproduto do luxo cultural
do momento (SANTOS, 2018).
Desse jeito, fica claro que o Vivencial não pulava fora da marginalidade do
próprio conjunto. Pelo contrário, aquilo era levado ao palco de uma maneira
nomeada por Jomard Muniz Britto como a “estética do lixo”. Tal estética não surgiu
por acaso. Na verdade, foi fincada nas entranhas “vivencialescas” porque,
inicialmente, em resposta à falta de poder monetário do grupo, as vivecas
dependiam de doações de roupas, instrumentos cenográficos e acessórios. Além
dos trabalhos manuais, tudo era encarado em suas cenas: bater pregos, realizar
montagens, pinturas, confeccionar roupas... O trabalho de reutilização do que era
dado ou achado era tão grande, que os integrantes se utilizavam até do que era
descartável, fazendo esse tipo de material tornar-se importante dentro da cena.
Pautada pelo trabalho de transformar o lixo em algo belo, a segunda fase da
trupe se dá com o Vivencial Diversiones, um café-concerto que seria local não só de
teatro como também show de músicas, danças e afins. Localizado numa periferia na
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divisa entre Recife e Olinda, O Vivencial Diversiones se materializa como fruto de


um trabalho de economia de dinheiro durante cinco longos anos. Construída
lentamente ao longo de 1978, a casa fica pronta ao fim do mesmo ano, firmando-se
como um espaço diverso. Com o clima de cabaré, em toda a sua força de grupo
transgressor e de influência tropicalista, o Vivencial abre espaço para minorias
sociais não só ligadas à sexualidade, mas também para pessoas negras, periféricas,
analfabetas e também a qualquer nicho social recusado na sociedade e no âmbito
artístico convencional.
Nessa segunda fase do Vivencial, o grupo passa a angariar o prestígio do
público, sendo o Vivencial Diversiones frequentado em especial pela classe média e
a burguesia da época. Por consequência, a trupe acaba por abrir um novo mercado
de trabalho para transformistas. É importante dizer: o papel de inclusão social das
vivecas era tão grande que diversas travestis passaram a integrar o grupo e se
profissionalizaram como artistas, numa tentativa inteligente do Vivencial de impedir
que essas pessoas acabassem presas por vadiagem.
Após situar sobre quem, agora, fazia parte do Vivencial, podemos chegar ao
espetáculo de 1979, dirigido por Guilherme Coelho, Bonecas Falando para o Mundo.
A montagem contava com um elenco diverso, onde a principal marca eram as
performances transformistas, porém havia também bailarinos, comediantes e strip-
girls no meio da encenação. Apresentado durante dois anos, o espetáculo contava
com shows de dança e números de música que incitavam o debate entre sexo e
política com forte irreverência. Na apresentação, que começava lá pelas três da
madrugada, havia uma cena ligada à dança onde uma travesti, Andreia Cocineli, e
uma mulher, Juracy de Almeida, desatinavam a dançar. Graças às luzes, as atrizes
eram vistas pela plateia de maneira caótica. Assim, ambas começavam a se despir
até não restar nenhuma peça de roupa, ficando de costas. A iluminação passava a
ser frenética e as artistas começavam a rodopiar em torno de si mesmas. Dessa
forma, o objetivo do espetáculo era chocar a plateia que, pasma, não conseguia
saber (devido ao jogo de luzes), o que era o pênis, a vagina e os seios das atrizes.
De acordo com a última produção citada, o Vivencial deixa assim expostos
dois de seus princípios mais fortes. Um, defendido pelo grupo, e o outro, uma noção
à qual o conjunto era totalmente contrário. Respectivamente: a liberdade sexual e o
binarismo masculino e feminino (caracterizado por Jomard Muniz Britto como
polimorfismo). Ambos eram na verdade complementares, visto que a liberdade
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sexual garantia poder ao indivíduo, fazendo-o desapegar-se sexualmente dos cabos


da normatividade, da sexualidade dominante, onde o binarismo é eminente. Tudo
isso também explica o porquê de o Teatro Vivencial ter sido um grupo de
contracultura, uma vez que tínhamos ali um espetáculo de escracho, onde a nudez e
a sexualidade eram unidas na quebra do binarismo, na intenção de que diferentes
padrões sociais fossem dilacerados, sobretudo numa época ditatorial.
CONCLUSÃO

Refletimos, ao longo da historicidade do Grupo de Teatro Vivencial, a sua


importância, de acordo com pontos marcantes da sua trajetória. Frisando três
espetáculos e esboçando uma linha que esclarece desde a maneira com que a trupe
funcionava até mesmo seus ideais, é possível perceber que cada peça, ao mesmo
tempo que se entrelaçava uma à outra, possuía uma carta na manga: a inovação em
face da Contracultura.
A começar pela primeira seção, é possível perceber que o grupo nasce na
luz de uma pastoral. Sendo expulso da instituição, devido ao espetáculo Vivencial I,
o trecho referente a essa fase explica logo de início a essência “vivencialesca” como
um grupo de forte expressão corporal, marcado por assuntos sérios, que
confrontava o contexto sociopolítico no qual estava inserido. Afinal, a ditadura foi
produtora de diversos corpos transgressores que iam em direção contrária ao
regime (SILVA, 2015). Sobretudo, corpos periféricos e marginalizados. O Vivencial
foi um deles.
Já na segunda e última seção do artigo, observamos um amadurecimento do
que já se tinha no primeiro tópico, em anos iniciais, no que é relativo à ideologia e à
irreverência, devido à grande exploração da liberdade de expressão e seu
consequente impacto. Mas não foi só isso. Por meio de suas peças, o Vivencial
conseguiu não só ser o grupo da palavra e da expressão corporal, como também da
oportunidade, já que, diante do que foi anteriormente exposto, fica clara a presença
de muitas minorias sociais dentro do conjunto. Não obstante, é interessante
perceber também um amadurecimento político. Sim, o Vivencial foi um grupo
político! Assim como explica o pesquisador Mateus Melo dos Santos:

“[...] político porque se dispunha a enfrentar os poderes imanentes tanto


provenientes do governo estatal quanto das exigências comportamentais de
uma sociedade que prezava – e ao que parece ainda preza – por uma
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masculinidade viril e manifesta, longe dos saltos altos e da purpurina.”


(SANTOS, 2018, p. 46).

Tendo em vista o exposto, podemos concluir que a cena teatral buscada


pelo alvo de estudo não se rendeu à cis normatividade e aos padrões impostos pela
época. Dessa forma, o Vivencial vai muito além de, parcialmente falando, lidar
apenas com a sensualidade – objeto marcante em suas montagens. Mas, de
maneira devidamente exemplificada, a notoriedade se estabelece a partir da questão
que une a sensualidade, a liberdade sexual e a oposição ao binarismo. Sem
esquecer importantes questões de parâmetro social. Sem virar as costas para as
pessoas que se encontravam próximas do segmento marginal que estava presente
no grupo. Além disso, a forte irreverência, acompanhada do desbunde, elevou a
níveis consideráveis a força do grupo, pois, apesar de uma vida curta, o Vivencial
Diversiones se firmou na cena teatral pernambucana como um conjunto que não só
estimulava o pensamento crítico, como também confrontava tensões culturais
naquele ciclo.
De forma sucinta, as três peças elucidadas fortificam tal afirmação. A
primeira, deixa um rastro de reflexão crítica, ao ter as vivecas explorando na
montagem a linha tênue entre o sagrado e o profano, o pecado, o céu e o inferno. Já
na segunda, é possível perceber o lixo como algo estético, além da resistência
obtida em relação a movimentos artísticos marcantes, como o Armorial. E, na última,
temos o Vivencial do escracho, da afronta e do desbunde, onde a nudez, de mãos
dadas com a oposição ao binarismo, e a política foram valorizadas como elementos
cruciais na crítica promovida pelo grupo.
Por fim, ao revolucionar o panorama teatral pernambucano, o Grupo de
Teatro Vivencial nos deixa cicatrizes históricas, pelas quais devemos sentir orgulho
em tê-las e de as proliferar. A discussão sobre sexualidades e a coragem em
confrontar um regime por meio da teatralidade é algo admirável e nos deixa a
mensagem que, com o teatro, podemos tudo. Sendo ele um forte veículo de
comunicação e articulação, de educação e inclusão, devemos e podemos pensar
novas formas de fazer teatro. Pois, por consequência, a espelho do Vivencial,
estaremos fazendo um teatro político, questionador, importante e, além de tudo,
acolhedor.
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REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS

DOURADO, Rodrigo. Bonecas falando para o mundo: identidades sexuais


desviantes e teatro contemporâneo. Salvador: UFBA, 2014.

____________. Bonecas falando para o mundo: (Trans)identidades na cena


brasileira. Salvador: UFBA, 2010.

IMPACTANTE. In: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2020.


Disponível em: <https://www.dicio.com.br/impactante/>. Acesso em: 31 de Out.
2020.

SANTOS, Mateus. Bocas que beijam, bocas que falam: Grupo de Teatro Vivencial e
masculinidade em Recife e Olinda (1974-1983). Recife: UFPE, 2018.

SANTOS, Rogério. Vivencial Diverciones: teatro como resistência e performance de


gênero. Goiânia: UEG, 2018.

SILVA, Girlane. Atuações e papéis femininos: o corpo a corpo da atriz no teatro


pernambucano durante a ditadura militar. Natal: UFRN, 2015.

INTERNET

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Disponível em:
<https://brasilescola.uol.com.br/historiab/contracultura-juventude-brasileira.htm>.
Acesso em 03 de Nov. 2020.

GRUPO de Teatro Vivencial. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura


Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo514477/grupo-de-teatro-vivencial>.
Acesso em: 03 de Nov. 2020. Verbete da Enciclopédia.

Michelle Corrêa: “Anos de chumbo”


Disponível em:
<https://www.infoescola.com/historia/anos-de-chumbo/>. Acesso em 29 de Out.
2020

Opinião Pernambuco
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=uHYZU6EirUo>. Acesso em 31
de Out. 2020.

Rodrigo Dourado: “Dramaturgia e sexualidades(s) – Vivencial Diversiones”


Disponível em:
12

<http://mascherabodybuilding.blogspot.com/2009/07/dramaturgia-e-sexualidades-
vivencial.html>. Acesso em 03 de Nov. 2020.

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