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(Dissertacao) FACANHA, 1998
(Dissertacao) FACANHA, 1998
(Dissertacao) FACANHA, 1998
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
ANEXO
3
INTRODUÇÃO
Massino Canevacci
A Cidade Polifônica, São Paulo, 1993
Roteiro Metodológico
Um outro fator, que instiga e que, ao mesmo tempo, preocupa, diz respeito à
produção de trabalhos em geografia ser incipiente em relação a cidade. Os trabalhos mais
abrangentes foram desenvolvidos no início da década de 70, sendo marcados pela
descrição dos objetos geográficos, com maior ênfase aos elementos naturais. Nessa década,
o espaço era visto como um elemento imóvel, palco da própria atividade humana. No
4
início da década de 80, apareceram novos estudos em que surgiu uma nítida intenção de
romper com os trabalhos da geografia tradicional e quantitativa. Tais estudos surgiram
como uma crítica interna ao neopositivismo. A produção geográfica, até meados da década
de 80 foi pouca expressiva, tendo em vista a importância que os estudos sobre a cidade
assumiam naquele contexto.
Uma outra questão fundamental que merece uma reflexão diz respeito aos
procedimentos metodológicos adotados neste estudo. Uma primeira preocupação refere-se
ao que seja a meta de um trabalho científico. MORAES e COSTA dizem que o principal
seria refletir sobre o desconhecido, o novo e o que ainda está por se descobrir ( MORAES e
COSTA, 1984: 17). A dinâmica realidade espacial da cidade de Teresina e a escassez dos
estudos sobre o seu espaço geográfico alimentam uma vontade pessoal de compreender
como os diversos agentes sociais produzem e constróem os processos espaciais dessa
capital.
Roteiro Teórico
Ao fazer uma avaliação dos estudos geográficos das cidades no Brasil, ABREU
sustenta que:
Diante disso, cabe aqui, neste estudo, acerca do espaço urbano de Teresina,
tentar visualizar e expressar as ações dos agentes produtores do espaço urbano, bem como
de suas “heranças” espaciais, ou seja, de suas formas espaciais, entendidas sempre dentro
de um processo de construção e reconstrução da base material que revela a sociedade que a
produziu e que a consome.
“Em primeiro lugar, a ação destes agentes se faz dentro de um marco jurídico
que regula a atuação deles; (...) em segundo lugar, convém apontar que, ainda que
possa haver diferenciações nas estratégias dos três primeiros agentes, bem como
conflito entre eles, há entretanto denominadores comuns que os unem: um deles é
a apropriação de uma renda da terra.; (...) em terceiro lugar, é necessário ressaltar
que a tipologia apresentada é muito mais de natureza analítica do que efetivamente
absoluta.; (...) em quarto lugar, é importante notar que as estratégias que esses
agentes adotam variam no tempo e no espaço, e esta variabilidade decorre tanto de
causas externas aos agentes, como de causas internas, vinculadas às contradições
inerentes ao tipo de capital de cada agente face ao movimento geral de acumulação
capitalista e dos conflitos de classe...” (CORRÊA, 1989: 12-13).
Tais agentes necessitam de uma parcela de terra urbana para viabilizar as suas
atividades produtivas. No entanto, os agentes, envolvidos com as atividades industriais,
comerciais e de serviços, fazem usos diferenciados das parcelas da terra urbana, além de
utilizar diversos fatores necessários a cada agente, no sentido de obter mais vantagens,
gerando lucro necessário para seus investimentos. Cada agente faz um uso particular da
terra urbana, localizada estrategicamente numa determinada área da cidade. Tal processo
dinamiza as atividades produtivas na cidade e ao mesmo tempo, transforma o cenário
urbano num espaço fragmentado e complexo. CORRÊA coloca que tais agentes
“... aparece à primeira vista como „relação quantitativa; a proporção pela qual
valores de uso são trocados por outros‟. Mas, em seu modo típico, passa, então, a
indagar das forças que geram o valor de troca na sociedade capitalista. Ele conclui
que a criação de valores de troca reside no processo social de aplicação de trabalho
socialmente necessário aos objetos da natureza para criar objetos
materiais(mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem”
(HARVEY, 1980: 132-133).
“...o preço é uma versão econômica, mas não participamos da idéia que ele pode
ser explicado somente pela economia. A determinação dos preços fundiários e
imobiliários, deve ser procurada também no campo simbólico onde se inscrevem
fatores não somente de ordem econômica mas também antropológica, sociológica
e psicológica. O mercado incorpora elementos não econômicos na determinação
dos preços” (LACERDA, 1996: 5).
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QUADRO 1
Transformação: Viabilidade técnica da obra de acordo
CONSTRUÇÃO
Capital-Mercadoria ® capital-dinheiro com o código de obra
Acrescido de lucro DO IMÓVEL
revela as formas de apropriação do espaço urbano, pelos variados grupos sociais que lutam
por um espaço próprio na cidade, objetivando a realização de sua produção e de sua
reprodução social, enquanto grupos.
diversidade cultural deve ser incluída na análise desse processo, através de espaços
produzidos e construídos, em escalas espaciais e temporais diferenciadas.
Uma marca dos grupos sociais excluídos, na cidade, é o ato de agir de forma
“ilegal” quanto ao processo de ocupação de terras e quanto à produção das favelas. Neste
tocante, RODRIGUES enfatiza que “a favela foi ocupada ilegalmente. Os moradores não são os
proprietários legais, porém a ocupação torna-se cada vez mais legitimada pelo poder público.(...)
Os moradores lutam pelo direito de concessão real de uso ou usucapião urbano...” (RODRIGUES,
1991: 38).
A partir da década de 70, surge um novo processo espacial nas cidades que são
as ocupações de terras, tanto as favelas como as ocupações são formas espaciais que se
caracterizam por ser consideradas “ilegais” ou irregulares quanto a situação jurídica da
propriedade da terra. O que as diferencia é que as favelas representam uma ocupação
individual e quotidiana, levando um período maior de tempo para se consolidar na cidade,
enquanto as ocupações de terras é resultado de uma iniciativa coletiva de uma parcela da
população, expropriada do direito de morar. As ocupações instalam-se numa velocidade
muito rápida. Numa “fração de segundos”, são levantados os barracos, iniciando-se, a
partir daí, um longo período de reivindicações em busca de melhoria de infra-estruturas,
nas áreas ocupadas. As ocupações acontecem geralmente em terrenos do poder público,
entrando em confronto com o próprio poder público e com os outros agentes produtores do
espaço, no sentido de conquistarem seus terrenos (RODRIGUES, 1991: 52).
urbanos (MSUs), principalmente daquela parcela de atores sociais que compõem esse
universo e que assumem o papel de mediadores desses conflitos. CARLOS, quando se
refere aos MSUs, afirma que
Além dos atores sociais envolvidos, que lutam diretamente para suprir suas
necessidades imediatas, a exemplo das associações de moradores, deve se destacar a
participação das federações de moradores, da Igreja Católica, dos partidos políticos de
esquerda e de organizações não-governamentais (ONGs). A necessidade de reflexão sobre
esses atores possibilita medir os níveis de influência exercidos de modo decisivo no
processo de produção do espaço urbano. A investigação sobre esses atores entra como
“pano de fundo” para a compreensão das estratégias adotadas pelos agentes sociais.
CAPÍTULO 1
“(...) Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas
da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos
corrimões das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos mastros das
bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradeiras, entalhes e
enfoladuras”.
Ítalo Calvino
As Cidades Invisíveis - São Paulo, 1990
“(...) Saraiva respondia que não, entendendo que, sem a presença do governo à
margem do Parnaíba, dificilmente se conseguiria esse intento. (...) Preponderaram
as razões apresentadas por aquele estadista: situação cômoda e agradável;
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“Esta proposta de mudança trouxe no seu bojo uma novidade, que foi o
planejamento da estrutura da cidade, isto é, foi concebido um plano de construção
da nova capital. Ao contrário de outras aglomerações urbanas que surgiam
espontaneamente, o “plano” de construção de Teresina previa sua extensão, seu
ponto central – a Igreja do Amparo – a partir do qual deveriam se orientar todas as
outras medidas de demarcação da cidade de Teresina e o traçado das ruas em linha
reta, cruzando-se umas com as outras, dando-lhe a forma de tabuleiro de ogo de
damas” (NUNES e ABREU, 1996: 96).
“(...) Em termos sanitários a situação era precária: grassavam doenças e era quase
nula a assistência hospitalar, porque apenas em 1889 estabeleceu-se um serviço
regular de limpeza urbana. (...) O comércio local – lojas de miudezas e variedades,
armazéns de mantimentos, mercearias - progrediu de 1850 a 1860, tendo decaído
após a grande seca de 1870. (...) o telégrafo foi instalado em 1882, de modo que 30
anos após sua criação, a nova capital já possuía meios de comunicação com os
extremos do Estado. (...) A primeira tentativa de implantação fabril deu-se a partir
de 1874 com a proposta de criação de uma fábrica de tecidos só concretizada anos
mais tarde (...)” (ABREU, 1983: 7-8).
Nos primeiros anos do século XX, iniciou-se uma nova dinâmica espacial das
cidades piauienses. A conjuntura econômica foi alterada, provocando novas relações entre
os diversos núcleos urbanos do estado e da região, e quebrando o ciclo de hierarquia
existente na segunda metade do século passado.
Nas primeiras décadas de 1900, o desafio era saber quais seriam os impactos
dessas informações no processo de urbanização, no Piauí. BANDEIRA comenta que
Isso deve ao fato dessa cidade atuar como força econômica, através da pecuária
e do extrativismo, na região centro-norte do estado. É desnecessário dizer que uma cidade
com essa influência mantinha uma posição destacada na hierarquia urbana piauiense.
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“Do início deste século até a década de quarenta foram criadas no território
piauiense mais 49 cidades, sedes de 49 novos municípios. Mais uma vez foi no
centro-norte que ocorreram as maiores subdivisões municipais. Do centro-norte
para o sul do Estado continuam a existir imensas extensões de terra, quase sem
cidades, com apenas povoados, lugarejos e fazendas, portanto, com uma vida
urbana muito limitada. (...) Análise das 20 maiores cidades do Estado, na década
de quarenta, indica que, destas, 17 estão situadas do centro para o centro-norte;
Oeiras e Amarante ficam na fronteira dessa delimitação. No sul, aparece somente
São Raimundo Nonato” (NUNES e ABREU, 1996: 101).
O que se pode observar é que a cidade de Teresina apresentou uma queda no seu
crescimento demográfico, a partir de 1900 até a década de 40. Cidades como Parnaíba,
Floriano e Piripiri passaram a receber um contingente cada vez maior de pessoas. Apesar
desses índices de redução populacional, a capital ganha expressão marcante em todo o
estado, tornando-se o principal centro urbano piauiense. A sua força emergente derivou,
principalmente, de sua dinâmica comercial (Figura 6).
TABELA 1
Crescimento Demográfico de Teresina
1872-1940
ANOS
1872 1890 1900 1910 1920 1940
Piauí 202.222 267.609 334.292 428.145 609.027 817.601
Teresina 21.692 31.523 45.316 48.614 57.500 67.641
Teresina/Piauí 10,72 11,77 13,55 11,35 9,44 8,27
Fonte: QUEIROZ, 1994, p.18.
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Assim, cabe, antes, fazer uma leitura das transformações no Piauí, traçando um
perfil das principais características do estado desenvolvimentista brasileiro, que atuou entre
as décadas de 50 e 80. Vejam-se, abaixo, algumas de suas principais características:
“(...) o termo industrialização não pode ser tomado, aqui, em seu sentido estrito,
isto é, como criação de atividades industriais nos lugares, mas em sua mais ampla
significação, como processo social complexo, que tanto inclui a formação de um
mercado nacional, quanto os esforços de equipamentos do território para torná-lo
integrado, como a expansão do consumo em formas diversas, o que impulsiona a
vida de relações (...) e ativa o próprio processo de urbanização. Essa nova base
econômica ultrapassa o nível regional, para situar-se na escala do País; por isso, a
partir daí uma urbanização cada vez mais envolvente e mais presente no território
dá-se com o crescimento demográfico sustentado das cidades médias e maiores,
incluídas, naturalmente, as capitais de estado” (SANTOS, 1993: 27)
É preciso ressaltar que, nesse período, as transformações no Piauí não foram tão
marcantes como se esperavam. Com uma economia pouco expressiva no cenário nacional-
regional, baseada no extrativismo, na pecuária e na produção de alimentos de subsist6encia,
o estado não conseguiu promover a dinamização dos diversos setores da economia,
alterando-se muito pouco a estrutura da hierarquia urbana das cidades no estado. A cidade
de Teresina continuou ganhando mais destaque entre as cidades piauienses e segue junta
com as cidades de Parnaíba e Floriano, comandando a vida urbana das cidades piauienses.
TABELA 2
Piauí: População e Concentração Urbana
1940-1970
33
CIDADE ANOS
1940 1950 1960 1970
Teresina Urbana 34.695 51.418 98.320 181.022
Total 67.641 90.723 142.691 220.481
Parnaíba Urbana 22.176 30.174 39.145 57.030
Total 42.062 49.369 62.719 79.210
Floriano Urbana 7.084 9.101 15.574 26.776
Total 25.705 33.786 23.556 35.850
Campo Maior Urbana 3.789 6.992 13.849 18.400
Total 30.195 39.927 56.120 61.549
Piripiri Urbana 4.520 4.357 9.409 18.481
Total ? 23.701 29.248 43.222
Picos Urbana 2.943 4.568 8.080 18.107
Total 40.414 54.713 49.801 52.757
Piauí Urbana 130.816 170.584 292.233 538.197
Z Total 817.601 1.045.696 1.249.200 1.680.954
Fonte: MEDEIROS, 1996: 46.
Inicialmente, a Zona Sul foi ocupada devido às condições favoráveis de seu sítio
urbano. A sua localização, entre os rios Parnaíba e Poti, e a existência de poucos obstáculos
naturais contribuíram para a expansão da cidade de Teresina naquela direção entre as
décadas de 50 e 60. Essa zona foi beneficiada com a implementação de serviços de infra-
estrutura, resultado de ações feitas pelo Estado Federal, através de políticas públicas,
contribuindo para dinamizar toda essa área, transformando-a na principal área de expansão
da cidade.
ocupação efetiva de todos os espaços, ao contrário do que ocorria na Zona Sul (MOREIRA,
1972: 16-20).
TABELA 3
Taxa Média Anual de Crescimento do PIB “Per capita”(%)
Brasil, Região Nordeste e Estados
Brasil/Nordeste e Períodos
Estados 1970-80 1980-90 1970-95 1990-95(1)
Maranhão 6,2 6,2 5,2 1,4
Piauí 6,8 5,0 4,6 -0,3
Ceará 8,8 2,9 5,4 3,9
Rio G. do Norte 8,1 5,0 5,7 2,4
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No período de 1970 a 1995, o Estado do Piauí apresentou uma taxa média anual
do PIB “per capita” da ordem de 4,6%, superior às médias apresentadas pelo PIB nacional,
2,4%, e pela Região Nordeste, 3,3%. O dinamismo do Piauí foi devido à expansão dos
setores da indústria e dos serviços que cresceram 6,5% a.a. e 4,2% a.a., respectivamente.
Vale destacar que as atividades de comunicação (11,2% a.a.), abastecimento de água (9,6%
a.a.), indústria de transformação (9,1% a.a.), bens imóveis (7,6% a.a.) e energia elétrica
(7,5% a.a.), foram fundamentais para tal dinamismo (SOUZA, 1996: 3) Segundo a análise de
SOUZA, o período de
TABELA 4
Piauí – Teresina
População Rural, Urbana e Total
PIAUÍ TERESINA
ANOS Pop. Rural Pop. Total Pop. Rural Pop. Total
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Urbana Urbana
1970 1.173.813 561.081 1.734.894 39.425 181.062 220.487
1980 1.256.946 931.204 2.188.150 38.732 339.042 377.774
1991 1.214.997 1.366.218 2581.338 42.338 555.985 598.323
Fonte: Consumo do Produto Industrial da Cidade de Teresina – 1996.
TABELA 5
Estado do Piauí
Participação Percentual do PIB Setorial no PIB Global
1980-1985-1990-1995
“... este aspecto, entretanto, não ofusca a sua grande importância social, seja na
produção de gêneros de primeira necessidade, seja na geração de empregos,
principalmente para as camadas da população que pouco ou quase nenhum acesso
tiveram aos bancos escolares” (Estudos da Conjuntura de Mercado, 1996: 10).
“... a agricultura praticada tem sua base voltada para a subsistência da população
rural, sobrando pouco ao abastecimento urbano e industrial. O extrativismo é, ainda
inexpressivo e de subsistência (...). A pecuária, que embora adquira contornos de
agroindústria, pode ser considerado como uma atividade incipiente. Assim a idéia
predominante reafirma a inexistência de políticas públicas que possam revitalizar o
setor, definindo linhas de créditos compatíveis e estimulando tecnologias
adequadas às características locais (...)” (Estudos da Conjuntura de Mercado, 1996:
9).
O setor secundário, por sua vez, nesses vinte e cinco anos, apresentou-se de
forma irregular quanto a sua participação no PIB estadual. Observando a tabela 5, nota-se
que, de 1980 a 1990, a indústria piauiense cresceu na ordem de 18,8% para 24,6%. No
entanto, esse setor secundário sofreu uma forte queda entre os anos 1990 e 1995, caindo em
10,2%, em relação ao ano 1990.
Além desse três setores econômicos, que serviam para mostrar a evolução da
economia piauiense, existem outros indicadores que contribuem para elucidar melhor a
conjuntura econômica em análise. Um indicador valioso é a análise do próprio processo de
urbanização, ocorrido no estado, após os anos 90 (Figura 11). Os dados de 1994 mostram
que o estado apresentava uma população de 2.657.415 habitantes. Vejamos as populações
das sete cidades mais populosas do Piauí: 1 – Teresina:636.904; 2 – Parnaíba: 127.953; 3 –
Picos: 76.553; 4 – Campo Maior: 64.478; 5 – Piripiri: 59.664; 6 – Floriano: 52.705; 7 –
Pedro II: 44.647 (TAJRA & TAJRA FILHO, 1996: 153).
QUADRO 2
Os 20 Maiores Contribuintes
Teresina – 1995
Posição do Estado Razão Social Município/Zona
00001 Ind. De Bebidas Antárctica do Piauí S/A Teresina – Sul
00002 Companhia Energética do Piauí Teresina – Centro
00003 Petrobrás Distribuidora S/A Teresina -Leste
00004 Telecomunicações do Piauí S/A Teresina - Centro
00005 Souza Cruz S/A Teresina - Centro
00006 Claudino S/A – Lojas de Departamentos Teresina - Centro
00007 COMVAP –Açúcar e Álcool Ltda União
00008 Petróleo SABBA Ltda Teresina - Sudeste
00009 Carlos H. Aragão Ind. E Com. Ltda Teresina - Norte
00010 Novaterra Veículos Peças e Serviços Ltda Teresina – Leste
00011 Guadalajara S/A – Ind. De Roupas Teresina - Centro
00012 Esso Brasileira de Petróleo Ltda Teresina - Leste
00013 Texaco Brasil S/A Prod. De Petróleo Teresina - Sudeste
00014 Jelta Veículos Máquinas Ltda Teresina - Centro
00015 Pintos Ltda Teresina - Centro
00016 Carvalho e Fernandes Ltda Teresina - Centro
00017 Socimol Ind. De Colchões e Móveis Ltda Teresina - Centro
00018 Nacional Gás Butano Distribuidora Ltda Teresina - Sudeste
00019 Revendedores c/Varejo Prod. Avon ME Teresina - Centro
00020 Auto Máquinas e Acessórios Ltda Teresina – Centro
Fonte: Governo do Estado do Piauí – Sec. Da Fazenda/Divisão de Controle da Arrecadação – 1997.
42
CAPÍTULO 2
Por fim, o sexto tópico, visa rastrear as trilhas deixadas pelos movimentos
sociais urbanos, entendidos como atores sociais que foram determinantes no processo de
mediação das relações sociais existentes na cidade. Apreender as ações desses movimentos
é se infiltrar no cenário político, cenário esse, importante para que se desvende a produção
do espaço urbano.
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Os Industriais
industrialização. Segue, abaixo, a relação dos presidentes das entidades que representam o
setor industrial do Piauí, desde 1954 até 1995.
Quadro 3
Federação das Indústrias do Estado do Piauí (FIEPI)
Relação dos Presidentes
1. José de Moraes Correia: 1954/1968
2. Cândido de Almeida Athayde: 1968/1971
3. Dante Pires de Lima Rebelo: 1971/1977
4. Lauro de Andrade Correia: 1977/1983
5. Antônio José de Moraes Sousa: 1983 até ao período atual
Obs.:Cândido de Almeida Athayde assumiu o exercício a partir de 1966.
Paulino Fernandes Alves Bastos assumiu o exercício em 1971.
Lauro de Andrade Correia assumiu o exercício a partir de 1974.
Joaquim Gomes da Costa assumiu no período de 02 de abril a 04 de outubro de 1990.
Quadro 4
Associação Industrial do Piauí (AIP)
Relação dos Presidentes
1. Raimundo Nonato Portela de Melo 1966
2. João Brito Passos Pinheiro 1967/1969
3. João Costa de A. Freitas 1970/1971
4. Firmino da Silveira Soares 1972/1973
5. Carlos Augusto de Oliveira 1973/1976
6. José Luiz Martins Maia 1977/1979
7. José Maria Gonçalves Viana 1979/1980
8. João Costa da A. Feitas 1981/1984
9. Francisco das Chagas L. Carvalho 1985/1986
10. Joaquim Gomes da Costa Filho 1987/1992
11. Francisco Antônio Freitas de Sousa 1993/1994
12. Jorge Lopes 1995/...
Fonte: FIEPI – Janeiro/1997
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Quadro 5
Fomento Industrial do Piauí S/A (FOMINPI)
Relação dos Presidentes
1. Milton Costa Cardoso 1967
2. Osvaldo Soares do Nascimento 1968
3. Antônio Cavalcante de Oliveira 1969
Obs: 1973 – A partir dessa data o FOMINPI transformou-se em Companhia de Desenvol-
vimento Industrial do Piauí (CODIPI)
Fonte: Secretaria da Indústria e do Comércio
Quadro 6
Companhia de Desenvolvimento Industrial do Piauí (CODIPI)
Relação dos Presidentes
1. Antônio Cavalcante de Oliveira 1973
2. Osvaldo Soares do Nascimento 1975
3. Antônio Almendra Freitas Júnior 1978
4. José Maria Gonçalves Viana 1979
5. Antônio Almendra Freitas Júnior 1983
6. Francisco Borges dos Santos Filho 1987
7. José Bruno dos Santos 1990
Obs.: Em 1991 começa o processo de liquidação da CODIPI. Os liquidantes foram Manoel
Cavalcante (1991) e Gil Borges dos Santos (1995)
Fonte: Secretaria da Indústria e do Comércio
central e nos mais populosos, resultado de políticas de incentivo efetivadas pelo governo
estadual e pelo municipal.
Os Comerciantes
presente no cenário comercial dos dias atuais, em Teresina (TAJRA e TAJRA FILHO, 1996:
148).
Quadro 7
Associação Comercial do Piauí
Relação dos Presidentes
1. Manoel Raimundo da Paz 1903/1904 12. Pedro de Almendra Freitas 1944/1945
2. Thersandro Gentil Pedreira Paz 1905/1908 13. José Camilo da Silveira 1946
3. Manoel Raimundo da Paz 1909/1910 14. Ocílio Pereira do Lago 1947/1950
4. Honório Parente 1911/1912 15. José Camilo da Silveira 1951
5. Antônio Leôncio Ferraz 1913/1921 16. Ocílio Pereira Lago 1952/1959
6. Joaquim Antônio de Noronha 1923/1928 17. Jorge Azar Chaib 1960/1961
7. Aragão Parente 1929 18. Miguel Sady 1962/1963
8. Luiz Ferraz 1930 19. José Elias Tajra 1964/1979
9. Aphrodízio Thomaz de Oliveira 1931 20. Ferdinand Silveira 1980/1985
10. Anfrísio Lobão Veras Filho 1932/1935 21. José Elias Tajra 1986 até o
11. Cícero da Silva Ferraz 1942/1943 Período atual
Obs.: Não existe registro na ACP dos presidentes nos anos de 1922 e entre 1936 a 1941.
Fonte: Associação Comercial do Piauí (ACP)
Observe-se no quadra, que entre os anos de 1964 e 1995, ou seja, em 31 anos, o grupo da
família Tajra presidiu a ACP por 26 anos, tornando-se uma representação política marcante
no comércio local.
Nos primeiros anos da década de 70, com o surto da industrialização que ocorria
no país, surgiram várias concessionárias na cidade, refletindo a expansão do setor
automobilístico. Vale destacar as seguintes concessionárias: a) a Volkswagem, representada
por A Vemosa (Ari Magalhães); b) Crysler, depois chamada de Ford (Fernando Silveira e
Lourival Parente); c) General Motors, representada pela “Pedro Machado S/A” (família
Machado) e a “Jet Automóveis”, depois “Jelta Veículos”; d) Fiat (Jesus e José Elias Tajra).
Ainda, na década de 70, surgiu o Clube dos Diretores Lojistas de Teresina que,
posteriormente, foi chamado de Câmara dos Dirigentes Lojistas da Teresina. A falta de
informações nos registros da sede da entidade impediu que fossem feitos maiores
comentários sobre a sua trajetória na vida comercial da cidade. Importante, quando ao
comércio local, é ressaltar o aparecimento das Lojas Brasileiras (LOBRAS) e das Casa
Pernambucanas (1974), das Lojas Jet (1975), de José Elias Tajra, e do Grupo Pintos (1978),
de Agostinho Inácio (TAJRA e TAJRA FILHO, 1996: 151).
“1 – o ano passado (1994) foi muito ruim para as vendas do comércio lojista de
Teresina, especialmente, para as livrarias/papelarias, para material de construção,
para peças e acessórios para veículos e para máquinas/equipamentos;
54
Finalizando esta parte, é preciso deixar claro que a atividade comercial é, sem
dúvida, sustentáculo da economia de Teresina. A economia local baseia-se na fragilidade
econômica do setor secundário e na relação direta entre o setor público e o comércio. Para
maior tranqüilidade dessa realidade, basta que se diga que o setor público, o maior
empregador da cidade, quando executa o pagamento dos funcionários públicos,
automaticamente (re)aquece-se o comércio local, diante disso, é notório que o atendimento
na dinâmica de crescimento da cidade de Teresina passa, antes de tudo, pela clareza d e que
o setor terciário – especialmente, o comércio – tem sido vital para esse dinamismo.
ela é seletiva e desigual, apresentado processos espaciais com formas e conteúdos desiguais,
construídos ao longo do tempo, nessa justaposição, existem ainda espaços vazios que são o
resultado da produção e da reprodução dos agentes sociais na cidade. Esses espaços são
chamados de vazios urbanos.
Esses vazios da cidade tornaram-se o alvo principal das ações dos agentes
produtores do espaço urbano, pois esses espaços ficaram supervalorizados, fruto do
processo de mercantilização em que se transformou o solo urbano, que como mercadorias,
gera lucro a quem detêm a sua posse.
“neste momento, atendo-se aos agentes produtores do espaço, ora analisando, sabe-
se que até o início da década de 70, sobretudo, a parte próxima ao rio Poti, nos
bairros citados, não dispunha de um mínimo de infra-estrutura (água, esgoto,
56
No contexto dos anos 70, uma questão que entrou em cena foram as políticas
públicas, principalmente as políticas habitacionais, implementadas pelo estado
desenvolvimentista brasileiro, que contribuiu para o aumento da mancha urbana da cidade.
SILVA enfatiza que
57
Ainda em relação à Zona Norte, vale ressaltar que nas proximidades do bairro
Mocambinho, as terras de Juvêncio Alves de Carvalho e do Barão de Castelo Branco,
destacavam-se pela grande extensão. No bairro São Joaquim, o mapa ainda registra as terras
de Leôncio Barros, Silvania S. de Souza, Lourenço F. de Souza, Raimundo F. de Souza,
João Antônio de Souza e João F. de Souza Cabrinha. Um dado importante é que esse mapa
indica os proprietários de terras os quais tinham suas propriedades localizadas após o
encontro dos rios Parnaíba e Poti, nos bairros conhecidos – hoje – como Cidade Industrial,
Santa Rosa e Aroeiras.
Na Zona Leste (incluindo alguns bairros da atual Zona Sudeste), existiam várias
propriedades de terras, localizadas nos bairros Ininga, Fátima, Jóquei, Noivos, São João,
São Raimundo, Beira Rio, Tancredo Neves e Comprida. No bairro Ininga, destacaram-se as
propriedades de Maria Correia Lima, Juvêncio Alves de Carvalho, Agostinho Alves da
Silva e José Belford de Carvalho. Nos bairros Fátima e Jóquei, existiam as propriedades de
Lourenço da S. Rosa, Antonia Maria da Conceição e Nascimento da Silva Rosa. No bairro
Noivos, as mais expressivas foram as propriedades de Deoclesiano Santana de Carvalho e
Joana P. de Aréa Leão. No bairro São João existiam as propriedades de José J. de Moraes
Avelino e Dr. Jarbas de S. Martins. As terras pertencentes ao estado estendiam em direção
aos bairros Morada do Sol, Piçarreira, Horto Florestal e adjacências. No bairro São
Raimundo, ficavam as propriedades de Honorina Farias de Paula e do estado. Na área que
envolvia os bairros Beira Rio, Tancredo Neves e Comprida, existiam as propriedades de
Florêncio Gomes de Souza, Joaquim Gomes de Souza e Silvestre Alves Campelo.
No tocante à Zona Sul, na área que envolvia os bairros Catarina, Morada Nova e
Triunfo, destacavam-se as terras do estado, da Prefeitura Municipal, de Augusto Coelho
Resende e Joaquim Macêdo Souza.
Quanto a Zona Centro, toda a sua área estava mapeada, praticamente, como
pertencente ao patrimônio municipal. Mas o que esses levantamentos, podem revelar para o
entendimento da própria dinâmica de crescimento da cidade?
Mais ao Norte dessa zona, surgiam os vazios urbanos, nas proximidades da Av. Getúlio
Vargas, no sentido sul, envolvendo os bairros Santa Luzia, Parque São João, Morada Nova
e Catarina. Semelhante ao ocorrido nas Zonas Leste e Sudeste, nos bairros Angelim,
Angelim Sul, Parque Jacinta, Parque Juliana, Brasilar e Esplanadas, foram anexados aos
vazios urbanos, enormes extensões de terras, localizados na sua maioria nas fímbrias
periurbanas.
grandes vazios urbanos na sua periferia. A investigação dos proprietários fundiários e suas
ações na cidade, está longe de se esgotar, neste estudo.
É necessário dizer que as ações desses agentes ocorreram na maioria das cidades
brasileiras, principalmente nas capitais dos estados, nas décadas de 70, 80 e no começo da
década de 90. No entanto, tais ações não se deram de forma linear e contínua. Pelo
contrário, ao se analisar a dinâmica da incorporação imobiliária, RIBEIRO enfatiza que
Uma outra questão que contribui para o entendimento das ações dos promotores
imobiliários na cidade é o fato de se perceber que esse agente, que pode ser um micro,
pequeno, médio ou grande incorporador, atua, ao mesmo tempo, em várias partes da cidade.
Os micros e os pequenos incorporadores atuam dispersamente no tecido urbano, o que, por
isso mesmo, dificulta a apreensão de suas ações. Em contrapartida, os médios e os grandes
incorporadores atuam de forma intensiva e concentrada, em uma determinada área da
cidade – na dos bairros de alto status residencial – o que dificulta menos a apreensão de
suas ações. Diante dessa dificuldade de rastreamento do agente imobiliário, RIBEIRO
enfatiza que
essas características “em conjunto tendem a valorizar diferencialmente certas áreas da cidade, que
se tornam alvo da ação maciça dos promotores imobiliários: são as áreas nobres, criadas e recriadas
segundo os interesses dos promotores, que se valem de maciça propaganda...” (CORRÊA, 1989: 23)
darcy araújo imóveis vilamont imobiliária farias morar morros - araripe imóveis - c.
r. prado - imobiliária jurema - imobiliária primavera imobiliária prado - anesio aguiar e cia ltda –
j. r. engenharia – cons. lourival parente – piauí construtora – escrit. advoc. dr. fernando bacellar –
construtora jell – soc. agrop. imobiliária – construtora amorim – gip-geral imobiliária –
imobiliária piauí – v. noronha construções – const. imobiliária garanhuns – imobiliária cidade
verde – imobiliária batista paz – habitar com. arquit. e imóveis – imobiliária boa nova –
imobiliária alessandra – rego monteiro const. e imobiliária – imobiliária & const. avanço –
imobiliária santa isabel – edilberto martins imóveis – roberto broder construções – urbapi
urbanizadora do piaui – imobiliária lages & andrade – socopo agropecuári industrial – fernando
carvalho e imóveis – jerico & jerico – imobiliária machado – esquema empreend. imob. &
serviços – icm-imóveis & construções – construtora melo martins – imobiliária dimensão –
imobiliária cristiane – f. g. emprend. imobiliários – imobiliária brasilar – carneiro da cunha & cia
– imobiliária bela vista – imobiliária santa teresa – tico imobiliária - imobiliária triunfo –
patrinvest – patri. imobiliários – imobiliária são conrado - halca emprend. imobiliários – f. s.
gadelha imob. com. e exportação – ciro nogreira agropecuária e imóveis – olinda imóveis ltda –
m. nogueira lima neto – ipl – imobiliária piloto – e. matos & cia – const. imobiliária tropicana –
imobiliária camarço – const. e imobiliária expansão – gleba imob. & adm. de imóveis –
imobiliária santa edwigens – magna adm. de imóveis s/c ltda. – júlio soares e cia – agenda imóveis
ltda. – imobiliária divisão ltda –nazaria imóveis ltda. – comove com. de imóveis ltda. – sbi-det.
assoc. inc. ltda – planta comst. imobiliária – j. b. imóveis ltda – emp. imob. santa madalena ltda –
barramares emp. imobiliários – welger da manhã – imobiliária rocha e riocha - construtora
jurema - portela martins e cia ltda – area imóveis - imobiliária teresina - ana cléia b. s. rocha –
construtora tajra melo – imobiliária lima aguiar – san diego emp. imobiliários – carlos sampaio
imóveis – planep cons. investimento – ação imóveis ltda –stand emp. imobiliários – teresina
imóveis – const. e imobiliária expoente – joão araújo móveis – imobiliária lar – evandro c. de a.
freitas – dinâmica administradora de bens – const. e imobiliária tropical – planus eng. ind. e
comércio – jomares imóveis – stilo imóveis ltda - habitar emp. imobiliários – predium emp.
imobiliários – imobiliária eurípedes andrade – terra emp. imobiliários – a. r. dias filho
construções – inocoop-cpm - teka imobiliária – marcelo klinger (prolar) – corretora almeida pinto
– alisio imóveis ass. jur. adm. – executivo habitacional – castelo branco imóveis – foninvest –
ispel-imobiliária são pedro – imobiliária jardim teresina - conceito const. imobiliária – const.
imobiliária porto – imobiliária mouzinh – multimóveis corretagens e adm. ltda – locare adm. de
66
imóveis ltda – ilha empreend. imobiliários (fonte: cadastro imobiliário de teresina – creci/pi –
07/03/97)
2.4. O ESTADO
densidade por zonas, mediante a definição das áreas de expansão e implantação do perímetro
urbano” (SILVA, 1989: 52).
Nessa mesma década, o poder municipal, além de Ter sido um regulador do uso
do solo urbano, foi também um provedor de externalidades ao adotar os conjuntos
habitacionais de infra-estrutura, descentralizando várias outras atividades, como, por
exemplo, a construção de galerias pluviais, de mercado públicos e de unidades de saúde em
bairros localizados na periferia da cidade.
A década de 80, no âmbito das ações do governo federal, foi marcada por uma
profunda crise econômica do modelo desenvolvimentista brasileiro, afetando seriamente as
políticas sociais iniciadas nos anos anteriores. O governo federal continuou a administrar o
país com um regime deslegitimado pela maioria da sociedade brasileira, impedindo, através
de vários canais repressores, o exercício pleno da cidadania. O governo federal redirecionou
as suas ações e começou a implementar programas do tipo compensatório, a exemplo dos
Centros Sociais Urbanos (CSUs) que foram instalados em inúmeras cidades do país.
dos conjuntos habitacionais Boa Esperança I e II (1984-85), Tancredo Neves (1985), Novo
Horizonte (1986) e Renascença (1986).
“... propõe em seu plano de governo que as decisões sobre o que reivindicar da
instância federal, ou o que realizar no âmbito local deve ser fruto da participação
dos vários segmentos sociais. Enquanto estabelece como objetivo para o campo da
política social o reconhecimento dos direitos fundamentais e a prática da cidadania
na construção de um novo tipo de sociedade, supõe o reconhecimento explícito da
responsabilidade popular e a negação do paternalismo e do assistencialismo”
(SILVA, 1989: 62).
“... que no primeiro ano após a extinção do BNH (1987) as COHABs financiaram
113.389 casas populares. Durante o primeiro semestre de 1988 este número caiu
drasticamente para 30.646 unidades devido às mudanças da política habitacional a
partir da resolução 1.464, de 26/02/88, do Conselho Monetário Nacional e Normas
Posteriores ...” (AZEVEDO, 1996: 81).
emergência, que acontecia em várias direções da cidade, foi reflexo da expansão da malha
urbana.
“...o conflito com os rios, as restrições à ocupação na Zona Sul (áreas de topografia
acidentada e de proteção do manancial de abastecimento d‟água) e a grande
concentração de lagoas e áreas alagadiças na Zona Norte da cidade, é indicada a
prioridade de ocupar a Zona Leste da cidade, no sentido de se retirar o máximo de
funções urbanas do espaço entre os rios, diminuindo futuras despesas com serviços
de infra-estrutura de grande porte para a transposição dos mesmos” (Perfil de
Teresina, 1993: 38).
estruturação urbana, visando melhorar a distribuição e a articulação dos pólos de dinamização; III –
preservar os elementos naturais de paisagem urbana e os sítios de valor histórico e cultural” ;
g) Lei de nº 1.936 de 16 de agosto de 1988: “Esta Lei define as diretrizes para a
ocupação do solo urbano de Teresina, tendo em vista os seguintes objetivos: I – orientar a ocupação
do solo quanto ao adensamento, estruturação e desempenho das funções urbanas; II – melhorar as
condições de conforto ambiental, garantindo um nível adequado de bem-estar à população; III –
garantir um padrão estético harmonioso e equilibrado ao desenho urbano da cidade”;
h) Lei de nº 1.939 de 16 de agosto de 1988: “Cria as zonas de preservação
ambiental, institui normas de proteção dos bens de valor cultural”;
i) Lei de nº 1.942 de 16 de agosto de 1988: “Dispõe sobre o tombamento e
preservação do patrimônio cultural, histórico, artístico e paisagístico...”;
j) Lei de nº 1.940 de 16 de agosto de 1988: “Institui o código Municipal de
Posturas” (II Plano Estrutural de Teresina, 1988: 2-89).
“...que Marcus André chama de “banalização” da política, com sua dissociação das
atividades de saneamento e desenvolvimento urbano e a transformação em uma
política distribuitiva, agora vinculada ao novo Ministério da Ação Social. (...) A
74
Entre os anos 1985 e 1995, esse agente social atuou mais no cenário urbano, assumindo
estratégias de “intervenção” na cidade. As favelas representam a luta por moradia na cidade.
“... Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, entre 1970 e 1980 a população
moradora em favela cresceu 27,8%, enquanto que a população total aumentou
19,7%; nesta última década foi maior a degradação das condições de moradia, pois
a população em favelas aumentou de 32%, enquanto para a cidade o crescimento
foi apenas de 17%. Em São Paulo, entre 1973 e 1987 a população aumentou 61%, e
os moradores de favelas, em 1.031 (...)” (RIBEIRO, 1996: 105).
LIMA, ao se referir a outras favelas desse mesmo período, localizadas nas Zonas
Sul e Norte, enfatiza que:
77
Os grupos sociais excluídos começaram, a partir dos anos 80, a agir e a ganhar
maior expressão no cenário urbano, fazendo com que as reivindicações em defesa da
moradia passassem a se contrapor às medidas de intervenção imposta pelo poder público,
orientadas no sentido de “depositar” as populações residentes nas favelas nos conjuntos
habitacionais ou em áreas localizadas na franja da malha urbana. Comenta SILVA que
“... essa luta adquire novos contornos a partir de 1985 pelo volume de ocorrências
de invasões e pelo fato de a população das áreas faveladas Ter crescido com uma
rapidez surpreendente, aprofundando conflitos e tensões sociais no contexto da
cidade. As ocupações passam a se produzir coletivamente, de forma organizada e
as estratégias de enfrentamento resistem às tentativas de expulsão ou deslocamento
das áreas ocupadas, as quais começam a ser desapropriadas e entregues aos
mandatários” (SILVA, 1993: 245).
também ocupada, recebendo o nome de Vila Risoleta Neves. Ambas as áreas localizavam-
se na Zona Norte de Teresina. Cabe ressaltar aqui as manchetes dos jornais de Teresina que
circulavam naquele momento:
abrigam 14.542 famílias, envolvendo 67.503 pessoas que constituem 10,52% da população do
município” (Censo de Vilas e Favelas, 1996: 16).
As reflexões desenvolvidas, neste tópico, tem como objetivo fazer esse esforço
teórico sobre a realidade da cidade de Teresina, articulando-se a trajetória dos MSUs à
leitura do espaço urbano. Os MSUs, aqui entendidos como atores sociais que contribuem
para a produção da cidade, enfocarão as ações da Igreja, das Associações de Moradores, das
Federações de Moradores, dos Partidos Políticos e das Organizações Não-Governamentais
(ONGs).
assumir um novo contorno: ambos passam a ser vistos como pólos de um mesmo
processo, tendo o Estado que reconhecer os novos movimentos como interlocutores
legítimos das populações” (LIMA, 1996: 34).
Entre os anos 1984 e 1985, fase de gestação do modelo, o CEPAC definiu áreas
de atuação na cidade e tipos de atividades a serem desenvolvidas. Quanto às áreas de
atuação, vale destacar os vários projetos voltados para o sindicalismo rural, para o
sindicalismo urbana, para a periferia urbana, para os movimentos de jovens e estudantes,
para os movimentos de mulheres e negros, para os setores de educação e saúde popular e
para as ofertas de serviços públicos, dentre outros. Em relação às atividades, por sua vez,
ressaltam-se a preocupação com a capacitação da equipe de assessores, a preparação de
lideranças e militantes de base, o de atividades locais desenvolvidas por outras entidades e o
apoio a essas atividades, as atividades educativas complementares (seminários e pesquisas)
e a produção de material.
84
Mais uma vez, constatou-se que o ano de 1985 foi um “divisor de águas”. A
partir desse ano, os MSUs entraram em cena, tornando-se verdadeiros atores sociais na
busca e na defesa do equacionamento da problemática urbana.
No campo político, a Segunda metade dessa década foi marcada pela presença
mais intensa dos partidos de esquerda, como, por exemplo, o PT e o PC do B. As ações do
PT visavam priorizar os grupos sociais vinculados à luta pela moradia nas Zonas Norte e
Sul da cidade, enquanto o PC do B se restringia a atuar mais diretamente na assistência aos
grupos sociais das Zonas Leste e Sudeste da cidade. Essa divisão espacial refletia uma
“divisão territorial da cidade”, praticada entre os partidos políticos e as associações de
moradores.
“... congregam uma grande parte das entidades, a elas filiadas, mas não abarcam o
conjunto de movimentos sociais que evoluíram e se multiplicaram a partir de 85.
Com efeito, muitas lutas se encaminharam sem se submeterem à direção das
85
No início dos anos 90, o CEPAC voltou a repensar suas ações na cidade e
conseguiu concretizar o seu modelo de ação, construído entre os anos 1986 e 1991. Nesse
contexto, a organização
No exame desse tópico, percebe-se que existe uma relação direta entre os
diversos atores sociais que atuaram em Teresina e a produção do espaço urbano. Suas
trajetórias, aliadas aos grupos sociais excluídos, sinalizam para uma postura alicerçada no
desejo de transformar o espaço urbano, caminhando, dessa forma, no sentido oposto aos
agentes sociais comprometidos com o status quo.
87
CAPÍTULO 3
Em Teresina, a década de 70 foi marcada por uma ação mais efetiva da política
habitacional do Governo Federal. A localização da maioria dos conjuntos habitacionais na
Zona Sul da cidade veio ratificar que essa área seria a “ideal” para a alocação de tais
empreendimentos, tornando-se o principal corredor de expansão da cidade. Ao todo, foram
construídos 11 conjuntos habitacionais, totalizando-se 7.043 unidades. Desse total, 8
90
TABELA 6
Município de Teresina
Total de Habitações Produzidas pela COHAB/PI nas Décadas de 70 e 80
CONJUNTO ANO ZONA Nº DE CONJUNTO ANO ZONA Nº DE
UNIDADES UNIDADES
Cristo Rei 1975 Sul 92 Mocambinho I 1882 Norte 3.031
Stand-Tiro 1977 Sul 40 Catarina 1983 Sul 120
São Pedro I 1977 Sul 66 Mocambinho II 1984 Norte 976
Bela Vista I 1977 Sul 912 Boa Esperança 1984 Leste 150
Ampliação Parque Piauí 1977 Sul 500 São Joaquim 1985 Norte 824
União 1977 Norte 80 Tancredo Neves* 1985 Sul 756
Saci 1978 Sul 2.034 Mocambinho III 1985 Norte 1.128
Itararé 1978 Leste 3.040 P. Militar 1985 Leste 85
São Pedro II 1979 Sul 109 Boa Esperança II 1985 Leste 1o4
DER 1979 Sul 70 Novo Horizonte 1986 Leste 300
Primavera 1979 Norte 100 Renascença I 1986 Leste 900
Itararé II 1980 Leste 4.254 Morada Nova* 1988 Sul 984
Itaperu 1980 Norte 164 Renascença** 1989 Leste 1.450
União II 1981 Norte 100 Morada Nova II 1989 Sul 564
Cíntia Portela 1981 Norte 176 Angelim II 1989 Sul 264
J.E. Falcão 1982 Sul 976 Morada Nova III 1989 Sul 624
Promorar-Angelim I 1982 Sul 4.696 Santa Fé 1989 Sul 533
Fonte: LIMA, 1996: 22-24 - * Conjunto de Apartamentos - ** II/I, II e III etapas
“...O mais importante parece Ter sido a tend6encia das COHABs para
privilegiarem as faixas mais altas do mercado popular (três a cinco salários). A
ampliação do seu mercado potencial para as famílias de até cinco salários, numa
época em que as COHABs apresentavam ainda sérios problemas de inadimplência,
teria sido pensada como uma saída para a crise. (...) A especulação imobiliária
recente, que atingiu especialmente as grandes metrópoles e cidades médias,
acarretando expressivo aumento dos preços dos imóveis e elevação de aluguéis,
fez com que consideráveis setores da baixa classe média passassem a ter nos
91
conjuntos de apartamentos, como, por exemplo, o João Emílio Falcão (1982), Tancredo
Neves (1985) e o Morada Nova (1988).
Tal processo não vai se repetir na primeira metade da década de 90. Nesse
novo contexto, explodiu uma séria crise no setor habitacional, reduzindo-se drasticamente
as políticas habitacionais na forma e na quantidade. Essa política, além de inibir a
produção de habitação no período do Estado desenvolvimentista, tornou o acesso à casa
própria mais escasso, mais seletivo e, consequentemente, mais difícil. O quadro abaixo
ilustra bem essa situação:
Tabela 7
Evolução do Custo de Construção e do Salário Mínimo (1970-1990)
CONSTRUÇÃO(1) SALÁRIO
MÊS/ANO CUSTO POR m2 (2) MÍNIMO(2) (B)/(A)
A B
Julho/1970 53,70 187 3,48
Julho/1980 1.365,00 4.149 3,04
Julho/1990 18.024,32 4.904,76 0,27
Fonte: IBGE – Sistema Nac. de Pesquisa de Custo; FGV – Índices da Construção Civil. Nota: (1) Padrão
SINAPI – (2) Padrões Monetários: Cr$: Julho 70 a Julho 84 – Cr$: Julho 90.
93
localização central não é mais capaz de fornecer. Neste sentido constata-se que no capitalismo
monopolista há centralização do capital e descentralização espacial; ...” (CORRÊA, 1989: 47).
também nas principais avenidas dos conjuntos habitacionais do Itararé (Zona Leste) e
Mocambinho (Zona Norte).
A cidade de Teresina não pode ser considerada como uma cidade industrial. O
chamado “milagre brasileiro”, realizado pela política de industrialização desenvolvida no
país, no regime militar, não foi suficiente para que transformasse o setor industrial no
“carro-chefe” da economia local e de todo o estado do Piauí. A fragilidade do parque
industrial de Teresina é percebido quando se tenta identificar os núcleos da indústria.
Tabela 8
Expansão das Vilas/Favelas de Teresina
1991 – 1993 – 1996
Zona Crescimento por Zona % de Crescimento por Zona
1991 1993 1996 91/93 93/96
Leste 14 51 48 264,29 -5,88
Sudeste 06 28 28 366,67 0,00
Sul 18 39 48 116,67 23,08
Norte 15 17 20 13,33 17,65
Centro 03 06 05 100,00 -16,67
Total 56 141 149 151,79 5,67
Fonte: Sec. Mun. De Planej. E Coord. Geral – Perfil de Teresina/1992 – Sec. Mun. Do Trab. E de Assist.
Social – Censo das Vilas e Favelas de Teresina/1993 – Pesq. Direta: Set/95 – Maio/96.
GRÁFICO 2
Expansão das Vilas/Favelas de Teresina
(1991 – 1993 – 1996)
CRESCIMENTO POR ZONA
102
1991
15 14 Leste
Sudeste
Sul
6 Norte
3 Centro
18
6
17
Leste
51 Sudeste
Sul
39 Norte
Centro
28
5
20
Leste
48
Sudeste
Sul
Norte
48
Centro
28
A Zona Sul da cidade e a Zona Norte foram as únicas zonas que apresentaram
um crescimento no número de favelas, nos três períodos da análise. Em 1991, existiam 18
e, e em 1993, esse valor passou para 39 favelas, representando um salto de 116,67%. Em
1996, houve um aumento de 48 favelas, significando um crescimento de 23,08%, em
relação ao período anterior.
Por fim, a Zona Centro caracterizou-se, nesse período, por números reduzidos
de favelas em seu interior. Em 1991, existiam 3 favelas. Em 1993, esse número aumentou
para 6 e, em 1996, a quantidade delas caiu para 5 favelas. A valorização do solo urbano,
nas áreas centrais da cidade, e uma maior presença de agentes sociais produtores, como os
promotores imobiliários e os proprietários fundiários, fizeram com que não ocorresse a
instalação de novos aglomerados nessas áreas. A solução para os grupos sociais excluídos
foi a ocupação de áreas distantes da Zona Central, geralmente áreas de periferia, onde as
ações dos agentes sociais produtores são flexíveis, o que viabiliza maior rapidez e maior
facilidade na apropriação da terra urbana (Veja a Figura 15 que mostra a distribuição
espacial das favelas em Teresina).
Tabela 9
105
Tabela 10
Domicílios – 1993/1996
Segundo a Situação Física do Terreno Ocupado
Situação do Nº de Domicílios (%)
Terreno 1993 1996 1993 1996
Área do Leito do Rio 1.511 1.535 10,73 6,17
Área de Risco 2.316 1.716 16,45 6,89
Área Alagadiça 1.288 920 9,15 3,70
Área Normal 6.991 20.628 49,66 82,86
S/Informações 1.971 96 14,01 0,38
Total 114.077 24.895 100,00 100,00
Fonte: Censos das Vilas e Favelas – 1993/1996
A maioria das favelas, localizadas nas áreas de risco, em leito de rua e em áreas
alagadiças, sofreu uma redução significativa quanto ao número de domicílios. Apesar
disso, a pesquisa revelou que houve aumento muito expressivo nas áreas consideradas de
tipo normal. Em 1993, existiam 6.691 domicílios nessa situação e, em 1996, esses valores
chegaram a 20.628 domicílios, o que demonstra, em parte, o resultado de inúmeras
intervenções do poder público nas favelas da cidade.
Tabela 11
Famílias por Níveis de Renda
1993/1996
107
Tabela 12
População Economicamente Ativa por Setor de Atividade
108
1993 – 1996
Setores de 1993 1996
Atividades Pessoas Ocupadas (%) Pessoas Ocupadas (%)
Primário 446 3,01 838 2,96
Secundário 5.580 37,64 7.391 26,13
Terciário 8.800 59,35 20.061 70,91
Fonte: Censos das Vilas e Favelas – 1993/1996
Tabela 13
Infra-Estrutura Social – Educação e Saúde
1993 – 1996
Zonas Quan 1º Grau 2º Grau 1º e 2º Graus Creche Un. Saúde
Áreas Nº (%) Nº (%) Nº (%) Nº (%) Nº (%)
Leste 48 6 12,50 0 0,00 0 0,00 3 6,25 2 4,17
Sudeste 28 0 0,00 0 0,00 0 0,00 8 28,57 0 0,00
Sul 48 9 18,75 0 0,00 0 0,00 13 27,08 2 4,17
Norte 20 5 25,00 0 0,00 0 0,000 6 30,00 1 5,00
109
aquisitivo, quanto nas áreas das populações pobres. No entanto, a preocupação, neste
momento, é refletir acerca das áreas de segregação residencial de alto status, espacializadas
na cidade de Teresina.
“a) uma força primária, básica, que vem das relações entre capital e trabalho,
gerando uma estrutura dicotômica de classes: os detentores dos meios de produção
e os que vendem sua força de trabalho;
b) uma força residual, que é originada de formas pretéritas de organização social
ou do contato entre um modo de produção dominante e um subordinado...;
c) forças derivativas, que emergem devido às necessidades de preservar os
processos de acumulação do capital através de inovações tecnológicas e controlar
as mudanças na organização social. Tais forças geram: - fragmentação da classe
capitalista e proletária devido à divisão do trabalho e especialização funcional; -
classes distintas de consumo visando a uma demanda variável e contínua; -
aparecimento de uma classe média burocrata, trabalhando na esfera do Estado e
grandes empresas, devido à necessidade de organizar produção, circulação,
distribuição e consumo; - desvios de consciência de classe e projeção ideológica,
que é a da classe dominante, visando desviar a atenção dos problemas das relações
capital-trabalho; - controle sobre a mobilidade social através da criação de
barreiras, visando evitar instabilidade social que mudanças no processo de
produção, troca, comunicações e consumo poderiam produzir” (CORRÊA, 1988:
61-62).
“... devido ao diferencial da capacidade que cada grupo social tem de pagar pela
residência que ocupa, a qual apresenta características diferentes no que se refere ao
tipo e à localização. Em outras palavras, as áreas sociais resultam das diversas
111
O dilema do como e onde morar não pode ser entendido apenas como se a
localização de uma fração dessas classes sociais, num determinado espaço da cidade, fosse
uma escolha autônoma (CORRÊA, 1989: 62). A criação dessas áreas de segregação
residencial depende diretamente da produção da habitação que ocorre na cidade, e,
também, do próprio mercado que envolve a terra urbana. Como ressalta CORRÊA, existe
um
Feitas essas reflexões acima, cabe, agora, tecer comentários sobre as áreas de
segregação residencial, das populações de alto status na cidade de Teresina.
“... – a área realmente surgiu na direção de grandes eixos viários: Av. João XXIII
(...); Av. Jonh Kennedy (...) e a Av. Nossa Senhora de Fátima (...). No caso
particular da zona leste de Teresina, a existência dessas rodovias proporcionou à
população que para ali migrou, um mínimo de acessibilidade, no início do
processo de ocupação. Hoje aquelas vias podem ser consideradas como um fator
de “atração” da área.;
- a área realmente surgiu para fora do centro tradicional da cidade (...). A zona
leste de Teresina foi “escolhida” para ser aquela que abrigaria a população de mais
alto status, migrante de áreas residenciais do centro antigo, por conter uma série de
requisitos: amenidades, e principalmente por ser uma área cujos proprietários –
grandes latifundiários urbanos – lotearam a terra, transferindo suas residências
definitivamente para ali, o que permitiu às famílias residentes desfrutarem de
amplos espaços; este fato atraiu vizinhança semelhante pois, os primeiros
habitantes trouxeram consigo parentes e amigos de igual status sócio-econômico
...” (ABREU, 1983: 99-100).
Quanto aos bairros pesquisados, ABREU disserta dizendo que, dos 6 bairros da
área, a metade apresenta um tipo de homogeneidade, simbolizada pelo elitismo, enquanto a
114
outra metade se distancia dessa forma. Quanto ao Planalto Ininga, razão da renda de seus
habitantes, se distancia do padrão elitista anterior. Essa área ainda se apresenta fortemente
diferenciada das outras áreas da cidade, devido às características do elitismo (ABREU,
1983: 103-104).
Conforme ABREU explicita no seu estudo, a compreensão dessa área pode ser
sintetizada segundo as seguintes características:
Uma leitura mais atual desta temática passa necessariamente pelas mudanças
de ordem interna e externa, as quais vivenciou a cidade de Teresina, nos últimos anos,
tanto no contexto estadual como no contexto regional. Os fatores de ordem econômica,
social, política e cultural se transformaram, interferindo na vida dos citadinos. Houve,
também, um maior dinamismo das ações dos agentes produtores do espaço urbano, as
quais se tornaram mais “organizados” e mais atuantes no tecido urbano como um todo.
Diante do exposto aqui, é mister reafirmar-se que as análises futuras sobre essa
temática haverão, necessariamente, de passar pela produção do espaço urbano na Zona
Leste, o que significará uma substancial contribuição para a compreensão da cidade como
um todo.
oferecidas nessas áreas, reflexo da existência das populações de alto poder aquisitivo.
Essas vantagens foram semelhantes às que ocorreram nas áreas de segregação residencial,
na Zona Leste.
A área próxima ao Rio Poti Hotel foi produzida com todas as condições que
viabilizassem ali, uma área de segregação espacial, alicerçada em aspectos como
acessibilidade, ventilação – vale ressaltar que a cidade de Teresina possui altas
118
A parcela da população que reside nos edifícios residenciais de luxo faz parte
de uma elite dominante que possui bastante capital para pagar por essa morada considerada
cara pela maioria dos citadinos. O fluxo dessa fração da população, em direção aos
edifícios de luxo, foi motivado
“... os dados indicam a segurança como o principal motivo para a escolha, citada
em 32 dos 33 questionários respondidos, sendo que 75% deles apontam-na como
primeiro lugar na escolha; a comodidade vem em 2º lugar, citada em 24 dos 33
questionários; a localização, e a dificuldade de encontrar doméstica vêm quase
empatados, citados em 13 e 14 questionários, respectivamente...” (ARAÚJO,
1993: 60).
“...na nossa avaliação, ela só traz vantagens. O poder público fica menos
vulnerável, porque não precisa levar infra-estrutura para longe, e a estrutura
urbana da cidade passa a ser melhor aproveitada, já que no mesmo espaço dá para
119
Tabela 14
Unidades de Apartamentos Produzidos pelo INOCOOP/PI
Cidade de Teresina - 1993
Denominação Número de Unidades
Rio Parnaíba 108
Monte Castelo 128
Dom Avelar 336
Vila Tropical 144
Angical 96
Cristo Rei 192
Santa Marta 400
Subtotal 1.404
Fonte: Teresina: aspectos e características – Perfil 1993/PMT
120
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caetano Veloso
O Nome da Cidade
no setor terciário não sendo capaz de dinamizar o setor produtivo. A fragilidade dos setores
primário e secundário, tem contribuído para o fraco dinamismo econômico e social.
espacial da cidade. Vale ainda frisar que os processos e as formas espaciais, a exemplo das
favelas, das áreas de segregação de alto status e das áreas verticalizadas, encontravam-se
em formação, mas já sinalizavam, no tecido urbano, a presença de novas paisagens, que
representavam novos usos do solo urbano, ou seja, novas formas de apropriação da terra
urbana.
Em relação ao segundo período, compreendido entre os anos 1985 e 1995,
ocorreram profundas transformações oriundas dos cenários nacional, regional e local,
fazendo com que os agentes sociais assumissem novos papéis na construção de formas
espaciais, num número cada vez maior, na cidade. Alguns agentes, porém, como os
industriais, sofreram uma redução na importância de sua participação no que se refere à
produção do espaço. Esse agente social não conseguiu dinamizar o setor industrial na
capital. A falta de uma política industrial que modernizasse o setor e o integrasse às outras
esferas da economia foi um fator crucial para tal redução. Contrariamente, os comerciantes
mostraram níveis de ascensão, conseguindo avanços no setor econômico, acompanhando a
evolução da cidade, e ratificando a marca da capital como um pólo comercial.
As ações dos grupos sociais excluídos, nesse segundo período, fizeram com
que eles fossem reconhecidos como agentes sociais que representam uma parcela
significativa de citadinos excluídos do processo de produção da cidade, isto é, excluído do
direito de possuírem um teto sob o qual morassem. O que se deve salientar é que as ações
desse agente social foram amparadas pelos atores sociais (MSUs) que contribuíram,
sobremaneira, para a consolidação desse agente social na cidade.
Teresina, considerando o seu espaço, como um espaço que é produto das relações sociais
existentes nesse cenário complexo e repleto de temas para serem investigados.
Para não concluir, usando as palavras de CORRRÊA, considero que este estudo
é uma retribuição carinhosa a todos que vivem e que produzem esta cidade, esperando
poder ter contribuído na preocupação em olhar a cidade com uma visão fragmentada e
articulada, buscando apreender a totalidade social e espacial contida nesse cenário urbano.
126
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Legislação Urbana de Teresina – PMT/1993
129
ANEXO