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Mariologia Curso de Mariologia Por Um Cartuxo
Mariologia Curso de Mariologia Por Um Cartuxo
PERGUNTAS
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Curso de Mariologia
1- Que lhe sugere a divisão de Lc 1-2 em dois dípticos e características
anexas?
Pode-se dizer que o Evangelho da Infância em Lc 1-2 compreende dois
dípticos ou dois quadros compostos de duas cenas: o díptico dos
anúncios (Lc 1,5-56) e o dos nascimentos (Lc 1,57-2,52).
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Curso de Mariologia
mais profundidade. Em certos casos, o midraxe põe em relevo o sentido
teológico dos acontecimentos; não é uma crônica fria, mas uma
narrativa vivencial, que abre os olhos do leitor e o interpela.
Tem-se posto em xeque o valor histórico do midraxe; pode-se-lhe dar a
autoridade de uma narrativa fidedigna? – A resposta é positiva. Para
nos determos apenas em Mt 1-2 e Lc 1-2, observamos que estes dois
evangelistas têm a preocupação de apresentar a história de Jesus
segundo os modos de narrar da sua época. S. Lucas o professa
explicitamente no prólogo do seu Evangelho.
Em conseqüência, deve-se dizer que não há oposição entre gênero
literário midraxe e fidelidade à história.
3- A simetria dos eventos e as ressonâncias do Antigo Testamento em
Lc 1-2 tiram a credibilidade desses dois capítulos?
Não tiram credibilidade desses dois capítulos pois é uma maneira de
iluminar o entendimento dos textos antigos e por que é uma maneira de
plasmas as profecias na realidade histórica.
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Curso de Mariologia
Deus faz da mulher o principio da linhagem dos bons, que lutam contra
a serpente; por isto a mulher é chamada “Mãe dos vivos (Eva)”. Trata-
se, pois, de um apelativo nobre que Jesus usa mais uma vez em Jo 19,26;
Maria é a Mulher “Mãe dos vivos” por excelência, pois deu à luz o
Vencedor da morte.
O apelativo “Mulher” mais uma vez chama a atenção. Há de ser
entendido em consonância com Gn 3,15 e Jo 2,4: Maria é interpelada
com Mãe... Mãe dos vivos, nova Eva, e o seu filho lhe é apontado
concretamente: é João, o representante de todo o gênero humano. Assim
é confirmada a maternidade espiritual de Maria.
2- Que é a hora de Jesus? Qual o significado da resposta de Jesus à sua
Mãe em Jo 2,4?
Maria SS. Se dirige a Jesus cheia de fé. Certamente, trata-se de um
episódio cristológico, pois o evangelista quer apresentar o primeiro
sinal ou a primeira manifestação da glória de Jesus (2,11). Não obstante,
é também nitidamente interessado na figura de Maria; sim, embora
compreenda onze versículos apenas, quatro deles se referem a Maria
(vv. 1.3.4 e 5). E qual o papel que toca aí a Maria? – O de Mãe espiritual
em duplo sentido:
- é a mulher previdente e providente, que compartilha as necessidades
dos homens e trata de as minorar, levando-lhes solução: é por ela que
Jesus faz seu primeiro sinal, ela está no limiar da vida pública de
Jesus, intercedendo pelos homens.
- É a fé de Maria que obtém o sinal que provoca a fé dos discípulos:
“Ele manifestou a sua glória e os discípulos creram nele” (v.11).
3- Por que Jesus deu tanto vinho? Que significado tem tamanha
quantidade?
A resposta de Jesus a sua Mãe em Jo 2,6-11 é realmente messiânica. O
Senhor doou seis talhas de vinho, contendo cada qual duas ou três
medidas; a metrétes ou, em hebraico, bath correspondia a cerca de 40
litros – o que significa que Jesus doou, no mínimo, 6 vezes 80 litros, ou
seja 480 litros – quantidade que ultrapassava longe a necessidade dos
convivas. Também a multiplicação dos pães, em Jo 6,11-13, redundou
em excesso de pão, de modo que recolheram doze cestos de pães de
cevada. Em ambos os casos a grande quantidade (seja de pão, seja de
vinho) lembra as profecias relativas aos tempos messiânicos; estes eram
tidos como tempos de fartura, fartura que simbolizava a riqueza dos
bens espirituais trazidos pelo Messias.
4- Queira explicar o paralelo entre a hora de Jesus e a hora de Maria ao
pé da Cruz; cf. Jo 16,21s
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Curso de Mariologia
Ao pé da Cruz, Maria experimentou a sua hora, como Jesus
experimentava a grande hora predefinida pelo Pai. No sofrimento, ela
se tornava Mãe da humanidade. A imagem das dores do parto é
familiar aos escritores do Antigo Testamento, que assim designam os
acontecimentos dolorosos precursores dos tempos messiânicos; Is 21,3s
26,16-20;66,7-14 Jr 30,6; Os 13,13; Mq 4,9 ver no Novo Testamento Mc
13,8 1Ts 5,3; Rm 8,22; Ap 12,2. Tal imagem se tornou realidade, em grau
máximo, quando a Maria junto à Cruz Jesus foi conferir a maternidade
sobre todos os homens. Como Mãe da humanidade, preenche o papel
de Nova Sion ou nova Jerusalém, da qual diz o Salmo 87,2s5:
“O Senhor ama as portas de Sion mais que todas as moradas de Jacó.
Ele conta glórias de ti, ó cidade de Deus... De sion será dito: todo
homem ali nasceu e foi o Altíssimo que a firmou”
5- Em que sentido Maria é a nova Jerusalém?
Jerusalém, mãe de todos os homens, porque portadora da Palavra da
vida, é figura de Maria SS., Mãe dos viventes por excelência. Sim, as
promessas de Deus não se dirigem a cidades ou muralhas como tais,
mas a pessoas concretas, das quais aquelas coisas são símbolos ou
imagens. Daí dizer-se que as promessas feitas a Jerusalém se cumprem
plenamente em Maria, a humilde representante de Sion por ocasião de
sua estada ao pé da Cruz de Jesus.
PARTE I : FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA – NOVO TESTAMENTO
MÓDULO 6: A FIGURA DE MARIA EM S. MARCOS E S. MATEUS
PERGUNTAS
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Curso de Mariologia
sem o concurso de varão, ou seja, virginalmente, como atestam os vv 18-
23, que narram o nascimento de Jesus.
O estilo de Mateus, ao descrever a genealogia de Jesus, tem certo
paralelo nos escritos de S. Paulo. Este é muito sóbrio ao falar do Jesus
pré-pascal; todavia refere-se às origens do Senhor em termos que de
algum modo podem ser aproximados aos de Mateus.
O apostolo, de um lado, acentua a verdadeira humanidade de Jesus,
nascido de mulher, mas não refere homem algum como pais carnais do
Senhor. Haverá aí a intenção de aludir à conceição virginal de Jesus,
como ocorre em Mt 1,16? Maria teria recebido, no caso, do próprio Deus
o Filho ao qual Ela deu a carne humana. Estaria assim insinuada a
dupla natividade de Jesus: a eterna, no seio do Pai, como Deus; e a
temporal, no seio da Virgem, como verdadeiro homem.
2-Que significa a secção de Mt. 1,18-23?
“A origem de Jesus Cristo deu-se do segunte modo: Maria, sua Mãe,
estava prometida em casamento a José. Ora, antes de term coabitado,
achou-se ela grávida por obra do Espírito Santo. José, seu esposo, que
era um homem justo e não a queria difamar publicamente, resolveu
repudiá-la em segredo. Enquanto assim cogitava, eis que o anjo do
Senhor manifestou-se-lhe em sonho, dizendo: José, filho de Davi, não
temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela foi gerado vem do
Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás Jesus, pois Ele
salvará o seu povo dos seus pecados. Tudo isso aconteceu para que se
cumprisse o que o Senhor havia dito pelo Profeta: Eis que a virgem
conceberá e dará à luz um filho, ao qual darão o nome de Emanuel, o
que se traduz: Deus conosco (Is 7,14) (Mt 1,18-23)”.
3- Como interpretar o papel de S. José frente a Maria SS. Grávida?
Esta pergunta só se resolve satisfatoriamente, se admite que José
reconheceu, por intuição de sua fé, o mistério de Maria. Convicto da
probidade e da virtude de Maria, recusou-se a aplicar-lhe as normas da
Lei relativas ao adultério e, por isto, quis que ela seguisse o seu caminho
(traçado por Deus) sem que ele se envolvesse nos meandros do mistério.
O querer despedir Maria, portanto, não significava vingança ou sanção
da parte de José, mas respeito e reverência a um desígnio de Deus, que
sobrepujava seu entendimento.
O próprio Deus dissipa os temores concebidos por José e quer que este
exerça a paternidade jurídica ou legal em relação a Jesus, como tutor da
Sagrada Família. O fato mesmo de José ser incitado a dar o nome ao
Filho de Maria (cf 1,21) indica bem que ele é considerado “pai segundo
a lei” de Jesus.
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Curso de Mariologia
4- Que tem você a notar na citação da profecia de Is 7.14?
A solenidade dada ao oráculo, faz ressaltar que um acontecimento
extraordinário aconteceria, o nascimento de um menino, “Emanuel”.
Mais eu acho que o sinal mais extraordinário é que o menino seria filho
de “almah” uma jovem e o acontecimento extraordinário é que foi de
maneira virginal, creio por fé.
PARTE I : FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA – NOVO TESTAMENTO
MÓDULO 7 : MARIA NO APOCALIPSE
PERGUNTAS
1- De que trata Ap 12, 1-17?
Dois grandes sinais aparecem no céu: a) uma Mulher refulgente e
gloriosa, que sofre dores de parto para dar à luz; b) um horrível Dragão,
tão pujante que a sua cauda varre a terça parte das estrelas do céu. Este
traço nada tem a ver com a queda dos anjos no início da história da
salvação, mas é mera expressão da grandeza monstruosa do Dragão.
O Dragão espreita o filho da Mulher para abocanhá-lo desde que nasça.
Não o consegue, porém, pois o Menino, que tem traços do Rei-Messias
(cf. Ap 12,5 e Sl 2,9), é arrebatado aos céus. Em conseqüência, trava-se
grande batalha no céu entre o arcanjo Miguel e seu exército de anjos, de
um lado, e o Dragão, que é arremessado para a Terra.
Este fato suscita um hino de louvor no céu em virtude da vitória de
Miguel; o Dragão é projetado sobre a Terra, movido por grande furor,
porque sabe que pouco tempo lhe resta para seduzir os homens.
Entrementes a Mulher, após o arrebatamento do Filho, é por Deus
abrigada no deserto durante 1260 dias ou um tempo, tempos e metade
de um tempo (= 3 anos e meio). Satanás, a Serpente antiga, o Diabo tudo
faz para destruir a Mulher; esta, porém, é protegida por Deus, de modo
que escapa incólume às invectivas. Vendo que nada consegue nessa
luta contra a Mulher, “ o Dragão vai combater o resto da descendência
dela, os que observam os mandamentos de Deus e guardam o
testemunho de Jesus” (12,17).
Abstração feita da Mulher, que será estudada sob o título seguinte,
deve-se dizer que Ap 12 fala do nascimento do Messias; este é
perseguido por Satanás, que o quer impedir de realizar sua missão;
todavia derrotado Satanás e é glorificado nos céus. A vitória de Cristo
implica, para o Diabo, a perda do principado que ele adquiriu
seduzindo os primeiros pais.
2- Quem é a Mulher apresentada nesse capítulo?
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Curso de Mariologia
Essa Mulher bela, que deve dar à luz o Messias, é antes do mais, a Filha
de Sion, o povo messiânico (que é freqüente representado no antigo
Testamento como Mulher). – Na plenitude dos tempos, a Filha de Sion
coletiva se faz muito concreta na pessoa de Maria SS., que, de maneira
singular, se tornou a Mãe do Messias. Tendo este subido aos céus, o
papel da Mulher- Mãe (Mãe da Vida) não cessa; continua na Igreja, que,
como Mãe e Mestra, gera seus filhos para a vida eterna mediante os
sacramentos (especialmente o Batismo e a Eucaristia). O maligno jamais
poderá suplantar ou aniquilar a Igreja como tal, mas poderá seduzir os
cristãos que lhe quiserem dar ouvidos.
Podemos estender o nosso olhar... Dizíamos que a Mulher de Ap 12
assume sucessivos aspectos no decorrer da história: Filha de Sion, Maria
SS., Santa Mãe Igreja. Completemos o quadro, colocando no início da
série a 1a Eva, cujo nome profético significa “Mãe da Vida ou dos
viventes”, e no término final coloquemos a figura de Jerusalém celeste, “
preparada como uma esposa que se enfeitou para o seu Esposo” (Ap
21,2).
Vê-se, pois, que a Mulher de Ap 12 é a Mulher como tal, na sua função
específica da maternidade, já designada pelo nome EVA. A Mulher
perpassa toda a história da salvação; a vida, até mesmo a vida do
Messias, só vem aos homens através da Mulher. No Protoevangelho
(Gn 3,15) o Senhor Deus quis colocar a mulher, e não o homem, como
protagonista mais remota da obra da Redenção; ela é fonte ou origem
da linhagem donde sai o Messias e a vitória do Bem sobre o Mal; é nas
entranhas da Mulher (agraciada por Deus ou cumulada dos favores
divinos) que está escondida a salvação da humanidade.
3-Como se conciliam a glória fulgurante e as dores de parto dessa
Mulher?
Essa figura feminina, com seus aspectos diversos e complexos, não pode
ser identificada com alguma personagem individual, visto que
apresenta facetas aparentemente contraditórias (é gloriosa e, ao mesmo
tempo, dolorida, por exemplo).
Gloriosa e dolorida... O autor sagrado descreve o esplendor da Mulher,
valendo-se de textos do Antigo Testamento.
Ct 6,10: “Quem é essa, que tem o olhar da aurora, bela como a lua,
brilhante como o sol, terrível como esquadrão de bandeiras
desfraldadas?
Põe-se a questão: a Mãe do Messias, Maria SS., teve um parto doloroso?
– Não é necessário tirar esta conclusão de Ap 12,1s. A Filha de Sion,
descrita com traços gloriosos, que convêm a Maria SS. Elevada aos céus,
sofreu penosas provações durante os séculos que prepararam a vinda
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Curso de Mariologia
do Messias; a gestação do Messias por parte de Sion, foi, sem dúvida,
dolorosa. É isto que o autor sagrado quer dizer quando se refere às
dores do parto da Mulher.
4- Que se pode deduzir desse capítulo a respeito do papel da Mulher
como tal no plano de Deus?
“ partindo daqui, talvez seja possível desemaranhar um problema que
continua a angustiar a Igreja: a posição da mulher. Devemos acentuar
mais o fato de que uma mulher foi parceira de Deus na obra salvífica da
Encarnação; deveríamos ressuscitar a idéia patrística, viva na teologia
medieval, segundo a qual entre a morte e a ressurreição de Cristo a
Igreja só existiu na mulher Maria. Portanto, ao menos uma vez a
existência da fé viva no mundo dependeu de uma mulher! Se Maria é o
tipo da Igreja, ela o é na qualidade específica daquela criatura humana
que foi, isto é, como mulher” (o culto a Maria hoje, P. 21, nota 14).
5- Por que São João omite o nome da Mãe de Deus no seu Evangelho?
A omissão não parece casual, mas, sim, premeditada e sistemática. João
não ignora o nome de José, quando refere os dizeres dos judeus
incrédulos: “ por ventura, não é este Jesus o filho de José, cujo pai e cuja
mãe nós conhecemos? Como, pois, diz ele: ‘ Desci do céu’? (Jo 6,42).
Dentre todos os discípulos de Jesus, o que mais devia conhecer a Mãe
de Jesus, era S. João, a quem o Senhor, ao morrer, confiou sua Mãe
Santíssima. Apesar disto, o quarto evangelista só menciona “ a Mãe de
Jesus” ou “sua Mãe”.
João omitiu o nome de Maria, porque lhe parecia um nome muito
comum, em vez de caracterizar ou distinguir a Mãe de Jesus. Havia
muitas Marias no povo de Israel! Se o nome próprio é aquele que
distingue uma pessoa, revelando a sua identidade íntima (como
pensavam os israelitas), o nome Maria não preencheria essa função em
relação à Mãe de Jesus. A expressão que designava de modo singular e
irrepetível a realidade de Maria SS., era Mãe de Jesus. Por conseguinte,
o evangelista, ao referir-se à Mãe de Jesus, estaria revelando a razão de
ser mais característica daquela figura.
Pode-se ainda propor a seguinte reflexão: o quarto Evangelho fala
muito do Pai de Jesus; Jesus se refere freqüentemente ao Pai que o
enviou e cuja vontade Ele quer realizar. “O Pai e eu somos um” (Jo
10,30).
Ora a expressão “a Mãe de Jesus” pode ser entendida como um paralelo
a “meu Pai (= o Pai de Jesus)”. Maria seria o eco da Divina Figura do Pai
não a penas mediante a maternidade física, mas também através da
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Curso de Mariologia
comunhão com o Espírito Santo, que é o Espírito do Pai; tenham-se em
vista as palavras do anjo da Anunciação:
“O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com a
sua sombra, e por isto Aquele que nascer de ti será Santo e chamado
Filho de Deus (Lc 1,35). Este texto quer dizer que Maria recebe do Pai,
por intervenção do Espírito Santo, o seu Filho. Ela é a Mãe cuja
maternidade é Dom direto do Próprio Pai Celeste.
Esta conclusão parece corroborada pelo fato de que Jesus em Caná,
tendo alegado que sua hora ainda não chegara, não obstante quis fazer
o seu primeiro sinal; reconheceu na voz de Maria o eco muito claro da
vontade do Pai.
PARTE I : FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA – NOVO TESTAMENTO
MÓDULO 8: A ATITUDE DE JESUS PARA COM MARIA
PERGUNTAS
1- Por que Maria aparece tão pouco no Evangelho?
A sobriedade dos evangelistas ao se referirem a Maria Santíssima se
explica muito bem, vista a finalidade que se propunham ao escrever;
jamais tencionara transmitir por escrito uma síntese completa da vida
de Cristo, mas apenas alguns aspectos mais importantes para a
catequese. Os evangelhos são justamente pequenos compêndios dos
ditos e feitos principais de Jesus; entende-se, por isto, que seus autores
chamem a atenção do leitor exclusivamente (Mc e Jo) ou quase
exclusivamente (Mt e Lc) para a vida pública do Senhor, apresentando-
nos nesta os ensinamentos fundamentais e os testemunhos da
Divindade e Messianidade do Mestre; assim fazendo, não tinham
ocasião para dissertar muito sobre a figura de Maria Santíssima, que
certamente não estava em primeiro plano durante os anos de ministério
de Jesus (julgam alguns que Maria acompanhou seu Divino Filho
juntamente com as santas mulheres que lhe serviam, conforme Lc 8,1-3).
São Mateus e São Lucas, que antepuseram ao esquema habitual da
catequese (esquema que ia do batismo de João até a Ascensão; cf. At
1,22; 10,37-42) algumas notícias sobre a infância de Jesus, não hesitaram
em delinear nestes quadros o papel de Maria; é o que se verifica
principalmente em São Lucas, do qual os dois primeiros capítulos
aparecem profundamente marcados pela ação de Maria; nada dizem
sobre o nascimento, a infância e as núpcias da Virgem porque a
personalidade de Maria é, aos seus olhos, toda absorvida pela sua
missão de Mãe de Jesus. Por ocasião da Paixão, reaparece heróica a
figura de Maria nos quatro Evangelhos.
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Curso de Mariologia
2- Como entender o apelativo “Mulher” em Jo 2,4; 19,26?
A resposta dada por Jesus em Jo 2,4 merece atenção detida : Ao pé da
letra soa: “Que há para Mim e para ti (no caso)? Ti emoui Kai soi?”
trata-se de construção tipicamente semítica, ocorrente em outras
passagens da Sagrada Escritura, como Jz 11,12;2 Sm 16,10;19,23;1Rs
17,18; 2Rs 3,13; Mt 8,29; Mc 8,29; Mc1,24; Lc4,34; 8,28. Significa atitude
reservada por parte de quem fala; consultando-se a melhor fonte de
exegese no caso, isto é os textos da filologia rabínica (colecionados por
Strack-Billerbecd, Kommentar zum Neuen Testament III 401), verifica-
se se que em Jo 2 a expressão equivale a dizer. “ por que tal pedido?
Por que nos imiscuirmos em tal coisa? Tu e eu, que podemos fazer nessa
situação?” Jesus logo indica a razão dessa restrição: não chegou sua
hora. A “hora de Jesus”, conforme São João, é o momento da
glorificação final de Cristo ou de sua ascensão à direita do Pai; o
evangelista, no decorrer do Evangelho, nota sucessivamente a
aproximação dessa hora (CF. 7,30;8,20;12,23.27;13,1;17,1); está claro que,
de antemão fixada pelo Pai, não poderia ser antecipada. Não obstante,
depois de fazer observar isto, Jesus realizou o milagre desejado por
Maria, não antecipando a sua hora, mas dando com este milagre
(manifestação de sua glória, como diz São João em 2,11)um prenúncio
ou anúncio simbólico de sua glorificação definitiva. Jesus, por sua
resposta aparentemente restritiva, queria apenas indicar a sua Mãe que
ela Lhe pedia algo de muito grande, ou seja, um prodígio que, por assim
dizer, eqüivalia à antecipação de um desígnio do Pai; mas que, não
obstante, Ele tendia à sua prece. Maria deve Ter compreendido, pelo
tom de voz e os gestos de seu Filho, que Este estava disposto a atender-
lhe a atitude de Jesus para com Maria em Caná, longe de derrogar à
dignidade de Maria, é autêntico testemunho de quanto o Filho
apreciava sua Mãe.
Quanto ao tratamento “Mulher” usado pelo Senhor, nada tem de
irreverente; é outro aramaísmo equivalente desta vez a um apelativo
solene: “Dama” (sitt, em aramaico); implicava ternura muito nobre, pelo
que foi repetido por Jesus em outras ocasião solene, ou seja, quando,
pendendo do alto da Cruz, quis prover filialmente ao amparo de sua
Mãe: “Mulher”, eis teu filho”, disse o Senhor, indicando João como
futuro arrimo de Maria (Jo 19,26). – Além disto, observa-se que o
tratamento “Mulher, no contexto de Jo 19 (contexto que alude
repetidamente a profecias do Antigo Testamento; cf. 19,24.28.36s), faz
ecoar as promessas de Gn 3,15.20: “Mulher” é nestes dois versículos o
título portador da esperança do mundo; é, sim, pela mulher e pela prole
da mulher que Deus promete restaurar a harmonia violada; Jesus terá,
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Curso de Mariologia
pois, do alto da Cruz não somente providenciado ao amparo de Maria,
mas também apresentado sua Mãe qual nova Eva, Mãe espiritual de
todos os viventes, a começar por São João.
3- Jesus foi indelicado com sua Mãe em Lc 2,49; Mt 12,46-49; Lc 11,27s?
Estas palavras significam que Jesus na terra vivia continuamente
voltado para o Pai Celeste, devotando-Lhe toda a sua vida na carne.
Esta atitude do Senhor não derrogava ao afeto filial que Ele nutria para
com sua Mãe Santíssima; até o fim, e ainda na última hora de sua
existência terrestre, pregado à Cruz, Ele haveria de testemunhar a Maria
a sua piedade filial, confiando-a ao discípulo bem-amado. Contudo
Jesus, como homem, observava a devida hierarquia em seus afetos; os
laços de família nele não eram extintos nem atenuados pelo fato de
serem subordinados ao amor do Pai Celeste: ao contrário, este pode
conferir valor e solidez especiais a todo e qualquer afeto humano.
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Curso de Mariologia
PARTE II : HISTÓRIA DA MARIOLOGIA
MÓDULO 10 : OS SÉCULOS III – V
PERGUNTAS
1- Qual a posição de Orígenes na história da Mariologia?
Maria é o modelo do discípulo perfeito. É preciso imitar Maria para que
nasça em nós o Cristo. Desta maneira Orígenes enfatiza o nascimento de
Verbo ou da Palavra de Deus nos corações dos fiéis. Todavia Orígenes
incide em dois erros: 1) julga que a espada predita por Simeão em Lc
2,35 é a espada da dúvida que deve Ter afetado Maria no Calvário; e
justifica sua interpretação dizendo que, se Maria não tivesse pecado,
não teria sido redimida por Cristo (coloca-se assim a questão que
durante séculos dificultou a admissão da Imaculada Conceição por
parte dos teólogos, como se verá a seguir); cf. In Lucam 17,7.2) Orígenes
parece não Ter aceito a virgindade de Maria no parto, embora afirme
que não teve outros filhos além de Jesus; cf. In Mt 10,17.
2- Como o título “ Mãe de Deus” aparece no fim do século III?
Muito importante nessa época é o surto do título Theotókos, Mãe de
Deus, na literatura cristã que possuímos. Origenes (+250) é a primeira
testemunha desta designação; tê-la-á explanado no texto grego do seu
comentário sobre a epístola aos Romanos, como refere o historiador
cristão Sócrates (+450). Também um papiro do Egito datado do século
III foi encontrada uma oração dirigida à Theotókos, oração até nossos
dias existente na piedade cristã: “À vossa proteção recorremos, Santa
Mãe de Deus (Theotókos)”.
3- Quando se terá dado a primeira aparição mariana?
No fim do século III Maria SS. Teria aparecido a S. Gregório dito “o
Taumaturgo” (+270), juntamente com S. João Evangelista. É S. Gregorio
de Nissa (+394) quem o refere (Patrologia Grega, ed. Migne, vol. 46,
910s).
4- Qual a doutrina marilógica do Concílio de Éfeso em 431? Como se
relaciona com a Cristologia?
Após haver afirmado a Divindade do Filho e do Espírito Santo nos
Concílios de Necéia I (325) e Constantinopla I (381) respectivamente, os
teólogos se voltaram para o mistério da Encarnação do Filho: como
pode Jesus Cristo ser verdadeiro Deus e verdadeiro homem no sentido
pleno destas duas expressões?
Já a fórmula Theotókos (Mãe de Deus), usual entre os cristãos desde o
século III, insinuava a resposta: Maria é a Mãe de Deus Filho, que, sem
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Curso de Mariologia
perder coisa alguma da Divindade, assume em seu seio a natureza
humana ou toda a realidade de um homem, sendo, porém, que o eu
dessa humanidade não era um eu humano justaposto ao eu divino, mas
era o próprio Eu Divino do Filho.
Todavia a escola de Antioquia (Síri), recorrendo à filosofia aristotélica,
afirmava que cada natureza humana concreta tem seu eu humano
próprio. Por conseguinte, apregoava dois eu (o divino e o humano) ou
duas pessoas em Jesus Cristo. Estes dois eu estariam unidos entre si por
benevolência e amizade apenas. Daí não se poder dizer que Maria é
Mãe da Pessoa Divina unida à natureza humana, mas Maria seria a Mãe
do homem Jesus ou a Mãe de Cristo, não, porém, a Mãe de Deus (pois
Deus não pode nascer de uma mulher).
Nestório, que era o porta-voz da doutrina inovadora, obteve do
Imperador Teodósio II a convocação de um Concílio ecumênico, que se
reuniu em Éfeso no ano de 431. Este condenou o Nestorianismo, e, para
afirmar a reta fé no mistério da Encarnação, recorreu á formula: Maria é
Mãe de Deus. Esta há de ser entendida do seguinte modo:
Toda Mãe gera uma pessoa. Ora em Jesus havia uma só Pessoa – a do
Filho de Deus -, que no seio da Virgem assumiu a natureza humana,
fazendo-a existir pela Pessoa do Filho de Deus. Consequentemente
Maria pode e deve ser fita “Mãe de Deus”, não no medida em que Jesus
é Deus (pois Deus em sua eternidade não pode Ter mãe), mas na
medida em que Deus, no tempo oportuno, quis fazer-se homem. Em
Jesus Cristo há um só eu (divino), responsável por tudo o que Jesus fez
de divino e de humano. Por isto pode-se dizer: Deus sofreu e morreu
por nós, homens,... não na medida em que Jesus é Deus, mas na medida
em que o Filho de Deus assumiu uma verdadeira humanidade e nela
quis crescer, trabalhar, sofres e morrer.
Já que as discussões prosseguiram entre os teólogos mesmo após o
Concílio de Éfeso, novo Concílo ecumênico se reuniu em 451 na cidade
de Calcedônia e reafirmou a doutrina de Éfeso, reforçando o título
Theotókos. Eis um trecho de suas definições:
“ O Filho que, antes dos séculos, foi gerado pelo Pai segundo a
Divindade, nos últimos tempos Ele mesmo, por causa de nós e da nossa
salvação, nasceu de Maria Virgem, Mãe de Deus segundo a natureza
humana”(Denzinger-Schönmetzer, Enquirídio No 301).
De então em diante a piedade mariana se desenvolveu mais
aceleradamente. A arte sacra, que sempre representou Maria com a
criança nos braços, foi multiplicando as imagens da Santa Mãe de Deus.
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Curso de Mariologia
5- Diga algo sobre a impugnação da virgindade no século IV. Por que e
como foi combatida?
Helvídio, leigo, que em Roma publicou no ano de 382 um opúsculo
que impugnava a figura de Maria SS., tida por muitos como modelo
da vida una; a virgindade perpétua de Maria era atacada na base de
Mt 1,18-25; Lc 2,7; 8,19-21. – S. Jerônimo, que na época morava em
Roma, escreveu o livro “contra Helvídio”, em que defende, em
termos que ficaram clássicos, a perpétua virgindade de Maria.
Joviniano, poucos anos depois, retomou o ataque. Após levar uma
vida ascética rigorosa, entregou-se a uma conduta menos controlada
e passou a afirmar o mesmo valor para a virgindade, a vida conjugal
e a viuvez, pois o Batismo é que faz o cristão; estariam equiparados o
jejum e os lautos banquetes, desde que a pessoa comesse com ação de
graças. – S. Jerônimo também reagiu contra Joviani (Adversus
Jovinianum), o que levou um Sínodo Romano condenar o herege em
390; S. Ambrósio em Milão confirmou a sentença de Roma; viu-se
ainda obrigado a defender por escrito a vida monástica, pois dois
monges deixaram o mosteiro em Milão e foram propagar as idéias de
Joviniano.
Vigilâncio era um sacerdote do Sul da Gália, que em 406 se pôs a
combater o culto aos santos e às relíquias, assim como o ideal da vida
monástica. Perguntava: como se poderá atender às necessidades do
mundo e da humanidade abatida pelo pecado ou como converter os
pecadores para a virtude, se os bons cristãos se retirarem para os
mosteiros? Em conseqüência julgava ele que o retirar-se para o
deserto era deserção e não combate.
Todas esta invectivas contra a vida ascética feriram direta ou
indiretamente a piedade para com Maria SS. – Todavia não tiveram
grande significado na tradição da Igreja. A veneração à Santa Mãe de
Deus já estava profundamente arraigada na consciência cristã. Nos
séculos subseqüentes seria cultivada na base de novos subsídios
teológicos.
PARTE II : HISTÓRIA DA MARIOLOGIA
22
Curso de Mariologia
Menino Jesus, começaram a aparecer imagens da Virgem Mãe
Dolorosa, colocada ao pé da Cruz donde pendia o Filho; esta
representação inspirou Michelangelo, que esculpiu a Pieta ou a Mãe que
traz nos braços o Filho morto. Esta modalidade de devoção mariana
deve-se, em grande parte, aos cruzados, que da Terra Santa levaram
para a Europa reminiscências muito vivas da Paixão e, em geral, da vida
humana do Senhor Jesus.
2- Que posição assumiram os reformadores protestantes frente à
devoção a Maria.
O século XVI foi o da Reforma Protestante. Pode-se dizer que os
reformadores mesmo conservaram muitos pontos da tradição mariana,
pontos que as gerações seguintes foram pondo de lado.
Lutero, por exemplo, não negou a virgindade perpétua de Maria, mas
julgava que ninguém está obrigado a aceitá-la como artigo de fé. Não
hesitava em dizer que a expressão “irmãos de Jesus” deve ser entendida
no sentido semita; este atribuía a irmãos o significado de “parente,
familiar”; para o confirmar, Lutero apelava para a significação ampla da
palavra grega adelphoi na tradição dos LXX.
Lutero também admitia a imaculada conceição de Maria, devida à
prévia aplicação dos méritos de Cristo. Quanto à Assunção corporal, o
reformador não ousava professá-la explicitamente, mas não excluía que
o corpo de Maria tinha sido levado pelos anjos dos céus. Deixou um
comentário do Magnificat, em que se lê: “ó bem-aventurada Mãe,
Virgem digníssima, recorda-te de nós, e obtém-nos que também a nós o
Senhor faça essas grandes coisas”. No calendário luterano ficaram três
festas marianas, que têm base no Novo Testamento e estão muito
ligadas a Cristo: a Anunciação ou festa da Encarnação, a Visitação de
Maria a Isabel ou festa da vinda de Cristo, e a Purificação de Maria aos
quarenta dias após o parto, também tida como festa da Apresentação de
Jesus no Templo.
Calvino foi mais radical. Suprimiu as festas marianas. Aceita o título
“Mãe de Deus” definido pelo Concílio de Éfeso em 431, mas prefere a
expressão “Mãe de Cristo”. Sustenta a perpétua virgindade de Maria,
afirmando que “os irmãos de Jesus” citados em Mt 13,55 não são filhos
de Maria, mas parentes do Senhor; professar o contrário, segundo
Calvino significa “ignorância”, “Louca sutileza” e “abuso da S.
Escritura”.
Zvínglio, o reformador em Zürich, conservou três festas marianas e a
recitação da Ave Maria durante o culto sagrado.
De modo geral, a Reforma protestante se insurgiu contra possíveis
exageros da devoção popular católica.
23
Curso de Mariologia
O concílio de Trento (1545-1563), que visou a responder ao
protestantismo, houve por bem afirmar a legitimidade do culto a Maria
(Denzinger-Schönmetzer, Enquirídio No 1821-1825) e declarou não Ter
a intenção de incluir a Virgem SS. No rol das criaturas afetadas pelo
pecado dos primeiros pais (ib 1516).
3- Quem fundou propriamente a Mariologia?
O teólogo Francisco Suarez S.J. (1617) foi o primeiro a elaborar um
tratado propriamente dito de Mariologia. Com efeito, em 1584-85
redigiu Quaestiones de Beata Maria Virgine quattuor et viginti in
Summa contractae (Vinte quatro questões compendiadas numa Súmula
sobre a Bem-aventurada Virgem Maria). Esta Súmula foi em 1592
inserida na obra Misteria Vitae Christe. Suarez estava convicto de que
devia superar o costume escolástico de reservar a Maria um espaço
pequeno, não condizente com a dignidade e função da Virgem SS. Na
obra da salvação humana; conseqüentemente compôs “ um tratado
inteiro e denso a respeito da Bem-aventurada Virgem”. Tal obra, assaz
clara e sólida, exerceu grande influxo sobre os pôsteres, de modo que
Suarez é considerado o fundador do moderno tratado de Mariologia.
Todavia o nome de Mariologia foi forjado pelo teólogo siciliano Plácido
Nigido, que publicou em 1602 Primeira parte de uma suma de Sagrda
Mariologia). Todavia a Mariologia ficou sendo parte integrante da
Teologia porque a reflexão sobre Maria SS. É toda elaborada em vista de
Jesus Cristo e da Maternidade Divina.
4 - Ponha em destaque um nome da bibliografia mariana nos séculos
XVI – XVIII.
No século XVIII destaca-se a obra clássica de S. Luís Maria Grignion de
Monfort (+1716). Era discípulo de Olier e deixou o Tratado da
verdadeira devoção à SS. Virgem, cujos manuscritos foram descoberto
em 1842 e publicados em 1843; o Santo explana amplamente a devoção
a Maria e propõe a “escravidão da devota a Maria”. Fundou duas
Congregações Religiosas: a das Irmãs da Sabedoria (destinadas a tratar
dos enfermos e instruir as crianças) e Companhia de Maria (para
evangelizar os pobres).
24
Curso de Mariologia
1- Como a piedade mariana influiu na espiritualidade de Congregações
Religiosas modernas?
Numerosas Congregações Religiosas foram fundadas nos últimos
séculos sob a invocação e a tutela da SS. Virgem. Enumeram-se de 700
Congregações femininas oriundas nos séculos XIX e XX portadoras de
um título mariano (Imaculada Conceição, Assunção Gloriosa, Coração
de Maria, Nome de Maria, Rosário...) É de notar que a teologia relativa a
Maria SS. Foi-se renovando e enriquecendo nos dois últimos séculos. *
Na Inglaterra.John Henruy Neuman (1801-90), feito Cardeal da S. Igreja
depois de convertido a partir do anglicanismo, propôs a consideração
de Maria sob a luz dos Padres da Igreja dos primeiros séculos; daí a
ênfase dada aos títulos de Theotókos, Nova Eva, Mãe dos viventes...
* M.J. Scheeben (+1888) escreveu uma Mariologia, inserida na
Cristologia como parte desta e inspirada pelos demais tratados
teológicos.
* J.B. Terrien em 1900 editou “A Mãe de Deus e dos homens” em quatro
volumes E. Campana é o autor de “Maria no dogma católico” (1927) e
Maria no culto católico.
Foram-se realizando Congressos Marianos (referentes à piedade) e
mariológicos em diversos países, a fim de aprofundar a doutrina e
fomentar publicações a respeito.
Seja registrada outrossim a Fundação da Legião de Maria em 1921, por
Frnk Duff (+1980), destinada ao apostolado e muito rica em frutos
espirituais.
• O Venerável Jean-Claude Ckolin fundou em 1836 a Sociedade de
Maria ou dos Padres Maristas. Recomendava viver da vida de Maria
de modo a pensar com Maria, julgar como Maria, sentir e agir em
tudo como Maria.
• O Pe. Guilherme José Chaminade (+1850) fundou o Instituto das
Filhas de Maria e a Sociedade de Maria. O fundador apregoava a
aliança com Maria ou a consagração a Maria para servir a Deus.
• O Cardial Charles Lavigerie, fundador da Sociedade dos Padre
Brancos (1868) e das irmãs Brancas, missionários na África, pôs as
suas Congregações sob a proteção de Maria Imaculada, Rainha da
África. A Virgem Maria é o modelo perfeito de uma vida espiritual
apostólica.
2- Que verdade de fé foi definida em 1854? Explique as circunstâncias,
o teor significado dessa definição.
Em 1854 registrou-se a definição da Imaculada Conceição de Maria,
antecipada pela visão de Catarina Labouré em 1830, quando a Virgem
SS. Declaro ser a Imaculada; donde a Jaculatória “O Maria concebida
25
Curso de Mariologia
sem pecado, rogai por nós, que recorremos a vós”. A definição do Papa
Pio IX foi confirmada pelas aparições de Lourdes, em que a Virgem SS.
Afirmou: “Eu sou a Imaculada Conceição”. Estava assim criado o clima
propício à definição da infalibilidade do Sumo Pontífice quando fala
ex cathedra de assuntos de fé e de moral, definição proferida pelo
Concílio de Vaticano I de 1870.
No século XIX a proclamação da Imaculada Conceição equivalia a
lembrar a ação da graça de Deus ou a gratuidade da salvação. A
transcendência ou o caráter sobrenatural do cristianismo se condensa e
concretiza em Maria, síntese de quanto o Amor de Deus quer dar ao
homem.
3- Faça o mesmo em relação à verdade de fé definida em 1950
Em 1950 Pio XII definiu a Assunção Corporal de Maria SS. Aos céus,
sem dirimir a questão da morte da Virgem SS.. Maria foi assim proposta
como modelo e referencial da Igreja; é para a glória de Maria SS. Que
tende toda a Igreja.
No século XX a Segunda guerra mundial (1939-45) conculcou a pessoa
humana nos campos de concentração, nos genocídios, na depravação
moral... Daí a conveniência de se afirmar solenemente a dignidade e o
destino transcendental do corpo humano proclamando-se a glorificação
do corpo de Maria SS. Tabernáculo da Divindade. Tal razão teológica
teve seu peso na definição da Assunção Corporal de Maria SS. Que já
era cultuada fervorosamente pelos fiéis católicos.
4- Queira dizer algo sobre o pontificado de Pio XII e a Mariologia.
Aos 11/10/1954 Pio XII publicou a encíclica Ad Caeli Reginam (à
Rainha do Céu), que continha as motivações históricas e teológicas do
título, e, finalmente, a 1o /11/1954, encerrando o Congresso
Internacional Mariológico-mariano, dedicado ao aprofundamento do
assunto, proclamou a festa litúrgica de Maria Rainha, a ser celebrada
anualmente aos 31/5; além disto, impôs de novo a coroa `imagem,
muito cara aos romanos, da Virgem Salus Populi Romani (Salvação do
Povo Romano).
Em 1958, celebrando o primeiro centenário das aparições de Lourdes,
Pio XII quis lembrar o sentido do fato: “ A uma sociedade que em sua
vida pública muitas vezes contesta os supremos direitos de Deus e que
deseja conquistar o mundo todo ao preço de sua alma (cf. Mc 8,36),
precipitando-se assim para a sua própria ruína, a Mãe Santíssima
lançou um grito de alarme.
Não se pode esquecer, de resto, que Pio XII consagrou o mundo inteiro
ao Coração Imaculado de Maria em 1942 (durante a Segunda guerra
26
Curso de Mariologia
mundial) e consagrou à mesma a Rússia em 1952. Como se vê, o
pontificado de Pio XII foi fortemente MARIANO.
27
Curso de Mariologia
de José”. A providência Divina quis que Maria fosse
verdadeiramente casada com José, homem justo, a fim de que seu lar
tivesse a tutela que o homem pode e deve dar a mãe e filho; quis
também que a maternidade virginal de Maria fosse ignorada pelo
público de sorte que o povo tinha Jesus na conta de filho de José.
2- De modo especial, a doutrina da virgindade de Maria no parto como
justifica?
• O texto de Jo 1,12s pode ser lido de duas maneiras. Tem prevalecido
ultimamente a seguinte forma: “A todos os que O receberam, deu o
poder de se tornarem filhos de Deus, aos que crêem em seu nome,
Ele (o Verbo) que não nasceu do sangue, nem da vontade da carne,
nem da vontade do homem mas nasceu de Deus”. Este texto parece
aludir ao nascimento virginal de Jesus.
• Cita-se também Lc 2,7: “Maria gerou seu filho primogênito,
envolveu-o em panos e deitou-o no presépio”. Estes dizeres
insinuam a ausência das dores e da prostração que costumam
acompanhar todo parto. A tradição, aliás, repetiu freqüentemente
que “Maria deu à luz sem dor”, intencionando assim professar a
maternidade virginal de Maria. Os cristãos, neste ponto, eram
herdeiros do modo de ver dos judeus; com efeito, segundo estes, um
dos sinais da era messiânica seria o parto isento de sofrimento. Eis,
por exemplo, o testemunho de apócrifo Apocalipse de Baruque
(contemporâneo dos escritos de S. João, fim do século I ou começo do
século II):Quando o Messias tiver dominado o mundo inteiro e reinar
para sempre em paz, diz o texto, então será inaugurada uma era de
felicidade perfeita sobre toda a terra; entre outras coisas, “as
mulheres já não sofrerão durante a gravidez e desaparecerá a dor
quando tiverem que dar à luz o fruto do seu seio”(73.1.7). O motivo
desta novidade é assinalado: “O tempo do Messias trará o fim do
desgaste e o começo da imortalidade” (74.2).
• Os rabinos pensavam do mesmo modo assim Rabino Abbahu
observa que atualmente a mulher dá à luz em meio a dores, mas que
no tempo do Messias se cumprirá o que está escrito: “antes de sentir
as dores do parto, ela deu à luz; antes de lhe sobrevirem às
contorções, ela pôs no mundo um menino (Is 66,7).Ver Gen Rabbah
14,9a 12,2.
3- Analise três das objeções que se fazem contra a maternidade virginal
de Maria.
28
Curso de Mariologia
a) Cerinto: Segundo o qual Jesus foi concebido e dado a luz como
resultado do comercio carnal de Maria e de José, segundo as leis
naturais.
b) Celso: Segundo o qual Jesus nasceu de Maria por adultério.
c) Petrone e Cornelio: Segundo os quais o Espírito Santo se tinha
servido de algum gérmen masculino de São José, e assim quedaria a
salvo, por uma parte, a paternidade de São José, e, por outra, a
concepção virginal de Maria.
Eu analiso que todo ser humano que em este tempo se pronuncie
contra a maternidade virginal de Maria SS. Está louco.
4- Que é que a maternidade virginal de Maria significa para a
espiritualidade cristã? Exponha suas impressões.
Deus onipotente, em tanto preservo a Maria do pecado original e a
colmo da plenitude da graça e adorno-a milagrosamente com a
virgindade corporal, em quanto queria que fora digna madre de Deus ;
por este motivo a preparo para que seja puríssima em sua mente e em
seu corpo.
Já desde agora ai que Ter muito em conta que a Virgem Maria no só foi
elegida por Deus para ser sua Mãe, sino também para ser MÃE DOS
HOMENS; mais, foi feita Mãe de Deus para que foro também Mãe dos
homens.
“Em vista dos méritos de seu Filho foi redimida de um modo mais
sublime e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, é dotada
com à missão sublime e a dignidade de ser Mãe do Filho de Deus, e por
isso filha predileta do Pai e sacrário do Espírito Santo, por este Dom de
graça exímia supera de muito todas as outras criaturas celestes e
terrestres. Mas ao mesmo tempo está unida, na estirpe de Adão, com
todos os homens a serem salvos. Mais ainda: “é verdadeira mente a
MÃE DOS MEMBROS DE CRISTO... porque cooperou pela caridade
para que na Igreja nascessem os fiéis que são os membros desta Cabeça.
(Constituição Dogmática “Lumen Gentium” Cap VIII No 53
29
Curso de Mariologia
sabedoria, e acrescentavam: Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de
Tiago, José, Judas e Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós? (cf. Mt.
13,55s).
As outras menções dos “irmãos de Jesus” encontram-se em Mc 3,31-35
(cf. Mt 12,46-50; Lc 8,19-21); Jo 2,12;7,2-10;At 1,14;Gl 1,19; 1Cor 9,5.
Lc 2,41-52: Jesus, aos doze anos, foi com José e Maria a Jerusalém,
permanecendo aí os sete dias da festa de Páscoa (ver Lc 2,43). Contando
os dias de viagem de ida e volta, a Sagrada Família deve Ter ficado
cerca de quinze dias fora de casa. Ora Maria não pode Ter deixado no
lar por tanto tempo filhos pequenos. Donde se conclui com muita
verossimilhança que aos doze anos Jesus era Filho único.
Digamos, porém a título de hipótese: depois dessa peregrinação Maria
gerou outros filhos... O mais velho desses irmãos de Jesus teria então,
no início da vida pública do Senhor, cerca de dezoito anos de idade
(Jesus começou sua pregação com trinta anos aproximadamente; cf. Lc
3,23). Ora o que os Evangelhos narram a respeito dos irmãos do Senhor,
não permite que se lhes atribua idade tão juvenil. Com efeito; a atitude
autoritária dos “irmãos” para com Jesus, descrita em Mc 3,21.31-35 e Jo
7,2-5, no Oriente não teria cabimento se esses irmãos fossem mais
jovens; sim, a mentalidade judaica exigia dos irmãos mais moços um
comportamento de reverencia para com o primogênito, como se deduz,
por exemplo, das palavras de Isque a Jacó: “ Sê o Senhor dos teus
irmãos; diante de ti se curvem os filhos de tua mãe!” (Gn 27,29). Os
homens autoritários que se dirigem a Jesus em Mc 3 e Jo 7, deviam ser
mais velhos do que o Senhor; por conseguinte, não eram filhos de
Maria.
Jo 19,26s: Jesus, ao morrer, confiou sua mãe a João, filho de Zebedeu,
membro de outra família. Este gesto do Senhor seria incompreensível
se Maria tivesse outros filhos em casa. Jesus é dito “filho de José
putativo ou suposto” em Lc 3.23; é dito “o filho de Maria” (com artigo)
em Mc 6,3. O evangelho nunca diz: “a mãe de Jesus e seus filhos”,
embora isto fosse muito natural se ela tivesse muitos filhos (ver Mc 3,31-
35; At 1,14). O Evangelho se refere sempre a “Maria e os irmãos de
Jesus”, embora isto torne o texto estilisticamente pesado.
2- Que significa a expressão “irmãos de Jesus”? Qual o parentesco desse
personagens com Jesus?
Há claros indícios de que os chamados “irmãos de Jesus” não eram
filhos da mãe de Jesus, pois Jesus foi filho único.
É de notar que a tradução grega do N.T. realizada em Alexandria
(Egito) entre 250 e 100 a.C. usa a palavra grega adelphós, irmão, embora
o grego possuísse vocábulos próprios para dizer primo e sobrinho. O
30
Curso de Mariologia
linguajar grego dos LXX, que conservava seu fundo semita, influiu
profundamente na linguagem dos escritores do Novo Testamento,
familiarizados como estavam com a tradução dos LXX.
Na base desta verificação não termos dificuldade de compreender que
“!os irmãos de Jesus” eram, na verdade, primos de Jesus.
Alguns textos do Evangelho nos fornecem pistas para identificar melhor
o parentesco dos “irmãos” de Jesus.
Em Mt 27,56 lemos: “Estavam ali (no Calvário), a observar de longe
Maria de Mágdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de
Zebedeu” Cf. Mc 15,40.
Essa Maria, mãe de Tiago de José, não é a esposa de São José, mas de
Cleofas, conforme Jo 19,25:
“Estavam junto à cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria
(esposa de Cleofas, e Maria de Mágdala”.
O mais antigo historiador da Igreja, Hegesipo (séc. II), refere que
Cleofas ou Alfeu era irmão de São José. Disto se segue que Cleofas e
Maria de Cleofas tiveram como filhos Tiago, José, Judas e Simão. Estes,
portanto, eram primos de Jesus, por descenderem de uma certa Maria
(talvez irmã de Maria SS.) casada com Cleofas, irmão de São José. Aos
30 anos, deixou sua Mãe para iniciar sua missão pública, os primos de
Jesus, movidos pelo forte senso de família dos orientais, se tornaram
solidários com Maria, acompanhando-a em suas saídas (a mulher
oriental não se apresentava sozinha em público). Isto explica que nos
Evangelhos Maria apareça freqüentemente em companhia dos “irmãos
de Jesus”, que não eram seus filhos.
3- Como entender o texto de Mt. 1,25?
Lemos em Mt 1,25: “ José não conheceu Maria (= não teve relações com
Maria) até que ela desse à luz um filho (Jesus)”. Significa isto que,
depois de Ter dado à luz a Jesus, Maria teve relações conjugais com
José? Não necessariamente. A expressão “até que” corresponde ao
grego heos hou e ao hebraico ad ki. Ora. Est partícula na Escritura
ocorre para designar apenas o que se deu (ou não se deu) no passado,
sem indicação do que havia de acontecer no futuro. Tenhamos em vista,
por exemplo:
Gn 8,7 O corvo que Noé soltou após o dilúvio, não voltou à arca “até
que as águas secassem”. Isto não quer dizer que após o dilúvio o corvo
tenha voltado à arca.
Cf. Sl 110,1; 2Sm 6,23; Gn28,15; Mt 28,20
Ainda hoje na vida cotidiana recorremos a modos de falar, quando
dizemos, por exemplo: “Tal homem morreu antes de Ter realizado os
seus planos” ou “antes de Ter pedido perdão”. Poderia alguém concluir
31
Curso de Mariologia
que, depois da morte, o defunto executou os seus desígnios ou pediu
perdão?. Este é o caso em que se faz referência ao passado, prescindindo
do futuro. Essa locução era freqüente entre os semitas e constitui, sem
dúvida, a base pressuposta do texto de Mt 1,25. Em conseqüência, a
tradução mais clara deste versículo seria: “Sem que ele (José) tivesse
tido relações com Maria, ela deu à luz um filho...”, Analogamente
diríamos, para explicar a frase atrás citada: “Tal homem morreu sem
Ter executado os seus desígnios”.
4- Como explicar a expressão “primogênito” em Lc 2,7?
Em Lc 2,7 está escrito: “Maria deu à luz o seu filho primogênito,
envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura.
O termo “primogênito” não significa que a Mãe de Jesus tenha tido
outros filhos após Ele. Em hebraico bekor, primogênito, podia designar
simplesmente “o bem-amado”, pois o primogênito é certamente aquele
dos filhos no qual durante certo tempo se concentra todo o amor dos
pais; além disto, o primogênito era pelos hebreus julgado alvo de
especial amor da parte de Deus, pois devia ser consagrado ao Senhor
desde os seus primeiros dias (cf. Lc 2,22; Ex 13,2; 34,19). A palavra
“primogênito” podia mesmo ser sinônima de “unigênito”, pois um e
outro vocábulo na mentalidade semita designam “o bem-amado”.
Tenhamos em vista, por exemplo, Zc 12,10s
“Derramei sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém um
espírito de graça e de oração e eles voltarão os seus olhos para mim.
Quanto àquele que transpassaram, chorá-lo-ão como se chora um filho
unigênito; chorá-lo-ão amargamente como se chora um primogênito”.
Mesmo fora da terra de Israel podia-se chamar “primogênito” o menino
que não tivesse irmão mais jovem; é o que atesta uma inscrição
sepulcral judaica datada do ano 5 a.C. e descoberta em Tel-el-
Yedouhieh (Egito) no ano de 1922: lê-se aí que uma jovem mulher
chamada Arsinoé morreu “nas dores do parto do seu filho
primogênito”. Notemos neste texto o modo de falar de Mt 1,25:
“Primogênito” vem a ser apenas o filho antes do qual no houve outro,
não necessariamente aquele após o qual houve outros.
32
Curso de Mariologia
• A identidade de Jesus: Sem dúvida, o Filho de Deus podia-se tornar
homem nascendo biologicamente de José e Maria. Contudo existia
grande conveniência de que nascesse sem o concurso do Varão. Com
efeito; o Filho de Deus se fez homem sem Ter pai na terra, pois já
tinha Pai no céu; como Deus, era Filho do Pai Eterno; como homem,
tornou-se Filho de Maria; Maria foi fecundada pela ação direta do
próprio Deus. A geração virginal foi o modo pelo qual o Pai quis
exprimir na carne humana a sua paternidade em relação a Jesus. Este
não é um mero homem como os outros homens, mas é Deus e
homem; por isto nasceu como nenhum homem nasceu.
• A irrupção do sobrenatural: “Sobrenatural” nada tem que ver com
“extraordinário” ou “milagroso”, mas é Dom de Deus (suave e
discreto) que está acima das exigências de qualquer criatura. Assim o
plano de salvação que Deus concebeu para o homem, tem um
objetivo sobrenatural : levar os homens à comunhão com a Vida de
Deus, fazendo-os filhos no Filho e habilitando-os à visão face-a-face
da Beleza infinita. Pois bem. A maternidade virginal de Maria
significa que não é o homem quem dá a si mesmo a salvação, nem ele
é capaz de a provocar. Como a Virgem não recebeu do Homem, mas
de Deus, o seu Filho, assim nós recebemos a salvação de Deus como
dádiva totalmente gratuita.
• O papel da mulher: A maternidade virginal de Maria põe em
evidência o papel da mulher na obra de salvação do gênero humano;
Jesus, em última análise, não está ligado a este senão por meio de
Maria. Esta prerrogativa da mulher não se realizou apenas no plano
fisiológico. Com efeito; Maria disse o seu Sim antes de conceber o
Filho (cf. Lc 1,38). Este Sim foi dito em nome de todo o gênero
humano; assim uma mulher tornou-se a representante de toda a
humanidade no diálogo decisivo do Criador com a criatura.
Concedendo tão valiosa função à mulher, o Senhor Deus quis abrir o
caminho à exaltação da mulher e mostrar a importância que Ele
atribuiria a esta na Igreja.
2- O dogma da virgindade de Maria implica menosprezo da vida
conjugal?
A maternidade virginal de Maria, vivida no casamento com S. José,
significa que a virgindade não empobrece o coração e os afetos
humanos; Maria desenvolveu autêntico amor de esposa para com José.
Mais amplamente podemos dizer: a mais íntima adesão a Deus não
sufoca o amor legítimo da criatura para com as criaturas. De resto, a
presença de Maria nas bodas de Caná e a sua intervenção para obter o
vinho necessário à continuação da festa de núpcias confirmam a
33
Curso de Mariologia
orientação positiva da virgindade em relação ao matrimônio. A atuação
de Maria em Caná é sinal de que à virgindade toca a missão de
sustentar o matrimônio e obter-lhe a graça do autêntico amor.
Em conclusão, vê-se que a virgindade de Maria não significa desprezo
da sexualidade. Ela se prende mais à identidade do Salvador do que à
de Maria, pois põe em relevo a filiação divina de Jesus. Na verdade, ela
pertence ao âmago da mensagem cristã.
3- Que sentido tem a vida virginal ou celibatária para cristão?
O propósito de virgindade, ou seja, o desejo de entregar-se
integralmente a virgindade a Deus são propostos a todo discípulo de
Cristo. A perfeição da caridade, pelo Reino dos céus, vida consagrada
totalmente a Deus e aos homens. E sinal de nova vida a serviço da
Igreja.
4- Ponha em relevo duas afirmações do texto do Catecismo protestante
acima citado. E comente-as.
È apresentada (Maria) como aquela que ouviu de maneira exemplar
a palavra de Deus: A Anunciação a Maria inaugura a “plenitude dos
tempos” isto é, o cumprimento das promessas e das preparações.
Maria é convidada a conceber aquele que habitará “corporalmente a
plenitude da divindade”. A resposta divina à sua pergunta “como
se fará isto, se não conheço homem algum? É dada pelo poder do
Espírito:”O Espírito Santo virá sobre ti” (Lc 1,35).
É a Mãe de nosso Senhor: Denominada nos Evangelhos “a Mãe de
Jesus” (Jo 2,1;19,25), Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito,
desde antes do nascimento do seu Filho, como “a Mãe do meu
Senhor” (Lc 1,43). Com efeito Aquele que ela concebeu do Espírito
Santo como homem e que tornou verdadeiramente seu Filho
segundo a carne, não é outro que o Filho eterno do Pai, a Segunda
Pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é
verdadeiramente Mãe de Deus (Theotókos).
5- Indique duas frases que você tenha achado interessante nas
declarações dos Reformadores protestantes.
Em seu comentário sobre o Magnificat (Lc 1,46-55), escreve: “ó bem-
aventurada Mãe, Virgem digníssima, recorda-te de nós e obtém que
também em nós o Senhor faça essas grandes coisas. (Martinho
Lutero).
A propósito de Is 7,14 : “O profeta teria feitio coisas muito fria e
insípida se, depois de anunciar algo de novo e insólito entre os
judeus, acrescentasse: uma jovem conceberá é assaz claro, portanto,
que ele fala da Virgem, que havia de conceber não conforme as leis
34
Curso de Mariologia
ordinárias da natureza, mas por graça do Espírito Santo” (João
Calvino 36,156s)
PARTE III: APROFUNDAMENTO TEOLÓGICO
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Curso de Mariologia
tipo racional. Com efeito, a concepção virginal de Cristo é uma
verdade revelada por Deus, que o homem acolhe em virtude da
obediência da fé (cf. Rm 16,26). Só quem está disposto a crer que
Deus age na realidade intramundana e que a Ele “nada é impossível”
(Lc 1,37), pode acolher com devota gratidão as verdades da
“kénosis” do Filho eterno de Deus e da sua concepção-nascimento
virginal do valor salvífico universal da sua morte na cruz e da
ressurreição verdadeira, no próprio corpo, d´Aquele que foi
suspenso e morreu no madeiro da cruz.
3- A virgindade de Maria implica depreciação do estado conjugal?
A exatidão na exposição da doutrina exige que sejam evitadas posições
unilaterais, exagerações ou distorções. Por exemplo, a afirmação da
virgindade de Maria deve ser feita de modo que em nada, direta ou
indiretamente, apareçam diminuídos o valor e dignidade do
matrimônio, querido por Deus, por Ele abençoado, sacramento que
configura ao cristão a Cristo, via de perfeição e de santidade, nem se
banalize a mensagem que dela deriva, relegando-a a um aspecto
marginal do cristianismo.
4- Qual o significado religioso da vida una ou indivisa? Ver 1Cor 7,25-
35.
A virgindade ou a vida una e indivisa, hoje em dia pouco estimada e
praticada, vem a ser penhor de liberdade interior, de olhar perspicaz
sobre os valores transcendentais e de radical vivência a serviço do
Reino de Deus. Por isto fica sendo, em nossos dias mesmos, um ideal ao
qual podem e devem aspirar aqueles(as) a quem Deus concede tal
graça.
A virgindade é Dom e graça. Ela é um bem da Igreja, do qual
participam também aqueles – sem dúvida a maior parte -, que não são
chamados a vivê-la na própria carne, mas embora sempre no próprio
coração.
“A castidade há de distinguir as pessoas de acordo com seus diferentes
estados de vida: umas na virgindade ou no celibato consagrado,
maneira eminente de se dedicar mais facilmente a Deus com um
coração indiviso; outras, da maneira como a lei moral determina,
conforme forem casados ou celibatários”. As pessoas casadas são
convidadas a viver a castidade conjugal; os outros praticam a castidade
na continência.
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Curso de Mariologia
PARTE III: APROFUNDAMENTO TEOLÓGICO
38
Curso de Mariologia
espermatozóide? Ou após certo intervalo (quarenta dias para os
meninos, oitenta dias para as meninas)? – Prevalecia na Antigüidade
e na Idade Média esta Segunda teoria; em conseqüência, perguntava-
se: como falar da conceição imaculada de Maria? Quem não tem
alma humana (antes do 40º ou do 80º dia) não é sujeito de pecado e,
por isto, não se pode dizer que foi preservado do pecado original em
sua conceição.
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Curso de Mariologia
PARTE III: APROFUNDAMENTO TEOLÓGICO
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Curso de Mariologia
por sua maternidade virginal e também vencedora da morte por sua
imediata ressurreição a semelhança de seu Filho.
• Maria não foi isenta de dores, de cansaço; se Jesus mesmo não quis
ser isento destas, Maria também não o foi.
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Curso de Mariologia
6- Qual o significado da Imaculada Conceição para o nosso conceito de
Historia?
A graça recebida por Maria sem mérito próprio da Virgem SS. Nos diz
que toda a história da humanidade está sob o signo não da desgraça e
da condenação, mas da misericórdia, mais forte do que o pecado. Se
nós caímos sob o domínio do pecado por fragilidade nossa, não estamos
sujeitos, sem remédio, a tal domínio. Somos as criaturas que Deus desde
todo sempre ama, e que Ele procurou recuperar na plenitude dos
tempos, antes mesmo que alguém o pudesse merecer. O cristão é,
portanto, otimista e esperançoso quanto ao sentido da história. Verdade
é que Maria foi preservado do pecado, ao passo que nós fomos
perdoados (ou recebemos o perdão). Todavia, no fundo, trata-se da
mesma graça divina: é a Redenção realizada por Cristo. Quando
pedimos no Pai-Nosso:”Não nos deixeis cair em tentação”, rogamos que
Ele nos preserve como preservou Maria.
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Curso de Mariologia
sepultada...Conservou absoluto silêncio por causa da grandeza do
prodígio, a fim de não deixar assombrados os espíritos dos homens.
Quanto mim , não ouso falar disso. Conservo a questão em minha
mente e me calo. (Panarion, Haer. 78,nm 10s). A seguir, Epifânio
examina a hipótese do martírio cruento de Maria SS. (já que Simeão
predissera que uma espada lhe transpassaria o coração, conforme Lc
2,55); considera também a elevação gloriosa de Maria aos céus
conforme Ap 12,1.14 e conclui: É possível que isto se tenha realizado em
Maria. Mas não o afirmo de modo absoluto, nem digo que ela permaneceu
isenta da morte. Com efeito, a S. Escritura se colocou acima do espírito dos
homens e deixou este ponto na incerteza por reverência a essa Virgem
incomparável, a fim de evitar qualquer conjetura baixa e carnal a respeito de
Maria. Morreu? Não o sabemos.
♦ Cita-se também como obra do século IV um sermão de Timóteo,
presbítero de Jerusalém, que cita uma tradição referente à
imortalidade de Maria: “ uma espada transpassará a tua alma!...
Destas palavras muitos concluíram que a Mãe do Senhor, morta pela
espada, obteve o fim glorioso que é o martírio. Mas não foi assim. A
espada metálica divide o corpo e não a alma. Nem era possível que
tal acontecesse, porque a Virgem, imortal até hoje, foi transladada a
partir do lugar de sua ascensão por Aquele que nele fez a sua
morada” (Homilia sobre Simeão e Ana).
Como se vê, existia nos primeiros séculos a tendência a crer que Maria
não morreu. Após o Concílio de Éfeso (431), que proclamou
solenemente a Maternidade Divina, foi aflorando no povo cristão a
noção de que Maria não esteve sujeita à deterioração que a morte
inflige ao comum dos mortais, portadores de pecado.
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Curso de Mariologia
vinhedos. O corpo de Maria estaria conservado intato, à espera da
ressurreição dos mortos.
Os sírios jacobitas celebram a 15 de agosto a morte de Maria, como a
dos Santos se falar de ressurreição ou de conservação do corpo da
Virgem SS.
No Ocidente, a partir do século VII celebrava-se em Roma a festa da
Dormição de Maria, patrocinada pelo Papa S. Sérgio (687-701). De
Roma, a festa passou para a França e a Inglaterra no século seguinte,
tomando o nome de “Assunção de Santa Maria”; este título sugeria a
ressurreição imediata da Virgem Santíssima e a sua glorificação na
bem-aventurança celeste. Digno de nota é o Liber de Assumptione
Beatae Mariae Virginis, falsamente atribuído a S. Agostinho: censura
as hesitações de seus contemporâneos no tocante à Assunção da SS.
Virgem (século IX ao X); afirmava que, embora a glorificação celeste
de Maria não esteja explicitamente nas Escrituras, é uma verdade que
fé, esclarecida pela razão, pode atingir. Segundo o autor, Maria
morreu, mas após a morte seu corpo não sofreu deterioração no
sepulcro, porque : 1) era um corpo virginal 2) possuía a mesma carne
que o Filho de Maria e, por isto, devia ser honrado por esse Filho,
Ele, que como Deus, mandava que os filhos louvassem seus
genitores. Foi esta obra do Pseudo Agostinho que influiu
decisivamente na teologia medieval latina, tornando a doutrina da
Assunção geralmente aceita (S. Tomás julgava que o autor do livro
era realmente S. Agostinho).
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Curso de Mariologia
5- Como os antigos e medievais resolviam a questão da morte ou da
isenção de morte de Maria?
No Ocidente os grandes doutores medievais professaram a morte e a
ressurreição de Maria como prelúdio de sua exaltação corporal.
Enquanto não se tinha clara noção da Imaculada Conceição, os autores
latinos afirmavam que Maria morreu. Eis palavras de S. Tomás de
Aquino:
“A carne da virgem foi concebida em pecado original e, por isto,
contraiu tais deficiências”.
No século XVI, Lutero e os protestantes em geral, professando seguir a
penas a S. Escritura, negaram a Assunção de Maria. Todavia a teologia
católica respondeu-lhes decididamente, de sorte que no povo católico
não somente a fé não se abalou, mas se fortaleceu.
PERGUNTAS
4- Cite dois textos bíblicos apresentados por Pio XII para justificar a
definição da Assunção.
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Curso de Mariologia
a) Lc 1,28: Maria é Kecharitoméne, cheia de graça. Ora a glorificação
corporal de Maria, superando o poder da morte, é o coroamento da
plenitude de graça a pregoada pelo anjo Gabriel.
b) Ap 12,1: “Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida
como o sol, tendo a Lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de
doze estrelas”. A mulher revestida de sol significa o povo de Deus
que gera o Messias e que tem a promessa da glória eterna; nesse
povo Maria brilha como figura primacial que dá à luz o Messias e é
gloriosa por graça de Deus.
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Curso de Mariologia
6- Mostre como a Assunção de Maria se relaciona coma vida da Igreja
peregrina.
Com relação à Igreja, Maria exaltada na glória celeste é protótipo; ela
representa desde já aquilo que tocará a cada cristão na consumação da
história; ela é em plenitude aquilo que esperamos ser um dia dentro dos
limites da nossa pobreza; ela desperta e aviva em nós a esperança, pois
põe em relevo nítido o que é seguir o Cristo passo a passo na terra até
provar o cálice da morte com Ele. É o Concílio do Vaticano II que nos
diz:
“A Mãe de Jesus, tal como está nos céus, já glorificada de corpo e alma,
é a imagem e o começo da Igreja como deverá ser consumada no tempo
futuro. Assim também brilha aqui na terra como sinal da esperança
segura e do conforto para o povo de Deus em peregrinação até que
chegue o Dia do Senhor”
PARTE III: APROFUNDAMENTO TEOLÓGICO
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Curso de Mariologia
II). Não têm valor as palavras de Caím, que perguntava se era guarda
do seu irmão, como quem se isenta de responsabilidade (cf. Gn 4,9).
Essa mediação, longe de negar ou diminuir a intervenção singular do
Filho de Deus, põe-na em evidência; é por efeito da mediação sacerdotal
e única de Cristo que o cristão pode fazer algo em prol do seu irmão. O
Senhor exerce sua mediação servindo-se daqueles que Ele livremente
quer associar à sua obra em favor dos homens.
3- Como Maria pode ser tida como Medianeira?
A função de intercessora, que cabe a todo cristão em prol dos seus
irmãos, toca Maria de modo especial, pois ela ocupa um lugar único na
Comunhão dos Santos; é a Mãe do Redentor e, por extensão, Mãe de
toda a humanidade, que Jesus lhe confiou pouco antes de morrer; cf. Jo
19,25-27. Como toda mãe na família desempenha uma função peculiar
Maria a desempenha na Igreja. O fundamento dessa função é a relação
de Maria com Jesus, relação que não se limita ao indivíduo Jesus Cristo
(pois este nunca existiu senão em função da humanidade pecadora),
mas de estende ao Cristo total (cabeça e membros do Corpo Místico,
Redentor remidos, Cristo e Igreja). É o Concílio Vaticano II que diz:
“um só é o nosso Mediador segundo as palavras do Apóstolo: Porque há
um só Deus, também há um só Mediador entre Deus e os homens, o homem
Cristo Jesus, que se entregou para a redenção de todos (1 Tm 2,5s). Todavia a
materna missão de Maria em favor dos homens de modo nenhum
obscurece ou diminui a mediação única de Cristo, mas até manifesta a
sua eficácia. Com efeito; todo o salutar influxo da Bem-aventurada
Virgem em favor dos homens... origina-se do divino beneplácito.
Decorre dos superabundantes méritos de Cristo, repousa na mediação
de Cristo; dela depende inteiramente e de tira a sua força. De modo
nenhum impede mas até favorece, a união imediata dos fiéis com
Cristo”.
Com outras palavras ainda: se durante a sua vida mortal Maria teve
como missão cuidar de Jesus, guiá-lo e orientá-lo, atualmente este
cuidado se volta, de maneira própria ao seu estado glorificado, em favor
do resto do Cristo total ou em favor dos membros do Corpo Místico de
Cristo que ainda peregrinam na terra. Por isto a Igreja a interpela como
intercessora ou como Maternidade orante e a contempla como a
imagem da consumação que esperamos alcançar.
4- Como o magistério da Igreja no século XX se posicionou diante da
teologia da Mediação universal de Maria?
Todavia o Concílio do Vaticano II não quis tomar posição, pois a
doutrina ainda apresentava pontos obscuros; ademais os padres
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Curso de Mariologia
conciliares e seus teólogos viam claramente que tanto o título de
“Medianeira de todas as graças” quanto o de “Co-redentora” eram
ambíguos e podiam suscitar mal-entendidos entre os fiéis católicos,
assim como distanciamento dos protestantes, que o Concílio queria
aproximar da Igreja Católica. A piedade mariana na primeira metade do
século XX tendia a exageros ou a afirmações pouco fundamentadas na
Escritura Sagrada e na Tradição.
Por ocasião da redação do capítulo VIII da Constituição Lumen
Gentium, referente a Maria, um dos pontos mais discutidos foi
precisamente o título de “Medianeira”. O Concílio, que não tencionava
definir proposições dogmáticas, acabou por não se pronunciar a
respeito de tal expressão. Serviu-se de expressões claras e já aceitas para
indicar o papel de Maria na Igreja: “maternidade espiritual, missão
maternal, intercessão”...
A teologia hoje recusa o uso do termo Medianeira (não porque seja
errôneo, mas porque passível de má interpretação), embora reconheça
que Maria foi associada à obra cooperadora da Redenção.
5- A função de Maria empalidece o papel de Cristo Salvador?
A Bem-aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de
Advogada, Auxiliadora, Protetora, Medianeira. Isto, porém, se entende
de tal modo que nada derrogue, nada acrescente à dignidade e eficácia
de Cristo, o único Mediador.
Com efeito; nenhuma criatura jamais pode ser colocada no mesmo
plano com o Verbo Encarnado e Redentor. Mas, como o sacerdócio de
Cristo é participado de vários modos seja pelos ministros, seja pelo
povo fiel, e como a indivisa bondade de Deus é realmente difundia nas
criaturas de maneiras diversas, assim também a única mediação do
Redentor não exclui, mas suscita nas criaturas uma variegada
cooperação, que participa de uma única fonte.
É de notar, neste texto, a afirmação de que “nenhuma criatura jamais
pode ser colocada no plano do Verbo Encarnado”. A função materna e
intercessora de Maria, portanto, não decorre de alguma insuficiência da
obra salvífica de Cristo, nem é algo de necessário por causa de alguma
pretensa limitação dos méritos de Cristo. Mas depende unicamente do
beneplácito do Senhor Deus, que quer elevar sua Mãe à qualidade de
especial mediadora (como de resto, em grau inferior são mediadoras as
outras criaturas por efeito do beneplácito divino).
PARTE III: APROFUNDAMENTO TEOLÓGICO
PERGUNTAS
1- Como entender que Maria tenha sido associada a seu Filho na
Redenção do mundo?
A Maternidade de Maria em relação a Jesus Redentor não foi
meramente biológica. Maria não foi mera espectadora da obra de
salvação do mundo, mas prestou a esta uma cooperação ativa.
Em relação a seu Filho viandante na terra, Maria exerceu uma
colaboração ativa, não no sentido de haver concorrido diretamente
para obter-nos as graças da Redenção, como se fosse um segundo
princípio redentor ao lado de seu Filho, compartilhando com Ele a
salvação do mundo. Esta modalidade é excluída, para que fique
muito claro que só há um Redentor e Salvador; Maria é criatura
remida por Cristo. Mas, se Maria recebeu a missão de Mãe, coube-lhe
a função ativa em relação ao Filho peregrino entre os homens.
Maria coopera atualmente, após a sua glorificação celeste, para a
aplicação dos frutos da Redenção aos homens na qualidade de
intercessora materna. Maria foi remida de modo excepcionalmente
fecundo não em proveito dela mesma apenas, mas a fim de
desempenhar uma função própria na aplicação da salvação.
Toda a cooperação de Maria é subordinada a Cristo. Maria só tem
valor no plano do Pai por causa de Cristo. Nunca a veneraríamos se
não fosse em vista de Cristo; só conhecemos Maria através de Cristo.
Por isto pode-se formular a autêntica piedade mariana nos seguintes
termos: “o cristão deve procurar ser, para Maria, um outro Jesus”.
Isto quer dizer: o objetivo primeiro do cristão é configurar-se a
Cristo, o Primogênito entre muitos irmãos, como diz S. Paulo em Rm
8,29. Todavia, quanto mais o cristão se configura a Cristo, tanto mais
ele se deve saber filho de Maria, devotado a Maria como filho, à
semelhança do Irmão mais velho, que era todo Filho do Pai (como
Deus) e Filho de Maria (como homem). Com outras palavras: o
cristão chega a Maria através de Jesus e em função de Jesus; para o
cristão nada é anterior a Cristo. Estes dizeres, se de um lado relegam
a devoção a Maria para um plano subordinado a Cristo, de outro
lado, mostram que é, de certo modo, obrigatória; não é uma devoção
entre outras, a critério do fiel, mas é a Grande Devoção, que decorre
necessariamente do ser configurado a Cristo, que é o ser de todo
cristão.
2- Que dizer do título “Co-Redentora”? Pode ser aplicada a Maria?
No século X aproximadamente entrou em uso o termo Redemptrix
(Redentora) aplicado a Maria SS.. O vocábulo era impreciso e ambíguo.
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Curso de Mariologia
Por isto a partir do século XV (a quanto parece) os teólogos preferiram
dizer “Co-Redentora”, título este que se foi propagando, embora tenha
provocado hesitação e contestação da parte de bons autores,
principalmente nos últimos tempos.
Nenhum documento de índole magisterial na Igreja usou a palavra Co-
Redentora até nossos dias. Ela aparece, porém, em textos de
importância subalterna, provavelmente por influxo de determinadas
correntes teológicas.
O Papa Pio XI usou tal título na oração de encerramento do ano da
Redenção em 1933, assim como em três discursos dirigidos a grupos
deferentes nos anos de 1933, 1934 e 1935.
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Curso de Mariologia
As muitas minúcias (quanto a datas, local, duração e tipo dos
fenômenos preditos) merecem reservas, pois não são habituais na
linguagem da Escritura Sagrada. O senhor Jesus mesmo recusou-se
mais de uma vez, a revelar a data da sua Segunda vinda e do fim dos
tempos; cf. Mc 13,32; At 1,7.
Procura-se, antes do mais, as explicações ordinárias ou naturais
(físicas, Psicológicas ou parapsicológicas).
É preciso levar em conta a fragilidade humana, sujeita a engano,
alucinações, sugestões coletivas.. Um senso crítico, que deve começar
por investigar aquilo de que realmente se trata, para depois procurar
a explicação adequada.
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Curso de Mariologia
sabe que muitas vezes os fiéis, com toda a boa fé, podem imaginar
estar vendo e ouvindo o que não passa de projeções de sua fantasia.
A Igreja, de um lado, se sente responsável pela conservação incólume
da doutrina da fé, de acordo com o mandato de Jesus Cristo (cf. Mt
16,16-19; Lc 22,31s; Mt 28,18-20).
O extraordinário deve ficar sendo sempre extraordinário. Não é a via
normal pela qual Deus guia os seus filhos; o normal é a via da fé..., fé
que se distingue de crendice, pois a fé supõe credenciais ou motivos
para crer; a fé não diz Sim a qualquer noticia de portento, mas
pergunta: por que deveria eu crer? Qual a autoridade de quem me
transmite a notícia? Em que se baseia? como fala?.
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Curso de Mariologia
uma mulher de cabelo crespo, provavelmente uma negra, serviçal do
Bispo; um varão, uma mulher e umas crianças com a cabeça meio-
raspada e mais outros Religiosos vestidos com hábito franciscano, isto
é... o mesmo episódio relatado em náhualt por um escritor indígena na
primeira metade do século XVI.
3- Indique os traços principais do caráter de Juan Diego?
• Juan Diego situa-se entre os mais humildes e modestos de quantos
foram considerados dignos do título de “santo”.
• A única nobreza que Juan possuía, foi a natural nobreza de alma.
• Juan levou uma vida tranqüila, como sempre fora a sua, e gastava o
tempo a rezar.
• Chamado o peregrino, porque andava sempre só e respirava a
mesma piedade e recolhimento que um religioso.
• Juan passava longas horas diariamente em oração e contemplação,
com o quê se lhe desenvolveram as potências da alma, iluminadas
por Deus.
• O caráter de Juan, por sua vez, era o de um homem honesto e devoto.
Recebia a Comunhão, com licença do bispo, três vezes na semana
• Era um homem obediente, , com inteligência natural indígena,
corajoso, serviçal, persistente, um verdadeiro convertido ao
cristianismo, e um homem com muita fé.
4- Por que o arcebispo, a princípio, não deu crédito a Juan Diego?
Disse que não podia proceder unicamente na base da narração de Juan
Diego e que era necessário receber um sinal para crer que a mensagem
vinha de Nossa Senhora. Perguntou-lhe então Juan Diego: Monsenhor,
que tipo de sinal pedis? Eu irei e o pedirei à Dama do Céu que me
envia.
Quando o bispo pede credenciais, a Juan Diego de parte de Nossa
Senhora ELA envia-lhe um ramo de rosas e a sua fotografia. Como
Maria gosta de rosas! Naturalmente, ela vai procurar o que há de mais
belo e fala com a linguagem dos que amam.
5- Por que Nossa Senhora terá aparecido a Juan Diego? Pense na
história posterior e atual do México.
Nossa Senhora apareceu a Juan Diego, e a aparição da Virgem a Juan
Diego pôde provocar um fato único na Historia, da conversão de todo
um povo e um continente. Supôs uma mudança no trato dos espanhóis
com os índios, ato que prejudicava seus interesses e a exploração
abusiva do povo indígena. Também provocou o vínculo de união mais
poderosa entre espanhóis e indígenas e na atualidade constitui o
vinculo de união mais importante entre os mexicanos.
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Curso de Mariologia
Maria apareceu a Juan Diego porque Ela quis afirmar a sua presença no
novo mundo desde o seu batismo como cristão, desde a sua introdução
à civilização cristã. Ela foi, na verdade, a Madrinha, a Fada-Madriha do
novo continente. Rainha e Mãe. Como tal quis se apresentar ao
hemisfério bravio que nascia para o Cristianismo, no início do século
XVI. Apressou-se em ser rainha, para assegurar o reinado do seu Filho
nessas paragens ignotas. Apressou-se em mostrar-se mãe, para que no
seu regaço se facilitasse o plano divino de Reunir sob a chefia de Cristo
todas as coisas. Ela se apresenta também como o nosso Modelo.
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Curso de Mariologia
3- A declaração do Sr. Bispo de Tarbes em 1862 impõe-se à fé de todos
os católicos? Pode alguém não crer nas aparições de Lourdes?
A declaração do Sr. Bispo de Tarbes em 1862 NÃO se impõe à fé de
todos os católicos. Os católicos não estão obrigados a crer nas aparições
de Lourdes pois não são artigos de fé.
Verifica-se que, enquanto a Santa Sé não se pronuncia em contrário,
fica a critério de cada fiel optar pelo Sim ou pelo Não diante de um
fenômeno maravilhoso. Não há por que acusarem uns aos outros de
credulidade vã ou de incredulidade. Seja respeitada a liberdade de
opção de cada um.
61
Curso de Mariologia
Este princípio exclui os méritos do homem. Ora Maria é a criatura que,
por sua incondicional fidelidade ao Senhor, se torna a benemérita por
excelência. Este modo de falar católico “escandaliza” os protestantes.
5- Será incompatível a Mariologia com a fidelidade à Palavra de Deus?
Não é incompatível.
Este axioma exclui a Tradição oral, que é anterior à Escritura e a berçou.
Ora é pela Tradição oral que conhecemos a Imaculada Conceição e a
Assunção gloriosa de Maria, assim como a sua perpétua virgindade.
PARTE IV: A PIEDADE MARIANA
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Curso de Mariologia
No fim do séc. X havia-se implantado entre os fiéis o costume de rezar a
oração do Senhor, o “Pai-nosso”, certo número de vezes consecutivas.
Tal praxe teve origem provavelmente nos mosteiros, onde muitos
cristãos professavam a vida monástica, sem porém, possuir grande
capacidade para o estudo; não estavam, por conseguinte, habituados a
seguir a oração comum e oficial da Igreja, que compreendia a recitação
dos salmos. Em conseqüência, para esses irmãos ditos “conversos” ou
“leigos”, os Superiores religiosos estipularam a recitação de certo
número de “pai-nosso” em substituição do Ofício Divino celebrado
solenemente no coro.
Também chamado “Saltério da Virgem Santíssima”, pois imitava as
séries de 150, 100 ou 50 Pai-Nosso, que faziam as vezes de saltério dos
irmãos conversos nos mosteiros. Assim se vê que os “Paternoster” e
posteriormente os “rosários” entraram na vida de piedade dos fiéis à
guisa de Breviário dos leigos, como o fito de entreter nos fiéis a estima
para com os salmos e a oração oficial da Igreja; o Rosário tem assim o
seu cunho de mentalidade e de inspiração bíblicas.
3- Como se formou a Ave-Maria, hoje usual entre os católicos?
Desenvolvia-se entre os fiéis um importante exercício de piedade, ou
seja, o costume de saudar em tom filial e alegre a Virgem Santíssima;
fazendo isto, os fiéis intencionavam evocar principalmente as alegrias
de Maria aqui na terra, em particular a alegria da Anunciação. Com este
fim, repetiam a saudação do anjo a Maria (“Ave, cheia de graça...Lc
1,28) acompanhada das palavras de Elizabete (“ bendita és tu entre as
mulheres, e bendito é o fruto de tuas entranhas”; Lc 1,42). A invocação
subseqüente “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós...” ainda não
estava em uso na Idade Média.
A princípio a Ave-Maria constava apenas das palavras do anjo Gabriel e
de Isabel (cf. Lc 1,28 e 42). Na Segunda metade do século XIII, talvez por
ordem do Papa Urbano IV, acrescentaram-se as palavras: restantes.
4- Qual o papel de S. Domingos de Gusmão na difusão do Rosário?
Está difundida uma narrativa que visa a explicar a origem do Rosário
em termos diferentes; haveria sido diretamente entregue, em visão, pela
Virgem Santíssima a S. Domingos quando este no séc. XII, em sua árdua
missão contra a heresia albigense, pedia o auxilio da Mãe de Deus, no
mosteiro de Prouille (onde S. Domingo instituira um centro de pregação
e o primeiro cenóbio dominicano feminino).
O primeiro a mencionar a aparição da Ssma Virgem a S. Domingo é o
religioso dominicano Alano da Rocha (1475), o qual, após referir a visão,
celebra S. Domingos como restaurador e arauto da prece do Rosário,
63
Curso de Mariologia
prece já usual nos tempos dos Apóstolos! O testemunho desse autor,
além de tardio, é por si pouco fidedigno; Alano julgava Ter sido ele
mesmo agraciado por visões que lhe haveriam mostrado toda a vida de
S. Domingos.
Papel de relevo na orientação geral da prática do Rosário coube, sem
dúvida, à benemérita Ordem de S. Domingos, à qual foi sempre muito
caro esse exercício de piedade: através de Irmandades do Rosário, assim
como por meio de pregações, escritos, devocionários etc.
5- Quando se formou definitivamente o Rosário hoje existente?
Foi finalmente um Papa dominicano, São Pio V (1566-1572), quem deu
ao Rosário a sua forma atual, determinando tanto o número de “Pai-
nosso” e “Ave-Maria” como o teor dos mistérios que o devem integrar.
O Santo Pontífice atribuiu à eficácia dessa prece a vitória naval de
Lepanto, que aos 7 de outubro de 1571 salvou de grande perigo a
Cristandade ocidental; em conseqüência, introduziu no calendário
litúrgico da Ordem da S. Domingos a festa do Rosário sob o nome de
festa “de Nossa Senhora da Vitória”. A solenidade foi, em 1716,
estendida à Igreja universal, tomando mais tarde o nome de festa “de
Nossa Senhora do Rosário”. A devoção foi de então por diante mais e
mais favorecida pelos Pontífices Romanos, merecendo especial relevo o
Papa Leão XIII, que determinou fosse o mês inteiro de outubro
dedicado, em todas as paróquias, à recitação do Rosário.
6- Como se deve rezar o Rosário?
Rosário há de ser tido como expressão característica da natureza
humana colocada na presença de Deus.
A palavra rosário significa “coroa de rosas”. O rosário é um modo
piedosíssimo de oração e prece a Deus, modo fácil ao alcance de
todos, que consiste em louvar a santíssima Virgem repetindo a
saudação angélica por 150 vezes.
Todos os Papas recomendam oficialmente a recitação do rosário. O
rosário era formado por 15 mistérios, divididos em três partes,
chamadas “terços”. Como o rosário é muito longo, a maioria dos fiéis
reza a cada dia apenas um “terço”. Cada bloco do rosário(ou terço) é
composto cinco mistérios. Com a mudança anunciada dia 16 de
outubro, pelo Santo Padre João Paulo II, o rosário passa a Ter 20
mistério, ou seja, acrescenta-se uma Quarta parte à estrutura.
Para recitar o rosário: 1)Reza-se o Credo; 2) Segue-se com Glória ao
Pai, três Ave-Maria e o Pai-Nosso; 3) Inicia-se a recitação dos
mistérios. Cada mistério é antecedido por um Pai-Nosso e
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Curso de Mariologia
acompanhado por uma meditação própria, 10 Ave-Maria, um glória
ao Pai e uma jaculatória.
7- Que dizer a quem julga que o Rosário repete inutilmente as mesmas
palavras?
O Rosário tem provocado reservas e objeções baseadas na índole
aparentemente mecânica desse tipo de oração: muitos o têm na conta de
exercício fadado ao automatismo e à rotina, apto a esterilizar a vida de
união com Deus mais do que a estimulá-la.
Não obstante, verifica-se que tanto os Santos como grandes sábios
cristãos muito estimaram o Rosário.
Não se pode formular um juízo adequado sobre tal prática, caso se
levasse em conta apenas a sua face externa. A repetição de preces vocais
pode realmente dar a impressão de que se mecaniza e materializa a
oração (a qual é essencialmente elevação da alma a Deus); pode assim
parecer incorrer na condenação que Jesus proferiu no Evangelho: “
Quando orardes, não multiplicareis as palavras, como fazem os pagãos,
os quais julgam que serão atendidos em vista da multidão de suas
palavras” (Mt 6,7). Neste texto, não há dúvida, o Senhor reprova a
concepção que faz coincidir oração com repetição de vocábulos, como se
o homem pudesse influir sobre a Divindade pelo aparato de sua
verbosidade.
Não é, porém, por efeito dessa mentalidade que se repetem as “Ave-
marias” na recitação do Rosário. Não; estas têm valor totalmente
subordinado; visam apenas criar uma atmosfera, um clima, dentro do
qual o espírito mis compassadamente se possa elevar a Deus; é a
contemplação interior, acompanhada de atos de amor, que constitui a
finalidade da repetição de fórmulas no Rosário. A oração vocal, no caso,
pode ser comparada ao corpo, ao passo que a contemplação faz as
vezes da alma do Rosário. Ora, assim como a alma humana, em
condições normais neste mundo, precisa da colaboração do corpo até
mesmo para exercer as suas funções mais sublimes assim também a
elevação da alma a Deus na oração precisa de um esteiro sensível, que,
no caso do Rosário, vem a ser a recitação das “Ave-Maria”; esta cria
como que um “espaço” espiritual dentro do qual a meditação e o afeto
se devem desenvolver; a monotonia das fórmulas é quebrada pelo
ritmo progressivo da meditação ou da contemplação. Assim o Rosário
põe em ação todas as potencialidades do homem, tanto as espirituais
como as corporais, para promover a união com Deus.
“Quanto estão longe do caminho da verdade aqueles que rejeitam esse
método de oração (o Rosário) qual fórmula fastidiosa e cantilena
monótona, conveniente apenas a crianças e mulheres simples!...A
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piedade se comporta à semelhança do amor: mesmo que repita sempre
as mesmas palavras, estas não exprimem sempre a mesma coisa; mas
algo de novo por elas se traduz, algo de novo inspirado por novos e
novos afetos do amor”.
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por isto quem cultua um Santo, cultua-o em função de Cristo, louvando
a Deus por quanto fez no seu Santo; o culto dos Santos é relativo a
Cristo e ao Pai.
3- Qual a diferença entre latria e dulia?
Latria: Adoração devida a Deus. Adoração.
Dulia: Culto prestado a os santos e a os anjos.
Latria se distingue de latria, adoração, reconhecimento da suprema
soberania, atitude que é devida a Deus só.
4- Como se situa Maria no conjunto dos Santos?
No séquito de Cristo, forma cultuados primeiramente os mártires como
aqueles que mais precisamente participaram da Paixão e Vitória dos
Senhor. Maria SS. É invocada como Mãe de Deus desde o fim do século
III na oração: “ a vós recorremos, Santa Mãe de Deus...”. Aos poucos se
compreendeu que também aqueles que não derramaram sangue em
morte violenta, mas se ofereceram diariamente ao Pai até o fim em grau
heróico, são expressões da vitória do Redentor.
No conjunto dos Santos, Maria ocupa um lugar único, pois foi chamada
a ser a Mãe do Redentor e Mãe dos homens. Disto se segue que a
veneração pelos cristãos dedicada a Maria difere da devoção aos demais
Santos, como S. Antônio ou S. Teresinha. A prova disto é que existem
verdades de fé (dogmas) concernentes a Maria, mas não os há em
relação aos outros Santos. Verdade é que esses três dogmas marianos
não são mais do que o eco de dogmas cristológico: O Filho de Deus quis
fazer-se homem; donde a Maternidade Divina. Para ser digno
habitáculo da Divindade, Maria nunca esteve sujeita ao pecado (donde
a Imaculada Conceição) nem à conseqüência do pecado que é a morte
(daí a Assunção Gloriosa). A eminência do culto a Maria foi expressa
pelo Concilio de Nicéia II em 787 mediante o termo hiperdoulía, ao
passo que os demais santos são cultuados em doulia (veneração).
5- É facultativa a devoção à Maria?
Deve-se dizer que a devoção a Maria não é facultativa, como é
facultativa devoção a São João Diego ou a São Estêvão.
A necessidade do culto de veneração a Maria se deduz do próprio
Cristocentrismo da piedade cristã. Com efeito; S. Paulo afirma que
“fomos predestinados a ser conformes à imagem do Filho, a fim de ser
Ele o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8,29). Ora, quanto mais o
cristão se configura à imagem de Cristo ou quanto mais ele se identifica
com Cristo, tanto mais terá em seu íntimo os sentimentos de Cristo. Ora
Jesus era todo Filho do Pai (como Deus) e todo Filho de Maria (como
homem). Donde se segue que, quanto mais centrado em Cristo for o
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cristão, tanto mais deverá sentir-se filho de Maria. A devoção mariana,
portanto, está na lógica mesma do “ser um outro Cristo”, programa de
todo cristão. O cristão deve procurar tornar-se, para Maria, um outro
Jesus.
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