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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB

Departamento de Ciências Humanas e Letras – DCHL


Literatura Brasileira I – Prof. Anísio Assis Filho
Alunos: Jônatas de Souza Batista/202010320@uesb.edu.br

Atividade 2 - Romantismo em Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães

O que explicaria os diferentes modos de construção das personagens Isaura e


Rosa?
As mulheres no romantismo tiveram um papel importante para o desenvolvimento
literário. Elas eram consideradas seres intocáveis e faziam parte de um universo de
ilusões dos eternos apaixonados. Os escritores românticos da época descreviam a
mulher como um ser sagrado, no qual só se via perfeição e pureza.
Essa maneira idealizada de descrever a mulher pode ser observada na construção
da personagem Isaura: uma escrava branca, da cor do marfim, magra, estatura
pequena, cabelos longos, muito bonita, pura, virginal, possuía um caráter nobre,
inteligente, era dotada de natural bondade e muito singela de coração, além disso,
sabia ler e escrever, falava italiano, francês e tocava piano. Toda a narração que
envolve a descrição de Isaura remete a essa idealização romântica presente no
movimento.
Já a personagem Rosa é construída de maneira nem tanto oposta, mas bem menos
idealizada que Isaura. Rosa é descrita como uma escrava bonita, porém invejosa da
atenção que todos dão a Isaura. É a falta dessas características presentes nas
representações das mulheres no romantismo que diferencia a construção das duas
personagens. Rosa não é descrita como símbolo da pureza como Isaura, não
existem nela os dotes que tornam Isaura tão diferente das outras.
Essa perspectiva, esse modelo de construção de personagem presente no
romantismo faz com que Isaura se destaque como a perfeita representação da
mulher romântica, enquanto Rosa, é construída de maneira bem menos idealizada,
sem todas as características que o romantismo geralmente consagra as
representações femininas.

É comum à prosa romântica a metaforização de várias passagens de seus


romances. O que simbolizaria a “saída” de Isaura da fazenda?
O romantismo é marcado pela fuga de uma realidade que o autor (ou personagem)
não consegue suportar. Dessa forma, ele sente a necessidade de escapar da
realidade. Essa fuga pode acontecer por meio da morte ou suicídio ou na busca por
um mundo utópico e perfeito.
Partindo desse ponto, pode-se entender a saída/fuga de Isaura da fazenda como
uma metáfora ao conceito de escapismo, característica contundente do romantismo.
O escapismo pode ser representado pela loucura, pelo sonho, pela imaginação, a
morte ou a fuga.
No livro, antes mesmo de saber da possibilidade de fugir, Isaura cogitava tirar sua
própria vida, podemos observar isso no diálogo com Leôncio, e após isso, no
diálogo que ela tem com Miguel antes de efetuar sua fuga. Essas passagens
embasam ainda mais a teoria de que a saída/fuga de Isaura da fazenda remete ao
conceito de escapismo, característica presente no romantismo.

No romance Escrava Isaura (1875), apesar da (aparente) centralização dada à


personagem que o nomeia, é, predominantemente, povoado por personagens
masculinas. A partir do conjunto destas, descreva aquelas que representam o
maniqueísmo romântico. Justifique sua resposta.
Maniqueísmo é a ideia baseada numa doutrina religiosa que afirma existir o
dualismo entre dois princípios opostos, normalmente o bem e o mal. Se de um lado
temos sempre a figura do herói associada ao Bem, de outro é quase obrigatória nos
romances a presença de um vilão, que encarna o Mal. No romantismo, o
maniqueísmo constituiu mesmo a espinha dorsal das narrativas.
Na obra de Guimarães, é possível destacar essas características maniqueístas na
relação "Álvaro-Leôncio" com certa facilidade. Enquanto Álvaro é representado
quase como um típico herói romântico: abolicionista, moço bonito, rico, liberal, uma
pessoa excepcional e muitas vezes misteriosa (o herói romântico é sempre uma
pessoa independente que sofre de circunstâncias da vida sob a pressão da
sociedade.), Leôncio é o típico antagonista romântico, vilão leviano, devasso e
insensível que, de “criança incorrigível e insubordinada” e adolescente que sangra a
carteira do pai com suas aventuras, acaba por tornar-se um homem cruel e
inescrupuloso. Homem de aparência rude, era o herdeiro de todos os maus instintos
e devassidão do comendador, seu pai. Nutre por Isaura o mais cego e violento
amor.
Essa dualidade que os dois personagens representam pode ser entendida como a
composição do maniqueísmo na obra. Não são apenas esses dois personagens que
caracterizam o conceito de maniqueísmo no livro, mas sem dúvidas, é a relação
deles que representa esse conceito da melhor maneira.

Como podem ser interpretados os ambientes dispostos no romance?


É possível entender os ambientes dispostos no romance como representações de
algumas das características fundamentais do romantismo. Como por exemplo, o
primeiro ambiente apresentado na obra, no caso a fazenda, que traz consigo traços
característicos do movimento, como a valorização da natureza, e a fascinação que o
autor romântico tem pela mesma, características facilmente observadas já nas
primeiras páginas, quando o autor traça uma longa e garbosa descrição dessa
mesma fazenda e da natureza que a envolvia.
É possível, ainda, entender esses ambientes como representações de um conceito
importantíssimo do romantismo brasileiro, o regionalismo. Surgiu em meados do
século 19, nas obras de José de Alencar, de Bernardo Guimarães, de Alfredo
d'Escragnole Taunay e de Franklin Távora e pode-se dizer que há textos de cunho
regionalista em nossa literatura até o final do século 20, por regionalismo, entende-
se a literatura que põe o seu foco em determinada região do Brasil, visando retratá-
la, de maneira mais superficial ou mais profunda

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