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Os Maias - Resumo
Os Maias - Resumo
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Os Maias
perda da mãe. Isto continuou até que, um dia, estando Pedro no Marrare,
viu, atrás de Manuel Monforte, uma jovem loura e de olhos azuis – Maria
Monforte. Pedro estava apaixonado e Alencar contou-lhe quem era a sua
“Afrodite”: vinha dos Açores, pois Manuel havia morto um homem. Eram
apelidados, em Lisboa, de negreiros. Uns tempos mais tarde, Pedro e Maria
começaram a namorar, sem Afonso saber. Afonso desconfiava, mas apenas
teve confirmação quando Vilela lhe disse que Maria não era apenas amante
de Pedro – era solteira e namorava com ele.
Num verão, Pedro partiu para Sintra, onde os Monfortes tinham uma casa
alugada. Na véspera, Pedro tinha pedido informações a Vilaça sobre as suas
propriedades e como levantar dinheiro. Vilaça, muito preocupado, contou a
história a Afonso, que a desvalorizou.
Numa manhã de inverno, Pedro encontrou o pai e pediu-lhe licença para
casar com Maria Monforte. Afonso não permitiu, pois esta era filha de um
assassino, e Pedro prometeu ao pai que haveria de casar com ela, de
qualquer forma. Dois dias depois, Vilaça, em lágrimas, disse a Afonso que
Pedro se havia casado naquela madrugada e que partiria com Maria para
Itália. Afonso, desgostoso, afirmou que, dali por diante, haveria “só um
talher à mesa”.
Capítulo II
Pedro e Maria viviam felizes em Itália, mas, um dia, Maria sentiu o apetite
de Paris, pelo que se mudaram para lá. Quando Maria engravidou, tendo
em conta que, em Paris, se falava em revolução, decidiram voltar a Lisboa
–, mas, antes de partirem, a pedido de Maria, Pedro escreveu a seu pai, na
esperança de que os acolhesse e os perdoasse. No entanto, Afonso da Maia
partiu para Santa Olávia dois dias antes de Pedro e Maria chegarem. Esta
atitude ditou uma separação enorme entre pai e filho, que, quando Maria
nasceu, não lho comunicou.
Por altura do primeiro aniversário de Maria, realizou-se uma grande festa
em Arroios. A partir dessa, muitas outras se seguiram, e os amigos de Pedro
amavam a sua esposa, fazendo-lhe, inclusive, declarações de amor. Pedro,
embora não sentisse ciúmes, fartava-se daquele clima luxuoso e de festa.
Quando Maria teve um segundo filho, Carlos Eduardo da Maia, Pedro
pretendeu reconciliar-se com o pai, Afonso. Para tal, surpreenderia o pai
em Santa Olávia, com os dois filhos. Contudo, a partida para as margens do
Douro foi atrasada, pois, enquanto caçava, Pedro feriu um príncipe italiano,
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Tancredo, com a sua espingarda, sem intenção. Como tal, este Italiano
deveria ficar alojado em casa de Pedro até recuperar.
Tendo Pedro estado fora de casa durante dois dias, quando voltou,
descobriu que Maria tinha partido com Tancredo e levado a filha, Maria
Eduarda. Pedro foi, de imediato, procurar consolo junto de seu pai, agora
em Benfica, que recebeu o filho e o neto. Na madrugada desse dia, Pedro
suicidou-se com um tiro, tendo deixado um bilhete ao seu pai. Afonso, dias
depois, fechou a casa de Benfica e partiu com Carlos Eduardo e os criados
para Santa Olávia. Vilela disse que Afonso não teria mais de um ano de
vida.
Capítulo III
“Mas esse ano passou, outros anos passaram”. Numa manhã de abril,
Vilaça regressou a Santa Olávia, reparando que Carlos estava rijo. Carlos
estava na quinta de madrugada, almoçava às sete e jantava à uma hora da
tarde. Era educado pelo sr. Brown, um professor inglês. Devido ao sistema
de educação inglês, aos cinco anos já dormia num quarto sozinho e todas as
manhãs tomava um banho de água gelada. Corria, caía, trepava às árvores,
molhava-se e apanhava sol. Sr. Brown também lhe ensinou a remar e a
saltar no trapézio. Teixeira era contra este tipo de educação liberal, dizia
que não se adequava a um fidalgo português. O abade também não
concordava, afirmando que o latim deveria ser a base da educação. Mas
Brown contestou, com veemência, dizendo que o primeiro dever do homem
era viver e que, para isso, era necessário ser forte e saudável. Também para
Vilaça era difícil aceitar esta educação liberal. Apesar de todas as pressões
sobre Afonso para que este permitisse que ensinassem o catecismo a
Carlos, o avô rejeitara sempre: “Eu quero que o rapaz seja virtuoso por
amor da virtude e honrado por amor da honra; não por medo às caldeiras de
Pêro Botelho, nem com o engodo de ir para o Reino do Céu”, ripostava
Afonso.
Entretanto, Carlos já tinha a sua primeira namorada: a Teresinha, da família
das Silveiras – ou “Silveirinhas”. Também pertenciam a esta família a D.
Ana Silveira, a mais velha de todas e ainda solteira, a D. Eugénia, viúva e
pachorrenta que tinha dois filhos: a Teresinha e o Eusebiozinho, um rapaz
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Capítulo IV
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Capítulo V
Carlos curou a sua primeira doente grave, que esteve quase a morrer de
pneumonia. Carlos não sabia de Ega há algum tempo, tendo descoberto,
por Vilaça, que este lhe indagara acerca dos custos de montagem do
consultório. Entretanto, Eusebiozinho, agora com um aspeto ainda mais
fúnebre, negociava a compra de duas éguas ao marquês. Este mesmo
Eusebiozinho tinha agora, à semelhança de Vilaça, aspirações políticas e
Vilaça, inclusive, pensava incutir-lhe certas responsabilidades em que a sua
autoridade estava a diminuir. Vilaça revelou, inclusive, a Eusebiozinho, que
os Maias gastavam muito dinheiro devido aos seus deveres sociais.
Com o laboratório de Carlos pronto, este não tinha muito tempo para o
visitar. O sucesso do caso da Marcelina fez com que as pessoas
recorressem a ele quando necessitavam de cuidados médicos; e tal era o seu
sucesso que Carlos escreveu dois artigos para a “Gazeta Médica” e tinha
ideias de fazer um livro. Além disso e dos seus luxos, estava especialmente
interessado na antiga ideia de Ega, embora este último não demonstrasse
grande interesse – criar uma revista que fosse a “força pensante de Lisboa”.
Um dia, Carlos encontrou Ega na Universal, e falaram de Raquel Cohen,
mulher casada por quem Ega se havia, orgulhosamente, apaixonado. Uns
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Capítulo VI
Carlos planeava visitar Vila Balzac, casa de Ega, mas teve muita
dificuldade em encontrá-la e, quando, por fim, o conseguiu, Ega não estava
em casa. Mais tarde, encontrou Ega, que lhe disse que voltasse no dia
seguinte. Carlos assim o fez, e foi muito bem recebido. Era uma casa muito
exuberante e bem decorada, à semelhança do temperamento do
proprietário.
Quando Carlos se preparava para sair, Ega perguntou-lhe como tinha
corrido o encontro em casa dos Gouvarinhos. Carlos falou-lhe da noite,
dizendo-lhe que perdera o interesse na condessa. Aliás, estes desejos
instantâneos – porque logo se extinguiam – eram, até, bastante frequentes
por parte de Carlos. Era um verdadeiro Don Juan, dizia Ega. Mas era
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É então que se fala de política: se, para Cohen, uma (tentativa de)
revolução para instaurar república em nada beneficiaria o país, pois apenas
o levaria a passos mais largos para a falência, Ega discorda
veementemente. Para ele, era preciso varrer a monarquia: e, depois de
ultrapassada a crise financeira, Portugal iria evoluir. Ega defende, ainda, a
invasão espanhola como forma de criar um novo Portugal, com uma
história diferente, o que Alencar, enquanto patriota e nacionalista, rejeita
(“Talvez seja má, de acordo, mas, caramba!, é a única que temos, não
temos outra! É aqui que vivemos, é aqui que rebentamos…”). Para Ega, se
houvesse uma invasão espanhola, o povo português render-se-ia, levando
Alencar a intitula-lo de traidor. Carlos discordou – “Ninguém há-de fugir, e
há-de-se morrer bem”. Ega, de imediato, disse que o povo português era
uma raça apodrecida – mas Craft considerava que isso eram os lisboetas.
Foi então que se disse que apenas Lisboa era Portugal e a conversa
continuou “ardente”, até Cohen acalmar os ânimos, dizendo que, embora
fosse certo que os Espanhóis pensavam em invasão – principalmente se
perdessem Cuba –, o futuro apenas pertencia a Deus.
Depois de três horas à mesa, em que sobressai a falta de personalidade de
Ega e de Alencar, pois mudam de opinião quando Cohen quer (se bem que
o primeiro era amante da esposa de Cohen), e ainda de Dâmaso, que foge
de tudo (inclusive diz fugir de Portugal em caso de invasão), e em que
também se nota a falta de civismo que domina as classes mais destacadas
(à exceção de Ega e Craft), todos se levantaram.
Mas mesmo após o fim do jantar continuam os conflitos acesos entre
Alencar e Ega que, passados alguns instantes, se resolveram. Por fim, mais
tarde, Ega e Cohen saíram, assim como os restantes. À saída, Dâmaso teceu
grandes elogios a Carlos, mostrando-lhe grande veneração e servilismo.
Carlos aproveitou a ocasião para perguntar onde morava a Brasileira e
Dâmaso explicou-lhe, acrescentando que estava de olho nela.
À ida para casa, Alencar e Carlos conversam. Alencar confidenciou-lhe que
achava Raquel Cohen muito bonita, tendo-lhe, inclusive, escrito uns versos,
mas sem qualquer intenção de a cortejar, pois ela era, para ele, como uma
irmã. Falou-lhe ainda da hipocrisia dos seus amigos de outrora: agora, que
eram ministros ou tinham cargos importantes, renegam-no. Por fim,
Alencar ofereceu-lhe um charuto, que Carlos disse que era excelente – mas
era péssimo – e despediram-se. Carlos recordou então a noite em que
descobriu a verdadeira história trágica do amor de seus pais – que lhe havia
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sido ocultada a pedido de Pedro –, que levou a que descobrisse, mais tarde,
por parte do avô, que a sua mãe e irmã haviam falecido.
Capítulo VII
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Capítulo VIII
De manhã, Carlos foi procurar Cruges a sua casa, mas este já não habitava
aí. Por momentos, pensou em partir sozinho, mas acabou por ir à nova casa
do maestro. Cruges estava inquieto acerca do motivo daquela súbita visita a
Sintra; Carlos diz-lhe apenas que ele não se há de arrepender e Cruges
revela que não visitava Sintra desde os seus nove anos. Na Porcalhona,
enquanto Cruges comia ovos com chouriço e Carlos tomava um café,
discutiram outras paisagens. Carlos revelou a Cruges os planos dele e de
Ega: pretendiam ir a Itália por necessidade de Ega. Mas, para Cruges, do
que Ega necessitava era um chicote.
Retomaram viagem. Carlos pensava na mulher que já não via faz duas
semanas e que, supunha ele, estaria em Sintra. Quando finalmente
alcançaram o destino, Carlos ficou com uma certa ansiedade de encontrar a
mulher e disse a Cruge que não iam ficar alojados na Lawrence, mas no
Nunes. Foi aí que Carlos ficou a saber, por intermédio de um criado, que
Dâmaso estava em Sintra, possivelmente na Lawrence. Carlos ficou muito
feliz com a certeza da presença de Salcedo em Sintra.
Mais tarde, vê Eusebiozinho com outro senhor, Palma, e duas mulheres
espanholas à mesa. Eusebiozinho, atrapalhado, justifica a situação pelo
facto de o seu médico lhe ter dito que deveria mudar de ares. Entretanto,
uma das Espanholas, Lola, reconheceu Cruges e Carlos da Maia foi
apresentado a Palma e às Espanholas. Lola já o conhecia do seu romance
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Capítulo IX
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Capítulo X
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pileca. E, embora ainda houvesse mais uma corrida, todo o interesse pelos
cavalos estava perdido. As corridas terminaram, assim, de forma algo
grotesca e caricatural, pondo a nu a contradição entre o ser e o parecer, ou
seja, a imitação servil do que se fazia em Londres e Paris. As corridas
acabam em desordens, fazendo estalar o verniz postiço de civilização.
Carlos foi-se embora. No peristilo do Ramalhete, esperava-o uma carta,
escrita com letra inglesa de mulher. Era uma carta da sua deusa, que veio a
marcar uma viragem definitiva no curso da intriga. O destino divertia-se.
Na carta, dizia-lhe que uma pessoa de família estava doente e precisava dos
serviços dele. Carlos fica enlevado e flamejante.
Capítulo XI
Na manhã seguinte, Carlos levantou-se cedo para visitar a sr.ª Gomes. Logo
que entra em sua casa, o criado deixa entornar o molho do assado no
soalho. Quando Domingos, o criado, lhe fala em Maria Eduarda, e Carlos
pela primeira vez ouve o nome da sua amada, associou-o de imediato à
similitude com o seu – uma espécie de indício de desenlace, como quando
João da Ega tinha dito que estariam “irresistivelmente, fatalmente,
marchando um para o outro”. Também foi intermédio de Domingos que
descobriu que a paciente seria a governanta, Miss Sara.
O primeiro encontro com Maria Eduarda foi, para Carlos, inesperado. O
médico, que tentava acariciar a cadelinha da família, corou com a presença
da sua deusa e logo se recompôs, mas quanto mais tempo para ela olhava,
mais se apaixonava; via, inclusive, um brilho no olhar dela direcionado
para ele. Carlos devia, de qualquer forma, ir ver o estado da governanta e
não lhe achou nada de grave: apenas lhe recomendou que ficasse
agasalhada e na cama durante mais quinze dias. Depois, numa conversa
com Maria Eduarda, veio a descobrir que, afinal, esta não era brasileira,
mas portuguesa, e que considerava existir uma falta de estética na
arquitetura do seu país.
Por fim, despediram-se e Carlos voltou ao Ramalhete, na certeza de que
não precisaria de voltar a farejar em busca da sua deusa – qual deusa, agora
tinha um nome, e era tão semelhante ao dele! –, pois sabia exatamente onde
a encontrar. Então, foi interrompido por uma carta que Baptista lhe trouxe,
da Gouvarinho: “All right”, dizia. Não se lembrava da Gouvarinho desde o
dia anterior, quando lhe prometeu ir com ela para o Porto nessa noite. Ela
deveria estar a esperá-lo e ele, friamente, achava-a agora ridícula. Aliás,
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Capítulo XII
No sábado seguinte, Carlos encontrou Ega no seu quarto, que tinha vindo
para Lisboa, incógnito, acompanhado da condessa Gouvarinho, apenas para
comer e conversar bem. A Gouvarinho falara muito dele e tinham,
inclusive, arranjado um encontro. Além disso, os Cohen estavam de volta a
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Capítulo XIII
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Capítulo XIV
Afonso da Maia foi para Santa Olávia, Maria Eduarda instalara-se nos
Olivais, Ega foi “pastar” para Sintra, onde também estariam os Cohen.
Entretanto, Taveira leva Carlos ao Prince e conta-lhe que os boatos baixos
de Dâmaso continuam e, à saída do Prince, Alencar apresenta Guimarães a
Carlos.
No caminho de volta para o Ramalhete, Carlos estava decidido a fugir com
Maria Eduarda para Itália, mas tinha um obstáculo: o avô, pois o nobre
velho via o amor e a carne como fatais. Afinal de contas, já a mulher de
Pedro, seu filho, havia fugido. O neto não lhe poderia causar tamanha
tristeza.
Carlos visitava Maria Eduarda todas as manhãs, nos Olivais. Estava
apaixonado e sentia-se envolvido num “extraordinário conforto moral” – a
própria casa começava a exalar uma atmosfera de aconchego. Conforme o
tempo passava, tinham mais necessidade um do outro – já não lhes bastava
passar a manhã juntos, também de noite Carlos a visitava.
Alguns dias depois, Carlos notou numa casa nos arredores da Toca e
arranjou, aí, um novo ninho do amor. E, num dia em que se atrasou para o
encontro com Maria Eduarda, encontrou a muito casta Miss Sara,
hipocritamente, enroscada de prazer na relva.
E assim ia passando o verão. Num sábado no início de setembro, Craft
voltou a Lisboa, para o Hotel Central, e Carlos correu logo para lá, para
saber as novidades de Santa Olávia: o seu avô demonstrava muita
hospitalidade, mas tinha muitas saudades do neto, e Sequeira tinha uma
grande gula. Também Eusebiozinho estava no hotel e contou-lhe que Palma
tinha agora um jornal, “A Corneta do Diabo”. Craft fazia tenção de ir a
Bagdade.
Nessa noite, Carlos falou a Maria Eduarda sobre a necessidade de visitar o
seu avô, por um curto período de tempo, que aceitou e queria visitar o
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Ramalhete. Por isso, na noite de partida dele para Santa Olávia, jantaram,
juntos, na Casa do Ramalhete. Carlos estava um pouco nervoso, pois temia
que Maria notasse que ele não era, afinal, puro e perfeito, mas Maria sabia
bem que a pureza não existia.
Tendo terminado de ver a casa, Maria Eduarda sentiu remorsos por fazer
com que Carlos abandonasse tudo aquilo por ela, mas Carlos consolou-a.
Mais tarde, Maria reparou no retrato de Pedro da Maia e disse que Carlos
se parecia mais com a mãe dela do que com Pedro. Então fala-lhe da sua
mãe, nascida na Madeira e casada com um Austríaco; Maria teria tido uma
irmã mais nova que morrera em Paris.
Entretanto, chegou Ega, vindo de Sintra. Jantou com eles e contou as
novidades, antes de Maria partir, rumo à Toca, e Carlos também, rumo a
Santa Olávia.
Uma semana depois, Carlos havia voltado de Santa Olávia, sozinho, com
um plano para fugir com Maria Eduarda sem magoar o avô em demasia,
que Ega aprovava. Nesse mesmo dia, Castro Gomes visitou Carlos: Castro
Gomes recebera, no Brasil, uma carta, que lhe contava a relação entre
Carlos e Maria Eduarda. Castro Gomes estava indiferente em relação a esse
assunto e contou a Carlos que Maria Eduarda não era sua esposa, mas uma
mulher que ele pagava. Carlos ficou, pois, atónito com a revelação e com o
orgulho ferido e, depois de Castro Gomes abandonar o ramalhete, remorde,
com Ega, as palavras insultuosas de Castro Gomes em relação a Maria
Eduarda Mac Gren.
Mal Ega saiu e lhe disse que Castro Gomes se dirigira para a Toca, Carlos
começa a engendrar uma carta de raiva que enviaria a Maria Eduarda, mas
que depois desistiu de escrever em prol presença em carne e osso perante
Mac Gren. Então, mal soube que Castro Gomes abandonara a Toca, foi
para lá.
Carlos fez a viagem a pensar na situação. Sentia a mentira como algo físico
que manchava o seu amor… mas também sentia compaixão. Por isso,
hesitou. Bateu no vidro para fazer o cocheiro parar, para poder pensar mais
calmamente, mas o cocheiro (do destino) não o ouviu.
Tendo chegado à Toca, Melanie recebeu Carlos. Melanie explicou-lhe um
pouco a história e Carlos começou a sentir-se solidário para com Maria
Eduarda. Na Toca, Maria Eduarda estava a chorar, pediu-lhe perdão e
contou-lhe a história dela: miséria, dor de mãe, procura por trabalho,
fome… Castro Gomes apareceu quase como uma salvação. Carlos tremia
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Capítulo XV
No dia seguinte, volta a bonança e vivem o seu amor, agora sem culpas.
Maria Eduarda perguntou a Rosa se ela queria que Carlos vivesse lá em
casa, e a pequena disse que sim e começou a trata-lo por “papá”. Foram,
então, para o quiosque deles; Maria levou um cofre de sândalo e contou-lhe
toda a sua história de vida: nascera em Viena e pouco sabia do pai. Havia
tido uma irmãzinha, Herloísa, que morrera, e recordava-se de o seu avô lhe
contar histórias. Tinha estudado num convento de freiras, onde as visitas da
sua mãe eram cada vez menos. A sua mãe vivia num meio depravado e
moralmente baixo. Maria acabou por se juntar com Mac Gren, de quem
teve uma filha, Rosa. Depois da morte de Mac Gren na guerra, viveram
tempos difíceis e a sua mãe morreu. Conheceu Castro Gomes e, não
suportando o sofrimento em que Rosa vivia, passou a ser sua companheira.
Contudo, durante todo este tempo, o seu corpo “permaneceu sempre frio,
frio como mármore”: nas duas relações que teve, não amou nenhum dos
homens.
Dias depois, Carlos continuava seguro em casar com Maria, em Roma, em
outubro. Contudo, temia que o avô não aceitasse os erros de Maria, e Ega
sugere que Carlos apenas case com ela após a morte de Afonso, que tinha
já oitenta anos. Carlos concordou e, resolvido o dilema, procuram confortar
o estômago e foram jantar à Toca. Foi aí, na toca, que Ega diz ter ideias de
casar e arrepender-se de ter perdido um ano da sua vida com a outra
israelita devassa (Raquel, que, antes, era a sua deusa).
Carlos, que não tinha intenções de apresentar Maria aos seus amigos antes
de se casarem, gostou deste encontro entre amigos e, por isso, quando
encontrou Cruges, convidou-o a jantar na Toca no domingo seguinte. Mas
Cruges, intimidado na presença de Maria (assim como se sentia na
presença de outras mulheres), estragou o jantar.
O tempo passava e Maria queria que Carlos trabalhasse e ganhasse um
nome; então, Carlos voltou a escrever alguns artigos para a “Gazeta
Médica”. Também retomara a escrita do seu livro, “Medicina Antiga e
Moderna”, que, ali, era muito mais fluída.
Numa manhã nos Olivais, recebeu uma carta de Ega, que lhe enviou um
número da “Corneta do Diabo”, que continha um artigo difamatório a
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Ega comprou uma senha para ir ao ginásio, onde viu a Cohen. Ega foi
imediatamente invadido por uma onda de recordações, que o deixou numa
emoção sufocante. Mas, afinal, não era apenas a Cohen. Eram Raquel e
Dâmaso: Ega ficou possesso de ciúmes e decidiu vingar-se de Salcede,
publicando a carta no jornal “A Tarde”, cujo diretor era o Neves. Foi
mesmo no jornal que se discutiu política: Gonçalo, incoerente e
oportunista, via o Gouvarinho como uma “besta”, mas votava nele por
solidariedade partidária.
Saído do jornal, Ega começou a ressentir-se pela decisão de publicar a
carta, que traria intrigas para a relação de Carlos e Maria Eduarda. Iria ao
jornal, no dia seguinte, suspender a publicação da carta, não tivesse
sonhado com Raquel e Dâmaso naquela noite, o que fez voltar o fantasma
da vingança.
A verdade é que a carta não causou dano, Dâmaso partiu para Itália e dias
depois já estava esquecida: o governo caíra e houve remodelações no
ministério – Gouvarinho era o ministro da marinha.
Capítulo XVI
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Capítulo XVII
Mudou de ideias. Decidi não recorrer a Vilaça e ser ele próprio a contar,
virilmente, tudo a Carlos. Com certeza, Ega não seria assim tão viril, pois,
quando teve a oportunidade de contar a verdade a Carlos, refugiou-se
novamente na ideia de procurar Vilaça, mas não o encontrava.
Para afagar o seu desânimo e afugentar aquele negrume do espírito que o
atormentava, Ega foi ao Café Tavares, na Rua do Alecrim, onde comeu um
bife, uma perdiz fria, doce de ananás e café forte.
Quando finalmente encontrou Vilaça, contou-lhe toda a situação e Vilaça,
incrédulo, pensou que era uma artimanha para extorquir dinheiro a Carlos,
mas um papel, assinado por Maria Monforte, dentro da caixa de
Guimarães, convenceu-o. Nessa noite, Ega jantou no Augusto e dissipou os
dissabores no álcool, tendo acordado, no dia seguinte, ao lado de uma
mulher.
Ega apressou-se logo para o Hotel Bragança, onde Carlos e Vilaça tinham
já marcado um encontro para ocorrer a grande revelação e, quando lá
chega, começou a contar a Carlos os detalhes da história com o sr.
Guimarães. Depois de um episódio caricato, em que Vilaça perdera o seu
chapéu, Afonso da Maia apareceu. Quando questionado acerca do assunto,
Afonso ficou siderado e, perante o facto de que o avô nada sabia acerca
daquilo, Carlos sentiu, pela primeira vez, a dor da confirmação – o destino,
implacável, voltara a impor o desequilíbrio na família. Carlos estava
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revoltado contra esta fatalidade, mas de nada servia, pois o destino era
inexorável.
Ao jantar, Ega, Carlos, Steinbroken, D. Diogo e Craft falaram do Sarau da
Trindade e do fado, que Craft atacou (assim como toda a música
meridional). Craft, de resto, criticou ainda as Malaguenhas.
No final do jantar, Carlos decidiu ir à rua de S. Francisco. Carlos tentava
iludir-se, acreditando que tanto ele como Maria Eduarda seriam racionais
na aceitação da questão; não passavam, contudo, de paliativos para
continuar e justificar a continuação da relação com a irmã. Congeminava,
ainda, uma mentira para contar a Maria Eduarda: teria de ir a Santa Olávia,
por motivos de força maior, de onde lhe escreveria uma carta a revelar
tudo. Ao chegar à casa de Maria Eduarda, esta já estava na cama; viu Rosa
e ficou gélido ao tomar consciência de que Rosa era sua sobrinha. Dirigiu-
se ao quarto da sua irmã e, de repente, via no incesto a sedução inesperada
de uma nova carícia. Apesar de ter tentado resistir, acabou por ceder e
consumou o incesto, agora consciente.
Na tarde seguinte, às seis, Ega encontrou Carlos, Darque e Craft no
Marquês. Durante o jantar, Ega notou no companheiro uma alegria nervosa;
depois do jantar, Carlos voltou a demonstrar ter muita sorte ao jogo…
De volta ao Ramalhete, Carlos mostrou-se evasivo e não contou nada a
Ega, que veio a descobrir, nessa noite, que Carlos não dormira no
Ramalhete – estaria, portanto, com Maria, sua irmã. De facto, Ega não foi o
único a compreendê-lo; na noite seguinte, Afonso da Maia, em profunda
dor perante a relação incestuosa dos seus dois netos, interpelou João acerca
deste assunto.
No dia seguinte, Ega tomou a decisão de falar com Carlos. A conversa,
curta, tocou Ega profundamente, que contactou com a fragilidade humana
em Carlos e voltou atrás na sua ideia de fugir para Celorico de Basto.
A verdade era que Carlos tinha medo de enfrentar os seus; e, por isso,
esgueirava-se, fugia do Ramalhete, incógnito, que nem o maior bandido.
Numa madrugada em que tentava voltar ao Ramalhete despercebido, o avô
esperava-o e os seus olhares cruzaram-se, lendo o seu segredo. Carlos,
intimamente, desejava a morte.
De manhã, Carlos foi acordado em sobressalto: os criados chamavam-no,
para que acorresse a Afonso da Maia, que estava prostrado no jardim –
morto, com uma apoplexia. Carlos, desolado, pediu a Ega que escrevesse a
Maria a relatar o facto; à noite, reuniram-se os amigos de família, e o
enterro foi no dia seguinte. Depois, Carlos partiu para Santa Olávia e pediu
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a Ega que tratasse das coisas com Maria e se juntasse a ele depois. No
Ramalhete, o ambiente era de dor – até o gato chorava, perante a ausência
do dono que o acarinhava.
No dia seguinte, Ega foi a casa de Maria Eduarda que, depois de estar ao
inteiro da situação, decidiu partir para Paris, tal como Carlos sugerira, por
intermédio de Ega. Ega e Maria Eduarda ainda se encontraram na estação
de Santa Apolónia e, depois, no Entroncamento, até que seguiram
caminhos diferentes: ele iria para Santa Olávia – nunca mais a veria.
Capítulo XVIII
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Com efeito, haviam falhado a vida, como todos falhavam; e não eram nada
mais – nada menos! – do que românticos, “indivíduos que se governam na
vida pelo sentimento, e não pela razão”. De qualquer forma, valia a pena
viver, dizia Ega, desde que se satisfizesse o estômago. Para Carlos, a
máxima de vida deveria ser “nada desejar e nada recear”, posto que o
universo e o tempo iriam providenciar tudo; e, por isso, não valia a pena
apressar o passo. O certo é que, quando notaram nas horas – já passava um
quarto de hora das seis –, logo começaram a correr atrás de um americano,
para chegarem a tempo do jantar no Bragança. “Ainda o apanhámos!”.
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