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PROFESSORES DE FÍSICA – UMA TRIBO AMEAÇADA DE EXTINÇÃO

José Antônio Pinto∗ [jpinto@uenf.br]


Marcelo Shoey de Oliveira Massunaga [shoey@uenf.br]

Universidade Estadual do Norte Fluminense - Darcy Ribeiro

Este trabalho consiste na análise de dados divulgado na Estatística dos Professores do


Brasil (2003) pelo MEC através do INEP sobre a situação dos professores no Brasil e na
Sinopse Estatística da Educação Superior (2002). Focalizamos uma atenção especial à
formação dos professores da disciplina Física. Verificamos que o número de professores
de Física é bastante pequeno quando comparado à necessidade deste profissional.
Constatamos que é imprescindível aumentar significativamente a capacidade das
universidades para a formação de professores nessa disciplina.
Diante do quadro geral, que evidencia a falta de professores de Física, resolvemos fazer
uma verificação em uma região selecionada. Optamos pelas cidades de Guiricema, São
Sebastião da Vargem Alegre, Mirai, Visconde do Rio Branco e São Geraldo, pequenas
cidades localizadas na Zona da Mata, região sudeste de MG. Os resultados obtidos não
fogem a realidade nacional.
Pesquisamos um total de sete dos dez professores que atuam nas escolas estaduais de
ensino médio dessas cidades. Todos os professores pesquisados possuem graduação
plena, mas apenas um professor possui Licenciatura em Física. Cinco dos professores
pesquisados são licenciados em Matemática e apenas um professor não possui
licenciatura, sua formação é em Engenharia de Minas. Cinco desses professores
possuem especialização Lato Sensu. Um único professor deste grupo participou de
Formação Continuada.

INTRODUÇÃO
A Formação de Professores no Brasil
Em 2003, o Ministro da Educação demonstrou preocupação com o número muito baixo de
professores de Física e Química, e com a perspectiva futura de manutenção desse quadro. Esta
preocupação se deve provavelmente devido às constatações verificadas nos dados apurados pelo
INEP/MEC através da Sinopse Estatística da Educação Superior (2002) e dos dados divulgados no
relatório de Estatísticas dos Professores do Brasil (2003). De posse destes dados, buscamos
entender a situação da formação e da carência de professores de Física. Em um quadro nacional,
podemos verificar que existem professores do ensino médio que ainda não têm licenciatura como
formação. Em 1991, o percentual de professores com licenciatura, que atuavam no ensino médio,
era de 74,9 %. Em 2002, este percentual subiu para 79%.
A demanda por licenciatura não é grande, mas tem aumentado nos últimos anos. O número
total de candidatos inscritos para cursos de formação de professor de Física é de 12.596 para 3.233
vagas. Em situação semelhante está a formação de professor de Química com 8.784 candidatos para
2.967 vagas. A disciplina História contou com 48.201 candidatos para 19.467. A disciplina
Geografia contou com 29.427 candidatos para 12.867 vagas. Além do número de vagas nos cursos
de formação de Professores de Física ser muito pequeno, ainda existe um agravante que é a evasão
escolar. Em 2002, apenas 572 alunos concluíram a licenciatura em Física em todo Brasil.


CEFET/MG – UNED-Leopoldina
A Demanda por professores.
Quando analisamos dados da Estatística dos Professores do Brasil (2003), Tabela-01,
podemos fazer constatações relevantes.
Tabela - 01
Disciplina Demanda estimada para 2002 Nº de Licenciados
Ensino Ens. Fund. Total 1990-2001 2002-2010
Médio 5ª a 8ª series *
Língua Portuguesa 47.027 95.192 142.179 52.829 221.981
Matemática 35.270 71.364 106.634 55.334 162.741
Biologia 23.514 95.152 55.231 53.294 126.488
Física 23.514 55.231 7.216 14.247
(Ciências)
Química 23.514 55.231 13.559 25.397
Língua Estrangeira 11.757 47.576 59.333 38.410 219.617
Educação Física 11.757 47.576 59.333 76.666 84.916
Educação Artística 11.757 23.788 35.545 31.464 12.400
História 23.514 47.576 71.089 74.666 102.602
Geografia 23.514 47.576 71.089 53.509 89.121
Fonte INEP / MEC. Estatísticas dos professores no Brasil 2003 * Dados estimados

A demanda em 2002 era de 23.514 professores de Física, isto apenas para o ensino médio.
Considerando que os professores de Física deveriam ocupar as vagas de Ciências de 5ª a 8ª séries
do ensino fundamental na mesma proporção que os professores de Química e de Biologia,
somaríamos uma demanda de 55.231 professores de Física. De 1990 a 2001, foram licenciados
7.216 professores de Física. A estimativa do Governo é de licenciar mais 14.247 professores de
Física até 2.010. A situação é tão delicada que o número de professores de Física que teríamos em
2.010 não seria suficiente para atender a demanda em 2002, isto apenas para o ensino médio. A
disciplina História tem uma demanda total, para o ensino médio e fundamental, de 47.576
professores, e um número de 74.666 licenciados no período de 1990 a 2001, e com perspectiva de
licenciar mais 102.602 professores até 2010. Se compararmos as disciplinas, Física e História, fica
claro a ausência, ou o descontrole, de qualquer macro planejamento na formação de professores no
Brasil. O número professores licenciados em Física não chega a 10% do número de licenciado em
História.

O P ROBLEMA
O número de professores de Física é insuficiente para a atual demanda, e certamente
continuará sendo assim por vários anos. Portanto, algumas questões tornam-se interessantes:
ü Quem está regendo a disciplina Física?
ü O que pode ser feito para dar as mínimas condições a estes regentes para cumprirem suas
funções?
ü O que pode ser feito para que estes regentes, que não tem uma formação em Física, possam
despertar em seus alunos a motivação para serem professores de Física no futuro?

CARACTERÍSTICAS DA REGIÃO DE ATUAÇÃO DOS PROFESSORES PESQUISADOS


Preocupado em entender estas questões, fizemos uma pesquisa com professores do ensino
médio da rede estadual de ensino que atuam na disciplina Física em pequenas cidades localizadas
na Zona da Mata, região sudeste de MG. Optamos pelas cidades de Guiricema, São Sebastião da
Vargem Alegre, Mirai, Visconde do Rio Branco e São Geraldo. Estas cidades estão localizadas a
uma distância média de 60 km da Universidade Federal de Viçosa, e a uma distância média de 150
km da Universidade Federal de Juiz de Fora. Estas universidades possuem cursos de Licenciatura,
Bacharelado e Mestrado em Física. Localizada a uma distância média de 40 km está a cidade de
Ubá, que possui uma faculdade privada pertencente à Universidade Presidente Antônio Carlos
(UNIPAC), que oferece um curso de Licenciatura em Matemática. A uma distância média de 55 km
está a cidade de Cataguazes, onde está a Faculdade de Filosofia (FAFI), que oferece um curso de
Licenciatura em Matemática. Na cidade de Muriaé, localizada uma distância média de 60 km, existe
uma Faculdade privada que oferece os cursos de Licenciaturas em Física e Matemática.

RESULTADOS
Todos os professores pesquisados possuem graduação plena, mas apenas um possui
Licenciatura Plena em Física, como complementação da Licenciatura Curta em Ciências. Cinco dos
professores pesquisados são licenciados em Matemática, e um é Engenheiro de Minas. Cinco desses
professores possuem especialização Lato Sensu, sendo três em Matemática, um em ensino de Física
e um em Docência Superior. Apenas um único professor participou de Formação Continuada.
A carga horária de trabalho semanal média desses professores é de 39,3 horas, sendo a menor
carga horária de 29 horas, e a maior de 51 horas. Este acúmulo de trabalho reduz a possibilidade de
uma formação continuada paralela ao serviço. O único horário em que todos professores
pesquisados poderiam participar de formação continuada seria aos sábados, das 12 às 18h. Sábado
das 8 às 12h, seis dos sete professores estariam disponíveis.
Dos sete professores, seis têm acesso a computador, mas apenas quatro destes estão
conectados a internet. Apenas uma escola possui laboratório de Física e laboratório de Informática.
O projetor data-show não chegou a nenhuma destas escolas. Todas as escolas têm bibliotecas.
Para estes professores, seus alunos têm maior dificuldade para aprender Física Moderna e
menor dificuldade para aprender sobre Temperatura e Termodinâmica. Em um curso de formação
continuada, Eletricidade é apontada como o tópico mais importante para ser estudado, enquanto a
Física Moderna é tida como a menos importante. Os professores pesquisados valorizam mais as
leituras na área de ensino de Física, e mostram um desinteresse por leituras em psicologia da
educação e em legislação do ensino.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Nesta pequena amostra, podemos verificar que a falta de professores de Física gera uma
realidade na qual a disciplina Física é ministrada por professores ou profissionais de outras áreas.
Diante do quadro diagnosticado, para que o ensino de Física possa atingir sua potencialidade
máxima na educação brasileira é necessário:
- Aumentar a capacidade de formação inicial de professores de Física.
- Criar condições para formação continuada dos atuais professores de Física.
- Diagnosticar com profundidade a formação dos atuais regentes da disciplina Física e dar a este
uma formação continuada de forma a suprir, também, as deficiências da formação inicial.
Apesar de existir um aumento no número de vagas nos cursos de licenciaturas, a formação
de professores de Física está muito aquém das necessidades atuais. A procura de soluções é uma
tarefa sedutora, e certamente surgirão propostas diversas. Acreditamos, porém, que não teremos
uma solução abrangente se não considerarmos:
- A ampliação de vagas nas universidades públicas, onde existe uma maior procura. Em 2002,
apenas 572 professores de Física foram formados, sendo que: 254 em Escolas Federais; 197 em
Escolas Estaduais; 11 em Escolas Municipais; 35 em Escolas Particulares e 75 em Escolas
Filantrópicas, Comunitárias e Confessionais.
- A adoção de uma política de ações afirmativas, questionável do ponto de vista ideológico, porém,
imprescindível em caráter emergencial para correção de uma distorção forte. É preciso tratar de
forma diferenciada, por tempo determinado, a formação de professores de Física.
O aumento de vagas em universidades públicas poderá solucionar o problema detectado, em
longo prazo. A permanência da atual conjuntura manterá a tribo dos professores de Física ameaçada
de extinção.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Sinopse Estatística da Educação Superior Graduação. Ministério da Educação.


Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. 2002. Disponível em
http://www.inep.gov.br/superior/censosuperior/sinopse/. Acesso em 10 de março de 2004.

BRASIL. Estatísticas dos Professores no Brasil. Ministério da Educação. Instituto Nacional de


Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. 2003. Disponível em
http://www.inep.gov.br/estatisticas/professor2003/. Acesso em 20 de março de 2004.

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