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The present research, of a descriptive-explanatory character, presents a diagnosis of the Teaching Physics
Programmes in Brazil, examining particularly the presence of Astronomy disciplines in their curricula. The
diagnosis was made from the analysis of information about Higher Education Institutions (HEIs) and the curricular
matrices of Physics teacher training courses authorized by the Ministry of Education (MEC), as well as based
upon data on the number of graduated students in 2019, made available by the National Institute of Educational
Studies and Research Anı́sio Teixeira (INEP). We classify HEIs according to the type of administration and the
region where they are located; the courses, according to the teaching modality and regarding the presence of
disciplines related to Astronomy; and also regarding access to such subjects by teachers who completed their
training in 2019. The information was compared, organized, and related to try to estimate the percentage of
professionals trained in 2019 who had access to Astronomy subjects in their initial training. The results show that
each HEI trained, on average, less than ten teachers per course, with the highest training rates being observed
in private HEIs in the Southeast region, and the lowest in public HEIs in the North region. The analysis shows
that a small number of Physics Degree Courses in our country offers disciplines of Astronomy in its curricular
architecture. The South region has the largest offer of Astronomy disciplines, but this has little impact on the
national scene, as the region accounts for only 15% of teachers trained in the country, while the other regions stand
out more for not offering such courses. Regarding HEIs, the best scenario is observed in the Federal Institutes of
Education, Science and Technology and the most worrying in private HEIs. We comment on the importance of
a revision in the curricula of Physics teacher training courses, foreseeing the inclusion of Astronomy subjects to
make them more attractive to future teachers and to reduce school dropout and deficit of teachers in Brazil.
Keywords: Physics Teaching, Astronomy Teaching, teacher training, curricula.
Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173
Slovinscki et al. e20210173-3
dos licenciandos – alunos das classes popular, média que se refere especificamente aos cursos de formação de
e dominante têm todos a mesma probabilidade de professores de Fı́sica, devem ser revistos para atender tal
evadir [15]. Comparando novamente as disciplinas da Resolução do CNE, particularmente no que diz respeito
área das Ciências da Natureza, agora quanto à evasão, à inclusão de disciplinas relacionadas à Astronomia em
alguns trabalhos citam que a Fı́sica tem historicamente suas matrizes curriculares, ainda que seja imperioso
as taxas mais altas de evasão, enquanto a Biologia, as problematizar a centralidade da formação de professores
menores [16]. Pesquisas [6] baseadas em dados do Exame em aprendizagens de temas e conhecimentos essenciais
Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), do previstos na BNCC da Educação Básica; esta concepção
Censo da Educação Superior e do Censo Escolar, dentre pode representar uma redução ou simplificação da
outros, apontam que, desde o inı́cio do século XXI, formação inicial. Santos e Diniz-Pereira [20] argumentam
menos de 10% dos ingressantes em cursos de Licenci- que, embora existam diferentes correntes no campo do
atura em Fı́sica de IES públicas conseguem concluir currı́culo, há hoje uma posição consensual entre os pes-
suas graduações. Nas IES privadas esse número é um quisadores e acadêmicos de rejeição e de crı́tica à atual
pouco superior, mas ainda assim aquém do necessário proposta da BNCC, enquanto instrumento de gestão
para resolver o problema do déficit de professores. do currı́culo e da formação docente, entendida como
Nossa pesquisa propõe uma maior difusão de disci- uma tentativa de padronização e de mercantilização
plinas correlatas à Astronomia nos cursos de formação da educação, e também por ser um normativo que vai
de professores de Fı́sica, pois ela, desde a Antiguidade, de encontro às polı́ticas de inclusão, tão duramente
encanta e desperta a curiosidade de homens e mulheres conquistadas.
interessados em Ciência. Hoje, os empreendimentos na No tocante à formação dos professores de Ciências,
área movimentam investimentos anuais da ordem de Batista [21] aponta uma má formação desses profissi-
bilhões de dólares, graças aos esforços de pesquisa de onais, pois muitos dos docentes que ensinam Ciências
astrônomos, fı́sicos, engenheiros e afins. Esse investi- no Ensino Fundamental são graduados em Pedagogia ou
mento financiou um sem-número de pesquisas que, com possuem o curso de formação docente em nı́vel médio
auxı́lio de tecnologia de ponta, mudaram completa- (Curso Normal), o que os habilita para lecionar nos Anos
mente nossa concepção do Cosmos ao longo das últimas Iniciais do Ensino Fundamental. No entanto, na prática,
décadas. Logo, nos parece incoerente que a Astronomia esses profissionais têm a responsabilidade de ensinar
não seja abordada em sala de aula, quanto mais em todas as áreas do conhecimento (incluindo Ciências) aos
cursos de formação de professores, e principalmente nas alunos dessa etapa, e podemos lançar luz sobre se esses
Licenciaturas em Fı́sica. docentes se sentem preparados para tal desafio. Sasseron
A formação de professores lida com os futuros profissi- [22], ao analisar a BNCC, identifica 48 habilidades
onais que serão responsáveis pelo ensino de todo o ciclo classificadas como levando em consideração práticas ci-
básico da Educação, que envolve a Educação Infantil, entı́ficas, práticas epistêmicas e ações investigativas para
os Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental e o gerar o raciocı́nio cientı́fico e outros aspectos associados
Ensino Médio, o que significa intervir na vida de milhões ao letramento cientı́fico. Isto coloca enorme responsabi-
de jovens estudantes. A Fı́sica, enquanto disciplina, é lidade aos professores dessa etapa da Educação Básica,
oferecida somente no Ensino Médio, mas tem boa parte além de mostrar, segundo a autora, uma incoerência no
de seus conceitos, especialmente de Astronomia, diluı́dos documento, visto que o Ensino Fundamental em seus
ao longo de todo o Ensino Fundamental – principal- Anos Iniciais é uma continuidade da Educação Infantil,
mente após o advento da nova Base Nacional Comum onde se esperaria que várias informações e temas já
Curricular (BNCC) [17, 18], que sugere a abordagem tivessem sido trabalhadas.
de assuntos de Astronomia desde os Anos Iniciais do Explorando os currı́culos dos cursos de graduação
Ensino Fundamental – ainda que abordados qualita- em Pedagogia e de formação docente em nı́vel médio,
tivamente, na forma de princı́pios e conceitos básicos existentes em IES do estado da Paraná, quanto às
(sem o devido aprofundamento que é esperado ocorrer caracterı́sticas e fundamentos que norteiam a formação
no Ensino Médio), sob a efı́gie da área de Ciências da dos professores para o Ensino de Ciências, Batista
Natureza, onde a maioria dos docentes que a lecionam [21] investigou os livros didáticos utilizados e ofere-
não têm formação nas áreas de Fı́sica, Quı́mica, Biologia, ceu uma oficina de Astronomia básica a um grupo
Ciências da Terra ou de Astronomia. de alunos-professores. Os resultados obtidos mostraram
Uma recente resolução [19] do Conselho Nacional de que existe uma disparidade na abordagem do tema
Educação (CNE), que definiu as Diretrizes Curricula- Astronomia nas diferentes coleções analisadas, o que
res Nacionais para a Formação Inicial de Professores dificulta o trabalho do professor. Além disso, foram
para a Educação Básica (documento ainda em fase de identificadas falhas na formação dos docentes quanto aos
implementação) estabelece que a organização curricular conteúdos de Astronomia, pois o tema pouco aparece
dos cursos de formação de professores deve estar em nas ementas das disciplinas da formação inicial. Por fim,
consonância com as aprendizagens prescritas na BNCC o autor argumenta que a oficina oferecida contribuiu
da Educação Básica. Isto sugere que tais currı́culos, no para a formação dos saberes docentes, e permitiu aos
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021
e20210173-4 A Astronomia em currı́culos da formação inicial de professores de Fı́sica
alunos-professores uma visão menos simplista sobre o faz, assim, um recorte, enfocando o ano de 2019, e
tema Astronomia. não tem por objetivo generalizar o assunto, tampouco
Por vezes, as lacunas na formação inicial de professores carregar um status de verdade absoluta ou esgotar a
podem ser identificadas em cursos de formação conti- questão. Busca-se apenas colaborar com reflexões sobre
nuada, que mostram ser ferramentas eficazes, capazes o tema, pois entendemos que, qualitativamente, devemos
de verificar se conhecimentos que deveriam ter sido fomentar a formação de professores e melhor prepará-los
apreendidos na formação inicial realmente se deram para enfrentar os desafios da sala de aula. E isso passa
dessa forma. Nesse sentido, diversos estudos indicam que por uma formação mais completa, como, por exemplo,
a formação inicial é, por vezes, ineficiente, como Langhi oferecendo aos licenciandos o acesso a disciplinas de
[23], cujos resultados obtidos em seu trabalho apontam Astronomia.
para a necessidade de alterações no atual paradigma O presente artigo se justifica na medida em que é
formativo de professores, a partir de elementos forma- importante identificar e entender alguns dos pontos mais
tivos a serem contemplados em programas de educação delicados da formação docente em Fı́sica no Brasil, como
continuada em Astronomia. o baixo número de concluintes, a não uniformidade
Já Iachel [24] realizou uma pesquisa de natureza qua- regional na formação, ou as IES que mais se destacam
litativa, no intuito de identificar os pesquisadores tidos nessa formação, bem como ter noção, ainda que por meio
como referências nacionais na pesquisa em Educação e de uma estimativa, de como é o acesso dos licenciandos
Ensino de Astronomia no Brasil. Estes foram entrevista- ao Ensino de Astronomia.
dos e se expressaram sobre variados temas relacionados Trabalhos semelhantes a este, de análise de dados
ao estudo proposto. Da análise das falas, o autor foi de desempenho de estudantes ou de censos estudantis,
capaz de inferir conhecimentos sobre a atual situação são encontrados com certa frequência na literatura,
do ensino e da pesquisa em Educação em Astronomia como o de Vizzotto [25], que analisou descritivamente
no Paı́s, identificando três aspectos mais expressivos: a diferentes informações de caracterização dos cursos de
introdução de disciplinas relacionadas à Astronomia na Licenciatura em Fı́sica do Paı́s a partir dos microdados
formação inicial docente é algo ainda distante do que do Censo da Educação Superior,3 identificando uma
seria ideal, a formação continuada no Brasil é deficiente possı́vel associação entre os indicadores de qualidade do
e paliativa, e que os espaços não formais de ensino afetos INEP e o desempenho dos egressos em exames como o
à Astronomia – museus, planetários e observatórios – ENADE. Nascimento [7], a partir de microdados obtidos
terão uma importância cada vez maior na formação do Censo Escolar de 2018, argumenta que em média,
de professores, ainda que estes espaços estejam mal apenas 20% dos professores de Fı́sica das escolas públicas
distribuı́dos no território nacional. estaduais do paı́s possuem formação especı́fica, sendo
É justamente a partir da afirmação especı́fica de Iachel que que as regiões Centro-Oeste e Norte são as mais
[24], de que a introdução de disciplinas relacionadas à impactadas devido às desigualdades encontradas na dis-
Astronomia na formação inicial docente é algo ainda tribuição de tais profissionais. Numa outra perspectiva,
distante do ideal, que estruturamos parte de nossa também englobada pelo presente artigo, Gobara e Garcia
pesquisa, ao explorar os currı́culos das Licenciaturas em [26] realizaram um levantamento sobre os cursos de
Fı́sica e estimar o percentual de licenciandos que tiveram licenciatura do Brasil, a partir de dados obtidos do
acesso a disciplinas de Astronomia em sua formação INEP, a fim de investigar os motivos do déficit de
inicial, concluı́da no ano de 2019, no Brasil. Entendemos professores de Fı́sica verificado nas escolas de Ensino
que os temas de Astronomia abordados nesse nı́vel do Médio. Os autores apontam que os fatores que motivam
Ensino não podem se resumir, por exemplo, às leis de esse déficit passam pela dificuldade enfrentada pelos
Kepler ou à gravitação de Newton, mas sim em uma estudantes para se autossustentarem durante o curso, a
base de informações estruturadas em forma de disciplina baixa expectativa salarial em relação à futura profissão –
regular, constante da matriz curricular dos cursos. sem perspectiva de melhoria – e ao declı́nio do status
Assim, o presente trabalho tem a intenção de con- social da profissão. Todavia, pesquisas mais recentes [27]
tribuir com as pesquisas na área de formação de pro- indicam que aspectos sociais e econômicos, como salários
fessores, no sentido de apresentar um estudo sobre a futuros e reconhecimento social, raramente aparecem
formação docente em Fı́sica no Brasil, tomando por como motivações principais da carreira.
base o ano de 2019, investigando os dados obtidos de Apresentamos, a seguir, a metodologia empregada em
IES e dos professores nelas formados, a fim de iden- nossa pesquisa, para então trazer, no item 3, os resulta-
tificar caracterı́sticas ou padrões quanto à distribuição dos de nosso estudo, inicialmente sob a perspectiva do
desses profissionais em termos da localização geográfica Ensino de Fı́sica como um todo, para possibilitar um
e da categoria administrativa das IES, do acesso a posterior aprofundamento dos resultados sob a ótica do
disciplinas relacionadas à Astronomia nas licenciatu- Ensino de Astronomia.
ras, e estimando quantos deles tiveram a oportunidade
de cursar disciplinas com essa temática durante sua 3 Obtidos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaci-
formação, através da comparação desses dados. O estudo onais Anı́sio Teixeira (INEP).
Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173
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DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021
e20210173-6 A Astronomia em currı́culos da formação inicial de professores de Fı́sica
Figura 1: Comparação da localização dos cursos de Licenciatura em Fı́sica no Brasil com a distribuição populacional do Paı́s. Fontes:
Autores (esquerda); https://atlassocioeconomico.rs.gov.br/distribuicao-e-densidade-demográfica (direita).
podemos observar que a modalidade EaD responde por 3.3. A diferença entre cursos autorizados pelo
um quarto dos profissionais formados no ano de 2019, MEC e oferecidos pelas IES
apesar de representar pouco mais de um sexto dos
A Tabela 2 traz a quantidade de cursos de Licenciatura
cursos oferecidos. Um dos motivos que pode explicar
em Fı́sica autorizados a funcionar pelo MEC, em com-
essa diferença é que os cursos EaD não são limitados
paração àqueles que são efetivamente oferecidos pelas
pelo espaço fı́sico de uma sala de aula, e por isso podem
IES, segundo o tipo de administração da IES.
comportar turmas mais numerosas. Além disso, 45%
Cabe ressaltar que nossa análise sempre será pautada
dos cursos oferecidos na modalidade EaD são de IES
nos dados dos cursos oferecidos. Mas quais são os
Privadas (como veremos adiante), onde historicamente a
fatores que levam uma IES a não oferecer um curso
razão entre concluintes e matriculados é superior àquela
autorizado pelo MEC? Nos parece adequado neste mo-
das IES Públicas [6].
mento tecer alguns comentários a respeito da questão
levantada. Do montante de 37 cursos, aproximadamente
3.2. Distribuição geográfica dos cursos dois terços deles provém de IES privadas, onde a
de Licenciatura em Fı́sica no Brasil questão econômica é fator preponderante na decisão
de ofertar um curso. Não se pode negar que o ensino
A Figura 1 compara a localização geográfica dos cursos
privado, ainda que muitas vezes organizado em ins-
de Licenciatura em Fı́sica no Brasil, à esquerda, com a
tituições não lucrativas, tem quase sempre um claro
estimativa da distribuição populacional do Paı́s em 2020,
componente comercial [29]. O Governo Federal, por
à direita.
sua vez, tem há mais de uma década incentivado as
Podemos perceber que os cursos de Licenciatura
em Fı́sica concentram-se em duas regiões principais:
o centro-sul brasileiro, que inclui a região Sul e a
metade sul da região Sudeste; e o litoral/metade norte Tabela 2: Diferença entre cursos autorizados pelo MEC e
da região Nordeste. Essas regiões coincidem, de certa efetivamente oferecidos pelas IES no Brasil em 2019, segundo a
forma, com os locais mais densamente povoados do categoria administrativa das IES. Fonte: MEC, sı́tios eletrônicos
das IES.
Paı́s, como podemos visualizar na Figura 1. Então,
numa primeira aproximação, podemos afirmar que a Administração Cursos Cursos Diferença
distribuição geográfica dos cursos de Licenciatura em da IES autorizados oferecidos (%)
Fı́sica é compatı́vel com a distribuição demográfica
UF 97 94 3 (8,1%)
populacional do Brasil, havendo uma boa distribuição
deles.7 Vale ressaltar ainda que as eventuais lacunas IF 74 72 2 (5,4%)
geográficas do ensino presencial podem ser preenchidas PRIVADA 63 39 24 (64,9%)
pelos cursos de EaD. ESTADUAL 57 51 6 (16,2%)
MUNICIPAL 3 1 2 (5,4%)
7 Uma visão mais aprofundada sobre a distribuição dos cursos de
Total 294 257 37 (100%)
licenciatura pode ser encontrada no trabalho de Vizzotto [25].
Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173
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Tabela 3: Distribuição dos cursos de Licenciatura em Fı́sica oferecidos e professores formados, segundo o tipo de administração da
IES e a modalidade de ensino no Brasil em 2019, e a razão de professores formados (PF) por cursos oferecidos (CO). Fonte: MEC,
INEP.
Tipo de Administração Cursos oferecidos (CO) Professores formados (PF) Razão PF/CO
da IES Pres. EaD Total IES (%) Pres. EaD Total IES (%) Pres. EaD Total IES
UF 76 18 94 (36,6%) 709 93 802 (32,6%) 9,3 5,1 8,5
IF 71 1 72 (28,0%) 569 7 576 (23,4%) 8,0 7,0 8,0
Estadual 46 5 51 (19,8%) 439 15 454 (18,5%) 9,5 3,0 8,9
Privada 19 20 39 (15,2%) 109 513 622 (25,3%) 5,7 25,7 15,9
Municipal 1 0 1 (0,4%) 5 0 5 (0,2%) 5,0 0 5,0
Total 213 44 257 (100%) 1831 628 2459 (100%) 8,6 14,3 9,6
matrı́culas em IES privadas através de programas sociais presenciais, como discutido na Seção 3.1. Os cursos EaD
voltados à Educação, como o Programa Universidade formaram em média cerca de 70% mais profissionais por
para Todos (ProUni) e o Fundo de Financiamento ao curso, quando comparados aos da modalidade presencial.
Estudante do Ensino Superior (FIES). Ainda assim, isso Mas os cursos EaD das IES privadas formaram, em 2019,
não é garantia de oferta, uma vez que, por motivos duas vezes e meia mais profissionais do que a média
econômicos, a demanda deve justificar a oferta – quadro nacional, destacando-se em absoluto no Paı́s. Todavia,
que não se verifica nas IES públicas. Além desses fatores, a qualidade dos cursos oferecidos na modalidade EaD é
poderı́amos ainda justificar a falta de demanda por motivo de controvérsia. Os indicadores mais utilizados
matrı́culas nas IES privadas por conta da pandemia para dimensionar a qualidade dos cursos superiores
do Coronavı́rus (SARS-CoV-2), que afetou profunda- são o Conceito Preliminar de Curso (CPC), o Exame
mente a atividade econômica e social no mundo todo Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) e o
em 2020. Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado
e Esperado (IDD). Vizzotto [25] identificou que metade
3.4. Considerações a respeito da formação deles não possui CPC e quase o mesmo percentual não
de professores possui conceito no ENADE, o que lhes confere o conceito
zero. Já no IDD, mais de 60% deles possuem o conceito
A fim de preparar os dados para a análise com foco zero. Nenhum curso EaD recebeu o conceito máximo em
no Ensino de Astronomia, vamos investigar como se qualquer dos indicadores.
deu a distribuição dos professores formados no Brasil Notamos ainda a grande quantidade de cursos ofereci-
em 2019 segundo o tipo de administração da IES, a dos por IF, que apesar de sua recente criação8 em com-
localização da IES, e, por fim, com essas duas variáveis paração às demais IES, possuem status de Universidade
combinadas. A Tabela 3 traz essa distribuição segundo no que concerne à regulação, avaliação e supervisão,
o tipo de administração da IES, diferenciando ainda os mas com finalidades e caracterı́sticas especı́ficas, como a
dados quanto à modalidade de ensino. oferta de educação profissional técnica de nı́vel médio, de
Na média geral, cada IES formou menos de 10 pro- nı́vel superior com foco em licenciaturas e cursos de ca-
fessores de Fı́sica em 2019, o que, em parte, explica o racterı́sticas tecnológicas [31]. Ainda podemos perceber
grande déficit desses profissionais no Brasil e corrobora que as IES Municipais têm um papel quase irrelevante
o resultado de pesquisas semelhantes [26, 30]. Se consi- na formação de professores de Fı́sica no Brasil, tanto
derarmos que muitas IES oferecem turmas semestrais, na oferta quanto no número de profissionais colocados
esses números caem para menos de cinco licenciados por no mercado de trabalho, motivo pelo qual nem sempre
semestre por IES. Nas IES de administração pública, constarão de nossa análise.
essa razão foi inferior a nove. Este número confirma Já a Tabela 4 estabelece a relação entre o número de
o que historicamente ocorre no Paı́s, onde a razão cursos oferecidos e a quantidade de professores formados
média entre concluintes e matrı́culas nos cursos de segundo a localização da IES, levando em conta ainda a
formação de professores de Fı́sica desde o ano de 2000 população9 de cada região.
é da ordem de 10% para as IES públicas e de 15%
nas IES privadas [6]. Podemos observar que as IES 8 Os IF foram criados ao final de 2008, a partir da transformação e
públicas formaram, em média, a metade de professores integração de instituições já existentes: Escolas Técnicas Federais,
por curso quando comparadas às IES privadas. Estas, os Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET) e de
Escolas Técnicas Vinculadas às Universidades Federais.
apesar de oferecerem apenas de 15% dos cursos, foram 9 Estimativa da população brasileira em 2019. Fonte: https://ww
responsáveis por mais de 25% dos professores de Fı́sica w.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9103-estimativas-de
licenciados em 2019 – a grande maioria em cursos não -populacao.html. Acesso em 15/02/21.
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021
e20210173-8 A Astronomia em currı́culos da formação inicial de professores de Fı́sica
Tabela 4: Distribuição dos cursos de Licenciatura em Fı́sica oferecidos e professores formados, segundo a localização da IES no
Brasil em 2019, em termos absolutos, percentuais e populacionais. Fonte: MEC, INEP.
Tabela 5: Distribuição do número de cursos oferecidos de Licenciatura em Fı́sica (CO) e de professores formados (PF) no Brasil
em 2019, segundo a localização e o tipo de administração da IES, em termos absolutos e percentuais. Fonte: MEC, INEP.
A região Sudeste destaca-se nesse recorte, pois apesar vermelho indicam que a razão é inferior. Os percentuais
de concentrar apenas 28% dos cursos oferecidos, possui grifados, por sua vez, querem apenas chamar a atenção
mais de 40% dos professores formados, e por isso obtém o para alguma semelhança ou diferença significativa.
melhor ı́ndice de professores formados por curso no Paı́s. A região Nordeste se caracteriza pela oferta de cursos
Quando comparada às demais regiões, esse panorama de IES prioritariamente de administração pública, em
se inverte, e a região Norte surge com a pior taxa de sua maioria IF, localizados principalmente no interior
professores formados por curso. Esses dados, quando da região, como mostraremos a seguir. Mas também é
analisados sob a perspectiva populacional, não apon- notória a contribuição das IES Estaduais e das UF, com
tam uma disparidade superior a 30% entre as regiões patamares bem próximos. Em relação à média nacional,
na quantidade de professores formados por milhão de os cursos oferecidos pelos IF e pelas IES Estaduais
habitantes – o Nordeste apresenta o melhor cenário, e o licenciaram mais professores em 2019.
Centro-Oeste, o pior. Esse é um indicativo importante O Sudeste, por sua vez, apesar de caracterizar-se por
que envolve a questão do déficit de professores de ter a maior oferta de cursos por UF, teve a maior parte
Fı́sica, pois somente com números mais expressivos de de seus professores de Fı́sica formados por IES privadas,
concluintes começaremos a resolver esse problema. talvez por possuir uma das maiores rendas per capita
Por fim, a Tabela 5 combina as duas tabelas anteriores, do Brasil. As UF da região entregaram, na média, a
detalhando a quantidade de profissionais formados de mesma quantidade de profissionais que as demais IES do
acordo com a localização e o tipo de administração da Brasil; ocorre, aqui, que a comparação se torna desigual,
IES, em termos absolutos (linha superior) e percentuais uma vez que as IES privadas formam cerca de 50%
(linha inferior). Os valores absolutos PF grifados em a 150% mais profissionais por curso, como discutido
verde significam que a razão PF/CO é superior à média anteriormente. De qualquer forma, todas as categorias
nacional (trazidos na Tabela 3), enquanto os grifados em de IES do Sudeste licenciaram, proporcionalmente, mais
professores de Fı́sica do que a média nacional.
10 Formados em IES que, em 2020, não ofereciam cursos de No Sul, as IES privadas destacam-se regionalmente
Licenciatura em Fı́sica. tanto na quantidade de cursos oferecidos quanto no
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número de profissionais formados em 2019, seguidas das apresentaram os piores ı́ndices de formação dentre todas
UF, IF e IES Estaduais. A região se caracteriza também as categorias analisadas.
por não apresentar grandes variações percentuais entre o É difı́cil fazer qualquer análise sobre as IES Munici-
número de cursos oferecidos e a quantidade de professo- pais, sobretudo pelo baixo número de cursos oferecidos
res formados em cada tipo de IES. Todavia, o que chama e profissionais formados. Chama atenção apenas o fato
a atenção é que todas as categorias de IES da região de haver, no Sudeste, professores formados sem que se
Sul formaram em 2019 menos profissionais por curso em tenha atualmente algum curso oferecido. Cabe lembrar,
comparação à média nacional, fato que é preocupante11 no entanto, que o cenário de oferta de cursos é dinâmico,
e merecedor de reflexão. podendo ocorrer num ano e no outro não. Assim, inter-
A região Norte caracteriza-se por uma forte parti- pretamos que essa população pode decorrer de algum
cipação das UF (acima da média nacional, inclusive), curso oferecido no passado, mas não em 2019, haja
responsáveis por praticamente dois terços dos profissio- vista que os dados disponibilizados pelo INEP não fazem
nais formados na região, o que é contrastado pelo baixo menção às IES de origem dos professores licenciados.
número de licenciados pelos IF e, principalmente, pelas A presença de IES privadas nas regiões Norte e
IES Estaduais – em 2019, em que cada curso entregou Nordeste é pouco relevante, muito em função do baixo
à sociedade apenas dois professores. Entendemos que é poder aquisitivo da população desses locais (as unidades
preciso pesquisar as causas e investir urgentemente em federativas dessas regiões ocupam as últimas posições do
medidas para evitar a evasão nas IES públicas, sob pena ranking de rendimento domiciliar per capita do IBGE do
de haver desperdı́cio de recursos humanos e financeiros. ano de 201912 ). Em contrapartida, as regiões Sudeste
No Centro-Oeste, as UF são referência em número de e Sul tiveram nas IES privadas a principal fonte de
cursos e quantidade de profissionais formados (apesar profissionais formados em 2019, chegando a quase 40%
de formarem menos profissionais que a média nacional), no Sudeste. Os estados dessas regiões ocupam sete das
com baixa participação dos IF e das IES Estaduais. dez primeiras posições no ranking supracitado, e a renda
No entanto, as IES privadas, mais uma vez, se destacam per capita de seus cidadãos chega a ser até duas vezes
pela alta taxa de formação, em comparação à média maior quando comparada aos estados das regiões Norte
nacional. e Nordeste. No entanto, apenas as IES privadas das
Com relação à categoria administrativa das IES, nossa regiões Sudeste e Centro-Oeste apresentaram ı́ndices de
análise mostrou que as UF são mais relevantes nas formação superiores à média nacional para sua categoria.
regiões Norte e Centro-Oeste, pois respondem por mais
da metade dos licenciados naqueles locais; em valores 4. Considerações Sobre o Ensino
absolutos, destacam-se na região Sudeste, que junto com de Astronomia
a região Norte, possuem também os melhores ı́ndices de
profissionais formados por curso. Inicialmente traçaremos um panorama geral sobre a pre-
Os IF se destacaram no Nordeste, pela quantidade sença de disciplinas relacionadas à Astronomia nas IES
de professores licenciados, e no Sudeste; e novamente investigadas, e posteriormente vamos analisar, pormeno-
no Nordeste pelos altos ı́ndices de formação, acima da rizadamente, como se dá essa distribuição de acordo com
média nacional para os IF. As demais regiões apre- administração da IES.
sentaram resultados mais modestos, talvez pela recente
implantação dos IF e dos próprios cursos de licenciatura.
4.1. Oferta de disciplinas relacionadas
As IES Estaduais são absolutamente relevantes na
à Astronomia, de acordo com a natureza
região Nordeste, tanto na quantidade de cursos ofe-
da disciplina ofertada
recidos (quase a metade do paı́s) quanto no número
de profissionais formados (idem). Aqui, a exemplo dos Quando classificadas quanto à presença de disciplinas
IF, o Sudeste e o Nordeste se sobressaem pelos ı́ndices relacionadas à Astronomia em seus currı́culos, os cur-
de formação acima da média nacional para as IES sos de licenciatura oferecidos pelas IES pesquisadas
Estaduais. Na contramão desse panorama, as regiões distribuem-se conforme a Tabela 6. De maneira a des-
Centro-Oeste e Norte (essa última, principalmente) tacar os ı́ndices mais relevantes, adotamos, a partir da
Tabela 6, uma escala de cores para identificar a natureza
11 Em 2019, o Estado do Rio Grande do Sul publicou uma portaria das disciplinas relacionadas à Astronomia: em verde,
estabelecendo uma nova organização curricular nas escolas da disciplinas que são oferecidas na forma obrigatória; em
Rede Estadual de Ensino, que reduziu a quantidade de tempos de
aula semanais de Fı́sica no Ensino Médio. Originalmente tı́nhamos laranja, na forma opcional; e em vermelho, quando os
dois tempos de aula semanais por ano letivo, e passamos a ter cursos não oferecem nenhuma disciplina de Astronomia.
apenas um tempo no 1◦ e 2◦ Anos, e nenhum no 3◦ Ano. Se Essa mesma escala de cores é adotada nos mapas,
a quantidade de professores de Fı́sica formados na região Sul já apresentados na sequência deste trabalho.
se mostra abaixo da média nacional, entendemos que ações como
essa apenas agravam o quadro, além de não oferecerem solução
ao problema do déficit de profissionais da área. Não é acabando 12 Fonte: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-
com a disciplina de Fı́sica (e outras) que resolveremos a questão imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/26956-ibge-divulga-
da falta de professores. o-rendimento-domiciliar-per-capita-2019. Acesso em 15/02/21.
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021
e20210173-10 A Astronomia em currı́culos da formação inicial de professores de Fı́sica
Tabela 6: Distribuição do número de cursos de Licenciatura em Fı́sica segundo a oferta (ou não) de disciplinas de Astronomia no
Brasil em 2019, em termos absolutos e percentuais. Fonte: sı́tio eletrônico das IES.
Tabela 7: Distribuição da natureza das disciplinas relacionadas à Astronomia encontradas em cursos de Licenciatura em Fı́sica no
Brasil em 2019, segundo a categoria administrativa das IES. Fonte: sı́tio eletrônico das IES.
Tabela 8: Distribuição da natureza das disciplinas relacionadas à Astronomia encontradas em cursos de Licenciatura em Fı́sica no
Brasil em 2019, segundo a localização das IES. Fonte: sı́tio eletrônico das IES.
Natureza da disciplina
Região da IES Obrigatória (% na IES) Optativa (% na IES) Não oferece (% na IES) Total (% na IES)
Nordeste 10 (11,2%) 37 (41,6%) 42 (47,2%) 89 (100%)
Sudeste 23 (31,9%) 28 (38,9%) 21 (29,2%) 72 (100%)
Sul 21 (44,7%) 15 (31,9%) 11 (23,4%) 47 (100%)
Norte 7 (23,3%) 7 (23,3%) 16 (53,4%) 30 (100%)
Centro-Oeste 5 (26,3%) 6 (31,6%) 8 (42,1%) 19 (100%)
Total 66 (25,7%) 93 (36,2%) 98 (38,1%) 257 (100%)
Percebemos, de antemão, que mais de 60% dos cursos 4.2. Natureza das disciplinas relacionadas
investigados oferecem alguma disciplina relacionada à à Astronomia, de acordo com o tipo de
Astronomia na formação de seus professores. Todavia, administração da IES e sua localização
desse universo pouco mais de 40% das disciplinas são
de natureza obrigatória, o que reflete um percentual Na intenção de explorar um pouco mais a presença de
absoluto de apenas 25% do total de cursos. Ou seja, ape- disciplinas relacionadas à Astronomia nos currı́culos dos
nas um em cada quatro cursos possui em seu currı́culo cursos de licenciatura oferecidos pelas IES do Brasil,
disciplinas obrigatórias de Astronomia, e quase 40% classificamos os dados obtidos segundo a categoria admi-
dos cursos não oferecem essas disciplinas em nenhuma nistrativa (Tabela 7) e a localização das IES (Tabela 8)
modalidade. pesquisadas.
Chama a atenção que nenhuma categoria de IES se
13 Disciplinas optativas, em geral, são aquelas que integram os sobressai quanto à obrigatoriedade de disciplinas de
currı́culos das licenciaturas, cabendo ao aluno a opção por cursá- Astronomia nos currı́culos dos cursos oferecidos, tendo
las ou não. Já as disciplinas eletivas não costumam integrar os IF e as UF, respectivamente, os maiores e menores
tais currı́culos, mas também dependem da decisão do estudante.
Neste trabalho não faremos distinção entre os termos, apesar de
percentuais de oferta. Essas mesmas IES destacam-se
entendermos que disciplinas relacionadas à Astronomia fazem (ou quanto à oferta de disciplinas optativas, enquanto as
deveriam fazer) parte dos currı́culos das licenciaturas em Fı́sica. licenciaturas das IES estaduais e privadas se evidenciam
Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173
Slovinscki et al. e20210173-11
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021
e20210173-12 A Astronomia em currı́culos da formação inicial de professores de Fı́sica
Tabela 9: Distribuição dos cursos de Licenciatura em Fı́sica das UF do Brasil em 2019, segundo a oferta de disciplinas relacionadas
à Astronomia, com a projeção de professores formados. Fontes: MEC, INEP, sı́tio eletrônico das IES.
Natureza da disciplina
Região Obrigatória Optativa Não oferece Total
da IES (% na Região) (% na Região) (% na Região) (% na Região)
Nordeste 5 (18,6%) 12 (44,4%) 10 (37,0%) 27 (100%)
Projeção PF 41 98 81 220
Sudeste 6 (20,7%) 16 (55,2%) 7 (24,1%) 29 (100%)
Projeção PF 55 148 65 268
Sul 4 (30,7%) 8 (61,6%) 1 (7,7%) 13 (100%)
Projeção PF 30 60 8 98
Norte 1 (7,1%) 3 (21,4%) 10 (71,4%) 14 (100%)
Projeção PF 9 27 91 127
Centro-Oeste 2 (18,1%) 6 (54,7%) 3 (27,2%) 11 (100%)
Projeção PF 16 49 24 89
Total 18 (19,1%) 45 (47,9%) 31 (33,0%) 94 (100%)
Projeção PF 151 (18,8%) 382 (47,6%) 269 (33,6%) 802 (100%)
Figura 3: Localização dos cursos de Licenciatura em Fı́sica das Figura 4: Localização dos cursos de Licenciatura em Fı́sica
UF no Brasil, segundo a oferta de disciplinas relacionadas à dos IF no Brasil, segundo a oferta de disciplinas relacionadas
Astronomia. Fonte: Autores. à Astronomia. Fonte: Autores.
Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173
Slovinscki et al. e20210173-13
Tabela 10: Distribuição dos cursos de Licenciatura em Fı́sica dos IF do Brasil em 2019, segundo a oferta de disciplinas relacionadas
à Astronomia, com a projeção de professores formados. Fontes: MEC, INEP, sı́tio eletrônico das IES.
Natureza da disciplina
Região Obrigatória Optativa Não oferece Total
da IES (% na Região) (% na Região) (% na Região) (% na Região)
Nordeste 1 (3,1%) 19 (59,4%) 12 (37,5%) 32 (100%)
Projeção PF 8 154 98 260
Sudeste 12 (70,6%) 1 (5,9%) 4 (23,5%) 17 (100%)
Projeção PF 134 11 45 190
Sul 6 (54,5%) 4 (36,4%) 1 (9,1%) 11 (100%)
Projeção PF 36 24 6 66
Norte 3 (33,3%) 4 (44,5%) 2 (22,2%) 9 (100%)
Projeção PF 13 18 9 40
Centro-Oeste 1 (33,3%) 0 (0,0%) 2 (66,7%) 3 (100%)
Projeção PF 7 0 13 20
Total 23 (31,9%) 28 (38,9%) 21 (29,2%) 72 (100%)
Projeção PF 198 (34,4%) 207 (35,9%) 171 (29,7%) 576 (100%)
de Astronomia, tanto em números absolutos quanto às IES administradas pelos Governos Estaduais. O que
relativos, principalmente pela contribuição da região observamos na Figura 5 são dois bolsões bem definidos –
Sudeste e, em menor proporção, da região Sul. No um mais ao Sul, que engloba principalmente os estados
entanto, a maior parcela de IF oferece apenas disci- de SP e PR, e outro, ao norte, na porção próxima ao
plinas optativas – muito em função da influência da litoral da região Nordeste – onde se concentram a maior
região Nordeste – apesar de existir uma distribuição parte das IES Estaduais que oferecem Licenciaturas
relativamente equitativa nos percentuais das categorias. em Fı́sica. Entendemos que este cenário se desenha
A região Nordeste ainda se destaca negativamente, pois porque cada unidade da federação tem autonomia para
apenas um dos 32 IF ali localizados oferece cursos com implementar suas IES, ou não, e obviamente as condições
disciplinas obrigatórias de Astronomia. Ainda assim, polı́ticas, econômicas e educacionais são diversificadas
percebemos que os IF se destacam das demais IES, pois em cada um deles. Os dados referentes às IES Estaduais
sua estrutura tem por base integrar o Ensino Médio e a estão contidos na Tabela 11.
Educação Profissional, na tentativa de superar essa di-
cotomia, possibilitando uma formação contextualizada, e
tratando, no mesmo patamar, os conhecimentos técnicos
e cientı́ficos [32].
Nossa projeção mostra que parcela quase idêntica
de professores formados nos IF em 2019 teve acesso
a disciplinas de Astronomia em sua formação, quer
seja de natureza obrigatória ou opcional, totalizando
mais de 70% do público – o melhor ı́ndice entre as
IES consideradas – muito em função do desempenho
alcançado pelo Sudeste. Em contrapartida, o Nordeste
liderou na projeção de professores formados que não
cursaram disciplinas de Astronomia durante suas licen-
ciaturas. Logo, essa distribuição, em termos da região
considerada, se dá de forma desigual.
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021
e20210173-14 A Astronomia em currı́culos da formação inicial de professores de Fı́sica
Tabela 11: Distribuição dos cursos de Licenciatura em Fı́sica das IES Estaduais do Brasil em 2019, segundo a oferta de disciplinas
relacionadas à Astronomia, com a projeção de professores formados. Fontes: MEC, INEP, sı́tio eletrônico das IES.
Natureza da disciplina
Região Obrigatória Optativa Não oferece Total
da IES (% na Região) (% na Região) (% na Região) (% na Região)
Nordeste 4 (16,0%) 6 (24,0%) 15 (60,0%) 25 (100%)
Projeção PF 37 55 139 231
Sudeste 3 (27,2%) 6 (54,7%) 2 (18,1%) 11 (100%)
Projeção PF 38 76 26 140
Sul 4 (57,1%) 2 (28,6%) 1 (14,3%) 7 (100%)
Projeção PF 34 17 9 60
Norte 3 (50,0%) 0 (0,0%) 3 (50,0%) 6 (100%)
Projeção PF 6 0 6 12
Centro-Oeste 1 (50,0%) 0 (0,0%) 1 (50,0%) 2 (100%)
Projeção PF 5 0 6 11
Total 15 (29,4%) 14 (27,5%) 22 (43,1%) 51 (100%)
Projeção PF 120 (26,4%) 148 (32,6%) 186 (41,0%) 454 (100%)
Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173
Slovinscki et al. e20210173-15
Tabela 12: Distribuição dos cursos de Licenciatura em Fı́sica em IES Privadas do Brasil em 2019, segundo a oferta de disciplinas
relacionadas à Astronomia, com a projeção de professores formados. Fontes: MEC, INEP, sı́tio eletrônico das IES.
Natureza da disciplina
Obrigatória Optativa Não oferece Total
Região (% na Região) (% na Região) (% na Região) (% na Região)
Nordeste 0 (0,0%) 0 (0,0%) 4 (100%) 4 (100%)
Projeção PF 0 0 45 45
Sudeste 2 (13,3%) 5 (33,3%) 8 (53,4%) 15 (100%)
Projeção PF 51 129 206 386
Sul 7 (43,8%) 1 (6,2%) 8 (50,0%) 16 (100%)
Projeção PF 56 8 65 129
Norte 0 (0,0%) 0 (0,0%) 1 (100%) 1 (100%)
Projeção PF 0 0 14 14
Centro-Oeste 1 (33,3%) 0 (0,0%) 2 (66,7%) 3 (100%)
Projeção PF 16 0 32 48
Total 10 (25,6%) 6 (15,4%) 23 (59,0%) 39 (100%)
Projeção PF 123 (19,8%) 137 (22,0%) 362 (58,2%) 622 (100%)
Figura 7: Classificação das disciplinas relacionadas à Astronomia, oferecidas pelos cursos de Licenciatura em Fı́sica das IES do
Brasil, segundo a área de concentração.
Fonte: Autores, a partir dos tı́tulos e ementas disponı́veis nos sı́tios das IES.
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021
e20210173-16 A Astronomia em currı́culos da formação inicial de professores de Fı́sica
Figura 8: Distribuição das disciplinas relacionadas à Astronomia, oferecidas pelos cursos de Licenciatura em Fı́sica das IES do Brasil,
segundo sua denominação. Fonte: Autores, a partir dos tı́tulos e ementas disponı́veis nos sı́tios das IES.
Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173
Slovinscki et al. e20210173-17
Tabela 13: Resumo da projeção de professores de Fı́sica formados no Brasil em 2019, segundo a localização da IES, o tipo de
administração da IES e a oferta de disciplinas relacionadas à Astronomia (excluı́das as IES Municipais). Fontes: MEC, INEP, sı́tio
eletrônico das IES.
Natureza da disciplina
Obrigatória Optativa Não oferece Total
Parâmetro (% na Região) (% na Região) (% na Região) (% na Região)
Localização da IES Nordeste 86 (11,4%) 307 (40,6%) 363 (48,0%) 756 (100%)
Sudeste 278 (28,3%) 364 (37,0%) 342 (34,7%) 984 (100%)
Sul 156 (44,2%) 109 (30,9%) 88 (24,9%) 353 (100%)
Norte 28 (14,5%) 45 (23,3%) 120 (62,2%) 193 (100%)
Centro-Oeste 44 (26,2%) 49 (29,2%) 75 (44,6%) 168 (100%)
Total 592 (24,1%) 874 (35,6%) 988 (40,3%) 2454 (100%)
Administração da IES UF 151 (18,8%) 382 (47,6%) 269 (33,6%) 802 (100%)
IF 198 (34,4%) 207 (35,9%) 171 (29,7%) 576 (100%)
Estadual 120 (26,4%) 148 (32,6%) 186 (41,0%) 454 (100%)
Privada 123 (19,8%) 137 (22,0%) 362 (58,2%) 622 (100%)
Total 592 (24,1%) 874 (35,6%) 988 (40,3%) 2454 (100%)
em cada quatro profissionais formados em 2019 tiveram Um outro modo de interpretar os dados dessa pesquisa
acesso a disciplinas de Astronomia, sendo que quase pode se dar através da Análise de Correspondência
metade desse público cursou essas disciplinas na modali- Múltipla (ACM) [33], que é um método de escalo-
dade obrigatória. No entanto, esses números têm pouco namento multidimensional que utiliza dados cruzados
impacto no cenário nacional, pois a região responde por para criar mapas bidimensionais, a fim de posicionar as
apenas 15% do total de professores de Fı́sica formados categorias de todas as variáveis em um único gráfico, fa-
no Paı́s. A região Norte, por sua vez, teve o pior desem- cilitando a percepção de variáveis categóricas que podem
penho em termos de não oferta de cursos com disciplinas estar associadas. O mapa gerado dispõe as categorias
de Astronomia (62,2%) dentre as regiões brasileiras. de tal forma que a distância entre suas variáveis indica
O Nordeste é a região com menor projeção de professores o grau de associação entre elas. Ou seja, quanto mais
formados com acesso a disciplinas obrigatórias (11,4%), próximas duas categorias estiverem no mapa, maior a
e isso é extremamente impactante em termos nacionais, sua associação. A Figura 10 apresenta o resultado da
já que essa região responde por um terço dos professores ACM, gerada através da ferramenta SPSS, com relação
licenciados em 2019. A região Sudeste se caracteriza por às categorias região, categoria administrativa, natureza
uma distribuição quase equitativa entre as categorias de da disciplina de Astronomia e modalidade de ensino, e
oferta de disciplinas, mas ainda com certa prevalência talvez pode ser mais bem analisada pelo distanciamento
de professores que passaram por cursos de formação que observado entre algumas categorias do que pela pro-
ofereciam disciplinas opcionais ou que não as ofereciam. ximidade. Ela corrobora os principais pontos de nosso
A região Centro-Oeste foi a responsável pelo menor estudo, comentados anteriormente, como a forte ligação
número de licenciados, e quase metade deles não tiveram da região Sul e dos IF com disciplinas de Astronomia de
acesso a disciplinas de Astronomia. natureza obrigatória, ao passo que nas demais regiões e
Quando analisados sob a categoria tipo de adminis- IES predominam disciplinas optativas ou a não oferta.
tração das IES, os números de nossa projeção mostram As IES privadas estão mais presentes nas regiões Sudeste
que as UF apresentaram o menor ı́ndice de professores e Sul, e se destacam mais pela oferta de EaD do que de
formados que tiveram acesso a disciplinas de Astronomia Ensino Presencial – cenário oposto ao apresentado pelas
(19%), ficando abaixo, inclusive, das IES Privadas. Em demais IES.
contrapartida, os IF destacam-se positivamente nesse Dessa forma, no cenário nacional, nossa análise pro-
ponto, pois permitiram projetar uma formação pautada jeta que apenas um em cada quatro professores de Fı́sica
em conteúdos de Astronomia a mais de 70% de seus formados no Brasil em 2019 teve acesso a disciplinas
licenciados em 2019. Em termos de não oferta, pro- de Astronomia na modalidade obrigatória durante sua
jetamos que as IES Privadas e Estaduais obtiveram formação, pouco mais de um terço pode optar em
os maiores ı́ndices, enquanto as IES de administração cursar alguma disciplina relacionada à Astronomia, e
Federal, principalmente as UF, se destacaram na oferta mais de 40% não tiveram essa opção, pois não havia
de disciplinas optativas. a oferta de tais disciplinas em seus respectivos cursos
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021
e20210173-18 A Astronomia em currı́culos da formação inicial de professores de Fı́sica
5. Considerações Finais
Figura 10: Configuração das variáveis das categorias Região, Este trabalho, de natureza descritivo-explicativa, teve
Categoria Administrativa, Natureza da disciplina e Modalidade por finalidade expor e comparar dados extraı́dos de fon-
de Ensino, referente aos cursos de Licenciatura em Fı́sica das tes públicas, de maneira a elucidar pontos da formação
IES do Brasil, gerado pela técnica de Análise de Correspondência de professores de Fı́sica no Brasil, particularmente no
Múltipla. Fonte: Autores. que diz respeito ao acesso dos licenciandos a disciplinas
ligadas à Astronomia durante sua formação; fizemos
também uma projeção desse acesso segundo a região e o
de formação de professores. Uma análise otimista desses
tipo de administração das IES que oferecem tais cursos.
dados concluirá que a maioria dos licenciados, se não
Quanto aos cursos de licenciatura, oferecidos pelas
teve disciplinas obrigatórias, ao menos teve a opção de
diversas IES do Brasil, e aos professores formados em
cursá-las durante sua graduação. Já em um quadro mais
2019, sintetizamos os principais resultados:
pessimista dir-se-á que não é possı́vel fazer qualquer
projeção a respeito da opção dos licenciandos, e por isso • 25% dos professores foram formados em cursos
deve-se tomar como base que esses alunos optaram por na modalidade EaD, oferecidos principalmente por
não cursar tais disciplinas; logo, esta visão dará conta de IES privadas, onde a oferta é moldada por inte-
que apenas um quarto dos professores formados em 2019 resses econômicos e, por isso, se concentram no
cursou, efetivamente, disciplinas de Astronomia durante Centro-Sul brasileiro, a região mais rica do Paı́s;
sua graduação, o que nos permite, de certa forma, ter um • Todas as unidades da federação oferecem ao menos
panorama da situação atual. Diante destes dois cenários uma Licenciatura em Fı́sica;
poderı́amos nos questionar: qual faz mais sentido, ou • Em média, cada IES entregou menos de 10 pro-
atende melhor normativos recentes, como a BNCC, que fessores de Fı́sica em 2019, com o melhor cenário
prevê a discussão de vários tópicos de Astronomia e sendo observado no sistema EaD das IES privadas,
Fı́sica? e o pior, no EaD das IES Estaduais;
O ponto chave da questão levantada está pautado nas • Sob o ponto de vista das regiões, o maior ı́ndice de
disciplinas optativas, ou seja, na opção, dentre um rol professores formados por curso se deu no Sudeste
de disciplinas, que o licenciando deve cursar durante sua (acima da média nacional em todas as categorias
graduação – e que inclusive encontra amparo no Art. 3◦ de IES), e o pior cenário coube ao Sul. Em
da LDB, que trata do princı́pio da liberdade de aprender. termos populacionais, o Nordeste entregou o maior
Possivelmente não seja suficiente o licenciando, na me- número de licenciados por milhão de habitantes;
lhor das hipóteses, realmente estar preparado e ciente da • Em termos de professores formados, as UF são
importância da sua decisão, mas é preciso que os cursos extremamente relevantes na região Norte; os IF e
de graduação (em seus Projetos Pedagógicos de Curso e as IES Estaduais, no Nordeste; e as IES privadas,
grades curriculares) tenham presente essa preocupação no Sudeste.
e estejam na vanguarda das tendências atuais. Deixar a
Quanto ao acesso dos licenciandos a disciplinas de
decisão por conta do licenciando é um risco, pois ele pode
Astronomia nesses mesmos cursos, nossa investigação
não ter maturidade acadêmica suficiente para identificar
concluiu que:
lacunas na matriz curricular do seu curso de formação
inicial, o que afetará futuramente sua profissão docente • 25,7% das licenciaturas oferecem disciplinas na
e a própria empregabilidade. Diante das questões aqui forma obrigatória, 36,2% na modalidade opcional,
levantadas, nos parece que delegar esse tipo decisão para e 38,1% não as oferecem;
Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173
Slovinscki et al. e20210173-19
• As disciplinas obrigatórias são mais frequente- [2] BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponı́vel em
mente encontradas nos IF e na região Sul; as http://www.planalto.gov.br/ccivil 03/constituicao/con
optativas, nas UF e na região Nordeste; e a não stituicao.htm, acessado em 12/03/2021.
oferta é mais sentida nas IES privadas e na região [3] M.C.F. Mandarino e K.I. Beltrão, Arquivos Analı́ticos
Norte; de Polı́ticas Educativas 26, 3 (2018).
• As UF se destacam ainda pela baixa oferta de dis- [4] L. Wagner e J.P.P. Carlesso, Res. Soc. Dev. 8, 6 (2019).
ciplinas obrigatórias, o que gera preocupação por [5] Tribunal de Contas da União, Auditoria coordenada
sua relevância no número de professores formados; educação: ensino médio (TCU, Brası́lia, 2014).
• Os IF se localizam principalmente fora dos grandes [6] K.I. Beltrão, L.C. Barçante, M.G.F. Pedrosa e R.S.
Megahós, Evidências do Enade e de outras fontes –
centros populacionais, e se destacam na oferta de
mudanças no perfil do Fı́sico graduado (Fundação Ces-
disciplinas obrigatórias nas regiões Sudeste e Sul, granrio, Rio de Janeiro, 2020).
além de disciplinas optativas no Nordeste, gerando [7] M.M. Nascimento, Rev. Bras. Ens. Fis. 42, e20200187
um impacto positivo em termos de acesso; (2020).
• As IES Estaduais distribuem-se de forma irregular [8] BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a
e se caracterizam pela não oferta, principalmente Formação Inicial e Continuada dos Profissionais do
pela contribuição da região Nordeste, ainda que no Magistério da Educação Básica, 25 de junho de 2015.
Sudeste e no Sul a oferta supere a não oferta; Brası́lia, 2018. Seção 1, p. 13.
• As IES privadas são responsáveis por um quarto [9] BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
dos licenciados em 2019, mas projetamos que quase Disponı́vel em http://www.planalto.gov.br/ccivil 0
60% deles não tiveram acesso a disciplinas de 3/leis/l9394.htm, acessado em 09/03/2021.
Astronomia; [10] P.L. Junior, F.L. Silveira e F. Ostermann, Rev. Bras.
• Projetamos que, em 2019, 24,1% dos professores Ens. Fis. 34, 1 (2012).
formados no Brasil tiveram acesso a disciplinas [11] R.M. Souza e S.R. Gomes Júnior, Rev. Bras. Ens. Fis.
de Astronomia de natureza obrigatória, 35,6% de 37, 1 (2015).
natureza optativa, e 40,3% não tiveram acesso a [12] D.P. Menezes, K. Buss, C.A. Silvano, B.N. D’Avila e C.
disciplinas de Astronomia. Anteneodo, Cad. Bras. Ens. Fis. 35, 1 (2018).
[13] F.A. Moura, P.H.P. Mandarino e S.C.P. Silva, Rev. Bras.
Como sugestão, pensamos que o presente diagnóstico Ens. Fis. 42, e20200044 (2020).
pode ser replicado em análises semelhantes de outras [14] J. Fernandes, M.H.U. Guimarães, A. Robert e M.M.
licenciaturas da área de Ciências da Natureza, par- Passos, Cad. Bras. Ens. Fis. 37, 1 (2020).
ticularmente aquelas que formam professores voltados [15] P. Lima Junior, Evasão do Ensino Superior de Fı́sica
principalmente ao Ensino Fundamental, uma vez que segundo a tradição disposicionalista em Sociologia da
Educação. Tese de Doutorado, Universidade Federal do
a BNCC dessa porção do Ensino Básico contempla
Rio Grande do Sul, Porto Alegre (2018).
e sugere a abordagem de diversos assuntos ligados à
[16] S.M. Arruda, M.A. Carvalho, M.M. Passos e F.L. Sil-
Astronomia. Entendemos, ainda, que a pesquisa pode veira, Cad. Bras. Ens. Fı́s. 23, 3 (2006).
até mesmo ser estendida a cursos de Pedagogia, pois [17] BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Disponı́vel
esses profissionais serão responsáveis por conduzir o em http://basenacionalcomum.mec.gov.br, acessado em
Ensino de Ciências voltado aos Anos Iniciais do Ensino 14/03/2021.
Fundamental, uma parcela também rica em conteúdos [18] G.D. Costa e C. Leite, em Anais do IV Colóquio Luso-
astronômicos, segundo o documento da BNCC. Afro-Brasileiro de Questões Curriculares (Lisboa, 2018).
Dessa forma, esperamos que o presente trabalho possa [19] BRASIL. Resolução CNE/CP 2/2019, de 20 de dezem-
contribuir com reflexões na área de formação de profes- bro de 2019. Disponı́vel em: http://portal.mec.gov.b
sores, ao apresentar um aspecto pouco discutido sobre a r/docman/dezembro-2019-pdf/135951-rcp002-19/file,
formação docente em Fı́sica no Brasil, com base em um acessado em 17/03/2021.
recorte no ano de 2019. Sabemos das limitações, dado [20] L.L.C.P. Santos e J.E. Diniz-Pereira, Cad. CEDES 36,
que estes resultados não podem ser extrapolados a anos 100 (2020).
anteriores, a fim de moldar um panorama mais geral [21] M.C. Batista, Um estudo sobre o Ensino de Astronomia
sobre o assunto, mas acreditamos ter fornecido uma base na formação inicial de professores dos anos iniciais.
de informações confiáveis referente ao perı́odo estudado. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Maringá,
Maringá (2016).
Esperamos, ainda, que a análise aqui apresentada possa
[22] L.H. Sasseron, Rev. Bras. de Pesquisa em Educação em
ensejar reflexões e possı́veis mudanças nos currı́culos das
Ciências 18, 3 (2018).
licenciaturas, de forma a torná-las mais atraentes aos
[23] R. Langhi, Astronomia nos anos iniciais do ensino fun-
futuros licenciandos. damental: repensando a formação de professores. Tese
de Doutorado, Universidade Estadual Paulista, Bauru
Referências (2009).
[24] G. Iachel, Os caminhos da formação de professores e da
[1] A. Villani, J. Pacca e D. Freitas, Science & Education pesquisa em Ensino de Astronomia. Tese de Doutorado,
18, 125 (2009). Universidade Estadual Paulista, Bauru (2013).
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021
e20210173-20 A Astronomia em currı́culos da formação inicial de professores de Fı́sica
Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 43, e20210173, 2021 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0173