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INTERTEXTUALIDADE

Professor: Flávio Brito

Os dicionários definem intertextualidade como sendo a superposição de um texto a outro; a influência de um texto sobre
outro que o toma como modelo ou ponto de partida, e que gera a atualização do texto citado. Verificamos dessa forma que o
conceito de intertextualidade, como o próprio nome indica, diz respeito à relação que se estabelece entre textos. Na verdade, todo
texto é absorção e transformação de uma multiplicidade de outros textos, o que vale dizer que não existe um texto que seja
totalmente original.
Dessa forma, basicamente, a intertextualidade nada mais é do que a influência de um texto sobre outro. Todo texto, em
maior ou menor grau, é um intertexto, pois é normal que durante o processo da escrita aconteçam relações dialógicas entre o que
estamos escrevendo e outros textos previamente lidos por nós. A intertextualidade pode acontecer de maneira proposital ou não,
mas é certo que cada texto faz parte de uma corrente de produções verbais e, conscientemente ou não, retomamos, oucontestamos,
os chamados textos-fonte, fundamentais na memória coletiva de uma sociedade. Posto isso, passemos à análise dos tipos de
intertextualidade.
A intertextualidade pode ser construída de maneira explícita ou implícita. Na intertextualidade explícita, ficam claras as
fontes nas quais o texto baseou-se e acontece, obrigatoriamente, de maneira intencional. Pode ser encontrada em textos do tipo
resumo, resenhas, citações e traduções. Podemos dizer que, por nos fornecer diversos elementos que nos remetem a um texto-
fonte, a intertextualidade explícita exige de nós mais compreensão do que dedução.

Poema de sete faces Até o fim


Quando nasci, um anjo torto Quando nasci veio um anjo safado
desses que vivem na sombra O chato do querubim
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. E decretou que eu estava predestinado
A ser errado assim
As casas espiam os homens Já de saída a minha estrada entortou
que correm atrás de mulheres. Mas vou até o fim
A tarde talvez fosse azul, "inda" garoto deixei de ir à escola
não houvesse tantos desejos. Cassaram meu boletim
Não sou ladrão, eu não sou bom de bola
O bonde passa cheio de pernas: Nem posso ouvir clarim
pernas brancas pretas amarelas. Um bom futuro é o que jamais me esperou
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Mas vou até o fim
Porém meus olhos Eu bem que tenho ensaiado um progresso
não perguntam nada. Virei cantor de festim
Mamãe contou que eu faço um bruto sucesso
O homem atrás do bigode Em quixeramobim
é sério, simples e forte. Não sei como o maracatu começou
Quase não conversa. Mas vou até o fim
Tem poucos, raros amigos Por conta de umas questões paralelas
o homem atrás dos óculos e do bigode. Quebraram meu bandolim
Não querem mais ouvir as minhas mazelas
Meu Deus, por que me abandonaste E a minha voz chinfrim
se sabias que eu não era Deus, Criei barriga, a minha mula empacou
se sabias que eu era fraco. Mas vou até o fim
Não tem cigarro acabou minha renda
Mundo mundo vasto mundo Deu praga no meu capim
se eu me chamasse Raimundo Minha mulher fugiu com o dono da venda
seria uma rima, não seria uma solução. O que será de mim ?
Mundo mundo vasto mundo, Eu já nem lembro "pronde" mesmo que eu vou
mais vasto é meu coração. Mas vou até o fim
Como já disse era um anjo safado
Eu não devia te dizer O chato dum querubim
mas essa lua Que decretou que eu estava predestinado
mas esse conhaque A ser todo ruim
botam a gente comovido como o diabo. Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim
Carlos Drummond de Andrade Chico Buarque de Holanda
A intertextualidade implícita demanda de nós um pouco mais de atenção e análise. Como o próprio nome diz, esse tipo de
intertexto não se encontra na superfície textual, visto que não fornece para o leitor elementos que possam ser imediatamente
relacionados com algum outro tipo de texto-fonte. Sendo assim, pedem de nós uma maior capacidade de realizar analogias e
inferências, fazendo com que o leitor reative conhecimentos preservados em sua memória para então compreender integralmente o
texto lido. A intertextualidade implícita é muito comum em textos parodísticos, irônicos e em apropriações.

SAMPA – Caetano Veloso

Alguma coisa acontece no meu coração E foste um difícil começo


Que só quando cruza a Ipiranga e Av. São João Afasto o que não conheço
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Da dura poesia concreta de tuas esquinas Aprende depressa a chamar-te de realidade
Da deselegância discreta de tuas meninas Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Alguma coisa acontece no meu coração Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Que só quando cruza a Ipiranga e avenida São João Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Quando eu te encarei frente a frente e não vi o meu rosto Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
É que Narciso acha feio o que não é espelho Mas possível novo quilombo de Zumbi
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho E os Novos Baianos passeiam na tua garoa
Nada do que não era antes quando não somos mutantes E novos baianos te podem curtir numa boa

PARÁFRASE

Proveniente do grego “para-phrasis”, a paráfrase caracteriza-se como sendo uma reafirmação de um texto pré-existente. Neste tipo
de intertexto, há uma repetição do conteúdo ou um fragmento dele em outros termos, a ideia inicial é preservada. Em resumo,
podemos afirmar que parafrasear um texto significa recriá-lo com outras palavras, mantendo a sua essência.

EXEMPLO 01
Coríntios c1 v13 - Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou
como o sino que tine.
EXEMPLO 02
EXEMPLO 03
Soneto - Luís Vaz de Camões
Monte Castelo - Legião Urbana
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
Ainda que eu falasse
É um contentamento descontente;
A língua dos homens
É dor que desatina sem doer.
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É só o amor! É só o amor
É nunca contentar-se e contente;
Que conhece o que é verdade
É um cuidar que ganha em se perder;
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
O amor é o fogo que arde sem se ver
É ter com quem nos mata, lealdade.
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
Mas como causar pode seu favor
É dor que desatina sem doer
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

PARÓDIA

Neste caso, também há uma apropriação do texto de outro, porém, não o endossa, mas sim subverte-o, satirizando o próprio
tema do texto ou utilizando-o para satirizar um outro contexto. Em outras palavras, a paródia é uma imitação, e normalmente
possui intenção crítica ou humorística.
No meio do caminho
Contramão
No meio do caminho tinha uma pedra Eu tropecei agora numa casca de banana.
tinha uma pedra no meio do caminho Numa casca de banana!
tinha uma pedra Numa casca de banana eu tropecei agora.
no meio do caminho tinha uma pedra. Caí para trás desamparadamente,
Nunca me esquecerei desse acontecimento E rasguei os fundilhos das calças!
na vida de minhas retinas tão fatigadas. Numa casca de banana eu tropecei agora.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho Numa casca de banana!
tinha uma pedra Eu tropecei agora numa casca de banana!
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Gondim da Fonseca.
Carlos Drummond Andrade

Canção do exílio Nova Canção do Exílio (fragmento)

Minha terra tem palmeiras, Nossas várzeas têm mais flores


Onde canta o Sabiá; nossas flores mais pesticidas.
As aves, que aqui gorjeiam, Só se banham em nossos rios
Não gorjeiam como lá. desinformados e suicidas.

Nosso céu tem mais estrelas, Nossos bosques têm mais vida
Nossas várzeas têm mais flores, porque nas cidades se morre.
Nossos bosques têm mais vida,
Quando não é assaltante ou vizinho
Nossa vida mais amores. é um motorista de porre.
(...)
Nossos bancos têm mais juros
Minha terra tem primores, nossos corruptos mais favores
Que tais não encontro eu cá; nossos pobres mais desgraças
Em cismar sozinho, à noite nossa vida mais amores.
Mais prazer eu encontro lá; Luís Fernando Veríssimo
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá. Gonçalves Dias
EPÍGRAFE

Epígrafe é um título ou frase que serve de tema ou introdução de assunto. O termo tem origem no Grego "epigrafhé" que
significa "inscrição", "título".Em uma obra literária, epígrafe é uma curta citação colocada em uma página no início da obra ou em
destaque na abertura de um capítulo. Funciona como um resumo do que se vai ler em seguida.
Uma epígrafe tinha o objetivo de recordar acontecimentos e pessoas, ou prestar homenagem a deuses, figuras míticas ou
personagens históricos de grande relevância. A tradição romana indicava que a epígrafe era feita somente em letras maiúsculas e
com algumas abreviaturas.É impossível encontrar epígrafes em edifícios e monumentos. Alguns exemplos de epígrafe são
citações da Bíblia, versos de uma poesia, provérbios ou pensamentos de grandes autores.
Na Grécia Clássica, as epígrafes eram gravadas em monumentos, pedras, medalhas ou estátuas, como uma referência ao
momento histórico ou pessoa homenageada.É frequente a gravação de uma epígrafe em túmulos, sendo que neste caso a epígrafe
costuma ser uma homenagem da família para a pessoa que morreu.

Mysterium (fragmento)

“Eu vi ainda debaixo do sol que a corrida não é para os mais ligeiros, nem a batalha para os mais fortes, nem o pão para os
mais sábios, nem as riquezas para os mais inteligentes, mas tudo depende do tempo e do acaso.”
Eclesiastes

Ao tempo e ao acaso eu acrescento o grão de imprevisto. E o grão da loucura, a razoável loucura que é infinita na nossa finitude.
Vejo minha vida e obra seguindo assim por trilhos paralelos e tão próximos, trilhos que podem se juntar (ou não) lá adiante, mas
tudo sem explicação, não tem explicação.

(TELLES, Lygia Fagundes. Durante aquele estranho chá: perdidos e achados. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.)

REFERÊNCIA OU ALUSÃO

Trata-se da rememoração de algum fato, imagem, obra, autor, personagem ou personalidade anterior. Em Dom Casmurro,
por exemplo, a leitura dá-se por meio de várias referências ao mundo da ópera, da poesia, do romance, do teatro Shakespereano e
também da Bíblia.

Bom Conselho

Ouça um bom conselho


Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo


Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo


Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade
Chico Buarque

CITAÇÃO

É a transcrição do texto alheio, marcado por aspas. As citações - na produção textual - são feitas para apoiar uma hipótese,
sustentar uma ideia ou ilustrar um raciocínio. Sua função é oferecer ao leitor o respaldo necessário para que ele possa comprovar a
veracidade das informações fornecidas e possibilitar o seu aprofundamento.

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Óbito do Autor

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu
nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar
diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro
berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no
intróito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi.
Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério
por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava — uma chuvinha
miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no
discurso que proferiu à beira de minha cova: — "Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza
parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas
gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza
as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado."
Machado de Assis
PASTICHE

Pastiche é definido como obra literária ou artística em que se imita abertamente o estilo de outros escritores, pintores, músicos
etc.Não tem, contudo, função de satirizar, criticar a obra de origem, diferindo, assim, da paródia.Modernamente, o pastiche pode
ser visto como uma espécie de colagem ou montagem, tornando-se retalhos de vários textos.

HIPERTEXTO

Trata-se de uma escritura não sequencial e não linear, que se bifurca e permite ao leitor o acesso a um número
praticamente ilimitado de outros textos a partir de escolhas locais e sucessivas, em tempo real. É uma forma de estruturação
textual que faz do leitor simultaneamente coautor do texto final.
São exemplos de hipertexto índices de enciclopédia, links, etc..
EXERCÍCIOS PARA VERIFICAÇÃO DE CONHECIMENTO

QUESTÃO 01

Quem não passou pela experiência de estar lendo um texto e defrontar-se com passagens já lidas em outros? Os textos conversam
entre si em um diálogo constante. Esse fenômeno tem a denominação de intertextualidade. Leia os seguintes textos:
I. Quando nasci, um anjo torto Desses que vivem na sombra Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)

II. Quando nasci veio um anjo safado O chato dum querubim E decretou que eu tava predestinado A ser errado assim Já de saída a
minha estrada entortou Mas vou até o fim.
(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia das Letras, 1989)

III. Quando nasci um anjo esbelto Desses que tocam trombeta, anunciou: Vai carregar bandeira. Carga muito pesada pra mulher
Esta espécie ainda envergonhada.
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986)

Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade, em relação a Carlos Drummond de Andrade, por:

(A) reiteração de imagens.


(B) oposição de ideias.
(C) falta de criatividade.
(D) negação dos versos.
(E) ausência de recursos.

QUESTÃO 02

As novas tecnologias de comunicação utilizam o hipertexto, que é uma espécie de “supertexto”: um texto maior que contém vários
níveis textuais lidos em múltiplas direções. Antes mesmo do computador, já podíamos encontrar exemplos de hipertexto, como
verbetes de enciclopédia, índices analíticos e notas de rodapé.

Esta prova de múltipla escolha também pode ser caracterizada como hipertextual, pela seguinte razão:

(A) fornece uma alternativa verdadeira e três falsas, para a solução da questão
(B) requer conhecimento prévio dos assuntos, para a articulação com outros textos
(C) inclui textos, questões e opções em diversas línguas, para a ampliação da compreensão
(D) exige leitura dos enunciados e das alternativas em diferentes ordens, para a identificação da resposta

QUESTÃO 03

Diferentemente do texto escrito, que em geral compele os leitores a lerem numa onda linear – da esquerda para a direita e de cima
para baixo, na página impressa – hipertextos encorajam os leitores a moverem-se de um bloco de texto a outro, rapidamente e não
sequencialmente. Considerando que o hipertexto oferece uma multiplicidade de caminhos a seguir, podendo ainda o leitor
incorporar seus caminhos e suas decisões como novos caminhos, inserindo informações novas, o leitor- navegador passa a ter um
papel mais ativo e uma oportunidade diferente da de um leitor de texto impresso. Dificilmente dois leitores de hipertextos farão os
mesmos caminhos e tomarão as mesmas decisões.
MARCUSCHI, L. A. Cognição, linguagem e práticas interacionais. Rio: Lucerna, 2007.

No que diz respeito à relação entre o hipertexto e o conhecimento por ele produzido, o texto apresentado deixa claro que o
hipertexto muda a noção tradicional de autoria, porque.

A) só o autor conhece o que eletronicamente se dispõe para o leitor.


B) o autor detém o controle absoluto do que escreve.
C) os limites entre o leitor e o autor.
D) propicia um evento textual-interativo em que apenas o autor é ativo.
E) é o leitor que constrói a versão final do texto

QUESTÃO 04
O hipertexto permite – ou, de certo modo, em alguns casos, até mesmo exige – a participação de diversos autores na sua
construção, a redefinição dos papéis de autor e leitor e a revisão dos modelos tradicionais de leitura e de escrita. Por seu enorme
potencial para se estabelecerem conexões, ele facilita o desenvolvimento de trabalhos coletivamente, o estabelecimento da
comunicação e a aquisição de informação de maneira cooperativa. .
Embora haja quem identifique o hipertexto exclusiva - mente com os textos eletrônicos, produzidos em determinado tipo de
meio ou de tecnologia, ele não deve ser limitado a isso, já que consiste numa forma organizacional que tanto pode ser concebida
para o papel como para os ambientes digitais. É claro que o texto virtual permite concretizar certos aspectos que, no papel, são
praticamente inviáveis: a conexãoimediata, a comparação de trechos de textos na mesma tela, o “mergulho” nos diversos
aprofundamentos de um tema, como se o texto tivesse camadas, dimensões ou planos. .
RAMAL, A. C. Educação na cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem. 2002.

Considerando-se a linguagem específica de cada sistema de comunicação, como rádio, jornal, TV, internet, segundo o texto, a
hipertextualidade configura-se como um(a).
.
A) elemento originário dos textos eletrônicos.
B) conexão imediata e reduzida ao texto digital.
C) modelo de leitura baseado nas informações da superfície do texto.
D) de manutenção do papel do leitor com perfil definido.
E) novo modo de leitura e de organização da escrita.

QUESTÃO 05

Texto Bíblico

Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita! (Lucas, 22)
(in: Bíblia de Jerusalém. 7ª impressão. São Paulo: Paulus, 1995)

Trecho de Canção

Pai, afasta de mim esse cálice!


Pai, afasta de mim esse cálice!
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue.

Um texto pode se revelar, na forma e/ou no conteúdo, como absorção e transformação de um ou mais textos. Por isto, quando ele
é lido, algumas de suas partes podem lembrar o que já foi lido em outro(s) texto(s). A essa relação de semelhança e superposição
de um texto a outro dá-se o nome de intertextualidade. Inúmeros autores extraem desse procedimento interessantes efeitos
artísticos. Comparando-se a primeira estrofe de “Cálice” com o texto bíblico, pode-se afirmar corretamente que

A) não há intertextualidade porque a estrofe transforma, semanticamente, a passagem evangélica, dando-lhe uma conotação
política.
B) não há intertextualidade porque, na estrofe, foi omitida a outra frase atribuída a Jesus.
C) não há intertextualidade porque, na estrofe, não há menção ao sentido condicional presente na primeira frase atribuí- da a
Jesus.
D) ocorre intertextualidade, mas apenas quanto aos elementos morfossintáticos da frase atribuída a Jesus.
E) ocorre intertextualidade porque a estrofe contém, na forma e no conteúdo, parte da passagem evangélica.

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO

QUESTÃO 01

(Uff 2011) Modinha do exílio

Os moinhos têm palmeiras


Onde canta o sabiá.
Não são artes feiticeiras!
Por toda parte onde eu vá,
Mar e terras estrangeiras,
Posso ver mesmo as palmeiras
Em que ele cantando está.
Meu sabiá das palmeiras
Canta aqui melhor que lá.
Mas, em terras estrangeiras,
E por tristezas de cá,
Só à noite e às sextas-feiras.
Nada mais simples não há!
Canta modas brasileiras.
Canta – e que pena me dá!

(Ribeiro Couto)

Os versos dos poetas modernistas e românticos apresentam relação de intertextualidade com o poema de Ribeiro Couto,
EXCETO em uma alternativa. Assinale-a.
a) “Vou-me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei / Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei” (Manuel
Bandeira)
b) “Dá-me os sítios gentis onde eu brincava / Lá na quadra infantil; / Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, / O céu do meu
Brasil!” (Casimiro de Abreu)
c) “Minha terra tem macieiras da Califórnia / onde cantam gaturamos de Veneza. / Os poetas da minha terra / são pretos que
vivem em torres de ametista,” (Murilo Mendes)
d) “Ouro terra amor e rosas / Eu quero tudo de lá / Não permita Deus que eu morra / Sem que volte para lá” (Oswald de Andrade)

e) “Em cismar, sozinho, à noite, / Mais prazer eu encontro lá; / Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o Sabiá.” (Gonçalves
Dias)

QUESTÃO 02

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem


Uma quentura, um querer bem, um bem
Um “libertas quaeseratamen”*
Que um dia traduzi num exame escrito:
“Liberta que serás também”
E repito!
(Vinícius de Moraes, “Pátria minha”, Antologia poética.)

*A frase em latim traduz-se, comumente, por “liberdade ainda que tardia”.

Considere as seguintes afirmações:


I. O diálogo com outros textos (intertextualidade) é procedimento central na composição da estrofe.
II. O espírito de contradição manifesto nos versos indica que o amor da pátria que eles expressam não é oficial nem conformista.
III. O apego do eu lírico à tradição da poesia clássica patenteia-se na escolha de um verso latino como núcleo da estrofe.

Está correto o que se afirma em


a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

QUESTÃO 03

Você sabia que com pouco esforço é possível ajudar o planeta e o seu bolso?
Ao usarmos a energia elétrica para aparelhos eletrônicos e lâmpadas também emitimos gás carbônico, um dos principais gases
do efeito estufa. Atitudes simples como trocar lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes e puxar da tomada os aparelhos que
não estão em uso reduzirão a sua conta de luz e as nossas emissões de CO 2 na atmosfera.

(Planeta sustentável: conhecimento por um mundo melhor)

(Mackenzie 2010) Assinale a alternativa que indica recurso empregado no texto.


a) Intertextualidade, já que se pode notar apropriação explícita e marcada, por meio de citações, de trechos de outros textos.
b) Conotação, uma vez que o texto emprega em toda a sua extensão uma linguagem que adota tom pessoal e subjetivo.
c) Ironia, observada no emprego de expressões que conduzem o leitor a outra possibilidade de interpretação, sempre crítica.
d) Denotação, pois há a utilização objetiva de palavras e expressões que destacam a presença da função referencial.
e) Metalinguagem, uma vez que a linguagem adotada serve exclusivamente para tratar da própria linguagem.

QUESTÃO 04

Ideologia

Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Frequenta agora as festas do “Grand Monde”

Meus heróis morreram de overdose


Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver

O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex anddrugs não tem nenhum rock ‘n’ roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem eu sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Agora assiste a tudo em cima do muro

Meus heróis morreram de overdose


Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver

(CAZUZA e ROBERTO FREJAT - 1988)

E as ilusões estão todas perdidas (v. 3)


Esse verso pode ser lido como uma alusão a um livro intitulado Ilusões perdidas, de Honoré de Balzac.
Tal procedimento constitui o que se chama de:
a) metáfora
b) pertinência
c) pressuposição
d) intertextualidade

QUESTÃO 05

Pai, afasta de mim esse cálice


Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta.
(Disponível em: Acesso em: 19 set. 2007.)
Durante a Ditadura Militar, a censura política funcionou como uma mordaça à liberdade de expressão no Brasil. Em função disso,
artistas de diversas tendências usaram a sua criatividade na produção de obras de forte apelo político, mas que, ao mesmo tempo,
preservavam a beleza estética. Um exemplo é a canção "Cálice", composta por Chico Buarque e Gilberto Gil, em 1973. Sobre a
expressividade poética e política dessa canção, é INCORRETO afirmar:
a) Ela explora o duplo sentido que se pode verificar na leitura do vocábulo "cálice", em razão da identidade fônica entre esta
palavra e a forma verbal do verbo "calar", na terceira pessoa do imperativo.
b) Percebe-se a manifestação de uma intertextualidade entre os três primeiros versos e o contexto bíblico da crucificação de
Cristo.
c) "Bebida amarga", no contexto da canção, metaforiza o contexto sócio-histórico em que ela foi composta.
d) A canção é um exemplo da bossa nova, um gênero musical que tentou extirpar qualquer influência norte-americana na música
popular brasileira.

QUESTÃO 06

A modernidade tem-se utilizado de meios expressionais que dialogam com diversas linguagens, produzindo pela intertextualidade
novos sentidos e novos diálogos. Identifique o comentário pertinente sobre a ressignificação promovida pela intertextualidade dos
fragmentos que se seguem.

a) Amor é fogo que arde sem se ver.


É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer.
Luís Vaz de Camões

O amor é o fogo que arde sem se ver.


É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
Legião Urbana, "Monte Castelo"

Os versos de "Monte Castelo" retomam três fontes distintas que remetem ao local de resistência (título da canção), à necessidade
imperiosa do sentimento fraterno (Apóstolo Paulo) e ao caráter contemplativo e dócil da vivência amorosa (Camões).

b) Quando nasci, um anjo torto


desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
Carlos Drummond de Andrade, "Poema das sete faces"

Quando nasci um anjo esbelto,


desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Adélia Prado, "Com licença poética"

Os versos de Adélia Prado retomam a imagem do "anjo", reproduzindo o caráter de aceitação do papel da mulher no contexto
social.

c) Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Gonçalves Dias

Nossas várzeas têm mais flores


nossas flores mais pesticidas.
Só se banham em nossos rios
Desinformados e suicidas.
Luiz FernandoVeríssimo

O fragmento retomado por Veríssimo - versos de "Canção do Exílio" - situa a realidade em que se insere, sob o ponto de vista
crítico, confrontando-se à visão ufanista do Romantismo.

d) Conselho se fosse bom, as pessoas


não dariam, venderiam.
Vá dormir que a dor passa.
Quem espera sempre alcança.
Provérbios e ditos populares.

Ouça um bom conselho


Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança.
Chico Buarque, "Bom conselho"

O fragmento de "Bom conselho" reforça pela linguagem poética o caráter moralista e educativo desses provérbios.

e) A feição deles é serem pardos, maneira d'avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma
cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como
também em mostrar o rosto Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha a el-rei d. Manuel

Senhor: Escrevo esta carta para vos dar conta dos sucessos da terra de Vera Cruz desde o dia de seu achamento até a
construção desta Brasília onde agora me encontro. Eu a tenho, Senhor, por derradeiro feito e última louçania da gente de cepa e
me empenharei em bem descrevê-la, nada pondo ou tirando para aformosear nem para enfear, mas só praticando do que vi, ouvi
ou me pareceu.
Segunda Carta de Pero Vaz de Caminha, a El Rei, escrita da Novel Cidade de Brasília com a data de 21 de abril de
1960. (Por Darcy Ribeiro)

O fragmento da carta de Darcy Ribeiro retoma o estilo detalhista e inventivo de Pero Vaz de Caminha, ao construir a imagem do
Brasil segundo o olhar europeu.

QUESTÃO 07

Leia o poema:

podem ficar com a realidade


esse baixo astral
em que tudo entra pelo cano

eu quero viver de verdade


eu fico com o cinema americano

O poeta Paulo Leminski neste poema usa de procedimento redundante em sua obra. Assinale a alternativa que identifica esse
procedimento:
a) intertextualidade.
b) ironia.
c) crítica à sociedade de massa.
d) fuga à realidade.
e) desejo de viver intensamente.

QUESTÃO 08
Clonagem
Parabenizo o jornalista Marcelo Leite pelo artigo "O conto das células de cordão" (Mais!, pag. 18,18/7).

A tecnologia de congelamento de células de cordão é muito bem dominada por alguns serviços médicos no Brasil há vários anos.
Logo, seria natural que migrássemos para esse campo. Mas, mesmo sendo factível a sua introdução, ficamos convencidos de que
essa seria uma área que só deveria ser implantada por instituições (preferencialmente públicas) responsáveis pelo tratamento de
um grande contingente de pacientes, pois só com um cadastro nacional abrangente poderiam ser atendidos aqueles com indicação
de transplante de medula óssea que não tivessem doadores relacionados disponíveis.
Infelizmente, foi com muito pesar que vi a proliferação de bancos de cordão voltados ao possível atendimento dos próprios
doadores do cordão (crianças saudáveis e provenientes de famílias com bons recursos financeiros), uma prática totalmente
desnecessária com pouca repercussão do ponto de vista da saúde pública.
Foi por esse motivo que nunca nos aventuramos nessa área.
Silvano Wendel, diretor médico do banco de sangue do Hospital Sírio-Libanês (São Paulo-SP)
FOLHA DE S. PAULO, São Paulo, 23 jul. 2004, p. A3, Painel do Leitor.

O título do artigo de Marcelo Leite "O conto das células de cordão" resume a tese de que a prática de doação de cordão umbilical
não tem favorecido aqueles que realmente necessitam de transplante de medula. O sentido construído no título é alcançado pelo
recurso de:
a) inversão, construída pelo emprego das palavras "células" e "conto".
b) oposição, provocada pelo uso da palavra "cordão" que tem duplo sentido.
c) paródia, construída pela explicação do que vêm a ser as células de cordão.
d) intertextualidade, marcada pelo uso de termos que recuperam elementos dos contos de fadas.
e) contradição, provocada pelo uso dos termos "cordão" e "células" que remetem a domínios diferentes.

QUESTÃO 09

Leia os versos abaixo, parte do "Poema de Sete Faces", de "Alguma Poesia":

"Mundo mundo vasto mundo,


mais vasto é meu coração."

Se considerarmos que Tomás Antônio Gonzaga é autor do verso "Eu tenho um coração maior que o mundo", podemos afirmar
que, nos dois versos de Drummond acima transcritos, existe:
a) mera cópia do verso de Tomás Antônio Gonzaga.
b) plágio visível do verso de Tomás Antônio Gonzaga.
c) intertextualidade flagrante com o verso de Tomás Antônio Gonzaga.
d) apropriação indevida do verso de Tomás Antônio Gonzaga.

QUESTÃO 10

Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a "Canção do Exílio".
Como era mesmo a "Canção do Exílio"?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá!
(Carlos Drummond de Andrade, "Europa, França e Bahia", ALGUMA POESIA)

Neste excerto, a citação e a presença de trechos..............constituem um caso de..............

Os espaços pontilhados da frase acima deverão ser preenchidos, respectivamente, com o que está em:
a) do famoso poema de Álvares de Azevedo / discurso indireto.
b) da conhecida canção de Noel Rosa / paródia.
c) do célebre poema de Gonçalves Dias/ intertextualidade.
d) da célebre composição de Villa-Lobos/ ironia.
e) do famoso poema de Mário de Andrade / metalinguagem.

Gabarito: 1) a / 2) c / 3) d / 4) d / 5) d / 6) c / 7) b / 8) d / 9) c / 10) c

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