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– Baruk Mirlos
As ruas fétidas da cidade de Begbor exalam um cheiro predominante dentre vários, a
conspiração. Esta que existe por diversos motivos e intenções, poder, fama, mistura inflamável
de politica e religião, as consequências não atingem apenas sua estrutura física, mas também
as vidas que fazem bater o coração econômico e sua imponência.
Em tempos obscuros onde não se sabe as razões das brumas pairarem com tanta
frequência em seu solo, às mudanças repentinas das mentalidades e ações das pessoas que há
muito ali fazem de Begbor seu lar cometendo suas almas do estigma negro que exala de seu
atual governante, a traição apunhalada os aliados, a vingança derrama o sangue de familiares
pelas vielas, os anciões brincam com sua população como em um jogo de xadrez, inúmeros
viajantes que passam trazendo maus agouros e indesejáveis atividades com a fiel intenção de
tirar proveito da caótica situação econômica e de suas vitimas.
Enquanto a maioria dos antigos moradores da região se perde em pensamentos e
lembranças saudosistas dos pioneiros clérigos e pescadores que ergueram as paredes da
cidade através de inúmeros esforços e suor derramado, glorificam o auge que não esta mais
presente, é nítido a realidade nas paredes já abatidas pelos inúmeros ataques sofridos, as
encrostas de musgo e limo nas pontes que atravessam o canal, os corpos decaídos sobre o
chão dos desfortunados abatidos pela miséria enquanto charretes e carroças passam com
abastada carga de valor e suprimentos, alimentos que rega a antiga corte e os aristocratas.
O cenário de desequilíbrio tem catálogo e preço, acessível apenas para os donos de
comércio, aos destemidos aventureiros que cruzam as terras infestadas de monstros de
Xanadur, o império estabelecido de Dracohell nunca tem sido mais nefasto e cruel com seus
habitantes como hoje. Alguns persistem com vivacidade tendo seu pilar o principal direito de
qualquer criatura que é justamente o direito de desejar viver, estes continuam buscando
formas de sobreviver independente das premissas que as lendas trazem sobre os
arrebatamentos dos corações cruéis pelas temíveis brumas que cercam o continente desde a
sua origem.
Crianças abandonadas e criadas nas ruas é um panorama comum aos olhos dos que
andam pela cidade, algumas são levadas as forças pela guarnição para um velho orfanato da
região, alguns possuem pais e acabam soltas, outras acabam perdendo estes devido a fome e
doenças afinal de contas foi‐se o tempo em que a igreja local, o Templo do Aurora, servidores
do Senhor do Amanhecer não descem seus límpidos “solos sagrados” para ajudar
efetivamente os necessitados, seus feitos são considerados instintos por quase todas as
línguas dos populares.
Os que perdem seus parentes descobrem cedo sobre a astucia da sobrevivência e
procuram manobras e subterfúgios para escaparem das mãos dos guardas em patrulha ou que
vem a pedido dos que simplesmente rejeitam cruzar o caminho com alguém que consideram
não merecer coexistir com quem possui um teto, enxotado por sua aparência miserável
comparável a um animal carnicento que a pele se fundiu aos ossos por não ter alimento.
Dentre estes encontramos hoje um formado nas dificuldades politicas e sociais que
regem a orquestra de horrores e crueldades, um jovem adulto de aparência ordinária,
indistinguível da multidão, rosto comum aos olhares de julgamento e não é um fato que
espanta, afinal a muito tempo precisou abandonar o falso conceito de humanidade que ainda
é pregado de forma hipócrita pelas pessoas como se houvesse algum bem para se defender na
batalha maquiavélica contra o mal.
Absteve um dia de sua própria luz, a luminescência derivada da esperança, este jovem
é Baruk Mirlos, que apesar das dificuldades enfrentadas sempre se encantou com pequenas
coisas como, por exemplo, o balançar das arvores pelo vento, como as gotas caiam dos céus
em dias de tempestade, a capacidade de movimento das carroças através das rodas. Fatos
rotineiros que preenchiam e distraiam sua mente para descobrir como as coisas funcionam,
seu interesse era inato, sempre que havia uma oportunidade observava atentamente as
pessoas trabalhando e procurava acompanhar cada passo, principalmente daqueles que
tinham a capacidade de consertar ferramentas que perderam sua utilidade.
Muitas vezes quase foi apanhado pelos vigilantes mas mesmo assim não desistia de
aproveitar estes pequenos momentos de felicidade, quando encontrava objetos de seus
interesses em meio a pequenos furtos que efetuava contra viajantes desatentos como uma
bussola, fazia questão de desmontar para ver como funcionava, retirando atentamente suas
partes e montando novamente. Em meio a esses furtos afanou de uma algibeira de um bêbado
que passeava em plena madrugada cambaleando, um estojo couro enrolado de peso
considerável para uma criança e estranhou no instante, porém procurou um jeito de se
esconder.
Desembrulhou o estojo e avistou inúmeras pequenas ferramentas de ferro que tinha
certeza que era de precisão, mas não soube o que era, escondido perto de entulhos na
encosta dos pés das torre do moinho adormeceu, o sol raiou seu brilho nos olhos do garoto
que animado e curioso sacou o estojo novamente e conseguiu ver melhor o que eram as
ferramentas, seus olhos atentos já tinham visto um senhor utilizar para resolver a situação de
uma fechadura emperrada, eram ferramentas de trancas!
Por muito tempo vagando pelas ruas, um belo dia notou um cadeado que estava
destrancado em uma das carroças que acabava de ser revistada pela guarnição nos portões e
seguiu atentamente até o local e no primeiro momento oportuno o afanou. Fora seu primeiro
cadeado e estudou minuciosamente seu funcionamento até estraga‐lo por completo,
desmontou então para ver sua estrutura, seu fascínio pelas mecânicas de cadeados e trancas o
fez estudar cada vez mais e ao tempo que crescia encontrou barreiras em seus objetivos, afinal
de contas não conseguia se esconder tão bem quanto antes devido ao seu tamanho.
Foi necessário deixar a vida de pequenos furtos e se aventurar em busca de trabalhos
que o favorecesse a estudar melhor e ter ajuda, os gatunos da região observavam os feitos do
pequeno e ofereceram proteção e dinheiro para que ele continuasse a fazer o sabia de melhor,
operar mecanismos. Sua convivência com o submundo não era por ambição e poder, mas para
que pudesse ter oportunidades, sua vida nas ruas não o permitia confiar totalmente em algo,
tinha a sagacidade para entender que assim queria utilizar delas, ele também estava sendo
usado como ferramenta.
Ao longo dos anos procurava sempre se desafiar, aceitava missões que muitos temiam,
assaltos a tumbas, invasão de tuneis antigos e devido aos seus intensos estudos, desejou
aprender sobre mecanismos maiores como os de armadilhas contra invasores, placas de
pressão, pêndulos, disparadores de flechas, engrenagens, temporizadores, armadilhas
camufladas em propriedades, seus feitos alcançaram um ponto que se tornou um requisitado
armadilheiro para diversas guildas, nunca estabeleceu raízes, contudo, abriu inúmeras portas
de oportunidades como sempre fizera.
Valente e interessado progrediu seus dias vivendo uma vida simples e de aventuras
que o fizeram aprender mais, dotado de prudência porém entusiasmo enfrentou suas
dificuldades e esquecera a vida miserável como um cão de beira de estrada, sua mente busca
conhecer cada dia mais sobre as tecnologias e avanços das mecânicas que rodeiam o mundo
que o cerca. O ordinário, homem comum, permanece como um fantasma para a sociedade
que anda pelas ruas de Begbor seus vislumbres e anseios nunca foi e nunca serão
compartilhadas as pessoas, sua fama no submundo é conhecida pelos olhos que o observam,
mas nunca ouviram de sua boca, as palavras que admitiam seus desejos e sonham.
Adotou para si a aparência e comportamento daquilo que manejava muito bem, uma
ferramenta, o que complementa seu coração é o seu autoconhecimento, a satisfação de
alcançar um objetivo é guardado para si, sendo assim, avalia todo o cenário antes de tomar
uma decisão, é imparcial e indiferente as necessidades alheias, é necessário que uma luz surja
em sua mente como uma lâmpada para que se coloque a risco, caso contrário, não hesitará
em rumar em direção oposta para assegurar que viva mais um dia.
A inocência inexiste em Baruk desde que se conhece por gente e permanecerá assim,
seus árduos dias de sobrevivência forneceram formação ao jovem ao investir tempo
estudando sobre os escritos encontrados em suas aventuras e principalmente quando o
desafio era grande, perdia um dia mas retornava para se fortalecer e superava o obstáculo,
tornou‐se fluente nas línguas mais comum de reconhecidos armadilheiros por natureza, os
elfos e os anões.
Suas inspirações nos livros o fizeram escolher seu nome, “Otto Baruk, O Aventureiro”,
possui em suas paginas as maravilhas que os olhos puderam descobrir em suas caminhadas
nas terras distantes, do Novo Mundo como chamava carinhosamente o horizonte que
desafiava com coragem o desconhecido fora de suas terras e um estudioso sobre as ciências
mecânicas desenvolvidas por Mirlos Haduma, que exemplificava em cálculos como tudo
funcionava.
Pelos gatunos é conhecido simplesmente Baruk, O Sagaz, nunca mencionou aos outros
sobre seu sobrenome que adota com carinho para si para nomear o seu eu interior e sua
mente pensante. Em seu tempo nas tavernas aproveitando seus livros e bebendo uma boa
cerveja, ouviu inúmeros contos sobre Jafar e os feitos antes das trevas se tornarem intensas
em Begbor principalmente de um homem chamado Wilton, o pescador. Sempre atento a
conversa aos redores enquanto lia, acabou entre idas e vindas a Bruxa e a Caneca ouvindo
diversos relatos de aventureiros os quais serviam de base para sua balança racional para
escolher quais missões fossem dadas futuramente.
Baruk não possui uma fé estampada, porém, por sempre estar em contato com
viajantes com diversas histórias e locais distantes, por sua admiração a Otto Baruk que conta
nas suas aventuras sobre os templos e totens encontrados em tributo a Fharlanghn, que seria
dito por muitos como o Deus das estradas, se for para ele acreditar em alguma divindade seria
esta, afinal vigia o caminho de muitos sempre zelando sem julgar suas intenções e essa atitude
é valorosa para ele, seu senso crítico parte muito do equilíbrio assimilando ao seu
entendimento de que tudo no mundo precisa ter um funcionamento, para que exista é
necessários coexistir com outras partes para isso aconteça.
Nos dias de hoje, aos 25 anos Baruk permanece em vista de seus objetivos pessoal sem
se atar a raízes e amigos, devido ao decaimento da cidade busca como sempre um contato que
fale com ele na taverna enquanto le seus livros para que algo possa buscar sua atenção e se
aventure em busca de desafios que elevem seu conhecimento em mecanismos, possui seus
bens acumulados através de suas missões mas sem muito interesse material, carrega apenas o
que é necessário para sobreviver em meio as turbulências que é preciso enfrentar assim como
Otto, O Aventureiro.