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A Graça de Ofertar 2 Coríntios 9

U m dos principais ministérios da terceira viagem missionária de Paulo foi recolher uma
"oferta especial" aos cristãos necessitados da Judéia. Paulo já os havia ajudado dessa maneira
anteriormente (At 11:27-30), e se alegrou em poder fazê-lo novamente. É bastante
sugestivo que tenha sido Paulo a se lembrar da "bem-aventurança esquecida" de Jesus
Cristo: "Mais bem-aventurado é dar que receber" (At 20:35).

Além da assistência material aos pobres, Paulo tinha outras bênçãos em mente. Desejava
que essa oferta fortalecesse a unidade da Igreja pela partilha de recursos dos gentios
com as congregações de judeus do outro lado do mar. Para o apóstolo, os gentios eram
"devedores" dos judeus (Rm 15:2528), e a coleta especial era uma forma de pagar essa
dívida.

Essa oferta também deveria servir de evidência aos cristãos judeus (alguns dos quais ainda se
mantinham extremamente zelosos com respeito à Lei) de que Paulo não era inimigo dos
judeus nem de Moisés (At 20:17ss). Logo no início de seu ministério, Paulo havia
prometido lembrar-se dos pobres (Gl 2:610), e havia se esforçado para cumprir essa
promessa; mas, ao mesmo tempo, esperava que a generosidade dos gentios acabasse
com a desconfiança dos judeus.Infelizmente, os coríntios não faziam a parte deles. Como
tantas pessoas, fizeram promessas, mas não as cumpriam. Na verdade, um ano inteiro fora
desperdiçado (2 Co 8:10). O motivo dessa procrastinação era a falta de espiritualidade da
igreja. Quando uma igreja não é espiritual, também não

judaizantes, que provavelmente arrancavam do povo o máximo de dinheiro que podiam (2


Co 11:7-12, 20; 12:14).Paulo sabia que seria difícil fazer os coríntios participarem, de
modo que elevou seu apelo ao mais alto nível espiritual possível: ensinou-lhes que
contribuir era um ato de graça. Paulo usa nove palavras diferentes para referir-se à oferta,
mas a que emprega com mais freqüência é graça. Contribuir é, verdadeiramente, um
ministério e um ato de comunhão (2 Co 8:4) que ajuda a outros, mas a motivação deve
vir da presença da graça de Deus no coração. Paulo sabia que essa coleta era uma dívida
que os gentios tinham para com os judeus (Rm 15:27) e também um fruto de sua vida cristã
(Rm 15:28); no entanto, ia além: era a obra da graça divina no coração humano.

É maravilhoso quando os cristãos participam da graça de contribuir, quando crêem


verdadeiramente que é mais bem-aventurado dar do que receber. Como podemos descobrir
se estamos "ofertando peia graça"?

Paulo indica uma série de evidências de que nossa contribuição é motivada pela graça.

1 . Contribuímos apesar das circunstâncias (2 Co 8:1, 2)

As igrejas da Macedônia que Paulo usa como exemplo haviam passado por grandes
dificuldades, no entanto haviam contribuído generosamente. Não apenas sofreram
"aflições", mas também experimentaram "muita prova de tribulação" (2 Co 8:2).
Encontravam-se em profunda pobreza, expressão que significa "miséria absoluta". O termo
grego descreve um mendigo que não tem coisa alguma, nem mesmo esperança de
receber algo. É possível que sua situação difícil fosse decorrente, em parte, de sua fé
cristã, pois talvez tenham perdido empregos ou sido excluídos das associações comerciais
por se recusaram a ter qualquer envolvimento com a idolatria.

No entanto, suas circunstâncias não os impediram de contribuir. Pelo contrário: deram


com alegria e generosidade! Nenhum computador é capaz de analisar essa fórmu-

As doações cristãs—coleta para os santos pobres de Jerusalém(8:1-9:15)

1 . Que seguissem o exemplo dos macedônios (8 :1 -6)

2 . Que seguissem o exemplo da generosidade de Cristo (8:7-15)

3. Tito os encorajaria quanto a isso (8:16-24)

4. Que contribuíssem bem, e Deus os recompensaria liberalmente (9:1-11)

5. Dar é uma obra espiritual que leva o crente a louvar a Deus (9:12-15)

Para Paulo, a coleta para os santos pobres de Jerusalém evidentemente era matéria de
grande importância, se levarmos em conta o espaço dedicado à questão, nas páginas do N.T.
(A nota de sumário sobre o assunto, e que alista todos os versículos que encerram o tema, se
encontra em Rom. 15:25). Várias são as razões peleis quais essa coleta era importante para
Paulo, e as notas expositivas mencionadas abordam as mesmas. Paulo empregou sete
vocábulos diferentes para referir-se a essa coleta. (Quanto'a uma lista dessas palavras, no
original grego, e onde elas foram utilizadas, ver I Cor. 16:1. Quanto a outros temas, sugeridos
por essa questão, ver as seguintes notas expositivas: Sobre a questão do «dizimo», ver I Cor.
16:2; sobre as questões de «dinheiro na igreja», ver I Cor. 16:3. Quanto a um estudo
completo sobre a questão dessa coleta, ver os quatro trechos, no N.T. onde a questão é
esclarecida, cada um dos quais acrescenta algum detalhe ao nosso conhecimento total sobre a
matéria: Rom. 15:26,27;. Atos 24:17; I Cor. 16:1-3 e os capítulos oitavo e nono da presente
epístola). Os capítulos oitavo e nono desta epístola abordam o problema inteiro das «esmolas
cristãs», e assim, têm uma importância toda sua. Assim sendo, há o exemplo do dar a outros,
em II Cor. 8:1-6; há o exemplo da generosidade de Cristo, em II Cor. 8:7-15. Há a questão do
ministério de Tito, nesse particular, em II Cor. 8:16-24. Há o fato que Deus galardoa
liberalmente àqueles que contribuem com liberalidade, em II Cor. 9:1-11. Ê há o ensino que
o dar é uma obra espiritual que leva os beneficiados a louvar a Deus, em II Cor. 9:12-15. Esses
dois capítulos, pois, formam nosso melhor estudo neotestamentário sobre o assunto, pelo
menos se estamos considerando textos isolados.
Seja como for, parece que os crentes coríntios não davam com liberalidade. (Ver os trechos
de II Cor. 11:9; 12:13; I Cor. 9:11,12 e 16:4).

16:1: Ora, quanto ò coleta para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas
da Galácia.

É interessante observar que Paulo se utiliza de sete palavras diferentes, ao referir-se a essa
coleta, a saber: «coleta» (logeia), em I Cor. 16:1; «dádiva»,no sentido de liberalidade
(charis), em I Cor. 16:3 e II Cor. 8:4; «assistência» (Koinonia), em II Cor. 8:4; 9:13 e
Rom. 15:26; «serviço» (diakonia), em II Cor. 8:4 e 9:1,12,13; «abundancia» (adrotes), em II
Cor. 8.20,^ «bênção» ou «benefício» (eulogia), em II Cor. 9:5; «serviço», «rito», «serviço
sacrificial» (leitourgia), em II Cor. 9:12. E em Atos 24:17 ha ainda uma outra palavra, dentro
do discurso de Paulo, onde ele se refere a questão, isto e, «eleemosunai», «esmola», «ato
de misericórdia».

O recolhimento dessa oferta parece ter ocupado as atenções de Paulo desde 53 ate 56
d.C., a julgar pelas supostas datas de suas epístolas que mencionam essa coleta. O trecho
de Gal. 2:10 é talvez a primeira menção registrada acerca desse empreendimento; e existem
boas evidencias que a epístola aos Gaiatas foi o primeiro livro que Paulo escreveu. (Ver a,
introdução a epístola aos Gaiatas, sob «Data»).

«...santos... » é um termo comum aplicado aos crentes, e não meramente aos membros da
igreja-mãe de Jerusalém. (Ver notas expositivas completas sobre essa questão, em Rom. 1:7).

«...como ordenei...» Essas palavras certamente deixam-nos entrever a autoridade de Paulo


na igreja, como apóstolo, porque não era qualquer líder cristão que podia agir assim, ou
que faria tal coisa. Que Paulo foi capaz de convocar até mesmo a igreja em Roma, que ele
nunca visitara, nesse empreendimento, mostra-nos a mesma coisa. Tal ousadia, sem
dúvida alguma, era algo que seus detratores usaram contra ele, em seus direitos
apostólicos.

Pode-se ver a diplomacia de Paulo neste ponto. No dizer de Bengel (inloc.): «Ele apresenta
os gálatas como exemplo aos coríntios, os coríntios como exemplo aos macedônios, e os
coríntios e macedônios como exemplo aos romanos. (Ver II Cor. 9:2 e Rom. 15:26). Grande
é o poder do exemplo».

16:2: No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder,
conforme tiver prosperado, guardando-o, para que se não façam coletas quando eu chegar.

Encontramos aqui a questão da adoração cristã no «domingo». «...No primeiro dia da


semana...» A expressão literal aqui diz «em um (dia) do sábado (descanso)»; mas isso é
uma expressão idiomática do hebraico, que significa primeiro dia da semana, conforme é
coerentemente traduzida.

Segundo essa expressão idiomática, «sábado» era palavra usada para indicar «semana».
Assim sendo, o primeiro dia do sábado equivale ao primeiro dia da semana, isto é, o
domingo. Muitos intérpretes têm pensado que essas palavras indicam que as reuniões
regulares dos cristãos haviam sido transferidas para o primeiro dia da semana (domingo);
e mui provavelmente esses intérpretes estão com a razão. (Quanto ao «Dia do Senhor»,
que também significa «domingo», como um dia apropriado para a adoração dos cristãos, ver
as notas expositivas sobre Apo. 1:10 e Atos 20:7).

Sabemos que pelo menos desde os tempos de Justino Mártir (ver Apologia 1.67.6), eram
recebidas contribuições nas reuniões dos cristãos, que eram efetuadas no primeiro dia da
semana; e é provável que a referência que temos perante nós indique a mesma coisa,
ainda que não seja especificamente dito aqui que esse era o dia da adoração. Não obstante,
o primeiro dia da semana é destacado como um dia especial; e é bem possível que seu caráter
sem-par se devesse mais do que por ser um dia conveniente para que os crentes pusessem de
lado suas contribuições e ofertas, para os necessitados. A verdade é que os cristãos
primitivos se reuniam a cada primeiro dia da semana para adorarem; e visto que todos
estavam reunidos em um só lugar, era aquele um momento conveniente para contribuírem
para a coleta com as suas ofertas voluntárias. Não há qualquer indicação, nem aqui e nem no
resto dos escritos de Paulo, que estivessem em foco os dízimos; pois parece que o dízimo não
era instituição entre as igrejas gentílicas. O crente sincero, porém, certamente contribuirá ao
menos com essa décima parte, mesmo que não se trate de um princípio claramente
ensinado no N.T.

Levanta-se aqui a questão dos dízimos: «...conforme a sua prosperidade...» Essas palavras
indicam a lei das doações, dentro do novo pacto, embora seja vinculada a uma
circunstância especial, neste versículo. Não seria coerente para Paulo apelar para a lei
judaica do «dízimo», porquanto Cristo é o fim da lei para aqueles que crêem. E também não é
provável que Paulo se deixasse impressionar pelo argumento que o «dízimo» era mais
antigo que a legislação mosaica. Pois, embora isso expresse uma verdade, também fazia parte
importante da lei. O fato que o apóstolo dos gentios, em suas muitas determinações e
menções de questões monetárias, nunca mencionou o dízimo, e nem se utilizou desse
princípio como sustento para os ministros do evangelho (conforme sucede nos tempos
modernos), mostra-nos que ele não considerava o dízimo como algo obrigatório para os
crentes do novo pacto. (Ver o nono capítulo da primeira epístola aos Coríntios sobre esse
assunto, sobretudo os versículos sétimo a décimo primeiro do mesmo, onde, embora a
«lei» seja mencionada, nada é especificamente baseado sobre a mesma, como uma
«percentagem» que deva ser entregue à igreja local). As doações para a causa de Cristo
deveriam ser feitas, assim sendo, dentro do espírito da liberdade cristã, segundo os
propósitos, a iluminação espiritual e a prosperidade de cada um. Entretanto, para
qualquer crente, contribuir com menos de dez por cento é uma contradição com a
dedicação que nos convém. De fato, a liberdade e a consciência cristãs deveriam impelir o
crente de contribuir com mais do que dez por cento de suas rendas. Contudo, se algum
crente ou alguma igreja local pensarem que dez por cento é uma quantia razoável, e assim
pregarem, não estarão agindo erroneamente. Ao assim fazerem, poderão até mesmo frisar
a prática historiada no A.T., o que mostra que era umá prática razoável e boa. Nada há
de errado por seguirmos esse exemplo; mas o dízimo jamais deveria ser pregado como
uma espécie de «regra cristã». Porque fazê-lo é favorecer o legalismo.
Não obstante, as contribuições dos crentes para o sustento da igreja não se deveriam basear
sobre alguma forma de sentimento benévolo impulsivo. Portanto, deveria haver plano e
propósito para a obra da igreja, porquanto o cristianismo não pode existir sem essas
contribuições; e as «necessidades» das igrejas cristãs são regulares e constantes, e não
esporádicas. «A beneficência cristã deve ser resultado de um ‘princípio fixo’, e não de um
‘impulso ocasional’». (Vincent, in loc.).

A questão da separação de uma quantia, que seria dada em contribuição, mui provavelmente
era uma questão privada. Pouco a pouco as quantias deveriam ser recolhidas; e então todas
deveriam ser reunidas. Mas, apesar disso ser uma verdade, as coletas nas igrejas mui
provavelmente ocorriam no primeiro dia da semana. E a referência que aqui
encontramos mostra-nos algo de especial naquele dia, para os cristãos primitivos, sem
dúvida alguma porque foi nesse dia—o primeiro da semana—que o Senhor Jesus ressuscitou
dentre os mortos. Mas alguns intérpretes pensam que as palavras «...ponha de parte...»
indicam a deposição de ofertas em receptáculos na igreja, ainda que esse recolhimento
fosse feito pouco a pouco. .«...para que se não façam coletas quando eu for...» E isso porque
Paulo antecipava que necessitaria de uma quantia substancial para ser levada aos santos
pobres de Jerusalém, o que não poderia ser obtido sob a pressão de um tempo limitado. E o
próprio apóstolo não teria tempo para encetar essa forma de campanha, ao chegar em
Corinto. A responsabilidade pela coleta, com essa instrução de Paulo, recaía sobre os
líderes locais da igreja de Corinto. Paulo queria ocupar-se de outro tipo de trabalho em
Corinto; os líderes locais poderiam ocupar-se daquela tarefa.

16:3: E, quando tiver chegado, mandarei οs que por carta aprovardes para levar a vossa
dádiva a Jerusalém;

A palavra «...cartas... » indica «cartas de recomendação» para que servissem de credenciais


para os portadores do dinheiro. Mui provavelmente essas cartas conteriam informações sobre
o montante que era levado pelos seus respectivos portadores, a fim de que não houvesse
qualquer dúvida quanto à honestidade dos mesmos. E essas cartas certamente seriam
endereçadas a membros de responsabilidade da igreja de Jerusalém. A igreja de
Jerusalém, por sua vez, receberia toda a quantia que houvesse sido recolhida.

Os capítulos oitavo e nono da segunda epístola aos Coríntios mostram-nos o quanto


Paulo tinha consciência da delicadeza do manuseio de tal questão; por essa mesma razão
é que o apóstolo desejava resguardar-se de qualquer ocorrência desagradável no tocante a
essa coleta.

Não é de forma alguma impossível que alguns dos inimigos de Paulo, em Jerusalém ou em
Corinto, estivessem ansiosos por acusá-lo de alguma espécie de tentativa de enriquecer-
se pessoalmente às custas dos contribuintes, ficando com parte da coleta. Os portadores
e as cartas de apresentação haveriam de protegê-lo de tais acusações.«...aqueles que
aprovardes...» Os indivíduos enviados deveriam ser membros de confiança na igreja de
Corinto, aprovados pela congregação. E isso seria uma medida de segurança, que assegurava
a entrega do dinheiro de modo a não levantar qualquer suspeita. Mui provavelmente, os
crentes mencionados na passagem de Atos 20:4 se encontravam entre aqueles que finalmente
acompanharam Paulo até Jerusalém, levando essa oferta. É deveras curioso o fato que
nenhum membro da igreja de Corinto tenha sido mencionado. A lista de Lucas, porém, é
apenas parcial, ou uma delegação diferente pode ter levado a contribuição dos coríntios,
sem conhecimento de Lucas, razão pela qual não foram mencionados. Mas o quarto
versículo deste capítulo mostra-nos que Paulo ainda não havia podido resolver se
acompanharia ou não os portadores das ofertas de várias igrejas gentílicas. O fato que ele
evidentemente assim fez é uma evidência de quão importante toda essa questão era para ele.

É preciso grande cuidado na questão de dinheiro, na igreja cristã. Os versículos segundo


a quarto deste capítulo, e que abordam questões de negócios, servem de lição para
nós, ensinando-nos que as igrejas locais devem seguir métodos financeiros seguros,
exercendo grande cuidado em todas as questões financeiras. O apóstolo nos deixou
excelente exemplo a esse respeito. A questão do dinheiro pode transformar-se em um
problema delicado e perturbador para qualquer comunidade religiosa. Salvaguardas deveriam
ser exercidas de tal modo que o dinheiro seja mantido em segurança, ficando fora do
alcance de homens desonestos, até mesmo pertencentes às congregações locais; e também
para que todas as transações sejam conhecidas por todos os membros, a fim de que
nenhuma dúvida venha a surgir, o que só poderia gerar perturbações. É uma boa idéia seguir
o princípio democrático que os batistas defendem, em todas essas questões.

Qualquer despesa, como a compra e a venda de propriedades, além de outros negócios


que envolvam quantias de dinheiro apreciáveis, só deveria ser efetuada com o voto dos
membros da congregação local. Embora não disponhamos de qualquer orientação bíblica
específica acerca desse particular, esse método apela para o bom senso.«...dádivas...» No
grego original encontramos o vocábulo «charis» («graça»), uma das sete palavras diferentes
que Paulo usa para referir-se às coletas para os pobres. (Ver as notas expositivas sobre o
primeiro versículo deste capítulo, quanto a esses vários termos).

Não há que duvidar que Paulo escreveu muitas cartas de várias modalidades, incluindo
epístolas de instrução, que se perderam para nós. Entretanto, não devemos imaginar que
qualquer ensinamento paulino importante foi omitido naquelas epístolas que dele
possuímos, embora alguma doutrina possa ter sido tratada mais extensamente, em
alguma dessas possíveis cartas perdidas.

8:1: Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus que foi dada às igrejas

da Macedônia;

(Quanto a notas expositivas sobre a «Macedonia», ver Atos 16:9). Filipos

era a principal comunidade cristã daquela região. (Quanto a notas

expositivas sobre essa cidade, ver Atos 16:12). Na Macedonia também havia

os outros importantes centros cristãos da Tessalônica e da Beréia.

«... conhecer a graça de Deus...» Está em foco aqui aquele favor divino
que fora exibido por meio do evangelho, nos diversos distritos da

Macedonia, favor esse comprovado pelo fato que muitos daquela região

seguiam a fé em Cristo. A graça divina serve de fundamento para todas as

promessas do evangelho, começando pelo perdão dos pecados, até

finalmente levar os remidos à conformidade com a imagem moral e

metafísica de Cristo. (Ver Efé. 1:23). Essa «liberalidade» da graça divina

deveria provocar uma liberalidade correspondente, da parte daqueles que

tinham sido por ela privilegiados. O que Paulo apresenta aqui é uma forma

de argumento. (Quanto a notas expositivas completas sobre o sentido da

palavra «graça», ver Efé. 2:8, onde essa palavra e o conceito que ela

representa são comentados).

A graça de Deus é «...concedida...» no grego, «didomi», palavra comum

que significa «dar», o que, no contexto evangélico, deve significar que foi «divina» e
«gratuitamente» outorgada, a fim de corresponder ao conceito da

graça. Naturalmente que todos os dons divinos devem ser acolhidos com a

anuência do livre-arbítrio humano, porquanto esses dons não são forçados a

ninguém. A palavra «concedida», naturalmente subentende que toda essa

experiência está para além do alcance das realizações humanas. Levar os

homens a se conformarem com Cristo, a fim de se tornarem membros da

família de Deus, é uma obra divina.

A menção da graça de Deus, que foi proporcionada aos crentes coríntios,

tinha por intuito finalmente mostrar-lhes que essa. graça requer a reação

acolhedora, e que, por sua vez, ela gera o espírito de generosidade. Isso

sucedera no caso dos crentes da Macedonia. Paulo tinha a esperança que

isso também acontecesse na experiência dos coríntios. A origem da

liberalidade cristã é o refleto da liberalidade de Deus para com os homens.

Aqueles que compartilham igualmente dessa liberalidade deveriam

mostrar-se liberais para com seus semelhantes que padecem necessidade. A


ênfase que Paulo deposita sobre a origem divina da liberalidade também

talvez tenha o propósito de desconsiderar comparações entre as igrejas, no

tocante a essa questão, porquanto Deus merece o crédito, afinal de contas,

no caso de todas essas expressões.

8:2: como, em muita prova de tribulação, a abundância de seu gozo e a sua profunda

pobreza abundaram em riquezas da sua generosidade.

«...m uita prova de tribulação... » Lívio (xiv.30) informa-nos que os

romanos haviam desnudado a Macedonia de suas riquezas, apossando-se

do ouro e da prata que havia nas minas, impondo pesados impostos sobre os

produtos e as indústrias, como as minas de cobre e ferro e as fundições.

Também haviam explorado o sal e a madeira. E tudo de forma tão completa

que os macedônios diziam de sua própria nação que se tornara como «um

animal lacerado e desconjuntado». Além disso, no caso dos crentes, parece

que houve perseguições empobrecedoras.

«...prova...» Um «teste», mediante o qual se costumava aquilatar a

pureza dos metais, a «genyinidade» das coisas. Porém, essa palavra também

é usada com um sentido geral para indicar todos os tipos de testes e provas.

«...tribulação...» No grego temos o termo «thlipsis», «pressão»,

«compressão», ou seja, «aflição», «aperto», «angústia».

«...abundância de alegria...» A forma verbal é «perisseo», que significa

«mais do que suficiente», «excesso», «transbordamento». Por conseguinte,

apesar dos crentes macedônios terem sido reduzidos a uma pobreza

extrema, contudo estavam tão cheios de júbilo que transbordavam de

alegria. (Quanto a notas expositivas sobre a «alegria cristã», ver os trechos

de João 15:11 e 17:13 e as notas expositivas ali existentes).

Alegria Sem Dinheiro

1. O mundo outorga um valor quase todo-poderoso ao dinheiro; pois,


este, no mundo, realmente pode comprar quase tudo. Mesmo que uma

pessoa não possa sentir-se feliz com suas riquezas, pelo menos poderá estar

em conforto, em meio à sua infelicidade.

2. De alguma maneira, os crentes macedônios, cujas terras haviam sido

pilhadas—tendo eles ficado empobrecidos, portanto—a despeito das

perseguições sofridas, conseguiram achar alegria. Isso se dá em razão do

fato de que a alegria é produto do cultivo do Espírito (ver Gál. 5:22),

ultrapassando, por isso mesmo, o alcance e o entendimento humanos.

Consiste da certeza, que a alma remida tem, de que «Deus está nos céus e

tudo corre bem na terra». Consiste do senso espiritual do bem-estar, o qual

perdura através e a despeito das tribulações, porquanto, não depende das

circunstâncias terrenas.

3. —Indivíduos mundanos pensam que a solução dos problemas

financeiros é, por si mesma, a descoberta da felicidade. Porém, a

experiência humana mostra que esse pensamento é falaz. De fato, com

freqüência, as riquezas materiais trazem-nos mais tribulações do que

aquelas que elas eliminam.

4. O versículo à nossa frente, naturalmente, declara diretamente que «a

alegria sem o dinheiro» depende de sermos generosos com aquilo que

possuímos. A generosidade é medida, não pelas quantias que damos, mas

pela porcentagem que damos daquilo que possuímos, e de quanto sacrifício

estiver envolvido em tais doações.

«...a profunda pobreza deles...»

O que os romanos tinham deixado, após terem pilhado a terra, os

perseguidores levaram. Portanto, os crentes macedônios haviam sido

reduzidos a profunda pobreza, conforme o sentido do vocábulo original,

usado no texto grego. Chegou a ser uma pobreza «extrema», tendo atingido
o «fundo» de seus recursos. Os crentes macedônios, pois, tornaram-se tão

pobres como os santos de Jerusalém, mas isso não impediu que

«divina» e «gratuitamente» outorgada, a fim de corresponder ao conceito da

graça. Naturalmente que todos os dons divinos devem ser acolhidos com a

anuência do livre-arbítrio humano, porquanto esses dons não são forçados a

ninguém. A palavra «concedida», naturalmente subentende que toda essa

experiência está para além do alcance das realizações humanas. Levar os

homens a se conformarem com Cristo, a fim de se tornarem membros da

família de Deus, é uma obra divina.

A menção da graça de Deus, que foi proporcionada aos crentes coríntios,

tinha por intuito finalmente mostrar-lhes que essa. graça requer a reação

acolhedora, e que, por sua vez, ela gera o espírito de generosidade. Isso

sucedera no caso dos crentes da Macedonia. Paulo tinha a esperança que

isso também acontecesse na experiência dos coríntios. A origem da

liberalidade cristã é o refleto da liberalidade de Deus para com os homens.

Aqueles que compartilham igualmente dessa liberalidade deveriam

mostrar-se liberais para com seus semelhantes que padecem necessidade. A

ênfase que Paulo deposita sobre a origem divina da liberalidade também

talvez tenha o propósito de desconsiderar comparações entre as igrejas, no

tocante a essa questão, porquanto Deus merece o crédito, afinal de contas,

no caso de todas essas expressões.

αυτώ ν καί η κατά βάθους π τω χ εία αυτώ ν

8 . 2 βαθονς\ βάθος |)46D* pc

continuassem a compartilhar do que lhes restava.

A Pobreza Superabundou Com A Alegria

1. Por causa da qualidade da espiritualidade deles, aquilo que não podia

fazer transbordar o cálice, de alguma maneira transbordou na forma de


abundância de riquezas, na forma das ofertas que deram. O cálice estava

vazio. Estavam reduzidos a uma abjeta pobreza. Contudo, de alguma

maneira, encheram o cálice até que transbordasse, e uma oferta abundante

se derramou, em benefício dos crentes pobres de Jerusalém.

2. Pode-se observar que aqueles que possuem riquezas, com freqüência se

mostram tacanhos com o que possuem, ao passo que os que pouco possuem,

são generosos. Talvez exista algo com a posse de dinheiro, que sirva para

endurecer a generosidade e promover o egoísmo. De alguma maneira, o

dinheiro resseca a simpatia, em algumas pessoas.

«...superabundou em grande riqueza da sua generosidade...» Neste

ponto, «...generosidade...» é tradução do mesmo vocábulo grego antes

usado para descrever a qualidade da alegria dos crentes macedônios,

embora aqui apareça em forma verbal. Essa generosidade «...superabun

dou...» na forma de riqueza de generosidade.Os elementos que compunham

essa generosidade eram a qualidade de alegria que possuíam e a pobreza

deles. A combinação tão inesperada desses dois elementos levou-os a

transbordarem de generosidade, contribuindo com abundância para a

coleta de Paulo para os santos pobres de Jerusalém.

«...generosidade...» No grego é «aplotes», que ordinariamente significa

«simplicidade», «sinceridade», «franqueza», «singeleza»; mas, neste caso,

«generosidade» ou «liberalidade» também são sentidos possíveis, exigidos

pelo texto à nossa frente. De acordo com os padrões cristãos a generosidade

não se mede pela abundância dos dons, e, sim, pela quantidade dada

em confronto com os recursos possuídos, como também em comparação

com o espírito voluntário com que essas dádivas são feitas. De

conformidade com esses padrões, os crentes macedônios contribuíram com

extrema liberalidade, porquanto chegaram ao ponto do «sacrifício» em suas


dádivas espontâneas, «...porque Deus ama a quem dá com alegria». (II

Cor. 9:7).

João Wesley estava familiarizado com as tentações provocadas pelo

dinheiro. Escreveu ele: «Quando tenho algum dinheiro, livro-me do mesmo

o mais rapidamente possível, a fim de que não encontre o caminho do meu

coração». Essa conduta de Wesley não precisa ser necessariamente

recomendada para todos, mas a «atitude» que o levava a agir assim é

recomendável. O dinheiro pode comprar as mentes e as almas dos crentes,

de forma que seu serviço cristão se torne quáse impossível. E quão comum é

que os homens venham a ignorar o ideal cristão, deixando de seguir alguma

realidade digna, pela qual o coração aspira, por causa das demandas das

coisas materiais sobre a vida, que nos levam a aceitar um emprego inferior

para seus talentos, ou mesmo a deixá-los totalmente em desuso. Assim é

que um homem pode aceitar um emprego meramente porque oferece um

maior ordenado, porque oferece maior segurança, ao invés de seguir um

elevado ideal, embora não produza dinheiro com tanta facilidade.

Observemos aqui as duas antíteses radicais. Uma severa aflição—que

naturalmente se aceita como debilitante para o corpo e a alma, é posta em

contraste com uma alegria abundante. A pobreza severa, que normalmente

se considera como motivo que elimina qualquer espírito doador, é posta em

contraposição a uma extravasante liberalidade.

8:3: Porque, dou-lhes testemunho de que, segundo as suas posses, e ainda acima das

suas posses, deram voluntariamente.

Os crentes macedônios haviam contribuído de acordo com os seus

«meios» ou «capacidades». No original grego, a tradução literal diria

«poder», mas com o sentido de «recursos». Os macedônios sempre deram


«...na medida...» disso, mas nunca «menos». De fato, deram «...acima...»

dos seus recursos. Era uma contradição com suas condições e recursos o

fato de terem dado tanto como contribuíram, conforme Paulo reconhecia,

simplesmente observando suas condições de vida. Porém, sendo pobres,

reconheceram facilmente quão dura é a pernúria material, com seus

sofrimentos e limitações.Por conseguinte, estavam «sensibilizados»,

reconhecendo ο que estava envolvido, no caso dos santos pobres de·

Jerusalém. E, devido a esse reconhecimento, mostraram-se dispostos a

cooperar naquela oferta dentre o gentios.

Além disso, podemos supor que alguma operação especial da graça tivera

lugar entre eles, o que produzira tão notável generosidade. É exatamente

isso que o apóstolo Paulo diz no primeiro versículo deste capítulo. Não

haviam contribuído meramente como quem simpatizava. Mas tinham feito

suas doações como homens transformados pela graça de Deus. Tinham-se

tornado um pouco mais semelhantes a Cristo, cuja principal característica

sempre foi o altruísmo, a natureza disposta ao sacrifício, porquanto ele

sempre quis viver em favor dos outros. (Ver as notas expositivas sobre o

tema do «amor como princípio normativo da família de Deus», em João

14:21 e 15:10, onde também aparecem poemas ilustrativos).

«...se mostraram voluntários...» No grego encontramos a palavra

«authairetor», que quer dizer «por vontade própria», «voluntariamente»,

talvez dando a idéia de um espírito espontâneo. Todavia, esse sentido não é

exigido pela própria palavra. Não foram aqueles crentes «pressionados» pelo

apóstolo para fazerem o que fizeram. Antes, tinham atendido

voluntariamente a seu apelo, com boa disposição.

Este versículo parece indicar que Paulo não tivera por intuito levantar

qualquer contribuição naquelas regiões empobrecidas; mas que, uma vez


que surgiram as notícias sobre a coleta, eles insistiram, de m aneira

totalmente voluntária, de que contribuíram com sua participação para o

projeto. O quarto versículo indica exatamente a mesma coisa.

Encontramos aqui a questão do dízimo. Notemos quão verdadeiramente as dádivas, no


Ν.Τ., eclipsam completamente o princípio do dízimo.

O N.T. em parte alguma requer o dízimo, a despeito do que algumas denominações


cristãs ensinam a idéia. Porém é fraco o crente que dá menos de dez por cento de sua
renda para a promoção da causa de Cristo, em terras pátrias ou no estrangeiro. (Ver I
Cor. 16:2 e as notas expositivas a respeito quanto à «questão do dízimo»), Agora
agradeçamos todos a nosso Deus, .

De todo o coração e com nossas vozes, O qual tem realizado coisas admiráveis, E em quem o
mundo se regozija; O qual, quando ainda com nossas mães, Nos abençoou em todo o nosso
caminho Com incontáveis dádivas de seu amor, E continua nossa até o dia de hoje.

(Martin Rinkart).

8:4: pedindo-not, com muito encarecimento, 0 privilégio de participarem deste

serviço a favor dos santos;

Ansiedade para contribuir: Este versículo nos ensina quão supremo é o

«privilégio» da contribuição. Isso foi reconhecido pelos crentes macedônios.

Para eles, isso não foi alguma carga insuportável, algum dever severo,

algum princípio legal. Antes, «imploraram» ao apóstolo que lhes fosse

outorgado o «favor» de poderem dar aos pobres de Jerusalém. Pensavam eles

que Paulo lhes faria um serviço, permitindo-lhes tal participação. Para eles

era realmente mais bem-aventurado dar do que receber, já que tais palavras

não eram para eles apenas uma declaração bonita. Antes, isso lhes era um

«favor», um «privilégio», uma «graça», que lhes era concedida. O sentido

dessas palavras talvez seja que eles rogaram a Paulo que isso lhes fosse

concedido como «um favor». Assim pensava Vincent (in toc.).*Mas 0 sentido

essencial é idêntico a isso.

«...assistência...», no original grego, é «diakonia», a palavra geral que


indica «serviço», «ajuda», com freqüência usada para indicar coisas

materiais, embora não se limite a esse sentido. Nossa palavra moderna

«diácono» se deriva desse vocábulo grego. Assim sendo, os crentes

macedônios queriam fazer parte dessa «ministração» para as necessidades

físicas de um grupo de crentes que desconheciam. Mas essa atitude se

explica pelo fato que sentiam a unidade de espírito que deveria prevalecer entre os
seguidores todos de Cristo.

«...aos santos...» Em parte alguma, nos capítulos oitavo e nono desta

epístola, Paulo esclarece qualquer coisa sobre «para quem» se destinava essa

oferta; porém, é óbvio, com base nas referências paralelas, que tal

contribuição seria entregue aos santos pobres de Jerusalém. Não há que

duvidar que tanto os crentes coríntios como os macedônios sabiam disso.

(Quanto a notas expositivas sobre 0 termo «santos», como designação para

os crentes em geral, ver Rom. 1:7).

A vantagem comum: Há uma vantagem comum nessa questão das

doações. Aqueles que delas recebem têm satisfeitas as suas necessidades

materiais, mas, ao mesmo tempo, percebem a operação da graça do Espírito,

que é quem supre todas as nossas necessidades. O recebimento dessas

dádivas, pois, pode tornar-se tanto uma bênção física como uma

bem-aventurança espiritual. E aqueles que dão são capazes de participar,

até certo ponto, do espírito altruísta do Senhor Jesus, aprendendo assim a

serem mais parecidos com ele, em suas atitudes. Além disso, há grande

recompensa para 0 verdadeiro amor cristão, para aquele que participa de

suas expressões práticas. Deus recompensará aquele que contribui

voluntária e generosamente. Por conseguinte, de vários ângulos, há uma

«vantagem comum» no ato de dar. (Ver Cor. 9:1-11, quanto às recompensas

divinas para os doadores).


8:5: e não somente fizeram como nós esperávamos, mas primeiramente a si mesmos

se deram ao Senhor, e a nós pela vontade de Deus;

O ideal nas contribuições dos crentes: O ideal é o crente dedicar-se

primeiramente ao Senhor Deus, sendo essa a maior dádiva que um crente

pode fazer; pois todas as demais contribuições, sem essa, tornam-se

insatisfatórias, sem redundar em benefício real para a alma. Somente

mediante a dedicação total é que o crente pode esperar retornar à presença

de Deus,. porquanto somente dentro dessa atitude espiritual é que um

remido pode ser verdadeiramente transformado segundo a imagem de

Cristo, moral e metafisicamente. Doar um crente um pouco de suas

possessões materiais, e uma parcela de seu tempo, jamais poderá satisfazer

às necessidades para o progresso espiritual. Consagrar-se ao Senhor, em

piedade e santidade, e assim servir ao Senhor Jesus, será o mais poderoso

impulso para o crente e também contribuir com os seus bens materiais.

«...não somente fizeram como nós esperávamos...» Essas palavras não

devem ser confinadas meramente à questão da espontaneidade deles, e nem

mesmo ao seu espírito voluntário de fazer 0 que lhes era solicitado, mas

antes, incluem a total dedicação dos crentes macedônios, dedicação essa

cujo subproduto era a sua contribuição generosa para a oferta para os

santos pobres de Jerusalém. Foi aintensidade de dedicação deles que

surpreendeu a Paulo, porquanto, em qualquer época, isso será sempre

bastante raro. Foi isso que ultrapassou todas as mais caras expectações do

apóstolo. No dizer de Plummer (in loc.)'. «A coroa da generosidade deles foi

a sua total auto-rendição».

A parcimônia no serviço de Cristo, e em face das necessidades humanas,

é um forte sintoma de um espírito acanhado e hesitante para com a vontade

divina; e a marca de que tal alma pouco conhece da consagração a Cristo.


«...deram-se a si mesmos...» O crente não é proprietário e senhor de si

mesmo, porquanto foi comprado por grande preço. (Ver I Cor. 6:19,20).

Ver as notas expositivas nessa passagem acerca de uma ilustração referente

à consagração a Cristo. No que concerne a Cristo, em certo sentido, o

crente assume o caráter de um escravo, de alguém que está responsável pela

mordomia. Mas aquilo que controla e dirige, fá-lo para o Senhor. O crente é

responsável por aquilo que faz. Sua própria vida é um depósito entregue a

Deus, para ser usada para glória do Senhor Jesus Cristo! Por conseguinte,

todos os seus alvos, sua energia gasta, sua educação, seus planos —tudo

deve ser levado a conformar-se com a vontade de Deus. (Ver a parábola dos

«talentos», em Mat. 25:14 e ss., que ilustra 0 tema deste versículo).

Quem se dá com as suas esmolas alimenta a três—

A si mesmo, a seu vinho faminto e a mim.

(Lowell)

O serviço honestamente prestado em favor do próximo é feito para Cristo,

e disso consiste amar ao próximo, a Cristo e a Deus Pai, conforme nos

mostra 0 trecho de Mat. 25:31 e ss.

«Com solenidade, unidos e unanimemente, eles ‘os crentes macedônios’

dedicaram-se novamente, com tudo quanto tinham, ao Senhor Jesus

Cristo. Já tinhamfeito isso antes, mas agora renovavam sua decisão—santi-

ficaram suas contribuições para a honra de Deus, primeiramente

dedicando-se ao Senhor. Não poderíamos fazer melhor; tudo quanto damos

ou outorgamos pafa usos caridosos, não será aceito e nem redundará em

vantagem nossa, a menos que prim eiram ente nos demos ao Senhor».

(Matthew Henry, in loc.).

«...depois a nós...» Em favor daquela coleta para os pobres de Jerusalém,

embora também esteja envolvida a obra evangelística em geral. Paulo


recebeu grande ajuda dos macedônios em seu trabalho de evangelização

pela Macedonia. Sópater ajudou-o em Beréia, Aristarco e Secundo

ajudaram-no em Tessalônica (ver Atos 20:4), e Epafrodito em Filipos (ver

Fil. 2:25), juntamente com Jasom (ver Atos 17:5 e ss.), Gaio (ver Atos

19:29), Demas(File. 24 e II Tim. 4:10), provavelmente em Tessalônica. E

nesse quadro talvez possamos incluir Lucas, que era de Filipos e que se

tornou companheiro de viagem do apóstolo Paulo. E talvez houvesse outros

elementos de proa, além desses líderes citados.

«...pela vontade de Deus...» Para alguns estudiosos, essas palavras

significam «segundo os ditames da vontade de Deus»; para outros, querem

dizer «através da energia da vontade de Deus», ou então «através das

exigências conhecidas da vontade de Deus». Talvez todas essas idéias devam

ser inclusas nesse pensamento. Aqueles crentes foram impulsionados e se

tornaram bem-dispostos mediante a vontade de Deus, e passaram a cumprir

essa vontade. Esse deve ser também o anelo de todos os homens, e será

necessário que todos os homens finalmente façam a vontade do Senhor.

Levantai-vos, ó homens de Deus!

Deixai de lado coisas inferiores;

Dai o coração, a alma, a mente e as forças

Ao serviço do Rei dos reis.

(William P. Merrill)

9:1: Ροΐι quanto à ministração que «e faz a favor dos santos, não necessito escrever-vos;

sei α vossa prontidão, pela qual me glorio de vós perante os

παρεσκευασται απο
πέρυσι, και το

9:2: porque

macedônios, dizendo que a Acaia estó pronta desde o ano passado; e o vosso zelo tem

estimulado muitos.

A palavra «...presteza...», no original grego é «prothumia», «prontidão»,

«disposição», «boa vontade». Paulo já se tinha utilizado desse vocábulo

sobre os coríntios, quanto à boa disposição deles em ajudarem na questão

da coleta para os santos pobres de Jerusalém. (Ver II Cor. 8:11,12,19, onde

o mesmo termo grego é empregado).

Quais foram as áreas cristãs que participaram da coleta?..«junto aos

macedônios...» Paulo tinha lançado mão do exemplo de Corinto a fim de

encorajar os crentes macedônios a contribuírem, e a resposta destes fora

avassaladora, ainda que Paulo, realmente, não tenha querido fazê-los

participar com plena força daquela empreitada, por causa da pobreza

extrema dos macedônios. Todavia, eles insistiam em prestar a sua ajuda.

(Ver II Cor. 8:1-5 sobre essa questão, bem como acerca da exposição que

enfatiza vários aspectos das doações cristãs ideais).Nessa mesma passagem

Paulo usa o exemplo dos macedônios a fim de encorajar os crentes coríntios

a contribuírem com liberalidade, e é isso que ele faz aqui outra vez. È como

se o apóstolo dos gentios dissesse: «Não permiti que minha jactância a vosso

respeito, perante outras igrejas, termine por ser falsa. Justificai a confiança

que deposito em vós». (Quanto a notas expositivas completas sobre a

«Macedonia», ver Atos 16:9. Essa região incluía as igrejas cristãs das

cidades de Filipos, Tessalônica e Beréia. Quanto a «Filipos», ver Atos 16:12;

quanto a «Tessalônica», ver Atos 17:1 e quanto a «Beréia», ver Atos 17:10).

«...Acaia...»(Quanto a notas expositivas completas sobre essa região, ver

Atos 18:12). A Acaia era a província romana que incluía toda a área grega
ao sul da Macedonia, e que tinha Corinto por sua capital. Havia uma outra

igreja cristã, estabelecida em Cencréia (ver Rom. 16:1), que podemos

pensar ser menor que a igreja de Corinto, além de uma outra congregação

menor ainda em Atenas (ver Atos 17:34), e talvez houvesse algumas outras

poucas, na área geral de cada uma dessas cidades centrais. (Ver II Cor. 1:1

a esse respeito, e as notas expositivas ali existentes).

Paulo salientou o exemplo da «igreja da capital» a fim de emular outras igrejas da mesma
província, para que se mostrassem ativas na questão das

contribuições para a coleta;e em seguida usou o exemplo geral da «Acaia»

para encorajar a crentes de outras regiões, como a Macedônia. Com base no

trecho de I Cor. 16:1, sabemos que Paulo também apelou para a ajuda das

igrejas da Galácia; e é possível e até mesmo provável que ele também tenha

feito recolhimentos em ainda outros territórios, não mencionados em

quaisquer textos de que dispomos. Mas tudo isso serve para mostrar-nos a

grande extensão dos seus esforços, e quão importante esse empreendimento

parecia para Paulo. O trecho de Atos 20:4 presumivelmente nos dá os

nomes de alguns dos representantes das igrejas que enviaram suas ofertas.

A Asia Menor também se encontrava representada por seus delegados; e a

capital dessa província era Éfeso. (Q uanto a notas expositivas sobre

«Éfeso», ver Atos 19:1).

«...desde o ano passado...»(Quanto a essa mesma expressão, que indica o

tempo geral quando a coleta fora iniciada, ver as notas expositivas sobre II

Cor. 8:10).

«...me glorio...» Um louvor presente e contínuo aos crentes coríntios, o

qual era justificado em algumas coisas, embora talvez fosse duvidoso

quanto a outras, especialmente no tocante ao seu espírito de contribuição.

Não obstante, isso reflete a boa psicologia empregada por Paulo. As pessoas

agem melhor e mais, por si mesmas e por outras, se forem positivamente


emuladas, se o bem que nelas há for reconhecido, e se forem informadas

que se espera que vivam de conformidade com esse elevado padrão. Os

crentes coríntios haviam sido apresentados como um modelo perante os

crentes macedônios; e estes últimos, por sua vez, haviam correspondido de

forma espetacular e inesperada, com grande generosidade (ver ΙΓ Cor.

8:1-5). Seria uma grande ironia se os próprios crentes coríntios, agora, se

mostrassem lassos sobre a questão.

«...tem estimulado a m uitíssim os...» O verbo, no original grego, é

«erethidzo», «levantar», «provocar», «erguer», «estimular» e «irritar» (neste

último caso quando usado em sentido negativo). Podemos observar aqui o

poder do bom exemplo. O exemplo é muito mais poderoso do que as meras

palavras, conforme toda a experiência humana ricamente o comprova.

(Quanto a notas expositivas sobre o «exemplo», ver I Cor. 11:1).

2Corintios 9.6-15

Generosidade: Qualidade daquele que gosta de dar dinheiro conf. Pv11.24;Rm12.8;2Co8.2;9.10-11; Tt3.6.

9.6 ,7 Sacrifício. Examine sua atitude quando faz uma doação para a Igreja. Você o faz com
generosidade e com alegria ou com relutância e sob pressão? Por que você doa? Por culpa? Na
esperança de melhorar sua avaliação junto a Deus? Para tentar impressionar seus amigos? Por
que devemos doar de maneira Sacrifical?

9.11 Vocês serão enriquecidos de todas as formas, para que possam ser generosos.

Essa frase é a precursora da oração atribuída a Francisco de Assis:é dando que recebemos.
Doar está antes de receber, pois a doação nos fortalece e nos expande, capacitando-nos a
vivenciar o verdadeiro alcance do nosso poder. Aqui Paulo se refere à filantropia, mas questão
também se aplica a outras formas de doação. Aqueles que costumam receber as coisas devem
reivindicar sua dignidade , transformando-se em doadores. A chave da doação é doar o que é
necessário, não o que a pessoa tem em excesso, qualquer que seja o tipo de doação: dinheiro,
conselho ou até mesmo a presença. B. Renovare.

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