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OS FALSOS DOUTORES
A carta de Paulo a Tito completa a tríade das Cartas Pastorais pelas quais
conhecemos muito da organização da Igreja no primeiro século. São três
riquíssimos capítulos, nos quais se observa o estilo direto usado pelo apóstolo
para transmitir as suas orientações a outro jovem pastor que estava sob
treinamento: Tito, um cooperador de características notáveis, como veremos
adiante.
No primeiro capítulo, Paulo faz um considerável prefácio e saúda a Tito
como o seu “verdadeiro filho, segundo a fé comum” (Tt 1.4). Na sequência,
refere-se à missão do seu representante na ilha grega, que era dar sequência à
obra que ele mesmo iniciara tempos antes. Tito deveria pôr “em boa ordem”
algumas “coisas que ainda [restavam]”, acerca das quais já havia sido informado.
Na sequência, o apóstolo apresenta as qualificações dos presbíteros e
explica o porquê de serem exigidas a eles credenciais tão altas: precisariam ser
poderosos “tanto para admoestar com a sã doutrina como para convencer os
contradizentes” (1.9). Os presbíteros teriam uma tarefa difícil, para a qual seria
necessário demonstrar uma firme estrutura moral e espiritual.
No capítulo 2, Paulo ordena a Timóteo que fale o que convém à sã
doutrina e detalha como deveria ser o comportamento dos membros da igreja:
velhos, mulheres idosas, mulheres novas, jovens e servos. Não se trata de um
rol taxativo, naturalmente. O papel de Tito era ensinar a sã doutrina a todos. O
capítulo 2 é concluído com uma seção relativa à manifestação da graça de Deus
e a sua operação na vida humana: salvação, santificação e esperança
escatológica (2.11-15).
O capítulo 3 é aberto com uma nota acerca da sujeição e da obediência
às autoridades e do dever que todo cristão tem de estar preparado para toda boa
obra (3.1). Ser prudente e benigno no falar, não ser dado a contendas, ter uma
vida simples e ser manso para com todos os homens (3.2).
Paulo encaminha-se para o fim da sua carta aconselhando Tito a que não
perca tempo com quem quer fomentar discussões infrutíferas acerca de
assuntos teológicas controversos e que não geram edificação
O encerramento da carta é o anúncio de Paulo de que enviaria a Creta
um dos seus demais cooperadores (Ártemas ou Tíquico) para suceder a Tito
(talvez temporariamente) a fim de que este pudesse ir a Nicópolis, na Macedônia,
para encontrar-se com Paulo por ocasião do inverno. Paulo recomenda que Tito
acompanhe Zemas e Apolo e fecha a carta com a sua saudação pessoal e de
todos os que estavam com ele, certamente o acompanhando na viagem que
fazia entre a Ásia Menor e a Macedônia.
Esse é, portanto, um resumo da carta de Paulo a Tito.
O Longo Prefácio
O prefácio da carta de Paulo a Tito é bem mais extenso do que os prólogos
das cartas que escreveu a Timóteo (1 e 2 Timóteo). Assemelha-se com o prefácio
da carta aos Romanos (Rm 1.1-7). Nele, Paulo apresenta-se como “servo de
Deus e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus e o
conhecimento da verdade, que é segundo a piedade” (1.1). No texto grego, servo
é doulos e significa “escravo”. E é nessa condição (de “escravo de Deus”) que
se vê Paulo, exercendo o seu apostolado para “promover a fé que é dos eleitos
de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade”, conforme a
tradução contida na versão Almeida Revista e Atualizada (ARA).
Em seguida, Paulo expressa a sua esperança escatológica, a “esperança
da vida eterna”, prometida por Deus “antes dos tempos dos séculos”, tema da
sua pregação apostólica (1.2,3). Era, portanto, a proclamação do Evangelho que
movia Paulo. Fechando o seu prefácio, o apóstolo identifica o destinatário da sua
carta, Tito, o seu verdadeiro filho, “segundo a fé comum”, expressão que leva
muitos eruditos a considerar que o jovem cooperador tenha-se convertido por
intermédio do ministério de Paulo.
Creta é bastante montanhosa, mas com vales férteis, Creta tem uma
história antiga. Foi o centro de uma cultura muito antiga chamada minoana (mais
conhecida como Minoica), que se desenvolveu durante as Idades do Bronze
Média e Última (de 2.600 a.C. a 1.000 a.C).
A ilha também é citada por alguns estudiosos como tendo sido a terra de
origem dos filisteus, de nome Caftor, mencionada em Deuteronômio 5.23,
Jeremias 47.4 (“[...] porque o SENHOR destruirá os filisteus, o resto da ilha de
Caftor”) e Amós 9.7. No primeiro século, Creta possuía mais de 100 cidades,
algumas delas espalhadas ao longo da costa. Eram cidades muito povoadas e
violentamente independentes. Algumas dessas cidades tinham excelentes
portos, como, por exemplo, o de Fenice, citado em Atos 27.12. Lucas cita os
cretenses presentes no dia do Pentecostes (At 2.11).
Conforme Wycliffe, Roma conquistou a ilha em 68/67 a.C. e fez dela uma
província separada. Paulo esteve em Creta durante a sua conturbada viagem a
Roma, por ocasião do seu primeiro aprisionamento. O navio que o levava atracou
em Bons Portos e ali ficou por algum tempo (At 27.8,9). Atualmente, Creta tem
mais de 600 mil habitantes e possui diversos pontos turísticos de grande
visitação.
1.3 Os Cretenses
Apesar de toda a imoralidade, indiferença e hostilidade dos cretenses,
impregnadas na cultura da ilha, muitas igrejas floresceram ali. Não há nível de
pecaminosidade que resista ao poder do evangelho: “onde o pecado abundou,
superabundou a graça” (Rm 5.20).