Você está na página 1de 84

MAGLIANO: UM HOMEM À FRENTE DE SEU TEMPO

10 TENDÊNCIAS PARA

RI RELAÇÕES COM INVESTIDORES


ESG
NO BRASIL EM 2021
por GUSTAVO PIMENTEL
RELAÇÕES COM INVESTIDORES
www.revistaRI.com.br

EM PAUTA

AGENDA POSITIVA

EM PAUTA: AGENDA POSITIVA DE GOVERNANÇA


DE GOVERNANÇA
nº248
A INFLUÊNCIA DOS LÍDERES FEV 2021

PARA UMA GOVERNANÇA QUE

20,00
R$ 20,00
R$
INSPIRA, INCLUI E TRANSFORMA
por DANIELA ROCHA

Fevereiro 2021
nº 248
Impacto Positivo:
Performance a favor
da transformação.
Nossos resultados ganham um novo significado
quando investidores e sociedade se desenvolvem juntos.
Conheça algumas das nossas iniciativas:

mais de mais de

18 bilhões
captados para projetos de clientes
38 bilhões
disponibilizados em crédito para
com indicadores sociais e ambientais empresas que geram impacto positivo.
positivos (green e socialbonds). O Valor PRO oferece
os dois e muito mais.

9 bilhões
em crédito para empresas lideradas
100 %
de energia renovável no funcionamento
Com notícias dos bastidores do mercado, ferramentas analíticas e informações completas
sobre finanças e negócios, o Valor PRO é um serviço de informações em tempo real que une
toda a velocidade que o mercado exige à credibilidade do Valor Econômico.
por mulheres até 2024. de todas as nossas operações.

SOLICITE UMA DEMONSTRAÇÃO.


Somos feitos de pessoas que têm o poder
valorpro.com.br | 0800-003-1232
de transformar o mundo e estimular
outras a participar dessa transformação. Aponte a câmera
do seu celular
Saiba mais em: itau.com.br/sustentabilidade e saiba mais.
Somos feitos de pessoas que têm o poder
de transformar o mundo e estimular
outras a participar dessa transformação. Aponte a câmera
do seu celular
Saiba mais em: itau.com.br/sustentabilidade e saiba mais.
nº 248 • Fevereiro 2021

06 Homenagem 28 AMEC Opinião 46 Governança 56 Melhores


Magliano: um homem Governança Corporativa no Corporativa Práticas
à frente de seu tempo contexto do boom dos IPOs Com incertezas de 2021, Como o ISE inspirou
POR JURANDIR SELL MACEDO POR FÁBIO HENRIQUE Governança Corporativa a M. Dias Branco
E CRISTIANE MORAES DE SOUSA COELHO se torna fundamental na jornada da
POR MARCOS RODRIGUES Sustentabilidade
10 Ponto de Vista 30 Sustentabilidade E OLAVO RODRIGUES POR FABIO CEFALY
10 tendências para Economia &
ESG no Brasil em 2021 Meio Ambiente: 48 Conselho Fiscal 58 Registro
POR GUSTAVO PIMENTEL esperança de uma relação Composição do XVII Seminário
menos conturbada Conselho Fiscal Internacional CPC
14 Em Pauta POR EDUARDO WERNECK frente a complexidade do POR RODNEY VERGILI
Agenda Positiva de ambiente de Governança
Governança: a influência 36 Espaço APIMEC POR CLÓVIS PEREIRA 63 IBRI Notícias
dos líderes para uma O Brasil precisa respirar: 1º. Prêmio
Governança que inspira, 20 anos de terceiro milênio 52 Forum APIMEC IBRI
inclui e transforma POR CÉLIO FERNANDO B. MELO ABRASCA destaca os vencedores
POR DANIELA ROCHA E HELENA TEÓFILO Os riscos de se alterar POR JENNIFER ALMEIDA
a Lei Societária por
42 Orquestra medida provisória 79 Opinião
Societária POR EDUARDO LUCANO DA PONTE Gênero e Corrupção
A Evolução da Tecnologia POR RITA DE CÀSSIA BIASON
gerará benefícios à sociedade
55 IBGC Comunica
e ao meio ambiente? Carta ao mercado:
POR CIDA HESS E Diversidade na
MÔNICA BRANDÃO renovação dos
Conselhos
POR B3, IBGC, IFC,
SPENCER SUART E WCD

REVISTA RI © Publisher e Diretor Editorial: Ronnie Nogueira | Presidente do Conselho: Ronaldo A. da Frota Nogueira (1938-2017)
É uma publicação mensal da IMF Editora Ltda. Conselho Editorial: Antônio Castro, Edison Arisa, Eduarda La Rocque, Fábio Henrique de Sousa Coelho, Hélio Garcia, Jurandir Macedo,
Av. Erasmo Braga, 227 - sala 511 Marcelo Mesquita, Raymundo Magliano Filho, Ricardo Amorim, Roberto Teixeira da Costa e Thomás Tosta de Sá
20020-000 - Rio de Janeiro, RJ
Projeto Gráfico: DuatDesign
Tel.: (21) 2240-4347
Os artigos aqui publicados não pretendem induzir a nenhuma modalidade de investimento. Os dados e reportagens são apurados com todo o rigor,
ri@imf.com.br porém não devem ser considerados perfeitos e acima de falhas involuntárias. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores.
www.revistaRI.com.br É proibida a reprodução desse volume, ou parte do mesmo, sob quaisquer meios, sem a autorização prévia e expressa da IMF Editora.
HOMENAGEM

MAGLIANO
UM HOMEM À FRENTE DE SEU TEMPO
Uma frase atribuída ao legislador grego Sólon afirma que um
homem só pode ser considerado venturoso após sua morte. Sim,
Sólon. Raymundo Magliano Filho foi um homem venturoso,
um homem que viveu uma vida que valeu a pena ser vivida. E nos
deixou, aos 78 anos, vítima da Covid-19, no dia 11 de janeiro de 2021.

por JURANDIR SELL MACEDO e CRISTIANE MORAES

Raymundo, ou Raimundinho, como era carinhosamente cha- do nos conceitos dos filósofos que Magliano admirava.
mado, fazia parte do conselho editorial desta revista desde o
lançamento. Na primeira reunião, ele pediu a palavra, olhou Esse homem revolucionário, simples e gentil era um verdadei-
demoradamente para todos os membros, então, perguntou: ro diplomata. Levou a Bolsa à praia e aproximou sindicatos,
“O que é isto? Quem nós somos?”. mulheres, estudantes e os mais diferentes públicos daquela
entidade que parecia ser para poucos, mas que podia ser de
Com a impressionante oratória que lhe era peculiar, o Raymun- muitos. De bermudão, jornal embaixo do braço e sorriso lar-
do perguntou: “Em que mundo nós vivemos? Não tem nenhum go, Magliano tinha sempre tempo e disposição para falar so-
negro, nenhuma mulher – será que o mercado de capitais é um bre os conceitos de grandes pensadores e levantar bandeiras
mundo só para homens brancos?”. Hoje, diversidade dos conse- que mostravam a importância da diversidade –assunto que
lhos é uma pauta comum; naquela época, não. nem estava em voga na época – e da democracia para que as
ideias sejam sustentáveis para a sociedade. Para ele, a concen-
Por qualquer ângulo que se olhe para a vida do seu Raymun- tração bancária, o machismo e a falta de direitos iguais ainda
do, vamos ver um homem que sempre esteve além do seu faziam com que a sociedade precisasse evoluir muito.
tempo, alguém que pautou a vida pela ética, pela inclusão e
pelo bem comum. Magliano, o descendente de italianos e capitalista herdeiro,
por definição de Max Weber, muito citado por nosso amigo,
Para alguns, ele poderia parecer um sonhador, já que a filosofia gostava de promover o diálogo e cutucar a importância e a
era uma das suas grandes paixões. Nas aulas particulares sema- força da sociedade. Em um dos seus artigos, escreveu “Não é
nais que ele fazia, estudava muitos pensadores como Norberto nenhum segredo que o mercado financeiro, mesmo em 2017,
Bobbio, Hannah Arendt e Antonio Gramsci, o que lhe rendeu é extremamente machista. A estigmatização da mulher e
muitas ideias, projetos e livros, como “A Força das Ideias para sua consequente exclusão nesse cenário, no entanto, pos-
um Capitalismo Sustentável” e “Um Caminho para o Brasil”. suem uma razão histórica, cujo conhecimento é indispensá-
vel para avançarmos em direção a uma sociedade mais igua-
Um dos grandes cases de sucesso da carreira dele foi o Movi- litária”. Encerrou o mesmo texto com uma defesa brilhante:
mento de Popularização da Bovespa (2001-2008), que demo- “A força das ideias para um agir transformador depende do
cratizou o acesso aos investimentos e deu a base necessária conhecimento da história social das nossas instituições, seus
para o mercado de capitais que vemos hoje, também inspira- limites e suas virtudes”.

6 REVISTA RI Fevereiro 2021


Fevereiro 2021 REVISTA RI 7
HOMENAGEM

Histórias, reflexões e ensinamentos não faltaram ao longo Depois de muitos ciclos, diferentes crises econômicas e
desses 78 anos de vida, mas a verdade é que ele não tinha mais 90 anos de história, em 16 de julho de 2020, o sonho
medo de dizer o que pensava. Sua transparência sempre foi de popularizar a Bolsa de Valores, nascido com o fundador
algo admirável. Mesmo com toda bagagem no mercado, cos- da Magliano Invest, ganhou um novo impulso. A fintech
tumava dizer que não entendia de Bolsa e que gostava mes- Neon Pagamentos comprou a corretora, encerrando um
mo era de pessoas. Viveu boa parte de sua vida em outra épo- ciclo e dando início a outro, em que os ensinamentos se-
ca, mas não deixou de usar os recursos para se comunicar. guiriam rumo a um novo mercado com a Neon. O desejo
de Raymundo Magliano de tornar o mercado de capitais
Pouco antes de ser internado, decidiu entrar no Instagram. acessível ao cidadão comum foi então expandido e ganhou
Ele estava animado, tinha melhorado de uma longa tempo- novos rumos.
rada de crises de asma. Estava disposto a desvendar outras
tecnologias. Com o acontecimento, Magliano Filho concedeu uma sé-
rie de entrevistas para a imprensa e uma em especial para
Mas ele nunca precisou estar nas redes sociais. Mesmo fora uma jovem repórter do Estadão. Ele ficou tão encantado
delas, era um comunicador com uma disposição e discipli- pela forma como a história foi contada pela jornalista,
na de dar inveja a qualquer jovem. Lia sempre todos os jor- que ligou para ela e para o editor, para agradecer. Quem
nais, com frequência ligava para jornalistas para elogiar faria isso? Alguém que dava valor às palavras e sabia que
uma reportagem. Ele era um porta-voz fantástico, falava elas escritas valem ainda mais, pois ficam gravadas para
de todos os assuntos, buscava entender de tudo. Ao falar de a eternidade.
política era reservado, não falava de nomes, não criticava
pessoas e seus erros. Ele discutia ideias sobre o futuro. Raymundo Magliano Filho foi um homem capaz de ques-
tionar o status quo e de confrontar verdades estabelecidas.
Poucos sabem, mas Magliano seguiu muitos passos do pai, Sempre com um cativante sorriso no rosto e uma bondade
Raymundo Magliano, que fundou a corretora número 1 da imensa no coração.
Bolsa e também motivou a criação de uma entidade de clas-
se das corretoras de valores. O pai chegou a presidente da Raymundo nos deixou, porém temos a sua obra. Temos um
Bolsa. Nessa época, o filho deu continuidade aos negócios mercado de capitais muito mais democrático, temos mui-
e, uma década depois do falecimento do pai, assumiu a li- tas empresas preocupadas com a responsabilidade social e
derança da Bovespa. a diversidade. Ainda vivemos cercados de muitas injusti-
ças neste país, porém temos a obra desse grande brasileiro
Dizem que o fruto não cai longe do pé e, na família Ma- para nos guiar na construção de um mercado de capitais
gliano, a paixão pelo mercado de capitais chegou na tercei- e um Brasil mais justo, mais inclusivo e mais sustentável.
ra geração. Raymundo Magliano Neto também ouvia com
atenção as histórias do avô e, antes de assumir a gestão da Com este artigo, pretendemos fazer um tributo não ape-
corretora da família, criou um projeto de educação financei- nas ao querido amigo Magliano, mas a todos aqueles que
ra, a Expo Money, o evento itinerante que percorreu muitas perderam a vida para esta terrível pandemia. Queremos
capitais brasileiras. Foi nessa época que os caminhos dos au- homenagear a todos aqueles que hoje enfrentam a dor da
tores deste artigo se cruzaram, dando início a uma amizade. saudade de seus entes queridos. RI

JURANDIR SELL MACEDO


é doutor em Finanças Comportamentais, com CRISTIANE MORAES
pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela é jornalista, assessora de imprensa, especialista
Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor em comunicação e marketing e fundadora da
de Finanças Pessoais da Universidade Federal de CM Comunicação Corporativa.
Santa Catarina (UFSC). cris@crismoraes.com.br
jurandir@edufinanceira.org.br

8 REVISTA RI Fevereiro 2021


PONTO DE VISTA

ESG
10 TENDÊNCIAS PARA

NO BRASIL EM 2021
Após furar a bolha em 2020, no Brasil e no mundo, em 2021
o movimento ESG terá que provar que veio para ficar. Nesse
sentido, identificamos quais tendências vão emergir ou solidificar
no mercado financeiro e de capitais brasileiro neste ano.

por GUSTAVO PIMENTEL

As tendências 1 a 4 mostram os produtos e abordagens ESG 1) INSTRUMENTOS DE DÍVIDA BASEADOS EM


que mais devem ganhar tração. As tendências 6 a 8 deba- DESEMPENHO ESG FICAM MAIS POPULARES
tem o ambiente político e regulatório, e como os próprios QUE OS BASEADOS EM USO DE RECURSOS
investidores e empresas têm ajudado a moldá-lo. Desde o último trimestre de 2020, observamos um apetite
crescente de emissores de dívida brasileiros pelos chama-
As tendências 9 e 10, por sua vez, sugerem como a gover- dos Sustainability-Linked Bonds (SLB) ou Loans. O instrumento
nança das empresas vai se adaptar a estes novos tempos. é uma opção de captação de recursos com rótulo de susten-
tabilidade para aqueles emissores que não desejam restrin-
E a tendência 5 argumenta que os recursos com mandato gir sua alocação em projetos ou usos específicos, mas sim a
ESG começarão a causar impacto real, movendo capital en- metas ambientais, sociais ou de governança, com impacto
tre setores e empresas. no spread. Com o crescente apetite de investidores por dívi-
da rotulada, os instrumentos baseados em desempenho ga-
Afinal de contas, se não é para apoiar a construção de um nham tração e podem superar as emissões de Green, Social e
mundo melhor, para que serve o movimento ESG? Sustainable Bonds no Brasil em 2021.

10 REVISTA RI Fevereiro 2021


2) BANCOS SE TORNAM EMISSORES RELEVANTES
DE TÍTULOS E EMPRÉSTIMOS ESG
Os dois primeiros green bonds do mundo foram emitidos
por bancos de desenvolvimento em 2008 e, desde então, estes
atores e os bancos comerciais pelo mundo todo são emisso- Neste ano, os fundos serão
res relevantes. No Brasil, o mercado se desenvolveu a partir
de emissões de empresas não-financeiras, mas começamos
testados pelos investidores em
a ver uma inflexão em 2020 com emissões de Banco BV, relação a seu retorno ajustado
BTG Pactual e BNDES (segunda emissão) e diversos bancos
elaborando frameworks que permitem múltiplas emissões.
ao risco e quanto à qualidade
As emissões rotuladas de bancos permitem que os recursos da integração ESG realizada.
sustentáveis cheguem às pequenas e médias empresas atra-
vés do crédito bancário. Em 2021, com a nova Taxonomia de A prateleira deve ganhar em
Finanças Verdes da Febraban, apostamos nos bancos brasilei- diversificação em abordagens,
ros como emissores relevantes.
passando a incorporar com
3) FUNDOS SUSTENTÁVEIS CRESCEM,
SE DIVERSIFICAM E ATRAEM A ATENÇÃO
mais força a lente do impacto
DOS INSTITUCIONAIS positivo, bem como em classe
Há duas décadas foi lançado o primeiro fundo de investi-
mento com rótulo ESG do Brasil, focado em ações. Após um
de ativos, como private equity,
período sem muitas novidades, diversas gestoras lançaram infraestrutura, imobiliário e
fundos ESG em 2019-20 e outras o farão em 2021. Neste ano,
os fundos serão testados pelos investidores em relação a seu crédito estruturado puxando
retorno ajustado ao risco e quanto à qualidade da integração as novas ofertas.
ESG realizada. A prateleira deve ganhar em diversificação
em abordagens, passando a incorporar com mais força a len-
te do impacto positivo, bem como em classe de ativos, como
private equity, infraestrutura, imobiliário e crédito estrutu- “Siga o dinheiro”. A expressão popularizada pelo jornalismo
rado puxando as novas ofertas. investigativo e combate à corrupção agora pode ter uma co-
notação positiva: no momento em que recursos com manda-
4) A AVALIAÇÃO DE IMPACTO ESTARÁ tos ESG começam a ganhar massa crítica, o custo de capital
CADA VEZ MAIS PRESENTE NOS FRAMEWORKS sobe para os setores e negócios com impacto socioambiental
DE ANÁLISE ESG negativo, e cai para os de impacto positivo. No mercado de dí-
O investimento de impacto, aqui definido como o investi- vida já se verifica o greenium, e esse efeito chegará com mais
mento com intenção de gerar impacto socioambiental posi- força em 2021 na renda variável listada, no private equity
tivo e mensurável juntamente com retorno econômico, vem (saídas) e no crédito bancário.
sendo um importante promotor do movimento ESG no Brasil
desde 2018. Mas, apesar de os produtos de impacto ainda se- 6) MUDANÇAS CLIMÁTICAS A CAMINHO DO
rem raros entre as gestoras tradicionais, a análise e medição COMPLIANCE DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
do impacto nos investimentos como um todo vêm ganhando A partir de 2014, com o estabelecimento da Resolução 4.327
força. Uma vez que os procedimentos para integração ESG do Conselho Monetário Nacional, as instituições financeiras
nas gestoras estejam cada vez mais desenvolvidos e robustos, brasileiras aceleraram políticas e processos para incorporar
esperamos uma demanda crescente para que elementos de questões ambientais e sociais na gestão de riscos. Um ano de-
avaliação e mensuração de impacto sejam também incluídos pois, impulsionado pela crescente demanda de investidores
nos processos de investimento. por informações consistentes sobre riscos climáticos, o FSB
(Financial Stability Board) desenvolveu a Força-Tarefa para
5) AUMENTO DO VOLUME DE RECURSOS ESG Divulgações Financeiras relacionadas às Mudanças Climáti-
COMEÇA A MOVER CAPITAL E PREÇOS cas (TCFD). Com a evolução da agenda global de economia
NA ECONOMIA REAL verde, o Banco Central do Brasil está na iminência de in-

Fevereiro 2021 REVISTA RI 11


PONTO DE VISTA

corporar as recomendações da TCFD nas demandas de com-


pliance das instituições financeiras. Outros reguladores na-
cionais do setor financeiro também sinalizam interesse no
tema. Portanto, 2021 será o ano do “como” - não mais “se” - as
instituições farão para atender esta demanda e integrar as O movimento de agrupamento
mudanças climáticas em seus procedimentos e divulgações. e posicionamento conjunto
7) EMPRESAS BRASILEIRAS RESPONDEM À de investidores frente a
PERDA DE PRESTÍGIO AMBIENTAL DO BRASIL
O aumento no número de incêndios florestais e áreas des-
desafios socioambientais
matadas, reforçado pela postura do governo federal quanto e climáticos ganhou
a fiscalização e multas, colocou em dúvida a efetividade da
avançada legislação ambiental brasileira. Somado a diminui-
bastante força: em 2019
ção da ambição do Compromisso Nacionalmente Determina- investidores internacionais
do (NDC) frente ao Acordo de Paris, seria o cenário ideal para
diminuição da ambição das empresas brasileiras no tema am- se posicionaram quanto ao
biental. Por outro lado, como participantes de cadeias de valor desmatamento da Amazônia e
globais, as empresas brasileiras estão expostas a pressões de
seus investidores e clientes. Em 2020, algumas empresas de- em 2020 empresas brasileiras
ram importantes passos para evoluírem suas práticas de com-
fizeram o mesmo.
bate ao desmatamento na cadeia de suprimentos. Em 2021
outras grandes empresas devem seguir esse caminho e isso
deve influenciar que seus fornecedores também melhorem
suas práticas. As empresas serão mais vocais em relatar suas de, e até mesmo nas dívidas baseadas em desempenho ESG.
práticas para se dissociarem da imagem negativa do país. Após dois anos em que muitas empresas assumiram compro-
missos públicos com a sustentabilidade, o passo lógico é que
8) POSICIONAMENTO DE INVESTIDORES FRENTE seus executivos e gestores tenham os incentivos econômicos
AOS DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS E CLIMÁTICOS alinhados a agenda.
O movimento de agrupamento e posicionamento conjunto
de investidores frente a desafios socioambientais e climáti- 10) TEMAS ESG ENTRAM DE FORMA
cos ganhou bastante força: em 2019 investidores internacio- ESTRUTURADA EM CONSELHOS E COMITÊS
nais se posicionaram quanto ao desmatamento da Amazônia O conselho de administração direciona a tomada de decisão e
e em 2020 empresas brasileiras fizeram o mesmo. Pela sua determina o rumo dos negócios. O tema se tornou mais recor-
função magna de alocação produtiva de recursos ociosos, o rente nas pautas dos conselhos e deve ganhar ainda mais força
mercado financeiro é essencial para o enfrentamento dos de- por conta de sua relevância na gestão de riscos. Vale a reflexão
safios que já se apresentam e se intensificarão nos próximos se a frequência do assunto ampliará a ambição da organização
anos. Investidores pelo mundo já vêm entendendo sua inser- na agenda de sustentabilidade. Os comitês de sustentabilidade
ção nesta dinâmica, enquanto os investidores brasileiros es- podem protagonizar a qualificação do debate, oferecendo insu-
tão sendo cobrados por posicionamentos mais transparentes mos técnicos ao conselho e atuando como guardião da temá-
quanto aos temas ESG nas políticas públicas, pressionando tica na organização. Nesse sentido, são instâncias com papel
governos em torno de uma agenda positiva. relevante e cada vez mais reconhecido. RI

9) ALINHAMENTO DA REMUNERAÇÃO
EXECUTIVA ÀS METAS DE SUSTENTABILIDADE GUSTAVO PIMENTEL
é diretor executivo da SITAWI, provedora de
Vincular a remuneração variável de executivos a metas de consultoria e research ESG. Colaboraram para este
sustentabilidade não é uma prática nova: há anos as empre- artigo Maurício Barbeiro, Gustavo Pimentel, Beatriz
Maciel, Guilherme Teixeira, Carla Schuchmann,
sas utilizam métricas de saúde e segurança, retenção de co- Felipe Nestrovsky, Tatiana Assali, Cristóvão Alves,
laboradores ou satisfação do cliente como componentes dos Isabela Coutinho, Anderson Neto, Rachel Besso,
Rafael Gersely, Marina Briant, Biano Batista, Daniela
bônus. A novidade é a tração que o tema ganhou na agenda Lima e Fred Seifert, todos da equipe da Sitawi.
de investidores, nos ratings ESG e índices de sustentabilida- gpimentel@sitawi.net

12 REVISTA RI Fevereiro 2021


SUA ASSESSORIA DE RI PODE SER:

UMA QUE UMA QUE TEM UMA ESPECIALISTA


APARENTA SER FOCO EXCLUSIVO APENAS EM
MAIS BARATA EM TI DESIGN

OU PODE SER A GLOBALRI


Tudo o que você precisa em um só lugar, e bem feito.

ASSESSORIA DE RI:
Pré IPO • IPO • Divulgação • Estudo de percepção • Análise pós conferência • Compliance •
Benchmark • Estudos diversos • RI para empresas de capital fechado e familiares
TECNOLOGIA:
Website • Mailing • Voto à distância
COMUNICAÇÃO:
Relatório de sustentabilidade, anual e de administração • Criação • Consultoria GRI •
Relato integrado

um passo à frente em consultoria

www.globalri.com.br faleconosco@globalri.com.br
EM PAUTA

AGENDA POSITIVA
DE GOVERNANÇA
A INFLUÊNCIA DOS LÍDERES
PARA UMA GOVERNANÇA QUE
INSPIRA, INCLUI E TRANSFORMA

14 REVISTA RI Fevereiro 2021


De que forma os líderes empresariais devem fazer frente
às rápidas transformações, com foco em uma sociedade
mais justa e no respeito ao meio ambiente? O IBGC -
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - junto com
outras entidades e especialistas - indicam os pilares dessa
mudança e propõem uma série de medidas práticas.

por DANIELA ROCHA

Os fatores ESG não são algo novo, são abordados há décadas, portância das empresas considerarem os princípios ESG
mas o que mudou na conjuntura atual é que a percepção em seus negócios e colocando a sustentabilidade como
sobre a sua importância e as pressões para medidas efeti- padrão para os investimentos.
vas têm aumentado de forma significativa. A sociedade
demanda - com mais urgência - que as empresas assumam
corresponsabilidade para solucionar os principais desafios
que limitam a prosperidade, geram desigualdade social e
prejudicam o planeta.

Mais do que nunca as questões ESG - cuja sigla significa En-


vironmental, Social and Governance ou, em português, Am-
biental, Social e Governança - estão sob os holofotes. Alguns
eventos foram responsáveis por colocar essa pauta em evidên-
cia. Em 2019, a organização Business Roundtable, que reúne
CEOs de 181 das maiores companhias dos Estados Unidos, que
juntas empregam mais de 15 milhões de pessoas e contam
com um faturamento anual acima de US$ 7 trilhões, comuni-
caram a mudança de propósito corporativo do grupo, na ver-
dade, uma ruptura com a política adotada há mais de 20 anos,
que colocava a maximização dos lucros dos acionistas como
prioridade. Assim, a nova diretriz é que as empresas passem
a se comprometer também com seus colaboradores, clientes,
fornecedores e demais comunidades envolvidas.

No ano passado, Larry Fink, CEO da BlackRock, a maior


gestora do mundo, que conta com US$ 7,8 trilhões em
ativos sob gestão, escreveu uma carta ressaltando a im- LARRY FINK, BlackRock

Fevereiro 2021 REVISTA RI 15


EM PAUTA

Sempre trabalhamos
proativamente e constatamos que
deveríamos organizar e colocar
em único documento os conceitos
fundamentais e diversas medidas,
de natureza prática para que os
líderes empresariais não fiquem só
na teoria e contribuam mais para
uma sociedade mais justa.

HENRIQUE LUZ, IBGC

A BlackRock logo partiu para a prática, promovendo várias Conforme Henrique Luz, presidente do Conselho do IBGC,
alterações nas estratégias de seus fundos oferecidos no mer- os seis pilares, listados a seguir, podem ser adotados por to-
cado, seguindo esse critério. dos os tipos de organizações, de qualquer porte ou setor:

Também em 2020, no Fórum Econômico Mundial (World 1) ÉTICA E INTEGRIDADE: é um imperativo moral – e um
Economic Forum - WEF), chegou-se à conclusão de que os cinco fator decisivo para a continuidade dos negócios – que os lí-
principais riscos com probabilidade de ocorrência até 2030 são deres das organizações promovam uma cultura de integri-
de natureza ambiental, destacando a importância da gestão dade, em que as pessoas pratiquem a confiança, o respeito, a
de riscos pelas corporações. E, agora no início do ano, o WEF empatia e a solidariedade.
divulgou um relatório dos principais riscos globais, baseado
em uma ampla pesquisa, confirmando a alta chance desses 2) DIVERSIDADE E INCLUSÃO: uma cultura corporativa
riscos ambientais – que lideram por probabilidade e por im- baseada na diversidade e inclusão, além de assegurar um
pacto, além de mencionar as intercorrências da pandemia da valor humano fundamental – o respeito à diversidade –, é
Covid-19, como aumento da disparidade social e fragilização fonte permanente de criatividade e longevidade. Os líderes
da economia ainda nos próximos três a cinco anos. devem agir com urgência e comprometer-se a assegurar tra-
tamento justo e oportunidades iguais para todos, sobretudo
Diante desse cenário, o Instituto Brasileiro de Governança na promoção de equidade de gênero e raça.
Corporativa (IBGC), ao completar 25 anos como influencia-
dor de boas práticas e melhores processos para a adminis- 3) AMBIENTAL E SOCIAL: a atuação dos líderes na gestão
tração das empresas no país – reconhecido por difundir a dos impactos ambientais e sociais deve ir além da agenda
transparência, equidade, prestação de contas e responsabili- institucional. É fundamental integrar essas questões ao mo-
dade corporativa, lançou a Agenda Positiva de Governança, delo de negócio e promover a articulação da organização
aprofundando os aspectos ESG. com os diversos setores da sociedade.

16 REVISTA RI Fevereiro 2021


4) INOVAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO: a inovação deve ser naqueles relacionamentos entre o público e o privado.
a base de uma visão de futuro que objetiva o desenvolvimen-
to sustentado da organização. Os líderes devem tomar deci- 4. Identificar e divulgar ao mercado indicadores e a
sões coerentes com o propósito e a estratégia do negócio, justificativa econômica (business case) para a adoção
gerenciar os riscos do processo e ter disciplina para colher de práticas ligadas às questões ambientais, sociais e de
os resultados das ações no tempo certo e gerar valor para governança corporativa.
todas as partes interessadas.
5. Contribuir para a elaboração de leis, regulações,
5) TRANSPARÊNCIA E PRESTAÇÃO DE CONTAS: os lí- políticas públicas e padrões que estimulem as
deres devem promover a transparência e prestar contas de organizações a adotar melhores práticas em relação
sua atuação a partir de um diálogo aberto com as diferentes a questões sociais, ambientais e de governança
partes interessadas, identificando seus interesses e expecta- corporativa.
tivas, a fim de obter mais confiança e melhores resultados.
6. Estimular o mercado e o consumo de produtos e
6) CONSELHOS DO FUTURO: para que atuem como agen- serviços sustentáveis por meio de investimento em
tes de transformação e catalisadores da adaptabilidade e da inovação, pesquisa e desenvolvimento.
agilidade das organizações, os conselhos devem ser compos-
tos com maior foco em diversidade e competências socio- 7. Promover abertura a novos modelos de decisão
emocionais. Disposição para questionar, ouvir ativamente, baseados na experimentação, adotando instrumentos
respeitar outras visões, ousar, desaprender e reaprender são que permitam maior tomada de riscos na inovação.
condições essenciais para explorar novas formas de gerar va-
lor e viabilizar as transformações necessárias. 8. Fortalecer o esforço de inovação por meio de parcerias
com centros de estudos e academia e do fomento ao
“Sempre trabalhamos proativamente e constatamos que de- empreendedorismo e ao ecossistema de startups.
veríamos organizar e colocar em único documento os con-
ceitos fundamentais e diversas medidas, listadas a seguir, 9. Capacitar pessoas para que a organização se desenvolva
de natureza prática para que os líderes empresariais não em um novo contexto de negócios: mais íntegro,
fiquem só na teoria e contribuam mais para uma sociedade transparente, sustentável, diverso e inovador.
mais justa”, explica Luz.
10. Adotar os princípios básicos da governança corporativa
15 MEDIDAS PARA UMA GOVERNANÇA nas atividades que devem nortear a gestão e o diálogo
QUE INSPIRA, INCLUI E TRANSFORMA da organização com as partes interessadas.
1. Garantir com atitudes e medidas de conscientização
que líderes e colaboradores fundamentem suas decisões 11. Evidenciar a forma como a organização gera valor ao
na identidade da organização (propósito, missão, longo do tempo, por meio da divulgação de informações
visão, valores e princípios) e compreendam como seus integradas de natureza econômico-financeira, social,
comportamentos diários impactam a organização e a ambiental e de governança corporativa com igual nível
sociedade. de qualidade e confiabilidade.

2. Integrar os seis pilares da Agenda Positiva de 12. Garantir que as informações divulgadas sejam
Governança (ética e integridade; diversidade e comunicadas, tanto para o público interno quanto
inclusão; ambiental e social; inovação e transformação; para o externo, de forma completa, clara e concisa,
transparência e prestação de contas; e conselhos do considerando a percepção das partes interessadas sobre
futuro) ao propósito, à cultura organizacional e aos os impactos causados pela organização.
modelos de negócio e de geração de valor.
13. Implantar processos seletivos e programas de incentivo
3. Zelar para que os relacionamentos da organização que reconheçam e desenvolvam líderes empáticos – que
com seus colaboradores, clientes, fornecedores, sócios demonstrem capacidade de escuta ativa, vontade de
e demais partes interessadas sejam baseados nos mais servir, liderança horizontal, colaboração e abertura ao
sólidos princípios de integridade, principalmente dissenso.

Fevereiro 2021 REVISTA RI 17


EM PAUTA

Participei de inúmeros conselhos


de empresas e algum tempo
atrás, por exemplo, quando eu
abordava ética e integridade, havia
constrangimento, diziam que ali
não era o lugar para falar desse
tipo de pauta e que era preciso
concentrar a agenda nos projetos
e nos resultados.

RICARDO YOUNG, Instituto Ethos

14. Criar um ambiente de confiança e segurança O entendimento é que os conselheiros de administração e


psicológica para que as pessoas possam divergir os gestores executivos têm o papel de fortalecerem a cultura
entre si, reportar erros e irregularidades, manifestar das empresas com base em princípios éticos e sustentáveis.
dúvidas e preocupações e oferecer suas contribuições
abertamente. A transição do capitalismo de shareholders para o capitalismo
de stakeholders está acontecendo. Nesse sentido, está mudan-
15. Constituir um programa de diversidade e inclusão com do também o patamar de consciência do que significa ser lí-
alocação de recursos financeiros e pessoas dedicadas a der de uma companhia e das suas responsabilidades, avalia
pôr em prática um plano com ações intencionais para Ricardo Young, presidente do Conselho do Instituto Ethos.
ampliar a diversidade e fomentar a cultura inclusiva na “Participei de inúmeros conselhos de empresas e algum tem-
organização, bem como no conselho de administração. po atrás, por exemplo, quando eu abordava ética e integrida-
de, havia constrangimento, diziam que ali não era o lugar
De acordo com Henrique Luz, a elaboração da Agenda Posi- para falar desse tipo de pauta e que era preciso concentrar a
tiva de Governança envolveu mais de 50 pessoas entre es- agenda nos projetos e nos resultados. O que aconteceu é que
pecialistas em governança e sustentabilidade, acadêmicos, a complexidade do nosso tempo passou a exigir uma outra
agentes do mercado e representantes diversas entidades, qualidade de liderança empresarial com uma visão sistêmica,
entre elas, a Associação Brasileira das Companhias Abertas incorporando e sustentando os valores ESG“, diz.
(Abrasca), Associação Brasileira de Investidores no Mercado
de Capitais (Amec), Instituto dos Auditores Independentes Young afirma que nos últimos anos, os escândalos de cor-
do Brasil (Ibracon), Instituto Brasileiro de Relações com In- rupção envolvendo grandes companhias como a Petrobras
vestidores (IBRI), Instituto Capitalismo Consciente Brasil e o e Odebrecht, alvos da Operação Lava-Jato, geraram clima
Instituto Ethos. de desconfiança, prejudicaram o ambiente de negócios e

18 REVISTA RI Fevereiro 2021


levaram a muitas discussões sobre a necessidade de uma
legislação mais forte e punitiva para acabar com o crime.
“As leis são ferramentas importantes, mas na verdade, ficou
claro que é a cultura da organização que dá sustentação e
fundamentação tanto à estratégia ESG quanto ao complian-
ce para que não haja corrupção. É essencial que os gestores
disseminem com clareza os valores da organização para que
os colaboradores e comunidades envolvidas entendam como
agir diante dos dilemas éticos e desafios que surgem a todo
momento. Ilustrando com uma situação, se houver um in-
cêndio em uma sala de cinema, todas as pessoas que estão
lá se unem imediatamente em torno do mesmos objetivo
que é sair do local e combater o fogo, apesar das suas dife-
renças. Da mesma forma, em uma empresa, os funcionários
e demais stakeholders devem se mobilizar em torno de um
objetivo e valores comuns e verdadeiros – que eles enten-
dem e acreditam - não meramente protocolares”, comenta o
presidente do Conselho do Instituto Ethos.

“O termo deveria ser GSE, com Governança em primeiro


lugar, por conta da necessidade de uma estruturação de
empresas humanizadas, que têm propósitos e líderes cons- HUGO BETHLEM, Capitalismo Consciente
cientes”, defende Hugo Bethlem, presidente do conselho
do Instituto Capitalismo Consciente no Brasil.

Estudos mostram que companhias que têm propósito, que


são as causas pelas quais elas existem, muito mais do que
simplesmente gerar lucros, conseguem manter alta reputa-
ção, aumentar a fidelidade dos clientes e ter resultados con-
sistentes ao longo do tempo. De acordo com Bethlem, essas
empresas conquistam o share of heart, ou seja, criam um laço O termo deveria ser
afetivo com o consumidor e despertam o respeito e admira-
ção por outras partes envolvidas.
GSE, com Governança
em primeiro lugar, por
Aqui no Brasil, o Instituto Capitalismo Consciente liderou
uma pesquisa chamada “Empresas Humanizadas”, ao longo conta da necessidade
de 2018 e 2019, revelando as vantagens competitivas e a per-
de uma estruturação de
formance positiva das companhias humanizadas. O estudo
envolveu 1.115 empresas de todos os tamanhos e segmentos, empresas humanizadas,
sendo que 22 participaram de todas as etapas, entre elas, a
Natura, Boticário, Reserva, Klabin, Hospital Israelita Albert
que têm propósitos e
Einstein e Jacto. líderes conscientes.
Esse levantamento mostra que retorno sobre o patrimônio
(ROE) das empresas humanizadas foi 6 vezes maior do que
a média das 500 maiores companhias do país em um perí-
odo de 20 anos. As empresas com propósito têm um nível
de satisfação dos colaboradores 225% superior do que a mé-
dia das 500 maiores companhias e um índice de satisfação
de clientes (NPS) 248% superior. O estudo resultou no livro

Fevereiro 2021 REVISTA RI 19


EM PAUTA

Não é como um interruptor


que liga e desliga, que só
porque o ESG não está na
agenda da empresa que ela
irá quebrar amanhã, mas
ao longo do tempo, as coisas
tendem a piorar para ela.

FABIO ALPEROWITCH, Fama Investimentos

“Empreendedorismo Consciente: Como Melhorar o Mundo da empresa que ela irá quebrar amanhã, mas ao longo do
e Ganhar Dinheiro”, lançado no ano passado. Agora, outro tempo, as coisas tendem a piorar para ela”, destaca.
levantamento está em andamento, com um número maior
de companhias interessadas. Hugo Bethlem, do Instituto Capitalismo Consciente, ressalta
que existe uma forte pressão dos consumidores e dos cola-
AGORA VAI? MOTIVOS NÃO FALTAM E boradores Millennials e, principalmente, da Geração Z, que
HÁ PRESSÕES POR TODOS OS LADOS valorizam mais o respeito ao meio ambiente e a diversidade
Na visão de Fabio Alperowitch, sócio-fundador e gestor do que as gerações anteriores. “A nova geração mais enga-
de portfólio da Fama Investimentos, muitas empresas ainda jada, quer ter orgulho das empresas onde trabalham”, diz.
não acordaram e acham equivocadamente que ESG é uma
pauta de conformidade. Desse modo, essas companhias Segundo Henrique Luz, do IBGC, há um movimento cres-
acreditam que precisam ser responsáveis ambientalmente cente de empresas aderindo aos pilares ESG. Contudo, ainda
para não tomarem multas e serem responsáveis socialmen- existe um universo considerável de companhias que ainda
te para não se tornarem alvos de processos trabalhistas, o não se mobilizaram ou onde vigora o descolamento entre o
que é básico a ser feito, enquanto ESG diz respeito à criação discurso e a prática, isto é, nos relatórios e comunicações
de valor. Então, segundo ele, uma empresa que não defen- aparecem muitas coisas que não são lastreadas em ações.
de a diversidade e inclusão e que não seja expressamente “A distância entre o discurso e a prática não pode ser um
anti-racista e anti-homofóbica, terá dificuldade para atrair abismo. Infelizmente, muitas empresas vão entrar fazendo
e reter talentos. As companhias que não se preocupam com greenwashing, mas certamente a sociedade e os investido-
questões ambientais, serão cada vez mais rejeitadas pelos res vão depurar isso ao longo do tempo”, avalia.
consumidores, e as empresas pouco diversas dificilmente
tomarão as melhores decisões. “Não é como um interruptor Conforme ele, aos poucos, ganha força o ativismo dos inves-
que liga e desliga, que só porque o ESG não está na agenda tidores institucionais, seguindo as iniciativas da BlackRock

20 REVISTA RI Fevereiro 2021


Não temos ainda um padrão sobre
aplicação do ESG, mas as casas
mais sofisticadas nessa pauta têm
adotado práticas de engajamento
com as empresas investidas,
exercido o voto nas assembleias
e feito manifestações públicas de
cobrança de práticas de negócios
alinhados aos valores.
FABIO COELHO, AMEC

e de outras grandes gestoras, que estão demandando aos Mas a mudança é inevitável. Na avaliação de Flávia
conselhos e CEOs das empresas onde aportam recursos uma Mouta, diretora de Emissores da B3, como as questões
gestão mais efetiva dos impactos ambientais e sociais. ESG se comprovam relevantes tanto para imagem e re-
putação das organizações quanto para seus resultados,
Para Fabio Coelho, presidente da Associação de Investido- os investidores estão ficando mais atentos. Ela comen-
res no Mercado de Capitais (Amec), os agentes não têm agido ta, por exemplo, que a ausência de determinados com-
de forma homogênea, são muito diferentes entre si. Anali- promissos ambientais e sociais podem, em última ins-
sando a indústria de gestão de recursos no Brasil, há casas tância, interferir em acordos comerciais, prejudicando
tradicionais que estão sendo desafiadas por modelos de ne- exportações e importações. “Tendo em vista esse tipo
gócios mais dinâmicos de assets independentes, há gestoras de impacto, investidores institucionais, dado o seu de-
com cultura estrangeira e aquelas com cultura de bancos. ver fiduciário, estão cada vez mais exigentes e criterio-
“Não temos ainda um padrão sobre aplicação do ESG, mas sos em relação a esses compromissos de transparência
as casas mais sofisticadas nessa pauta têm adotado práticas e avanços em boas práticas ESG. Mas vale ressaltar que
de engajamento com as empresas investidas, exercido o voto esse comportamento também começa a ser observado
nas assembleias e feito manifestações públicas de cobrança em outras classes de investidores, como os de varejo”,
de práticas de negócios alinhados aos valores”, afirma. diz.

Na visão de Fabio Alperowitch, o ativismo dos acionistas é inci- Sonia Consiglio Favaretto, especialista em sustenta-
piente e aborda ESG de forma reducionista. “O ativismo, quan- bilidade, conselheira de administração e SDG Pioneer
do existe, diz respeito principalmente à redução da emissão de pelo Pacto Global das Nações Unidas, diz que a pande-
CO2 e existe também pressão pela equidade de gênero, como mia da Covid-19 é mais um fator que colocou a susten-
se tudo se resumisse a isso. Porém, as questões ambientais e tabilidade na linha de frente das empresas, desafiando
sociais são muito mais amplas e complexas”, afirma. os CEOs e conselhos.

Fevereiro 2021 REVISTA RI 21


EM PAUTA

Segundo especialistas, a crise do coronavírus tem levado


um olhar mais social e humanizado. Nessa linha, diante
das medidas de distanciamento para conter o vírus e de
outros desafios, a Ambev (ABEV3), por exemplo, criou uma
diretoria de Saúde Mental, Diversidade e Inclusão e Bem-
-estar. A responsável é Mariana Holanda, que tem formação
em psicologia.

Outro driver de transformação destacado é que o governo


americano, a partir da entrada do presidente Joe Biden, co-
loca a sustentabilidade como prioridade e se manifesta em
prol à diversidade. Logo que tomou posse, Biden anunciou o
retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, tratado no
âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança
do Clima, que rege medidas de redução de emissão de gases
do efeito estufa. “Com a vitória de Biden, a sustentabilidade
avançará, afinal os Estados Unidos exercem liderança e in-
fluência e irá pressionar não só o Brasil, mas o mundo todo.
Certamente, as questões ESG vão ganhar velocidade e im-
portância”, conclui Favaretto.

FLÁVIA MOUTA, B3 Joe Biden, informou no seu primeiro dia de governo: “Os
Estados Unidos voltarão ao Acordo de Paris e começarei ime-
diatamente a trabalhar com meus colegas em todo o mundo
para fazer tudo o que puder, incluindo convocar os líderes
das maiores economias para uma cúpula do clima em meus
primeiros 100 dias no cargo.”
Investidores institucionais,
AS ATRIBUIÇÕES DO RI NESSE CENÁRIO
dado o seu dever fiduciário, Os executivos de relações com Investidores têm se dedica-
estão cada vez mais exigentes do em prol do aprimoramento contínuo dos relatos empre-
sariais na perspectiva ESG, para assegurar mais transpa-
e criteriosos em relação rência. “Um dos principais desafios dos RIs é a elaboração

a esses compromissos de do Relato Integrado, já que nas divulgações periódicas das


S/As existem muitos elementos de criação de valor que são
transparência e avanços importantes para os investidores, mas que não são ade-
quadamente capturados nas demonstrações financeiras”,
em boas práticas ESG. Mas destaca André Vasconcellos, RI na Eletrobras e diretor-
vale ressaltar que esse -adjunto no Rio de Janeiro do IBRI. Ele também avalia que
os RIs têm defendido essa agenda ESG no ambiente intra-
comportamento também organizacional.

começa a ser observado em O IBRI já conta com uma comissão ESG para acompanhar a
outras classes de investidores, evolução dessas questões e disseminar conhecimento entre
os profissionais e contribuiu para a Agenda Positiva de Go-
como os de varejo. vernança. “A Agenda Positiva tem como objetivo criar um
ambiente favorável ao investimento de longo prazo. A boa
governança é fundamental na atração de capital”, afirma
Rafael Mingone, RI na Gerdau e coordenador da comissão
ESG do IBRI.

22 REVISTA RI Fevereiro 2021


Com a vitória de Biden, a
sustentabilidade avançará,
afinal os Estados Unidos
exercem liderança e influência
e irá pressionar não só o Brasil,
mas o mundo todo. Certamente,
as questões ESG vão ganhar
velocidade e importância.

SONIA FAVARETTO,
Especialista em Sustentabilidade

COPO MEIO CHEIO E últimos 20 anos. “Houve avanço no número de conselheiros


MEIO VAZIO DA GOVERNANÇA independentes, a criação de comitês técnicos mais sofistica-
Segundo especialistas a construção de uma boa governança dos para apoiar as decisões, além das avaliações feitas por
é uma jornada. Nos últimos anos, houve avanços, mas mui- consultores externos. Diversos temas como a transformação
tas questões ainda precisam ser resolvidas, há muito espaço digital e a diversidade entraram na pauta e se intensificou a
para avançar. preocupação com a gestão de riscos e compliance”, enfatiza.

Em 2020, a participação de mulheres em conselhos de ad- Para Alexandre Silva, outro aspecto que também ganhou
ministração foi de 11,5%, segundo o Spencer Stuart Board relevância é a inovação, que faz parte da Agenda Positiva
Index Brasil. O avanço foi de um ponto percentual em rela- de Governança. “A inovação é um pilar da governança. As
ção ao ano anterior. Ainda é uma fatia pequena, mas em um transformações do mundo são cada vez mais rápidas, com
passado não muito distante, as mulheres não tinham quase o progresso da tecnologia e de materiais. Então, a inovação
nenhuma voz nessa área. “Vejo uma tendência dos conse- deve permear todas as áreas da empresa: os produtos, os
lhos serem mais diversos, com diferentes experiências e vi- processos produtivos, serviços, estrutura comercial e de re-
sões, tanto em relação às formações, que incluem agora pro- cursos humanos. Isso é essencial para o diferencial compe-
fissionais de sustentabilidade e de variados segmentos - não titivo, melhor desempenho, trata-se mesmo de uma questão
somente os tradicionais como economia, direito e adminis- de sobrevivência dos negócios.”
tração, quanto com a presença de mais mulheres. Eu sou um
exemplo, sou jornalista e especialista em sustentabilidade e, Flávia Mouta, da B3, diz que uma forma de ver a evolução da
hoje, faço parte do conselho do BNDES”, diz Sonia Favaretto. governança no Brasil é acompanhar o histórico do segmento
de listagem no Novo Mercado, que passou por aperfeiçoa-
Atuante no IBGC, Alexandre Silva, presidente do Conselho mentos. Diante dos grandes escândalos e crises no mercado,
de Administração da Embraer, diz que houve grande me- houve demanda por medidas mais efetivas de proteção aos
lhoria na governança das companhias como um todo nos investidores. “O Novo Mercado se adaptou com atualizações

Fevereiro 2021 REVISTA RI 23


EM PAUTA

Um dos principais desafios dos RIs é


a elaboração do Relato Integrado, já
que nas divulgações periódicas das
S/As existem muitos elementos de
criação de valor que são importantes
para os investidores, mas que não
são adequadamente capturados nas
demonstrações financeiras.

ANDRÉ VASCONCELLOS, IBRI

em seu regulamento em 2006, 2011 e, mais recentemente, pega um horizonte temporal maior. O mercado financeiro é
em 2018”, destaca Flávia. Ao longo do tempo, conforme des- muito mais sofisticado hoje do que nos anos 2000, quando nem
taca, foram incorporadas regras como a exigência de que havia o Novo Mercado. No entanto, ele acredita que há um cer-
ao menos 20% do conselho seja formado por conselheiros to paradoxo no ar neste momento. “Toda vez que o mercado de
independentes e a vedação à sobreposição de cargos do con- capitais local dá dois passos para a frente em termos de cres-
selho de administração e de diretor presidente ou principal cimento das operações, temos a impressão que ele dá um pas-
executivo da empresa. As companhias também passaram a so para trás em termos de governança. Na Amec, falamos que
ter que divulgar sua política de negociação de valores mobi- bons anos, com atividade mais intensa de IPOs, geram também
liários e um código de conduta. Em 2018, o foco escolhido na desrespeito às práticas consagradas de governança”, ressalta.
evolução das regras do Novo Mercado foi o gerenciamento
de risco e controles internos. Essas mudanças serão integral- Entre os pontos de retrocesso apontadas por ele, a discus-
mente implementadas pelas companhias até 2022. são sobre a possibilidade de criação de ações com direitos
diferenciados de voto (Super ON), a questão de conflito de
“Ainda há muito a ser feito. Questões mais recentes, como interesses em operações entre partes relacionadas, o exer-
a agenda ESG e um forte apelo social pela ampliação da di- cício de voto conflitado em casos de benefícios particulares.
versidade de gênero e raça são alguns dos desafios que se “E mais, assistimos no último ano algumas empresas tes-
impõem no ambiente empresarial e que ainda precisam ser tando o mercado para fazer seus IPOs mesmo sem reunir
enfrentados pelas organizações”, acrescenta Flávia. condições mínimas de governança. Tudo isso gera uma visão
negativa, cujas consequências só deverão ser sentidas daqui
Fábio Coelho, da Amec, diz que o saldo é positivo quando se alguns anos”, afirma o presidente da Amec.

24 REVISTA RI Fevereiro 2021


Também com uma posição crítica, Fabio Alperowitch, da
Fama Investimentos, diz que adoção de bons princípios de
governança depende dos participantes e que os investido-
res devem acompanhar isso de perto. Conforme ele, a cria-
ção do Novo Mercado deve ser reconhecida como algo posi-
tivo, um importante passo, mas esse segmento de listagem
não pode ser considerado um fator de proteção definitivo
aos minoritários.

A JBS (JBSS3) é do Novo Mercado, e esteve envolvida em um


esquema de corrupção, com a atuação dos irmãos Joesley e
Wesley Batista.

Ele afirma que em um período mais recente, o país voltou


a ter algumas situações inadequadas semelhantes às ocor-
ridas na década de 90. “Há muito o que se fazer mesmo, es-
tou falando de escândalos de 2020”, diz. Ele cita o IRB-Brasil
Resseguros (IRBR3), que teve irregularidades em suas prá-
ticas contábeis e fez a divulgação falsa de que a Berkshire
Hathaway, gestora americana de Warren Buffett, teria par-
ticipação na empresa. E ele fala ainda da aquisição da Linx
pela Stone, que colocou os acionistas minoritários em des- ALEXANDRE SILVA, Embraer
vantagem. Considerando as indenizações por competição e
contrato de trabalho, os principais executivos da empresa
receberam R$ 46 por ação, um prêmio de 35% sobre o valor
que os sócios minoritários receberam.

Em tese, isso poderia ter sido derrubado em assembleia, uma


Houve avanço no
vez que os fundadores tinham uma participação de somente número de conselheiros
15% na empresa, mas a votação dos minoritários acabou sendo
“coibida” com o estabelecimento de multas. “O problema é que independentes, a criação
no contrato de compra/venda tinha condicionantes. Haveria
multa caso a operação não fosse aprovada, o que colocou os
de comitês técnicos
minoritários em situação difícil. Além disso, se os minoritários mais sofisticados para
trouxessem outra empresa para comprar a Linx, mesmo que
por um valor maior, haveria multa ainda maior”, explica.
apoiar as decisões, além
das avaliações feitas por
Outro caso emblemático foi da CVC (CVCB3), que no início
do ano passado, antes pandemia de Covid-19, teve escancara- consultores externos.
das distorções contábeis em suas demonstrações financeiras
e falhas nos controles internos. A confusão levou à saída do
Diversos temas como a
então CEO, do presidente do conselho da companhia e de ou- transformação digital e a
tros executivos. Em agosto, a CVC informou que, após inves-
tigações, encontrou R$ 362,3 milhões em erros e distorções diversidade entraram na
contábeis e, assim, concluiu a reconciliação das demonstra- pauta e se intensificou a
ções financeiras de 2019, incluindo valores referentes aos
anos anteriores, causando redução nos resultados. “É bom preocupação com a gestão
lembrar que os executivos tinham ganhado bônus com base
nos resultados apresentados de forma distorcida ao longo
de riscos e compliance.
desses anos”, destaca Fábio Alperowitch. RI

Fevereiro 2021 REVISTA RI 25


EM PAUTA | ENTREVISTA

“Governança é
uma jornada...”

Henrique Luz
Presidente do Conselho de
Administração do IBGC

RI: Qual é a importância da Agenda Positiva de


Governança e o que se espera a partir dela?

Henrique Luz: Ao longo de sua história, o IBGC conquis-


tou relevância, trouxe o conceito de governança e os prin-
cípios de Transparência, Equidade, Prestação de Contas
e Responsabilidade Corporativa, e sempre agiu com coe- Quando falamos de liderança
rência. Isso é um pouco falar de nós mesmos, mas é inte- aqui nos referimos aos
ressante. Fizemos uma pesquisa há um ano e meio com
stakeholders e vimos que eles reconhecem que o IBGC é um conselhos de administração
bom curador, considera diversos pontos de vista para a
construção e gestão do conhecimento e é um mobilizador,
e as gestões executivas das
que trabalha em rede e com proatividade. A partir desse re- empresas, que são profissionais
sultado, constatamos que deveríamos organizar e colocar
em único documento os conceitos fundamentais e diversas capazes de inspirar e estruturar
medidas de natureza prática para que os líderes empresa-
riais contribuam mais para uma sociedade mais justa. É
novas maneiras de fazer
uma agenda para ajudá-los a pensar conosco o futuro da coisas. É com essas pessoas que
governança no país.
estamos nos comunicando,
RI: Qual o papel hoje dos líderes no mundo que as pessoas que vão liderar
passa por profundas e rápidas transformações?
e inspirar os processos de
Henrique Luz: Quando falamos de liderança aqui nos refe-
rimos aos conselhos de administração e as gestões executi-
mudanças nas empresas e
vas das empresas, que são profissionais capazes de inspirar nas entidades.
26 REVISTA RI Fevereiro 2021
e estruturar novas maneiras de fazer coisas. É com essas
pessoas que estamos nos comunicando, as pessoas que vão
liderar e inspirar os processos de mudanças nas empresas
e nas entidades.
Então, o que importa
RI: Como o senhor vê a evolução da Governança
não é você ter tudo
no Brasil?
funcionando hoje, mas é
Henrique Luz: Teve uma enorme evolução. O Brasil não
é um país de corporações, que são empresas que não têm
estar em progresso. Tem
controle definido – há atualmente apenas 14 organizações uma frase de Abraham
companhias nessa categoria como a Embraer, Lojas Renner
e Burger King. E, em 1995, o país não tinha nenhuma cor- Lincoln que diz “Eu sou um
poração pura e a maior parte dos conselheiros escolhidos
pelas companhias abertas não eram independentes, eram
caminhante lento, mas eu
amigos e conhecidos dos donos ou pessoas que ocupa- nunca fui para trás”. Essa
ram altos cargos como ex-ministro para dar “placa” para
as empresas. O fato é que, 25 anos depois, não é bem o história é importante em
que acontece. Tivemos a criação de diversos segmentos de governança. Aqui no Brasil,
listagem na Bolsa demandando mais informações e trans-
parência. Em 2016, saiu o Código Brasileiro de Governan- de forma geral, tivemos
ça Corporativa de Companhias Abertas, resultado de um
movimento que o IBGC liderou envolvendo 11 entidades
aprimoramento, mas ainda
e que teve muita base no código do próprio IBGC. A Co- temos um longo caminho
missão de Valores Mobiliários (CVM) assumiu esse código
e alterou a resolução 480, incluindo o Informe Anual de pela frente.
Governança. Esse informe inclui questões definidas no có-
digo e tem a metodologia de reporte “aplique ou explique”
(“comply or explain”). O regulador brasileiro optou por esse
modelo europeu por não ser impositivo como nos Estados estratégico para os próximos cinco anos. Na verdade, con-
Unidos. Assim, ou a empresa aplica ou explica o motivo tamos com um programa de pensamento estratégico per-
porque não faz. Todo país que segue essa linha tem um manente. Então, definimos os caminhos a perseguir para o
processo de aprendizado, o que é mais saudável. E não é o IBGC continuar sendo uma entidade relevante no contexto
regulador que exige, na verdade, é o mercado que lê e pre- da sociedade vis a vis seu propósito. Temos cumprido uma
cifica as empresas. Eu diria que o Brasil teve um progresso série de etapas e mudanças nas configurações internas
gigantesco, mas existe uma máxima que diz: “governança para termos sucesso nessa missão. Nós reunimos hoje mais
corporativa é uma jornada”. Então, o que importa não é de 2,5 mil pessoas em todo o Brasil, formamos conselhei-
você ter tudo funcionando hoje, mas é estar em progresso. ros de administração e oferecemos outros tipos de capaci-
Tem uma frase de Abraham Lincoln que diz “Eu sou um tações e comissões técnicas em diversas áreas como inova-
caminhante lento, mas eu nunca fui para trás”. Essa histó- ção e transformação. Inovamos bastante, o nosso Congres-
ria é importante em governança. Aqui no Brasil, de forma so em 2020 com o tema “Governança que Inspira, Inclui e
geral, tivemos aprimoramento, mas ainda temos um longo Transforma” foi 100% online e teve a participação de mais
caminho pela frente. de 3 mil pessoas. No evento, eu entrevistei alguém que di-
ficilmente no mundo físico eu conseguiria, que foi o John
RI: Quais são suas principais atividades e W. Thompson, presidente do Conselho de Administração
realizações a frente do conselho do IBGC, além da Microsoft. Nesse Congresso, tivemos a participação de
da Agenda Positiva de Governança? vários palestrantes estrangeiros, além de grandes nomes
do país. Enfim, temos trabalhado bastante e o IBGC está
Henrique Luz: Quando eu assumi a presidência do Conse- saudável financeiramente, o que nos retroalimenta para
lho em abril de 2019, o objetivo foi organizar o novo plano cumprir o nosso plano estratégico como queremos. RI

Fevereiro 2021 REVISTA RI 27


AMEC OPINIÃO

GOVERNANÇA
CORPORATIVA
no contexto do boom dos IPOs
O ano de 2020 será histórico para IPOs em todo o mundo. Se antes da
pandemia a perspectiva dos investimentos era de maior seletividade
na escolha das empresas, o excesso de liquidez, a busca por retornos
mais atrativos e o senso de oportunidade transformaram o ano com
a surpreendente quantidade de ofertas. Apesar de todo esse frenesi,
quando as condições que trouxeram as entrantes ao mercado se
dissiparem, aspectos sólidos como a governança serão testados
no relacionamento entre investidores e empresas.

por FÁBIO HENRIQUE DE SOUSA COELHO

No Brasil, onde a taxa básica atingiu a mínima histórica de


2 por cento ao ano e o número de investidores individuais
se aproxima de 4 milhões, os IPOs registraram números im- Ao contrário do passado,
pressionantes. No ano fechado, dados da B3 mostram que
foram captados mais de 40 bilhões de reais nas 28 ofertas quando muitos diziam
de IPOs, o segundo maior volume da história. Se incluirmos
os follow-ons na análise, os números de captação de recursos
que empresas estreantes
se aproximam de R$ 100 bilhões. diminuíam os recursos
Entre as estreantes, há empresas de setores não antes
disponíveis - classificando as
disponíveis no mercado local, como a fintech de cashback operações até mesmo como a
Méliuz, a rede de pet shops Petz, a administradora de
estacionamentos Estapar e a empresa de manejo de resí- “morte da bolsa” - a ampliação
duos Ambipar. Ao contrário do passado, quando muitos dos setores do mercado
diziam que empresas estreantes diminuíam os recursos
disponíveis - classificando as operações até mesmo como brasileiro tem sido vista como
a “morte da bolsa” - a ampliação dos setores do mercado
brasileiro tem sido vista como desenvolvimento benéfico
desenvolvimento benéfico do
do mercado de capitais. mercado de capitais.
28 REVISTA RI Fevereiro 2021
Outro destaque positivo é a realização de captações com
tickets menores, inferiores a R$1 bilhão, o que reforça o
mercado de capitais como fonte alternativa ao crédito ban-
O fato de que muitas empresas
cário para esses volumes de capital. Além disso, é motivo aceleraram seus processos de
de comemoração o fato de que 26 das 28 estreantes aderi-
ram ao Novo Mercado, o mais alto segmento de governança
IPO para aproveitar a janela
corporativa da B3 - sem contar a migração de companhias de oportunidades é algo pra
já listadas, como TIM e GPA - o que indica apelo dos inves-
tidores pela preservação de seus direitos como acionistas lá de positivo, e a presença
minoritários e boas práticas de gestão. Vale lembrar que o
de pontos de atenção não
assunto vem sendo cada vez mais discutido no Brasil e no
exterior, em meio à ascensão dos critérios de investimen- desmerece o momento do
tos baseados em Ambiente, Social e Governança - ou ESG.
mercado brasileiro.
É verdade que alguns projetos não se concretizaram por
questões relacionadas ao valuation ousado ou pela baixa
demanda dos investidores, argumentos mais comuns para Em perspectiva mais geral, outros aspectos dos IPOs tam-
se justificar a interrupção de novas ofertas. Pouco tem sido bém precisam de aperfeiçoamentos. Uma pesquisa do capí-
explorado com relação à incapacidade de muitas empresas tulo brasileiro do 30% Club, movimento que visa ampliar o
em atender requisitos mínimos de governança exigidos equilíbrio de gênero no comando das empresas, mostra que
pela bolsa brasileira. Muitas operações nem chegam ao mulheres ocupavam apenas 11,2 por cento dos vagas nos
mercado por conta da fraca estrutura de governança das conselhos das empresas que realizaram IPOs até setembro
empresas, que carregaram até o último minuto suas estru- último. O conselho de apenas uma empresa era presidido
turas familiares e os relacionamentos conflituosos com ou- por uma mulher e oito das estreantes não tinham sequer
tras empresas do próprio fundador, com a promessa de que uma mulher no board. A situação é mais preocupante ao se
tudo será diferente a partir da oferta pública inicial. pensar que, no IBRX 100, índice que compila as 100 maiores
empresas da bolsa brasileira, a proporção de mulheres no
Há relatos de empresas que nem mesmo tinham balan- board é ainda menor: somente 10 por cento.
ços auditados para os últimos anos, ou que nem mesmo
possuíam Conselho de Administração estruturado quan- O fato de que muitas empresas aceleraram seus processos de
do do envio dos primeiros documentos da estruturação IPO para aproveitar a janela de oportunidades é algo pra lá de
da operação. Mas além dos requisitos check the box, fica a positivo, e a presença de pontos de atenção não desmerece o
sensação de que a ausência de cultura de compliance, con- momento do mercado brasileiro. Avalio que a prova de fogo
troles internos e segregação de funções fará com que al- que se colocará para todas essas mudanças será a próxima tem-
gumas empresas tenham dificuldade no relacionamento porada de assembleias, prevista para ter início em março. Será
com investidores. Até porque é fácil imaginar que mesmo o momento em que investidores institucionais e estrangeiros
empresas melhor preparadas passam por uma curva de buscarão interlocução maior com as companhias dentro do es-
aprendizado no amadurecimento de suas áreas de Rela- pírito de engajamento, e será, portanto, o teste de fogo das áre-
ções com Investidores (RI). as de RI. Seguimos na torcida para um desfecho positivo. RI

Nesse contexto, é natural que novas companhias listadas


comecem com o básico e evoluam suas práticas com o tem-
po, mas é nesse momento de estruturação das entrantes
que “aumenta a responsabilidade das empresas já listadas
em ser exemplo de melhores práticas”, como apontou re- FÁBIO HENRIQUE DE SOUSA COELHO
centemente o presidente do Conselho do Instituto Brasi- é presidente-executivo da Amec - Associação
de Investidores no Mercado de Capitais.
leiro de Governança Corporativa (IBGC), Henrique Luz. fabio.coelho@amecbrasil.org.br
Justamente por isso, o escrutínio da governança corporati-
va envolvendo empresas do segmento Novo Mercado deve
continuar sendo bastante elevado.

Fevereiro 2021 REVISTA RI 29


SUSTENTABILIDADE

ECONOMIA &
MEIO AMBIENTE:
ESPERANÇA DE UMA RELAÇÃO
MENOS CONTURBADA
“Há duas maneiras de ver a vida: acreditar que não pode
haver milagres ou acreditar que tudo é um grande milagre.”
Albert Einstein

30 REVISTA RI Fevereiro 2021


Compreender que durante 1 bilhão de anos a vida foi se
moldando lentamente desde a criação do oxigênio, dos
primeiros seres unicelulares até este mega ecossistema único
até onde nossas super lentes telescópicas enxergam. De fato, é
um esforço tão grandioso que para nós seres humanos, a vida
é um milagre que se fez e refez várias vezes em espaços
de milhões de anos entre os eventos.

por EDUARDO WERNECK

Depois dessa mega construção, sem participação do Homem,


comprometê-la parece estar sendo fácil e certamente não ha-
verá milagre na sua reconstituição com a nossa presença. O
que está acontecendo?
Desde que o homem se
Desde que o homem se organizou economicamente, as re- organizou economicamente,
lações com a Natureza foram mudando. As primeiras or-
ganizações econômicas não reconheciam a natureza entre as relações com a Natureza
seus fatores de produção. Esta fase foi de ampla exploração
da madeira, importante, por exemplo, para as descobertas
foram mudando. As
marítimas. primeiras organizações
Posteriormente, na era pós descobrimentos, o Homem se
econômicas não reconheciam
apropriava dos recursos naturais, reconhecendo o seu direi- a natureza entre seus fatores
to de explorar em benefício da sociedade (Francis Bacon), a
partir de um sistema circular aberto, ainda com a premissa de produção. Esta fase foi
de infinitude dos recursos naturais. A Revolução Industrial de ampla exploração da
turbinou esse sistema, a partir do uso dos combustíveis fós-
seis em larga escala. madeira, importante, por
A poluição começou a se tornar um problema, o que foi aler-
exemplo, para as descobertas
tado por Arthur Pigou no início do Século XX, quando che- marítimas.
gou a defendeu o que se chama atualmente o “Princípio do
Poluidor Pagador”.

Fevereiro 2021 REVISTA RI 31


SUSTENTABILIDADE

Na área social, economistas como John Stuart Mills levanta-


ram questões importantes como justiça social e desigualdade
de renda. Mills defendia em seu livro Princípios da Economia
Política - 1848, que o crescimento econômico tinha uma con- Se esta questão já é
dição estacionária provocada pela tendência de estabilização
da população. Foi o primeiro a colocar a questão do cresci- complexa por si só,
mento em discussão.
entramos em um
Alfred Marshall, pai da economia neoclássica consolidou a processo tecnológico que
dimensão humana de seus fundamentos. Para entender seu
pensamento sobre o Meio Ambiente, ele entendia que água e
robotiza a economia,
ar não exigem esforço de trabalho para sua produção e, por- gerando ainda mais
tanto, não geram valor. Para o ar ter valor precisava da ação
do trabalho humano. Além do mais “era abundante”.
stress na substituição do
fator trabalho por capital
Foi Nicholas Georgescu-Roegen (Analytical Economics, 1966,
The Entropy Law and the Economic Process, 1971, entre outros) físico, resultando em
quem defendeu claramente que os paradigmas econômicos mais pressão sobre os
não poderiam funcionar em um sistema como a Terra e pro-
pôs uma terceira alternativa, a do sistema circular fechado recursos naturais.
em que a Natureza entra como o terceiro elemento da circu-
laridade. Nada mais entra, a menos que soframos bombar-
deios sistemáticos de meteoros.

Para ele o planeta tem recursos finitos com perda de ener- Economia e Meio Ambiente aumentou muito depois da 2ª
gia no processo de transformação da matéria (Lei da Entro- guerra mundial, com um stress crescente entre política eco-
pia), apesar dos esforços de melhoria de produtividade por nômica e política ambiental até os dias atuais.
progresso técnico. Além disso, a recomposição dos recursos
naturais no tempo requerido pelo sistema econômico circu- André Lara Resende destacou que a Economia não se preo-
lar aberto nem sempre era possível e criou um problema até cupou com essa questão até o século XX. Edmar Bacha foi
agora sem solução. Georgescu introduziu assim o conceito de taxativo, “..estamos falando de uma Função de Produção cuja
eficiência energética e desperdício criticando a ineficiência escassez ambiental não está incorporada na análise econô-
dos processos econômicos que geravam perdas irreversíveis mica”. Eduardo Giannetti aponta que “o sistema de preços.....
de energia. não é capaz de detectar todos os custos envolvidos na produ-
ção de bens e serviços - tem um ponto cego grave.” (a respeito
Apesar do reconhecimento de muitos economistas quanto ao desses autores ver “O que os economistas pensam da susten-
brilhantismo do trabalho acadêmico de Georgescu-Roegen, tabilidade”, Arnt, Ricardo, org, 2008).
entre eles Paul Samuelson, era difícil, e ainda é, discutir os
limites do crescimento e suas implicações. E assim a produ- Por essas razões, além de Arthur Pigou, Georgescu-Roegen,
ção acadêmica continuou majoritariamente convencional, o lembrando ainda mais recentemente dos economistas Prê-
que acabou transformou a bandeira do Meio Ambiente em mio Nobel 2018, William Nordhaus e Paul Romer (mudanças
um problema geopolítico. climáticas e tecnologia) e da importante produção acadêmi-
ca da Economia Ambiental e Economia Ecológica (que não
Se esta questão já é complexa por si só, entramos em um pro- conversam muito com as demais áreas econômicas) e sem
cesso tecnológico que robotiza a economia, gerando ainda o apoio da economia convencional, temos de reconhecer a
mais stress na substituição do fator trabalho por capital fí- iniciativa do Terceiro Setor pressionando os Governos e os
sico, resultando em mais pressão sobre os recursos naturais. agentes econômicos para reconhecer a importância da Natu-
reza. Desde os anos 60, elas têm tido papel estratégico para
Está claro que a função de produção básica da economia não o sucesso da Eco-92, quando o setor privado começou a se
foi estruturada para resolver esse problema. A tensão entre aproximar institucionalmente.

32 REVISTA RI Fevereiro 2021


A RELAÇÃO ENTRE ECONOMIA E MEIO
AMBIENTE HISTORICAMENTE FOI E TEM
SIDO UMA RELAÇÃO CONTURBADA
O conceito de Desenvolvimento Sustentável “atender as O problema ambiental
necessidades das gerações presentes sem comprometer as
necessidades das gerações futuras” continua sem o devido agora está colocado de
debate intergeracional. O que a menina Greta Thunberg
forma objetiva e escolhas
está fazendo é exatamente isso. Chamando para esse deba-
te, para resolvermos qual o padrão de consumo e de inves- têm de ser feitas com
timentos que as gerações atuais têm de construir para per-
mitir às gerações futuras o acesso aos mesmos benefícios.
amplo conhecimento de
Seremos capazes de fazer esse trade-off intergeracional? A suas consequências. É
Previdência Social exigiu de nós decisões amargas que fo-
ram tomadas.
nisso que temos de nos
dedicar no futuro, seja
O problema ambiental agora está colocado de forma objetiva
e escolhas têm de ser feitas com amplo conhecimento de suas no nível macro como
consequências. É nisso que temos de nos dedicar no futuro, também micro nas
seja no nível macro como também micro nas esferas ambien-
tal, social, econômica e política. Está tudo interconectado. esferas ambiental, social,
A Amazonia e o Centro Oeste foram mais desmatados nos
econômica e política. Está
últimos 50 anos do que em toda a sua existência. Não é por- tudo interconectado.
que os países do Norte desenvolvido se devastaram e, no caso
do Brasil, devastaram a Mata Atlântica, que vamos segui-los
no mesmo erro. Destruir a maior biodiversidade do mundo,
de alto valor agregado, quando mantida em pé e viva, para NÃO HÁ COMO NOS DESCONECTAR
vender ilegalmente madeira e colocar gado de baixa produti- COMO SOCIEDADE DO MEIO AMBIENTE
vidade agride ao bom senso pois é muito mais caro refazer a POIS SOMOS PARTE DELE.
vegetação natural quando essas terras são abandonadas. Apesar dessas barreiras estruturais, o tema Sustentabilidade
avança, a integração ASG à análise de investimentos avança,
O Brasil (200 milhões habitantes) tem um território desmata- a Governança do Clima avança, apesar dos eventuais retro-
do superior ao da índia (1,3 bilhões habitantes). Não se justi- cessos, como os que vivemos recentemente. Desde a Eco-92
fica desmatar mais. até a eleição do atual presidente dos Estados Unidos o proces-
so avança. A China é hoje o maior produtor de equipamento
Devemos buscar eliminar os pontos cegos, que poderão, em eólicos e solares do mundo sendo também é o maior produ-
alguma medida, comprometer no instante zero alguma fatia tor dessas fontes de energia. Os Estados Unidos já voltaram
dos lucros empresariais, mas essa internalização de custos ao Acordo de Paris. A esperança voltou.
terá compensações, pois não fazer isso será gerar custos so-
ciais, que terão de ser pagos por alguém ou por elevação da Temos instrumentos robustos – TCFD focado no Clima, Gestão
carga tributária, o que impacta os lucros do mesmo jeito. ASG alinhando-se institucionalmente a nível regulatório e
auto regulatório integrando interesses entre setor produtivo
Reduzir o impacto dos eventos extremos do Clima é mais do e investidores, as ODS criando força como referência de obje-
que urgente e a Amazonia tem papel vital para o equilíbrio tivos estratégicos e oportunidades sendo um forte indutor na
do clima e redução das emissões. É comum nestes tempos orientação de parcerias público-privadas.
difíceis do novo Coronavirus, dizer que o “Meio Ambiente
ficou um pouco esquecido por causa da pandemia”. Ao con- O Laboratório de Inovação Financeira, uma iniciativa ABDE/
trário, desmatamento e comercialização irresponsável de BID/CVM/Cooperação Alemã por meio de GIZ com quase 200
animais selvagens vivos estão no centro do problema desde instituições participantes, está fazendo um trabalho de alto
os tempos de várias outras pandemias. nível orientado para o desenvolvimento da Gestão ASG nas

Fevereiro 2021 REVISTA RI 33


SUSTENTABILIDADE

Temos esperança de que o Brasil será um país saneado até


2030. De que vamos caminhar para uma agropecuária com
modelos de produção mais modernos, mais eficientes na
melhoria da produtividade com consumo racional de água
e sequestro de carbono; vamos continuar avançando para
uma matriz energética mais eficiente e limpa. Que seja
possível avançar para a construção de modais de transporte
e de modernos; que continuemos no caminho da inovação
tecnológica para aliviarmos a pressão sobre o meio ambiente
na geração de valor adicionado para o PIB.

empresas e como apoio ao processo decisório dos investido- TEMOS ESPERANÇA DE UMA RELAÇÃO MADURA
res, além de debater soluções para o funding de setores es- ENTRE ECONOMI A E ME IO AMBIENTE.
tratégicos saneamento, agropecuária, energia, transportes O MERCADO DE CAPITAIS É UM AMBIENTE
e mobilidade urbana, entre outros. Nesse sentido, destaca- IMPORTANTE PARA A SUA CONSTRUÇÃO
mos a sua contribuição para edição do Decreto nº 10.387 que Precisamos de mais transparência na discussão sobre os
dispõe sobre o incentivo aos projetos de infraestrutura que fundamentos do crescimento econômico, do acesso aos ser-
proporcionam benefícios sociais e ambientais. Destacamos viços ambientais e da justiça social - direitos humanos e dis-
ainda a instituição do sandbox regulatório, fundamental tribuição de renda e oportunidades.
para o desenvolvimento de projetos inovadores entre outras
iniciativas. O LAB mudou a discussão, aproximando conver- Precisamos reformular o conceito de receitas, custos e lucros
tidos e não convertidos, mostrando que não é uma questão econômicos considerando-se a internalização das externali-
de opinião, mas de decisão de investimentos. dades geradas pelo processo produtivo e estrutura de mobi-
lidade social. Esse é o nosso desafio. Não existe milagre, mas
Temos esperança de que o Brasil será um país saneado até urgência nas decisões. RI
2030. De que vamos caminhar para uma agropecuária com
modelos de produção mais modernos, mais eficientes na
melhoria da produtividade com consumo racional de água
e sequestro de carbono; vamos continuar avançando para
EDUARDO WERNECK
uma matriz energética mais eficiente e limpa. Que seja pos- é vice presidente da Apimec Brasil
sível avançar para a construção de modais de transporte e e sênior advisor da Resultante.
eduardo.werneck@apimec.com.br
de modernos; que continuemos no caminho da inovação tec-
nológica para aliviarmos a pressão sobre o meio ambiente
na geração de valor adicionado para o PIB.

34 REVISTA RI Fevereiro 2021


an
oo
ito
|n
º5
1|
mar
ço
/ ab
ril
20
16
R$
10
,00


ÃO
| CID
ww AD
w. AN
IA |
pl AM
ur BIE
al NTE
e.
co
m
.b
r
M
ME ARI

)
A (BA
DA MÓRIAANA

TIN
AN
TRA S ,

AM
A DI
AR GÉD

AD
IA

AP
INÉ TIG

– CH
DIT OS

IO
ÁC
OS

I IN
IL

PA
VA HAS

O DO
RR
E M NU
A

– MO
ÉXIC TA

DIA CH INCR

DO
RE
O

NC
A TA
CIAN
LU
MA APA ÍVEL

DE
TO
FO
NT DA
IN
A
ano oito | nº 50 | novembro / dezembro 2015 R$ 10,00 AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

w w w. p l u r a l e . c o m . b r
(SECOM -ES)
FOZ DO RIO DOCE - REGÊNCIA - LINHARES (ES) - FOTO DE FRED LOUREIRO

ESPECIAL
OITO ANOS:

LIÇÕES DA ARTIGOS INÉDITOS,


BELAS, FAMOSAS
E ENGAJADAS
TRAGÉDIA DE
MARIANA
CAUSA
ANIMAL
GANHA FORÇA

PLURALE EM REVISTA E PLURALE EM SITE:


TREZE ANOS DE INFORMAÇÃO PLURAL SOBRE
SUSTENTABILIDADE

Plurale: Plural até no nome


www.plurale.com.br twitter @pluraleemsite e-mail soniaararipe@plurale.com.br anos
ESPAÇO APIMEC

O BRASIL PRECISA
RESPIRAR
20 ANOS DE TERCEIRO MILÊNIO
Muitas lições foram aprendidas nos últimos 20 anos. A economia
oscilou, com alta volatilidade, em todos em seus principais indicadores
macroeconômicos, asfixiando a atividade produtiva no Brasil. Embora
possamos comemorar as baixas taxas de juros, nos dias de hoje, e
uma inflação em patamares também menores, ainda não temos
o controle do processo inflacionário.

por CÉLIO FERNANDO B. MELO e HELENA TEÓFILO

A instabilidade na economia brasileira demonstra a nossa CONJUNTURA


falta de resiliência. Hiatos de produção são frequentes, com O ano de 2020 foi repleto de desafios e trouxe para 2021
altas taxas de desemprego e distanciamentos cada vez maio- a oportunidade de entrarmos novamente em um ciclo de
res na pirâmide social. Esse desequilíbrio acaba por exigir prosperidade. A pandemia da Covid-19, apesar de ainda
frequentemente medidas compensatórias e pouco estrutu- fortemente presente, começa a dar indícios de controle,
rais para o desenvolvimento socioeconômico. Além disso, o com vacinas já em aplicação em diversos países. Os lockdo-
tamanho dos gargalos da infraestrutura é combinado com a wns propostos pela Inglaterra e muitos outros países são
falta de integração da logística intermodal de menor custo e a garantia da retomada das atividades produtivas. O mo-
produtividade. E, recentemente, foram aprofundadas as cri- mento é de focar na aceleração do ambiente tecnológico.
ses nas dimensões ambientais e de governança.
As disrupções são inúmeras e trazem a linguagem do
A sustentabilidade tem sido a exigência número um dos ca- Great Reset da economia mundial. O home office, o home
pitais internacionais no terceiro milênio, tratando, em con- school, e-commerce, o crescimento no mundo das startups e
junto, os resultados da geração de lucros das empresas com o salto na adesão de novas tecnologias são apenas alguns
as preocupações Ambientais, Sociais e de Governança, ga- exemplos das tendências que vieram para ficar. Tudo isso
rantindo a maximização do valor aos acionistas e benefícios aliado a gestões mais sustentáveis, o que antes era mero
para a sociedade. Os novos paradigmas ESG completaram diferencial mercadológico agora virou necessidade nos
uma maior maturidade global nos últimos 20 anos. mercados.

36 REVISTA RI Fevereiro 2021


No Brasil, o novo ano não conseguiu deixar para trás o cená- centes, pela força da demanda.
rio político-institucional e econômico turbulento. O atraso
vivido pelo país na luta contra a Covid-19 ainda não reflete Do outro lado da moeda, o crescimento da economia e a taxa
suas consequências nas expectativas de mercado. de câmbio são, direta ou indiretamente, influenciados às di-
retrizes impostas pelo governo. Após uma profunda recessão
ANÁLISE DOS ÚLTIMOS 20 ANOS vivida entre 2015 e 2016, o Brasil começou a tomar fôlego de-
Em 1999, o Brasil adotou o Sistema de Metas para inflação, as- monstrando recuperação lenta e gradual. Mas, como todo pro-
sim como mudou o regime de câmbio para o câmbio flutuan- cesso cíclico e seus choques, a Covid-19 imergiu, colocando não
te. O Banco Central passou a determinar periodicamente uma só o Brasil, mas o mundo, em uma nova recessão. Nosso pico
meta para taxa básica de juros da economia (Selic) compatível, cambial, corrigido pelo IPCA, chegou a um número superior a
principalmente, com o objetivo de combater a inflação. R$ 10, hoje estamos em um patamar, bem inferior, na casa dos
R$ 5. As instabilidades no campo político-institucional foram
Em uma análise histórica dos últimos 20 anos, é possível ob- as principais causas das grandes volatilidades.
servar que a Selic se encontra em uma mínima histórica e
a inflação apresenta um patamar teoricamente menor nos Em um sistema de câmbio flutuante, sem controle sistemáti-
anos recentes. A política monetária brasileira conta com po- co do governo, incertezas econômicas e políticas impactam
derosos mecanismos de controle. No entanto, cabe ressaltar diretamente em uma maior variabilidade nessa conversão.
que excessos podem resultar em artificialismo, que não são Aumento do risco-país e a queda na Selic desestimularam in-
suportados pelo contexto econômico brasileiro, resultando vestimentos diretos no Brasil, resultando em fuga de capital e
em distorções macroeconômicas e aumento no risco país. aumento no câmbio. A forte desvalorização cambial de moedas
Nossa inflação com características claramente inerciais no emergentes em 2020 teve o Brasil como protagonista. Nesse
começo da série, passou a receber componentes mais rele- momento, há um intenso fluxo de capitais para a Bolsa brasilei-
vantes como aumento de custos ou , em alguns períodos re- ra, proporcionado pelo excesso de liquidez mundial.

*Valores ajustados com base no IPCA anualizado.


Fontes: IBGE e Banco Central

Fevereiro 2021 REVISTA RI 37


ESPAÇO APIMEC

O termômetro econômico da corrente de comércio, saldo da


balança comercial, vem demonstrando altas expressivas. Des-
de 2000, o Brasil tem crescido seu resultado ano a ano, menos
no ‘famigerado’ 2014. A pandemia da Covid-19 afetou as im-
Mesmo impactadas com portações brasileiras em maior escala do que as exportações,

a pandemia, as reservas o resultado foi um saldo positivo de US$ 51 bilhões em 2020.

cambiais brasileiras Por outro lado, segundo a Secretaria de Comércio Exterior, a


corrente de comércio que desde 2000 apresentava forte alta,
demonstraram estabilidade. foi impactada com a Covid-19, sofrendo uma queda de 8,4%
No atual contexto brasileiro, em 2020, quando comparado ao ano anterior, puxada pela
queda nas importações. As perspectivas atuais proporcionam
com o risco-país elevado e um bom ambiente para exportações, com o real desvaloriza-
do e as commodities em alta.
fuga de capitais, as reservas
internacionais têm gerado As reservas internacionais que são representadas pelo mon-
tante de moeda estrangeira que dispõem as autoridades mo-
conforto para a autoridade netárias de um país, têm se mantido relativamente estáveis.

monetária atuar no câmbio. Historicamente, as reservas brasileiras saltaram em um curto


espaço de tempo, de uma média de 4,5% do PIB em 2000, para
14,6% em meados de 2008, diante da alta das commodities.

No último ano, mesmo impactadas com a pandemia, as re-

Fontes: Governo Federal, Banco Central e CVM.

38 REVISTA RI Fevereiro 2021


servas cambiais brasileiras demonstraram estabilidade. No
atual contexto brasileiro, com o risco-país elevado e fuga de
capitais, as reservas internacionais têm gerado conforto para
a autoridade monetária atuar no câmbio. O estoque de reser-
vas cambiais forneceu, mais uma vez, um seguro anticrise, o Nos últimos 20 anos, os
que permitiu ao Brasil liquidez em um momento de colapso
e crise de confiança. Se por um lado a desvalorização do real
termômetros da economia
torna a saída de recursos menos interessante, pelo outro, a têm oferecido antecedentes
entrada de novos recursos pode se tornar atrativa. No médio-
-longo prazos tem se gerado efeitos animadores no saldo da importantes na avaliação
balança comercial que poderão encontrar uma nova rota, em
dos ciclos. Os que mais se
uma agenda econômica positiva, diante de avanços no con-
trole da dívida pública e das reformas. destacam são o Nasdaq
Nos últimos 20 anos, os termômetros da economia têm ofe-
Composite index, o Dow Jones
recido antecedentes importantes na avaliação dos ciclos. Os Industrial Average index e
que mais se destacam são o Nasdaq Composite index, o Dow
Jones Industrial Average index e o S&P 500, referências no o S&P 500, referências no
mercado global. Os movimentos observados nesses índices
seguiram uma trajetória similar, demonstrando forte cresci-
mercado global.
mento a partir de meados de 2003. O movimento de queda,
em 2008, refletiu o auge da crise financeira global, causada
pela bolha imobiliária nos Estados Unidos, alcançando o res-

Fonte: Investing.
*Valores ajustados com base no IPCA anualizado.

Fevereiro 2021 REVISTA RI 39


ESPAÇO APIMEC

to do mundo. Após uma forte recuperação, as bolsas ameri-


canas se viram novamente em seu pior ano, desde 2008, du-
rante a crise sanitária, causada pela Covid-19 em 2020, mas
conseguiram superar suas marcas históricas após o anúncio
da chegada das vacinas. Em 2020, o Brasil se manteve
O mercado de capitais brasileiro, via B3, referenciado pelo
firme e forte como celeiro do
Ibovespa sofreu muito neste ano, mas a partir de novem- mundo. Commodities como a
bro retomou a trajetória ao seu maior patamar nominal,
de janeiro de 2020. Em uma economia globalizada as os- soja, a carne e o ferro colocaram
cilações nos mercados estão interconectadas ao contex-
nossa balança comercial viva
to internacional. Prova disso é a série de movimentos
similares aos índices americanos observados em toda a e competitiva, mesmo em
trajetória dos últimos 20 anos, com certa similaridade e
correlação com os movimentos do Ibovespa. Somados aos
momentos de crise como
fatores externos, os desafios enfrentados pelo mercado de os vividos recentemente. A
capitais brasileiro ainda são muito grandes, dada também
a alta concentração de papéis. Nosso ambiente macroeco- demanda mundial por alimentos
nômico e político-institucional se reveste de turbulências
desnecessárias de uma democracia em consolidação. No
aumentou, assim como os preços
entanto, emergiram grupos econômicos fortes e altamen- da soja e da carne.
te profissionalizados, conferindo uma força motriz para a
atividade econômica, mesmo em ambientes turbulentos

Fonte: Investing.

40 REVISTA RI Fevereiro 2021


e instáveis no direcionamento de um projeto estrutural-
mente mais sólido e sustentável.

Em 2020, o Brasil se manteve firme e forte como celeiro do


mundo. Commodities como a soja, a carne e o ferro coloca- No novo Ano, com o
ram nossa balança comercial viva e competitiva, mesmo em
momentos de crise como os vividos recentemente. A deman-
atual preço do câmbio e
da mundial por alimentos aumentou, assim como os preços preços internacionais das
da soja e da carne. Alguns setores também experimentaram
esses aumentos, face a uma excessiva liquidez, com a injeção commodities agrícolas e
de US$ 8 trilhões na economia mundial, que deve aumen-
dos minerais, poderemos
tar, hoje quase quatro vezes superior à expansão da crise de
2008. Os metais também foram favorecidos e no caso brasi- manter o avanço no saldo
leiro, como carro chefe, o minério de ferro.
da balança comercial, com
Assim, como outras commodities agrícolas, o trigo também ligeiro crescimento.
foi impactado, fazendo parte dos aumentos da inflação no
globo, diante do repasse dos produtores. Em um primeiro
momento, houve mudança nos hábitos alimentares, a infla-
ção alcançou a todos os preços de alimentos, com leve ten-
dência ao equilíbrio na cesta de consumo e a reversão para
os padrões anteriores à pandemia. A agroindústria deverá naturalmente crescer, mas conco-
mitantemente a indústria 4.0 poderá revelar um outro País,
No novo Ano, com o atual preço do câmbio e preços interna- com interconexões e tecnologias em ebulição. Podemos de-
cionais das commodities agrícolas e dos minerais, podere- senvolver uma indústria cada vez mais competitiva e inova-
mos manter o avanço no saldo da balança comercial, com li- dora atrelada a logística e inovação com maior produtividade,
geiro crescimento. A demanda interna será o grande divisor capazes de fazer frente aos países desenvolvidas. Ampliar a
desse equilíbrio, considerando a elevada taxa de desemprego observação de nossas vocações nas Energia Renováveis e em
versus algum programa de renda mínima, ainda a ser defini- toda a sua cadeia produtiva. Além de aproveitarmos melhor
do pelo Governo Federal. as novas fronteiras atlânticas com as Zonas Econômicas Ex-
clusivas, trazendo mais riquezas com o Hypercluster da Eco-
CONSIDERAÇÕES FINAIS nomia do Mar, definidos pelos Portos, riquezas minerais ma-
Após os primeiros 20 anos do milênio, o que esperar para os rinhas, robótica e tecnologia de águas profundas, a pesca, os
próximos 20 anos? A consolidação das commodities agrícolas fármacos de algas marinhas e muitos outras possibilidades.
e minerais, em um pensamento bem cartesiano, nos levaria a
um único ponto no cenário, diante das vantagens competitivas Chegamos à Década dos Oceanos, de 2021 a 2030, 2/3 do Pla-
do País continental e da maior zona agrícola global, o oxigênio neta Terra, um futuro espetacular se encontrarmos líderes
serviria para definir nosso País como eterno Celeiro do Mundo. que ofereçam direcionamento nessas dimensões ao nosso
Essa situação seria fruto dos desequilíbrios constantes dos indi- País e, assim, encontrarmos na inovação e na ciência, novos
cadores econômicos e, novamente, tudo mais constante. caminhos como o da blue economy. RI

CÉLIO FERNANDO B. MELO HELENA TEÓFILO


é economista, mestre em negócios é economista e bacharel em Comércio Exterior,
internacionais (UNIFOR), doutorando Pós-graduada em Gerenciamento Sustentável
em RI (UL/ISCSP), Conselheiro Apimec (Conestoga-CA), MBA em Finanças (IBMEC),
Brasil, Member Council CDP LatAm, Mestranda em Economia (UFC), Consultora
Sócio-Diretor BFA. Associada BFA.
celio.melo@bfa.com.br helena.teofilo@bfa.com.br

Fevereiro 2021 REVISTA RI 41


ORQUESTRA SOCIETÁRIA

A EVOLUÇÃO DA
TECNOLOGIA
GERARÁ BENEFÍCIOS À SOCIEDADE
E AO MEIO AMBIENTE?
O artigo anterior, publicado nesta prestigiada revista, dedicou-se ao
tema Environmental, Social and Governance - ESG: Modismo, Sobrevivência
ou Conscientização? Ao final deste artigo, perguntamos aos nossos
leitores se estes concordam que a evolução da tecnologia gerará
resultados positivos às empresas, que poderão adotar processos mais
conscientes em relação à preservação do meio ambiente e à sociedade,
resultando em um ciclo virtuoso para os seres humanos.

por CIDA HESS e MÔNICA BRANDÃO

Na verdade, recebemos poucas contribuições e entendemos da tecnologia já gerou benefícios, e continuará gerando, à
que isso não se deu em função da relevância do tema e, sim, sociedade e ao meio ambiente. Alguns leitores enfatizaram
devido ao tempo escasso para os leitores se dedicarem à ela- os pontos que elencamos no artigo anterior e outros acres-
boração de suas opiniões. Especialmente em um contexto centaram novos insigths.
agravado pela pandemia COVID-19, em que todos os esfor-
ços estão canalizados às soluções para a crise, sendo que al- Transcrevemos os benefícios do artigo anterior:
guns de nossos principais leitores e fervorosos contribuintes
e críticos, neste momento, estão com problemas de saúde. • otimização dos processos, gerando condições favoráveis
para produzir produtos e serviços com maior qualidade,
Compartilhamos, mesmo assim, as contribuições recebi- agilidade e menor custo, o que impactou positivamente
das, que afi rmaram, com muita convicção, que a evolução toda a cadeia de valor, inclusive a sociedade;

42 REVISTA RI Fevereiro 2021


• simplificação da gestão corporativa, com
disponibilidade das informações estratégicas de forma
automatizada e em tempo real para tomada de decisões
mais eficientes;
De acordo com o que
• redução do retrabalho, com a substituição de processos
foi afirmado em nosso
rígidos e ineficientes, pela automatização das
atividades manuais, possibilitando o monitoramento e artigo anterior, somado às
acompanhamento contínuo de cada atividade do negócio;
contribuições dos leitores,
• transformação (jornada) digital, com um cenário de sobre os benefícios e os
maior autonomia, produtividade e inteligência na
gestão de processos, transformando as relações com resultados para a sociedade
os consumidores, que prontamente aderiram às novas
tecnologias de consumo; e
e meio ambiente trazidos
pela evolução tecnológica,
• benefícios significativos alcançados pela área de saúde,
através de diagnósticos mais precisos, aprimoramento podemos afirmar que a
do atendimento, gestão mais eficiente, integração das resposta à pergunta desse
informações, exatidão nas técnicas cirúrgicas, foco na
prevenção e redução de erros. artigo parece ser sim.
E destacamos as contribuições dos leitores, que foram:

• comunicação em real time, através de ferramentas que demandas não atendidas de clientes, incorporação de
revolucionaram seus processos – soluções interativas novas metodologias de produção e respostas eficientes
através de vídeos para treinamento, disponibilização às solicitações dos mesmos, em tempo reduzido, com o
de material técnico, comunicados, reuniões com objetivo de fidelização, satisfação e, por consequência,
a participação de profissionais do mundo inteiro aumento do net promoter score; e,
e também de clientes, no mesmo momento. Isso
facilitou e continua facilitando muito o alinhamento • ferramentas, adotadas pelas empresas e sociedade, que
dos objetivos e estratégias das organizações, entre possibilitaram a geração desses benefícios, data & analytics,
os conselhos de administração, diretoria executiva cloud computing, inteligência artificial, robotic process
e profissionais responsáveis pela materialização dos automation, softwares mais sofisticados de comunicação
mesmos em resultados sustentáveis; e impressão 3D entre outras.

• mobilidade, permitindo a adoção do home office e, com Ainda que tenham sido poucas contribuições recebidas, es-
isso, a redução de custos (não discorremos aqui sobre tas foram abrangentes e reforçaram os benefícios possibili-
os fatores negativos aos profissionais e respectivas tados pela evolução tecnológica.
famílias), divulgação das atualizações de métodos e
estratégias de vendas a todos os envolvidos no mesmo De acordo com o que foi afirmado em nosso artigo anterior,
momento, independentemente de onde estejam somado às contribuições dos leitores, sobre os benefícios e
localizados, com a disponibilidade de informações em os resultados para a sociedade e meio ambiente trazidos
cloud computing. E com isso extinguindo a necessidade pela evolução tecnológica, podemos afirmar que a resposta
de deslocamento dos profissionais para terem acesso à pergunta desse artigo parece ser sim.
às atualizações e material técnico; desta forma,
otimizando seu tempo; A evolução tecnológica e seus benefícios são debatidos na
academia e no mundo corporativo e sua importância pode
• criação de modelos de negócios mais flexíveis, ágeis, ser observada através do crescimento significativo das
o que facilitou a captura das opiniões, críticas e empresas de desenvolvimento de novas tecnologias, das

Fevereiro 2021 REVISTA RI 43


ORQUESTRA SOCIETÁRIA

consultorias, que analisam a viabilidade e os resultados da


implantação dessas soluções em seus clientes – inclusive,
estão criando soluções próprias, através de seus centros de
excelência de desenvolvimento de tecnologias, com parce-
rias com IBM, Microsoft e Google (citando apenas alguns Segmentos clássicos
players estratégicos).
industriais e de prestação
A relevância do tema pode ser observada também através de serviços ainda não
dos investimentos públicos e privados. Como exemplo, ci-
tamos, a criação de cidades inteligentes – smart cities – que
aproveitaram todo o potencial
são mais criativas e utilizam estrategicamente a tecnolo- e benefícios oferecidos pelas
gia, visando a melhoria da infraestrutura, otimização da
mobilidade urbana, implantação de soluções sustentáveis, ferramentas tecnológicas
que geram mais qualidade de vida a seus moradores.
citadas, para adotarem
É impensável viver sem celular, internet, smart TV, Google, processos mais avançados em
WhatsApp; isso, sem contar outras soluções, que estão di-
fundidas no mundo inteiro. relação àqueles que empregam
atualmente.
Desde 2010, identifica-se a geração alfa, 100% digital, que
não imagina o mundo analógico. Tal geração tem o conhe-
cimento internalizado pelo acesso a múltiplas tecnologias
desde o nascimento e tratam as soluções de modo muito
intuitivo. Ajudam, inclusive, as gerações anteriores a solu- das tecnologias do mundo contemporâneo? Segue abaixo
cionarem problemas e dúvidas sobre o uso das soluções dis- uma pequena relação, não exaustiva:
poníveis, sem que estes possam sequer acompanhar como
essa geração soluciona problemas e equaciona as dúvidas, 1. acesso restrito às camadas mais favorecidas da
devido à velocidade com que executam suas tarefas. Acre- população, agravando a disparidade entre as classes
ditamos que vocês já tiveram essa experiência em casa. sociais;

É muito comum os pais afirmarem que seus filhos são mui- 2. substituição da mão-de-obra, muitas vezes
to inteligentes e já nascem sabendo tudo, pois rapidamente especializada, por inteligência artificial, robotic
absorvem o conhecimento sobre as ferramentas tecnológi- process automation, que traduz o conflito entre a
cas disponíveis. importância do homem e da mulher e das máquinas;

Até aqui destacamos somente os aspectos positivos. 3. poluição do ar, água, geração de calor e poluição
sonora, devido aos seus processos produtivos;
No entanto, segmentos clássicos industriais e de prestação
de serviços ainda não aproveitaram todo o potencial e be- 4. utilização de recursos não renováveis;
nefícios oferecidos pelas ferramentas tecnológicas citadas,
para adotarem processos mais avançados em relação àque- 5. descarte inadequado e excessivo de materiais, causando
les que empregam atualmente. problemas irreversíveis ao meio ambiente, por não
serem biodegradáveis;
Além disso, impactos negativos podem ser gerados pelo uso
intenso dessas ferramentas nas pessoas, sociedade, meio 6. seu uso intensivo causa dependência, depressão,
ambiente e economia. Os quais não foram diagnosticados alienação e redução da atenção desde crianças até
em sua totalidade, devido ao tempo de uso das mesmas não adultos;
ser suficiente para que as pesquisas sejam conclusivas.
7. além dos danos psicológicos, há danos físicos à saúde
O que é de domínio público sobre os impactos negativos da população;

44 REVISTA RI Fevereiro 2021


8. adiamento do desenvolvimento de soluções que riadas tecnologias sobre o meio ambiente e os seres huma-
impeçam os impactos negativos, como a economia nos, incentivando-se, desta forma, o crescimento de uma
circular, fundamental ao tratamento dos resíduos, sociedade comprometida com a vida, a saúde e a responsa-
através da redução, reutilização, recuperação e bilidade social.
reciclagem de materiais e energia; e
Entretanto – e conforme argumentam alguns de nossos lei-
9. ausência de definição, implantação e monitoramento tores –, o caminho para a conscientização pode ser mais
de penalidades eficazes pelo governo aos setores complexo do que parece e, neste sentido, elaborar e buscar
públicos e privados, responsáveis por estes impactos responder a boas perguntas pode ser produtivo, tais como
negativos. (não exaustivas):

A partir das informações compartilhadas acima, voltamos 1. Quais são os países mais sustentáveis do mundo e o que
à pergunta inicial deste artigo: a evolução da tecnologia eles fazem na prática?
gerará benefícios à sociedade e ao meio ambiente?
2. Como esses países levam suas organizações à adoção
Desta feita, a resposta parece ser não, já que as novas tec- de Modelos de Gestão Sustentáveis (MGS´s), os quais são
nologias provocam um intenso impacto negativo à socie- o cerne das organizações sustentáveis – as Orquestras
dade e ao meio ambiente, ainda que agreguem resultados Societárias?
positivos.
3. Como a legislação e a regulamentação dos países mais
Sim e Não: duas respostas coexistentes. Sendo assim, o sustentáveis podem contribuir para a conscientização
que é necessário para mudar o jogo e intensificar os benefí- pretendida?
cios para todos, reduzindo-se substancialmente os efeitos
nefastos das tecnologias contemporâneas existentes e da- 4. Como o enforcement – o cumprimento das regras
quelas que ainda estão por vir? estabelecidas – dá sua contribuição?

A resposta que nos parece fazer mais sentido é: conscienti- 5. Os órgãos governamentais fiscalizam as práticas
zação e implantação de processos produtivos e prestação de ambientais com rigor?
serviços que analisem tanto os benefícios, quanto os riscos
e impactos negativos. A conscientização é um bom ponto 6. Quais soluções os cidadãos visualizam para ampliação
de partida para que as novas soluções sejam muito mais da consciência de todos?
positivas do que negativas.
7. Como equilibrar o trabalho humano e a utilização de
Como transformar e conscientizar os governos e a socie- tecnologias inteligentes?
dade?
Finalizamos, como temos frequentemente procurado fazer,
Uma forte possibilidade é a da educação ambiental desde a convidando os leitores a participar das nossas reflexões,
infância, reforçada por pesquisas que demonstrem não só formulando novas perguntas que enriqueçam a lista acima.
os benefícios, mas também os impactos negativos das va- Teremos satisfação em receber suas contribuições. RI

CIDA HESS
é economista e contadora, especialista MÔNICA BRANDÃO
em finanças e estratégia, mestre em é engenheira, especialista em finanças e
contábeis pela PUC SP, doutoranda pela estratégia, mestre em administração pela
UNIP/SP em Engenharia de Produção PUC Minas e tem atuado como executiva e
- e tem atuado como executiva e conselheira de organizações e como professora.
consultora de organizações. mbran2015@gmail.com
cidahessparanhos@gmail.com

Fevereiro 2021 REVISTA RI 45


GOVERNANÇA CORPORATIVA

COM INCERTEZAS DE 2021,


GOVERNANÇA CORPORATIVA
DEIXA DE SER DIFERENCIAL E
SE TORNA FUNDAMENTAL

O encerramento do desafiador ano de 2020 parece ainda estar


longe de trazer a tranquilidade desejada. A cada hora de 2021
o cenário parece se transformar. O entusiasmo pelo início da
vacinação é logo revertido em apreensão quando as autoridades
sanitárias falam em mutações do vírus. As ações das companhias
sobem e descem no ritmo das notícias e há poucos sinais de
que este cenário vai mudar no curto prazo.

por MARCOS RODRIGUES e OLAVO RODRIGUES

Esse ambiente por si só já seria complicado para as empre- A necessidade de aumento significativo de investimentos em
sas em qualquer tempo, mas no início desta nova década políticas ASG torna a governança corporativa um aspecto
tudo ficou ainda mais difícil. O capitalismo mudou e agora ainda mais crucial, pois ela desempenha um papel transver-
não é mais somente a propensão a ter mais ou menos lucro sal em relação às dimensões social e ambiental. Afinal, é a
que conta como atividade fim das organizações. As empre- governança que transforma a empresa de forma a evitar que
sas estão sob avaliação constante dos stakeholders. Não basta a sustentabilidade se torne apenas marketing, mas seja um
mais fazer somente uma autoavaliação em termos de ASG fim, de fato.
(Ambiental, Social e Governança), é preciso obter uma visão
independente, isenta e crítica para entender onde estão os A adoção de boas práticas de governança corporativa pelas
pontos críticos que levam aos riscos de imagem e elevadas empresas proporciona melhor gerenciamento de riscos,
perdas financeiras. maior transparência das informações financeiras, sistema
de compliance mais robusto e maior alinhamento das dire-
Caso contrário o resultado pode ser desde boicotes de clientes trizes e políticas entre os stakeholders, com foco em adapta-
a perda de fornecedores, fuga de colaboradores e emprésti- ção às mudanças do macroambiente e do setor onde atuam.
mos mais caros, tudo isso acompanhando a queda das ações. Esses aspectos contribuem para o aumento da confiança dos

46 REVISTA RI Fevereiro 2021


Companhias que zelam pelos seus consumidores,
funcionários, acionistas, fornecedores e tem sólida
governança, no geral, apresentam muito mais
resiliência, justamente por entenderem como
a complexa relação com seus stakeholders, pode
se tornar mola propulsora para o sucesso e
uma rede de proteção nas dificuldades.

investidores e redução de risco, o que beneficia o valor da na um castelo de cartas. A pandemia de 2020 trouxe à tona
organização e sua melhor classificação de crédito. inúmeros casos assim e as perdas de valor de mercado de al-
gumas levaram gestores ao redor do mundo a reavaliar suas
Os investidores preferem alocar recursos em empresas com prioridades.
um bom sistema de governança, ao mesmo tempo em que
elas são beneficiadas com maior capacidade e condições de Companhias que zelam pelos seus consumidores, funcioná-
tomada de crédito. Isso porque o capital observa os riscos do rios, acionistas, fornecedores e tem sólida governança, no
negócio, e acaba por boicotar empresas não-sustentáveis. So- geral, apresentam muito mais resiliência, justamente por
mente em 2019, US$ 20,6 bilhões migraram para fundos de entenderem como a complexa relação com seus stakeholders,
investimento que explicitamente se desfazem de organiza- pode se tornar mola propulsora para o sucesso e uma rede de
ções tidas como “não sustentáveis”, volume dez vezes maior proteção nas dificuldades.
que o de uma década atrás. A visão é de que apoiar empresas
com fortes práticas de sustentabilidade pode ser um investi- Avaliar e qualificar o sistema de Governança Corporativa,
mento de longo prazo mais rentável. além de identificar aspectos positivos e melhorias, permite
orientar investimentos e atrair a participação de conselhei-
Outra pesquisa de uma consultoria internacional revelou que ros ou membros de comitês, além de compreender como a
o número de investidores que fazem uso de métricas não-fi- administração está promovendo os interesses dos acionistas
nanceiras em suas decisões aumentou de 27% para 43% entre e das partes interessadas. O passado foi marcado por empre-
2016 e 2020. Apenas 9% dos investidores não usaram o desem- sas falando que eram por fora, mas por dentro nada tinha
penho não-financeiro como parte de sua tomada de decisão. mudado. Ainda há muito a ser feito porque muito foi fala-
do. A transformação iniciada em 2020 deve se consolidar, de
Mesmo assim, o descasamento entre o discurso de sustenta- fato, em 2021. RI
bilidade ao público e as ações para implementar uma política
efetiva é enorme. Entre as principais barreiras destacam-se
o custo, a complexidade da análise e a falta de capacitação MARCOS RODRIGUES E OLAVO RODRIGUES
são sócios fundadores da BR Rating, primeira agência de classificação
dos colaboradores. Tal situação amplia os riscos da gestão, de risco e avaliação dos sistemas de governança corporativa do Brasil.
pois sem bases sólidas de governança, a organização se tor- contato@brrating.com.br

Fevereiro 2021 REVISTA RI 47


CONSELHO FISCAL

CONSELHO
FISCAL
E SUA COMPOSIÇÃO FRENTE A
COMPLEXIDADE DO AMBIENTE DE
GOVERNANÇA DOS DIAS ATUAIS

48 REVISTA RI Fevereiro 2021


O Conselho Fiscal é regulado pelo disposto no capítulo
XIII da Lei 6.404 de 15 de dezembro de 1976. A exposição
de motivos, a qual reflete as justificativas e intenção do
legislador por ocasião da preparação da Lei, nos faz refletir
se os objetivos e a intenção do Legislador, por ocasião de
sua preparação e submissão para aprovação, foram
e ainda continuam sendo alcançados.

por CLÓVIS PEREIRA

Adicionalmente, as práticas de Governança Corporativa no


Brasil e no Mundo, muito evoluíram em relação àquelas pra-
ticadas por ocasião da promulgação da Lei, no ano de 1976, As práticas de
as quais tiveram grande evolução como resultado, princi-
palmente, de escândalos financeiros ocorridos nos Estados
Governança Corporativa
Unidos, como por exemplo: no Brasil e no Mundo,
a. Promulgação da Lei Sarbanes Oxley nos Estados Unidos muito evoluíram
em 2002, refletindo em outros mercados de capitais ao
redor do mundo;
em relação àquelas
praticadas por ocasião
b. Criação de diferentes níveis de listagem e de exigência de
boas práticas de Governança pelas Companhias na Bolsa de da promulgação da
Valores Brasileira – B3 (Novo Mercado foi criado em 2000); Lei, no ano de 1976, as
c. Maior transparência na divulgação de informações pelas quais tiveram grande
Companhias abertas, com a implementação pela Comis-
são de Valores Mobiliários – CVM do Formulário de Refe-
evolução como resultado,
rência (ICVM 480 de 2009); principalmente, de
d. Criação do Código Brasileiro de Governança Corpora- escândalos financeiros
tiva das Companhias Abertas e a divulgação, por estas,
ocorridos nos Estados
daquelas práticas que adota e a explicação dos motivos
pelos quais não adota as práticas nele recomendadas. Unidos.
Fevereiro 2021 REVISTA RI 49
CONSELHO FISCAL

Destaco a seguir os principais temas que constam da Legisla-


ção atual e que devem ser objeto de novas reflexões, dentro
do atual cenário:
Por se tratar de órgão de
ELEIÇÃO DOS MEMBROS
Na maioria das companhias existentes na ocasião da pro-
fiscalização dos atos dos
mulgação da Lei 6.404/76, todos os membros do Conselho administradores, estes
Fiscal eram eleitos pelos mesmos acionistas que escolhiam
os administradores. A exposição de motivos menciona que
nomeados pelos acionistas
problema constatado era de que o funcionamento do órgão controladores, apenas
quase sempre se reduzia a formalismo vazio de qualquer sig-
nificação prática, o que justificava reiteradas críticas que lhe conselheiros nomeados por
eram feitas e as propostas para sua extinção.
acionistas não controladores
A experiência revelava, todavia, a importância do órgão teriam independência
como instrumento de proteção de acionistas dissidentes,
sempre que estes usavam do seu direito de eleger em separa- necessária para exercer
do um dos membros do Conselho e desde que as pessoas elei- as funções de fiscalização
tas tivessem os conhecimentos que lhes permitiam utilizar
com eficiência os meios, previstos na lei, para fiscalização da administração pelo
dos órgãos da administração.
Conselho Fiscal.
REFLEXÕES
a) Eleição de um dos membros
do Conselho Fiscal em separado eleito pelos minoritários discorde de seus pares, o teor do
A eleição de apenas um dos membros do Conselho Fiscal em parecer a ser emitido pelo Conselho Fiscal irá refletir a opi-
separado, apesar de trazer para o Conselho a opinião de re- nião da maioria, formada por membros eleitos pelos mes-
presentante dos acionistas não controladores, não altera a si- mos acionistas que escolhem os administradores.
tuação fática de que a maioria dos seus membros sejam eleitos Neste cenário, a crítica que existia por ocasião da promul-
pelos mesmos acionistas que escolhem os administradores. gação da Lei 6.404/76 e constante em sua exposição de mo-
tivos, permanece sendo realizada nos dias de hoje.
Muito embora as competências de fiscalização e denúncia
possa ser realizada de forma individual, por qualquer dos Por se tratar de órgão de fiscalização dos atos dos adminis-
membros do Conselho Fiscal, as competências de opinar tradores, estes nomeados pelos acionistas controladores,
acerca dos assuntos abaixo, dentre outras atribuições, são apenas conselheiros nomeados por acionistas não controla-
exclusivas do colegiado: dores teriam independência necessária para exercer as fun-
ções de fiscalização da administração pelo Conselho Fiscal.
i. Emitir parecer sobre o Relatório anual da administração
(demonstrações financeiras); e Dessa forma, este deveria ser formado, em sua maioria, por
membros eleitos pelos acionistas não controladores, sendo
ii. Emitir sua opinião acerca das propostas dos órgãos da garantido aos acionistas controladores a eleição de represen-
administração a serem submetidas à assembléia-geral, tantes em número que não representem, a sua maioria.
relativas a modificação do capital social, emissão de de-
bêntures ou bônus de subscrição, planos de investimen- b) Eleição de pessoas com conhecimentos
to ou orçamentos de capital, distribuição de dividendos, que lhes permitam efetuar a fiscalização
transformação, incorporação, fusão ou cisão. dos órgãos da administração
Para assegurar a eficiência do seu funcionamento, a Lei
Levando-se em consideração que a maioria dos membros 6.404/76 prevê requisitos de competência aos seus membros,
do Conselho Fiscal é eleita pelos mesmos acionistas que em que somente podem ser eleitos para o conselho fiscal pesso-
escolhem os administradores, mesmo que o Conselheiro as diplomadas em curso de nível universitário, ou que tenham

50 REVISTA RI Fevereiro 2021


exercido por prazo mínimo de 3 (três) anos, cargo de adminis-
trador de empresa ou de conselheiro fiscal. Prevê, ainda, que
nas localidades em que não houver pessoas habilitadas, em
número suficiente, para o exercício da função, caberá ao juiz O Conselho Fiscal necessita
dispensar a companhia da satisfação desses requisitos.
receber, neste momento,
Levando-se em consideração os meios digitais para reali- suporte para que tenha
zação de reuniões por ferramentas de vídeo-conferência e
troca de informações por meio de nuvem, não é mais justifi-
condições de executar as
cável a nomeação de membros que não cumpram requisitos suas atividades e cumprir
mínimos de qualificação profissional para exercer as atri-
buições de Conselheiro Fiscal, mesmo que não sejam resi- com suas responsabilidades.
dentes no mesmo domicílio da sede da Companhia.
Para tanto, requer alteração
Adicionalmente, como já mencionado anteriormente, de na Legislação Societária
1976 para os dias atuais o ambiente de Governança Cor-
porativa tornou-se mais complexo. Ademais, as normas de Brasileira.
auditoria e as práticas contábeis adotadas no Brasil foram
alinhadas às normas internacionais de contabilidade (Inter-
national Financial Reporting Standards - IFRS) e às Normas In-
ternacionais de Auditoria. V. conhecimento de controles internos e procedimentos
de contabilidade societária.
Consequentemente, apenas a formação em nível universitário,
principalmente em disciplina que não é inerente ao desempe- Levando-se em consideração a função eminentemente fisca-
nho das funções e responsabilidades de um conselheiro Fiscal, lizadora do conselho Fiscal, com a emissão de parecer sobre
não se demonstra ser suficiente, sendo requerido, no mínimo, a prestação de contas da administração ao final do exercício
que o membro do Conselho Fiscal tenha experiência em assun- social, a totalidade de seus membros deveria possuir experi-
tos de contabilidade societária, uma vez que o Conselho Fiscal ência comprovada em assuntos de contabilidade societária.
deve opinar sobre as demonstrações financeiras anuais (pres-
tação de contas) elaboradas pela administração da Companhia O Conselho Fiscal necessita receber, neste momento, suporte
e submetidas a aprovação pela Assembleia Geral. para que tenha condições de executar as suas atividades e cum-
prir com suas responsabilidades. Para tanto, requer alteração
A Instrução CVM 509 de 16 de novembro de 2011 reconhece na Legislação Societária Brasileira. Entendo que, passados 35
o profissional com experiência em assuntos de contabilida- anos do início de vigência da Lei 6.404/76, cumpre-nos rea-
de societária, como aquele que possua: valiar e revisar seus termos, para assegurar que os objetivos
previstos pelo Legislador continuem sendo atendidos, prezan-
I. conhecimento dos princípios contábeis geralmente do pela manutenção de um ambiente de maior transparência
aceitos (que envolve as normas internacionais de entre os atos dos administradores, eleitos pelos acionistas ma-
contabilidade – IFRS) e das demonstrações financeiras; joritários, e os acionistas não controladores. RI

II. habilidade para avaliar a aplicação desses princípios


em relação às principais estimativas contábeis;

III. experiência preparando, auditando, analisando ou CLÓVIS PEREIRA


é Contador, Auditor com experiência de
avaliando demonstrações financeiras que possuam 31 anos atuando em Big4, Conselheiro Fiscal
certificado pelo IBGC e membro de Conselhos
nível de abrangência e complexidade comparáveis aos Fiscais de Companhias Abertas - Novo Mercado.
da companhia; Coordenador de Comitês de Auditoria de
Companhias Abertas - Novo Mercado.
Associado ao IBGC e ao IBRACON, onde
IV. formação educacional compatível com os atua em Comissões e Grupos de Trabalho.
clovis.a.pereira@gmail.com
conhecimentos de contabilidade societária; e

Fevereiro 2021 REVISTA RI 51


FÓRUM ABRASCA

OS RISCOS DE SE ALTERAR
A LEI SOCIETÁRIA
POR MEDIDA PROVISÓRIA
No final do ano passado começaram a ser debatidas diversas propostas
de alteração na Lei nº 6.404/76, com o objetivo de melhorar a posição
do Brasil no ranking do Doing Business do Banco Mundial e aperfeiçoar a
proteção aos minoritários. Como a questão foi tomando proporção cada
vez maior, a Abrasca decidiu reunir, no final de dezembro de 2020, um
grupo de experientes juristas para discutir essas possíveis alterações.

por EDUARDO LUCANO DA PONTE

A pauta do webinar, que teve mais de 600 inscritos, foi cons-


truída com base nos seguintes temas: conflito de interesses
em assembleias e operações com partes relacionadas; litígios
para tutela de minoritários; e membros independentes do Ficou explícito o consenso dos
Conselho de Administração.
participantes sobre um ponto
Foram convidados para debater esses tópicos Nelson Eizirik, específico: medida provisória
ex-presidente do CAF, ex-diretor da Comissão de Valores Mo-
biliários (CVM) e professor da Escola de Direito da FGV/RJ;
(MP) não é a forma adequada
Mariana Pargendler, doutora pela Yale Law School professora para se alterar a Lei das S.A,
de direito da FGV/SP; Gustavo Gonzalez, diretor da CVM; e
Marcelo von Adamek, professor da Faculdade de Direito da
tendo em vista a ausência de
USP. Os debates foram coordenados por Renato Berger, fun- urgência e, em muitos casos,
dador do Berger Advogados.
tampouco de relevância,
O propósito do encontro não era chegar a uma conclusão se
requisitos necessários e
a lei deve ou não ser alterada, muito menos discutir uma
nova redação para algum artigo, mas sim debater as ques- intrínsecos no regime de
tões no plano conceitual – e foi o que ocorreu. No entanto,
ficou explícito o consenso dos participantes sobre um ponto
tramitação das medidas
específico: medida provisória (MP) não é a forma adequada provisórias.
52 REVISTA RI Fevereiro 2021
para se alterar a Lei das S/A, tendo em vista a ausência de
urgência e, em muitos casos, tampouco de relevância, requi-
sitos necessários e intrínsecos no regime de tramitação das
medidas provisórias.
Algumas medidas provisórias
Cabe destacar que, ao longo dos dois primeiros anos do atual
são relevantes para as
governo, o Ministério da Economia vem buscando introduzir
aprimoramentos à Lei nº 6.404/76, com objetivo de impul- companhias abertas, como
sionar o mercado de capitais. Algumas ideias foram deba-
tidas na tramitação da MP 881/19, transformada na Lei nº
a MP nº 881/19, que atendia
13.874/19, popularmente conhecida como Lei da Liberdade um antigo pleito da Abrasca.
Econômica, e da MP nº 892/19, que não foi aprovada pelo Con-
gresso e perdeu sua validade em dezembro de 2019.
No entanto, tudo indica
que a forma como essas
A MP 881/19, originalmente em seu artigo 8º, pretendia in-
cluir o novo art. 294-A na Lei 6.404/76, destinando à CVM propostas são conduzidas seja
atribuição para, em regulamentação própria, dispensar exi-
a razão de encontrar tantos
gências previstas na Lei das S.A. para companhias definidas
como de pequeno e médio portes, o que poderia facilitar o obstáculos no Congresso. A
acesso dessas sociedades ao mercado de capitais; entretanto,
tal dispositivo não foi mantido na Lei 13.874/2019.
título de exemplo, vale citar
que, nos últimos dois anos, o
Já a MP 892/19 extinguia a obrigatoriedade de publicação de
atos societários em diários oficiais e jornais impressos de
Governo Federal emitiu 149
grande circulação, a fim de passarem a ser feitos somente por medidas provisórias, sendo
meio eletrônico, visando à redução do custo e burocracias re-
lacionados à rotina administrativa e societária das empresas, que grande parte foi rejeitada
demanda antiga de todo o mercado, tendo em vista o seu ana- ou sequer analisada.
cronismo nos dias atuais. No entanto, a medida teve seu prazo
de vigência expirado e perdeu a validade – não chegou a ser
analisada pelo plenário da Câmara nem pelo do Senado.
citada, como exemplo, a chamada “Lei Lobão”, que intentou
Algumas medidas provisórias são relevantes para as compa- tirar o direito de recesso da incorporação, esquecendo-se de
nhias abertas, como a MP nº 881/19, que atendia um antigo que havia outro artigo que tratava dessa questão – o que re-
pleito da Abrasca. No entanto, tudo indica que a forma como sultou em uma grande insegurança jurídica.
essas propostas são conduzidas seja a razão de encontrar tan-
tos obstáculos no Congresso. A título de exemplo, vale citar Outra mudança problemática foi a reforma implementada
que, nos últimos dois anos, o Governo Federal emitiu 149 através da Lei nº 10.303/01, que alterou vários aspectos da Lei
medidas provisórias, sendo que grande parte foi rejeitada ou das S.A. e foi malsucedida na construção de alguns conceitos,
sequer analisada. Só em 2020 foram 101, o maior número em como é o caso do preço justo, que até hoje se discute do que
quase duas décadas, e nem todas foram destinadas a comba- se trata. “O Artigo 254 A tentou construir uma definição do
ter a pandemia da Covid-19. que seja alienação de controle, que é absolutamente circular
e termina dizendo que alienação de controle é alienação de
MUDAR A LEI DAS S/A EXIGE DEBATE controle”, exemplificou Nelson Eizirik.
Nelson Eizirik, resumindo o pensamento dos participantes,
destacou que ninguém é contra alterar a Lei das S/A, desde No entender do professor, esses exemplos não devem servir de
que isso ocorra de forma transparente e que seja fruto de inspiração para tentativas de novas mudanças. Por isso, afirmou
um grande debate. Há uma razão para esta preocupação: as temer o “voluntarismo jurídico”, ou seja, a ideia de que mudan-
últimas mudanças na Lei nº 6.404/76 são passíveis de críticas do a lei vai se alterar a realidade econômica – quando, na prática,
por deficiências técnicas. Durante os debates do webinar foi o que se consegue é criar mais insegurança jurídica.

Fevereiro 2021 REVISTA RI 53


FÓRUM ABRASCA

O que se discute agora? Com o intuito de melhorar a pontua-


ção do Brasil no Doing Bussiness do Banco Mundial, o governo
estuda fazer alguns ajustes. Entre as 190 economias avalia-
das pelo BIRD, o país caiu de 109ª para a 124ª posição em São temas complexos que não
2020. Nações como México (60º), Índia (63º) e África do Sul
(84º) estão à nossa frente. encontram apoio generalizado
do mercado, inclusive dentro
O que motiva todo esse debate é a possibilidade de o gover-
no editar uma MP alterando os artigos 122 e 124 da Lei nº da própria Comissão de
6.404/76, que trata das assembleias gerais – o que exigiria
também uma nova redação para o artigo 115, sobre voto do
Valores Mobiliários. A maioria
acionista em situação de potencial conflito de interesses, bem alerta para a possibilidade de
como nos artigos 138 e 140 da mesma lei, que dispõem sobre
o Conselho de Administração e sua composição. A avaliação é promover insegurança jurídica
que operação “relevante” entre partes relacionadas poderá ter em lugar de funcionar como
de ser submetida à assembleia, e que, nas companhias abertas,
será vedada a acumulação de cargos de presidente do Conselho propulsora de mais negócios
de Administração e diretor presidente por uma mesma pessoa,
e segurança para os acionistas
além de passar a ser obrigatória a participação de conselheiros
independentes no conselho em proporção a ser estabelecida minoritários, podendo criar
pela CVM, sem nenhum limite estipulado na própria lei.
entraves desnecessários para
São temas complexos que não encontram apoio generali- as companhias, em especial
zado do mercado, inclusive dentro da própria Comissão de
Valores Mobiliários. A maioria alerta para a possibilidade
aos grupos societários de
de promover insegurança jurídica em lugar de funcionar maior porte.
como propulsora de mais negócios e segurança para os
acionistas minoritários, podendo criar entraves desneces-
sários para as companhias, em especial aos grupos societá-
rios de maior porte. adoção de medidas do Banco Mundial para deter a inflação
em diversos países da América Latina, inclusive o Brasil.
As discussões avançaram no início de dezembro, quando a
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômi- Ninguém discorda de que o mercado de capitais precisa de
co (OCDE) divulgou o relatório sobre meios privados de tutela aperfeiçoamentos, tampouco que as regras para as compa-
dos direitos de acionistas. O relatório “Private Enforcement of nhias abertas podem ser flexibilizadas e atualizadas. Vive-
Shareholder Rights” é o resultado da segunda fase do projeto mos um processo disruptivo, o que pressupõem agregar va-
realizado pelo Grupo de Trabalho formado entre a CVM e o lor a um sistema já existente. Portanto, se necessário for que
Ministério da Economia, juntamente com a OCDE. a Lei das S.A., sancionada em 1976, deva ser atualizada, mas
que isso ocorra como fruto de um amplo debate entre as par-
Segundo a OCDE, o objetivo do material é recomendar a ado- tes regidas pela lei. RI
ção de medidas que possam robustecer o arcabouço de ações
derivadas e arbitragem no Brasil, tendo como base uma revi-
são comparativa das estruturas de nove países: França, Ale-
manha, Israel, Itália, Portugal, Cingapura, Espanha, Estados
Unidos e Reino Unido.
EDUARDO LUCANO DA PONTE
é presidente Executivo da Associação Brasileira
Ocorre, porém, que a simples transposição de uma regra das Companhias Abertas (ABRASCA).
abrasca@abrasca.org.br
bem-sucedida em um país não garante que repetirá o mes-
mo efeito em outro, o que exige, portanto, muita cautela.
Isso está explícito em vários estudos da década de 1990 sobre

54 REVISTA RI Fevereiro 2021


IBGC COMUNICA

Carta ao mercado
Diversidade na renovação dos conselhos
Prezados e prezadas,

Estamos nos aproximando do período de renovação dos conselhos de administração e, por isso, gostaríamos de
convidar a todos os conselheiros, investidores e tomadores de decisão para se juntarem a nós na missão de aumentar
a diversidade nesses colegiados.

É comprovado que a diversidade impacta positivamente no desempenho da empresa e traz capacidade de inovação
para os negócios. Mas ainda se observa que a maior parte dos conselhos é pouco plural e as demandas da nossa
sociedade exigem respostas a partir de novas perspectivas que a diversidade ajuda a trazer. Vale ressaltar que apenas
11,5% das posições em conselhos das empresas abertas brasileiras são ocupadas por mulheres – 9,3% considerando-se
apenas as titulares – segundo o estudo Board Index 2020 da Spencer Stuart. Precisamos mudar esta realidade.

Como atores importantes nesse cenário e engajados com a causa, neste período em que os profissionais começam
a ser selecionados para conselhos, pedimos que considerem promover mais diversidade (de gênero, cor, etnia,
orientação sexual, formação, idade, região, etc.) para os boards em que atuam, assim como gostaríamos que
provocassem essa reflexão nos ambientes de governança pelos quais circulam.

Nós, do Programa Diversidade em Conselho (PDeC), colocamo-nos à disposição para ajudar na busca por mulheres
com o perfil desejado para as posições a serem preenchidas, disponibilizando os bancos de conselheiras do PDeC
e da WCD (WomenCorporateDirectors) e o banco de profissionais do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa), que contam com centenas de conselheiras e profissionais preparados e com uma grande variedade de
perfis e experiências. O PDeC é uma iniciativa conjunta entre B3, IBGC, International Finance Corporation (IFC),
Spencer Stuart e WCD para ampliar a diversidade em conselhos.

Acreditamos que somente somando esforços seremos capazes de provocar mudanças efetivas no mercado com
relação a esse tema tão importante para a governança das organizações e para a sociedade.

Gilson Finkelsztain, CEO B3


Pedro Melo, diretor-geral do IBGC
Carlos Leiria Pinto, country manager da IFC
Fernando Carneiro, sócio da Spencer Stuart
Marienne Coutinho, co-chair da WCD no Brasil e sócia da KPMG no Brasil

Realização:

Fevereiro 2021 REVISTA RI 55


MELHORES PRÁTICAS

COMO O ISE INSPIROU A


M. DIAS BRANCO
NA JORNADA DA SUSTENTABILIDADE

Em janeiro de 2021, a M. Dias Branco, empresa na qual trabalho


como diretor de Relações com Investidores e Novos Negócios, passou
a integrar o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3,
ao lado de outras 38 companhias abertas. Integrar o ISE não foi
uma linha de chegada, mas a reafirmação de um compromisso de
sustentabilidade ambiental, governança corporativa e responsabilidade
social que, ao longo dos anos, tem mudado a cultura da empresa.

por FABIO CEFALY

Nossa jornada foi iniciada oficialmente em 2014, quando


estruturamos uma agenda de sustentabilidade e criamos
oito grupos de trabalho comprometidos com as mudanças
A agenda de mudanças
almejadas. Naquele mesmo ano, apresentamos ao merca-
do o primeiro relatório de sustentabilidade no padrão GRI climáticas já estava em nossas
(Global Reporting Initiative). Esta metodologia ajudou a com-
panhia a trilhar um caminho muito claro em relação às
preocupações, mas com as
mudanças relacionadas às questões na esfera ambiental, métricas propostas pelo ISE
social e da governança corporativa e a mensurar os impac-
tos de todas as ações.
passamos a fazer inventário
de gases de efeito estufa e a
Também utilizamos o ISE e outros instrumentos disponíveis
para criar um conjunto de referências que ajudou a alimentar envolver os colaboradores da
o trabalho. Ter metas claras de onde se deve chegar é funda- M. Dias Branco. E trouxemos
mental. A agenda de mudanças climáticas já estava em nossas
preocupações, mas com as métricas propostas pelo ISE passa- especialistas de mercado
mos a fazer inventário de gases de efeito estufa e a envolver
os colaboradores da M. Dias Branco. E trouxemos especialis-
para dialogar com os nossos
tas de mercado para dialogar com os nossos colaboradores. colaboradores.
56 REVISTA RI Fevereiro 2021
Desde o início, os controladores da companhia patrocina-
ram a causa e apoiaram essa jornada, trazendo a visão do
que é relevante para a empresa e a sociedade e buscando o
equilíbrio entre a agenda de sustentabilidade e os resultados
financeiros. E é importante que seja assim. Nessa jornada, tomamos
decisões bastante ousadas,
Nessa jornada, tomamos decisões bastante ousadas, mas que
rapidamente foram absorvidas pelos investidores. Um bom mas que rapidamente
exemplo é o fato de uma companhia que consome anual-
foram absorvidas pelos
mente milhares de toneladas de ovos na produção de massas
alimentícias ter decidido assinar, em maio de 2019, o compro- investidores. Um bom
misso pelo bem-estar animal cage-free. Nos comprometemos a
utilizar em todos os nossos produtos apenas ovos de galinhas
exemplo é o fato de uma
100% livres de gaiolas, completando a transição até 2025. Sa- companhia que consome
bemos que a produção brasileira de ovos de galinhas livres
ainda é marginal, não suprindo nem de longe a demanda da
anualmente milhares
indústria. Mas, como líderes brasileiros em massas e biscoi- de toneladas de ovos
tos, entendemos que é nosso papel patrocinar esta mudança,
trabalhando em parceria com os fornecedores. na produção de massas
alimentícias ter decidido
Outro ponto que olhamos com muita atenção desde a aber-
tura de capital, em 2006, é a governança. É claro que as com- assinar, em maio de 2019, o
panhias com governança robusta e transparente não ape-
nas atraem os investidores, como engajam colaboradores e
compromisso pelo bem-estar
parceiros. Como reconhecimento, recebemos em 2020, pelo animal cage-free.
quarto ano consecutivo, o Troféu Transparência concedido
pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finan-
ças, Administração e Contabilidade).
lação entre a sustentabilidade empresarial e a avaliação de
Por fim, procuramos fazer ações sociais no dia a dia, não nos risco das companhias. Investidores estrangeiros e brasileiros
restringindo a doação de recursos financeiros e alimentos olham com atenção para a agenda ambiental brasileira e já
a dezenas de entidades sociais próximas às 15 unidades in- são capazes de separar o joio do trigo, buscando, por exem-
dustriais da companhia espalhadas pelas regiões Nordeste, plo, aquelas capazes de neutralizar o carbono que produzem,
Sudeste e Sul. Um projeto do qual nos orgulhamos imensa- que respeitam seus colaboradores e consumidores, que abrem
mente é o Projeto Escola, que reflete muitas das crenças do suas portas para a diversidade e tomam decisões em prol da
fundador da companhia, Sr. Ivens Dias Branco, e que já trou- sociedade, olhando sempre para o longo prazo.
xe milhares de crianças à sede da M. Dias Branco, em Forta-
leza. Neste programa, as crianças passam um dia divertido É importante ressaltar que a entrada no ISE faz com que nos-
e educativo na fábrica e têm a oportunidade de entender o sos colaboradores fiquem ainda mais confiantes de que esta-
processo de produção de massas, biscoitos e torradas e parti- mos no caminho certo e devemos seguir nessa jornada. RI
cipar de ações educativas sobre meio ambiente e cidadania.
Para muitas delas, isto se torna uma inspiração para o futu-
ro profissional.

Integrar o ISE da B3 não é apenas uma conta de chegada.


FABIO CEFALY
Hoje o trabalho de sustentabilidade que vem sendo feito dia- é diretor de Relações com Investidores
riamente está no DNA da empresa. Tanto que, também em e Novos Negócios da M. Dias Branco.
fabio.cefaly@mdiasbranco.com.br
2020, aderimos aos dez princípios do Pacto Global da Organi-
zação das Nações Unidas. Acreditamos que a régua vai subir
continuamente no Brasil e no mundo e já ficou clara a corre-

Fevereiro 2021 REVISTA RI 57


REGISTRO

XVII SEMINÁRIO
INTERNACIONAL

CPC
DEBATE NORMAS CONTÁBEIS INTERNACIONAIS

& RELATO INTEGRADO


Zulmir Ivânio Breda, presidente do CFC (Conselho Federal de
Contabilidade), realizou a palestra de abertura do XVII Seminário
Internacional CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis), na
manhã do dia 25 de novembro de 2020, pela primeira vez em
plataforma digital, destacando que o evento tem o objetivo de
proporcionar uma visão prática do atual estágio de adoção, no
Brasil, das normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS -
International Financial Reporting Standards, na sigla em inglês) e das
alterações relevantes em andamento, conforme as agendas do CPC
e do IASB (International Accounting Standards Board).

por RODNEY VERGILI

58 REVISTA RI Fevereiro 2021


“O estágio avançado da adoção das normas IFRS no País é re-
sultado do eficiente trabalho conduzido pelo CPC em seus 15
anos de atuação”, afirmou Zulmir Breda. “O CPC é fruto de
um esforço conjunto das entidades que o compõem, com início
marcado pela edição da Resolução CFC nº 1.055/2005 e progre-
dindo para um modelo hoje consolidado”, declarou. O presiden-
te do CFC parabenizou todos os membros atuais e anteriores,
que “ajudaram a formatar e dignificar o trabalho do CPC e a
promover o debate sobre Contabilidade no Brasil”.

Em 2019, o CFC editou a Resolução nº 1.567/2019, alterando


a nº 1.055/2005, de forma a aperfeiçoar as regras de Gover-
nança do CPC. Entre outras mudanças, ampliou o grupo de
entidades que compõem o Comitê. “Por mais de dois anos,
nós discutimos as alterações, com a finalidade de trazer mais
transparência às atividades do CPC e de adequar o Comitê às
demandas atuais”, afirmou.

Zulmir Breda discorreu sobre os principais pontos da atuação


do CPC em 2020. “Foram produzidos trabalhos de alta rele-
vância, sendo dois destaques: a minuta de Orientação Técnica
OCPC 09, equivalente ao Framework emitido pelo IIRC (Inter- ZULMIR BREDA
national Integrated Reporting Council), e a minuta de Pronuncia-
mento Técnico Entidades em Liquidação”, declarou. Valdir Coscodai, diretor Técnico do IBRACON (Instituto dos
Auditores Independentes do Brasil); e de Patrick Oliveira
O presidente do CFC agradeceu, também, o apoio do CPC nas Matos, diretor de Práticas Contábeis da Natura.
nomeações brasileiras em organismos internacionais, como a
de Alexsandro Broedel, como trustee da IFRS Foundation, en- EESG
tre outros. Breda fez menção, também, a outros trabalhos rea- No segundo painel, foi debatido o crescente interesse dos in-
lizados pelo CPC, como reuniões, eventos, revisões e envios vestidores pelas informações EESG (Economic, Environmental,
de contribuições ao IASB (International Accounting Standards Social and Governance, em português, Econômico, Ambiental,
Board). Ele destacou a atuação recente do CFC em temas como: Social e Governança).
NBC TSP (Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao
Setor Público), Relato Integrado, Norma sobre Entidades em Geraldo Soares, superintendente de Relações com Investidores
Liquidação; Auditoria de Informação Contábil Histórica Apli- do Itaú Unibanco e conselheiro de Administração do IBRI (Insti-
cável ao Setor Público; revisões da Norma de Contabilidade tuto Brasileiro de Relações com Investidores), moderou o segun-
para Entidades Desportivas, da NBC de Contabilidade para do painel sobre “Relato Integrado e EESG com foco na visão de
PMEs; das Normas de Perícia Contábil e da Norma sobre Exa- investimentos”, que teve como palestrantes: Rafael Mingone,
me de Qualificação Técnica para Auditor. Relações com Investidores da Gerdau, coordenador da Comissão
ESG do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores)
Breda citou a emissão de Comunicados Técnicos para auditores e conselheiro CDP (Carbon Disclosure Project) Latin America; e
independentes e aproveitou para agradecer ao IBRACON (Insti- Fabio Alperowitch, portfolio manager da FAMA Investimen-
tuto dos Auditores Independentes do Brasil) pela parceria. tos e conselheiro da GRI (Global Reporting Initiative).

No primeiro painel, houve debate sobre “Combinações de ne- A programação do primeiro dia do evento foi encerrada com
gócios com foco em Combinações de Entidades sob Controle palestra, diretamente da Argentina, de Jorge Gil, presidente
Comum”, tendo como moderador Guillermo Braunbeck, vi- do GLENIF/GLASS (Grupo Latinoamericano de Emisores de Normas
ce-coordenador Técnico do CPC (Comitê de Pronunciamentos de Información Financiera / Group of Latin American Accounting
Contábeis) e diretor financeiro da FACPC (Fundação de Apoio Standard Setters), sobre os mais recentes debates a respeito da
ao Comitê de Pronunciamentos Contábeis), e palestras de convergência das normas contábeis internacionais.

Fevereiro 2021 REVISTA RI 59


REGISTRO

HAROLDO LEVY NETO, GERALDO SOARES, RAFAEL MINGONE E FÁBIO ALPEROWITCH

MARCELO BARBOSA

AGENDA REGULATÓRIA A agenda regulatória da CVM para 2021 sobre normas con-
Marcelo Barbosa, presidente da CVM (Comissão de Valores tábeis tem 14 temas incorporados. “A produção normativa
Mobiliários), realizou a palestra de abertura do segundo dia contábil obedece a uma dinâmica particular, como resultado
do evento, na manhã de 26 de novembro de 2020. Barbosa da nossa adesão plena à convergência aos padrões internacio-
discorreu sobre a atenção da autarquia para diversos temas nais”, declarou Marcelo Barbosa, lembrando que as rodadas
destacados no evento, por exemplo, a emissão de norma so- de discussões começam no IASB e, depois da emissão das
bre atividades reguladas, cujo modelo está em andamento IFRS, entram no processo do CPC e dos reguladores nacionais.
no IASB (International Accounting Standards Board); a normati-
zação sobre Combinação de Negócios sob Controle Comum, No terceiro painel houve debate sobre “Hedge Accounting”,
em análise pelo IASB – Discussion Paper (DP) 2020/1 – Business que contou com palestras de Fernando Chiqueto, senior vice
Combinations: Disclosures, Goodwill and Impairment; e a regula- president do Credit Suisse (Londres); e de Eduardo Flores,
mentação da agenda ESG (Environmental, Social and Governance). membro do CPC/CNI (Comitê de Pronunciamentos Contábeis/

60 REVISTA RI Fevereiro 2021


ALFRIED PLÖGER (in memoriam); HAROLDO LEVY NETO, coordenador geral do XVII
Seminário CPC; CLAUDIA PLÖGER, esposa de Alfried Plöger e ELISEU MARTINS (FEA-USP)

Confederação Nacional da Indústria) e recentemente nomeado Luiz Murilo Strube Lima, gerente de Políticas e Procedi-
para o Conselho Consultivo da IFRS Foundation. O moderador mentos Contábeis da Petrobras. A moderação do debate foi
do painel foi Edison Arisa Pereira, coordenador Técnico do CPC realizada por Leandro Ardito, sócio de Auditoria da PwC.
(Comitê de Pronunciamentos Contábeis) e presidente da FACPC
(Fundação de Apoio ao Comitê de Pronunciamentos Contábeis). ENCERRAMENTO
Alexsandro Broedel, trustee da IFRS Foundation, realizou pa-
HOMENAGEM A ALFRIED PLÖGER lestra destacando a importância crescente de se debater o desen-
Haroldo Levy Neto, coordenador geral do XVII Seminário volvimento de padrões globais de relatórios de sustentabilidade.
Internacional, conduziu a homenagem a Alfried Plöger, ex- Edison Arisa Pereira, coordenador técnico do CPC (Comitê
-coordenador de Relações Institucionais do CPC, que faleceu, de Pronunciamentos Contábeis) e presidente da FACPC (Fun-
no dia 12 de abril de 2020, vítima da COVID-19. dação de Apoio ao Comitê de Pronunciamentos Contábeis),
comentou as principais conclusões do evento.
Eliseu Martins, Professor Emérito da FEA (Faculdade de Eco-
nomia, Administração e Contabilidade) da USP (Universidade Haroldo Reginaldo Levy Neto, coordenador Geral do XVII
de São Paulo), em São Paulo (SP) e em Ribeirão Preto (SP), falou Seminário Internacional CPC (Comitê de Pronunciamentos
sobre a amizade que teve com o empresário de origem alemã Contábeis), encerrou o evento agradecendo participantes,
e que foi, por 15 anos, representante da ABRASCA (Associação apoiadores e patrocinadores.
Brasileira das Companhias Abertas) no CPC. Bastante emocio-
nado, Martins relembrou alguns momentos da vida pessoal O evento contou com os patrocínios: Master (B3, Deloitte, FE-
que compartilhou com Plöger e destacou o respeito que havia BRABAN – Federação Brasileira de Bancos, Grant Thornton
entre ambos. “Nem sempre concordamos, mas esse é o genuí- Brasil, Itaú Unibanco, KPMG, PwC e SMS Latin America; Sê-
no respeito”, disse o professor. Martins fez a entrega virtual nior (Cielo e EY); Pleno (C&A, FBC – Fundação Brasileira de
de uma placa à esposa de Plöger, Claudia Plöger. Contabilidade e Luz Publicidade) e apoio institucional: ABEL /
ABRACICON / ABRAPP / ABVCAP / AMEC / ANBIMA / ANCORD
O tema do quarto painel foi “Demonstrações Financeiras / ANEFAC / APIMEC-SP / CRA-SP / CRC-SP / FEA–RP/USP / FE-
Primárias”, que contou com palestras de Tadeu Cendón CONTESP / FGV-Instituto de Finanças / IBEF SP / IBGC / IBRI /
Ferreira, Board Member do IASB (International Accounting SESCON-SP / SINDCONT-SP SINDICONT-Rio.
Standards Board), em Londres; Paulo Roberto Gonçalves
Ferreira, superintendente de Normas Contábeis e de Mais informações, vídeos e apresentações:
Auditoria da CVM (Comissão de Valores Mobiliários); e www.eventos.facpc.org.br/apresentacoes/XVIISeminarioCPC

Fevereiro 2021 REVISTA RI 61


Leia na
Revista RI.

Assine já!
e tenha acesso a todas as edições da Revista RI.
www.revistaRI.com.br/assinatura
1º PRÊMIO APIMEC IBRI
DESTACA OS VENCEDORES
PREMIAÇÃO AGRACIOU OS MELHORES PROFISSIONAIS DE RI,
ANALISTA E CASA DE ANÁLISE, ALÉM DAS INICIATIVAS DE
DESTAQUE DE RELAÇÕES COM INVESTIDORES

por JENNIFER ALMEIDA


PÁGINA 64

Bruno Brasil e IBRI Mulheres debate Comissão ESG


Ricardo Rosanova como aumentar presença do IBRI aborda
realizam palestras no feminina no Mercado Criação de Valor
Programa TOP XXIII de capitais em Sustentabilidade
PÁGINA 67 PÁGINA 70 PÁGINA 72

Fevereiro 2021 REVISTA RI 63


IBRI Notícias

1º PRÊMIO APIMEC IBRI


DESTACA OS VENCEDORES
PREMIAÇÃO AGRACIOU OS MELHORES PROFISSIONAIS DE RI,
ANALISTA E CASA DE ANÁLISE, ALÉM DAS INICIATIVAS DE
DESTAQUE DE RELAÇÕES COM INVESTIDORES
A entrega da primeira edição do Prêmio APIMEC IBRI aconteceu no dia 7 de
dezembro de 2020, em solenidade virtual. A premiação foi realizada pela APIMEC
(Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais)
e pelo IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores). A escolha foi feita
por meio de votação online e com abrangência nacional.

POR JENNIFER ALMEIDA

A votação foi direta e realizada por analistas “Pessoa Física”


credenciados e associados pela APIMEC Nacional, além de as-
sociados efetivos do IBRI.

VENCEDORES
Os vencedores de cada uma das cinco categorias foram: (a)
Melhor Analista de Valores Mobiliários: EDUARDO WHITAKER
DE ASSUMPÇÃO MATTOS ROSMAN; (b) Melhor Casa de Aná-
lise de Valores Mobiliários: BANCO BTG PACTUAL; (c) Melhor
Profissional de Relações com Investidores: GERALDO SOARES;
Melhor Prática e Iniciativa de Relações com Investidores Small/
Middle Cap: BANCO ABC BRASIL; (e) Melhor Prática e Inicia-
tiva de Relações com Investidores Large Cap: ITAÚ UNIBANCO.

A seguir, os cinco mais votados em cada categoria:

MELHOR ANALISTA DE VALORES MOBILIÁRIOS


Domingos Toledo Piza Falavina
Eduardo Nishio
Eduardo Whitaker de Assumpção Mattos Rosman (Vencedor)
Marcos Moreno Chagas Assumpção
Thiago Bovolenta Batista GERALDO SOARES, RI DO ANO

64 REVISTA RI Fevereiro 2021


ANASTÁCIO FERNANDES FILHO RICARDO TADEU MARTINS

MELHOR CASA DE ANÁLISE DE VALORES MOBILIÁRIOS 1º PRÊMIO APIMEC IBRI


Banco BTG Pactual (Vencedor) Anastácio Fernandes Filho, presidente do Conselho de Ad-
Banco J.P. Morgan ministração do IBRI, disse na abertura do evento que “o ob-
Bradesco jetivo do prêmio é estimular o desenvolvimento do mercado
Credit Suisse de capitais, disseminar boas práticas e iniciativas, além de
Itaú Unibanco valorizar os profissionais. Com a premiação, almejamos ter
um mercado de capitais cada vez mais forte, ativo e com re-
MELHOR PROFISSIONAL DE RI gras claras em sintonia com as melhores práticas”.
Bruno Brasil
Carlos Firetti Anastácio Fernandes ressaltou o esforço da comissão organi-
Geraldo Soares (Vencedor) zadora do prêmio para a sua efetivação. “Teremos um perío-
Leandro De Miranda Araujo do de grandes desafios. Convoco os profissionais do mercado
Rodrigo Maia a superarem os próximos desafios”, enfatizou.

MELHOR PRÁTICA E INICIATIVA DE RI – SMALL/MIDDLE CAP O voto foi secreto (criptografado) e auditado. A solenidade
Banco ABC Brasil (Vencedor) de premiação ocorreu em plataforma digital, por causa da
Banrisul pandemia de COVID-19.
Embraer
Movida “A primeira edição do Prêmio APIMEC IBRI 2020 registra quem
Randon se destacou em período desafiador com a pandemia e com a
presença crescente de pessoas físicas como investidores, o que
MELHOR PRÁTICA E INICIATIVA DE RI – LARGE CAP exigiu uma comunicação mais didática e assertiva”, afirmou
Bradesco Ricardo Tadeu Martins, presidente da APIMEC Nacional.
Itaúsa
Itaú Unibanco (Vencedor) A solenidade contou com a participação de Juca Andrade,
Magazine Luiza vice-presidente de Produtos e Clientes da B3 (Brasil, Bolsa,
Vale Balcão), que salientou os desafios enfrentados por analistas

Fevereiro 2021 REVISTA RI 65


IBRI Notícias
Unibanco, compartilhou o prêmio com sua equipe. “Agrade-
ço à minha família, pois sem ela não chegamos a nenhum
lugar e desejo que o prêmio tenha vida longa”, acrescentou.

A primeira edição do Prêmio Sergio Ricardo Borejo, vice-presidente de Finanças e diretor


APIMEC IBRI 2020 registra de Relações com Investidores do Banco ABC Brasil, recebeu
o prêmio por melhor prática e iniciativa de Relações com In-
quem se destacou em período vestidores Small/Middle Cap. “É uma honra participar de um
desafiador com a pandemia grupo tão qualificado de finalistas. Gostaria de agradecer a
todos os colaboradores do Banco ABC Brasil. Esse prêmio vai
e com a presença crescente muito além da área de RI”.

de pessoas físicas como Na categoria melhor prática e iniciativa de Relações com In-
investidores, o que exigiu uma vestidores Large Cap, o vencedor foi o Itaú Unibanco. Re-
nato Lulia Jacob, diretor de Relações com Investidores no
comunicação mais didática e Grupo Itaú Unibanco, observou que “em um ano marcado

assertiva. por grandes mudanças, em que todos foram forçados a se


reinventar, tanto no âmbito profissional quanto no pessoal,
é uma grande satisfação saber que o Itaú Unibanco foi reco-
nhecido duplamente no 1º Prêmio Apimec IBRI. Fomos pre-
e profissionais de Relações com Investidores no ano de 2020. miados nas categorias “Melhor Prática e Iniciativa de RI” e
“O ano foi marcado pela pandemia, mudanças no mercado, “Melhor Profissional de RI” com Geraldo Soares, superinten-
mas, também, por movimentos positivos, como a redução da dente de RI, a quem direciono meus parabéns em nome de
taxa de juros e o aumento da base de investidores pessoa físi- todo o time de RI”.
ca, que continua crescendo”, declarou.
SOBRE O PRÊMIO APIMEC IBRI
Lucy Sousa, presidente da APIMEC São Paulo, citou as trans- O Comitê de Premiação é formado por representantes da API-
formações no mercado decorrentes da pandemia. “Fizemos MEC (Ricardo Martins, Eduardo Werneck e Lucy Sousa) e do
esforço para transformar as reuniões presenciais em video- IBRI (Geraldo Soares, Fernando Foz e Rodrigo Maia).
conferências e foi um sucesso”, ressaltou.
A primeira edição do Prêmio APIMEC IBRI teve o patrocínio
OS VENCEDORES DO 1º PRÊMIO APIMEC IBRI das empresas: B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), BNY Mellon, Innova,
Eleito o melhor analista de valores mobiliários, Eduardo Shearman & Sterling, e MZ.
Whitaker de Assumpção Mattos Rosman disse estar muito
feliz com o prêmio e agradeceu a todos pelo reconhecimen- O Prêmio APIMEC IBRI tem como objetivo reconhecer por
to. Analista no BTG Pactual, ele observou que tem acompa- votação direta dos analistas Pessoa Física credenciados e as-
nhado as transformações do mercado financeiro. sociados pela APIMEC Nacional e associados efetivos do IBRI:
companhias, profissionais de Relações com Investidores,
Ao receber o prêmio de melhor casa de análise de valores analistas de valores mobiliários e casas de análise de inves-
mobiliários, Carlos Eduardo Palhares, chefe da divisão de timento, com o objetivo de estimular o desenvolvimento das
análise do BTG Pactual, destacou que o ano de 2020 foi de- áreas, disseminar melhores práticas e iniciativas, além de va-
safiador, e, ao mesmo tempo, foi recorde para o mercado de lorizar os profissionais do mercado escolhidos para receber
operações, o que gerou demanda das esquipes de análise. a Premiação.
“Estamos muito felizes com a premiação, é uma honra”, co-
memorou. Para assistir na íntegra a premiação, acesse o link:
www.youtube.com/watch?v=7Gn-dAKyWco&feature=youtu.be
Vencedor na categoria melhor profissional de Relações com
Investidores, Geraldo Soares, superintendente de RI do Itaú Mais informações: www.premioapimecibri.com.br/

66 REVISTA RI Fevereiro 2021


Grupo de Relações com Investidores de
Estatais do IBRI promove confraternização
O Grupo de Relações com Investidores de Estatais do IBRI Profissional de RI” e único brasileiro na lista dos 30 profis-
(Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) promoveu, sionais de Relações com Investidores de destaque no mundo
em 17 de dezembro de 2020, a partir das 18:30, confraterni- das últimas três décadas da IR Magazine. Geraldo Soares re-
zação de final de ano. O Happy Hour virtual teve a coordena- latou sua experiência como profissional e discorreu sobre a
ção de André Vasconcellos e Cairê Moura Franco do Grupo evolução da área de Relações com Investidores e do mercado
de RI de Estatais do IBRI, além de Luiz Roberto Cardoso, su- de capitais.
perintendente do IBRI.
Houve depoimentos, também, de apoiadores das iniciativas
André Vasconcellos, coordenador do Grupo de RI de Estatais do Grupo de RI de Estatais como Emerson Drigo, subcoor-
do IBRI, agradeceu o apoio para uma série de iniciativas du- denador da Comissão Técnica do IBRI e sócio do VDV Advo-
rante todo o ano e debateu com os participantes vários pro- gados; Rafael Wajnsztok, Head de Novos Negócios da TEN
jetos para 2021. Sistemas e Redes; João Marin, sócio do MZ Group; e Ronnie
Nogueira, diretor da Revista RI.
O evento contou com participação especial de Geraldo Soa-
res, membro do Conselho de Administração do IBRI, supe- O Happy Hour virtual do Grupo de Relações com Investidores
rintendente de Relações com Investidores do Itaú Uniban- de Estatais do IBRI contou com patrocínio do iFood e apoio
co, vencedor do Prêmio APIMEC IBRI 2020 como “Melhor do MZ Group, Revista RI e TEN Sistemas e Redes.

Bruno Brasil e Ricardo Rosanova realizam


palestras no Programa TOP XXIII da CVM
Bruno Salem Brasil, diretor-presidente do IBRI, e Ricardo
Rosanova Garcia, diretor técnico do Instituto, realizaram
palestras, em 17 de dezembro de 2020, no Programa TOP
XXIII da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), evento pro-
movido pelo Comitê Consultivo de Educação da autarquia.

Pela primeira vez, o evento aconteceu de forma online no


período de 07 a 18 de dezembro de 2020. O Programa TOP
é voltado para professores vinculados a instituições de en-
sino de nível superior, de graduação ou pós-graduação, que
lecionem ou tenham lecionado disciplinas relacionadas ao
mercado de capitais.

BRUNO SALEM BRASIL RICARDO ROSANOVA


Os executivos do IBRI abordaram temas como o trabalho do
profissional de Relações com Investidores, como é sua rotina
de trabalho e a importância de interagir com seus públicos rios conhecimento sobre o trabalho que o IBRI realiza desde
estratégicos, como analistas, investidores, órgãos regulado- sua criação, em 1997, e as opções que a entidade oferece para
res e autorreguladores, mídia, dentre outros. docentes, como a Área do Professor, que oferece material
exclusivo para esse público, disponível no site do Instituto:
Além disso, compartilharam com os professores universitá- www.ibri.com.br/professor.

Fevereiro 2021 REVISTA RI 67


IBRI Notícias

IBRI debate LGPD


Lei Geral de Proteção de Dados
O IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investido- pessoais, e todo o arcabouço organizacional para lidar
res) promoveu webinar “LGPD: impactos para RI” por com o tema”, relatou.
meio do canal do Instituto no YouTube, no dia 15 de de-
zembro de 2020. Na ocasião, Gustavo Carrijo Duarte, PH Zabisky discorreu sobre captura e proteção de da-
membro da Comissão Técnica do IBRI e RI do Banco dos em sites de RI, plataforma de webcast, sistemas de
Pine, deu boas-vindas a todos e disse que o evento faz mailing e ferramentas de CRM (Customer Relationship
parte de uma série de iniciativas para o aprimoramen- Management). Ele elencou fontes de capturas de dados,
to do conhecimento de assuntos técnicos e regulatórios como: o formulário “Fale com o RI”, acesso ao webcast,
do mercado de capitais. termos de cookies. “É preciso ter um termo de aceite
com português claro, para que todos consigam com-
“Contamos com a participação de um time especializa- preender. É preciso mostrar a política de uso de dados
do no tema para esclarecer uma série de questões sobre e de privacidade da empresa”, detalhou.
a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) no mundo de
Relações com Investidores”, anunciou Duarte, que tam- Zabisky ressaltou que a fonte de captura de dados pela
bém moderou a videoconferência. base acionária é “crítica, pois detalha dados pessoais e
até o poder de compra das pessoas”.
Realizaram palestras no evento: Daniel de Paiva
Gomes, sócio do VDV Advogados; Marina Gelman, Diana Troper falou sobre integridade e guarda de
diretora de Relações com Investidores da Ânima dados de acionistas e investidores na Central Depo-
Educação; PH Zabisky, CEO do MZ Group, Diana sitária. “Essa discussão sobre segurança já acontece
Troper, gerente jurídica da B3 (Brasil, Bolsa, Balcão). há algum tempo”, comentou. No que diz respeito à
Os palestrantes compartilharam suas experiências e atividade da Central Depositária, a executiva da B3
visões em diferentes campos da Lei Geral de Prote- declarou que “os sistemas são autorizados e constan-
ção de Dados, que entrou em vigor em 18 de setem- temente fiscalizados pelos reguladores. Tudo isso faz
bro de 2020. com que a estrutura da B3 seja muito robusta e está
sendo construída há muito tempo”, acrescentando
Ao abordar os principais aspectos jurídicos da LGPD e que mesmo já tendo toda essa estrutura houve a ne-
eventuais penalidades, Gomes destacou que a lei é apli- cessidade de se preparar para a LGPD.
cável a qualquer operação de tratamento realizada por
pessoa natural ou pessoa jurídica de direito público ou Em nome da Comissão Técnica do IBRI, Gustavo Carrijo
privado, independentemente do meio, do país de sua Duarte agradeceu aos palestrantes e participantes, en-
sede ou do país onde estejam localizados os dados. cerrando o evento.

Marina Gelman tratou dos impactos na rotina de RI, O evento foi uma realização do IBRI com apoio da
além de falar sobre as mudanças que a Lei trouxe para TEN Sistemas e Redes; Revista RI; MZ Group; e VDV
a área de Relações com Investidores. “A área de RI par- Advogados.
ticipou intensamente na construção do programa de
privacidade, gestão e governança, estabelecendo a po- Link para acessar a videoconferência na íntegra:
lítica corporativa de privacidade e proteção de dados https://youtu.be/62fQNHKqznw

68 REVISTA RI Fevereiro 2021


IBRI homenageia
Raymundo Magliano Filho
O Conselho de Administração, a Diretoria Executiva e os associados do
IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) homenageiam
Raymundo Magliano Filho, ex-presidente da Bovespa, que faleceu,
em 11 de janeiro de 2021, vítima de COVID-19.

Esteve diretamente envolvido em diversas inicia-


tivas relevantes, tais como: Programa “Bolsa vai
até Você”, fusão da Bovespa com a BM&F, Bolsa So-
cial, Mulheres na Bolsa, entre outras.

Raymundo Magliano Filho foi presidente da


Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), conselhei-
ro do Instituto Ethos, membro do CDES (Conse-
lho de Desenvolvimento Econômico e Social) e de
diversas entidades com atuação nacional e inter-
nacional. Foi autor de livros e de diversos artigos
sobre o mercado de capitais publicados em jornais
e revistas. Estudioso de Filosofia, fundou o Insti-
tuto Norberto Bobbio, instituição que se dedica a
divulgar os conceitos de Cultura, Democracia e
Direitos Humanos.

Formado em Administração de Empresas pela


Fundação Getulio Vargas, Magliano Filho sucedeu
o pai no comando da corretora que leva o sobre-
nome da família, a mais antiga da Bolsa e que foi
fundada em 1927.

Raymundo Magliano Filho foi um visionário, dei- Magliano sempre teve relacionamento bastante
xando legado de relevantes contribuições para o de- próximo ao IBRI, tendo em sua gestão na Bovespa
senvolvimento e popularização do acesso ao merca- realizado o primeiro convênio com o Instituto. Ele
do de capitais brasileiro. É uma enorme perda para participou com brilhantismo por diversas vezes
os amigos e deixa saudades de momentos agradáveis no Encontro de Relações com Investidores e Mer-
na memória de todos que o conheceram pessoal- cado de Capitais e, também, como Conselheiro
mente por sua simpatia, dinamismo e liderança. Editorial da Revista RI.

Fevereiro 2021 REVISTA RI 69


IBRI Notícias
IBRI Mulheres debate como aumentar
presença feminina no mercado de capitais
EVENTO CONTOU COM A PRESENÇA DE EXECUTIVAS QUE FALARAM SOBRE
COMO CONECTAR MULHERES QUE DESEJAM ATUAR NO MERCADO FINANCEIRO
POR JENNIFER ALMEIDA

O último evento do ano de 2020 do IBRI Mulheres aconteceu


no dia 8 de dezembro de 2020 por meio de webinar, que se
propôs a debater “Como aumentar o engajamento de mulhe-
res no mercado de capitais”. Carla Albano Miller, diretora
regional do IBRI Rio de Janeiro e moderadora do evento, e
Sandra Calcado, coordenadora do Grupo IBRI Mulheres, de-
ram as boas-vindas aos participantes. “Os eventos que reali-
zamos este ano focaram os quatro pilares do grupo que são:
grandes referências femininas; desenvolvimento; equilíbrio
e saúde mental; e networking”, comentou.

Bruno Salem Brasil, diretor-presidente do IBRI, destacou a


robustez da iniciativa do grupo, que conta com pluralidade
CARLA ALBANO MILLER SANDRA CALCADO
de ideias.

Diferente de outros eventos virtuais do grupo, a videocon-


ferência não teve o formato tradicional das lives, em que
somente é possível ver as palestrantes e enviar perguntas.
Desde o início, os participantes foram convidados a ligar
suas câmeras, ampliando assim a interação. A mulher é colocada à
prova quando volta de
A conversa foi conduzida por Carolina Cavenaghi, cofunda-
dora Fin4she, responsável por liderar e implementar as ini- licença maternidade,
ciativas para promover o protagonismo e a independência
financeira feminina, e também colunista do InvestNews; e
quando na verdade
Olivia Ferreira, fundadora e CEO da Enlight e copresidente é preciso oferecer
do 30% Club Chapter Brazil.
suporte a ela.
Antes das palestrantes iniciarem o bate-papo com os par-
ticipantes, PH Zabisky, CEO do MZ Group, parabenizou a
iniciativa e as realizações do Grupo IBRI Mulheres. “Estamos
honrados de patrocinar o Grupo IBRI Mulheres”, destacou As executivas fizeram breve relato de suas histórias e ex-
Monique Skruzny, CEO do InspIR Group. Monique Skruzny periências profissionais e também responderam a ques-
fez algumas reflexões sobre sua carreira e salientou a impor- tões que foram surgindo ao longo da videoconferência.
tância da educação para as mulheres. Uma questão levantada durante o evento foi com rela-

70 REVISTA RI Fevereiro 2021


ção a formas para atrair e reter mulheres nas empresas. OBSTÁCULOS PARA AS MULHERES
Carolina Cavenaghi sugeriu algumas ações que podem Ao serem indagadas sobre qual é o maior obstáculo para a ascen-
ser eficazes para a retenção de mulheres nas empresas são da mulher na carreira, ambas concordaram ser o desafio de
como: troca de experiências sobre maternidade, proces- conciliar a maternidade com a carreira. “A mulher é colocada à
so de mentoria e suporte de executivos do sexo oposto prova quando volta de licença maternidade, quando na verdade
que validem a causa. “É preciso começar agora com pe- é preciso oferecer suporte a ela”, observou Carolina Cavenaghi.
quenas ações que podem gerar grande impacto na orga-
nização”, apontou. Olívia Ferreira destacou que uma prática muito comum é
que as mulheres sejam demitidas após voltarem da licença
Ao complementar a fala da colega, Olivia Ferreira reforçou o maternidade. Antes de encerrar o evento, Carla Albano sa-
discurso e disse que o comprometimento deve partir da alta lientou a importância do suporte da família.
liderança da empresa. “É preciso entender que tem que se
fazer boa gestão do capital humano, pois os investidores vão O evento foi uma realização do Grupo IBRI Mulheres e con-
cobrar”, acrescentou. tou com o apoio do InspIR Group; do iFood e do MZ Group.

Comitê de Educação da CVM promove


1ª edição virtual do Programa TOP
Planejamento Financeiro Pessoal
O Instituto Brasileiro de Relações com Investidores participa do Comitê Consultivo de Educação da
CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que vai realizar o Programa TOP II Planejamento Financeiro
Pessoal Virtual. Curso gratuito para professores será realizado em fevereiro de 2021.

O Comitê Consultivo de Educação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) vai realizar o Programa
TOP II Planejamento Financeiro Pessoal Virtual. Será a primeira edição online do curso gratuito. As
aulas serão realizadas de 22/02/2021 a 26/02/2021.

O Instituto Brasileiro de Relações com Investidores participa do Comitê Consultivo de Educação da


CVM. O Programa TOP é voltado para professores vinculados a instituições de ensino de nível superior,
de graduação ou pós-graduação, que lecionem ou tenham lecionado disciplinas relacionadas ao
mercado de capitais.

A leitura do livro “TOP Planejamento Financeiro Pessoal” é recomendada para a participação no curso.
A versão eletrônica gratuita está disponível no Portal do Investidor:
www.investidor.gov.br/publicacao/LivrosCVM.html#PlanejamentoFinanceiro.

O Programa objetiva apresentar os diferentes elementos do planejamento financeiro em uma visão


integrada; detalhar cada um dos componentes do planejamento financeiro; e introduzir uma visão
prática do planejamento financeiro integrado.

O TOP XXIV Virtual de 08 a 19 de fevereiro de 2021 os participantes receberão certificados de conclusão


do curso, desde que compareçam a todas as atividades. Link para Inscrições: https://bit.ly/35Sxo4z

Fevereiro 2021 REVISTA RI 71


IBRI Notícias
Comissão ESG do IBRI aborda
criação de valor em sustentabilidade
A comissão ESG do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) promoveu,
em 27 de novembro de 2020, webinar “Criação de valor em sustentabilidade: as
métricas do World Economic Forum”, transmitido no canal do Instituto no YouTube.
A falta de comparabilidade das métricas e de consistência nos relatórios ESG (do
inglês Environmental, Social and Governance; em português, ASG – Ambiental, Social
e Governança) tem causado problemas para os agentes de mercado, especialmente
no que diz respeito a preocupações com a transparência nas informações prestadas.
POR JENNIFER ALMEIDA

Pensando nessa questão, o World Economic Forum emitiu do- PILAR PESSOAS
cumento com um conjunto de métricas e as divulgações reco- Ana Carolina Gomes, gerente de ESG da KPMG, elencou os
mendadas com o objetivo de padronizar os principais temas temas que fazem parte desse pilar como: dignidade e igual-
ESG, com vinculação a métricas mais utilizadas. O evento or- dade, saúde e bem-estar e skills para o futuro. No início de
ganizado pelo IBRI serviu para abordar os principais pontos sua fala, Emerson Faria, RI da Porto Seguro e membro da
do documento, dividido em quatro painéis, e contou com a Comissão ESG do IBRI, chamou atenção para que não se con-
colaboração da Deloitte, KPMG, EY e PwC. funda a questão da filantropia com a estratégia do negócio.
“A filantropia é considerada muito importante, mas o princi-
“É um prazer recebê-los neste primeiro webinar da Comis- pal ponto para os investidores é o quanto está alinhada com
são ESG do IBRI”, destacou Rafael Mingone, RI da Gerdau e a estratégia do negócio”, disse.
coordenador da Comissão ESG do Instituto. Ele explicou que
os debates ocorreriam em quatro painéis para analisar os pi- De acordo com a executiva da KPMG, as métricas de digni-
lares: planeta, pessoas, prosperidade e governança. dade e igualdade focam temas como diversidade e inclusão,
equidade salarial, trabalho análogo ao escravo. “São métri-
PILAR PLANETA cas que esperamos que todas as empresas abordem de algu-
Ao falar do pilar planeta, Natasha Utescher, subcoordena- ma forma”, salientou.
dora da Comissão ESG do IBRI, ressaltou a necessidade das
empresas mensuraram os riscos ambientais não só de seus PILAR PROSPERIDADE
negócios, mas de toda cadeia de valor. Leonardo Dutra, di- Fábio de Lucena, membro da Comissão ESG do IBRI,
retor de Sustentabilidade da EY, disse que ao se abordar as destacou que ao se olhar o pilar de prosperidade, ob-
questões ESG sempre há o desafio de se encontrar uma mé- serva-se, também, o crescimento econômico, “por meio
trica comparável e que seja universal, “mas há, também, a de emprego, dos meios sustentáveis de subsistência, in-
percepção de valor, ou seja, a partir de que momento essas cremento de renda, proteção social e acesso a serviços
questões passam a ter valor seja para o investidor, negócio, financeiros para todos”. Em sua visão, não há prospe-
sociedade e as esferas de governo”. ridade e desenvolvimento econômico se a empresa não
desenvolve uma Governança Corporativa robusta, se
Para Dutra, o World Economic Forum lança uma visão para não olha para as pessoas e se não entende o que está
os recursos naturais, uso racional do território e a capacidade fazendo em benefício do planeta com a sua atividade
que tem de suportar uma atividade produtiva. econômica.

72 REVISTA RI Fevereiro 2021


“Existe uma demanda muito grande para uma sociedade por riscos vai até o Conselho de Administração? E quantas
mais justa e inclusiva. É fundamental que se tenha um pen- vezes o Conselho de Administração abre esta pauta de for-
samento integrado a esses temas”, comentou Mauricio Co- ma autêntica para discutir os indicadores relacionados e a
lombari, sócio da PwC. Para ele, deve-se levar em conta o relevância dos temas?
que é essencial para criar valor sustentável e reportar essas
informações de maneira clara e com métricas relevantes. Anselmo Bonservizzi, sócio da área de Risk Advisory da
Deloitte, mencionou que ao se falar do “G” de ESG, a Alta
PILAR GOVERNANÇA CORPORATIVA Administração da companhia precisa, de fato, ter um com-
“O pilar governança é uma consolidação de tudo que estamos promisso com a governança. “Ao observarmos o índice do
discutindo hoje”, afirmou Odair Oregoshi, diretor da SPIC ISE nos últimos 15 anos, perceberemos valorização acima do
Brasil e membro da Comissão ESG do IBRI. De acordo com Ibovespa, mas, muitas vezes, ainda esbarramos em questões
ele, é preciso ter uma forma de expressar e, de forma muito como: é muito caro resolver essas questões que discutimos
autêntica, mostrar ao mercado se os indicadores divulgados hoje”, concluiu.
estão em linha com o propósito de governança da empresa,
ou seja, “se ela está comprometida com o meio ambiente e as Para Rafael Mingone, as provocações feitas por Odair
questões sociais”. Oregoshi e Anselmo Bonservizzi sobre governança são fun-
damentais, o coordenador da comissão ESG do IBRI agrade-
Odair Oregoshi apontou alguns questionamentos que ceu a presença e participação de todos e encerrou o evento.
devem ser feitos com relação ao tema, como: a empresa
realmente se preocupa com os indicadores de risco e um Para acompanhar o evento na íntegra, acesse:
ambiente ético de compliance? Quantas vezes o responsável www.youtube.com/watch?v=yYMWXRAGFgo

IBRI divulga podcast sobre melhores


práticas das empresas do Dow Jones
Sustainability Index
No segundo episódio do Podcast do IBRI, foram recebidos dois convidados para discutir o tópico “As melhores
práticas das empresas que integram o Dow Jones Sustainability Index”. Lançado em 1999, o índice de sustentabili-
dade da Dow Jones é um dos mais conhecidos do mundo. Em 2020, 11 empresas brasileiras entraram na carteira,
seja no nível global ou de mercados emergentes.

Roberto Pezzi, diretor do IBRI, moderou a discussão entre Camila Nogueira, gerente executiva de Relações com
Investidores da Suzano, e Dominic Schmal, gerente executivo de Sustentabilidade da EDP Brasil.

Foram discutidos temas como: o papel da área de Relações com Investidores no processo de seleção para o índice;
a integração de RI com sustentabilidade; e o crescente interesse de investidores por temas ambientais, sociais e
de governança.

Para ouvir o podcast na íntegra, clique nos links abaixo:


Spotify: https://open.spotify.com/show/5kPl3zKifuDpIHrUJvqCrh

Fevereiro 2021 REVISTA RI 73


IBRI Notícias
Executivo que obteve a certificação
CPRI do IBRI relata como foi a preparação
e os desafios do profissional de RI
Mário Westrup, sócio da Nello Investimentos, fez a prova e obteve a certificação do
profissional de RI do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) CPRI
nível 2. O profissional de Relações com Investidores enfrenta muitos desafios ao
longo de sua carreira, passando desde a necessidade de visão estratégica sobre
os objetivos da organização até a adaptação a novas tecnologias, frisa.

POR JENNIFER ALMEIDA

Westrup entende que no topo dos desafios está o relato tempes-


tivo, de forma a atender com eficiência e eficácia a crescente
demanda de informações por parte dos investidores, principal-
mente quando se trata de indicadores não-financeiros.

Ele relata que disseminar a cultura de empresa orientada ao


mercado de capitais é a base para que as atividades do profis-
sional de Relações com Investidores sejam desempenhadas,
da melhor forma, em empresas de capital aberto ou fechado.
Segundo ele, manter um bom relacionamento com todas as
áreas da empresa é fundamental para superar os desafios.
“Procuro, inclusive, transitar nas áreas sem distinção de ní-
veis hierárquicos. Isso permite ter a visão holística necessá-
ria para atender a demandas dos investidores”, afirma.

“Quando tomei conhecimento da certificação do Instituto Bra-


sileiro de Relações com Investidores não tive dúvidas de que de-
veria obtê-la”, descreve sobre sua decisão de fazer a prova. Má-
rio Westrup conta que sempre acreditou em autorregulação,
e entende que as certificações profissionais são importantes”. MÁRIO WESTRUP, Nello Investimentos
“É um incentivo para manter o profissional em um processo
contínuo de aprendizagem e atualização”, ressalta. de Informações ao Mercado), embora, em geral, sejam dire-
cionados a empresas listadas”, destaca.
Segundo Westrup, os temas exigidos na prova de certificação
costumam fazer parte do dia a dia do profissional de Rela- A certificação do profissional de RI é oferecida pelo IBRI des-
ções com Investidores, mesmo para quem não tenha atuação de 2013 e tem as opções: CPRI nível 1, com exigência de até
em uma empresa de capital aberto. “Direcionei o foco dos cinco anos de experiência em RI ou acima de três anos em
estudos para suprir os aspectos regulatórios, como as Instru- cargo gerencial de qualquer área e a CPRI nível 2, que exige
ções da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e os Pronun- experiência acima de cinco anos em RI ou acima de oito anos
ciamentos do CODIM (Comitê de Orientação para Divulgação em cargo gerencial de qualquer área.

74 REVISTA RI Fevereiro 2021


De acordo com Westrup, a prova é bem equilibrada entre os guês, ASG – Ambiental, Social e Governança) na alocação de
temas exigidos, que contemplam o mercado de capitais, inves- recursos por parte dos gestores. Em sua opinião, as exigên-
timentos, ambiente corporativo e a prática de Relações com In- cias dos investidores serão cada vez maiores.
vestidores. “O profissional que atua como RI não deve encontrar
dificuldades na aprovação, uma vez que a experiência prática “Os encontros presenciais foram reduzidos. E as iniciativas
tem relação direta com os temas da prova”, acrescenta. digitais (como webcasts, podcasts, aplicativos e assembleias
virtuais) foram potencializadas pela pandemia da CO-
A PROFISSÃO DE RI EM 10 ANOS VID-19”, enfatiza. Segundo ele, pelo lado do mercado, no mé-
Por ser uma profissão dinâmica, Westrup vê em um cenário dio e longo prazo, ocorrerá a aplicação de outras tecnologias,
para os próximos 10 anos que o profissional de RI terá en- como a inteligência artificial, nas decisões de investimento,
frentado três movimentos: a mudança do perfil dos investi- que poderão ser cada vez mais automatizadas.
dores; alterações estruturais e tecnológicas; e uma expansão
e consolidação das competências da atividade. “A mudança Para Mário Westrup, a função de Relações com Investido-
no perfil dos investidores com um maior número de pessoas res tende a exigir que o profissional seja multidisciplinar.
físicas participando da Bolsa de Valores pode culminar em Haverá, também, a necessidade de gerar o correto alinha-
um maior ativismo e demandar cada vez mais agilidade e mento do feedback do mercado com a estratégia da empresa,
assertividade na comunicação com os acionistas”, observa. conclui.

Ele cita a crescente relevância de incorporação das práticas Mais informações sobre a certificação do profissional de RI,
ESG (do inglês Environmental, Social and Governance; em portu- acesse: www.cpri.com.br

Prepare-se para a 22ª edição do Encontro


Internacional de RI e Mercado de Capitais
Nos dias 28 e 29 de junho de 2021 acontece a 22ª edição do Encontro Internacional de Relações com
Investidores e Mercado de Capitais, no WTC, em São Paulo (SP). Promovido anualmente pelo IBRI
(Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) e pela ABRASCA (Associação Brasileira das Compa-
nhias Abertas), o evento foi postergado para este ano devido à pandemia da COVID-19.

No ano passado, o IBRI e a ABRASCA decidiram realizar o 1º Web Summit RI & Mercado de Capitais,
evento 100% online e gratuito direcionado aos profissionais de RI e do mercado de capitais. Na ocasião,
foram quatro dias de evento com palestras para fomentar o debate sobre temas como: perspectivas da
economia frente à pandemia, novas estratégias de RI, desafios de comunicação, além de divulgação de
resultados de pesquisas sobre “Tendências Globais de RI” (BNY Mellon) e “O RI como guardião do valor
em tempos de crise” (IBRI e Deloitte).

O 22º Encontro de RI e Mercado de Capitais já conta com o patrocínio das empresas: B3 (Brasil, Bolsa,
Balcão); blendON; BNY Mellon; Cescon Barrieu; Datev; Gerdau; Itaú Unibanco; MZ Group; Petrobras,
S&P Global; TheMediaGroup; e Valor Econômico. Mais informações: https://encontroderi.com.br/

Fevereiro 2021 REVISTA RI 75


IBRI Notícias
IBRI: Programa TOP XXIV virtual está
com inscrições abertas para professores
O IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) par- São os seguintes os objetivos do Programa TOP XXIV Virtual do
ticipa do Comitê Consultivo de Educação da CVM (Comissão Comitê Consultivo de Educação: promover atualização de co-
de Valores Mobiliários), que promoverá o Programa TOP XXIV nhecimentos sobre mercado de capitais, aliando prática à teo-
Virtual de 08 a 19 de fevereiro de 2021. Os professores têm até ria; criar canal permanente de comunicação e relacionamento
22 de janeiro de 2021 para se inscrever. As vagas são limitadas. entre as instituições do Comitê e os professores, divulgando a
O Programa TOP de Treinamento de Professores dissemina in- atuação de cada entidade e o apoio que pode ser prestado ao do-
formações sobre o mercado de capitais. cente; contribuir para o desenvolvimento de multiplicadores
junto às instituições de ensino de nível superior, repassando
O Programa TOP XXIV promovido pelo Comitê Consultivo de aos alunos as informações recebidas no Programa; e participar
Educação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) é uma de outras iniciativas educacionais.
oportunidade para professores que querem começar 2021 com
uma capacitação gratuita. O Formulário de Inscrição e o Regulamento do Programa estão
disponíveis no Portal do Investidor: /www.investidor.gov.br
O curso é voltado para professores vinculados a instituições de
ensino de nível superior, de graduação ou pós-graduação, que SOBRE O COMITÊ CONSULTIVO DE EDUCAÇÃO
lecionem ou tenham lecionado nos últimos dois anos discipli- O Comitê Consultivo de Educação é formado pelas seguintes
nas relacionadas ao mercado de capitais. As aulas online serão instituições, além da CVM (Comissão de Valores Mobiliários):
realizadas de 08 a 19 de fevereiro de 2021, no turno da manhã. ABRASCA (Associação Brasileira das Companhias Abertas);
Todas as informações de acesso serão enviadas aos professores ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Ca-
que tiverem a solicitação de inscrição confirmada. Haverá cer- pital); ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Merca-
tificado de participação para os inscritos que tiverem presença dos Financeiro e de Capitais); ANCORD (Associação Nacional
integral no curso. das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliá-
rios, Câmbio e Mercadorias); APIMEC (Associação dos Analis-
A participação do IBRI no Programa TOP XXIV Virtual ocorrerá tas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais)
no dia 18 de fevereiro de 2021, das 09 horas às 11 horas, quando Nacional; B3 (Brasil, Bolsa, Balcão); IBGC (Instituto Brasileiro
serão apresentados os seguintes temas: o papel do RI (Relações de Governança Corporativa); IBRI (Instituto Brasileiro de Rela-
com Investidores); o impacto da cultura de capital aberto; o RI ções com Investidores); e PLANEJAR (Associação Brasileira de
nas pequenas e médias empresas; desafios na comunicação da Planejadores Financeiros). O objetivo principal é promover e
empresa; agregação de valor com práticas de RI; e importância apoiar projetos educacionais que contribuam para a melhoria
do RI no relacionamento com provedores de capital. dos padrões de educação financeira da população brasileira.

Novos Associados do IBRI


Bruno Alexandre de Moraes Lolli (BRB - BANCO DE BRASÍLIA S.A.); Diogo Barral (MOURA DUBEUX
ENGENHARIA S.A.); Guilherme Pinho (ITAÚSA); Gustavo Vinícius dos Santos Silva (ITAÚSA); Hugo Andreolly
Albuquerque Costa Santos (BRB - BANCO DE BRASÍLIA S.A.); Lucas Henrique Sobrinho; Maria Izabel Ramos
(PETROBRAS); Ramón Pérez Arias Filho (TEGMA GESTÃO LOGÍSTICA S.A.); e William Estrela Santos
(TEGMA GESTÃO LOGÍSTICA S.A.).

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO: Presidente: Anastácio Ubaldino Fernandes Filho (AEGEA SANEAMENTO) | Vice-Presidentes: Diego Carneiro Barreto
(IFOOD); e Guilherme Setubal Souza e Silva (DURATEX) | Conselheiros: Eduardo Pavanelli Galvão (GRUPO ULTRA - ULTRAPAR); Fernando Foz de Macedo;
Geraldo Soares Leite Filho (ITAÚ UNIBANCO HOLDING S.A.); Guilherme Luiz Nahuz (HAPVIDA); Phillipe Casale (COSAN); José Sálvio Ferreira Moraes;
Renata Oliva Battiferro; Rodrigo dos Reis Maia (GERDAU); e Rodrigo Lopes da Luz.

DIRETORIA EXECUTIVA: Presidente: Bruno Brasil (ITAÚSA) | Diretor Vice-Presidente e Diretor Regional São Paulo: André Luiz Gonçalves (JSL LOGÍSTICA)
Diretor Regional Minas Gerais: Matheus Torga (HERMES PARDINI) | Diretora Regional Rio de Janeiro: Carla Dodsworth Albano Miller (PETROBRAS)
Diretor Regional Sul: Roberto Pezzi (FRAS-LE) | Diretor Técnico: André Vasconcellos (ELETROBRAS); Diretora de Comunicação e Eventos:
Marilia Barbosa Nogueira (EDP ENERGIAS DO BRASIL).

Rua Correia Dias, 184 / 11º andar - Paraíso - 04104-000 - São Paulo, SP Tel.: (11) 3106-1836 e (11) 96649-7101
Website: www.ibri.com.br | Email: ibri@ibri.com.br
WEBSITES

DE RELAÇÕES COM INVESTIDORES, CORPORATIVO E DE SUSTENTABILIDADE


Equipe especializada em produção de sites de RI, com ferramentas de acessibilidade (acessíveis
para todos os públicos), sites confiáveis e seguros (HTTPS), com tecnologia responsiva e CMS para
gerenciamento de conteúdo. Qualidade, atendimento ágil e autonomia para atualizar informações
com ferramentas próprias e customizáveis, que otimizam o tempo de manutenção e enriquecem a
experiência dos visitantes.

FERRAMENTAS TECNOLOGIA
PRÓPRIAS DE RI RESPONSIVA HTTPS CUSTOMIZAÇÃO SEO

FERRAMENTAS DE RI PRÓPRIAS E CUSTOMIZADAS


Gráficos interativos, simulador de investimentos, evolução das ações, séries históricas, histórico de
cotações, plataforma de webcast, gestão e disparo de mailings com relatório de envios, entre outras.

ACESSIBILIDADE
Adoção das principais recomendações de acessibilidade do WCAG.

• aatb.com.br/bridge • 55 (11) 3047.5940


Todas as soluções de comunicação que uma companhia aberta precisa
Formada por profissionais com ampla experiência na cobertura do mercado
financeiro e em assessoria de imprensa, a Compliance, em parceria com a Haven,
dispõe das melhores ferramentas para atender às necessidades de comunicação das
empresas. Confira nossos cases no site!

Transparência e Emgajamento
Engajamento de
de Relações com A história da Presença na
destaque na Stakeholders
Stakeholders Investidores Companhia Web
imprensa
A divulgação na Comunicação Auxílio na elabo- Apuração, reda- Desenvolvimen-
imprensa, quando contínua e estra- ração de infor- ção e edição de to de sites, gera-
realizada de forma tégica com seus mações relevan- relatórios anuais, ção de conteú-
estratégica, é a públicos de inte- tes e posiciona- livros corporati- do, gestão de
maneira mais mento da com- vos e publica-
resse. mídias sociais e
efetiva de uma
panhia com rela- ções customiza- otimização dos
empresa transmi-
ção ao mercado das. motores de
tir seus valores e
mensagens aos de capitais. busca SEO.
públicos que
pretende atingir.

Saiba mais:
www.compliancecomunicacao.com.br
www.haven.com.br
Estratégias que geram valor Conectando empresas ao Mundo
OPINIÃO

Gênero e Corrupção
Nos últimos anos tem havido um esforço concentrado, em
diversos países e organizações internacionais, para aumentar
a participação das mulheres na vida pública. Os defensores
dessas reformas sugerem que as mulheres podem fazer escolhas
diferentes dos homens e, de fato, há vários estudos (World Bank,
2001; Engendering Development; World Values Survey; Gender Inequality
Índex - PNUD) que demonstram essa proposição.

por RITA DE CÁSSIA BIASON

Dentre as várias justificativas para a participação da mulher


na política temos uma afirmação provocativa: as mulheres
seriam menos corruptoras do que os homens. Logo, o aumen-
to da presença de mulheres na vida pública contribuiria para
a redução dos níveis de corrupção. Dentre as várias
Para entender a correlação entre participação feminina e os justificativas para a
baixos índices de corrupção na vida pública é necessário con-
participação da mulher
siderar três fatores: primeiro, refere-se a própria natureza
feminina, as mulheres teriam uma maior preocupação com na política temos uma
uma melhor qualidade de vida do que os homens, que seriam
mais inclinados a competitividade e de ganhos financeiros;
afirmação provocativa: as
segundo, as mulheres teriam menor propensão a aceitar mulheres seriam menos
subornos, portanto a participação feminina reduziria a in-
cidência de subornos, por exemplo, no legislativo; terceiro,
corruptoras do que os
ministros e secretários, que compõem o gabinete dos gover- homens. Logo, o aumento
nos estariam mais vulneráveis a aceitar subornos do que as
mulheres, hipoteticamente falando. da presença de mulheres
na vida pública contribuiria
Na primeira proposição, sobre a natureza feminina, destaca-
-se o papel das mulheres (àquele da área privada do lar) como para a redução dos níveis
uma qualificação positiva para a ocupação da vida pública,
há uma feminização do espaço público e uma tentativa de
de corrupção.
colocar as mulheres como reguladoras da probidade e da in-
tegridade na política.

Fevereiro 2021 REVISTA RI 79


OPINIÃO

Se as mulheres exibem preferências por comportamentos


probos na política ou se é um mito, pode estar na justificativa
de que mulheres são excluídas de oportunidades o que dificulta
a avaliação sobre uma menor propensão às práticas corruptas.
Para além, a associação a menor corrupção e participação
feminina na arena pública depende de outras questões mais
complexas como educação, vida familiar, igualdade e qualidade
da democracia, que divergem de um país para outro.

Essa abordagem honesta, do caráter feminino, esclarece as são democracias estáveis e que orientam-se pela boa gover-
segunda e terceira proposições, uma vez que as mulheres nança. No Peru, em 1998, o presidente Fujimori, anunciou
trariam para a política um conjunto diferente de valores e que a força policial de trânsito de 2.500 homens em Lima
experiências que enriqueceriam a vida política. teria a participação feminina dado que as mulheres seriam
mais honestas e moralmente confiáveis do que os homens
Desses argumentos apresentados, decorrem algumas inquie- (Goetz, Anne Marie. Political Cleaners: Women as the New Anti-Cor-
tações: primeiro: governos com propensão a práticas corrup- ruption Force?, 2007). Após uma década desta iniciativa de fe-
tas tenderiam a afastar as mulheres da arena pública para minização, uma pesquisa de acompanhamento revelou uma
manter a estrutura de ganhos ilícitos; segundo, considerando redução dos subornos e pagamentos de propina no trânsito
que a arena pública é um local corruptor isso pode resultar no local (Karim, Sabrina. Madame officer, 2011).
afastamento das mulheres com medo de comprometer-se em
“negócios sujos”; e terceiro, refere-se ao estigma que recaí so- Nesta mesma linha, El Salvador, Panamá, Equador e Bolívia
bre as mulheres como “saneadoras” da vida pública enquanto incorporaram mulheres em suas divisões de trânsito (Karim,
os homens teriam uma tendência natural à improbidade. 2011). A ideia de “feminizar” os tomadores de decisão tam-
bém foi posta em prática em Uganda, onde o presidente Yo-
Esta ideia de associar a virtude feminina com incorruptibi- weri Museveni atribuiu a maioria dos cargos do tesouro às
lidade não é nova, baseia-se na natureza moral “superior” mulheres (Goetz, 2007).
das mulheres e sua propensão a trazer sua boa moralidade
para influenciar a vida pública e, principalmente, a condu- Verifica-se, pois, que há diversas iniciativas nos países para au-
ção da política. mentar da presença de mulheres na política e demais setores,
comumente justificado com base na igualdade de gênero e re-
Se as mulheres exibem preferências por comportamentos dução da pobreza, podendo haver uma recompensa de eficiên-
probos na política ou se é um mito, pode estar na justifica- cia que é a redução da corrupção na arena pública. RI
tiva de que mulheres são excluídas de oportunidades o que
dificulta a avaliação sobre uma menor propensão às práti-
cas corruptas. Para além, a associação a menor corrupção e
participação feminina na arena pública depende de outras
questões mais complexas como educação, vida familiar,
igualdade e qualidade da democracia, que divergem de um RITA DE CÁSSIA BIASON
é Cientista Política e Professora na
país para outro. Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” - UNESP/Franca.
rita.biason@unesp.br
Nos países nórdicos, por exemplo, há evidências de que a
participação feminina reduz às práticas de corrupção, porém

80 REVISTA RI Fevereiro 2021


Impacto Positivo:
Performance a favor
da transformação.
Nossos resultados ganham um novo significado
quando investidores e sociedade se desenvolvem juntos.
Conheça algumas das nossas iniciativas:

mais de mais de

18 bilhões
captados para projetos de clientes
38 bilhões
disponibilizados em crédito para
com indicadores sociais e ambientais empresas que geram impacto positivo.
positivos (green e socialbonds). O Valor PRO oferece
os dois e muito mais.

9 bilhões
em crédito para empresas lideradas
100 %
de energia renovável no funcionamento
Com notícias dos bastidores do mercado, ferramentas analíticas e informações completas
sobre finanças e negócios, o Valor PRO é um serviço de informações em tempo real que une
toda a velocidade que o mercado exige à credibilidade do Valor Econômico.
por mulheres até 2024. de todas as nossas operações.

SOLICITE UMA DEMONSTRAÇÃO.


Somos feitos de pessoas que têm o poder
valorpro.com.br | 0800-003-1232
de transformar o mundo e estimular
outras a participar dessa transformação. Aponte a câmera
do seu celular
Saiba mais em: itau.com.br/sustentabilidade e saiba mais.
MAGLIANO: UM HOMEM À FRENTE DE SEU TEMPO
10 TENDÊNCIAS PARA

RI RELAÇÕES COM INVESTIDORES


ESG
NO BRASIL EM 2021
por GUSTAVO PIMENTEL
RELAÇÕES COM INVESTIDORES
www.revistaRI.com.br

EM PAUTA

AGENDA POSITIVA

EM PAUTA: AGENDA POSITIVA DE GOVERNANÇA


DE GOVERNANÇA
nº248
A INFLUÊNCIA DOS LÍDERES FEV 2021

PARA UMA GOVERNANÇA QUE

20,00
R$ 20,00
R$
INSPIRA, INCLUI E TRANSFORMA
por DANIELA ROCHA

Fevereiro 2021
nº 248

Você também pode gostar