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A AUTORIA MOSAICA DO PENTATEUCO - EVIDÊNCIAS INTERNAS.

/ SEGUNDA-FEIRA, SETEMBRO 15, 2014

O Pentateuco, coleção de cinco livros do Antigo Testamento (AT), entre


outros assuntos, narra a origem do ser humano, a história dos patriarcas e
as Leis ministradas por Moisés, a quem se atribuiu por anos, a sua autoria.
Uma dúvida quanto a essa questão surge a partir de pesquisas de eruditos
que estudaram o Pentateuco a partir do século XIX, e entre eles, destacam-
se Graf & Wellhausen, com sua teoria conhecida nos círculos teológicos como
a Hipótese Documental. Segundo essa teoria, o Pentateuco jamais teria
origem em um profeta histórico Moisés. Ele teria de fato se originado de
vários documentos, sendo confeccionado como uma colcha de retalhos a
partir de uma variedade de lendas e tradições judaicas, estabelecendo a data
mais antiga para estes, o século VIII a.C, no período anterior ao exílio
babilônico. Essa leitura da Bíblia segue a proposta da escola crítica liberal,
denominada histórico-crítica.

Oposto ao método de abordagem chamado gramático-histórico, cuja


preocupação é a busca da compreensão do texto bíblico tal como ele se
apresenta, levando em conta seu sentido para o autor entendido como
inspirado por Deus, dentro da abordagem teológica liberal a visão da
inspiração divina fica suprimida. Além disso, a pessoa histórica de Moisés é
desacreditada e ele se torna um mito. Para muitos, essa abordagem
do Pentateuco segundo a Hipótese Documental se apresenta como a única
leitura adequada.

Como consequência, hoje, tanto na mídia falada quanto escrita, que ao


mais das vezes pouco ou nada têm a ver com o estudo teológico sério, é
bem fácil notarmos aquilo que um certo escritor sabiamente
descreveu: "muitos fazem poesia, pensando em teologia". Quantas vezes,
biólogos e geólogos e outros se aventuram nos temas da Bíblia como se
fossem autoridades, apenas para reforçar seus pressupostos anti-bíblicos?
Essas variadas abordagens liberais são publicadas em sites de consulta e
livros teológicos de críticos da religião judaico-cristã, levando-me a pensar
se não seria útil mais de uma vez, a confecção de estudos básicos do tema, à
luz da abordagem "gramático-histórica", de forma mais acessível aos
inexperientes.

Muitas dificuldades têm surgido a partir deste debate que se arrasta durante
anos. Porém, devido a um sem-número de descobertas arqueológicas
ocorridas no Oriente Médio, muitos que eram céticos em sua posição quanto
a autoria mosaica do Pentateuco têm capitulado diante da velha
argumentação. Mas aqui não propomos um longo debate acerca do tema. O
objetivo deste ensaio é tão somente apresentar certos argumentos a favor
da autoria mosaica do Pentateuco bem como acerca dos riscos da rejeição
desta teoria, logo a partir das evidências internas, ou seja, da própria Bíblia.
A relevância do assunto é que possivelmente enquanto estudam acerca de
temas bíblicos, como a origem do homem e sobre a ética social, sexualidade,
matrimônio, etc... alguns estudantes das Escrituras de pouca ou nenhuma
experiência teológica são levados a descrer na inspiração, historicidade e
validação do texto bíblico para o debate destes temas. Desse modo, este
estudo básico é direcionado especialmente a esse grupo.

I. Quanto à Autoria de Moisés:

Em primeiro lugar, vejamos as evidências internas que reforçam a proposta


de que houve um homem histórico participante da narrativa do êxodo e dos
principais eventos do Pentateuco.

1. Embora não se afirme no próprio Pentateuco que Moisés o tenha escrito


em sua totalidade, outros livros o citam como obra deste (cf. Js 1: 7-8; 23: 6;
1Re 2:3; 2Re14:6; Es 3:2; 6:18; Ne 8:1; Dn 9:11-13). Certas partes importantes
do próprio conjunto são atribuídas a ele (cf. Ex 17:14; Dt 31: 24-26). Autores
do NT concordam com a autoria Mosaica e chamam os livros de “ a Lei de
Moisés” (At 13:39; 15: 5; Hb 10:28). O próprio Cristo dá testemunho de que
Moisés é o seu autor (cf. Jo 5: 46; Lc 16:31; Mc 7: 10; Mt 19: 8).

2. Pelas evidências internas do Pentateuco e do seu texto, somos levados à


conclusão de que o autor teria residido no Egito e não na Palestina, e que era
testemunha ocular do êxodo e dos eventos narrados ali; e que possuía
altíssimo grau de educação, cultura perícia literária. Ninguém há como
Moisés que preencha essas qualificações.

3. Em certos detalhes dá número exato de fontes e palmeiras (Ex 15: 27),


destaca o sabor do maná (Nm 11: 7,8). Conhece profundamente o Egito,
como se espera de alguém que tenha participado do êxodo, e utiliza a maior
porcentagem de palavras egípcias do que qualquer outro autor do AT.
Garrow Duncan, em New Ligth on Hebrew Origins (1936), reconhece que o
autor conhecia a língua, os costumes, as crenças, a vida na corte, a etiqueta
e hábitos dos oficiais e dos egípcios, e que também os seus leitores originais
devem ter tido esta mesma familiaridade com os assuntos egípcios.

4. Usa-se a maior porcentagem de palavras e termos Egípcios do que em


qualquer outra parte da Bíblia. O autor demonstra pontos de vista
consistentemente estrangeiros ou extra-Palestinos quanto a Canaã: a)
estações e tempos citados são egípcios (Ex 9: 31-32); b) flora e fauna são
egípcios. São próprios dos mares adjacentes e perto do Sinai (Exemplo: os
texugos e animais marinhos de Ex 25: 5; 36: 19) e desconhecidos na Palestina.
Alguns dos animais puros e impuros de Lv 11 são exclusivos do Sinai e
nenhum exclusivo da Palestina.

5. O autor mostra conhecimento da geografia do Egito e do Sinai e revela


desconhecimento da Palestina como ao narrar Gn 13 e explicando quanto a
verdura da terra próximo ao Jordão, compara-a com a terra do Egito: “...como
quem vai para Zoar...” (v 10). Isto não seria preciso se fosse um material pós-
exílico, pois os israelitas teriam passado cerca de nove séculos em Canaã.

6. Em Gênesis há referências a costumes arcaicos cuja existência pode ser


demonstrada para o período do segundo milênio a.C., como por exemplo, o
costume de gerar filhos através de servas, ou a necessidade de se possuir os
terafins do lar como se menciona no caso de Raquel em Gn 31, para
reivindicação da herança.

II. Quanto às Qualificações de Moisés

Quais pontos reforçam as qualificações de um homem do perfil de Moisés


como sendo adequado para a escrita do Pentateuco?

1. Possuía riqueza da Lei oral e educação que havia na Mesopotâmia de sua


época, uma vez que foi educado no palácio do maior e mais desenvolvido
reino de seus dias.
2. Dos seus antepassados, teve conhecimento da tradição oral e da carreira
dos patriarcas bem como das revelações que Deus lhes fizera.

3. Conhecimento pessoal do clima, da agricultura e da geografia do Egito e


da Península do Sinai, como demonstra o autor do Pentateuco.

4. Teria bastante incentivo para a produção desta obra monumental, sendo


que era fundador da comunidade de Israel.

5. Certo que teve bastante tempo (40 anos) para registrar uma obra
monumental como esta. Era próprio para os egípcios o uso da escrita até em
objetos de toucador. Seria impossível Moisés deixar de registrar uma única
palavra, quando até os trabalhadores nas Minas egípcias retratavam seus
assuntos.

III. Implicações teológicas da negação da autoria mosaica do Pentateuco.

Finalmente, quais seriam as implicações da negação das propostas


tradicionais acerca do Pentateuco? Haveriam danos na aceitação dessas
propostas?

1. Sabe-se que o próprio Cristo confirmou a autoria mosaica do Pentateuco.


Ele afirma: “o próprio Moisés escreveu a meu respeito. Se crêsseis em
Moisés, creriam em minhas palavras” (Jo 5: 46, 47). Paulo também escreve:
“Ora, Moisés escreveu que aquele que praticar a justiça viverá por ela...” (Rm
10: 5).

2. Ora, se os Apóstolos e o próprio Cristo estavam enganados ou


colaboravam para o engano em aspectos essenciais da fé de Seu povo, como
a crença no que Moisés dele havia escrito para confirmação da fé em Sua
doutrina, então nega-se a autoridade dos evangelhos, dos Apóstolos e do
próprio Cristo.
3. As doutrinas cardeais do Cristianismo têm sua razão a partir das narrativas
de Gn 1-11. A origem da humanidade, do matrimônio e do Sábado, a
verdade acerca do pecado e a queda da humanidade, as razões para o
sofrimento no mundo, a promessa de redenção e sua realização em Cristo,
o propósito original da vida humana - tudo desfalece face `a argumentação
de que o Pentateuco nada mais é que uma coleção de lendas e histórias
coletadas por uma série de historiadores e organizadas por um redator
alheio aos acontecimentos narrados ali. Há maior consistência na proposta
de que ele veio como uma revelação de Deus a Seu profeta, que caminhou
com Ele e guiou Seu povo escolhido.

Conclusão

Como se afirmou no início, este é um estudo básico. Mas o que se conclui é


que há razões de sobra para que se afirme a ideia de que o Pentateuco teria
se originado do profeta histórico Moisés. Detalhes visíveis no próprio texto
desafiam outra posição. Além do mais, para os cristãos ortodoxos, que
acreditam na inspiração das Escrituras, negar esta verdade seria negar a
verdade acerca de todo o fundamento do Cristianismo. Assim, cremos ser
mais adequada a compreensão de que Moisés foi de fato o redator. - [Por
Claudio Sampaio].

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

ARCHER, Gleason. Enciclopédia de dificuldades bíblicas, Vida, São Paulo,1997.

_____. Merece confiança o Antigo Testamento? Vida. São Paulo, 1999.

HOFF, Paul. O Pentateuco. Vida. São Paulo, 1999

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