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PREFÁCIO AO PENTATEUCO E LIVROS HISTÓRICOS

Título original em inglês:


Introduction to the Pentateuch and Historical Books
by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

O Pentateuco, o nome pelo qual se designam os cinco primeiros


livros da Bíblia, deriva-se de duas palavras gregas, penta, cinco, e teuco,
volume, ou tomo, significando assim o volume quíntuplo. Originalmente
estes livros formavam uma obra contínua, como nos manuscritos hebreus
ainda estão unidos num só rolo, sem divisão. Quando foram divididos
em cinco porções, com títulos próprios de cada parte, não se sabe, mas é
evidente que a distinção data do tempo da tradução da Septuaginta, ou
antes. Os nomes que estes livros levam em nossa versão, são tomados da
Septuaginta, e eram usados por aqueles tradutores gregos como
descritivos dos temas principais, e o conteúdo mais importante dos
distintos livros. Nas Escrituras posteriores frequentemente estão
compreendidos sob a designação geral de Lei, O Livro da Lei, visto que
o dar um relato detalhado dos preparativos para o divino código e a
entrega do mesmo com todas as instituições civis e sagradas que eram
peculiares à economia antiga, é o objeto ao qual tais livros são
exclusivamente dedicado. Sempre foram colocados no começo da Bíblia,
não só por causa de sua prioridade cronológica, mas também porque
formam uma introdução apropriada e indispensável a outros livros
sagrados. As frequentes referências feitas nas Escrituras posteriores, aos
acontecimentos, ao ritual e doutrinas da antiga dispensação, não só
teriam perdido muito de seu propósito e significado, mas sim teriam
ficado absolutamente ininteligíveis sem a informação que contêm estes
cinco livros. Eles constituem o alicerce ou base sobre o qual descansa
todo o edifício da revelação, e o conhecimento da autoridade e
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importância que há neles, amplamente dão a razão dos ataques
persistentes que os infiéis têm feito contra estes livros, como também do
zelo e ardor que em sua defesa desdobraram os amigos da verdade.
A origem mosaica do Pentateuco está estabelecida nas vozes
concordantes tanto da tradição judaica como da cristã; e seu testemunho
unânime é apoiado pelo caráter interno e as declarações da própria obra.
Que Moisés guardou um relato escrito das transações importantes
relacionadas com os israelitas, é testemunhado por sua própria afirmação
expressa. Porque ao relatar a vitória sobre os amalequitas, que se lhe
mandou por autoridade divina registrar, a linguagem empregada —
"Escreve isto para memória num livro (heb., o livro),"—demonstra que
aquele relato tinha que fazer parte de um registro já em formação, e
várias circunstâncias se combinam para provar que aquele registro era
uma história contínua da especial bondade e do cuidado da Providência
divina na escolha, proteção e direção da nação hebreia.
Primeiro, as repetidas afirmações de Moisés mesmo dos
acontecimentos que diversificavam a experiência daquele povo, eram
escritos à medida que sucediam (veja-se Êx_24:4-7; Êx_34:27;
Nm_33:2).
Segundo, há os testemunhos encontrados em distintas partes dos
livros históricos posteriores ao Pentateuco de que era obra bem
conhecida e familiar a todo o povo (veja-se Js_1:8; Js_8:34; Js_23:6;
Js_24:26; 1Rs 2:3, etc.).
Terceiro, achamos nas obras dos profetas frequentes referências aos
atos registrados nos livros de Moisés (cf. Is_1:9 com Gn_19:1; 12:2 com
Êx_15:2; Êx_51:2; com Gn_12:2, Gn_54:9; com Gn_8:21-22; Os_9:10
com Nm_25:3; Nm_11:8 com Gn_19:24; Gn_12:4 com Gn_32:24-25;
Gn_12:12 com Gn_28:5; Gn_29:20; Jl_1:9 com Nm_15:4-17; Nm_28:7-
14; Dt_12:6-7; Dt_16:10-11; Am_2:9 com Nm_21:21; Nm_4:4 com
Nm_28:3; Nm_4:11 com Gn_19:24; Gn_9:13 com Lv_26:5; Mq_6:5
com Nm_22:25; Nm_6:6; com Lv_9:2; Lv_6:15 com Lv_26:16, etc.).
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Quarto, o testemunho de Cristo e os apóstolos se presta repetidas
vezes em favor dos livros de Moisés (Mt_19:7; Lc_16:29; Lc_24:27;
Jo_1:17; Jo_7:19; At_3:22; At_28:23; Rm_10:5). Em realidade, as
referências são tão numerosas, e os testemunhos tão distintamente
encaminhados a sustentar a existência dos livros mosaicos através de
toda a história da nação judaica, e a unidade de caráter, desígnio e estilo
destes livros é tão claramente perceptível, apesar das afirmações
racionalistas de que formam uma série de partes distintas e sem conexão;
que pode dizer-se com toda segurança que há evidência bem mais sólida
e mais variada como prova de que são da mão de Moisés, que a
evidência de que qualquer das obras clássicas gregas ou romanas sejam a
produção dos autores cujos nomes levam.
Mas, ainda que reconheçamos que o Pentateuco foi escrito por
Moisés, suscita-se uma questão importante, a se os livros que o
compõem chegaram até nós numa forma autêntica, se os temos genuínos
e inteiros tal como saíram das mãos do autor. Em resposta a esta
pergunta, poderia ser suficiente dizer que, nas repetições públicas e
periódicas da lei nas solenes assembleias religiosas do povo, as que
indicam a existência de exemplares numerosos, fazia-se provisão para
conservar a integridade do "Livro da Lei". Mas além disto, dois atos
notáveis, um dos quais sucedeu antes do cativeiro, e o outro depois,
proveem uma evidência concludente da autenticidade do Pentateuco. O
primeiro é o descobrimento no reinado de Josias do exemplar autógrafo
que tinha sido depositado por Moisés na arca do testemunho, e o
segundo é o cisma dos samaritanos, os quais levantaram um templo no
Monte Gerizim, e que, apelando à lei de Moisés como a norma de sua fé
e culto igualmente com os judeus, vigiavam com zeloso cuidado toda
circunstância que pudesse afetar a pureza do relato mosaico. Há, pois, a
razão mais poderosa para crer que o Pentateuco, como existe na
atualidade, é substancialmente igual a como saiu das mãos de Moisés. O
aparecimento de uma mão posterior, é verdade, nota-se no relato da
morte de Moisés no final de Deuteronômio, e em algumas poucas
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interpolações, como a inserção de nomes de lugares mudados, que teriam
sido feitos por Esdras, quem revisou e corrigiu a versão das antigas
Escrituras. Mas substancialmente o Pentateuco é a obra genuína de
Moisés, e muitos, que alguma vez impugnavam sua pretensão a tal
caráter, e o olhavam como produto de uma idade posterior, viram-se
obrigados, depois de uma completa investigação, sem preconceitos, do
assunto, a confessar sua convicção de que se pode confiar plenamente
em sua autenticidade.
Admitindo-se a genuinidade e a autenticidade do Pentateuco,
seguem como consequência necessária a inspiração e a autoridade
canônica da obra. O acesso de Moisés ao privilégio da comunhão
frequente e direta com Deus (Êx_25:22; Êx_33:3; Nm_7:89; Nm_9:8);
suas declarações repetidas e solenes de que ele falava e escrevia por
mandado de Deus; a submissão reverente que era tributada à autoridade
de seus preceitos por todas as classes do povo judeu, inclusive o próprio
rei (Dt_17:18, Dt_27:3); e o reconhecimento da missão divina de Moisés
pelos escritores do Novo Testamento – tudo prova o caráter inspirado e a
autoridade de seus livros. O Pentateuco possuía os maiores direitos à
atenção do povo judeu, porque formava a norma de sua fé, a regra de sua
obediência, o registro de todo seu plano de ação civil e religiosa. Mas é
interessante e importante a todo ser humano, já que, além de revelar a
origem e o anterior desenvolvimento do plano da graça divina, é o
manancial de todo conhecimento autêntico que dá a verdadeira filosofia,
história, geografia e cronologia do mundo antigo. Finalmente, o
Pentateuco é indispensável à revelação inteira contida na Bíblia; porque
sendo o Gênesis o prefácio legítimo à lei; sendo a lei a introdução natural
ao Antigo Testamento; e sendo tudo isto o prelúdio à revelação do
evangelho, não teria podido omitir-se. O que são os quatro Evangelhos
ao Novo Testamento, são os cinco livros de Moisés ao Antigo
Testamento.
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GÊNESIS, o livro da origem ou produção de todas as coisas,
consiste em duas partes: a primeira, compreendida nos caps. 1-11, dá
uma história geral; a segunda, contida nos capítulos seguintes, dá uma
história especial. As duas partes estão essencialmente unidas; uma, que
começa com o relato da descendência da raça humana de um único casal,
a introdução do pecado no mundo, e o anúncio do plano da misericórdia
divina para reparar as ruínas da queda, foi necessária para preparar o
caminho para a outra parte, ou seja, a chamada de Abraão e a escolha de
sua descendência para levar a cabo os benévolos propósitos de Deus. Há,
portanto, uma evidente unidade de método através de todo este livro, e a
informação nele contida era da maior importância para o povo hebreu,
porque sem ele, eles não teriam podido entender as frequentes
referências em sua lei aos propósitos e às promessas de Deus a respeito
deles mesmos. Os argumentos já apresentados para apoiar a origem
mosaica do Pentateuco, naturalmente provam que Moisés foi o autor de
Gênesis. As poucas passagens em que os racionalistas baseavam suas
afirmações de que era a composição de uma época posterior, já
mostramos com êxito que não merecem semelhante conclusão. O uso de
palavras egípcias e o conhecimento minucioso da vida e os costumes
egípcios, manifesto na história de José, estão de acordo com a educação
de Moisés, e quer tenha recebido sua informação por revelação direta, ou
da tradição, ou de documentos escritos, chega-nos como a obra autêntica
de um autor que escrevia da maneira como era inspirado pelo Espírito
Santo (2Pe_1:21).

ÊXODO, uma saída, deriva seu nome do fato de que se ocupa


principalmente em relatar a saída dos israelitas do Egito, e os incidentes
que precederam imediatamente assim como os que seguiram àquela
memorável migração. A redação do mesmo por Moisés, ele a afirma
distintamente (Êx_24:4) como também por nosso Senhor (Mc_12:26;
Lc_20:37). Além disso o completo conhecimento que manifesta das
instituições e costumes dos antigos egípcios e os minuciosos detalhes
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geográficos da marcha até o Sinai, estabelecem da maneira mais clara a
autenticidade deste livro.

LEVÍTICO.—Assim chamado porque trata das leis relacionadas


com o ritual, os serviços e sacrifícios da religião judaica, a
superintendência dos quais era confiada ao sacerdócio levítico.
Entretanto, principalmente os deveres dos sacerdotes, "os filhos de
Arão", constituem o objeto da descrição deste livro. Sua pretensão de ser
a obra de Moisés se estabelece pelas seguintes passagens: 2Cr_30:16;
Nee_8:14; Jer_7:22-23; Eze_20:11; Mt_8:4; Lc_2:22; Jo_8:5 Rm_10:4;
Rm_13:9; 2Co_6:16; Gl_3:12; 1Pe_1:16.

NÚMEROS — Assim é denominado este livro por conter um


relato da enumeração e da colocação dos israelitas. A primeira parte do
mesmo, capítulos 1 a 11, parece ser um suplemento de Levítico, pois se
ocupa em relatar a nomeação dos levitas aos ofícios sagrados. O diário
da marcha pelo deserto vai em seguimento até o capítulo 21:20; depois
do qual se relatam os primeiros incidentes da invasão. Só é feita uma
citação direta deste livro (Nm_16:5) no Novo Testamento (2Tt_2:19);
mas referências indiretas a ele pelos escritores sagrados posteriores, são
muito numerosas.

DEUTERONÔMIO, a segunda lei, título que claramente


demonstra qual é o objeto deste livro; isto é, uma recapitulação da lei.
Dá-se em forma de discursos públicos dirigidos ao povo; e, como Moisés
falava com a perspectiva de sua pronta partida do mundo, encareceu a
obediência a ela com muitas apelações potentes aos israelitas, a respeito
de sua longa e variada experiência tanto das misericórdias como dos
juízos de Deus. As detalhadas notícias dos povos pagãos com os quais
chegaram a relacionar-se, que depois desaparecem das páginas da
história, como também o relato da fertilidade e os produtos de Canaã, e
os conselhos com relação à conquista daquele país, fixam a data deste
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livro e o tempo de sua composição pela mão de Moisés. A conclusão,
entretanto, pode ter sido acrescentada por outro; e, alguns supõem,
formava o prefácio original ao livro de Josué.

JOSUÉ — O título deste livro se deriva do piedoso e valente guia,


cujas façanhas relata, e que se supõe-se foi o seu autor. As objeções a
esta ideia se fundam principalmente na frase "até hoje", que se menciona
várias vezes (Js_4:9; 6:25; 8:28). Mas isto, pelo menos no caso de
Raabe, não é razão válida para rejeitar a ideia de que ele seja autor do
livro; porque, supondo-se, o que é mais provável, que este livro fora
composto rumo ao fim da longa carreira de Josué, ou compilado de
documentos escritos deixados por ele, ainda teria podido estar viva
Raabe. Uma maneira mais singela e satisfatória de explicar a frequente
inserção da frase "até hoje", é a opinião de que é um comentário
introduzido por Esdras, quando revisou o sagrado cânon: e tirada esta
dificuldade, as provas diretas de que o livro fora produzido por uma
testemunha dos acontecimentos nele relatados; as vívidas descrições das
cenas sucessivas, e o uso da palavra "nós" (Js_5:1-6), visto junto com o
fato de que, depois de seu discurso de despedida ao povo, Josué
"escreveu estas palavras no livro da lei de Deus",—tudo provê uma
prova fortemente presuntiva de que o livro inteiro fosse a obra daquele
eminente homem. Sua inspiração e autoridade canônica se estabelecem
plenamente pelos repetidos testemunhos de outros escritores das
sagradas Escrituras (compare-se Js_6:26 com 1Rs_16:34; Js_10:13 com
Hab_3:11; Js_3:14 com At_7:45; At_6:17-23 com Heb_11:30; Js_2:1-24
com Tg_2:25; Sl_44:2; Sl_68:12-14; Sl_78:54-55). Como relato da
fidelidade de Deus em dar aos israelitas possessão da terra prometida,
esta história é muito valiosa, e leva o mesmo caráter como consequência
do Pentateuco, assim como os Atos dos Apóstolos, dos Evangelhos.
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JUÍZES é o título dado a este livro, porque contém a história
daqueles dirigentes que não sendo reis governaram os hebreus do tempo
de Josué até o de Eli, e as funções dos quais em tempo de paz consistiam
principalmente na administração da justiça, ainda que em certas ocasiões
dirigiam o povo em suas guerras contra seus inimigos públicos. A data e
o autor deste livro não se conhecem exatamente. É seguro, entretanto,
que antecedia ao Segundo Livro do Samuel (cf. Jz_9:35 com
2Sm_11:21), como também à conquista de Jerusalém por Davi (cf.
Jz_1:21 com 2Sm_5:6). Seu autor foi, com toda probabilidade, Samuel,
o último dos juízes (veja-se Jz_19:1; 21:25). A data da composição da
primeira parte se fixa no reinado de Saul, enquanto que os cinco
capítulos finais, pode ser que não tenham sido escritos senão depois que
Davi se estabeleceu como rei de Israel (veja-se Juí_18:31). É uma
história fragmentária, sendo uma coleção de atos importantes e de
livramentos notáveis em tempos distintos e em distintas partes do país,
no período intermédio de 300 anos entre Josué e o estabelecimento da
monarquia. O caráter inspirado deste livro está confirmado por alusões
ao mesmo em muitas passagens das Escrituras (cf. Jz_4:2; 6:14 com
1Sm_12:9-12; Jz_9:53 com 2Sm_11:21; Jz_7:25 com Sl_83:11; Jz_5:4,5
com Sl_7:5; Jz_13:5; 16:17 com Mt_2:13-23; At_13:20; Heb_11:32).

RUTE é corretamente um suplemento do livro anterior, ao qual,


com efeito, estava acrescentado no antigo cânon judeu. Embora relate
um episódio do tempo dos juízes, sua data exata não se conhece. Parece
seguro, entretanto, que não teria podido ser escrito antes do tempo de
Samuel (veja-se Rt_4:17-22), quem geralmente se supõe tenha sido seu
autor; e esta opinião, além de outras razões sobre as quais descansa,
confirma-se em Rt_4:7, onde é evidente que a história não foi compilada
senão muito tempo depois dos atos relatados. A inspiração e autoridade
canônica do livro são testemunhadas pelo fato de que o nome de Rute é
incluído por Mateus na genealogia de nosso Senhor.
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OS LIVROS PRIMEIRO E SEGUNDO SAMUEL — Os antigos
judeus tinham os dois livros unidos em um, e em tal forma podia chamar
o Livro do Samuel com mais razão que agora, pois o Segundo Livro se
ocupa completamente em relatar acontecimentos que não se efetuaram
senão depois da morte daquele eminente juiz. Por conseguinte, na
Septuaginta e na Vulgata, chamam-se o Primeiro e Segundo Livros dos
Reis. A primeira parte do Primeiro Livro, até o fim do capítulo 24,
provavelmente foi escrita por Samuel; enquanto que o restante dele, e
todo o Segundo Livro, atribuem-se usualmente a Natã e a Gade, com
base na opinião em 1Cr_29:29. Os comentadores, entretanto, estão
divididos a respeito deste ponto, alguns deles supondo que a declaração
em 1Sm_2:26 e 3:1, indicam a mão do próprio juiz, ou de um
contemporâneo; enquanto que alguns pensam, com base em 1Sm_6:18;
12:5; 27:6, que a composição deve referir-se a uma época posterior. É
provável, entretanto, que estes supostos sinais de um período posterior
fossem interpolações de Esdras. Mas esta incerteza com relação ao autor
não afeta a autoridade inspirada do próprio livro, a qual é indisputável,
porque se cita no Novo Testamento (At_13:22; Heb_1:5), como também
em muitos dos Salmos.

OS LIVROS PRIMEIRO E SEGUNDO REIS, nos antigos


exemplares da Bíblia Hebraica constituem um livro. Foram-lhes dados
diversos títulos; na Septuaginta e na Vulgata se chamam os Livros
Terceiro e Quarto de Reis. O autor destes livros é desconhecido; mas a
opinião geral é que foram compilados por Esdras ou por um dos profetas
posteriores, de antigos documentos aos quais se faz referência frequente
no curso da história como de autoridade pública e reconhecida. Seu
caráter de inspirados era reconhecido pela nação judaica que os
considerava como segundo cânon; além disso, seu caráter é
testemunhado por nosso Senhor, quem os cita frequentemente (cf.
1Rs_17:9; 2Rs_5:14 com Lc_4:24-27; 1Rs 10:1 com Mt_12:42).
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OS LIVROS PRIMEIRO E SEGUNDO CRÔNICAS também
eram considerados pelos antigos judeus como um só, os quais os
chamavam "palavras de dias", quer dizer, diários ou jornais, sendo
provavelmente compilados com dados dos registros que guardavam os
historiógrafos dos reis a respeito dos acontecimentos diários. Na
Septuaginta o título dado é Paraleipómenon, "de coisas omitidas", ou
seja, os livros eram suplementares, porque muitas coisas inadvertidas nos
livros anteriores, estão registradas aqui; e não apenas são supridas as
omissões, mas também alguns relatos são ampliados, e outros
acrescentados. Como autor usualmente se reconhece a Esdras, cujo
propósito principal parece ser o de mostrar a divisão de famílias, posses,
etc., antes do cativeiro, com o objetivo da restauração exata da mesma
ordem depois da volta de Babilônia. Embora muitas coisas são relatadas
de novo, e outras são repetições exatas do que se contém em Reis, há
muita informação nova e importante que, como diz São Jerônimo, as
Crônicas proveem meios para compreender partes do Novo Testamento,
que teriam sido ininteligíveis sem elas. Cristo e os apóstolos fazem
referências frequentes ao fato de que formam parte de "a Palavra de
Deus" (vejam-se as genealogias em Mt_1:1-16; Lc_3:23-38; cf.
2Cr_19:7 com 1Pe_1:17; 2Cr_24:19-21 com Mt_23:32-35).

ESDRAS junto com Neemias era considerado como um só livro


pelos antigos judeus, que os chamavam o Primeiro Livro e Segundo
Livro de Esdras, como ainda são chamados pelos escritores católicos
romanos. Este livro se divide naturalmente em duas partes ou seções;
uma seção, contida nos seis primeiros capítulos, relata as circunstâncias
da volta do primeiro destacamento de desterrados babilônicos sob
Zorobabel com a conseguinte reedificação do templo e o
restabelecimento do serviço divino. A outra parte, contida nos quatro
capítulos restantes, conta a viagem da segunda caravana de cativos que
retornaram sob a direção do próprio Esdras, o qual estava investido de
faculdades para restaurar, em todo seu esplendor, todo o sistema do ritual
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judaico. A opinião geral da igreja, de século em século, foi a de que
Esdras é o autor deste livro. A objeção principal se funda em Ed_5:4,
onde as palavras “Perguntaram-lhes mais: E quais são os nomes dos
homens que constroem este edifício?”, originaram a conjetura de que a
primeira porção do livro não fosse escrita por Esdras, que não foi a
Jerusalém senão muitos anos mais tarde. Mas um pouco de atenção
mostrará o fútil desta objeção, porque as palavras em questão não se
referiam ao escritor, mas foram usadas por Tatenai e seus companheiros.
O estilo e a unidade do objeto do livro provam claramente que foi o
produto de um só escritor. A autoridade canônica do livro está bem
estabelecida; mas outro livro sob o nome de Esdras é rejeitado como
apócrifo.

NEEMIAS parece ter sido o autor deste livro pelo fato de que
geralmente escreve em seu próprio nome, e exceto naquelas porções que
são evidentemente edições posteriores e copiadas de documentos
públicos, ele emprega como regra geral a primeira pessoa. A porção
maior do livro se ocupa na história dos doze anos de administração de
Neemias em Jerusalém, depois dos quais ele voltou para seus deveres em
Susã. Mais tarde voltou para Jerusalém com novas atribuições, e
começou com medidas novas e vigorosas de reforma, as quais se
detalham nos últimos capítulos do livro.

ESTER deriva seu nome da dama judia que, chegando a ser esposa
do rei da Pérsia, empregou sua influência real para efetuar um
memorável livramento do açoitado povo de Deus. Existem várias
opiniões a respeito de quem seria o autor deste livro, atribuindo-o alguns
a Esdras, a Neemias e a Mardoqueu. A preponderância de autoridades
está a favor do último. O caráter histórico do livro é evidente, visto que,
além das evidências internas, sua autenticidade está provada pelo forte
testemunho da festa de Purim, a celebração da qual se pode traçar até os
acontecimentos que são descritos neste livro. Mas a tradição uniforme
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tanto dos judeus como dos cristãos, apoia esta pretensão, que nada no
livro tende a debilitar; sendo ele um sinal do cuidado vigilante da
Providência Divina sobre Seu povo escolhido, sinal com o qual é de
suma importância que a igreja seja assegurada. O nome de Deus
estranhamente está omitido, mas a presença de Deus é sentida através de
toda a história; e todo o tom e a tendência do livro estão tão
decididamente subordinados à honra de Deus e à causa da verdadeira
religião, que foi geralmente recebido pela igreja em todas as épocas
como parte do sagrado cânon.

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