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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

7. MODELO DE MOAGEM AUTOGÉNEA

Entre os vários autores que mais têm contribuído recentemente para a


investigação em moagem autogénea (Austin, Herbst, Barahona, Menacho) é unânime
o reconhecimento do que o produto da moagem em moinhos autogéneos é um
somatório da contribuição de três mecanismos básicos de redução de calibre. O
primeiro é um fenómeno de fractura das partículas pequenas por impacto e
mordedura entre os calhaus de grandes dimensões da carga, correntemente designados
por lumps, ou entre esses lumps e os revestimentos do tambor – este processo de
cominuição é inteiramente semelhante ao que ocorre em moinhos tradicionais. Por
outro lado existe um efeito claro de redução dos calibres maiores por abrasão devido
ao atrito que ocorre entre essas partículas entre si e entre os revestimentos. Este se-
gundo mecanismo, que é um processo contínuo no tempo e é, em princípio, descrito
como uma função da superfície dos lumps, produz novas partículas de calibre muito
semelhante ao das que as originaram e um conjunto de partículas de calibre muito
fino.
Por outro lado, é sabido que os lumps são apenas agentes moentes para os
calibres pequenos, mas não têm energia suficiente para produzir fractura completa do
calibres intermédios aos quais apenas conseguem arrancar pequenas lascas
superficiais. Este fenómeno, designado na literatura corrente por chipping, que
traduziremos por lascagem, frequentemente referido como o terceiro tipo de
cominuição que ocorre em moinhos autogéneos, pode ser considerado como um caso
limite tanto do processo de fractura (discreto no tempo) como da abrasão (contínuo no
tempo). Como resultado, em geral, não são introduzidas novas leis nem formalismos
especiais para caracterizar este fenómeno, aceitando-se que a sua contribuição para os
resultados finais da fragmentação se encontram diluidos nos dois processos mais
genéricos anteriores.

No entanto, e de um ponto de vista estritamente teórico, os mecanismos de


cominuição descritos são genéricos e extensíveis a todos os tipos de moagem e,
portanto, também estão presentes nos processos de moagem tradicional com bolas e
barras. O facto de não serem invocados com toda a sua complexidade para a
modelagem destes moinhos, significa simplesmente que a informação contida nos
dados recolhidos das moagens com bolas ou barras não evidencia a existência desses
fenómenos contínuos de redução de calibre ou, pelo menos, não o evidenciam de
modo significativo a ponto de exigir a sua inclusão nos algoritmos de simulação --
trata-se, portanto, duma aplicação directa do Princípio da Parcimónia. Pelo contrário,
o facto da moagem autogénea se processar em regimes energéticos mais suaves,
resultantes do uso de agentes moentes menos poderosos, faz com que os efeitos de
fractura completa não desempenhem um papel tão importante como no caso das bolas
e barras e, consequentemente, que os fenómenos de abrasão e lascagem passem a ter
um papel relativo de importância maior a ponto de não poderem ser dispensados de
incluir formalmente os modelos para interpretar toda a informação relevante contida
nos dados.

7.1 Equação de Balanço Básica

Tendo em vista estabelecer a base formal de suporte do modelo de moagem


autogénea há que estabelcer uma equação básica que descreva formalmente os

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mecanismos atrás referidos. Tal vai ser conseguido a partir do desenvolvimento duma
equação de balanço que tanto pode ser expressa em número como em massa de
partículas. Num primeiro passo da abordagem vai ser usado o balanço em número de
partículas.
Seja então:
- V(t) volume da carga
- Fv(t) caudal volúmico de entrada
- Pv(t) caudal volúmico de saída

as seguintes funções expressas em número de partículas por unidade de


volume:
- N(r,t) densidade de repartição do raio (calibre) na carga
- Nf(r,t) densidade de repartição do raio na entrada
- Np(r,t) densidade de repartição do raio na saída

- dr/dt velocidade de abrasão


e
- B(r,t) velocidade de geração (nascimento) em número
- D(r,t) velocidade de destruição (morte) em número
ambas por unidade de volume.

A equação da continuidade em número para partículas de raio r no instante


t será dada por:

Acumulação = Input - Output +


+ geração líquida por abrasão +
+ geração líquida por fractura

Atendendo a que N(r,t).r representa a % nº partículas em ]r, r+r[ no instante


t no volume da carga, discriminando, ter-se-á:

Acumulação  N( r,t  t )  r  N( r,t )  r V ( t )

Input  Fv ( t )  t  N F ( r ,t )  r

Output  Pv ( t )  t  N P ( r ,t )  r

Abrasão  N ( r  r ,t )  r  N ( r ,t )  r V ( t )

Notar que a abrasão é estimada como diferença entre a % do nº de partículas


que no instante t tinham calibre r+r, que, portanto, por desgaste de r no
raio entram dentro do intervalo ]r,r+r[ e a % das que possuiam calibre r
nesse mesmo instante, que, pelo mesmo efeito de desgaste vão abandonar o
referido intervalo de calibre;

Fractura  V (t )  B(r, t )  r  t  V (t )  D(r, t )  r  t

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Refazendo a equação de balanço e dividindo tudo pot V(t), virá:

N (r, t  t )  r  N (r, t )  r   V (t ) 
 Fv (t )  t  N F (r , t )  r  Pv (t )  t  N P (r , t )  r 
 N (r  r , t )  r  N (r , t )  r   V (t )

 V (t )  B(r, t )  r  t  V (t )  D(r, t )  r  t

dividindo tudo por t  r  V (t ) , virá:

r r
N ( r  r, t )   N ( r, t ) 
N ( r, t  t )  N ( r, t ) Fv ( t ) P (t ) t t  B( r, t )  D( r, t )
  N F ( r, t )  v  N P (, t ) 
t V (t ) V (t ) r

e quando t  0 e r  0 esta expressão conduz a:

N (r , t ) Fv (t )   dr 
 N F (r , t )  v  N P (r , t )   N (r , t )    B(r , t )  D(r , t )
P (t )

t V (t ) V (t ) r  dt 

que é uma variante da EQUAÇÃO DE LIOUVILLE, sendo relativamente fácil


reconhecer nas duas primeiras parcelas do membro direito da expressão a variação da
densidade de repartição do raio r da carga, no espaço das coordenadas geométricas,
devido ao regime de fluxo contínuo.

Uma vez chegados a este ponto é fácil passar às densidades de repartição em


massa a partir das repartições em número. Seja m(r,t) a densidade de repartição em
massa da carga do moinho; então a massa de partículas de raio r (ou calibre)
pertencente ao intervalo ]r,r+r[ será dada por:

m(r , t )  dr     r 3  N (r , t )  dr

em que  e  representam, respectivamente, a densidade das partículas e um factor


volumétrico de forma.

Por razões de simplicidade de exposição serão abandonados na equação de


Liouville os termos relativos ao fuxo contínuo. Deste modo, a equação genérica para o
caso da moagem autogénea em regime batch, expressa em repartições de massa será
dada por:

m(r , t )   
m(r , t )  dt     r 3   B(r , t )  D(r , t )
1 dr 1
 
   r 3
t r  

ou seja,

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m(r , t )   dr 1 
 r 3  m(r , t )   3      r 3  B(r , t )  D(r , t ) 
t r  dt r 
  dr 
 m(r , t )    r 3  m(r , t )   (3)  r 4     r 3  B(r , t )  D(r , t )
dr
r  dt  dt

e, finalmente,

m(r , t )   dr  3
 m(r , t )     m(r , t )      r 3  B(r , t )  D(r , t )
dr
t r  dt  r dt

Nesta expressão, os dois primeiros termos do segundo membro representam o


efeito de abrasão, enquanto o terceiro termo se refere à cominuição por fractura.

É interessante notar que a passagem da descrição em número de partículas –


N(r,t) – para a descrição em massa – m(r,t) – origina um desdobramento do termo
correspondente à abrasão em duas parcelas distintas.
Isto é, a passagem à descrição em massa permitiu discriminar o efeito abrasão
em:

  dr 
 m(r , t )    dr
r  dt 

que representa a massa de partículas que por abrasão entram e saem do intervalo
de calibre ]r,r+r[ no instante t (por unidade de tempo), e em

3 dr
  m(r , t ) 
r dt

que se refere à perda de massa por abrasão das partículas que se encontram no
intervalo de calibre ]r,r+r[ no instante t (por unidade de tempo), sob a forma de
produção de finos. O balanço de massa vai obrigar a que esta variação de massa
(negativa) seja distribuída pelos lotes de finos à qual se destina de acordo com uma
dada lei de formação, representaremos genericamente pela função q(r,r´), % de
massa de partículas finas, de calibre r´, resultantes da abrasão dos lumps de calibre
r, abrasão essa que decorreu segundo uma lei de destruição dada por:

3 dr
 
r dt

Com efeito, só a partir deste momento é possível distinguir de entre as novas


partículas nascidas (“birth”) aquelas que resultaram da formação de finos por abrasão,
e que são dadas por:

r1 3 dr
r
q(r , r)  
r dt
 m(r, t )  dr

A cominuição por fractura, representada pelo saldo entre a morte e o


nascimento de novos calibre, será representado pelas funções destruição, s(r) e pela

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função formação, b(r,r´). Assim, de acordo com o modelo cinético de primeira


ordem anteriormente desenvolvido, a destruição será dada por:

    r 3  D ( r , t )      r 3 s ( r )  N ( r , t )  s ( r )  m( r , t )

e a formação por:
r1
   r 3  B(r , t )   b(r , r)  s(r)  m(r, t )  dr
r

Juntando todas estas expressões, a formulação genérica anteriormente


deduzida para a moagem batch, rescrever-se-á:

m(r , t )   dr 
 m(r , t )   
t r  dt 
3 dr r 3 dr
   m(r , t )   q(r , r)    m(r, t )  dr 
1

r dt r r dt
 s(r )  m(r , t )   b(r , r)  s(r)  m(r, t )  dr
r1

7.2 Discretização do calibre


Equação da Moagem Autogénea Batch para Fractura e Abrasão
Combinadas

Se a anterior equação for integrada ao longo de um intervalo granulométrico


finito correspondete a uma classe de calibre standard (série Tyler), a repartição de
massa m(r,t) passará a ser representada pela composição granulométrica por
intervalos, Ci(t). Contudo, para o cálculo da integração vai ser necessário aceitar que:
dentro de cada um desses intervalos de calibre a velocidade de desgaste dr/dt poderá
ser considerada constante e valendo Ai ; que o calibre r debaixo de cada integral pode
ser substituído pela média aritmética dos extremos do intervalo, ri = (ri+ri+1)/2; e,
finalmente, que m(r,t).(dr/dt) no extremo ri pode ser aproximado por Ai-1.Ci-1/(ri-1-ri)
(1). A referida integração conduz a (2)(3):

ri
d  m(r , t )  dr ri   dr 
 m(r , t )    dr 
ri 1

dt ri 1 
r  dt 
i 1
2 2
m(r , t )  dr  3  
ri 1 r
 3  Ai    Qi , j  A j  m(r, t )  dr 
j

ri  ri 1 ri
j 1 r j  r j 1
r
j 1

1 Note-se que, por definição, m(r,t).r =%material (massa) ]r,r+r{ = Ci, portanto,
Ci Ci
m( r , t )  
r ri  ri 1
2 Note-se que os integrais usados no cálculo das formações de abrasão e de
fractura, estendidos às várias famílias de progenitores, transformam-se
directamente nos somatórios sobre essas classes granulométricas
3 Note-se, igualmente, que as funções destruição, s(t) e formação, b(r,r´), foram
substituídos pelas respectivas formulações discretas, Si e Bi,j.

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i 1
 S i   m(r , t )  dr   Bi , j  S j  m(r , t )  dr
ri rj

ri 1 r j 1
j 1

e, calculando todos os integrais definidos (usando os pressupostos simplificativos


enunciados), obteremos:

dCi Ci 1
 Ai 1   entrada de lumps através de ri
dt ri 1  ri

Ci
 Ai   saída de lumps através de ri+1
ri  ri 1

6
  Ai  Ci  perda de massa dos lumps que não mudaram de lote
ri  ri 1

i 1 Qi , j
 6  Aj  C j  formação de finos por abrasão
j 1 r j  r j 1

i 1
 S i  C i   Bi , j  S j  C j destruição e formação por fractura completa
j 1

O leitor deve notar o modo quase mágico como, a partir da equação da


continuidade, ou de Liouville, apareceram os vários termos relativos à moagem por
abrasão que, numa primeira aproximação, não eram facilmente intuíveis da realidade,
mesmo pelos mais experientes observadores.

7.3 As Não-Linearidades Instrínsecas da Moagem Autogénea

Quando comparado com outros processos de cominuição, a moagem


autogénea é apontada como o mais não-linear de todos. Na verdade, é unânimemente
reconhecida a forte dependência do processo de moagem das características
granulométricas da própria carga do moinho, uma vez que a proporção relativa das
diversas fracções de calibre têm que se manter dentro de determinados valores, sob
pena de um ou vários dos lotes verem diminuídas as suas velocidades de destruição
devido ao desaparecimento ao longo do tempo dos calibres que funcionam como seus
agentes moentes.
Este tipo de interferências, base conceptual do próprio método de cominuição
autogénea, tem tendência a ser encoberto pelo regime permanente, o que, ainda assim,
não chega para fazer esquecer que elas se encontram efectivamente em trabalho
dentro do moinho. Um exemplo bem claro da sua existência é o aparecimento
frequente de calibres críticos.

Tomando como base de partida o que anteriormente foi exposto sobre a


modelagem dos efeitos não-lineares, enquanto processos de interferência em que
determinados calibres concorrem cooperativa ou competitivamente para a

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fragmentação de outros, as não-linearidades da moagem autogénea vão ser descritas e


calculadas sobre os elementos da matriz destruição, admitind-os proporcionais à razão
entre a quantidade actual de pebbles ou lumps moentes e uma quantidade considerada
de referência, por exemplo, a que existe na composição granulométrica ideal para
alimentação do moinho autogéneo, por exemplo:
C j
1,i  jj
Si  Si 
*

 C Fj
1,i  jj

em que:

Si* - elemento original i da matriz destruição calculado com base na composição


granulométrica de referência;
CFj - classe granulométrica j da composição granulométrica de referência;
Cj - classe granulométrica j da composição granulométrica actual do moinho;
Si - elemento i da matriz destruição válido para o instante actual, calculado
segundo a formulação sugerida acima;
jj - parâmetro discreto que indica a diferença entre os índices da classe i, objecto
da moagem e a classe j dos calibre seus mais pequenos moentes

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