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UC Solos

Departamento de Recursos
Naturais, Ambiente e Território
Granulometria, análise
granulométrica e textura do solo
Noções de granulometria, textura e classe textural.
Fundamentos e demonstração da análise mecânica ou
granulométrica, para separação dos lotes da fracção fina do solo,
com vista à determinação da textura de uma amostra, de acordo
com a escala de Atterberg.
Determinação do teor de humidade da amostra utilizada.
Realização dos cálculos de uma análise granulométrica,
apresentação dos resultados da textura e interpretação em
termos da classe textural, através do Diagrama Triangular.
Conversão de texturas entre escalas, através da curva de
percentagens somadas.
Determinação da “textura de campo”. Fundamentação do
procedimento.
A granulometria diz respeito à dimensão das partículas
individuais que se podem distinguir na matéria mineral do solo.
Exprime a proporção relativa em que se encontram no solo
lotes de partículas com diâmetros compreendidos entre
determinados limites.

Fracção grosseira (Ø > 2 mm) e fracção fina (Ø < 2 mm)

Fracção grosseira
Fracção fina
(Escala de Atterberg)
Textura do solo
Proporção em que na fracção fina do solo se encontram lotes de partículas
minerais elementares cujas dimensões variam dentro de certos limites (isto é,
a proporção de areia, de limo e de argila).

Análise granulométrica do solo


A análise granulométrica ou mecânica do solo consiste na determinação das
proporções em que, na fracção fina, ocorrem os lotes de areia, de limo e de
argila, após separação prévia da fracção grosseira e da matéria orgânica.

A determinação das proporções de cada um destes lotes implica garantir a


individualização de todas as partículas da fracção fina, através de um processo
de dispersão.

Este obriga à remoção de materiais que contribuam para a agregação das


partículas: matéria orgânica, calcário, sais solúveis, óxidos de Fe, de Mn… ,
para além do uso de uma solução dispersante (em geral, hexametafosfato de
Na) e de agitação mecânica ou ultra-sónica.
Para a análise granulométrica propriamente dita submetem-se as amostras
de solo a uma série de métodos de separação de partículas que permitam a
quantificação de cada uma das fracções ou lotes referidos.

O processo inicia-se com uma crivagem usando um crivo com malha


correspondente ao limite inferior da fracção areia grossa (0,2 mm), fazendo-
se assim a separação completa desta fracção.

Para partículas de diâmetro < 50 mm a crivagem não é exequível e os


processos a usar baseiam-se na Lei de Stokes.

Esta estabelece que a velocidade de sedimentação de partículas sólidas,


esféricas, lisas, suficientemente pequenas (< ~80 mm), em suspensão num
fluido de viscosidade conhecida e cuja concentração seja baixa o
suficiente para que as partículas se movimentem sem interferirem entre
si, é directamente proporcional ao quadrado do diâmetro das partículas, à
aceleração da gravidade e à diferença entre a massa volúmica das
partículas e do líquido, e inversamente proporcional à viscosidade deste.
Lei de Stokes:
(força descendente que actua sobre uma par-
4 𝑑3
F↓ = 𝜋 𝐷𝑝 − 𝐷𝑙 𝑔 tícula esférica imersa num fluido, resultante
3 8 da combinação do peso com a impulsão)

(força devida à resistência que o fluido oferece ao movimento


F↑= 3𝜋𝑑η𝑣 de uma partícula esférica em queda no seu seio e que tende a
anular a aceleração do movimento descendente da mesma)

F↑ = 0 quando 𝒗 = 𝟎, aumentando com 𝒗 até igualar F↓, momento a partir do qual


a velocidade da partícula se torna constante (velocidade terminal).
Assim, fazendo
4 𝑑3
3𝜋𝑑η𝑣 = 𝜋 𝐷𝑝 − 𝐷𝑙 𝑔,
3 8
v a velocidade de sedimentação das partículas
teremos (m s-1);
h a profundidade de amostragem (m);
ℎ 𝒅𝟐 𝑫𝒑 − 𝑫𝒍 𝒈 t o tempo de sedimentação (s);
𝑣= = sendo d o diâmetro efectivo das partículas (m);
𝑡 𝟏𝟖 η g a força gravítica (N kg-1);
Dp a massa volúmica das partículas (Mg m-3);
(Expressão da Lei de Stokes)
Dl a massa volúmica do fluido (Mg m-3), e
η a viscosidade desse fluido (N s m-2).
A Lei de Stokes é usualmente aplicada nos métodos de
pipetagem e de sedimentação e decantação para, respectiva-
mente, calcular o tempo necessário para que partículas de
argila ou de limo+argila, ou de areia fina, percorram uma
determinada distância.
Esta distância corresponde à profundidade a que será feita a
pipetagem (para isolar parte da argila e do limo+argila) ou a
decantação (para isolar a totalidade areia fina) que permitirão
a quantificação da(s) fracção(ões) em causa.

Na pipetagem apenas é colhida uma fração da argila ou do limo+argila,


sendo necessário ter em atenção a relação entre o volume total da
suspensão e o volume pipetado para a quantificação daqueles lotes.
Tempos de sedimentação (calculados para Lisboa) para amostragem das
fracções argila e limo+argila à profundidade de 10 cm, e profundidades de
amostragem para tempos de sedimentação de 8 horas (argila) e 4 minutos
e 48 segundos (limo+argila), em função da temperatura da suspensão.
Resultados de uma análise granulométrica - exemplo

Teor de humidade (Qp)


Pf nº Tara Tara + Soloar Tara + Solo105 Qp
---------------------------- g -------------------------------- g g-1

1 147,88 152,97 152,81 ?

Massa da amostra(ar) para análise granulométrica = 20,250 g


Massa da amostra (eq 105 ºC) = ?

Ensaio em branco = 0,021g

Tara + Massa Teor Teor


Tara
fracção105 fracção fracção corrigido
----------------------- g ---------------------------- --------- g kg-1 --------
AG Crivo 2 221,53 224,55 3,020 ? ?
AF Cp2 105,36 111,84 6,480 ? ?
A 12 47,850 48,047 0,176 ? ?
L+A 5 36,560 36,845 0,264
L 0,088 ? ?
Total ? ?
Qp (teor de humidade ponderal) = 0,032454 g g-1

Amostra (eq 105) = 19,6135 g

Teor
Frac Teor
corrigido
------ g kg-1 ------
AG 154,0 151
AF 330,4 323
A 358,9 351
L 179,5 175
Tot 1022,8 1000

Os resultados finais são expressos em g kg-1 e apresentam-se com


aproximação às unidades.
Diagrama triangular para a
determinação das classes
de textura do solo.
(Segundo Gomes & Silva, 1962)
Exemplo de conversão entre escalas através da curva de percentagens somadas
Textura - Atterberg log Diametro % somadas Limites (µm) log Diametro
Argila 18,1 Argila 0,3 18,1 2000 3,3
1000 3,0
Limo 18 Arg+ Limo 1,3 36,1 Escala USDA 500 2,7
Areia Fina 47,9 A+L+AF 2,3 84
Areia Grossa 16 A+L+AF+AG 3,3 100 250 2,4
100 2,0
50 1,7
curva de % somadas 2 0,3
100 100
95
90
85 84
80
75
70
65
60
% somadas

55
50
45
40
35 36,1

30
25
20
18,1
15
10
5
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,8 1,9 2 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6 2,7 2,8 2,9 3 3,1 3,2 3,3 3,4 3,5
log diâmetro (µm)
TEXTURA DE CAMPO

É possível estimar, de forma aproximada, a classe textural correspon-


dente a determinada amostra de solo, a partir das respectivas propri-
edades físicas no estado seco e no estado húmido.

Para isso são usualmente avaliadas, manualmente, a aspereza, a


sedosidade, a plasticidade e a adesividade do material do solo.

A plasticidade e a adesividade são formas de consistência do solo que


se manifestam quando este está muito húmido ou molhado [outras
formas de consistência que o solo pode apresentar são a tenacidade ou
dureza (no estado seco) e a friabilidade (no estado húmido)].
O termo consistência descreve a resistência do solo à acção de forças
mecânicas, ou à sua manipulação a diferentes teores de humidade; é uma
propriedade que se deve à manifestação de forças físicas de coesão e
adesão que actuam no solo em diferentes condições de humedecimento.
A consistência do solo depende fundamentalmente da dimensão e da
forma das suas partículas (e, portanto, da superfície específica destas).

As forças de coesão e de
adesão e as diferentes 2 mm
formas de consistência 0,1 mm 1 mm 20 mm
do solo.

Acentuação do
carácter coloidal
DOMÍNIO
DOMÍNIO SÓLIDO DOMÍNIO PLÁSTICO LÍQUIDO
Solo seco Solo húmido Solo muito húmido a molhado

TENACIDADE FRIABILIDADE ADESIVIDADE E PLASTICIDADE FLUIDEZ


Força

Coesão num
solo solto

Teor de água
Características gerais das diversas fracções granulomé-
tricas importantes para a avaliação da textura de campo

Areia – É áspera ao tacto. Não evidencia plasticidade, nem adesivida-


de; quando seca é solta. Tem fraco poder de retenção para a água; é muito
permeável à água e ao ar. É quimicamente inerte.

Limo – É algo sedoso ao tacto quando seco. Possui plasticidade, mas


não manifesta adesividade. Apresenta considerável poder de retenção de
água e dificulta a permeabilidade à água e ao ar. É relativamente inerte do
ponto de vista químico.

Argila – Quando seca é macia, ou muito tenaz, se agregada; exibe


elevada plasticidade e adesividade. Possui elevado poder de retenção de
água e contraria a permeabilidade à água e ao ar. É a fracção mais activa, tanto
física como quimicamente, devido à sua natureza coloidal.
Principais classes texturais do solo: características nos estados seco e húmido
Características no estado seco Características no estado húmido Classe textural
Áspero, formado quase Não pode moldar-se em filamento;
ARENOSA
exclusivamente por areia não é pegajoso
Com elementos ásperos Fendilha quando se tenta moldar
FRANCO-
(areias) e, em menor proporção, em filamentos que só podem formar-se
ARENOSA
elementos macios com muita dificuldade; não é pegajoso
Heterogéneo, com maior
Pode moldar-se em filamento mas
proporção de materiais macios
com certa dificuldade; fendilha quando
do que de ásperos. Pode FRANCA
se tenta curvar em argola; não é
apresentar agregados que se
pegajoso
esboroam facilmente
Caracteres intermédios entre Caracteres intermédios entre a FRANCO-
a anterior e a seguinte anterior e a seguinte ARGILOSA
Formado exclusivamente ou
quase por materiais macios. Facilmente moldável em filamento
Pode ter agregados que é difícil alongado, que com facilidade se pode ARGILOSA
ou impossível esboroar entre os curvar em argola; pegajoso
dedos
Caracteres intermédios entre Caracteres intermédios entre a ARGILO-
a anterior e a seguinte anterior e a seguinte LIMOSA
Formado exclusivamente ou Facilmente moldável em filamento
quase por materiais macios alongado, que com facilidade se pode LIMOSA
(sedosos) curvar em argola; pouco pegajoso

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