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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA

NOTAS DE AULA - 9º PERÍODO

Autor: Professor Paulo Rogério Pinheiro Nazareth

Aluno (a): ...................................................................................

1
Índice
I Introdução ao estudo da proteção.............................................................................................................. 04
I.1 Filosofia de proteção dos sistemas elétricos.............................................................................................. 04
I.1.1 Exploração de um sistema de energia elétrica........................................................................................ 04
I.1.2 Estatistas dos defeitos ou faltas................................................................................................................. 05
I.1.3 Aspectos considerados na proteção........................................................................................................... 06
I.1.4 Análise geral da proteção.......................................................................................................................... 06
I.1.5 Características gerais dos equipamentos de proteção............................................................................... 07
I.1.6 Requisitos básicos de um sistema de proteção..................................................................................... .... 09
I.1.7 Dispositivos de proteção............................................................................................................................ 11
I.1.8 Funções de proteção.................................................................................................................................. 12
I.1.9 Características construtivas e operacionais............................................................................................... 16

II Redutores ou transformadores de medida.................................................................................................. 23


II.1 Introdução................................................................................................................................................... 23
II.2 Transformadores de corrente – TC’s.......................................................................................................... 23
II.2.1 Ligação de um transformador de corrente.................................................................................................. 24
II.2.2 Polaridade de TC........................................................................................................................................ 24
II.2.3 Caracterização de um TC............................................................................................................................25
II.2.4 Diferença entre TC de medição e proteção.................................................................................................34
II.2.5 Impedância da fiação...................................................................................................................................35
II.2.6 Cargas típicas de medição...........................................................................................................................36
II.2.7 Carga dos relés........................................................................................................................................... 36
II.2.8 Transformadores de corrente – secundário aberto......................................................................................40
II.3 Transformadores de potencial – TP’s..........................................................................................................43
II.3.1 Introdução....................................................................................................................................................43
II.3.2 Características de um TP.............................................................................................................................44
II.3.3 Transformador de potencial capacitivo.......................................................................................................50

III Relés de proteção.............................................................................................................................................53


III.1 Introdução.....................................................................................................................................................53
III.2 Tipos de relés de sobrecorrente não direcionais...........................................................................................53
III.2.1 Curvas de proteção....................................................................................................................................55

III.3 Relé Direcional de Sobrecorrente (67)......................................................................................................59


III.3.1 Introdução..................................................................................................................................................59
III.3.2 Relé de Sobrecorrente Direcional..............................................................................................................59
III.3.3 Princípio de funcionamento do Relé de sobrecorrente direcional.............................................................59
III.3.4 Polarização do relé direcional....................................................................................................................62
III.3.5 Relé Direcional de Sequência Zero.......................................................................................................... 63

III.4 Relé Diferencial de Sobrecorrente (87).....................................................................................................66


III.4.1 Introdução..................................................................................................................................................66
III.4.2 Proteção de Sobrecorrente Diferencial – Caracterização..........................................................................66
III.4.3 Tipos de Relés Diferenciais.......................................................................................................................67
III.4.4 Equação Geral do Relé Diferencial Percentual..........................................................................................71
III.4.5 Escolha do Transformador de Corrente.....................................................................................................73

III.5 Relé de Distância (21)............................................................................................................................. 75


III.5.1 Introdução................................................................................................................................................75
III.5.2 Relés de Impedância................................................................................................................................75
III.5.3 Equação do Relé de Impedância – Lugar Geométrico............................................................................76
III.5.4 Direcionalidade do Relé de Impedância..................................................................................................78
III.5.5 Relé de Impedância e Relé Direcional................................................................................................... 79
III.5.6 Impedância Secundária Vista Pelo Relé de Impedância........................................................................ 80
III.5.7 Zonas de Atuação do Relé de Impedância............................................................................................. 80
III.5.8 Regulagem e Temporização das Zonas...................................................................................................81
III.5.9 Diagrama Funcional em Corrente Contínua de Operação do Relé de Impedância.................................82
2
III.5.10 Relé de Admitância..................................................................................................................................83
III.5.11 Regulagem e Temporização do Relé de Admitância...............................................................................86
III.5.12 Relé de Reatância.....................................................................................................................................88
III.5.13 Arco Elétrico............................................................................................................................................88
III.5.14 Relé de Reatância e o Arco Elétrico........................................................................................................90

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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA - PSE

I - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PROTEÇÃO

I.1- FILOSOFIA DE PROTEÇÃO DOS SISTEMAS ELÉTRICOS

I.1.1- Exploração de um Sistema de Energia Elétrica


Com a intenção de garantir economicamente a qualidade do serviço e assegurar uma vida útil razoável
às instalações, os concessionários dos Sistemas de Energia Elétrica deparam-se, com as perturbações e
anomalias de funcionamento que afetam as redes elétricas e seus elementos de controle.
Se pensarmos que, na fixação do equipamento global, já foi considerada a previsão de crescimento do
consumo, três outras preocupações persistem para o concessionário:

1- A elaboração de programas ótimos de geração


2- A constituição de esquemas de interconexão apropriados;
3- A utilização de um conjunto coerente de proteções.

Nos programas de geração, deve ser realizado o compromisso entre a utilização mais econômica dos
grupos geradores disponíveis, bem como a repartição geográfica dos grupos em serviço, evitando as
sobrecargas permanentes de transformadores e linhas de transmissão. Assegurar nos principais nós de
consumo uma produção local suficiente ao atendimento aos usuários prioritários, na hipótese de ocorrer
um grave incidente sobre a rede de energia elétrica.

Com relação aos esquemas de interconexão e mesmo fugindo, por vezes, à condição ideal da rede em
malha, devido à extensão territorial e o custo, deve-se tentar atingir os seguintes objetivos:
a) Limitação da corrente de curto-circuito entre fases a um valor compatível com a salvaguarda do
material constitutivo da rede, como por exemplo, 40 KA em 380 kV, 30 kA em 220 kV, etc.
b) Evitar em caso de incidente, inadmissível transferência de carga sobre as linhas ou instalações
que permanecerem em serviço, impedindo-se com isso sobreaquecimento, operação das
proteções e perda de sincronismo entre as regiões ou sistemas interligados.

O conjunto coerente de proteções é para atenuar os efeitos das perturbações, o sistema de proteção deve
assegurar o melhor possível, a continuidade de alimentação dos usuários, bem como salvaguardar o
material e as instalações da rede. No cumprimento dessas ações ele deve tanto alertar os operadores em
caso de perigo não imediato, como retirar de serviço a instalação se, por exemplo, um curto-circuito que
poderia deteriorar um equipamento ou afetar toda a rede.

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Logo, verifica-se assim, que existe a necessidade de dispositivos de proteção distintos para as situações
anormais de funcionamento do conjunto interconectado, ou de elementos isolados da rede (perda de
sincronismo, perda súbita de carga, etc), os curtos-circuitos e os defeitos de isolamento.

I.1.2- Estatísticas dos defeitos ou faltas


As concessionárias de energia elétrica, geradores e distribuidores, acompanham e avaliam com rigor as
interrupções de seus sistemas devido a defeitos ou faltas, com o objetivo de se orientarem no
planejamento estratégico e operacional, com intuito de melhorar a qualidade de fornecimento de energia
elétrica a seus clientes.
As principais causas das interrupções são:
- Fenômenos naturais: 48%.
- Falhas em materiais e equipamentos: 12%.
- Falhas humanas: 9%.
- Falhas diversas: 9%.
- Falhas operacionais: 8%.
- Falhas na proteção e medição: 4%.
- Objetos estranhos sobre a rede: 4%.
- Condições ambientais: 6%.

As interrupções podem se originar de:


- Linhas de transmissão: 68%.
- Rede de distribuição: 10%.
- Barramento de subestação: 7%.
- Transformador de potência: 6%.
- Gerador: 1%.
- Próprio sistema: 4%.
- Consumidor: 4%.

A duração das interrupções (T em minutos) é dada pelos seguintes intervalos:


- 1 < T ≤ 3: 57%.
- 3 < T ≤ 15: 21%.
- 15 < T ≤ 30: 6%.
- 30 < T ≤ 60: 4%.
- 60 < T ≤ 120: 3%.
- T > 120: 9%.

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As interrupções também podem ser contabilizadas ao longo dos meses do ano, o que varia em cada
região dependendo, principalmente, das condições climáticas.
Podemos acrescentar a essas estatísticas as interrupções quanto ao tipo de curto-circuito:
- Curto-circuito trifásico: 8%.
- Curto-circuito bifásico: 14%.
- Curto-circuito fase e terra: 78%.

Existe um tipo de interrupção bastante característico dos sistemas de distribuição, urbano ou rural,
denominado defeito fugitivo. Corresponde à falta monopolar à terra de curtíssimo tempo, como, por
exemplo, o galho de uma árvore tocando os condutores de uma rede aérea devido a uma rajada moderada
de vento. As estatísticas mostram que cerca de 80% do total das interrupções são classificadas como
fugitivas.

I.1.3- Aspectos considerados na proteção.


Na proteção de um sistema elétrico, devem ser examinados três aspectos:
1- Operação normal, que presume a inexistência de falhas de equipamento, de erros do pessoal de
operação e de incidentes ditos “segundo a vontade de Deus”.

2- Prevenção contra falhas elétricas, onde não é possível eliminar por completo todas as falhas.
Porém podemos preveni-las tomando-se algumas providências como, isolamento adequado,
coordenação do isolamento, o uso de cabos para-raios e baixa resistência de pé-de-torre;
apropriadas instruções de operação e manutenção, etc.

3- Limitação dos defeitos devido às falhas, que inclui limitar a magnitude da corrente de curto-
circuito (reatores); um projeto capaz de suportar os efeitos mecânicos e térmicos das correntes de
defeito; existência de circuitos múltiplos e geradores de reserva; existência de releamento e outros
dispositivos, bem como disjuntores com suficiente capacidade de interrupção; meios para
observar as medidas anteriores através de oscilógrafos e observação humana. Por fim, frequentes
análises sobre as mudanças no sistema (crescimento e desdobramento das cargas) com os
consequentes reajustes dos relés, reorganização do esquema operativo, etc.

I.1.4- Análise geral da proteção.


Num sistema elétrico, basicamente, encontramos os seguintes tipos de proteção:
- Contra incêndio;
- Pelos relés, ou releamento e por fusíveis;
- Contra descargas atmosféricas e surtos de manobra.

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Um estudo de proteção leva em conta as seguintes considerações principais:
1- Elétricas: devidas as características do sistema de potência (natureza das faltas, sensibilidade para
a instabilidade, regimes e características gerais dos equipamentos, condições de operação, etc.);
2- Econômicas: devidas a importância funcional do equipamento (custo do equipamento principal
X custo relativo do sistema de proteção);
3- Físicas: devidas principalmente às facilidades de manutenção, localização (dos relés e redutores
de medida), distância entre os pontos de releamento (carregamento dos TC’s, uso de fio piloto),
etc.

É importante dizer que um sistema de proteção bem projetado é capaz de minimizar:


- O custo de reparação dos estragos;
- A probabilidade de que o defeito possa propagar-se e envolver outro equipamento;
- O tempo que o equipamento fica inativo, reduzindo a necessidade de reservas;
- A perda de renda e o desgaste das relações públicas, enquanto o equipamento está fora de
serviço.

O custo de um sistema de proteção é da ordem de 2 a 5% daquele correspondente aos equipamentos


protegidos. É, portanto, um seguro barato, principalmente considerando-se o tempo usual para a
depreciação dos equipamentos.

I.1.5- Características gerais dos equipamentos de proteção.


Existem dois princípios gerais a serem obedecidos em sequência:

1- Em nenhum caso a proteção deve dar comando, se não existe defeito na sua zona de controle
(desligamentos intempestivos podem ser piores que a falha de atuação);
2- Se existe defeito nessa zona, os comandos devem corresponder exatamente aquilo que se espera,
considerada que seja a forma, intensidade e localização do defeito.

Disso resulta que a proteção por meio de relés, ou o releamento, tem duas funções:

a) Função principal: que é a de promover uma rápida retirada de serviço de um elemento do


sistema, quando esse sofre um curto-circuito, ou quando ele começa a operar de modo anormal
que possa causar danos ou, de outro modo, interferir com a correta operação do resto do sistema.

Nessa função um relé (elemento detector-comparador e analisador) é auxiliado pelo disjuntor


(interruptor), ou então um fusível que engloba as duas funções.

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A
B
C
Bobina
DISJUNTOR
Disparo Fonte CC TP
Contato

TC
RELÉ

CARGA
Fig.1: Esquema básico de um conjunto relé-disjuntor

b) Função secundária: que promove a indicação da localização e do tipo do defeito, visando mais
rápida reparação e possibilidade de análise da eficiência e características de mitigação da proteção
adotada.

Os princípios fundamentais do releamento compreendem três etapas:


1- Releamento primário ou de primeira linha;
2- Releamento secundário;
3- Releamento auxiliar.

O releamento primário é aquele em que uma zona de proteção separada é estabelecida ao redor de cada
elemento do sistema, visando à seletividade, onde os disjuntores são colocados na conexão de cada dois
elementos. Existe uma superposição das zonas, em torno dos disjuntores visando à retaguarda em caso
de falha da proteção principal.

O releamento de retaguarda, cuja finalidade é a de atuar na manutenção do releamento primário ou


falha deste, só é usado, por motivos econômicos, para determinados elementos do circuito e somente
contra curto-circuito. No entanto, sua previsão deve-se a probabilidade de ocorrer falhas, seja na corrente
ou tensão fornecida ao relé, ou na fonte de corrente de acionamento do disjuntor, ou no circuito de
disparo ou no mecanismo do disjuntor, ou no próprio relé, etc.

O releamento auxiliar tem função como multiplicador de contatos, sinalização ou temporização, etc.

A figura abaixo representa as zonas de proteção por setores do sistema elétrico bem como as
superposições destas.

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Proteção barramento
Proteção equipamento de de alta tensão. Proteção barramento
manobras e controle. Intermediário.
Proteção Proteção das linhas de .
Gerador transmissão.

Proteção de
Transformador

I.1.6- Requisitos básicos de um sistema de proteção.


Para que se obtenha um bom desempenho, devemos considerar as seguintes propriedades fundamentais:

a) Seletividade
É uma técnica utilizada no estudo de proteção e coordenação, por meio do qual somente o
elemento mais próximo da falta desconecta da parte faltosa do sistema elétrico.

b) Zonas de atuação
Durante a ocorrência de uma anormalidade, o elemento de proteção deve ser capaz de definir se
aquela ocorrência é interna ou externa à zona protegida. Se a ocorrência está nos limites da zona
protegida, o elemento de proteção deve atuar e acionar a abertura do disjuntor associado, num
intervalo de tempo definido no estudo de proteção. Se a ocorrência está fora dos limites da zona
protegida, o relé não deve ser sensibilizado pela grandeza elétrica do defeito (depende do tipo de
proteção utilizada).

c) Velocidade
Desde que seja definido um tempo mínimo de operação para um elemento de proteção, a
velocidade de atuação deve ser a de menor valor possível, a fim de propiciar as seguintes
condições favoráveis:
- Reduzir ou mesmo eliminar as avarias no sistema protegido;
- Reduzir o tempo de afundamento da tensão (sag) durante as ocorrências nos sistemas de
potência;
- Permitir a ressincronização dos motores.

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d) Sensibilidade
Consiste na capacidade do elemento de proteção reconhecer com precisão a faixa e os valores
indicados para a sua operação e não operação.
Para avaliar numericamente o nível de sensibilidade de um elemento de proteção, pode-se aplicar
a equação abaixo:

I
M c  ccmi , onde:
I pk
M c  Múltiplo da corrente de pick-up (acionamento);
I ccmi  Corrente de curto-circuito franco calculada no extremo mais afastado da zona de
proteção considerando a condição de geração mínima;
I pk  Corrente de acionamento do elemento de proteção, isto é, o valor mínimo da corrente
capaz de acionar o referido elemento de proteção.

Um nível adequado de sensibilidade deve-se ter: 1,5  M c  2 .

e) Confiabilidade
É a propriedade do elemento de proteção cumprir com segurança e exatidão as funções que lhes
foram confiadas.

f) Automação
Consiste na propriedade do elemento de proteção operar automaticamente quando for solicitado
pelas grandezas elétricas que os sensibilizam e retornar sem auxilio humano, se isso for
conveniente, à posição de operação depois de cessada a ocorrência.
Ainda existem outras propriedades fundamentais para o bom desempenho dos dispositivos de
proteção:
- Os relés são sensibilizados, mas não devem operar por sobrecargas ou sobretensões
momentâneas.
- Os relés são sensibilizados, mas não devem atuar por oscilações de corrente, tensão e
frequência ocorridas naturalmente no sistema, desde que consideradas normais pelo projeto.
- Os relés devem ser dotados de bobinas e circuitos de pequeno consumo de energia.
- Os relés devem ter suas características inalteradas para diferentes configurações do sistema
elétrico.

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I.1.7- Dispositivos de proteção.
Basicamente existem dois dispositivos aplicados na proteção de sistemas elétricos de qualquer natureza,
ou seja, são os fusíveis e os relés.
Os fusíveis são dispositivos que operam pela fusão rompendo seu elemento metálico construído com
características específicas de tempo X corrente.
Os relés, porém, constituem uma ampla gama de dispositivos que oferecem aos sistemas elétricos nas
mais variadas formas, ou seja, sobrecarga, curto-circuito, sobretensão, subtensão, subfrequência, etc.
Cada relé de proteção possui uma ou mais características técnicas que o definem para exercer as funções
básicas, dentro dos limites exigidos pelos esquemas de proteção e coordenação, para cada sistema
elétrico em particular.
O primeiro dispositivo de proteção eletromecânico surgiu em 1901 e os relés têm evoluído
progressivamente. Consistia em um relé de proteção de sobrecorrente tipo indução. Por volta de 1908
foi desenvolvido o princípio da proteção diferencial de corrente, seguindo-se, em 1910, o
desenvolvimento das proteções direcionais. Somente por volta de 1930 foi desenvolvida a proteção de
distância.
A qualidade e a complexidade da tecnologia dos dispositivos eletromecânicos evoluíram ao longo dos
anos, permitindo que os esquemas de proteção alcançassem cada vez mais um elevado grau tanto de
sofisticação quanto de confiabilidade.
Na década de 1930 surgiram os primeiros relés de proteção com tecnologia à base de componentes
eletrônicos, com o uso de semicondutores. Os relés eletrônicos ou estáticos não tiveram aceitação
imediata no mercado, devido à forte presença dos relés eletromecânicos, que já nessa época eram
fabricados com tecnologia de alta qualidade, robustez, praticidade e competitividade. Eram e ainda hoje
são verdadeiras peças de relojoaria de precisão.
Na década de 1980, com o desenvolvimento acelerado da microeletrônica, surgiram as primeiras
unidades de proteção utilizando a tecnologia digital. O mercado nacional não absorveu prontamente a
tecnologia de proteção digital devido ao fracasso tecnológico das proteções eletrônicas, com as
sucessivas falhas desses dispositivos. Algumas concessionárias, receosas com o uso dos relés digitais,
chegaram a utilizá-los juntamente com os relés eletromecânicos como proteção de retaguarda. Os limites
de temperatura dos relés estáticos e em seguida dos relés digitais contribuíram muito para as falhas
desses elementos de proteção. Os relés eletromecânicos de indução de construção robusta, utilizados
frequentemente em armários metálicos instalados ao tempo, resistiam às intempéries sem apresentar
falhas graves de funcionamento. Já os relés estáticos e digitais construídos à base de componentes de
alta sensibilidade às temperaturas elevadas muitas vezes foram utilizados em condições críticas em
armários metálicos instalados no pátio das subestações, ocorrendo falhas graves de funcionamento.
Pode-se afirmar que as vantagens dos relés eletrônicos sobre os eletromecânicos foram relativamente
pequenas quando comparadas com as vantagens que os relés microprocessados levam sobre os

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eletromecânicos e os eletrônicos. Os relés eletromecânicos e os eletrônicos são relés que executam
apenas as funções que lhe foram atribuídas, enquanto que os relés digitais incorporam todas as
facilidades que a tecnologia dos microprocessadores oferece, além de preços competitivos e
confiabilidade.
Uma observação importante é que com o advento da tecnologia digital houve uma mudança brusca no
conceito de tempo de vida útil de um sistema de proteção. Os relés eletromecânicos de indução são
equipamentos que pela sua construção robusta apresentavam uma vida útil de 20 a 30 anos. Já a vida útil
dos relés digitais não é contada pelo tempo de desgaste de seus componentes eletrônicos, mas sim pelo
tempo de obsolescência da tecnologia da informação que faz funcionar o relé. Assim, à medida que os
softwares aplicados aos sistemas de proteção digitais adquirem maior poder de programação e lógica, é
necessário desenvolver novos relés com a mesma função para poder se beneficiar desses aplicativos.
Outra mudança sentida pelos profissionais de proteção está ligada à formação técnica. Na época dos
relés eletromecânicos de indução, o tempo de formação de um técnico de nível médio para ajustar e
realizar as manutenções necessárias num relé de um determinado fabricante se restringia a cerca de 10
horas. Com duas ou três horas adicionais, o mesmo técnico adquiria conhecimento suficiente para ajustar
e realizar manutenções no mesmo tipo de relé de outro fabricante. Isso ocorria porque os relés de uma
mesma função tinham construções muito semelhantes.
Atualmente, o perfil técnico desses profissionais mudou significativamente. Agora, o tempo de
treinamento de um técnico para ajustar e realizar manutenções num determinado tipo de relé digital de
um fabricante pode durar semanas. Se esse mesmo técnico for chamado para ajustar e realizar os mesmos
serviços num relé de outro fabricante, mas com funções equivalentes, o tempo de treinamento será
praticamente o mesmo.

I.1.8- Funções de proteção.


As funções de proteção e manobra são caracterizadas por um código numérico que indica o tipo de
proteção a que se destina um relé. Um relé pode ser fabricado para atuar somente na ocorrência de um
determinado tipo de evento, respondendo a esse evento de uma única forma. Um exemplo é o relé de
sobrecorrente instantâneo do tipo indução, constituído apenas de uma unidade instantânea (função 50).
Nesse caso, disse-se que o relé é monofunção.

Outros relés, no entanto, são fabricados para atuar na ocorrência de vários tipos de evento, respondendo
a esses eventos de duas ou mais formas. Um exemplo é o relé de sobrecorrente, constituído de uma
unidade instantânea (função 50) e uma unidade temporizada (função 51), incorporando uma unidade de
subtensão e outra de Sobretensão. Nesse caso, diz-se que o relé é multifunção.

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Para padronizar e universalizar os vários tipos de funções elaborou-se uma tabela pela ANSI (American
National Standards Institute) dada a seguir:

Tabela: Nomenclatura das funções de proteção e manobra (ANSI)

Código Função
1 Elemento principal (master element)
2 Relé de partida ou fechamento temporizado (time-delay starting or closing relay)
3 Relé de verificação ou interbloqueio (checking or interlocking relay)
4 Contactor principal (master contactor)
5 Dispositivo de interrupção (stopping device)
6 Disjuntor de partida (starting circuit breaker)
7 Disjuntor de anodo (anode circuit breaker)
8 Dispositivo da desconexão da energia de controle (control power disconnecting device)
9 Dispositivo de reversão (reversing device)
10 Chave de sequência das unidades (unit sequence switch)
11 Reservada para futura aplicação
12 Dispositivo de sobrevelocidade (over-speed device)
13 Dispositivo de rotação síncrona (synchronous-speed device)
14 Dispositivo de subvelocidade (under-speed device)
15 Dispositivo de ajuste ou comparação de velocidade ou frequência
16 Reservado para futura aplicação
17 Chave de derivação ou de descarga (shunting, or discharge, switch)
18 Dispositivo de aceleração ou desaceleração (accelerating or decelerating device)
19 Contactor de transição partida-marcha (starting-to-running transtion contactor)
20 Válvula operada eletricamente (electrically operated valve)
21 Relé de distância (distance relay)
22 Disjuntor equalizador (equalizer circuit breaker)
23 Dispositivo de controle de temperatura (temperature control device)
24 Reservado para futura aplicação
25 Dispositivo de sincronização ou de conferência de sincronismo (synchronism-check
26 Dispositivo
device) térmico do equipamento (apparatus thermal device)

27 Relé de subtensão (under voltage relay)


28 Reservado para futura aplicação
29 Contactor de isolamento (isolator contactor)
30 Relé anunciador (annunciator relay)
31 Dispositivo de excitação em separado (separate excitation device)
32 Relé direcional de potência (directional power device)
33 Chave de posicionamento (position switch)
34 Chave de sequência, operada por motor (motor-operated sequence switch)
35 Dispositivo para operação das escovas ou para curto-circuitar os anéis do coletor
36 Dispositivo de polaridade (polarity device)
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37 Relé de subcorrente ou subpotência (undercurrent or under power relay)
38 Dispositivo de proteção de mancal (bearing-protective device)
39 Reservado para futura aplicação
40 Relé de campo (field relay)
41 Disjuntor ou chave de campo (field circuit-breaker)
42 Disjuntor ou chave de operação normal (running circuit breaker)
43 Dispositivo ou seletor de transferência manual (manual transfer or selector device)
44 Relé de sequência de partida das unidades (unit sequence starting relay)
45 Reservado para futura aplicação
46 Relé de reversão ou balanceamento corrente de fase (reversefhase, or current relay)
47 Relé de sequência de fase de tensão (fhase-sequence voltage relay)
48 Relé de sequência incompleta (incomplete sequence relay)
49 Relé térmico para máquina ou transformador (machine, or transformer, thermal relay)
50 Relé de sobrecorrente instantâneo (instataneous over current, or rate-of-rise relay)
51 Relé de sobrecorrente-tempo CA (a-c time over current relay)
52 Disjuntor de corrente alternada (a-c circuit breaker)
53 Relé para excitatriz ou Gerador CC (exciter or d-c generator relay)
54 Disjuntor de corrente contínua, alta velocidade (high-speed d-c circuit breaker)
55 Relé de fator de potência (power fator relay)
56 Relé de aplicação de campo (Field application relay)
57 Dispositivo para aterramento ou curto-circuito (short-circuiting or grounding device)
58 Relé de falha de retificação (power rectifier misfire relay)
59 Relé de Sobretensão (overvoltage relay)
60 Relé de balanço de tensão (voltage balance relay)
61 Relé de balanço de corrente (current balance relay)
62 Relé de interrupção ou abertura temporizada (time-delay stopping, or opening, relay)
63 Relé de pressão de nível ou de fluxo, de líquido ou gás (liquid or gaz pressure, level, or
64 Relé de proteção de terra (ground protective relay)
flow relay
65 Regulador (governor)
66 Dispositivo de intercalação ou escapamento de operação (notching, or jogging, device)
67 Relé direcional de sobrecorrente CA (a-c directional overcurrent relay)
68 Relé de bloqueio (blocking relay)
69 Dispositivo de controle permissivo (permissive control device)
70 Reostato eletricamente operado (electrically operated rheostat)
71 Relé de nível de líquido ou gás (level switch)
72 Disjuntor de corrente contínua (d-c circuit breaker)
73 Contactor de resistência de carga (load-resistor contactor)
74 Relé de alarme (alarm relay)
75 Mecanismo de mudança de posição (position changing mechanism)
76 Relé de sobrecorrente CC (d-c overcurrent relay)
77 Transmissor de impulso (pulse transmitter)
78 Relé de medição de ângulo de fase, ou de proteção contra falha de sincronismo
79 Relé de religamento CA (a-c reclosing relay)
80 Reservado para futura aplicação

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81 Relé de frequência (frequency relay)
82 Relé de religamento CC (d-c reclosing relay)
83 Relé de seleção de controle ou de transferência automática (automatic selective control
84 Mecanismo
relay) de operação (operating mechanism)
85 Relé receptor de onda portadora ou fio-piloto (carrier, or pilot-wire, receiver relay)
86 Relé de bloqueio (locking-out relay)
87 Relé de proteção diferencial (differential protective relay)
88 Motor auxiliar ou motor gerador (auxiliary motor, or motor generator)
89 Chave separadora (line switch)
90 Dispositivo de regulação (regulating device)
91 Relé direcional de tensão (voltage directional relay)
92 Relé direcional de tensão e potência (voltage and power directional relay)
93 Contactor de variação de campo (field changing contactor)
94 Relé de desligamento, ou de disparo livre (tripping, or trip-free, relay)
95 a 99 Usados para aplicações específicas, não cobertas pelos números anteriores.

Tabela: Nomenclatura complementar das funções de proteção e manobra (ANSI)


Código Função
21B Proteção de subimpedância: contra curtos-circuitos fase-fase
27TN Proteção de subtensão residual de terceira harmônica
37P Proteção direcional de sobrepotência ativa
37Q Proteção direcional de sobrepotência reativa
48- Proteção contra partida longa, rotor bloqueado
49T
51LR Supervisão de temperatura
50N Sobrecorrente instantâneo de neutro
51N Sobrecorrente temporizado de neutro (tempo definido ou curvas inversas)
50G Sobrecorrente instantâneo de terra
50GS Sobrecorrente instantâneo de terra
51G Sobrecorrente temporizado de terra (com tempo definido ou curvas inversas)
51GS Sobrecorrente temporizado de terra (com tempo definido ou curvas inversas)
50BF Relé de proteção contra falha de disjuntor
51Q Sobrecorrente temporizado de sequência negativa (tempo definido ou curvas inversas)
51V Relé de sobrecorrente com restrição de tensão
51C Relé de sobrecorrente com controle de torque
59Q Relé de Sobretensão de sequência negativa
59N Relé de sobretensão residual ou sobretensão de neutro
62BF Relé de proteção contra falha de disjuntor
64G Relé de sobretensão residual ou sobretensão de neutro
64REF Proteção diferencial de fuga a terra restrita
67N Relé de sobrecorrente direcional de neutro instantâneo ou temporizado
67G Relé de sobrecorrente direcional de terra instantâneo ou temporizado
67Q Relé de sobrecorrente direcional de sequência negativa
78PS Proteção de perda de sincronismo

15
81L Proteção de subfrequência
81H Proteção de sobrefrequência
81R Taxa de variação da frequência (df/dt)
87B Proteção diferencial de barramento
87T Relé diferencial de transformador
87L Proteção diferencial de linha
87G Relé diferencial de gerador
87GT Proteção diferencial do grupo gerador-transformador
87M Proteção diferencial de motores

I.1.9- Características construtivas e operacionais.


Os relés de proteção apresentam diversas características que particularizam a sua aplicação num
determinado sistema, de acordo com os requisitos exigidos. Os relés podem ser fabricados de várias
formas, cada uma delas utilizando princípios básicos peculiares. Em relação à forma de construção, são
classificados como:

a) Relés Fluidodinâmicos.
Normalmente são construídos para ligação direta com a rede e são montados nos polos de
alimentação do disjuntor de proteção. Esses relés utilizam líquidos, em geral, o óleo de vaselina,
como elemento temporizador. Possuem um êmbolo móvel que se desloca no interior de um
recipiente, no qual é colocada certa quantidade de óleo, que provoca sua temporização quando o
êmbolo é deslocado para fora do recipiente pela ação do campo magnético formado pela bobina
ligada diretamente ao circuito protegido.
Não são mais fabricados desde que a NBR 14039 eliminou o seu uso como proteção principal de
subestação de consumidor. No entanto, ainda é muito grande a quantidade desse tipo de relé em
operação em pequenas e até médias instalações industriais. Em geral, foram empregados na
proteção de subestações de até 1000 KVA, sendo que muitas concessionárias limitavam sua
aplicação a valores inferiores.
Os relés fluidodinâmicos não foram utilizados pelas concessionárias de energia elétrica na
proteção de suas subestações de potência, em virtude da sua estreita possibilidade de coordenação
com os elos fusíveis de proteção de rede. Outra limitação do seu uso foi quanto à inaplicabilidade
de ser instalado ao tempo, situação característica das subestações das companhias de serviço
público de energia elétrica.

b) Relés Eletromagnéticos.
O princípio de funcionamento de um relé eletromagnético se baseia na força de atração exercida
entre elementos de material magnético. A força eletromagnética desloca um elemento móvel instalado
no circuito magnético de modo a reduzir a sua relutância, conforme pode ser visto na figura a seguir:
16
Contato móvel

Fluxo magnético

Terminais do circuito
de acionamento
Mola

Terminais do circuito
auxiliar de alimentação
do relé

O relé eletromagnético é constituído basicamente de uma bobina envolvendo um núcleo magnético, cujo
entreferro é formado por uma peça móvel na qual é fixado um contato elétrico que atua sobre um contato
fixo, permitindo a continuidade do circuito de acionamento do disjuntor. A referida peça móvel se
desloca no sentido de permitir o menor valor de relutância no circuito magnético.

c) Relés eletrodinâmicos.
Os relés eletrodinâmicos funcionam dentro do princípio básico de atuação de duas bobinas, uma
bobina móvel interagindo dentro de um campo formado por outra bobina fixa, tal como se constroem os
instrumentos de medida de tensão e corrente conhecido como os de bobina móvel. Na realidade, eles
não têm aplicação notável como elementos de proteção de circuitos primários, apesar de sua grande
sensibilidade. Por outro lado, um custo normalmente superior aos demais citados anteriormente.

d) Relés de indução.
Os relés de indução são também conhecidos como relés secundários, tendo sido largamente
empregados em sistemas industriais de potência e de concessionaria de serviço público, na proteção de
equipamentos de grande valor econômico.
Seu princípio de funcionamento é baseado na construção de dois magnetos, um superior e outro inferior,
entre os quais está fixado, em torno do seu eixo, um disco de indução. Esses núcleos magnéticos
permitem a formação de quatro entreferros, cada um sendo responsável pelo torque de acionamento do
disco. O núcleo superior é dotado de dois enrolamentos. O primeiro é diretamente ligado ao circuito de
alimentação, no caso um transformador de corrente, enquanto o outro é responsável pela alimentação do
núcleo inferior.
O disco de indução possui um contato, denominado contato móvel, que, com o movimento de rotação,
atua sobre um contato fixo, fechando o circuito de controle. Uma mola de restrição força o retorno do

17
disco de indução à sua posição original, responsável pela frenagem eletromagnética, e seu ajuste é feito
na instalação através de parafusos de ajuste.

e) Relés térmicos.
Em geral, algumas máquinas, tais como transformadores, motores, geradores, e etc., sofrem
drasticamente com o aumento da temperatura de seus enrolamentos, o que implica a redução de sua vida
útil e, consequentemente, falha do equipamento. Para se determinar o valor verdadeiro da temperatura
no ponto mais quente de uma máquina, é necessário introduzir sondas térmicas no interior dos
bobinados. Porém, apesar de sua eficiência, essas sondas passam a fazer parte do equipamento
fisicamente, acarretando consequências indesejáveis de manutenção.
No entanto, existem relés dotados de elementos térmicos ajustáveis, chamados de réplicas térmicas. Eles
são atravessados pela corrente de fase do sistema, diretamente ou por meio de transformadores de
corrente, e, através dos elementos térmicos com características semelhantes às características térmicas
do equipamento que se quer proteger. Atuam sobre o circuito de alimentação da bobina do disjuntor,
desenergizando o sistema antes que a temperatura atinja valores acima do máximo permitido para aquela
máquina em particular. Esses relés são também chamados de imagem térmica, por simularem a mesma
curva de aquecimento do equipamento a ser protegido.

f) Relés eletrônicos.
Os relés eletrônicos são fruto do desenvolvimento tecnológico da eletrônica dos sistemas de
potência. Na época em que eram fabricados atendiam a todas as necessidades de proteção dos sistemas
elétricos, competindo em preço e desempenho com os modelos eletromecânicos, exceto em pequenos
sistemas, quando se podiam utilizar os relés convencionais de ação direta, dispensando-se os
transformadores de medida e as fontes auxiliares de alimentação.
A tecnologia estática apresenta como vantagens adicionais sobre os relés convencionais eletromecânicos
a compacidade, a precisão nos valores ajustados e a facilidade de modificação das curvas de operação
em uma mesma unidade.

g) Relés digitais.
É uma proteção baseada em técnicas de microprocessadores. Os relés digitais mantêm os
mesmos princípios das funções de proteção e guardam os mesmos requisitos básicos aplicados aos relés
eletromecânicos ou de indução e aos relés estáticos ou eletrônicos. No entanto, eles oferecem além das
funções dos seus antecessores novas funções aos seus usuários adicionando maior velocidade, melhor
sensibilidade, interfaceamento amigável, acesso remoto, armazenamento de informações, e etc.
Enquanto os relés utilizam as grandezas analógicas de tensão e da corrente e contatos externos, bloqueios
etc., denominados eventos, os relés digitais utilizam técnicas de microprocessamento. Porém, as

18
grandezas de entrada continuam sendo analógicas, e são convertidas internamente para sinais digitais
através de conversores analógico-digitais A/D.
Os relés digitais chegaram ao mercado brasileiro nos meados da década de 1980, porém nos anos 90 sua
aplicação tomou um forte e definitivo impulso, à medida que a tecnologia de digitalização dos sistemas
elétricos foi sendo cada vez mais aperfeiçoada e universalizada.

Ao contrário dos relés eletromecânicos de indução e dos relés eletrônicos, os relés digitais, devido ao
fato de operarem segundo uma programação inteligente e poderosa, têm a capacidade de processar
digitalmente os valores medidos do sistema, tais como tensão, corrente, frequência etc., e de realizar
operações lógicas e aritméticas. Além de exercer as funções de seus antecessores tecnológicos,
apresentam as seguintes vantagens:
- Pequeno consumo de energia, reduzindo a capacidade dos transformadores de corrente.
- Elevada confiabilidade devido à função de autossupervisão.
- Diagnóstico de falha por de armazenagem de dados de falta.
- Possibilidade de se comunicarem com um sistema supervisório, por meio de uma interface
serial.
- Possibilidade de serem ajustados à distância.
- Durante os procedimentos de alteração nos ajustes, mantêm a proteção do sistema elétrico ao
nível dos ajustes existentes.
- Elevada precisão devido à tecnologia digital.
- Amplas faixas de ajuste com vários degraus; ajuste dos parâmetros guiado por uma interface
amigável.
- Indicação dos valores de medição e dos dados de falha por meio de display alfanumérico.
- Segurança operacional com a possibilidade de estabelecer uma senha do responsável pelo seu
ajuste.

A tecnologia analógica dos relés digitais pode ser resumida no fato de que os sinais analógicos de entrada
são isolados eletricamente pelos transformadores de entrada dos relés após o que são filtrados
analogicamente e processados pelos conversores analógico-digitais.

Os relés digitais são dotados dos seguintes elementos de indicação e operação:

a) Display (mostrador) alfanumérico


É utilizado para mostrar os valores de medição e de ajuste, os dados armazenados na memória de
massa e as mensagens que o relé quer transmitir.

19
b) Teclas
São utilizadas para ativar os parâmetros de medida a serem indicados e alterar o armazenamento
desses parâmetros.
Os relés digitais são caracterizados por três tipos de funções:
1- Funções de proteção
São aquelas que monitoram as faltas e atuam em tempo muito rápido. São dotadas de larga faixa
de medição, atuando em valores que podem atingir 20 vezes a grandeza nominal. Um exemplo de função
de proteção é a proteção de sobrecorrente.
2- Funções de medição
São aquelas que exercem a supervisão do sistema elétrico. Algumas medições são registradas
diretamente pelo relé, tais como tensão e corrente, enquanto outras são obtidas através de cálculos
numéricos, tais como potência e fator de potência. A medição de corrente de um alimentador é um
exemplo de função de medição.
Para melhor entendimento do relé digital é importante descrever as diferentes etapas de processamento
das informações recebidas pelo mesmo por meio de seus terminais de entrada, bem como os sinais
enviados aos equipamentos de manobra e sinalização, e o resultado desse processamento deve ser
comparado com valores pré-ajustados.

Etapas de processamento do relé digital:

a) Interface com o processo


Há duas formas do relé digital interfacear com o processo elétrico:
- Condicionamento dos sinais
Significa realizar a interface entre o processo elétrico e o ambiente eletrônico, isolando
galvanicamente os referidos ambientes, a fim de evitar que as grandezas do sistema elétrico normalmente
de valor elevado, tais como tensão e corrente, causem danos aos circuitos muito sensíveis do relé digital
que operam com valores típicos  5 a  15 V.
O relé digital é dotado de um conjunto de filtros analógicos cuja finalidade e reduzir os efeitos dos ruídos
contidos nos sinais de entrada. Para determinadas funções, como, por exemplo, a proteção de
sobrecorrente, o conjunto de filtros deixa passar apenas os sinais da frequência fundamental.
O isolamento galvânico, citado anteriormente, é exercido nos relés digitais pelos transformadores de
corrente e de potencial.
- Conversão dos sinais analógicos para digital
Realizado o acondicionamento do sinal, este deve ser convertido da forma analógica para a
digital. Os relés contêm vários canais de entradas, CE, que alimentam no final o conversor
analógico/digital, A/D. Sendo um componente de custo elevado, utiliza-se apenas uma unidade que tem

20
a capacidade de converter um canal de cada vez. Assim, cada canal de entrada CE coleta uma amostra
do sinal e o armazena analogicamente, utilizando, por exemplo, um capacitor, até que o conversor A/D
possa obter uma representação numérica do mesmo.
No circuito de conversão existe um elemento denominado multiplexador que tem a função de selecionar
e ordenar o sinal que deve ser processado pelo conversor A/D.
É interessante observar que os diferentes canais de entrada podem conter diferentes tipos de grandezas
elétricas, por exemplo, corrente nas fases A, B, C e neutro ou as tensões entre fases AB, BC, CA, fase-
neutro e mais uma tensão residual. Por sua vez, o conversor A/D realiza a conversão analógica da
grandeza elétrica numa sequência numérica que é enviada aos microprocessadores.

b) Microprocessadores
São elementos do relé que recebem os sinais digitais do conversor, além dos sinais digitais
gerados naturalmente pelos contatos secos de chaves, contatores etc., e executam as funções de medição,
proteção, controle etc. O resultado dessas operações é mostrado no display de cristal líquido do relé e/ou
enviado para os canais de saída, representados por diodos de saída.
Os microprocessadores também exercem a função de autossupervisão e comunicação serial. São
operados por programas dedicados denominados algoritmos, responsáveis pela elaboração dos cálculos.

c) Memória
Os relés podem ser dotados de um ou mais tipos de memória:
- Memória RAM (Random Access Memory) => É aquela que armazena os dados variáveis de
natureza temporária, tais como alarmes, correntes de atuação, etc. Os dados armazenados podem ser
eliminados na memória RAM quando da ausência da tensão auxiliar de alimentação do relé, sem que
isso comprometa o desempenho da unidade.
- Memória ROM (Read Only Memory) => É aquela na qual é armazenado um conjunto de
informações proprietárias do fabricante do relé. Esse tipo de memória somente pode ser acessado para a
operação de leitura.
- Memória PROM => É uma memória ROM que pode ser programada eletricamente.
- Memória EPROM => É uma memória ROM que pode ser programada eletricamente várias
vezes. Antes de qualquer regravação, seu conteúdo anterior é eliminado por meio de raios ultravioleta.
- Memória EEPROM => É uma memória PROM cujos dados armazenados podem ser eliminados
eletricamente. Nesse tipo de memória, são armazenadas informações de caráter variável que não podem
ser eliminadas com a ausência de tensão auxiliar, tais como energia acumulada, ajuste das proteções,
contagem de eventos etc.
- Memória FLASH => Tem características semelhantes à memória EEPROM, no entanto, as
informações podem ser eliminadas eletricamente, aplicando um determinado tipo de tecnologia.

21
d) Entradas e saídas seriais.
São componentes do relé capazes de receber e enviar informações digitais, tais como mensagens
operacionais, estado de operação do disjuntor etc. As entradas/saídas digitais normalmente empregadas
nos relés são a RS232 e a RS485.

e) Fonte de alimentação.
Os relés digitais necessitam de uma fonte de tensão operando em baixas voltagens para alimentar
seus circuitos internos. A fonte de alimentação auxiliar normalmente utilizada é um banco de baterias
provido de um retificador/carregador. Em geral, as tensões auxiliares mais empregadas são: 24 – 48 –
125 – 220 Vcc. A tolerância de variação da tensão auxiliar está compreendida entre 10 e 20%.

f) Autossupervisão.
A fim de garantir a compatibilidade de um sistema elétrico e do próprio dispositivo, os relés
digitais são monitorados constantemente por um software dedicado que informa o estado dos diversos
componentes que integram a unidade, ou seja, fonte de alimentação, processador, memórias etc. No caso
da ocorrência de uma condição não favorável ao desempenho do relé, um alarme sonoro e/ou luminoso
será emitido indicando a sua origem.

g) Interface homem-máquina.
Normalmente, o relé é acompanhado de software que permite ao usuário, a partir de um
microcomputador, comunicar-se facilmente com o dispositivo de proteção. A comunicação tem por
objetivo introduzir e alterar os ajustes dos relés, acessar informações armazenadas e carregar tais
informações para análise posterior. A fim de facilitar a solução para os usuários, normalmente os
software oferecidos são executados em ambiente Windows.

h) Relatório de falhas.
Os relés numéricos, em geral, são dotados de memórias para armazenamento de eventos
relacionados a eles próprios, além de informações sobre os últimos defeitos ocorridos no sistema elétrico
que protege. Normalmente são armazenados os últimos 50 eventos relacionados aos relés, e o último
evento depois de completada a memória de armazenamento anula o primeiro evento, e assim
sucessivamente.

22
II - REDUTORES OU TRANSFORMADORES DE MEDIDA
II.1- INTRODUÇÃO
Assim como os dispositivos de medida, os relés são usualmente conectados ao sistema de potência
através de transformadores de corrente e/ou potencial.
A grande expansão dos sistemas elétricos exige o uso de correntes e tensões cada vez maiores. Estes
sistemas para serem controlados e protegidos necessitam transmitir aos instrumentos de medição e
proteção essas grandezas.

Como é economicamente inviável o uso de instrumentos que meçam diretamente as tensões e correntes
de linha, utilizam-se os transformadores de medida que possuem os seguintes objetivos:

a) Alimentar o sistema de proteção e medição com tensão e corrente reduzidas, mas


proporcionais às grandezas dos circuitos de força.
b) Proporcionar o isolamento entre o circuito de alta tensão e os instrumentos de medição e
proteção e, consequentemente, segurança pessoal.
c) Padronizar a fabricação dos instrumentos de medida.

Praticamente, apenas duas grandezas são medidas através dos redutores de medida, ou seja, a corrente
com o uso do transformador de corrente (TC) e a tensão com o uso do transformador de potencial
(TP).

II.2- TRANSFORMADORES DE CORRENTE (TC’s)


São dispositivos que têm o primário ligado em série com o circuito principal e o secundário ligado aos
relés e/ou instrumentos de medição, cujo valor da corrente secundária depende da relação de
transformação do equipamento (número de espiras dos enrolamentos).

O enrolamento primário dos TC’s é normalmente constituído de poucas espiras (duas ou três, por
exemplo), podendo ser até mesmo o próprio condutor ao qual o TC está conectado.

O enrolamento secundário possui um número elevado de espiras e é projetado para correntes nominais
padronizadas de 1 ou 5 A, sendo a corrente primária nominal estabelecida de acordo com a ordem de
grandeza da corrente do circuito em que o TC está ligado.

23
II.2.1- LIGAÇÃO DE UM TRANSFORMADOR DE CORRENTE
A bobina primária do TC é ligada em série com a carga conforme figura abaixo:

A corrente de carga passa pela bobina primária do TC. Portanto, para que o TC não produza queda de
tensão e seu consumo de energia seja insignificante, sua bobina primária deve ter:

- Fios grossos, para que sua resistência elétrica seja bem pequena;
- Poucas espiras, para que sua reatância seja a menor possível.

Observe que, como a bobina primária do TC está em série com a carga, sua corrente varia de acordo
com a solicitação da mesma. Por isso, o TC deve ser dimensionado para ter bom desempenho para um
grau bem variado no valor da corrente. Esta corrente varia desde zero (circuito sem carga) até a corrente
de demanda máxima do sistema elétrico em regime permanente e em defeito até a corrente máxima de
curto-circuito no local da instalação do TC. Os instrumentos ligados no secundário do TC estão todos
em série, para garantir que a corrente elétrica seja a mesma em todos os equipamentos.

II.2.2 POLARIDADE DO TC
Resumidamente, a polaridade é a direção relativa da tensão induzida nos terminais primários do TC (de
H1 para H2) quando comparada com a tensão induzida nos terminais secundários (de X1 para X2).

- Polaridade subtrativa => é aquela em que a tensão induzida no primário e secundário está na
mesma direção, mostrado na figura:
Corrente no primário Corrente no secundário
do transformador do transformador
H1 X1

Tensão no primário Tensão no secundário


do transformador do transformador

H2 X2
24
- Polaridade aditiva => é aquela em que a tensão induzida no primário e secundário está em
direções opostas, mostrado na figura:
Corrente no primário do
transformador
H1 X1

Tensão no primário Tensão no secundário


do transformador do transformador

H2 X2
Corrente no secundário
do transformador

A marcação da polaridade dos TC’s, TP’s e transformadores de força, utilizados na empresa, é subtrativa.

II.2.3 CARACTERIZAÇÃO DE UM TC
Segundo a ABNT, os valores nominais que caracterizam um TC são:
a) Relação e corrente nominal de um TC.
Dentro da precisão requerida, considera-se o TC um transformador operando dentro das
características ideais. Dessa forma, vale a relação similar à Lei de Ohm, aplicada a circuitos
eletromagnéticos. Isto é:
FP  FS  .
Onde:
FP => Força magnetomotriz da bobina primária do TC
FS => Força magnetomotriz da bobina secundária do TC
 => Relutância do circuito magnético do núcleo do TC
 => Fluxo magnético no núcleo do TC
N P I P  N S I S  .
Para o transformador ideal, a relutância magnética vale zero.
N P I P  N S I S  0 => N P I P  NSIS
NP 1 N I
IS  I P ; IS  I P ; RTC  S ; I S  P
NS NS NP RTC
NP
Como os equipamentos de proteção são padronizados para 5A, as relações de transformação do TC são
convencionalmente denotadas por X/5, como indica a figura abaixo:
RTC = X/5
IP = X A

IS = 5 A
Relé 25
Assim, pela NBR 6856 da ABNT, as correntes primárias do TC são de 5, 10, 15, 20, 25, 30, 40, 50, 60,
75, 100, 150, 200, 250, 300, 400, 500, 600, 800, 1000, 1200, 1500, 2000, 2500, 3000, 4000, 5000, 6000,
8000 A.
Os valores sublinhados são os usados segundo a norma ANSI.

Exemplo: Considerando o TC da figura abaixo, determinar:


1- A relação de transformação do TC e a corrente nominal primária;
2- A corrente secundária que passa pelo relé.

b) Classe de tensão de isolamento nominal de um TC.


É definida pela tensão do circuito ao qual o TC vai ser ligado (em geral, a tensão máxima de
serviço). Os TCs usados em circuitos de 13,8 KV, por exemplo, têm classe 15 KV.

c) Frequência nominal.
São normais as frequências de 50 e/ou 60 Hz.

d) Fator de sobrecorrente do TC.


O fator de sobrecorrente (FS) do TC é definido pela relação da máxima corrente simétrica de
curto-circuito que pode passar pelo primário do TC e sua corrente primária nominal, para que a precisão
de sua classe de exatidão seja mantida.
I
Pmáximo de curtocircuito
FS 
I Pno min al do TC

As precisões dos TC’s para proteção são de 2,5%, 5% e 10%, sendo o mais comumente utilizado de
10%.

Os valores do fator de sobrecorrente (FS) padronizados pelas normas ANSI e ABNT é 20 vezes a corrente
nominal secundária.

26
800
Por exemplo, um TC com relação de transformação de 𝑒 𝐹𝑆 = 20 só pode ser usado em um
5
sistema elétrico, se a máxima corrente de curto-circuito no local de instalação do TC não ultrapassar o
valor de:
I Pmáximo curtocircuito  20.800  16KA
Isto significa que para corrente de curto circuito menor ou igual a 16 KA o erro que o TC envia ao seu
secundário é menor ou igual a 10%.
Considere a figura a seguir que mostra a correspondência entre as correntes primárias e secundárias do
TC:
IS (A)
20IS NOMINAL
≤ 10%
I
IS  P
RTC

Devido à saturação
IP
IS   I' 0 do núcleo do TC
RTC

IP (A)
20IP NOMINAL

Construtivamente, o FS produz uma limitação no TC quanto ao seu erro produzido pela não linearidade
da curva de magnetização do núcleo. Essa limitação é dada pela expressão:
I curto  circuito  FS .I P no min al do TC

A limitação na figura anterior é a garantia do TC de não ultrapassar o seu erro de sua classe de exatidão.
Os erros do TC são expressos por classe de exatidão definida de várias maneiras de acordo com a norma
empregada.
Como o primário tem poucas espiras e as perdas no material ferromagnético são pequenas, temos os
seguintes três casos de operação do TC de interesse prático em relação a proteção:

I - Operação normal.
Na operação normal, isto é, dentro de sua precisão, pode-se considerar I’0 igual a zero.
IP
Logo, I S 
RTC

II - Operação no joelho da curva de magnetização.


Na operação do TC no joelho da curva de magnetização, a corrente I’0 aumenta
consideravelmente. Desse modo a corrente enviada ao secundário do TC estará distorcida com alto
conteúdo de harmônicas. Como na proteção a prioridade é a rapidez, costuma-se utilizar os TCs com
27
classe de exatidão de até 10%. Esse é o conteúdo aceitável, mas a partir daí as distorções são mais
acentuadas provocando graves desvios no desempenho dos equipamentos que compõem a proteção,
comprometendo a qualidade desta. Os principais problemas são a perda e a distorção da sensibilidade,
seletividade e coordenação das proteções, podendo, indevidamente provocar a atuação ou a não atuação
destas.

III - Operação dentro da saturação do TC.


Quanto mais se avança no joelho da curva de magnetização do TC, menos corrente será enviada
aos relés e mais corrente será exigida para a magnetização do núcleo do TC. Portanto, operando dentro
da saturação do TC parte da corrente será enviada para a magnetização (excitação) do núcleo. Assim,
 I
I'0  P
com o aumento do nível de saturação do núcleo do TC, temos:  RTC
 I S 0

Considerando-se o TC operando completamente saturado, temos o seu circuito mostrado na figura a


seguir:

I1
H1 Z’1=K².Z1 Z2
X1
I’1= I1/K I’0 I2

Z’m Vt Zcarga

X2
H2

Na saturação a impedância Z’m → 0 e, portanto, o núcleo do TC é representado por um curto como


mostrada na figura. Desse modo, a corrente no secundário do TC é praticamente zero. Logo, verifica-se
no circuito da figura, um curto-circuito na sua bobina de excitação, de modo que não haverá nenhuma
(ou pouca) corrente na saída do secundário do TC, de forma que os relés não serão sensibilizados pela
corrente de defeito, ou seja, a proteção não atua. Isso mostra a relevância do bom dimensionamento dos
TCs, para não prejudicar a qualidade do desempenho da proteção.

Obs.: Se na ocorrência do curto-circuito houver razoável componente contínua, o valor da corrente


simétrica deve ficar menor que 20.Inominal do TC, para não prejudicar e garantir a sua classe de exatidão.

e) Classe de exatidão.
A classe empregada depende da aplicação (medição, controle e proteção):
28
1- TCs de medição – Por norma (ABNT), têm as seguintes classes de exatidão: 0,3; 0,6 e 1,2%.
A classe 0,3% é obrigatória em medição de energia para faturamento. As outras são usadas
nas medições de corrente, potência, ângulo, etc.

Em geral, a indicação da classe de exatidão precede o valor correspondente à carga nominal padronizada,
por exemplo: 0,6-C2,5. Isto é, índice de classe = 0,6%, para uma carga padronizada de 2,5 VA.

2- TCs de proteção - É importante que os TCs retratem com fidelidade as correntes de defeito,
sofrendo, o mínimo possível, os efeitos da saturação.
Na Fig. a seguir, está representado o circuito equivalente de um TC, com todas as grandezas referidas
ao secundário:
I1 – valor eficaz da corrente primária (A);
K = N2/N1, relação de espiras secundárias
para primárias;
I1 Z1 – impedância do enrolamento
H1 Z’1=K².Z1 Z2 primário;
X1 Z’1 – idem, referida ao secundário;
I’1= I1/K I’0 I2 I’0 = I0/K, corrente de excitação, referida
ao secundário;
Z’m – impedância de magnetização,
Z’m E2 Vt Zcarga referida ao secundário;
E2 – tensão de excitação secundária
(volts);
Z2 – impedância do enrolamento
X2 secundário;
H2 I2 – corrente secundária (ampères);
Vt – tensão nos terminais do secundário
(volts);
Zc – impedância da carga (ohm).

As verdadeiras correntes do primário e secundário do TC são as apresentadas na figura acima. A corrente


que passa pela carga (equipamentos e relés conectados no secundário do TC) é a corrente I 2.

Portanto aplicando a 1ª lei de Kirchhoff no nó do circuito acima, temos:


I1 I
 I'0 I 2 ; I 2  1  I'0
K K
Deste modo I’0 é a corrente responsável pelo erro causado pelo TC, ou seja, erro de relação e ângulo de
fase. O TC para proteção deve fornecer ao seu secundário uma corrente I2 com bastante fidelidade,
principalmente durante o curto-circuito.
Os relés de sobrecorrente devem atuar adequadamente para correntes de curtos-circuitos. Não há
necessidade de obter exatidão absoluta na corrente secundária do TC que entra no relé, mas apenas ter
um valor aproximado de sua grandeza, principalmente durante o curto-circuito de modo a atender a
filosofia de proteção.

29
A filosofia da proteção é: Na ocorrência de um defeito no sistema elétrico, a proteção deve comandar
a abertura do disjuntor o mais rápido possível de modo a eliminar o curto-circuito e deixar o menor
número de consumidores sem energia. Portanto, na ocorrência de um curto-circuito a prioridade é a
rapidez e não a precisão do valor da corrente elétrica como a exigida em medição.

A proteção atua para correntes de curto-circuito elevadas e estas podem levar à saturação do núcleo
magnético do TC.
A curva de magnetização (ou de excitação) do núcleo do TC é mostrada na figura a seguir:

Φ E2
Não linear
45º
Saturação

Ponto ANSI
Linear (Knee-point)

I’0
Observe que pelo modelo do TC do seu circuito equivalente a corrente I 2 aumenta, a tensão E2 também
aumenta e consequentemente aumenta o fluxo magnético dentro do núcleo do TC, aumentando a
corrente de magnetização I’0. Portanto a corrente que entra no relé terá mais erro.
Na operação normal do sistema elétrico a corrente de carga é pequena, e o fluxo magnético no núcleo
do TC opera com valor pequeno, isto é, dentro da região linear da curva de magnetização. Nesse caso, o
erro do TC é pequeno, podendo dentro da precisão ser compatível com os equipamentos de medição do
sistema.
Durante o defeito, a corrente de curto-circuito é elevada, aumentando-se assim a tensão E2 e o fluxo
magnético. Quando o fluxo magnético entra no joelho da curva de magnetização do TC, aumenta-se
acentuadamente a corrente de magnetização I’0. Assim, o relé está sendo alimentado por uma corrente
errada e distorcida pelas harmônicas oriundas da não linearidade do joelho da curva de magnetização.
Ainda, no defeito, isto é, durante o período onde a corrente de curto-circuito é alta, a prioridade não é
fazer medições, mas sim, fazer a proteção atuar adequadamente o mais rápido possível dentro das
limitações operativas e de coordenação. Portanto, nesse caso, o importante é rapidez e não a precisão.
Então para o caso específico da proteção, admite-se para o curto-circuito, uma precisão de 2,5%, 5% ou
10% nas correntes secundárias do TC.
Logo, admite-se uma corrente máxima de curto-circuito, de modo que o fluxo magnético fique a 2,5%,
5% ou 10% dentro da região não linear da curva de magnetização do TC.
O ponto de precisão de 10% é obtido no ponto ANSI, ou seja, no ponto onde a reta a 45º em relação ao
eixo da abscissa, tangencia a curva de magnetização do TC mostrada em um gráfico log-log.

30
 Segundo a norma ANSI, define-se classe de exatidão do TC pela máxima tensão que pode
aparecer no secundário do TC no instante da máxima corrente de curto-circuito, de acordo com
o seu fator de sobrecorrente, ou seja, uma corrente no primário de 20.I PNominal, para que o erro
não ultrapasse 2,5%, 5% e 10%.
Seja a figura a seguir:
X/5

IS =20.5=100 A IP = 20X
Vmax

Zcarga
Nota-se na figura que quando o curto-circuito no primário for de 20.X, no secundário a corrente é de
100 A. Portanto, no secundário do TC a corrente não pode ultrapassar 100 A, sob pena de exceder o erro
de sua classe de exatidão. Quando a corrente de curto-circuito for de até 20.X, e a tensão secundária na
carga do TC não exceder o seu valor máximo, significa que o TC está dentro de sua classe de exatidão
e o TC funciona como se fosse um TC ideal.

Pela ANSI as possíveis combinações das classes de exatidão dos TCs são dadas a seguir:

Por exemplo, um TC – Classe 10H200 é um TC de alta reatância, tal que


 10  quando ocorrer um curto-circuito cuja corrente secundária é 20x5=100 A, no
 20 
  máximo poderá ter no secundário 200 volts, para que o erro devido a
2,5  50  saturação do núcleo do TC não ultrapasse a 10%.
  L  
 5  100  Obs.: Muitos fabricantes têm os TCs com as tensões de excitação no ponto
 10 H 200
    ANSI entre os valores da coluna da direita, cuja especificação é feita para
400 valores imediatamente abaixo. Isso representa uma folga na classe de
  exatidão do TC com respeito ao dimensionamento, objetivando uma margem
800 de segurança ao projetista, incluindo a componente contínua.

A carga no secundário do TC será a máxima que pode ser conectada de modo a não ultrapassar a máxima
tensão dada pela sua classe de exatidão.

Vmáximo  Z c arg a .I S

Sendo Z c arg a  Z sec undário do TC  Z fiação   Z relés .

1º Exemplo: Qual a máxima carga que se pode conectar no secundário do TC 10H400.

2º Exemplo: Em relação ao diagrama unifilar da figura dada para um TC 10H400, calcular:


a) A corrente no secundário do TC quando passa no primário uma corrente de 480 A.
b) A corrente no secundário para o curto-circuito no terminal do TC.

31
c) A máxima carga no secundário, para que o TC fique dentro de classe de exatidão.
600/5
IP = 480 A

IS IPmax = 8400 A
Vmax
Zcarga

 Segundo a norma ABNT define-se a classe de exatidão do TC, como sendo a máxima potência
aparente (VA) consumida pela carga conectada ao secundário do TC, para uma corrente nominal
de 5 A e que o máximo curto-circuito limitado pelo seu fator de sobrecarga, o seu erro não
ultrapasse o da sua classe de exatidão, mostrado na figura a seguir.

X/5

IS =5 A
VS

Scarga

Pela ABNT as possíveis combinações das classes de exatidão dos TCs são dadas a seguir:
 2,5 
 5  Por exemplo, um TC – Classe A10F20C50 é explicitada como
 
12,5  segue:
  A → TC de alta reatância;
 5  22,5 10 → Erro admissível da sua classe de exatidão (10%);
2,5  
A   10   25  F → Fator de sobrecorrente;
  5 F C  20 → 20IN = 20x5 A = 100 A;
 B  10  15   45 
  20  50  C → Carga no secundário do TC em VA definido para a corrente
 
  nominal de 5 A;
 90  50 → 50 VA, carga do TC para uma corrente nominal de 5 A do
 100  TC.
 
 200 

2 V I
Portanto, S c arg a  Z c arg a I S S S

3º-Exemplo: Especificar o TC – Classe A10F20C50 segundo a norma ANSI.


Atualmente são empregadas as seguintes classes de precisão:

32
f) Fator Térmico de um Transformador de Corrente.
O Fator Térmico (FT) de TC é definido como sendo a relação entre a máxima corrente primária
admissível em regime permanente e a sua corrente nominal.
Os valores mais usuais são: 1,0; 1,2; 1,3; 1,5 e 2,0.
Um TC pode operar carregado plenamente e permanentemente até o limite térmico sem prejudicar seu
desempenho, vida útil e nível de isolação. O fator térmico é importante, porque já contempla o
crescimento da carga do alimentador e das possíveis folgas nas eventuais situações de contingências e
emergências no sistema elétrico.

4º Exemplo: Qual a máxima corrente de regime permanente que pode passar pelo alimentador do
diagrama unifilar dado a seguir.
600/5
Alimentador

FT = 1,5
A
Relé

g) Limite Térmico do Transformador de Corrente.


O Limite Térmico (LT) do TC é a máxima corrente de curto-circuito simétrica que o
transformador de corrente pode suportar durante 1 s, com o secundário em curto-circuito. Veja a figura:
X/5

Icurto-circuito = Limite Térmico

Curto

Essa limitação é causada pela máxima temperatura dada pela sua classe de isolação. Nesse ensaio,
durante o curto-circuito os esforços eletromecânicos e de aquecimento não deverão de nenhum modo
comprometer a integridade do TC.
Se a proteção juntamente com o disjuntor demorar um tempo maior do 1 s para eliminar o curto-circuito,
a corrente limite para o TC fica determinada pela expressão:

2
I sc t AD  K

Onde:
Isc → corrente limite de curto-circuito que persiste durante o tempo t AD;
tAD → tempo de abertura do disjuntor;
K → constante que depende das características construtivas do TC.
33
5º Exemplo: Um TC tem seu limite térmico de 40 KA. Qual a corrente permissível que pode passar pelo
TC, sabendo que o disjuntor demora 2 s para eliminar o defeito.

h) Limite Dinâmico do Transformador de Corrente.


Limite Dinâmico (LD) é definido como o maior valor eficaz da corrente primária assimétrica
que o TC pode suportar por um determinado tempo (geralmente 0,1 s), com o secundário em curto, sem
se danificar mecanicamente, devidas as ações das forças eletromagnéticas. Segundo a norma VDE vale
2,5 vezes o limite térmico (LT).

II.2.4 DIFERENÇA ENTRE TC DE MEDIÇÃO E PROTEÇÃO.


De forma geral, os TCs se classificam em dois tipos:
- TC para serviço de medição;
- TC para serviço de proteção.
Os TCs para serviço de medição devem manter o seu erro de sua classe de exatidão para correntes de
carga indicadas na expressão:
0,1I no min al do TC  I c arg a  I no min al do TC

Suas classes mais usuais são de 0,3; 0,6 e 1,2%.


Ou seja, os TCs de medição devem manter sua precisão para correntes de carga normal.

Já os TCs de proteção devem ser precisos até o seu erro aceitável para corrente de curto-circuito de
20INominal. Portanto o núcleo magnético do TC de proteção deve ter seção transversal grande, para não
saturar durante o curto-circuito.
Os núcleos magnéticos dos TCs de medição são de seção menor que os de proteção, para
propositadamente saturarem durante os curtos-circuitos. Isto é favorável, porque a saturação limita o
valor da sobretensão aplicada nos equipamentos de medição. Logo, a saturação é uma proteção, evitando
a perfuração por sobretensão da isolação dos TCs de medição. Geralmente os TCs de medição saturam
para uma corrente de 4INominal. A figura abaixo mostra a saturação das curvas de magnetização do núcleo
do TC de medição e proteção.

Saturação proteção
Φ E2

Saturação medição

4IN 20IN IP 34
Então, para o TC poder contemplar estas duas características, o braço do núcleo magnético da bobina
secundária de medição deve ser fino, e o braço da bobina secundária de proteção deve ser grosso. Para
Atender esse propósito, pode-se:
 Usar dois TCs, um para medição e outro para a proteção, ou,
 Usar um TC com três enrolamentos, com braço de medição fino e o braço do enrolamento de
proteção grosso.

II.2.5 IMPEDÂNCIA DA FIAÇÃO.


Podemos ter TCs instalados no pátio da subestação e os equipamentos de medição, controle e relés estão
na sala de controle (operação), como mostra a figura:
Barra TC
Alimentador
Terminal do TC
R
Fiação R
R

Sala de operação

Como a distância do TC aos equipamentos da sala de operação é grande, deve-se considerar a carga
adicional da fiação no carregamento do TC.

Logo, a impedância dos fios de cobre é dada por:

Z c arg a   cobre
L

S cobre
Sendo:
L  comprimento total da fiação de cobre (m )
S cobre  seção da fiação de cobre (mm 2 )
1 mm 2
 cobre 
58,82 m

O carregamento total conectado ao secundário do TC, para obtenção da classe de exatidão é dado pela
expressão:
L
Z c arg a do TC  Z sec undário do TC   cobre   Z relés
S cobre

6º Exemplo: Um TC tem uma fiação de 10 mm², cujo comprimento até a sala de operação é de 180 m.
Qual a carga da fiação conectada no secundário do TC?

35
II.2.6 CARGAS TÍPICAS DE MEDIÇÃO.
As cargas dos dispositivos de medição e controle devem ser obtidas do fabricante. Algumas cargas
típicas dos aparelhos de medição são apresentadas na tabela a seguir e as potências estão de acordo com
a ABNT, isto é, quando passam 5 A no secundário do TC e nos equipamentos de medição.

Tabela de cargas típicas dos dispositivos de medição da GE


Impedância Resistência
TIPO Z (ohms) R (ohms) VA W VAr cosϕ
AMPERÍMETROS
CD-3, CD-4 0,515 0,140 12,8 3,5 12,3 0,27
CD-27, CD-28
AB10, AB12, 0,116 0,055 2,9 1,4 2,5 0,48
AB13
AH-11 0,090 0,085 2,25 2,1 0,9 0,92
WATTÍMETROS
AB10, AB12, 0,102 0,023 2,5 0,6 2,5 0,22
AB13
AB-15, AB-16, 0,063 0,019 1,6 0,5 1,5 0,30
AB-18
P3 0,160 0,145 4,0 3,6 1,5 0,92
MEDIDORES DE WATT-HORA
I-30 0,106 0,052 2,6 1,30 2,30 0,50
V-65 0,008 0,005 0,2 0,12 0,12 0,69
IB-10 0,044 0,030 1,1 0,80 0,80 0,70
FASÍMETROS
AB10, AB12, 0,144 0,100 3,6 2,6 2,5 0,72
AB13
P-3 0,100 0,090 2,5 2,2 1,0 0,90

II.2.7 CARGAS DOS RELÉS.


Os relés são os principais elementos da proteção. Eles representam uma carga considerável no
carregamento do TC. Estão assim distribuídos:
 Relés de carga fixa: São relés em que o ajuste não é feito através de derivações da sua bobina
magnetizante. Sua impedância conectada no secundário do TC é fixa, isto é, não varia com a
mudança do ajuste da corrente de atuação do relé. Estes são os relés eletromecânicos de êmbolo
ou armadura atraída, na qual o ajuste pode ser feito do seguinte modo:
- mudança no entreferro do seu circuito magnético;
- tracionamento na mola de braço móvel do relé.

36
Os relés digitais também apresentam carga fixa em relação ao secundário do TC, isto porque os relés
digitais são supridos por uma fonte de alimentação externa. Por esse motivo o relé digital representa uma
carga mínima em relação ao secundário do TC. A carga do relé digital pode ser desconsiderada em
relação à alta impedância do relé eletromecânico. A carga do relé digital geralmente é ≤ 0,03Ω.
 Relés de carga variável: São os relés eletromecânicos em que o ajuste da corrente de atuação é
feito pela mudança do tap na sua bobina de magnetização. Como a impedância do relé depende
do tap escolhido e para facilitar a obtenção desse valor, o fabricante informa sempre a maior
impedância do relé correspondente ao menor tap. Os valores da impedância do relé referidos ao
menor tap são dados na tabela a seguir:

MODELO FAIXA DE TAPs IMPEDÂNCIA NO


DO RELÉ [A] MENOR TAP [Ω]
IAC51A101A 4 - 16 0,35
IAC51A2A 1,5 - 6 2,40
IAC51A3A 0,5 - 2 22,0
IAC51B101A 4 - 16 0,38
IAC51B2A 1,5 - 6 2,43
IAC51B3A 0,5 - 2 22,2
IAC51B22A 0,5 - 2 23,0
IAC52B3A 0,5 - 2 22,2
IAC52B101A 4 - 16 0,38
IAC53101A 4 - 16 0,12
IAC53B33A 1,5 - 6 4,62
IAC53B3A 0,5 - 2 4,19
IAC53B35A 0,5 - 2 16,8
IAC53B32A 0,1 – 0,4 107,5
IAC55B18A 0,5 - 2 54,2
IAC55B3A 0,5 - 2 54,4
IAC77A3A 0,5 - 2 1,60
IAC77A2A 1,5 - 6 0,20
C02 0,5 - 2 19,2
C02 2-6 1,26
C02 4 - 12 0,30
C05 0,5 - 2 15,68
C05 2-6 0,97

37
C08 0,5 - 2 9,52
C08 2-6 0,60
C08 4 - 12 0,15
C09 0,5 - 2 9,52
C09 2-6 0,60
C09 4 - 12 0,15
C011 0,5 - 2 2,88
C011 2-6 0,18
C011 4 - 12 0,05
ICM2 0,5 - 2 16,4
ICM2 4 - 16 0,25

O menor tap representa a maior impedância do relé. Em outro tap, a impedância diminui, tendo o seu
menor valor no tap máximo. Se for utilizado o menor tap do relé no carregamento do TC, o mesmo
estará bem dimensionado em relação a sua classe de exatidão. Qualquer mudança de tap do relé
corresponde a um alívio de carga no TC.
Para obter a impedância do relé, correspondente a outro tap, basta usar a equação de equivalência da
potência aparente, dada pela expressão:

  
Z Tap I Tap 2  Z Tap mínimo I Tap mínimo 2 
Onde:
Z Tap mínimo  impedância do tap de menor corrente;
I Tap mínimo  corrente do menor tap;
Z Tap  impedância do novo tap;
I Tap  corrente do novo tap.

7º Exemplo: O relé IAC51 da GE tem uma impedância de 21,2Ω e a faixa de Taps disponíveis é de:
0,5-0,6-0,7-0,8-1,0-1,2-1,5-2,0A.
a) Qual a impedância no Tap de 1A?
b) Qual a impedância no Tap de 2A?

8º Exemplo: Qual a impedância do maior Tap do relé IAC53101A?

Obs.: Todas as considerações relativas a carregamento de TC são referentes a relés eletromecânicos.


Atualmente as novas aquisições de relés pelas empresas são do tipo digital, onde o carregamento passa
38
a ser mínimo. Isto, porque os relés digitais necessitam de uma fonte externa de alimentação, aliviando o
carregamento do TC. Por esse motivo, com a aplicação da tecnologia digital na proteção, os TCs podem
ter núcleo magnético mais reduzido e inclusive, como alguns fabricantes já informam que os TCs podem
manter sua classe de exatidão para correntes de curto-circuito mais elevadas do que 20IN.

9º Exemplo: Considere os diagramas unifilares das figuras abaixo.

Barra B
Barra A
X/5 12 MVA
Alimentador 69 KV
Z = 0,1 pu
Geração 15 MVA
Equivalente Valores base
SE A R
69 KV, 100 MVA
10 MVA

Icc3F = 8 KA
IccFT = 6 KA

Barra A Barra B
X/5
Alimentador

0,1Ω
Amperímetro Wh Wh

AH-11 V-65 IB-10

Relé

IAC51B101A

O TC deve alimentar simultaneamente, um Amperímetro AH-11, um medidor de Watt-hora V-65, um


medidor de Watt-hora IB-10 e um relé de sobrecorrente IAC51B101A, conectado no Tap de 8 A e fator
de sobrecorrente de 20. Desconsiderar a impedância da fiação e considerar a impedância interna do
secundário do TC.

a) Dimensionar o TC, quanto a sua relação de transformação.


b) Qual a impedância do relé IAC51B101A?
c) Qual a carga total conectada no secundário do TC especificado.
d) Especificar a classe de exatidão do TC pela ANSI.
e) Especificar a classe de exatidão do TC pela ABNT.

Nota: No Sistema de Potência, o dimensionamento do TC é feito pela maior relação de transformação


obtida pelo critério de carga e de curto-circuito. Geralmente, nas proximidades das usinas de geração, o
critério de curto-circuito sobrepõe o da carga. Sendo a rede de energia elétrica o final do sistema elétrico,
39
o dimensionamento do TC é caracterizado pelo critério de carga. Já nas redes de distribuição próximas
às usinas de geração, os curtos-circuitos são elevados, e a ponderação pelos dois critérios deve ser
considerada.

II.2.8 TRANSFORMADOR DE CORRENTE – SECUNDÁRIO ABERTO.


Para verificar o comportamento do TC com o secundário aberto, faremos uma análise da operação em
regime permanente do TC e do TP (Transformador de potencial), como mostra a figura:

A equação que rege o comportamento do TC e do TP é idêntica, já vista anteriormente.


FP  FS  .
Onde:
FP => Força magnetomotriz da bobina primária do TC ou TP
FS => Força magnetomotriz da bobina secundária do TC ou TP
 => Relutância do material ferromagnético do núcleo do TC ou TP
 => Fluxo magnético dentro do núcleo do TC ou TP
N P I P  N S I S  .

A força magnetomotriz de ação ( FP  N P I P ) sofre reação da força magnetomotriz ( FS  NS I S ), cuja

diferença, isto é, a resultante é contrabalanceada pelo produto . .

O diagrama fasorial do TC ou TP expressa pela expressão N P I P  N S I S  . , é mostrado na

figura abaixo:

.
NSIS
NPIP

40
O produto . do TC e TP é na verdade muito pequeno, apenas o necessário e suficiente para
contrabalançar a força magnetomotriz resultante dentro do núcleo magnético.
Portanto para o circuito magnético do TP, temos:
N P I P TP  N S I S TP  .

Abrindo o secundário do TP, a corrente secundária é zero. Logo:


N P I P TP  N S .0  . => N P I P TP  .

Então o termo . permanece praticamente com o mesmo valor indicado no diagrama fasorial indicado

acima. Ou seja, a corrente I P TP diminui rapidamente, adaptando-se ao novo valor N P I P TP  . ,

conforme pode ser observado no diagrama fasorial do TP com secundário aberto a seguir:

. NPIP decresce

Isto acontece porque o TP está conectado em paralelo com a carga. No TP com carga no secundário ou
com o seu secundário aberto, a sua tensão primária permanece fixa.

Abrindo o secundário do TC, temos que:


No TC é a carga do circuito que impõe a corrente de carga que passa pelo primário do TC.
Com o TC funcionando normalmente com carga, ou com seu secundário em curto-circuito, tem-se a
equação geral:
N P I P TC  N S I S TC  .

Sabe-se que I P TC  I c arg a , e quando o secundário do TC abre, I S TC  0 , e a equação acima fica:

N P I c arg a  N S .0  '.' => N P I c arg a  '.'

Note que nesse caso o termo N P I c arg a fica fixo (constante), porque a carga do circuito não mudou.

Assim o valor de '.' aumenta para ficar com o mesmo valor de N P I c arg a , conforme mostra o

diagrama fasorial abaixo:


.

’.’ = NPICARGA (fixo)

NPICARGA (fixo)

Assim o fluxo magnético ( ' ) dentro do núcleo cresce, entrando na região de saturação do TC,
provocando distorção na sua onda de fluxo. A relutância  também muda, porque depende da
permeabilidade do material do núcleo, dado pela expressão a seguir:

41
Onde:
l L => comprimento médio do núcleo do material ferromagnético do TC;
 A => área da secção transversal do núcleo do TC;
 .A
μ => permeabilidade do material ferromagnético do núcleo no ponto de operação do TC.

O excessivo aumento do fluxo magnético no núcleo do TC causa os seguintes efeitos:


 Excessivas perdas por histerese e correntes parasitas no núcleo do TC, aquecendo-o rapidamente
e queimando o TC.
 Produção de elevadas tensões no terminal secundário do TC, perfurando sua isolação e
produzindo elevados riscos no sistema elétrico e na segurança humana.
 Ruídos (zumbidos) intensos devidos às vibrações mecânicas na estrutura interna do TC.

42
II.3- TRANSFORMADORES DE POTENCIAL (TP’s)
II.3.1- INTRODUÇÃO.
O Transformador de Potencial é um equipamento destinado especialmente para fornecer o sinal de tensão
a instrumentos de medição, controle e proteção. Deve funcionar adequadamente sem que seja necessário
possuir tensão de isolamento de acordo com a rede a qual está ligada.
Na sua forma mais simples, os transformadores de potencial possuem um enrolamento primário de
muitas espiras e um enrolamento secundário por meio do qual se obtém a tensão desejada, normalmente

padronizada em 115 V ou 115 / 3 V (Norma Asa ou ABNT) e 110 V ou 110 / 3 V (Norma IEC).
Dessa forma, os instrumentos de proteção e medição são dimensionados em tamanho reduzidos com
bobinas e demais componentes de baixa isolação.
Os TPs são unidades monofásicas. Seus agrupamentos podem produzir as mais diversas configurações.
A norma NBR 6855 estabelece que os TPs tenham polaridade nos enrolamentos primários e secundários
do mesmo tipo conforme figura abaixo:

A
B AT
C
a
b BT 115 V
c

TP

Uma configuração bastante utilizada é a ligação Y – Y de acordo com a figura acima.


A Alta Tensão (AT) será a tensão nominal da linha de transmissão ou de outro alimentador no qual o TP
está conectado, e a rede trifásica secundária do TP é geralmente normalizada na tensão de 115 Volts.

Exemplo1: Suponha que o TP da figura acima esteja conectado a uma LT de 230 KV. Qual a relação de
transformação (RTP) do TP.
230 kV
NP VP nominal fase−neutro √3 230 k NP 2000
RTP = = ⇨ RTP = 115 = = 2000 ⇨ =
NS VS nominal fase−neutro 115 NS 1
√3

Isto significa que a cada 2000 V no primário corresponde a 1 V no secundário do TP. Construtivamente
o TP deverá manter a relação de espiras indicada na expressão acima, ou seja, para cada conjunto de
2000 espiras no primário corresponde a 1 espira no secundário.

43
II.3.2- CARCTERÍSTICAS DE UM TP.
Segundo a ABNT, os valores nominais que caracterizam os TPs, são:
a) Erro de relação de transformação;
b) Erro de ângulo de fase;
c) Classe de exatidão nominal
d) Tensão primária e relação de transformação nominal;
e) Classe de tensão de isolamento;
f) Frequência nominal;
g) Carga nominal;
h) Descargas parciais;
i) Potência térmica nominal.

II.3.2.1- Erro de relação de transformação.


Esse tipo de erro ocorre na medição de tensão com TP, onde a tensão primária não corresponde
exatamente ao produto da tensão lida no secundário pela relação de transformação de potencial nominal.
Este erro pode ser corrigido através do fator de correção de relação FCR. O produto entre a relação de
transformação de potencial nominal RTP e o fator de correção de relação resulta na relação de
transformação de potencial real RTPR, ou seja:
RTPR
FCR R 
RTP

Percentualmente, o erro de relação pode ser calculado pela equação abaixo:

RTP .VS  VP
P  .100(%)
Vp
O erro de relação percentual também pode ser expresso pela equação a seguir:

 P  (100  FCR P ) (%)

FCRP => fator de correção de relação percentual dado pela expressão:


RTPR
FCR P  .100(%)
RTP

Os valores percentuais de FCR P podem ser encontrados nos gráficos abaixo, que compreendem as
classes de exatidão 0,3; 0,6 e 1,2.

44
Algumas observações devem ser feitas envolvendo as relações de transformação nominal e real, ou seja:
- Se RTP > RTPR, e o fator de correção de relação percentual FCR P < 100%: o valor real da tensão
primária é menor que o produto (RTP)VS.
- Se RTP < RTPR, e o fator de correção de relação percentual FCRP > 100%: o valor real da tensão
primária é maior que o produto (RTP)VS.

Exemplo2: Uma medição efetuada por um voltímetro de precisão indicou que a tensão no secundário
do transformador de potencial é de 112,9 V. Calcular o valor real da tensão primária, sabendo que o TP
é de 13800 V e apresenta um fator de correção de relação igual a 100,5%.

13800V
A RTP nominal será: RTP   120
115V
O valor da tensão primária não corrigida vale: VP  RTP .VS  120.112,9  13548 V

O erro percentual para um FCRP = 100,5% será:


 P  (100  FCR P ) (%)  100  100,5  0,5%

45
Então, o verdadeiro valor da tensão primária é:

13548.( 0,5) 
VPR  VP  VP . P   13548     13548  67,74  13615,74 V
 100
VPR = 13615 V

II.3.2.2- Erro de ângulo de fase.


É o ângulo γ que mede a defasagem entre a tensão vetorial primária e a tensão vetorial secundária de um
TP. Pode ser dado pela equação:

  26(FCTP  FCR P ) (' )

Sendo FCTP o fator de correção de transformação que considera tanto o erro de relação de transformação
como o erro do ângulo de fase, nos processos de medição de potência. A relação entre o ângulo de fase
γ e o fator de correção de relação é dada nos gráficos dos paralelogramos de exatidão, mostrado acima,
extraída da NBR 6855.

Os gráficos dos paralelogramos de exatidão são determinados a partir da equação de γ. Assim, fixando-
se os valores de FCTP para cada classe de exatidão considerada e variando-se os valores de FCRP, tem-
se para a classe 0,6:

FCTP1 = 100,6%
FCTP2 = 99,4%
γ = 26(99,4 – 100,6) = - 31,2’
γ = 26(100,6 – 99,4) =+ 31,2’

II.3.2.3- Classe de exatidão nominal.


A classe de exatidão exprime nominalmente o erro esperado do TP, levando em conta o erro de relação
de transformação e o erro de defasamento angular entre as tensões primária e secundária. Este fator é
medido pelo fator de correção de transformação. Considera-se que um TP está dentro de sua classe de
exatidão quando os pontos determinados pelos fatores de correção de relação FCR e pelos ângulos de
fase γ estiverem dentro do paralelogramo de exatidão, correspondente à sua classe de exatidão.

As classes de exatidão para os TPs são: 0,1; 0,3; 0,6; 1,2 e 3%.

46
A tabela abaixo mostra a classe de exatidão dos TPs e suas aplicações:

Classe de
Aplicações
exatidão
0,1% Calibrações de equipamentos em laboratórios. TP padrão.

0,3% Medições de grandezas para fins de faturamento.

0,6% Medições de grandezas sem finalidade de faturamento, apenas para o acompanhamento


das condições operativas do sistema.
1,2% Relés de proteção.

3% Em TPs com ligação em Δ aberto para proteção residual de defeitos fase-terra.

Os TPs se classificam em 3 grupos de acordo com o grupo de ligação elétrica, que são:
 Grupo 1: TPs com ligação entre fases.
 Grupo 2: TPs com ligação entre fase e terra, em sistemas aterrados.
 Grupo 3: TPs com ligação entre fase e terra, em sistemas onde não se tem garantia do
aterramento.

II.3.2.4- Tensão primária e relação de transformação nominal.


A tabela abaixo mostra as tensões primárias nominais e relações nominais.

Grupo 1 Grupos 2 e 3
Para ligação fase para fase Para ligação de fase para neutro
Relação nominal
Tensão primária Relação Nominal Tensão secundária de Tensão secundária
nominal nominal de 115 V
115 / 3 V
115 1:1 - - -
230 2:1 230/ 3 2:1 1,2:1
402,5 3,5:1 402,5/ 3 3,5:1 2:1
460 4:1 460/ 3 4:1 2,4:1
575 5:1 575/ 3 5:1 3:1
2300 20:1 2300/ 3 20:1 12:1
3475 30:1 3475/ 3 30:1 17,5:1
4025 35:1 4025/ 3 35:1 20:1
4600 40:1 4600/ 3 40:1 24:1
6900 60:1 6900/ 3 60:1 35:1
8050 70:1 8050/ 3 70:1 40:1
47
11500 100:1 11500/ 3 100:1 60:1
13800 120:1 13800/ 3 120:1 70:1
23000 200:1 23000/ 3 200:1 120:1
34500 300:1 34500/ 3 300:1 175:1
44000 400:1 44000/ 3 400:1 240:1
69000 600:1 69000/ 3 600:1 350:1
- - 88000/ 3 800:1 480:1
- - 115000/ 3 1000:1 600:1
- - 138000/ 3 1200:1 700:1
- - 161000/ 3 1400:1 800:1
- - 196000/ 3 1700:1 985:1
- - 230000/ 3 2000:1 1200:1

II.3.2.5- Classe de tensão de isolamento do TP.


Os transformadores de potencial devem suportar as tensões de ensaio previstas na NBR 6855
apresentadas na tabela a seguir:
Tensão máxima Tensão suportável nominal à Tensão suportável nominal de
do equipamento frequência industrial durante impulso atmosférico (KV
(KV) 1 minuto (KV) crista)
KVef KVef KVcr
0,6 4 -
1,2 10 30
7,2 20 40
60
15 34 95
110
24,2 50 125
150
36,2 80 150
170
200
75,5 140 350
92,4 185 450
145 230 550
275 650
242 360 850
395 950

II.3.2.6- Frequência nominal do TP.


Os TPs são fabricados para 50 ou 60 Hz.
48
II.3.2.7- Carga nominal do TP.
A carga nominal do TP é definida como sendo a máxima potência aparente em VA que se pode conectar
no seu secundário, para que o TP não ultrapasse o erro de sua classe de exatidão.
A soma das potências aparentes em VA solicitadas pelos diversos instrumentos ligados em paralelo ao
secundário do TP, não deve ultrapassar a carga nominal de placa do TP, sob pena de exceder o erro
admissível de sua classe de exatidão.
Os instrumentos alimentados pelo TP são de altíssima impedância e baixa corrente. Portanto, é baixo o
consumo em VA.

Tabela de Cargas Nominais do TP


ABNT ANSI Carga Nominal em VA do TP
P 12,5 W 12,5
P 25 X 25
P 35 M 35
P 75 Y 75
P 200 Z 200
P 400 ZZ 400
- ZZZ 800

Tabela das bobinas de aparelhos de medição e proteção


Aparelhos Pot. Ativa (W) Pot. Reativa (VAr) Pot. Total
Medidor de kWh 2,0 7,9 (VA) 8,1
Medidor de kVArh 3,0 7,7 8,2
Wattímetro 4,0 0,9 4,1
Motor do conjunto de demanda 2,2 2,4 3,2
Autotransformador de defasamento 3,0 13,0 13,3
Voltímetro 7,0 0,9 7,0
Frequencímetro 5,0 3,0 5,8
Fasímetro 5,0 3,0 5,8
Sincronoscópio 6,0 3,0 6,7
Cossfímetro 12,0
Registrador de frequência 12,0
Emissores de pulso 10,0
Relógios comutadores 7,0
Totalizadores 2,0
Emissores de valores medidos 2,0

49
II.3.2.8- Descargas Parciais do TP.
Os transformadores de potencial fabricados em epóxi estão sujeitos, durante o encapsulamento dos
enrolamentos, à formação de bolhas no interior da massa isolante. Além disso, com menor possibilidade,
pode-se ter misturado ao epóxi, alguma impureza indesejável.
A presença de uma impureza qualquer resulta no surgimento de descargas parciais no interior do vazio
ou entre as paredes que envolvem a referida impureza. Disso decorre a formação de ozona e a destruição
gradual da isolação.
As normas prescrevem os valores limites e o método para a medição das descargas parciais, tanto para
transformadores imersos em óleo isolante como para aqueles encapsulados em epóxi.

II.3.2.9- Potência térmica nominal.


É a potência que o TP pode suprir continuamente, sem que sejam excedidos os limites nominais de
temperatura. Para os TPs pertencentes aos grupos de ligação 1 e 2, a potência térmica nominal não deve
ser inferior a 1,33 vezes a carga nominal mais elevada, relativamente à classe de exatidão.
O valor da potência térmica de um TP pode ser determinado a partir da equação abaixo:

VS2
Pth  1,21.K . ( VA)
Z cn

Onde, VS – tensão secundária nominal;


Zcn – impedância correspondente à carga nominal em ohms;
K = 1,33 para TPs dos grupos 1 e 2;
K = 3,6 para TPs do grupo 3.

Nota: A impedância Zcn pode ser obtida pela equação:

( VS ) 2 VS – tensão secundária nominal do TP


Z cn  ;
S S – potência aparente em (VA)

II.3.3 – TRANSFORMADOR DE POTENCIAL CAPACITIVO (TPC)


No sistema elétrico com tensões elevadas, a utilização do TP eletromagnético, conhecido como
Transformador de Potencial de Indução (TPI) fica construtivamente proibitivo devido à classe de
isolação, que torna o TP muito grande e pesado.
Com o aumento do nível de tensão, acima de 69 kV, já compensa utilizar um dispositivo auxiliar
chamado de Divisor de Potencial Capacitivo (DPC’s) que nada mais são os TPC’s.

50
Terminal

C1
Isolador de Porcelana

C2

Instrumentos
EP TP ES V R +
Relés

O Divisor Capacitivo de Potencial é um banco de capacitores em série usado com dupla finalidade:

1ª- Divisor de tensão, para usar um TP eletromagnético com tensão primária menor que a tensão da L.T.
em relação à terra.

2ª- Acoplamento do transmissor CARRIER, para a transmissão de dados informativos do sistema


elétrico, tanto de dados, voz e sinal para teleproteção.

Seja o esquema da figura onde está representado um DPC em uma fase da Linha de Transmissão de uma
subestação;

Linha de Transmissão

C1
TP
ELT L
ELT A

E2 C2 Zcargas

O TP eletromagnético é energizado com uma tensão E2 bem menor que a tensão de linha.
Para compreender melhor o acoplamento do TP com o DPC, faz-se um mister utilizando o circuito
equivalente de Thévenin em relação aos pontos A e B.
- Cálculo da tensão de Thévenin entre os pontos A e B que é a tensão E2:
A tensão de Thévenin (VTH) é a tensão existente nos terminais A e B, quando estes terminais estão sem
carga, isto é, a vazio.

51
−𝐣𝐗 𝐂𝟐 𝐗 𝐂𝟐
𝐕𝐓𝐇 = 𝐕𝐀𝐁 = 𝐄𝟐 = . 𝐄𝐋𝐓 ; 𝐕𝐓𝐇 = 𝐕𝐀𝐁 = 𝐄𝟐 = .𝐄
−𝐣𝐗 𝐂𝟏 − 𝐣𝐗 𝐂𝟐 𝐗 𝐂𝟏 + 𝐗 𝐂𝟐 𝐋𝐓

- Cálculo da impedância equivalente (ZTH) de Thévenin entre os pontos A e B:

A impedância equivalente de Thévenin é vista pelos terminais A e B com todas as fontes de tensão nulas.
Nesse caso, o conjunto dos capacitores C1 e C2 estão em paralelo. A impedância ZTH é dada por:
[−𝐣𝐗 𝐂𝟏 ]. [−𝐣𝐗 𝐂𝟐 ] 𝟏
𝐙𝐓𝐇 = 𝐨𝐧𝐝𝐞, 𝐙𝐓𝐇 =
−𝐣𝐗 𝐂𝟏 −𝐣𝐗 𝐂𝟐 𝐣𝐰(𝐂𝟏 + 𝐂𝟐 )

O circuito equivalente de Thévenin já acoplado com o TP eletromagnético está representado abaixo:


TP
C1 + C 2 L
A

EP ES Zcargas

A indutância L é colocada no circuito de modo a entrar em ressonância com o capacitor equivalente (C1
+ C2). Isto garante que a tensão no primário do TP é igual a E2 e que está em fase com ELT.

EP C1
Sendo,  RTP , e E P  E 2  E LT , a tensão no secundário do TP será:
ES C1  C 2

1 C1 1
E S  EP . , onde, E S  . .E LT
RTP C 1  C 2 RTP

Para mudar a escala de um voltímetro conectado no secundário do TP, deve-se usar o procedimento a
seguir:

E LL C1 1 E LL
E LT   ES  . . , e explicitando ELL, tem-se:
3 C 1  C 2 RTP 3

C1  C 2 
E LL  3 .RTP. .E S
C1
ES => é o valor lido no voltímetro com escala normal;
ELL => é a tensão verdadeira de linha a linha do sistema;
RTP => é a relação de transformação do TP eletromagnético;
C1  C 2 
3 .RTP. => é o fator de multiplicação da escala.
C1

O conjunto DPC’s e TP é montado pela fabricante. Geralmente o TP eletromagnético é fabricado com


tensão primária normalizado em 23 kV.

52
III - RELÉS DE PROTEÇÃO
III.1- Introdução.
A proteção dos Sistemas Elétricos de Potência é feita por esquemas de proteção que, por sua vez, são
basicamente comandados por relés. Entende-se por relé de proteção de sobrecorrente aquele que
responde à corrente que flui no elemento do sistema que se quer proteger quando o módulo dessa
corrente supera o valor previamente ajustado.
A função primordial desses relés é identificar os defeitos, localizá-los da maneira mais exata possível e
alertar o operador do sistema elétrico, promovendo o disparo de alarmes, sinalizações e também
dependendo do caso, comandando a abertura dos disjuntores de modo a isolar o defeito, mantendo o
restante do sistema em operação normal, sem que os efeitos desse defeito prejudiquem sua normalidade.
Todos os segmentos dos sistemas elétricos são normalmente protegidos por relés de sobrecorrente, que
é a proteção mínima a ser protegida. É grande a diversidade de relés que desempenham essa função de
proteção.
A proteção com relé de sobrecorrente é a mais econômica de todas as proteções utilizadas nos sistemas
de potência e é também a que mais frequentemente necessita de reajuste quando são efetuadas alterações
na configuração do sistema.
As proteções com relés de sobrecorrente são utilizadas em alimentadores de média tensão, linhas de
transmissão, geradores, motores, reatores e capacitores e, de forma geral, nos esquemas de proteção onde
são necessários tempos de operação inversamente proporcionais às correntes que circulam no sistema.
Os principais relés de sobrecorrente empregados nos sistemas elétricos são:
 Relés de sobrecorrente não direcionais.
 Relés de sobrecorrente diferenciais.
 Relés de sobrecorrente direcionais.
 Relés de sobrecorrente de distância.

Esses quatro tipos de relés podem ser construídos com três diferentes tecnologias:
- Relés de sobrecorrente de indução, cuja tecnologia é obsoleta e, portanto não são mais fabricados.
- Relés de sobrecorrente estáticos, que também sua tecnologia é obsoleta e não são mais fabricados.
- Relés digitais microprocessados, que são os relés atualmente mais utilizados em todos os
esquemas de proteção.

III.2- Tipos de relés de sobrecorrente não direcionais.


Simplesmente chamados de relés de sobrecorrente, esses relés podem ser construídos de duas diferentes
formas quanto ao tipo de acionamento do disjuntor, ou seja, relés primários e relés secundários.
Os relés primários atuam mecanicamente sobre o disjuntor por meio de varetas isolantes.

53
Já os relés secundários acionam os disjuntores fechando um contato interno, inserindo uma fonte externa,
normalmente um banco de baterias sobre a bobina de abertura do disjuntor.
Os relés primários, também conhecidos como relés de ação direta, atualmente não são aceitos pela
norma brasileira NBR 14039 para proteção geral de unidades consumidoras supridas em média tensão.
No entanto, esses relés são utilizados na proteção das demais partes ou componentes do sistema de média
tensão internos a unidade consumidora.
Existem aplicados em subestações de média tensão relés primários dos tipos fluidodinâmicos,
eletromagnéticos e estáticos ou eletrônicos. No caso dos relés fluidodinâmicos e eletromagnéticos, o
princípio de atuação refere-se à ação eletromagnética de um campo formado por uma bobina de corrente.
Diferem, porém quanto ao princípio de retardo ou temporização.
Os relés de sobrecorrente de ação indireta, também conhecidos como relés secundários, são
fabricados em unidades monofásicas e alimentados por transformadores de correntes ligados ao circuito
que se quer proteger. São utilizados na proteção de subestações industriais de médio e grande porte, na
proteção de motores e geradores, banco de capacitores e, principalmente, na proteção de subestações de
sistemas de potência das concessionárias de energia elétrica.
Atualmente, não se fabricam mais os relés de sobrecorrente do tipo indução, porém ainda existem
milhares desses relés aplicados em diferentes tipos de subestações de média e alta tensão.

O esquema básico de proteção de sobrecorrente usando relés secundários do tipo indução é representado
nas figuras a seguir:

IP TC
Disjuntor
CARGA
IP IS TC
FONTE

52
IS
IP

IS

50/51 R R R

50/51N R

54
IP TC
Disjuntor
IP IS TC

CARGA
FONTE

52
IS
IP TC
3I0
R
IS
50/51GS

50/51 R R R

Os relés de indução são normalmente constituídos de três unidades operacionais, ou seja:


- Unidade de sobrecorrente temporizada, formada por uma bobina que aciona um disco de indução.
- Unidade de sobrecorrente instantânea.
- Unidade de bandeirola e selagem.

III.2.1- Curvas de operação.


Os relés de indução, como elementos de proteção, são dotados de características definidas a fim de se
ajustar às várias condições impostas pelo sistema de proteção. Uma dessas características mais
importantes são as curvas de temporização.
A partir da declividade e do tempo de operação em função da grandeza da corrente de atuação, pode-se
especificar o relé adequadamente para o esquema de proteção desejado. São várias as curvas tempo X
corrente dos relés de indução, e dada em papel.
No relé digital, não há necessidade de ter as curvas de tempo no papel, por que o relé opera associando
a curva a uma função que reproduz a curva normalizada. Esta função que representa as curvas de tempo
X múltiplos dos relés eletromecânicos, estabelecidas pela IEC, I2t e pela C37.112-1996 IEEE Standard
Inverse-Time Characteristic Equations for Overcurrent Relays é dada pela expressão a seguir:

Onde:
Tcurva  Múltiplo de tempo das curvas de tempo do relé
eletromecânico, por exemplo, curva 100% = Tcurva = 1 ou curva de
 K  tempo 30% = T = 0,3;
t opr  Tcurva    L  t → tempo decurva
M   opr operação do relé em segundos (tempo de trip);
I
M  Múltiplo do relé, sendo M ≥ 1;
I ajuste
I → corrente real que entra no relé;
I ajuste  Corrente de ajuste do relé;
K, α, β e L → coeficientes fornecidos na tabela abaixo:
55
Norma Tipo de curva K α β L
Curva inversa 0,14 0,02 1 0
Moderadamente
0,05 0,04 1 0
inversa
IEC Muito inversa 13,5 1 1 0
Extremamente
80 2 1 0
inversa
Moderadamente
0,515 0,02 1 1,14
inversa
IEEE Muito inversa 196,1 2 1 4,91
Extremamente
282 2 1 1,217
inversa
I²t Curva I² t 100 2 0 0
Todas Tempo definido

As inclinações das curvas de tempo do relé pela IEC, também, são conhecidas por:

Inversa Classe A
IEC Muito inversa Classe B
Extremamente inversa Classe C

Os tempos obtidos nas curvas de tempo dos relés de proteção apresentam erros, que para os relés
eletrônicos e digitais podem ser de até 5% e nos eletromecânicos em até 7,5%. Esses erros já são
considerados no tempo de folga do tempo de coordenação.

Exemplo 1: Determinar os ajustes dos relés de sobrecorrente que atuam nos disjuntores 52.1 e 52.2,
instalados conforme o diagrama da figura dada. O transformador não dispõe de ventilação forçada.
Utilizar o relé de indução de sobrecorrente da GE cuja corrente nominal é de 5 A. A faixa de ajuste da
unidade de sobrecorrente temporizada de fase é de 1,0 – 12,0 A, com tapes disponíveis em ampères de
1,0 – 1,2 – 1,5 – 2,0 – 2,5 – 3,0 – 3,5 – 4,0 – 5,0 – 6,0 – 7,0 – 8,0 – 9,0 – 10,0 – 12,0. A faixa de ajuste
da unidade de sobrecorrente temporizada de neutro é de 0,5 – 2,5 A, com tapes disponíveis em ampères
de 0,5 – 0,6 – 0,7 – 0,8 – 1,0 – 1,2 – 1,5 – 2,0 – 2,5 A. A faixa de atuação da unidade instantânea de fase
vai de (20 – 160 A)xRTC, e a de neutro de (3,0 – 8,0)xRTC. A corrente de curto-circuito trifásica no
lado de 69 kV vale 6250 A com um ângulo de – 79º, e a de fase e terra tem o valor máximo de 450 A.

56
69 kV - 3Ф – 60 Hz

CS

52.1

CS

50/51 50/51
N
TCs

10 MVA
69/4,16 KV Δ
Z = 6,7%
50/51 50/51
N
TCs

52.2
4, kV - 3Ф – 60 Hz

Na proteção de transformadores de potência devem ser obedecidos os limites de sobrecarga e correntes


de magnetização normalizados:

Ponto ANSI => corresponde ao máximo valor de corrente simétrica de curto-circuito que o
transformador pode suportar durante certo tempo, determinado pelas Normas Técnicas ANSI, de acordo
com a tabela abaixo.

Impedância % do Icc max simétrico em Tempo admissível em


Trafo múltiplo de In (A) segundos
4 25In 2
5 20In 3
6 16,6In 4
7 14,3In 5

Correntes de Magnetização => É preciso que os relés não atuem na energização dos transformadores.
Na falta de dados do fabricante, vamos admitir que a corrente de magnetização tivesse o valor de 8In
com duração de 0,1s.

57
Curvas IEC Tempo Inverso

58
III.3- Relé Direcional de Sobrecorrente.
III.3.1- Introdução.
Num sistema de energia elétrica em anel, a proteção com relés de sobrecorrente é impraticável, devido
a não coordenação entre eles. No entanto, a proteção do sistema em anel é possível se o relé de
sobrecorrente receber um auxílio do relé direcional.
Como o nome indica, tem sensibilidade direcional em relação ao sentido do fluxo de energia que trafega
pelo sistema.
O relé direcional, que monitora o relé de sobrecorrente, confere característica radial ao sistema em anel.
Ou seja, o sistema em anel se comporta como dois sistemas radiais em sentidos opostos.

III.3.2- Relé de sobrecorrente direcional.


Relé de sobrecorrente direcional (67) é um dispositivo que opera quando a corrente é maior que o seu
ajuste e tem sentido pré-estabelecido de acordo com sua referência de polarização.
Esse relé para atuar necessita de duas grandezas de operação. Essas grandezas geralmente são:

 Uma grandeza de polarização que pode ser tensão ou corrente. A tensão é mais usada.
 Uma grandeza de operação, sendo esta característica geralmente pela corrente elétrica.

A direcionalidade é dada pela comparação fasorial das posições relativas da corrente de operação e
tensão de polarização. Esta defasagem é que produz o sentido da direção do fluxo de energia da corrente
de operação ou do curto-circuito.

III.3.3- Princípio de funcionamento do Relé de sobrecorrente direcional.


O diagrama unifilar da figura representa simbolicamente o relé de sobrecorrente direcional:

TC
Circuito
Fase A IA protegido
Ia Bobina de corrente

TP

67
Polarização Bobina de tensão

O relé direcional tem dois conjuntos de bobinas em quadratura, alimentados pela corrente elétrica e pela
tensão de polarização. A corrente de operação da fase A, via secundário do TC, entra na marca de
polaridade da bobina de corrente do respectivo relé, e a tensão de polarização, via secundário do TP, é
referenciada na marca de polaridade da bobina de tensão do relé.

59
Segue abaixo, o diagrama fasorial das grandezas envolvidas no relé direcional, considerando uma falha
(curto-circuito) na fase A:
Van Normal

φ IA

ФIa
r
Ia

Vpolarização = Vbc
α
Ipolarização

Фpolarização

O diagrama acima representa o relé direcional da fase “A” do sistema elétrico em análise, no qual
identificamos:
Ia → é a corrente secundária da fase “A”, durante o curto-circuito.
ФIa → é o fluxo magnético criado pela corrente I a, na bobina de corrente do relé direcional. Este fluxo
está em fase com a corrente Ia.
Van → Tensão secundária da fase “A” em relação ao neutro do sistema.
Vpolarização → Tensão de polarização que nesse caso é a tensão Vbc.
Ipolarização → Corrente elétrica que passa pela bobina de potencial. Esta corrente é decorrente da tensão
de polarização aplicada na bobina de tensão do relé direcional.
Фpolarização → Fluxo magnético na bobina de tensão decorrente da corrente de polarização. Este fluxo
está em fase com a corrente de polarização.
α → Ângulo entre os fluxos, Ф Ia e Фpolarização.
Θ → Ângulo entre Ia e tensão de polarização.
r → É o ângulo de máximo torque motor do relé. Este ângulo é uma característica do relé de acordo
com sua fabricação.
φ → É o ângulo da carga.
IA → É a corrente de carga na fase “A”.

Durante o curto-circuito, por ser a linha de transmissão fortemente indutiva, a corrente I a fica bastante
defasada da tensão Van. A defasagem entre a corrente Ia e a tensão Van é o ângulo 90º - θ.

60
O torque motor do relé direcional é obtido pela conjugação dos fluxos magnéticos da figura anterior e é
dado pela expressão:
 motor do relé  K I a polarizaçã osen
Sendo, α = 90º - r + θ = 90º - (r – θ), temos:

 motor do relé  K 1I a Vbc sen90º (r  )  K 1I a Vbc cos(r  )

Considerando o efeito restaurador da mola, o torque efetivo resultante que atua no relé é:
   motor do relé   restaurador

No limiar de operação do relé, tem-se   0 , portanto,

0  K 1I a Vbc cos(r  )   restaurador

Durante o curto-circuito, a tensão de polarização fica praticamente constante, isto é, V bc=constante,


logo:
 restaurador
I a cos(r  )  , e sendo o segundo termo uma constante, temos que:
K 1Vbc
I a cos(r  )  K 2 => essa expressão é válida no limiar de operação do relé direcional.

Usando como referência a tensão de polarização Vbc , a corrente secundária da fase “A” fica sendo

I a  I a  .

Observa-se que só existem duas variáveis, Ia e θ. Logo, podemos fazer o diagrama fasorial dos lugares
geométricos da corrente Ia, tal se mantenha sempre o limiar de operação do relé, conforme figura a
seguir:
Normal
Operação
Não operação

r
Ia
Vpolarização = Vbc
Iajuste do relé 67 Polarização a 90º

τ=0
Limiar de operação

Note que todo fasor Ia, sobre a reta indicada, deixa o relé no limiar de operação, sendo esta reta ortogonal
a reta normal.
Existem infinitas correntes elétricas que satisfazem a equação I a cos(r  )  K 2 , ou seja, que estão
no limiar de operação do relé 67, mas somente a menor corrente do limiar de operação é o ajuste do relé
67.

61
Assim, I ajuste do relé 67  I pickup do relé 67  I ajuster

Em alguns casos, a corrente de ajuste é muito pequena que muitas vezes a própria corrente de carga do
circuito já é suficiente para a operação do relé direcional.
É importante observar que a reta do limiar de operação divide o plano em duas regiões, ou seja, a região
de operação e a de não operação.
A direcionalidade do relé é dada pela tensão de polarização e o ângulo de máximo torque do relé,
obtendo-se a reta normal ou de máximo torque, no diagrama anterior.
Geralmente, no relé eletromecânico de sobrecorrente direcional (67), o fabricante possibilita ter 3 opções
de escolha do ângulo r. Já no relé digital de sobrecorrente direcional (67), a escolha do ângulo r é livre
dentro de uma faixa, como por exemplo, de 20º a 80º.

III.3.4- Polarização do relé direcional


Na proteção direcional, existem praticamente três tipos de ligação convencional quando são usados relés
direcionais polarizados por tensão e corrente de operação. Cada uma dessas ligações corresponde a um
relé direcional específico, com ângulo de máximo torque diferente (Eletromecânicos). Nos relés digitais,
pode-se ajustar o ângulo de máximo torque conforme a necessidade do projeto dentro de uma faixa.
Assim as tensões de polarizações mais usuais são:

a) Polarização em quadratura ou a 90º.


Utilizando a sequência ABC, as tensões são referenciadas ao relé da fase A ao neutro, isto é, da tensão
VAN. A tensão de polarização é a tensão VBC = VBN – VCN, mostrado no diagrama abaixo:

VAN Podemos verificar que a tensão de


polarização VBC está defasada de 90º em
-VCN relação a VAN.

N Para os relés das outras fases, é só fazer a


VBC composição fasorial devida. Para a fase B,
usa-se a tensão de polarização VCA, e para a
VCN VBN fase C a tensão de polarização é VAB.

b) Polarização a 30º.
VAC
VAN
30º
Como pode ser visto no diagrama, a tensão de
polarização é VAC e está defasada de 30º em
N relação a VAN.

c) Polarização a 60º
VCN VBN
62
VAN

60º No diagrama, a tensão de polarização pode ser:


-VCN - VCN ou (VAN + VBN), e existe um
N defasamento de 60º em relação a VAN.

VCN VBN

III.3.5- Relé Direcional de Sequência Zero


O relé direcional de sequência zero deve ter sua bobina magnetizante de corrente energizada pela
corrente de sequência zero (3I0) do curto-circuito fase terra, ou da carga aterrada, mas desequilibrada.
Para atender essa condição, o relé direcional de neutro é conectado de acordo com o esquema da figura
abaixo:

A B C

Linha protegida

IC
IA IB

TPs 3I0

VC T
Δ +
VB
Aberto 3V0 67N
-
VA C

Note também que é necessária uma tensão polarizante, conseguida através da ligação do delta aberto de
três TPs (3V0), um filtro de sequência zero quando ocorre um curto-circuito fase terra de sistemas
aterrados.

OBS.: Na figura acima, a polarização da bobina de corrente está invertida no relé de neutro. Esta
inversão se deve ao posicionamento das correntes e tensões de sequência zero, onde esclarecemos a
seguir:

Diagrama fasorial das tensões e correntes em operação normal de um sistema elétrico que alimenta uma
carga equilibrada:

63
VA

No diagrama, os valores das correntes são


pequenos e com uma defasagem de ângulo
IA pequeno em relação às tensões correspondente
IC ao fator de potência normal da carga do sistema.

IB
VC VB

Se ocorrer um curto-circuito fase-terra na fase A, o diagrama fasorial abaixo representa, por exemplo,
as grandezas do curto-circuito:
IA’

VA’ 3I0 = IA’ + IB’ + IC’ No diagrama, a tensão VA muda para VA’, e VB e

VC quase não mudam. A corrente de curto-circuito
IC’ da fase A, passou de IA para IA’. E as correntes IB
e IC quase não mudam. A corrente 3I0 e a tensão
IB’ 3V0 são as grandezas que alimentam o relé de
VC’ VB’ neutro.
’ 3V0 = VA’+VB’+VC’ ’

Considerando que o relé de neutro foi fabricado com um ângulo de máximo torque de – 60º, e fazendo-
se o diagrama fasorial da corrente de sequência zero de curto-circuito (3I0) e da tensão polarizante (3V0),
tem-se:

Bloqueio

3I0 = IA’ + IB’ + IC’


Operação

Reta de máximo torque 3V0 = VA’+VB’+VC’


r = - 60º

Pela análise o diagrama fasorial acima, percebe-se que o relé de neutro não irá operar na direção
pretendida. Logo, devemos tomar uma das medidas:
a) Inverter a polarização na bobina de corrente no relé de neutro, ou,

64
b) Inverter a polarização na bobina de tensão do relé de neutro.

Nota: No relé digital não há necessidade de se inverter fisicamente a polaridade de qualquer grandeza,
porque o software interno do relé já considera essa operação para esse tipo de curto-circuito.

Exercício:
Em uma linha de transmissão de 220 KV temos as seguintes informações no diagrama da figura:

SE SE
“A” TCA TCB “B”
I’sc = 5800∠-77° A I’’sc = 4200∠-76° A

67 Isc = 10000∠-78° 67
TP A TP
A B

Sabe-se que essa linha pode operar em condições normais nos dois sentidos com uma capacidade de
transmitir até 90 MVA. Pede-se:
a) Especificar os TC’s A e B;
b) Definir o ajuste de proteção (Pick up e ângulo de máximo torque) dos respectivos relés em valores
primários e secundários. Os relés são IED’s.
c) Desenhe as regiões de “operação “e “não operação” usando a polarização em quadratura.

65
III.4- Proteção Diferencial De Sobrecorrente (87)
III.4.1- Introdução
A proteção diferencial de sobrecorrente 87 representa o principal recurso dos relés com outras funções
incorporadas. Baseia-se na comparação de corrente. Essa proteção é aplicada a transformadores,
geradores, motores, reatores, linhas curtas e barramentos. Unidades gerador/transformador também
podem ser protegidas.
A zona de proteção, por exemplo, de um transformador fica compreendida entre dois transformadores
de corrente (TCs), instalados nos lados de alta tensão (AT) e baixa tensão (BT), que através da
comparação das duas correntes alimentam o relé de proteção diferencial de sobrecorrente (87).

A figura abaixo ilustra a zona de proteção do elemento protegido.

IP1 TC1 Elemento TC IP2


Protegido 2
IS1 IS2
Zona protegida
IS1 IS2
Relé
IS1 – IS2
87

Proteção diferencial comum na operação normal do sistema


elétrico
Se IS1 = IS2 => IS1 – IS2 = 0 => Relé não opera.

Se IS1  IS2 => IS1 – IS2  0 => e IS1 – IS2 > ajuste => Relé opera.

III.4.2- Proteção de Sobrecorrente Diferencial – Caracterização.


É uma proteção localizada que só deve atuar para defeitos entre os dois grupos de TCs que envolvem o
elemento protegido.

1- Falta interna à zona de proteção.

IP1 TC1 Elemento TC IP2


Protegido 2
IS1 Falta IS2
Zona protegida
IS1 IS2
Relé
IS1 + IS2
87

IS1 + IS2 > ajuste => Relé opera.

66
2- Falta externa à zona de proteção.

IP1 TC1 Elemento TC IP2


Protegido 2
IS1 IS2 Falta
Zona protegida
IS1 IS2
Relé
IS1 - IS2
87

IS1 – IS2 = 0 => se houver casamento perfeito de TCs (Mismatch = 0).


IS1 – IS2  0 => se não houver casamento perfeito de TCs (Mismatch  0); neste caso a bobina de
operação deverá permitir essa corrente.

III.4.3- Tipos de Relés Diferenciais.


Basicamente, temos dois tipos, ou seja, Relé Diferencial Amperimétrico e o Relé Diferencial Percentual.

a) Relé Diferencial Amperimétrico.


É um relé de sobrecorrente instantâneo conectado diferencialmente.
IP1 TC1 Elemento TC IP2
Protegido 2
IS1 IS2
Zona protegida
IS1 IS2
Relé
IS1 – IS2
50

Vejamos alguns fatos que tornam esse tipo de relé inconveniente:

1º- Casamento imperfeito dos TCs.


Exemplo.

Na figura abaixo, o sistema elétrico está operando normalmente, ou seja, alimentando uma carga.
TR
IP1= 83,7 A 100/5A 69 kV 13,8 kV 500/5A IP2 = 418 A
Fonte Carga

IS1 10 MVA
IS2
IS1 IS2

Irelé = 3,06 A 50
IS1 = 4,19 A IS2 = 7,25 A

67
Inconveniência: A unidade 50 deveria permitir em condições normais 3,06 A, o que diminuiria a
sensibilidade do relé em caso de curto-circuito.

2º- Mudança Automática dos Taps em Trafos (LTC).


Exemplo.

TR
IP1 100/5A 138 kV 34,5 kV 400/5A IP2
Fonte Carga

138 kV 10H100 20 MVA 10H100


± 10% de IS1 IS2
regulação. IS1 IS2

50
IS1 IS2

Para ângulos de fases iguais de IS1 e IS2, teríamos:

Posição do Tap IP1 (A) IP2 (A) IS1 (A) IS2 (A) IS1 - IS2 (A)
151,8 kV 76,07 334,72 6,59 7,25 - 0,66
138 kV 83,67 334,72 7,25 7,25 0
124,2 kV 92,97 334,72 8,05 7,25 + 0,80

Inconveniência: A unidade 50 do relé deveria permitir em condições normais, uma variação de – 0,66
a + 0,80, o que diminuiria a sensibilidade do relé em caso de curto-circuito.

3º- Erro Próprio dos TCs.


Com relação ao exemplo anterior, os TCs poderão ser de classes de precisão diferentes
(10H100 e 10H200) ou tipos diferentes (Bucha e Pedestal) ou embora tenham a mesma classe de precisão
(10H100). Pode ser que tenham respostas um pouco diferentes por causa carga circuital de cada um ou
mesmo devido às distâncias dos dois grupos de TCs aos relés.

Inconveniência: A unidade 50 do relé deveria permitir em condições normais todas estas possibilidades,
o que diminuiria a sensibilidade do relé em caso de curto-circuito.

b) Relé Diferencial Percentual.


Para contornar as inconveniências citadas anteriormente, é preferível utilizar o relé diferencial
percentual.

68
O esquema de proteção que utiliza um relé diferencial percentual é mostrado na figura a seguir:

TR
IP1 TC1 AT BT TC IP2
Fonte 2 Carga
IS1 IS2
IS1
IS2

Bobina IS1- IS2 Bobina


N N
de de
2 1
restrição operação
Τ- Τ+
IS2 Batente
MOLA
EIXO

Relé diferencial percentual

Em se tratando do Transformador de Dois Enrolamentos o equipamento protegido pelo relé de função


87, as correntes IS1 e IS2 serão determinadas pelas relações de transformação do transformador e que
deverão ser compensadas pelas relações de transformação dos TCs e, se necessário, pelo emprego de
TCs auxiliares.

O esquema de proteção diferencial percentual baseia-se na interação de duas bobinas, que são:

 Bobina de Restrição, que tem uma derivação central. O campo magnético gerado nessa bobina de
restrição atua atraindo um êmbolo produzindo torque negativo, isto é, contrário ao torque de operação.

 Bobina de Operação, cujo campo magnético atrai um êmbolo que produz o torque positivo.

Se o torque positivo for maior que o torque negativo, o relé 87 irá atuar.
O funcionamento do relé diferencial percentual se baseia nos torques gerados nas bobinas de restrição e
operação.

Considere o diagrama a seguir para uma operação normal do sistema elétrico ou um defeito fora da zona
protegida:

69
TR
IP1 TC1 AT BT TC IP2
Fonte 2 Carga
IS1 IS2
IS1
IS2 Falta

Bobina IS1- IS2 Bobina


N N
de de
2 1
restrição operação
Τ- Τ+
IS2 Batente
MOLA
EIXO

Relé diferencial percentual

Esta é a situação em que as correntes secundárias dos TCs são praticamente iguais (I S1 ≈ IS2). Nota-se
que a bobina de restrição é composta de duas partes enroladas no mesmo sentido, portanto as correntes
IS1 e IS2 produzem um campo magnético concordante que atrai com bastante força o êmbolo, produzindo
um forte torque negativo. Já na bobina de operação, a corrente resultante é I S1 – IS2 ≈ 0, ou seja, o torque
será praticamente nulo. Assim, o forte torque negativo (restrição) garantirá a não operação do relé 87.

O diagrama a seguir, nos mostra uma falta ocorrendo dentro da zona protegida. Observa-se que as
correntes IP1 e IP2 se dirigem para o ponto da falta e ocorre a inversão de I P2, para o sistema ligado em
anel. Por consequência IS2 também inverte seu sentido.

TR
IP1 TC1 AT BT TC IP2
Fonte Carga
IS1 IS2
IS1 Falta
IS2

Bobina N IS1+ IS2


N Bobina
de de
2 1
restrição operação
Τ- Τ+
IS2 Batente
MOLA
EIXO

Relé diferencial percentual

70
Dessa forma cada corrente IS1 e IS2 percorre meia bobina de restrição em sentidos opostos fazendo com
que o campo magnético resultante na bobina de restrição seja praticamente nulo. Portanto não existe
torque de restrição. Já a corrente resultante (IS1 + IS2), passa totalmente pela bobina de operação,
produzindo um elevado torque positivo. Note que nesse caso, o torque de operação é grande e o torque
de restrição é mínimo, ficando assim garantida a operação do relé.

Logo, pode-se concluir que:


a) Defeitos externos, o relé fortifica a restrição e enfraquece a operação, garantindo a não atuação
do relé.
b) Defeitos internos, o relé enfraquece a restrição e fortifica a operação, garantindo a atuação do
relé.
O esquema seguinte representa um diagrama mais simples do relé diferencial percentual que mostra a
bobina de operação e a bobina de restrição separada em duas partes:

TR
IP1 TC1 AT BT TC IP2
Fonte 2 Carga

IS1 IS2
Zona protegida
IS1 IS2

Irelé= IS1 – IS2 Bobina de


operação

Bobinas de
restrições

III.4.4- Equação Geral do Relé Diferencial Percentual.

TR
IP1 TC1 AT BT TC2 IP2
Fonte Carga
IS1 IS2
IS1
IS2

Bobina N/2 Bobina


IS1- IS2
de N de
restrição N/2 operação

Τ- Τ+
IS2 Batente
MOLA
EIXO

Relé diferencial percentual 71


Chamando IS1 de i1 e IS2 de i2, teremos que a corrente (i1 - i2) ao percorrer a bobina com N espiras
desenvolverá um torque de operação dado por:
Top α N(i1 - i2)² = K1(i1 - i2)²
Para as correntes i1 e i2 ao percorrer a bobina com N/2 espiras desenvolverá um torque de restrição dado
por:

N  i  i2   2 2 
  2N i 1  i 2 
2 2
Trest. α (N/2).i1² + (N/2).i2² = N/2(i1² + i2²) = 4.  1
2  4 


 4 

A menos do termo 2i1i2 que é desprezível, podemos escrever que:
2
i i 
Trest.  K2 1 2 
 2 
Considerando também a restrição da mola (K3), teremos a equação do relé diferencial percentual:
2
i i 
C  K 1 (i 1  i 2 )  K 2  1 2   K 3
2

 2 
Onde C é o conjugado do relé podendo este ser positivo, negativo ou nulo.

No limiar de operação do relé, ou seja, C = 0, temos, desconsiderando atuação da mola:

2
i i 
K 1 (i 1  i 2 )  K 2  1 2  , logo temos explicitando (i1 - i2):
2

 2 
K 2  i1  i 2 
(i 1  i 2 )    , que é a equação de uma reta.
K1  2 

i1 - i2

K2
ϴ tgθ =
K1

Considerando a mola e se fizermos  i1  i 2  tender para zero, temos:


 
 2 

K3
K 1 (i 1  i 2 ) 2  K 3 , então, (i 1  i 2 )  , o que mostra a influência da mola para pequenas correntes.
K1

72
Então passamos a ter:

Iop = (i1 - i2)


Conjugado positivo
δ → slope, declividade, inclinação.

𝑰𝒐𝒑
𝜹 = 𝒂𝒓𝒄𝒕𝒈
𝑰𝒓𝒆𝒔𝒕.
δ Conjugado negativo
K3
K1
Irest. = (i1 + i2)/2

Portanto o Relé Diferencial Percentual para operar, tem duas condições para satisfazer:

𝑰𝑭𝒂𝒍𝒕𝒂 > 𝑰𝒑𝒌𝒎𝒊𝒏


{
𝜹%𝑭𝒂𝒍𝒕𝒂 > 𝜹𝑨𝒋𝒖𝒔𝒕𝒂𝒅𝒐

Exemplo1.
Dada a configuração abaixo e com uma corrente de Pick up min = 0, 1 A e uma declividade ajustada em
10%, o relé irá operar?

304 + j0 400/5A 400/5A 320 + j0

I2 16 A fuga de corrente I1
I2 I1
Relé
87

III.4.5- Escolha do Transformador de Corrente.


Normalmente, os relés diferenciais possuem derivações (Taps) ou Autotransformadores com derivações
para compensar a relação de TC não exata.
Na escolha do TC, o melhor critério é escolher a mais alta relação que dará a corrente secundária igual
ou mais próxima do menor Tap do relé. A razão disto é minimizar o efeito da ligação entre TCs e Relés.
Quando da escolha da relação de TC para transformadores com mais de dois enrolamentos, deve-se
adotar que cada enrolamento transporta a maior carga nominal do transformador na sua tensão nominal.

73
Exemplo 2.
Escolher as relações dos TCs para proteger o transformador trifásico de 10 MVA, 69 – 13,8 kV, triângulo
– estrela, sem considerar que o relé tenha derivações e que seu slope ajustado é de 10%.

TR
IP1 TC1 13,8 kV TC2 IP2
Fonte 69 kV Carga

10 MVA

IS1 IS2

IS1 – IS2
IS1 IS2

74
III.5– Relés de Distância
III.5.1– Introdução.
Toda vez que houver mudança na configuração da rede, o ajuste e a coordenação dos relés de
sobrecorrente na proteção de um sistema elétrico modificam. Isto implica diretamente num problema
em relação à operação do sistema que está sempre em manobras para garantir a continuidade e qualidade
do fornecimento da energia elétrica.
Para suprir a deficiência dos relés anteriores, aparece o relé de distância que é capaz de promover uma
proteção fácil de ajustar e coordenar. O relé de distância opera medindo o parâmetro de linha de
transmissão até o ponto de curto-circuito ou de carga.
O relé de distância recebeu esse nome genérico, devido à sua filosofia de funcionamento se basear na
impedância, admitância ou reatância vista pelo relé. Como esses parâmetros são proporcionais à
distância, por isso a origem do nome do relé.

Relés de distância denominados pelo número ANSI 21 representam uma classe de relés que são:
⇒ relé de impedância;
⇒ relé de admitância ou Mho;
⇒ relé de reatância.

III.5.2 – Relés de Impedância.


De um modo geral, o princípio de funcionamento do Relé de Impedância pode ser simbolicamente pela
figura abaixo:
Batente

Km
T- T+

Bobina de Bobina de Circuito CC


retenção (T-) operação (T+)
Vem do TP Vem do TC

Pode ser visto que as grandezas que agem no braço (balanço) do relé são:

a) Tensão que é a grandeza de restrição e produz torque negativo, isto é, contrário à ação de
fechamento do relé;

b) Corrente Elétrica que é a grandeza de operação e produz torque positivo, isto é, favorável à ação
de fechamento do contato do relé.

75
Diagrama Unifilar do Relé de Impedância.

TC

Linha de Transmissão

21
TP

III.5.3– Equação do Relé de Impedância – Lugar Geométrico.


A ação das forças que agem no braço produz o torque resultante motriz dado pela equação:

 operação  K 1I 2  K 2 V 2  K m , sendo Km o torque restritivo devido à mola de restrição.

No limiar de operação do relé de impedância, o torque resultante é nulo.

Então, τoperação = 0.

Logo, 0  K 1I 2  K 2 V 2  K m e explicitando K2V2 , teremos:

K 2 V 2  K 1I 2  K m , e dividindo essa equação por K2I2 , fica:

2
K2 V 2 K 1I 2 Km V K K
  =>    1  m2
K 2I2 K 2 I2 K 2 I2  I K 2 K 2I

V
O termo   representa a impedância (Z) vista pelo relé.
 I

K1 K K1 K
Z 2   m2 => Z   m2 , onde essa equação sendo aplicada no momento de um
K 2 K 2I K 2 K 2I

Km
defeito no sistema, ou seja, quando a corrente de curto-circuito é grande, o termo  0.
K 2 I2

K1
Assim, Z  = constante = K.
K2

A impedância é representada por um número complexo, dado por: Z = R + jX

76
Z  R 2  X 2 => Z 2  R 2  X 2 , logo, R 2  X 2  K 2 (equação de uma circunferência de centro na
origem e raio igual a K).

Representando no diagrama jX x R, teremos o lugar geométrico da impedância:

jX

Região de R

Operação

Limiar de
operação

A equação R 2  X 2  K 2 representa as impedâncias que demarca o lugar geométrico do limiar de


operação do relé de impedância. Isto é, para todas as impedâncias que estão posicionadas na
circunferência, o relé está no estado do limiar de sua operação.

Portanto, a circunferência define e delimita as zonas de atuação do relé de impedância (21). As zonas
são:

I – Limiar de operação, com impedância posicionada sobre a circunferência.


II – Operação do relé (21) com as impedâncias dentro da região do círculo.
III – Não operação do relé (21) com impedâncias vistas fora da região do círculo.

O relé de impedância só opera quando o torque produzido pela corrente de curto-circuito for superior
aos torques de restrições e isto ocorre quando a impedância vista pelo relé for menor que a impedância
de ajuste.
A impedância de ajuste é exatamente o raio da circunferência, ou seja:

K1
Z ajuste 
K2

O centro da circunferência está posicionado no ponto onde está alocado (instalado) o TP que está
conectado ao relé de impedância (21).
77
III.5.4– Direcionalidade do Relé de Impedância.
Pela característica do lugar geométrico do relé de impedância, podemos constatar a não direcionalidade
desse relé.
Suponha o diagrama unifilar da figura abaixo que representa um trecho de um sistema em anel maior.

A B C
ZAB = ZABAϴAB ZBC = ZBCAϴBC

2 80% LTAB 2 80% LTBC


1 1

Colocando as impedâncias das LTs no diagrama jX x R, tem-se:

jX
C

ZBC
B ϴBC

ZAB

A ϴAB R

Suponha que o relé de impedância esteja ajustado para uma impedância que corresponde a 80% da linha
de transmissão. Como os relés de impedância estão instalados nas barras A e B, seus ajustes
correspondem a uma circunferência com centro no local da sua instalação e raio igual a sua regulagem,
isto é, de 80% da LT.
A região de atuação dos relés de impedância é mostrada na figura a seguir:

jX
C

80%
B LTBC

80%
LTAB

A R

78
Nota-se na figura acima, que o relé de impedância instalado na barra B, devido a não direcionalidade,
atua para frente e para trás. Isto é, o relé também atua para qualquer defeito na região da linha de
transmissão que fica dentro do seu círculo (zona) de operação. Já no trecho comum (hachurado) os relés
atuariam instantaneamente. Dos dois relés de impedância, o relé A atuaria corretamente, mas o relé B
atuaria indevidamente (descoordenação). Isso ocorre porque o relé de impedância não é direcional.
Desse modo, o relé de impedância deve operar acoplado a um relé direcional 67.

III.5.5– Relé de Impedância e Relé Direcional.


Para que o relé de impedância 21 possa operar num sistema em anel, o mesmo deve operar em conjunto
com um relé direcional 67. Nesse arranjo o relé direcional 67 monitora a operação do relé de impedância.
Esse acoplamento está representado na figura abaixo:

jX Normal
(Máximo Torque)

r
Limiar do Relé
De Impedância (21) Atua
R

Não atua
Limiar do Relé
Direcional 67

Observe que agora o acoplamento confere direcionalidade à proteção, e somente os defeitos a jusante do
relé e dentro da sua zona de atuação serão reconhecidos e eliminados.
Com relação ao trecho de um sistema em anel maior mostrado anteriormente, acoplando a
direcionalidade nos relés das barras A e B, teremos:
jX 80% LTBC C

80% LTAB

A R

Note que os trechos a 80% das LTs, ficam seletivamente protegidos, e os defeitos no trecho de LT AB,
não serão mais vistos pelo relé 21 e 67 da barra B, porque têm sentido de direcionalidade de B => C.

79
III.5.6– Impedância Secundária Vista Pelo Relé de Impedância.
Como foi no diagrama de ligação do relé de impedância, ele é conectado via secundário do TC e TP.
Portanto, o valor regulado no relé de impedância deve corresponder ao valor real da impedância no
trecho da linha de transmissão que se queira proteger.
O valor da impedância vista pelo relé de impedância é:
Vsecundário Vprimário I primário
Z secundário = ; Vsecundário = ; I secundário =
I secundário RTP RTC

Vprimário RTC RTC


Logo, Z secundário = . => Z sec undário = Z primário .
I primário RTP RTP

Onde,
Zprimário => Impedância real do primário.
Zsecundário => Impedância vista pelo relé de impedância.
RTC => Relação de transformação do TC.
RTP => Relação de transformação do TP.

Exemplo.
Supor que o relé deva proteger 80% de um trecho de uma LT de 230 kV, cuja impedância seja de 62,35
Ω. O TC é de 500 – 5 A e o TP 138000/115 V. Qual deverá ser o ajuste do relé de impedância?

III.5.7– Zonas de Atuação do Relé de Impedância.


Foi comentado até o momento somente sobre a primeira zona de atuação do relé de impedância. Para
qualquer defeito dentro desta zona a atuação é instantânea. Mas o relé de impedância tem mais duas ou
três zonas, cuja atuação é temporizada.
O relé de impedância opera como se fossem três relés em um só. As características de atuação da 1ª, 2ª
e 3ª zonas são mostradas a seguir:

80
As zonas 2 e 3 são temporizadas e a temporização da 3ª zona é maior que o da 2ª zona.
O relé de impedância pode tem também uma 4ª zona, é deixada desligada ou então ativada com um
tempo grande de temporização. Por segurança a 4ª zona seria mais uma retaguarda longa, cuja regulagem
alcançaria grande extensão do sistema elétrico em questão. Alguns relés podem ter a 4ª zona com direção
oposta (reversa) as demais zonas, ou seja, a zona está direcionada para trás.

III.5.8 – Regulagem e Temporização das Zonas.


Para o relé de impedância com 3 zonas, a regulagem (ajustes) de impedância e tempo deve ser feita para
cada zona em separado.
A filosofia de regulagem e ajuste de tempos de coordenação se resume nos seguintes itens:

1ª Zona: regulagem com o valor de:


Z1zona = 80% da LT a jusante do relé. A folga de 20% é para garantir a seletividade do relé, isto é, para
que o mesmo não sobrealcance o relé a jusante. Essa folga é devido à incerteza dos parâmetros usados
na modelagem do circuito, dos erros dos TCs principalmente os decorrentes da saturação e dos erros
intrínsecos dos próprios relés.
Temporização1 = Zero onde atua o elemento instantâneo do relé.

2ª Zona: regulagem com:


Z2zona = 100% da LT + (50 – 60)% da LT seguinte.
Temporização2 = T2 = Δt.

3ª Zona: regulagem com:


Z3zona = 100% da LT + 100% da LT seguinte + (20 – 30)% da próxima LT.
Temporização3 = T3 = T2 + Δt = 2Δt

Pode-se ter a 4ª zona, como zona reversa, com vários propósitos, tais como:
- Proteção alternativa de barra, com ajuste de 25% de Z1.
- Zona reversa a 100% da LT reversa na utilização no esquema da teleproteção de bloqueio.

A figura a seguir mostra um diagrama unifilar apresentando as zonas de atuação do relé A e seus tempos
de atuação:
3ª Zona
2ª Zona
A
1ª Zona

80% LTAB 50% LTBC


21 B C 30% LTCD D
81
III.5.9– Diagrama Funcional em Corrente Contínua de Operação do Relé de Impedância.
Seja o diagrama funcional abaixo em corrente contínua de um relé de impedância correspondente à
figura do item III.5.7:

+
Unidade Direcional (67)

Z2 Z3
CBS Z1
T2

B1 B2

B3 T3
Bobina da Unidade
de selagem

Bobina de Disparo RT
Do Disjuntor

52a
-

O defeito pode ocorrer em vários locais da LT do sistema elétrico.


Exemplificando, temos:

a) Defeito localizado no sistema elétrico correspondente ao ponto genérico D1:


O ponto D1 está dentro das zonas Z1, Z2 e Z3 do relé de impedância e fecham simultaneamente os
contatos Z1, Z2 e Z3 no diagrama funcional, mas o contato da unidade direcional (67) fica aberto
impedindo a operação do relé de impedância, sendo a operação bloqueada por essa unidade.

b) Defeito localizado no ponto D2:


Nesse caso, fecham simultaneamente os contatos Z1, Z2 e Z3 e a unidade direcional no diagrama
funcional, porque o defeito está dentro da 1ª zona e do lado da direcionalidade da unidade direcional.
No diagrama funcional a corrente contínua vai da barra + para a barra - , passando pelos contatos da
unidade direcional (67), bobina auxiliar B1, bobina da unidade de selagem, bobina de disparo do
disjuntor e contato auxiliar NA do disjuntor (52a). Essa corrente ativa a bobina auxiliar B1, que derruba
a bandeirola da primeira zona, e a bobina da unidade de selagem, que fecha fortemente a seu contato.
O fechamento do contato da unidade de selagem, curto-circuita a bobina B1, derivando da barra + para
a barra – uma corrente maior, que ativa a bobina de abertura do disjuntor. A bobina de abertura destrava
a trava da mola, ou libera a válvula de ar comprimido ou do circuito hidráulico para a liberação do
dispara do disjuntor abrindo seus contatos principais de potência.

82
c) Defeito localizado em D3:
Nesse caso fecham simultaneamente os contatos da unidade direcional (67), Z2 e Z3 do relé de
impedância. Observe que o contato de Z1 fica aberto. Com o fechamento do contato Z3, é colocado em
serviço o relé de tempo. Portanto, passa a operar e quando chega o tempo ajustado T2, fecha o seu contato
T2. Assim, ativa-se esse circuito e a corrente passa pela bobina B2, que derruba a bandeirola da 2ª zona,
e ativa a bobina da unidade de selagem, que fecha o seu contato. Agora, o novo caminho produz uma
corrente maior que consegue ativar a bobina de disparo do disjuntor.

d) Defeito em D4 dentro da 3ª zona no mesmo lado da operação da unidade operacional:


Nesse caso, fecham os contatos da unidade direcional (67) e Z3. A corrente ativa o relé de tempo,
Depois de transcorrido o tempo T2, o rele de tempo fecha o contato de T2, mas nada acontece porque o
contato de Z2 está aberto. Portanto o relé de tempo continua a operar até chegar o tempo T3, fechando o
contato T3, derrubando a bandeirola B3, e assim sucessivamente.

e) Defeito em D5 no mesmo lado da operação da unidade operacional:


Nesse caso, fecha somente o contato da unidade direcional (67), permanecendo abertos os demais
contatos, portanto não há trip no disjuntor.

III.5.10– Relé de Admitância.


É um relé de distância (21), que segue a mesma filosofia do relé de impedância. O relé de impedância
do tipo eletromecânico tem um cilindro de indução, onde atuam duas grandezas que são:

 Corrente elétrica que produz o torque de operação;


 Tensão elétrica que produz o torque de restrição.

A iteração dos fluxos magnéticos originados pelas duas grandezas produz no relé de admitância, o torque
motor dado pela expressão:

Onde:
r => ângulo de máximo torque do relé de admitância;
𝛕𝐦𝐨𝐭𝐨𝐫 𝐝𝐨 𝐫𝐞𝐥é = 𝐤 𝐝 𝐄𝐈𝐜𝐨𝐬(𝐫 − 𝛉) − 𝐤 𝐯 𝐄² E => tensão de polarização do relé. (VAB);
I => corrente efetiva de operação do relé;
ϴ => ângulo de defasagem entre E e I.

Desprezando-se o efeito da mola de retenção, e considerando o relé no limiar de operação, temos:

𝟎 = 𝐤 𝐝 𝐄𝐈𝐜𝐨𝐬(𝐫 − 𝛉) − 𝐤 𝐕 𝐄², e dividindo essa expressão por 𝐤 𝐝 𝐄², tem-se:

83
𝐤𝐝 𝐄𝐈𝐜𝐨𝐬(𝐫−𝛉) 𝐤 𝐄² 𝐈𝐜𝐨𝐬(𝐫−𝛉) 𝐤 𝐤
= 𝐤 𝐯 𝐄² => = 𝐤𝐕 => 𝐘𝐜𝐨𝐬(𝐫 − 𝛉) = 𝐤𝐕
𝐤𝐝 𝐄² 𝐝 𝐄 𝐝 𝐝

Note que na equação que envolve a admitância Y, os termos r, kd e kv são constantes e as variáveis são
Y e ϴ.
𝐤
Fazendo o diagrama fasorial jB x G de todas as admitâncias da equação 𝐘𝐜𝐨𝐬(𝐫 − 𝛉) = 𝐤𝐕 , tem-se a
𝐝

figura abaixo:

Note que o lugar geométrico de todas as admitâncias (Y), corresponde a uma reta no diagrama jB x G.
A menor admitância pertencente ao limiar de operação é a admitância de ajuste do relé, isto é;
𝐘𝐚𝐣𝐮𝐬𝐭𝐞 = 𝐘𝐩𝐢𝐜𝐤−𝐮𝐩 = 𝐘𝐩𝐢𝐜𝐤−𝐮𝐩 ∠ − 𝐫
Expressando agora a equação da admitância em termos de impedância, vem:
𝟏 𝐤 𝐤
𝐜𝐨𝐬(𝛉 − 𝐫) = 𝐤 𝐯 => 𝐙 = 𝐤𝐝 𝐜𝐨𝐬(𝛉 − 𝐫)
𝐙 𝐝 𝐯

O lugar geométrico no diagrama jX x R da impedância Z que satisfaz a sua equação, isto é, o limiar de
operação do relé, é agora uma circunferência conforme figura a seguir:

84
Todas as impedâncias sobre a circunferência estão no limiar de operação e correspondem as admitâncias
posicionadas sobre o limiar do relé de admitância da figura anterior. O ajuste do relé de admitância
invertido corresponde ao ajuste em impedância, isto é:

𝟏
𝐙𝐚𝐣𝐮𝐬𝐭𝐞 = 𝐙𝐩𝐢𝐜𝐤−𝐮𝐩 = = 𝐙𝐚𝐣𝐮𝐬𝐭𝐞 ∠𝐫
𝐘𝐚𝐣𝐮𝐬𝐭𝐞

O ajuste em impedância corresponde ao valor máximo do limiar de operação e tem o mesmo valor do
diâmetro da circunferência (Zajuste = diâmetro).
A circunferência de Z acima tem as seguintes características:
→ passa pela origem, ou seja, passa no ponto onde está instalado o TP conectado ao relé de admitância.
𝐤𝐝
→ seu diâmetro (ajuste) vale: 𝐙𝐦á𝐱𝐢𝐦𝐨 = .
𝐤𝐯

→ diâmetro tem ângulo r.


𝐙𝐦á𝐱𝐢𝐦𝐨
→ seu centro é igual a .
𝟐

Pode-se observar pela própria característica da circunferência que o relé de admitância é direcional. Esta
natureza direcional é uma grande vantagem desse relé.
Esse relé é também conhecido como relé MHO.
A natureza direcional é importante porque sua seletividade é garantida, sem utilizar-se de um relé
direcional adicional.
Esta direcionalidade é importante porque o relé só atua para defeito cuja impedância esteja dentro do
círculo e na frente do ponto de instalação do relé.

Do mesmo modo como o relé de impedância, o relé de admitância também contém três zonas de atuação,
conforme representação abaixo:

85
III.5.11 – Regulagem e Temporização do Relé de Admitância.
Como o relé de admitância tem 3 zonas, há a necessidade de se efetuar três regulagens (ajustes). Tem o
mesmo procedimento dos relés de impedância, ou seja:

1ª Zona: regulagem com o valor de:


Z1zona = 80% da LT a jusante do relé. A folga de 20% é para garantir a seletividade do relé, isto é, para
que o mesmo não sobrealcance o relé a jusante. Essa folga é devido a incerteza dos parâmetros usados
na modelagem do circuito, dos erros dos TCs principalmente os decorrentes da saturação e dos erros
intrínsecos dos próprios relés.
Temporização1 = Zero onde atua o elemento instantâneo do relé.

2ª Zona: regulagem com:


Z2zona = 100% da LT + (50 – 60) % da LT seguinte.
Temporização2 = T2 = Δt.

3ª Zona: regulagem com:


Z3zona = 100% da LT + 100% da LT seguinte + (20 – 30) % da próxima LT.
Temporização3 = T3 = T2 + Δt = 2Δt

Estas regulagens (ajustes) devem ser corrigidas porque a característica da inclinação da circunferência
do limiar de operação do relé de admitância, ou seja, o ângulo de inclinação do diâmetro, ou ângulo (r)
de máximo torque do relé não coincide com o ângulo natural da impedância da linha de transmissão, a
qual o relé está protegendo. Note que o ajuste do relé corresponde ao valor do Zajuste que está posicionado
com o ângulo de máximo torque do relé. Portanto, o real ajuste do relé para proteger a linha de
transmissão deve ser como mostra a figura a seguir:

B
jX 80%LT AB

Zajuste zona1

Limiar de operação do
relé de admitância

C r

ϴAB
A R

86
Observe que para todo defeito na LTAB, a impedância vista pelo relé tem ângulo ϴ AB. No defeito, se o
valor do módulo da impedância for menor que 80%LT AB, o relé atua dentro da primeira zona.
O ajuste da zona 1 do relé é feito com Zajuste zona1 posicionado na linha do seu ângulo de máximo torque.
Note que os dois pontos, formados pelo ponto A e o ponto a 80%LT AB, forma uma corda da
circunferência do limiar de operação do relé de admitância.
Logo, a perpendicular traçada pelo ponto médio da corda passa pelo centro (C) da circunferência.
A determinação do Zajuste zona1 do relé de admitância relativo a sua 1ª zona é:

Z80%LTAB Z80%LTAB Zajuste zona1


= ̅̅̅̅
CAcos(θAB − r) => = cos(θAB − r)
2 2 2

𝐙𝟖𝟎%𝐋𝐓𝐀𝐁
𝐙𝐚𝐣𝐮𝐬𝐭𝐞 𝐳𝐨𝐧𝐚𝟏 =
𝐜𝐨𝐬(𝛉𝐀𝐁 − 𝐫)

Os ajustes da 2ª e 3ª zonas do relé A são feitos considerando as LTs AB, BC e CD de acordo com o
procedimento abaixo:
A impedância real para proteger a 2ª zona, será a corda da circunferência do limiar da 2ª zona, e seu
valor será:
ZBC
Z2protegido = ZAB + = Z2protegido ∠θ2
2

Portanto, como foi feito para a 1ª zona, teremos a equação para o ajuste da 2ª zona:
𝐙𝟐𝐩𝐫𝐨𝐭𝐞𝐠𝐢𝐝𝐨
𝐙𝐚𝐣𝐮𝐬𝐭𝐞 𝐳𝐨𝐧𝐚𝟐 =
𝐜𝐨𝐬(𝛉𝟐 − 𝐫)
Para a 3ª zona, tem-se:
|𝐙𝐀𝐁 + 𝐙𝐁𝐂 + 𝟑𝟎%𝐙𝐂𝐃 |
𝐙𝐚𝐣𝐮𝐬𝐭𝐞 𝐳𝐨𝐧𝐚𝟑 =
𝐜𝐨𝐬(𝛉𝟑 − 𝐫)

Exemplo: Utilizando-se um relé de admitância que tenha o ângulo de máximo torque de 30º, obter as
impedâncias de ajustes do relé A correspondentes às 1ª, 2ª e 3ª zonas, sabendo-se que as impedâncias
das linhas de transmissão da figura são:
𝑍𝐴𝐵 = 50∠80∘ 𝛺 ; 𝑍𝐵𝐶 = 70∠65∘𝛺 ; 𝑍𝐶𝐷 = 40∠75∘ 𝛺

A B C D

80% LTAB 80% LTBC 80% LTCD


21 21 21

Sendo TC = 800 – 5A ; TP = 138000V/115V

87
III.5.12 – Relé de Reatância.
O relé de distância de reatância, ou simplesmente relé de reatância, utiliza a reatância medida desde o
início da linha, onde está instalado o relé até o ponto de defeito. Os relés de reatância são empregados
nos sistemas em que a variação da resistência de arco é considerada significativa, já que esses relés não
levam em consideração a influência dessa resistência.
Seu torque motor é dado pela expressão:

𝛕𝐦𝐨𝐭𝐨𝐫 𝐝𝐨 𝐫𝐞𝐥é 𝐝𝐞 𝐫𝐞𝐚𝐭â𝐧𝐜𝐢𝐚 = 𝐊 𝐈 𝐈 𝟐 − 𝐊 𝐄 𝐄𝐈𝐬𝐞𝐧𝛉 − 𝐊

No limiar de operação tem-se:


𝟎 = 𝐊 𝐈 𝐈 𝟐 − 𝐊 𝐄 𝐄𝐈𝐬𝐞𝐧𝛉 − 𝐊

𝐊 𝐄 𝐄𝐈𝐬𝐞𝐧𝛉 = 𝐊 𝐈 𝐈 𝟐 − 𝐊 (÷KEI²)
𝐊𝐄 𝐄𝐈𝐬𝐞𝐧𝛉 𝐊 𝐈𝟐 𝐊 𝐄 𝐊 𝐊
= 𝐊 𝐈 𝐈𝟐 − 𝐊 => 𝐬𝐞𝐧𝛉 = 𝐊 𝐈 − 𝐊
𝐊𝐄 𝐈𝟐 𝐄 𝐄 𝐈𝟐 𝐈 𝐄 𝐄𝐈
𝟐

No momento do defeito, a corrente de curto-circuito é grande e a última parcela da equação anterior fica
praticamente nula. Então,
𝐄 𝐊 𝐊
𝐬𝐞𝐧𝛉 = 𝐊 𝐈 => 𝐙𝐬𝐞𝐧𝛉 = 𝐊 𝐈
𝐈 𝐄 𝐄

Sabendo que 𝐙 = 𝐙∠𝛉 = 𝐙𝐜𝐨𝐬𝛉 + 𝐣𝐙𝐬𝐞𝐧𝛉


𝐊
Portanto, X= 𝐊 𝐈 , que representa o limiar de operação do relé de reatância.
𝐄

𝐊
O lugar geométrico de todas as impedâncias que satisfazem X= 𝐊 𝐈 está representado no diagrama
𝐄

abaixo:

jX
Não opera

Limiar de operação

Xajuste = Xpick-up
Opera

III.5.13– Arco Elétrico.


Em um sistema elétrico sujeito a qualquer tipo de curto-circuito, no local do defeito, sempre haverá a
presença do arco elétrico.

88
O arco elétrico tem característica puramente resistiva. Portanto, sua resistência elétrica equivalente é
paralela ao eixo R no diagrama jX x R.
A figura a seguir mostra um curto-circuito em uma linha de transmissão com a presença do arco elétrico
no local do defeito.

Então, sempre que houver um curto-circuito, a impedância vista pelo relé será a impedância da linha de
transmissão somada com a resistência do arco elétrico, de acordo com a expressão abaixo:
𝐙𝐯𝐢𝐬𝐭𝐚 𝐩𝐞𝐥𝐨 𝐫𝐞𝐥é = 𝐙𝐟𝐚𝐥𝐭𝐚 + 𝐑 𝐚𝐫𝐜𝐨 𝐞𝐥é𝐭𝐫𝐢𝐜𝐨
A resistência do arco elétrico varia bastante, mas o seu valor máximo praticamente é o mesmo em
qualquer ponto do sistema, indiferentemente do local do curto-circuito. Logo, colocando esta resistência
de arco em todo o trecho da linha de transmissão, a impedância vista pelo relé 21 será como representada
na figura a seguir:

Portanto, a resistência do arco elétrico pode deslocar o ponto da impedância vista pelos relés de
impedância e admitância para fora da zona de atuação devida. A figura abaixo mostra a redução do
alcance na linha de transmissão, devido à influência da resistência do arco elétrico no relé de
impedância:

89
Percebe-se que nesse caso o localizador de defeito indicará um local errado da ocorrência do ponto de
defeito. Esse problema é facilmente contornado pelo relé de reatância, que é imune a resistência do arco
elétrico. Esta é na verdade a grande vantagem desse relé.

III.5.14– Relé de Reatância e o Arco Elétrico.


O relé de reatância é ótimo para proteger um sistema da influência do efeito do deslocamento da
impedância devido ao arco elétrico. Mas como o relé de reatância, só vê reatância, isto pode causar
atuação indevida quando a carga tiver elevado fator de potência ou qualquer fator de potência capacitivo.
Por esse motivo o relé de reatância deve operar juntamente com um relé de admitância, para ter a
cobertura para esses casos.

A figura a seguir mostra um relé de reatância atuando com duas zonas, acoplado a um relé de admitância:

O diagrama de comando em corrente contínua da proteção acima este representado abaixo:

90
Com o acoplamento fica garantida a imunidade em relação a flutuação da carga para qualquer situação.
Para melhor compreensão, acompanhe a sequência das próximas três figuras.
No caso, seja uma linha de transmissão conectada a uma carga, por exemplo, uma cidade:

A impedância vista pelo relé na operação normal do sistema é:


𝐙𝐯𝐢𝐬𝐭𝐚 𝐩𝐞𝐥𝐨 𝐫𝐞𝐥é = 𝐙𝐀𝐁 + 𝐙𝐜𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞
Note que, 𝐙𝐜𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 = 𝐑 𝐜𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 + 𝐣𝐗 𝐜𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 ≫≫ 𝐙𝐀𝐁

Supondo que a energia elétrica consumida pela cidade tenha uma flutuação de carga, cujo fator de
potência seja maior ou igual a 0,92.
𝐜𝐨𝐬𝛉 ≥ 𝟎, 𝟗𝟐 → −𝟐𝟑, 𝟎𝟕° ≤ 𝛉 ≤ 𝟐𝟑, 𝟎𝟕°
Fazendo o diagrama do sistema no gráfico jX x R, temos:

O detalhe do diagrama acima está representado a seguir:


91
Note que na operação normal do sistema, a impedância vista pelo relé está longe e fora da circunferência
do limiar de atuação do relé de admitância.
Se não houvesse o relé de admitância, haveria atuação da proteção, porque o ponto de operação da carga
(cidade) poderia ter uma reatância pequena negativa (capacitiva) e o relé de reatância atuaria.
Havendo, no entanto, um defeito na linha de transmissão, mesmo com influência do arco elétrico, o
ponto deslocaria, mas mesmo assim, ainda seria visto pelo relé de reatância e admitância, e a proteção
atuaria.

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