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GABARITO DAS

AUTOATIVIDADES

SOCIOLINGUÍSTICA
Prof.a Luana Ewald
Prof.a Danielle Vanessa Costa Sousa

2ª Edição
2019
SOCIOLINGUÍSTICA

UNIDADE 1

1 A partir de suas leituras sobre a sociolinguística, você deve ter


percebido que ela se constitui como um campo científico do estudo
da língua, associado à própria linguística. Para auxiliar na sua
apropriação de conhecimento acerca dessa disciplina, montamos
para você um roteiro de leitura, com o qual você poderá registrar
suas inferências a partir das seguintes perguntas:

a) Por que houve a necessidade de iniciar uma nova escola de


pensamento para os estudos linguísticos se o estruturalismo já
marcava a linguística como ciência?

Resposta: A linguística é a ciência responsável pelo estudo da linguagem


humana. Seu reconhecimento como campo científico inicia, especialmente,
com a publicação do livro “Curso de Linguística Geral”, em 1916, o qual
aborda os principais pressupostos do estruturalismo fundado por Saussure.
Saussure analisava exclusivamente os fatores internos da língua, como sua
sintaxe e fonologia.
Logo após essa publicação, Meillet, que já tinha sido aluno de Saussure,
inicia, de modo independente, uma nova forma de pensar a língua, agora
procurando incluir as influências sociais que levam a mudanças nos fatores
internos da língua. Nesse sentido, houve a necessidade de iniciar uma nova
escola de pensamento, que se concretizou como sociolinguística anos mais
tarde, para a oposição às concepções sistêmicas e formalistas, nas quais
se acreditava ser possível explicar a língua apenas pela sua estrutura, sem
considerar os fatores externos que levam à variação e mudança linguística.

b) Quando e onde passamos a chamar os estudos que relacionam a


sociedade e a linguística como sociolinguística?

Resposta: A sociolinguística alavancou com a sociolinguística norte-


americana, a partir de um seminário organizado em 1964 em Los Angeles,
no qual podemos destacar a participação de William Labov.

c) Qual é o pressuposto básico da sociolinguística?

Resposta: A sociolinguística parte do pressuposto de que a língua é


heterogênea, e não homogênea. Isto significa considerar que não podemos
pensar na língua como unidade, mas sim como variedade.

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SOCIOLINGUÍSTICA

d) Qual o objeto de estudos da sociolinguística?

Resposta: O objeto de estudo da sociolinguística é a língua e sua relação


com a sociedade. Em outras palavras, podemos dizer que a sociolinguística
se preocupa em analisar a estrutura da língua levando sempre em
consideração os fatores externos a ela, como, por exemplo, grupo social,
escolaridade, idade e gênero dos falantes.

e) Quem é reconhecido como o principal fundador da sociolinguística


variacionista?

Resposta: William Labov é reconhecido como o principal fundador da


sociolinguística variacionista. Ele se destacou com o estudo da fala dos negros
americanos, norteando uma metodologia própria para essa área de pesquisa.

f) O que você entende por heterogeneidade e variação linguística?

Resposta: A variação linguística se refere ao conjunto de realizações possíveis


de uma língua. Dizer que uma língua varia implica considerá-la heterogênea.
A heterogeneidade é o oposto de homogeneidade. Uma língua heterogênea,
assim, é uma língua que apresenta diferenças em usos, que é diversificada.

2 Ao longo deste tópico você viu que a sociolinguística é uma escola


de pensamento da linguística. A sociolinguística surgiu, assim, para
dar conta do aspecto social que constitui o uso da língua. Nesse
sentido, essa disciplina procura responder às perguntas sobre a
língua que outras correntes de estudo (como o estruturalismo e
o gerativismo) não pretenderam responder. Tendo isso em vista,
assinale V para a(s) sentença(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s):

( ) O estruturalismo, assim como a sociolinguística, entende que a língua é


uma instituição social e, por isso, a estuda inserida em um contexto de uso.
( ) A sociolinguística procura explicar fenômenos de variação e mudança
linguísticas a partir de estudos situados com falantes da língua, já que
eles a influenciam cultural e historicamente.
( ) A sociolinguística tem caráter interdisciplinar, tendo em vista que dialoga
com a linguística geral para explicar fenômenos morfológicos, sintáticos,
semânticos e fonéticos acerca da variação linguística.
( ) Por meio dos estudos sociolinguísticos, podemos justificar o porquê de
algumas pessoas tenderem a falar mais corretamente que outras, como
é o caso da fala de professores com relação a de seus alunos.

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SOCIOLINGUÍSTICA

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) (X) F – V – V – F.
b) ( ) V – V – F – V.
c) ( ) V – V – V – F.
d) ( ) F – V – V – V.
e) ( ) V – F – V – F.

3 Leia o fragmento do texto a seguir a respeito da linguística moderna


saussuriana:

A Linguística, iniciada a partir do Curso, leva em conta os princípios


saussurianos de que a língua “é um sistema que conhece apenas sua
própria ordem” (cl g: 31); “é um sistema do qual todas as partes podem
e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica” (cl g: 102);
“é uma forma e não uma substância” (cl g: 141) e de que a Linguística
“tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma
e por si mesma” (cl g: 271).

FONTE: FIORIN, José Luiz; FLORES, Valdir do Nascimento e BARBISAN, Leci


Borges. (Orgs.). Saussure: a invenção da Linguística. São Paulo: Contexto,
2013.174 p.

Assinale a alternativa CORRETA com relação às ideias apresentadas


no fragmento do texto e à concepção de estudos sociolinguísticos
apresentados neste tópico:
a) ( ) Saussure foi o primeiro linguista a valorizar os estudos sociolinguísticos
ao reconhecer a língua como fato social.
b) ( ) O objeto de estudo da linguística estruturalista centrou-se na
estrutura da língua a partir dos fatores externos a ela.
c) (X) O estruturalismo estuda a língua em si mesma e por si mesma,
o que é fortemente criticado pelos sociolinguistas.
d) ( ) Os estudos sociolinguísticos priorizam o estudo do sistema linguístico
fechado em si mesmo.
e) ( ) Os estudos saussurianos ainda carecem de cientificidade porque
deixaram de contemplar a dimensão social da linguagem.

4 Para os sociolinguistas, os modelos estruturalistas e gerativistas


de estudo são problemáticos porque desconsideram as influências
externas à língua, como questões históricas, culturais, sociais,
ideológicas, entre outras. Escreva um parágrafo crítico a respeito
dos modelos problematizados pela sociolinguística, defendendo
a necessidade de relacionar a língua com questões históricas,
culturais, sociais, ideológicas dos seus falantes.

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SOCIOLINGUÍSTICA

Resposta: Esta questão é aberta, mas esperamos que o acadêmico discorra


sobre a oposição da sociolinguística à perspectiva homogênea da língua,
concebendo-a como heterogênea. Reconhecer esse fenômeno permite
compreender que é perfeitamente comum que a língua varie. O que não é
natural é insistir na unidade linguística, nos modelos idealizados de língua
que são impostos a todos os seus falantes.

5 Neste tópico, você viu que Meillet foi um dos primeiros linguistas
a se contrapor à corrente estruturalista, embora tenham sido
os estudiosos estadunidenses, apenas na década de 1960, que
receberam maior destaque para formulação da nova escola de
pensamento denominada sociolinguística. Sobre os principais
pressupostos da sociolinguística, analise as proposições a seguir:

I- Os fatores internos (estrutura) e fatores externos (história e mudanças


sociais) da língua são levados em consideração para explicação da
variação e mudança linguísticas.
II- São exemplos de condições externas à língua a classe social do falante, o
grupo social ao qual pertence, a situação comunicativa, a idade, o gênero.
III- Assim como Saussure, Meillet aborda a língua sincrônica e
diacronicamente, a fim de contemplar as influências históricas e atuais
na sua estrutura.

É CORRETO o que se afirma em:


a) (X) I e II.
b) ( ) I, II e III.
c) ( ) II, apenas.
d) ( ) II e III.
e) ( ) I e III.

6 Ao longo deste tópico, você se deparou, principalmente, com a


reflexão de três estudiosos da língua: Saussure, Meillet e Labov.
Disserte, sucintamente, o que aprendeu sobre eles.

Resposta: Esta é uma resposta aberta, mas se espera que o acadêmico


discorra minimamente sobre Saussure como um dos fundadores da
linguística moderna como ciência, enquanto Meillet, seu aluno no passado,
um opositor às ideias estruturalistas dessa ciência. Labov, por sua vez, é
tratado como um pai para a sociolinguística variacionista, inspirando-se em
reflexões iniciadas por Meillet.

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SOCIOLINGUÍSTICA

TÓPICO 2

1 Assinale a alternativa que melhor defina comunidade de fala para os


estudos sociolinguísticos:

a) ( ) Grupo de pessoas cuja fala seja homogênea entre si, a fim de


caracterizar a variedade linguística em comum.
b) ( ) Grupo de pessoas que vive em uma comunidade e fala a mesma
língua, sem variação.
c) (X) Grupo de pessoas que fala a língua fazendo uso de normas em
comum.
d) ( ) Grupo de pessoas que apresenta a variante padrão da língua
compartilhada entre si.

2 Veja a tabela a seguir e procure identificar as comunidades


linguísticas estudadas. Em seguida, conceitue comunidade de fala
com suas palavras:

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Contextos linguísticos
[ey] + flap [ey] e [ay] + fricativa palato-
Localidades
(dinheiro) alveolar (beijo, caixa)
Percentual PR Percentual PR
Florianópolis/SC 96% 0,32 48% 0,62
Porto Alegre/RS 99% 0,35 98% 0,46
Curitiba/PR 97% 0,79 94% 0,22
Região Sul 98% 66%

FONTE: Görski e Coelho, (2012, p. 135)

Resposta: A comunidade de fala consiste de um grupo de falantes que


compartilha normas em relação ao uso da língua. É possível que tenhamos
três comunidades de fala identificadas a partir das três localidades indicadas
na primeira coluna à esquerda: falantes da capital de Santa Catarina,
Florianópolis; falantes da capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre; falantes
da capital do Paraná, Curitiba. Outra possibilidade, seria identificar, na tabela,
uma comunidade de fala mais geral, que agrupe a variedade linguística
compartilhada pelos falantes das três capitais da Região Sul do país.

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SOCIOLINGUÍSTICA

3 (ENADE, 2017)

FIGURA - VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

A Verinha é uma gata!


De que raça?

Eu mandei ver!
E foram?

Demorô!
É que a condução atrasou

O quê? Levou uma bolada? Tô bolado...

É, hoje em dia não saco nada Pô, Vô!


mesmo. Mas, quando eu era Tu não saca nada!
jovem, sacava muito bem no
vôlei. E no tênis também!

FONTE: ENADE (2017)

O texto exemplifica a variedade linguística:


a) ( ) Diatópica (geográfica).
b) ( ) Diacrônica (de tempo).
c) ( ) Diafásica (forma/informal).
d) ( ) Diamésica (modalidade oral/escrita).
e) (X) Diastrática (camada social/profissional).

4 No quadro a seguir, você verá a comparação de fenômenos comuns


à modalidade escrita da língua e à modalidade oral.

ORALIDADE E ESCRITA

Oralidade Escrita
O momento de produção e o de Há defasagem entre o momento de
recepção do texto são simultâneos. produção e o de recepção.
O autor deve antecipar possíveis
É possível negociar o sentido com o
dúvidas do leitor e tratar de esclarecê-
interlocutor e, também, corrigir-se.
las ainda no momento de produção.
O texto é coconstruído: para comunicar-
O autor produz o texto solidariamente
se melhor, os interlocutores interagem o
e, depois, o leitor deve reconstruir seus
tempo todo, usando tanto a linguagem
significados também sozinho.
verbal quanto a não verbal.

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SOCIOLINGUÍSTICA

É possível revisar o texto quantas vezes


É impossível “voltar atrás” no que foi dito.
for necessário.
O processo de produção é transparente:
O processo de produção fica oculto: o
o interlocutor “vê” seus erros e
leitor tem acesso apenas ao texto final.
correções.
É impossível consultar outras fontes É possível consultar outras fontes e
durante a produção. checar as informações.
O planejamento é global: a pessoa
O planejamento é local: enquanto está
planeja o texto como um todo e, caso
falando uma frase, a pessoa pensa na
se desvie do plano inicial, pode aceitar
próxima.
a nova ordem ou voltar atrás.
Tende a haver maior tolerância a erros Tende a haver maior cobrança e,
e, portanto, mais informalidade. portanto, mais formalidade.
A obediência à norma padrão costuma A norma padrão costuma ser seguida
ser menos rígida. Por exemplo: as com mais rigor, até porque é possível
marcas do plural às vezes desaparecem. revisar o texto.
Predomínio de frases longas e
Predomínio de frases curtas e simples: complexas: “Para a primeira aula, está
“Bom dia, pessoal! Hoje a gente vai dar prevista uma revisão dos fundamentos
uma recordada na equação de segundo de cálculo, a começar pela equação de
grau. Vamos abrir o livro na página 10 que segundo grau. Os alunos resolverão
eu já explico”. uma série de problemas em sala, sob a
supervisão do professor”.
Predomínio da voz ativa e da ordem Uso frequente da voz passiva e da ordem
direta: “Vamos revisar os fundamentos indireta: “Serão revisados os fundamentos
de cálculo”. de cálculo”.
Maior linearidade na composição
Abundância de “frases quebradas”
das frases: “Para inscrever-se nas
(anacolutos): “Essas optativas, precisa
disciplinas optativas, é preciso ter
fazer o pré-requisito primeiro”.
cumprido os pré-requisitos”.

FONTE: Adaptado por Juarez Firmino da obra de GUIMARÃES, Thelma de


Carvalho. Comunicação e linguagem. São Paulo: Pearson, 2012. Disponível em:
<https://juarezfrmno2008sp.blogspot.com/2012/07/variacao-diamesica.html>.
Acesso em: 2 maio 2019.

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SOCIOLINGUÍSTICA

Esse quadro exemplifica a variedade linguística:


a) ( ) Diatópica (geográfica).
b) ( ) Diacrônica (de tempo).
c) ( ) Diafásica (forma/informal).
d) (X) Diamésica (modalidade oral/escrita).
e) ( ) Diastrática (camada social/profissional).

5 A variação diastrática é a que observa os modos de falar de diferentes


grupos sociais, normalmente identificados por: a) classe social; b)
idade; c) gênero; d) situação ou contexto social. Na situação de sala
de aula, em que você estiver exercendo seu papel social de professora
ou professor, na sua fala, haverá variação linguística? Explique e
argumente com a discussão realizada ao longo deste tópico.

Resposta: Na sala de aula, encontraremos grande variação no uso da


língua, como em qualquer outro contexto social. A professora ou o professor
de língua portuguesa, mesmo que desempenhe papel socialmente
reconhecido para o ensino da norma-padrão (visto que não é ensinada em
casa, no contexto familiar), sempre utiliza a língua dentro de uma variedade.
A variação, pois, é inerente à própria comunidade de fala, e estamos sempre
inseridos em alguma comunidade. Diante disso, no uso da linguagem
de qualquer professora ou professor há variação linguística, seja de sua
comunidade de fala, seja a norma padrão ensinada na escola.

6 A divisão da língua em certo e errado NÃO é utilizada pela


sociolinguística, mas sim os usos adequados e inadequados da língua
para determinados contextos comunicacionais. Tendo isto em vista,
assinale V para a(s) sentença(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s):

(F) Para desenvolver a habilidade de adequar a linguagem para cada


situação de uso, o faltante possui a competência de aprender a falar
conforme os postulados da gramática normativa.
(F) A competência comunicativa e sociolinguística permite que o falante
aprenda que todo texto escrito será produzido conforme a norma-
padrão, embora na fala possa admitir erros.
(V) Aprender a transitar entre diferentes modos de falar, conforme sua
necessidade social, corresponde ao seu desempenho adequado, que
parte da competência comunicativa e sociolinguística.

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SOCIOLINGUÍSTICA

7 Leia o fragmento do texto a seguir:

Se por gramática entendermos o estudo sem preconceitos do


funcionamento da língua, do modo como todo ser humano é capaz
de produzir linguagem e interagir socialmente através dela, por
meio de textos falados e escritos, portadores de um discurso, então,
definitivamente é para ensinar gramática, sim. Na verdade, mais do
que ensinar, é nossa tarefa construir o conhecimento gramatical dos
nossos alunos, fazer com que eles descubram o quanto já sabem
da gramática da língua e como é importante se conscientizar desse
saber para a produção de textos falados e escritos coesos, coerente,
criativos, relevantes etc. (BAGNO, 2007, p. 70).

Agora, analise a relação entre as seguintes proposições e assinale a


alternativa CORRETA:

I- Com fundamento na sociolinguística, defendemos que a gramática


normativa se constitui como objeto de ensino da disciplina língua
portuguesa

PORQUE

II- Ela explica os padrões linguísticos utilizados pelos falantes.

a) ( ) As duas proposições são verdadeiras, e a segunda é justificativa da


primeira.
b) (X) As duas proposições são falsas.
c) ( ) A primeira proposição é falsa e a segunda é verdadeira.
d) ( ) As duas proposições são verdadeiras, mas a segunda não é
justificativa da primeira.

8 Como você está começando a ter contato com uma linguagem


científica bastante específica da área da sociolinguística, sugerimos
que inicie a produção de um glossário. Toda vez que se deparar com
uma nova palavra, escreva-a em seu glossário para futuras consultas
ao longo dos seus estudos. Que tal iniciar este glossário com as
seguintes palavras: variação, variedade, variável, variante? Para isto,
construa um quadro que contenha uma coluna para a explicação de
cada um desses termos e uma para seus respectivos exemplos.

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SOCIOLINGUÍSTICA

Resposta:

Termo Explicação Exemplo


Em tempos passados (e ainda na
A variação linguística corresponde gramática normativa) costuma-se
ao processo pelo qual diferentes encontrar construções como: Vós
formas da língua podem ocorrer sois. Hoje, há uma nova forma
Variação no mesmo contexto linguístico que compete com a anterior:
com o mesmo valor referencial, Vocês são. O processo de optar
ou com o mesmo valor de por uma ou outra forma, tendo
verdade. em vista que significam o mesmo,
chamamos de variação.
Existe o dialeto (ou melhor, a
A variedade representa o modo
variedade) do interior de São
Variedade como uma comunidade fala (é o
Paulo, de Minas Gerais, do
seu dialeto).
Carioca, entre outros.
Variável linguística: no exemplo
de Vós e Vocês dado em variação
A variável linguística consiste
linguística, o lugar na gramática
no lugar da gramática onde
diz respeito ao “pronome de
localizamos a variação.
Variável segunda pessoa do plural”. Logo,
A variável extralinguística implica a variável é o pronome.
o fenômeno de variação a partir
Variável extralinguística: temos a
do grupo social.
variável gênero, a variável idade,
a variável escolaridade etc.
A variante de uma variável
A forma vocês disputa com a
corresponde às formas
Variante forma vós (ambas são, portanto,
individuais que “disputam” pela
variantes).
expressão da variável.

TÓPICO 3

1 A sociolinguística apresenta contribuições significativas para o


ensino de língua portuguesa em contexto de educação básica.
Seus subsídios acerca da diversidade linguística nos fazem
pensar a urgência de uma pedagogia culturalmente sensível com
os saberes dos educandos. A partir dessas considerações, analise
as assertivas a seguir e selecione a que esteja ancorada em uma
prática pedagógica culturalmente sensível:

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SOCIOLINGUÍSTICA

I- A compreensão da troca ortográfica de “mais” no lugar de “mas” na


escrita do aluno a partir de seu modo de falar permite um trabalho
de identificação da variação linguística, bem como a posterior
conscientização da diferença entre forma escrita e falada, ao invés da
mera correção ortográfica.
II- O trabalho de conscientização em sala de aula deve sempre levar o
aluno a substituir sua variedade linguística, quando estiver errada, para
passar a falar conforme a norma-padrão.
III- O reconhecimento da heterogeneidade que já existe na sala de aula é
um aspecto importante do trabalho com ensino de língua portuguesa
(da conscientização da língua padrão, dos usos em diferentes situações
comunicativas, etc.).

Estão CORRETAS apenas a(s) sentença(s):


a) (X) ( x ) I e III.
b) ( ) III.
c) ( ) II e III.
d) ( ) I, II e III.
e) ( ) I e II.

2 Leia o trecho de Carmo Bernardes (1969) utilizado por Bortoni-


Ricardo (2004, p. 13) para iniciar a conversa sobre língua portuguesa
como língua materna: “Custei a danar a aprender a linguagem
deles e aqueles trancas não quiseram aprender a minha” Essa fala
caracteriza a tentativa de Carmo Bernardes a aprender a língua
da comunidade escolar urbanizada, quando saiu de um contexto
interiorano. Com base no fundamento teórico discutido ao longo
desta Unidade e no próprio livro de Bortoni-Ricardo (2004), comente
a afirmação de Carmo Bernardes buscando refletir a diversidade
linguística que pode ser explorada em sala de aula e a prática
pedagógica que pode auxiliar o professor em tal tarefa.

Resposta: A citação apresenta o conflito vivenciado pela personagem em


contato com variedades linguísticas (dentre elas uma que é mais prestigiada)
impostas à sua própria variedade (inferiorizada, pois é excluída do contexto
escolar). Bortoni-Ricardo (2004) aconselha ao professor trabalhar com
diferentes estilos de linguagem e variedades a fim de dar ao aluno a
oportunidade de interagir na aula, usar uma linguagem mais espontânea
em momentos de oralidade, mas em eventos de letramento envolvendo
gêneros secundários (que exigem a língua padrão ou culta/prestigiada) o
professor volta para um grau de monitoramento mais cuidado.

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SOCIOLINGUÍSTICA

3 Considerando o contexto brasileiro, é possível afirmar que a língua


portuguesa falada pelas camadas sociais mais populares é inferior
à norma-padrão ao trazer marcas linguísticas que se distanciam das
prescrições gramaticais? Discuta.

Resposta: A língua portuguesa falada por qualquer comunidade de fala não


pode ser considerada inferior às outras variedades, inclusive em comparação
à norma-padrão. Cada variedade é instrumento identitário, logo, relaciona-
se a questões de quem detém poder político e econômico na sociedade
(não quer dizer que uma forma de falar seja melhor que outra – apenas que
um grupo detém maior poder socioeconômico e político que outro). Esses
juízos de valor são ideologicamente motivados e geram preconceitos.

4 Por que a escola deve levar os alunos a se apoderarem de regras


linguísticas que gozam de prestígio, entre outras?

Resposta: A escola tem função de ensinar as regras prestigiadas da


sociedade justamente pela função que desempenham perante práticas
escritas e orais fundamentais para os usos sociais da linguagem do aluno.
As regras linguísticas prestigiadas exercem um papel de integração entre
seus falantes e, infelizmente, de reclusão com outras variantes. O trabalho
da escola consiste em ensinar essas regras prestigiadas, levando em conta
a realidade da língua. A sociedade exige um padrão.

5 O professor deve intervir na forma em que os alunos utilizam


a linguagem no domínio escolar? Responda considerando as
diferenças entre a cultura da oralidade, predominante na variedade
usada no domínio do lar, e a cultura de letramento, como a que é
cultivada na escola.

Resposta: O professor deve intervir fornecendo a norma-padrão como uma


adição de conhecimento, não exclusão ou ridicularizarão da variedade do
aluno. Nos eventos de letramento escolares, o professor ensina, então, a
norma-padrão como uma forma da língua necessária para determinados
contextos comunicacionais. Contudo, o ensino da norma-padrão não deve
tomar um caráter corretivo. O papel do professor é, pois, de conscientizar
estudantes sobre as diferenças sociolinguísticas e fornecer a variante
adequada aos estilos monitorados orais e à língua escrita.

6 Ao longo deste tópico você viu alguns conceitos importantes


para tratarmos os diferentes modos de se utilizar a língua, seja na
modalidade escrita ou oral. Assinale a alternativa que apresenta a
melhor definição para norma culta:

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SOCIOLINGUÍSTICA

a) (X) Forma falada pelos grupos sociais de maior prestígio, também


conhecida como variedades de prestígio.
b) ( ) Conjunto de normas prescritas pela gramática normativa e, por isso
mesmo, não pertencente à comunidade de fala alguma.
c) ( ) É sinônimo de norma-padrão e amplamente utilizada nos manuais
didáticos de língua portuguesa.
d) ( ) É oposição da norma inculta, falada pelas pessoas mais ignorantes
do país.
e) ( ) Conjunto de normas ensinadas nos livros didáticos para a escrita
correta das palavras.

7 A variação linguística ocorre em todos os níveis da língua: a variação


pode ser fonético-fonológica; morfológica; sintática; semântica;
lexical; estilístico-pragmática. Diante disto, relacione as colunas,
identificando em cada variação o nível em que ocorre:

(1) Variação fonético-fonológica. (4) Camisola, em Portugal, é uma roupa


que se usa em vez da camisa. Ex.: As
camisolas dos jogadores de futebol.
(2) Variação morfológica. / No Brasil, camisola é uma peça de
vestuário feminino usada para dormir.
(6) Informal: E aí, cê tá bem? / Formal:
(3) Variação sintática. Como a senhora está?
(1) [dʒ]ia / [d]ia.
(4) Variação semântica.
(3) Eu nem num sei / Sei não.

(5) Variação lexical. (2) Maluquês / Maluquice.


(5) Aipim / Mandioca.
(6) Variação estilístico-pragmática. (2) Tô bem / Estou bem..

8 (ENADE, 2017) As variantes linguísticas são diversas maneiras de se


dizer a mesma coisa em um mesmo contexto e com o mesmo valor de
verdade. A um conjunto de variantes dá-se o nome de variável linguística.

FONTE: TARALLO, F. A Pesquisa Sociolinguística. São Paulo: Ática, 1986 (adaptado).

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SOCIOLINGUÍSTICA

Assinale a opção que apresenta dois pares linguísticos legítimos de


variação linguística.
a) ( ) m[u]rcego – m[o]rcego, [p]ata – [l]ata.
b) ( ) [b]ote – [p]ote, d[e]dal – d[ɛ]dal.
c) (X) f[i]liz – f[ɛ]liz, p[u]mada – p[o]mada.
d) ( ) [d]oca – [t]oca, lei[t]e – lei[tʃ]e.
e) ( ) [t]ime - [tʃ]ime, [d]ata – [m]ata.

9 Ouça a leitura do texto “Só de sacanagem”, com a interpretação da


cantora Ana Carolina, e preste muita atenção nas palavras destacadas:

Só de sacanagem
Elisa Lucinda - interpretado por Ana Carolina

[...]
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido,
então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba" e eu
vou dizer: Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra
vez. Eu, meu
irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a
quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que
veio de Portugal".
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dá para
mudar o final!
(Link para ouvir a leitura acesse: https://www.youtube.com/watch?v=
cE1VuxpOshI)

a) Faça a transcrição fonética das sílabas destacadas nas palavras, de


acordo com a variante da intérprete.

Palavra Transcrição fonética


Comigo [ku]mi[gu]
Rouba [xow]ba
Freguês Fre[geys]
Desde Des[dʒi]

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SOCIOLINGUÍSTICA

b) Sobre as variantes utilizadas por Ana Carolina, identifique a


pronúncia de “o” não tônico, de “r” em início de palavra, de “s” em
final de sílaba, e de “d” quando precede o som de “i” (como quando a
cantora pronunciou “desde”). Compare esses sons com a forma que
você os pronunciaria nessas palavras e descreva as semelhanças e/
ou diferenças da variação em nível fonético e fonológico.

Resposta: A resposta é aberta. Dependendo da região do falante, podemos


verificar diferentes produções do “r” - [h], [x], [ɹ], [r̆ ], [ɾ]. O “o” e o “e”, quando
atônicos, podem ser plenamente pronunciados (como em algumas cidades
do Sul do Brasil, onde viralizou o vídeo de uma menina pronunciando
palavras como empolgante, louco, com as vogais [e] e [o] – Confira o vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=gN4skkn1_9g). O “s”, dependendo da
origem geográfica do(a) acadêmico(a), pode ser mais chiado ou não – [ʃ] e
[s]; o som de “d”, ao preceder o som de “i”, pode ser pronunciado como [dʒ]
ou [d], contudo, se a pronúncia de “desde” ocorrer com a vogal [e] e não [i],
obrigatoriamente será pronunciado com [d].

10 No vídeo a seguir você deverá assistir à entrevista de Cacau Menezes,


colunista de jornais da cidade de Florianópolis, SC, com Ney
Matogrosso, artista brasileiro natural do Mato Grosso do Sul, embora
tenha vivido em São Paulo e Rio de Janeiro grande parte de sua vida.

FONTE: http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/jornal-do-almoco/videos/t/
edicoes/v/cacau-menezes-entrevista-ney-matogrosso/7368434/?mais_vistos=1.
Acesso em: 27 ago. 2019.

a) A partir do vídeo, represente foneticamente os sons destacados nas


palavras a seguir:

16
SOCIOLINGUÍSTICA

Fala de Cacau Menezes


Palavras Transcrição Fonética
Os teatros O[ʃ] teatro[ʃ]
Florianópolis Florianópoli[ʃ]
Rio de Janeiro [ ]io de Janeiro

Fala de Ney Mato Grosso


Palavras Transcrição Fonética
Rua [x]ua
Roupagem [x]oupagem
Horas Hora[ʃ]

b) Com base na transcrição fonética de alguns sons produzidos por


Ney Mato Grosso e por Cacau Menezes, responda: As palavras
indicadas para observação das variáveis linguísticas sinalizam
para semelhanças ou diferenças entre a fala do entrevistador e do
entrevistado? Explique sua resposta.

Resposta: Há semelhanças para a produção do [ʃ] em final de sílaba. O “r”


em início de palavra também é produzido da mesma forma por ambos os
falantes como [x]. Essas variantes podem ser reflexo da cidade de residência
dos falantes (Florianópolis e Rio de Janeiro) que, embora localizem-se
em diferentes estados brasileiros, são litorâneas e possuem marcas mais
acentuadas da colonização portuguesa.

17
SOCIOLINGUÍSTICA

UNIDADE 2

TÓPICO 1

1 A sociolinguística é uma área da linguística preocupada com os


estudos da linguagem sob um aspecto social. Ela pode ser dividida
em duas perspectivas diferentes de estudo: a macrossociolinguística
e a microssociolinguística. Assinale a alternativa CORRETA que
caracteriza um estudo da microssociolinguística:

a) ( ) Sociologia da linguagem.
b) ( ) Alternância de código.
c) (X) Sociolinguística variacionista.
d) ( ) Política linguística.
e) ( ) Multilinguismo.

2 A mudança linguística ocorre em três estágios: na origem (quando


inicia dado fenômeno variável), na propagação (como a nova variante
é introduzida a diferentes contextos sociais e comunidades) e no
término (quando a mudança linguística é completada). Considerando
o exposto, analise a tabela a seguir, que apresenta dois fenômenos
variáveis para duas localidades da região Sul do Brasil:

USO DE TU VS. VOCÊ E CONCORDÂNCIA VERBAL COM TU (ADAPTADA


DE LOREGIAN-PENKAL, 2004, p. 133; 167)

Concordância verbal com o


Localidades Uso de tu vs. você
pronome tu
Peso
Percentual Percentual Peso Relativo
Relativo
Florianópolis/SC 76% 0,32 43% 0,85
Ribeirão da Ilha/SC 96% 0,78 60% 0,91
Porto Alegre/RS 93% 0,61 7% 0,35
Região Sul
87% 40%
(sem Curitiba)

FONTE: Görski e Coelho (2012, p. 146)

18
SOCIOLINGUÍSTICA

Agora, a partir da análise feita e dos estudos realizados, classifique V


para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

(F) O pronome de segunda pessoa do singular é um fenômeno variável que


se realiza por meio de duas variantes (tu e você), o que revela o término
de uma mudança linguística.
(V) A variante TU está encaixada na Região Sul (Florianópolis, Ribeirão
da Ilha/SC e Porto Alegre /RS), sendo a mais usada para expressar
segunda pessoa do singular, embora haja variação para VOCÊ em 13%
das ocorrências.
(V) A variável de concordância verbal com o pronome TU tem como variantes
a presença de marca de concordância (tu vais, tu foste...) e ausência de
marca de concordância (ex.: tu vai, tu foi).
(F) A Região Sul (Florianópolis, Ribeirão da Ilha/SC e Porto Alegre /RS) parece
avaliar negativamente a ausência de marca de concordância verbal com o
pronome TU, impedindo uma mudança linguística de se completar.

3 Explique e exemplifique a afirmação “toda mudança linguística implica


variação, mas nem toda variação resulta em uma mudança linguística”.

Resposta: Para que ocorra uma mudança linguística, é necessário que


alguma forma inovadora seja introduzida em uma língua, resultando em
fenômeno variável. Exemplo: para a segunda pessoa do plural, passou-se
a utilizar duas variantes (vocês vs vós). A variante vós caiu em desuso,
prevalecendo a variante vocês. A variação linguística, neste caso, resultou
em uma mudança. No entanto, com o fenômeno variável de segunda pessoa
do singular, as variantes tu e você continuam co-ocorrendo no português
brasileiro, revelando que, embora haja a variação, não há, necessariamente,
um caso de mudança linguística.

4 Ao longo deste tópico, você conheceu os cinco problemas e princípios


empíricos para uma teoria da variação e mudança linguística: I.
Fatores condicionantes; II. Encaixamento da variação; III. Avaliação
das mudanças; IV. Transição; V. Implementação. Relacione as colunas,
indicando cada problema com sua devida explicação:

19
SOCIOLINGUÍSTICA

I- Fatores condicionantes (III) Estuda a atitude social quanto à


variante para a determinação de uma
II- Encaixamento da variação mudança linguística.
( I ) Busca identificar os fatores linguísticos
III- Avaliação das mudanças e sociais como condicionantes para a
variação e mudança linguística.
IV- Transição (V) Analisa por que uma mudança linguística
em certa estrutura ocorre em dado
V- Implementação momento, mas em outra língua não.
(II) A partir dos condicionantes, descreve
a variação e a mudança linguística em
uma comunidade de fala.
(IV) Observa e descreve uma mudança
linguística em curso.

5 A metodologia de pesquisa na sociolinguística variacionista parte


da necessidade de utilizar como corpus de análise de dados de
fala reais, tratados qualitativa e quantitativamente. Nesta questão,
gostaríamos de propor a você a elaboração de quatro etapas de
pesquisa, que você poderá desenvolver com o acompanhamento de
seu professor. Defina:

I- Seleção de um fenômeno linguístico variável.

Resposta aberta (segue uma exemplificação): variação de pronome de


segunda pessoa do singular e concordância de verbo para o pronome TU.

II- Delimitação da comunidade de fala.

Resposta aberta (segue uma exemplificação): Porto Alegre/RS.

III- Reconhecimento de todas as possibilidades de produção que estão


em variação.

Resposta aberta (segue uma exemplificação): para a segunda pessoa do


singular podem ocorrer os pronomes TU e VOCÊ; pode ocorrer ou não a
marca de concordância de verbo para o pronome TU.

IV- Levantamento de hipóteses sobre as variáveis condicionadoras


(linguísticas e sociais).

Resposta aberta (segue uma exemplificação): a idade e a escolaridade


podem ser os principais fatores sociais, além da situação comunicativa.

20
SOCIOLINGUÍSTICA

6 A avaliação das variantes linguísticas é social e tem sido observada


a partir dos traços linguísticos graduais e descontínuos. Assinale
a alternativa CORRETA que apresenta um grupo de traços
descontínuos:

a) ( ) Praca (placa); Escrevê (escrever).


b) ( ) Pexe (peixe); pobrema (problema).
c) ( ) Home (homem); Deiz (dez).
d) (X) Arvre (árvore); Têia (telha).
e) ( ) Os Menino (os meninos); Oro (ouro).

7 (ENADE, 2014) Leia o texto a seguir.

Restos
Minha Nossa Senhora do Bom Parto! O caminhão do lixo já deve
ter passado! Eu juro, seu poliça, foi nessa lixeira aqui! Nessa mesminha! Eu
vim catar verdura, sempre acho umas tomate, umas cenoura, uns pimentão
por aqui. Tudo bonzinho, é só lavar e cortar os pedaço podre, que dá pra
comer… Aí quando eu puxei umas folha de alface, levei o maior susto.
Quase desmaiei, até.
Eu, uma mulher assim fornida que nem o seu poliça tá vendo,
imagina: fiquei de pernas bamba. Me deu até tontura.Acho que também por
causa do fedor… Uma carniça que só o senhor cheirando pra saber. Mas
eu juro por tudo que é mais sagrado! Tinha sim um anjinho morto nessa
lixeira! Nessa aqui! Coitadinho… Deve ter se esgoelado de tanto chorar.
A gente via pela sua carinha de sofrimento. Ele tava com a boquinha
aberta, cheinha de tapuru. Eu nem reparei se era menino ou menina,
porque eu fiquei morrendo de pena… E de medo, também… Os olho…
É do que mais me alembro… Esbugalhado, mas com a bola preta virada
pra dentro, sabe? Ai! Soltei um berro e saí correndo.”

FONTE: SERAFIM, L. Restos. In: SOUTO, A. Variação linguística e texto literário:


perspectivas para o ensino. Cadernos do CNLF, v. XIV, n. 4, t. 4, 2010, p. 3310
(com adaptações).

Considerando a variedade linguística utilizada pela personagem do


texto, analise as afirmativas a seguir:

I- A redução do verbo “estar”, como em “tá” e “tava”, é uma característica


evidenciada na fala de sujeitos escolarizados e não escolarizados.
II- A eliminação da marca de plural, como em “os pedaço” e “pernas bamba”,
é um traço das variedades linguísticas populares faladas e escritas.
III- A prótese do fonema /a/ em “alembro” é uma característica associada à
história da língua portuguesa.
21
SOCIOLINGUÍSTICA

É CORRETO o que se afirma em:

a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) (X) I, II e III.

8 (ENADE, 2011)

'Praca cronada'
Ladrão de carros derrapa no Português
e é preso pela polícia por causa de uma
placa clonada

Disponível em: <http://www.xapeco.com.br/praca-cronada/>


Acesso em: 19. ago. esp. 2011.

O caso é caracterizado na língua como rotacismo, ou seja, um processo


de mudança em que se emprega o /r/ no lugar de /l/ nos vocábulos.
Embora seja inadequado à norma padrão da língua, esse processo é
bastante frequente em variedades de menor prestígio social. Acerca
desse tema, avalie as informações a seguir:

I- As diferenças entre variedades da língua, como a exemplificada pelo


rotacismo, não devem ser consideradas mero fator de preconceito
linguístico; dado que este é um dos fatores que favorecem a unidade
linguística de uma comunidade.
II- O rotacismo é bem aceito por todos os falantes e é empregado de forma
ampla nos diversos grupos sociais, sendo uma das mudanças que se
está generalizando no português brasileiro.
III- O processo de rotacismo é decorrente de diferenças sociais recentes,
que estão permitindo o surgimento de dialetos paralelos ao português
padrão e utilizados por falantes em ascensão social.
IV- O processo de rotacismo não é novo na língua e já ocorria no período de
passagem do latim vulgar para o português, como no caso de /plicare/ >
/pregar/.

22
SOCIOLINGUÍSTICA

É CORRETO o que se afirma apenas em:


a) ( ) I e II.
b) (X) I e IV.
c) ( ) II e III.
d) ( ) I, III e IV.
e) ( ) II, III e IV.

9 (ENADE, 2008)

Canção
Nunca eu tivera querido
Dizer palavra tão louca:
bateu-me o vento na boca
e depois no teu ouvido

Levou somente a palavra


Deixou ficar o sentido

O sentido está guardado


no rosto com que te miro
neste perdido suspiro
que te segue alucinado
no meu sorriso suspenso
como um beijo malogrado

Nunca ninguém viu ninguém


que o amor pusesse tão triste
Essa tristeza não viste
e eu sei que ela se vê bem...
Só se aquele mesmo vento
fechou teus olhos, também.

FONTE: MEIRELES, C. Poesias completas. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1993, p. 118.

Em qual das opções a seguir as duas palavras do texto estão sujeitas à


redução do ditongo, fenômeno frequente no português falado no Brasil?

a) ( ) “eu” e “bateu-me”.
b) ( ) “guardado” e “viu”.
c) (X) “louca” e “beijo”.
d) ( ) “depois” e “sei”.
e) ( ) “ninguém” e “bem”.

23
SOCIOLINGUÍSTICA

10 (ENADE, 2008)
Com relação aos estigmas linguísticos, vários estudiosos contemporâneos
julgam que a forma como olhamos o "erro" traz implicações para o
ensino de língua. A esse respeito, leia a seguinte passagem, adaptada
da fala de uma alfabetizadora de adultos, da zona rural, publicada
no texto Lé com Lé, Cré com Cré, da obra O Professor Escreve sua
História, de Maria Cristina de Campos. "Apresentei-lhes a família do ti.
Ta, te, ti, to, tu. De posse desses fragmentos, pedi-lhes que formassem
palavras, combinando-os de forma a encontrar nomes de pessoas
ou objetos com significação conhecida. Lá vieram Totó, Tito, tatu e,
claro, em meio à grande alegria de pela primeira vez escrever algo,
uma das mulheres me exibiu triunfante a palavra teto. Emocionei-me
e aplaudi sua conquista e convidei-a a ler para todos. Sem nenhum
constrangimento, vitoriosa, anunciou em alto e bom som: “teto é
aquela doença ruim que dá quando a gente tem um machucado e não
cuida direito”.

O fenômeno sociolinguístico constituído pela passagem da proparoxítona


“tétano” para a paroxítona “teto”, na variedade apresentada, é observado
também no emprego de:

a) (X) “figo” em lugar de fígado, e “arvre” em vez de árvore.


b) ( ) “paia” em lugar de palha, e “fio” em lugar de filho.
c) ( ) “mortandela” em lugar de mortadela, e “cunzinha” em vez de cozinha.
d) ( ) “bandeija” em lugar de bandeja, e “naiscer” em lugar de nascer.
e) ( ) “vende” em lugar de vender, e “cantá” em vez de cantar.

TÓPICO 2

1 A partir do texto apresentado, você pôde conhecer alguns temas


relacionados à área de ensino de línguas e seus usos. Para auxiliar
sua aprendizagem nessa disciplina, montamos para você um roteiro
de leitura, com o qual você poderá registrar suas inferências a partir
das seguintes perguntas:

a) O que você compreendeu sobre alternância de línguas e quais as


razões que conduzem os falantes a esse fenômeno?

Resposta: De acordo com Grosjean (1982, p. 145) a alternância de línguas diz


respeito ao “uso alternado de duas ou mais línguas no mesmo enunciado ou
interação”. Segundo o autor, uma única palavra, uma sentença ou mesmo várias

24
SOCIOLINGUÍSTICA

sentenças podem ser alternadas durante uma mesma interação conversacional.


Segundo o autor, a alternância de línguas tem sido descrita pelos pesquisadores
como algo natural e inerente à condição de falante de mais de uma língua. Durante
a conversação, os falantes bilíngues fazem escolhas linguísticas, observando as
vantagens e as desvantagens de usar uma ou outra língua.
Algumas das razões expostas no texto foram: preenchimento lexical, citar
alguém ou especificar o interlocutor; qualificar a mensagem, com o intuito
de torná-la mais ampla ou com mais ênfase; personalizar a mensagem,
destacando o envolvimento do falante; transmitir intimidade, aborrecimento,
bem como marcar a identidade com o grupo; excluir alguém da conversa;
incluir alguém na conversa; modificar o papel do falante; citações;
especificação do interlocutor; interjeições; qualificação da mensagem.

b) De acordo com o que estudamos nesse tópico, descreva uma situação


de alternância de línguas que você poderia presenciar na escola.

Resposta pessoal. Uma situação de alternância de línguas pode acontecer


numa prova ou aula de inglês, em que os alunos alternam algum termo na
frase. Exemplo: Everybody vai fazer o trabalho em grupo.

c) De acordo com Fishman (1965), em situações bilíngues, os falantes


podem variar o uso da alternância de línguas de acordo com três
variáveis. Quais são essas variáveis?

Resposta: As três variáveis citadas pelo autor são: o pertencimento do sujeito


ao grupo, que envolve critérios, como idade, sexo e religião; a segunda
variável refere-se à relevância da situação, no tocante aos interlocutores, ao
ambiente físico e aos estilos do discurso dos participantes; e, por último, a
variável relacionada com o tópico, pois dependendo do assunto, os falantes
podem variar na escolha das línguas.

d) Qual o conceito de bilíngue apresentado no texto, de acordo com


García (2009)?

Resposta: De acordo com García (2009), o bilíngue é alguém que possui


um repertório de diferentes línguas e tem experiências diversas em cada
uma delas. Para a autora, os falantes bilíngues não têm simplesmente dois
recipientes externos com duas línguas, mas um repertório linguístico maior,
um sistema de linguagem com características que interagem entre si para
impulsionar os desempenhos linguístico e cognitivo.

25
SOCIOLINGUÍSTICA

e) Qual a diferença entre translinguagem e alternância de línguas?

Resposta: Translinguagem se refere às construções linguísticas criativas,


recursos linguísticos, por parte dos falantes bilíngues na produção e
negociação de sentido para atingir seus propósitos comunicativos, sem a
preocupação de possuir uma competência “perfeita” no uso da língua.
A alternância de línguas é compreendida como uma estratégia de adaptação
comunicativa, empregada de forma criativa pelos falantes bilíngues, por meio
do uso de uma ou de outra língua, de acordo com os elementos particulares
de cada situação comunicativa.

TÓPICO 3

1 Na sua opinião, o contexto acadêmico tem sido um espaço de


discussões e reflexões sobre preconceito linguístico? Descreva.

Resposta: O acadêmico deve citar, caso tenha acontecido, situações de


preconceito linguístico vivenciadas dentro do espaço acadêmico e quais reflexões
ele e a comunidade acadêmica fizeram a respeito do assunto. Se a academia
tem realizado palestras, encontros e seminários para abordar o assunto.

2 O que você entendeu sobre ideologias linguísticas? Explique


apresentando exemplos.

Resposta pessoal.
Ideologias linguísticas podem ser definidas como “crenças, ou sentimentos
sobre as línguas como são usadas em seus mundos sociais” (KROSKRITY,
2004 apud LOPES, 2013), bem como “quaisquer conjuntos de crenças sobre
a língua articulados pelos usuários como uma racionalização ou justificação
de estrutura e uso linguístico percebidos” (SILVERSTEIN, 1979, p. 193).

3 Diante da concepção de língua como prática social, explique por


que a ideologia monolíngue não se sustenta. Traga exemplos que
deem sustentação a sua resposta.

Resposta pessoal.
A ideologia monolíngue não se sustenta porque a visão desta ideologia é
pautada numa ideia homogênea, fixa e imutável de língua, enquanto que
a concepção de língua como prática local considera a língua heterogênea,
social e diversa.

26
SOCIOLINGUÍSTICA

UNIDADE 3

TÓPICO 1

1 (ADAPTADO DO ENADE, 2011)


No excerto a seguir, encontram-se algumas atividades propostas em
livro didático de língua portuguesa:
Atividades com trecho do poema O operário em construção, de Vinícius
de Moraes.
Proposta:
[...]
2- Aponte todos os substantivos presentes no texto.
3- Aponte um substantivo abstrato presente no texto.
4- Aponte um substantivo concreto presente no texto.
5- Qual é o único substantivo presente no texto que admite uma forma
para o masculino e outra para o feminino?
6- Há, no texto, algum substantivo próprio? Em caso afirmativo,
aponte-o.

AZEVEDO, D. G. Palavra e criação: língua portuguesa. São Paulo: FTD, 1996. v.


8, p. 102 (com adaptações).

Sobre as atividades, assinale V para a(s) sentença(s) verdadeira(s) e F


para a(s) falsa(s):

( ) As atividades revelam um contexto de aprendizagem acerca das regras


gramaticais da norma padrão da língua portuguesa.
( ) As atividades usam o poema como recurso e pretexto para trabalhar com
os alunos tópicos de gramática, ignorando aspectos mais relevantes.
( ) A proposta apoia-se em atividades que representam uma confusão
sobre o conhecimento da nomenclatura gramatical com o aprendizado
da língua e suas regras gramaticais.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – F.
b) ( ) V – V – V.
c) (X) F – V – V.
d) ( ) F – F – V.

27
SOCIOLINGUÍSTICA

2 Todos os usos da língua são submetidos à aplicação de regras, sejam


eles pertencentes à norma padrão ou às diversas variedades linguísticas
faladas por distintas comunidades. No entanto, existem regras
gramaticais que pertencem a componentes mais fixos e outras a mais
flexíveis. Diante dessas considerações, leia as sentenças a seguir:

I- A mesa é branca.
II- A gente comprou uma mesa branca.

Explique o componente fixo destacado na sentença I e o componente


flexível destacado na sentença II.

Resposta esperada:
Sentença I: A posição do artigo definido “a” antes do substantivo “mesa”
é um componente fixo, uma vez que na língua portuguesa o artigo jamais
assumirá posição posterior ao substantivo dentro do sintagma. Em outras
palavras, dizemos sempre “a mesa”, mas nunca “mesa a”.
Sentença II: O termo “a gente” é variável, uma vez que, em seu lugar, o
falante pode utilizar “nós” com o mesmo valor de verdade. Nesse sentido,
entendemos haver um componente flexível onde pode ocorrer variação.

3 O ensino de gramática faz parte do ensino da língua, mas não deve


se restringir à abordagem normativa-prescritiva, já que ao estudante
deve ser oportunizado estudar a língua em uso. Diante disso, analise
as sentenças a seguir:

I- O estudo de regras gramaticais significa priorizar a norma padrão na escola.


II- As atividades de identificação da nomenclatura gramatical explicam as
regras da norma padrão da língua e outras variedades.
III- As regras gramaticais evidenciam que há componentes fixos e flexíveis
na língua.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) (X) Apenas a sentença III está correta.
b) ( ) Todas as sentenças estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.

4 Você viu que o estudo das regras gramaticais faz parte do estudo
da língua. Por isso, não pode ser ignorado na escola. No entanto,
também deve-se ter cuidado para não se confundir estudo das regras
gramaticais e estudo das nomenclaturas gramaticais. Explique a
diferença entre regras e nomenclaturas gramaticais.

28
SOCIOLINGUÍSTICA

Resposta esperada: As nomenclaturas gramaticais consistem nos rótulos,


nomes dados às unidades da gramática, como substantivo, verbo,
preposição, os tipos de orações, entre outros. As regras gramaticais, por
sua vez, são as realizações regulares da língua (ex.: flexionar o verbo em
primeira pessoa se o sujeito for “eu”).

5 Dentro da abordagem descritiva da língua, é possível realizarmos


a descrição de qualquer variedade linguística, reconhecendo suas
regras gramaticais. Nesse sentido, explique a afirmação: todos os
usos da língua são submetidos à aplicação de regras.

Resposta esperada: Todos os usos da língua são submetidos à aplicação


de regras, independentemente de serem pertencentes à norma padrão
ou às diversas variedades linguísticas faladas por distintas comunidades.
Considerando que a variação linguística ocorre em diferentes níveis (fonético-
fonológico, morfológico e suas interfaces, sintático, semântico, pragmático),
em diferentes situações, espaços geográficos, contexto histórico, grupo
social, há sempre um fator linguístico e social que regula o uso da língua.

6 O tratamento da variação linguística nos livros didáticos tem se


manifestado cada vez mais, embora necessite de aprofundamento.
Leia o texto a seguir e marque V para a(s) sentença(s) verdadeira(s)
e F para a(s) falsa(s), considerando os estudos realizados até o
momento nesta disciplina:

Coisas do Meu Sertão

Patativa do Assaré

Seu dotô, que é da cidade


Tem diproma e posição
E estudou derne minino
Sem perdê uma lição,
Conhece o nome dos rios,
Que corre inriba do chão,
Sabe o nome de estrela
Que forma constelação,
Conhece todas as coisa
Da história da criação
E agora qué i na Lua
Causando admiração,
Vou fazê uma pergunta,
Me preste bem atenção:
Pruque não quis aprendê
As coisa do meu sertão?
29
SOCIOLINGUÍSTICA

( ) O texto é uma boa representação de variação linguística para atividades


de identificação e conscientização, uma vez que permite reescrita para
a norma culta.
( ) A omissão do R em “fazê” pode ser discutida nas aulas de língua
portuguesa como marca de variação linguística urbana.
( ) O uso do texto literário para o estudo de variação linguística constitui
em uma prática pedagógica recomendável, uma vez que permite
exemplificar a realidade da língua portuguesa.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V.
b) (X) F – V – F.
c) ( ) V – F – F.
d) ( ) V – V – F.

TÓPICO 2

1 A sociolinguística (e/ou sociologia da linguagem) e a linguística


aplicada desvelam o multilinguismo no Brasil, apesar da existência
do mito de que aqui só se fala português. O multilinguismo reflete
diretamente as realidades de contato linguístico que existem em
nosso país. Diante desse contexto, analise as sentenças a seguir:

I- O multilinguismo brasileiro só existe porque os falantes necessitam


constantemente das línguas veiculares para comunicação com
estrangeiros.
II- Sabirs e pidgins correspondem ao vernáculo do português popular
brasileiro, que é heterogêneo.
III- No Brasil, a diglossia representa situação conflituosa, uma vez que o
uso e as atitudes diante das variedades linguísticas e de diferentes
línguas estão longe de serem estáveis.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Apenas a sentença I está correta.
b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
d) (X) Apenas a sentença III está correta.

30
SOCIOLINGUÍSTICA

2 O estudo sobre contato linguístico implica a necessidade de


utilizarmos alguns conceitos da sociolinguística, tais como: língua
veicular, sabir, pidgin, língua crioula, diglossia. Assinale a alternativa
CORRETA que melhor pode conceituar uma língua crioula:

a) ( ) Idioma de um país terceiro utilizada em situação de contato entre os


falantes que mutuamente desconhecem a língua um do outro.
b) ( ) Língua aproximativa, cujo sistema é extremamente restrito: algumas
estruturas sintáticas e um vocabulário limitado às necessidades de
comunicação imediata.
c) (X) Pidgin que se tornou a língua primeira de uma comunidade,
cujo vocabulário é emprestado de uma língua dominante e cuja
sintaxe é fundada sobre a sintaxe das línguas africanas.
d) ( ) Língua aproximativa inventada para que os interlocutores, que
desconhecem suas línguas mutuamente, possam estabelecer
comunicação, sem que seja ensinada às próximas gerações de falantes.

3 A diglossia é gerada em situação de contato linguístico, como


resultado de um contexto sociolinguisticamente complexo, onde
podem haver diferentes línguas e variedades dessas línguas.
Explique por que não podemos tratar de estabilidade linguística em
situação de diglossia.

Resposta: A noção de estabilidade da variedade alta e da baixa, proposta


por Fergunson e ampliada por Fishman, é tida como frágil. As línguas e/ou as
variedades linguísticas sempre disputam alguma legitimidade nos espaços
geográficos, o que gera novas mudanças linguísticas ou a permanência
de variações, o uso de diferentes línguas ou o desaparecimento desses
usos. Diante desse contexto, os falantes agem frente às línguas e suas
variações e, assim, fazem avaliações positivas ou negativas, o que gera,
constantemente, conflitos no contato linguístico.

4 As variedades linguísticas podem ser classificadas por tipos:


dialeto (tipicamente visto como variedade regional, embora o uso
do termo tenha sido ampliado), socioleto (variedade social), etnoleto
(variedade dos grupos étnicos), cronoleto (variedade de geração),
idioleto (modo particular de cada um falar). Assinale a alternativa
CORRETA que apresenta um exemplo de cronoleto:

31
SOCIOLINGUÍSTICA

a) (X) Um grupo de idosos entre 70 e 80 anos fala “Nós comemos”,


enquanto um grupo de jovens entre 18 e 28 anos fala “A gente
come”.
b) ( ) Em uma comunidade de surfistas, o léxico “ixi”, para indicar uma
interjeição de surpresa, faz parte da variedade de apenas um falante.
c) ( ) O inglês vernacular negro estudado por Labov.
d) ( ) O linguajar típico da região Sudeste do Brasil.

5 O sociolinguista Max Weinreich (1894-1969) popularizou a frase: “uma


língua é um dialeto com um exército ou marinha”. Escreva um parágrafo
crítico acerca dessa afirmação.

Resposta: A língua é um dialeto que desfruta prestígio social, podendo


assumir legitimação para língua padrão; o dialeto, no senso comum, é uma
língua sem prestígio, desassociado de um padrão. Para a sociolinguística,
toda língua é realizada em dialetos/variedades, o que implica no mesmo
tratamento científico para descrição.

6 (ENADE, 2017)

Texto 1

O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já


estava sendo chamado de "Gaúcho". Porque era gaúcho. Recém-
chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.
— Aí, Gaúcho!
— Fala, Gaúcho!
Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente.
A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que
as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam
português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos
não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos
falassem a mesma língua, só com pequenas variações?

32
SOCIOLINGUÍSTICA

— Mas o Gaúcho fala "tu"! — disse o gordo Jorge, que era quem mais
implicava com o novato.
— E fala certo — disse a professora. — Pode-se dizer "tu" e pode-se
dizer "você". Os dois estão certos. Os dois são português.
O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.
Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o
que acontecera.
— O pai atravessou a sinaleira e pechou.
— O que?
— O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.
A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal,
o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar,
naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com
pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo.
— O que foi que ele disse, tia? — quis saber o gordo Jorge.
— Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.
— E o que é isso?
— Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que
aconteceu.
— Nós vinha...
— Nós vínhamos.
— Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no
vermelho e deu uma pechada noutro auto.
A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que
acontecera?
Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho.
Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo
daquele jeito.

"Sinaleira", obviamente, era sinal, semáforo. "Auto" era automóvel,


carro. Mas "pechar" o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela
estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que
"pechar" vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá
teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo
brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido: Pechada.
— Aí, Pechada!
— Fala, Pechada!

FONTE: VERÍSSIMO, L. Pechada. Revista Nova Escola, maio 2014. Disponível em:
https://novaescola.org.br. Acesso em: 9 jul. 2017.

33
SOCIOLINGUÍSTICA

Texto 2

Todos sabem que existe um grande número de variedades linguísticas,


mas, ao mesmo tempo em que se reconhece a variação linguística como
um fato, observa-se que a nossa sociedade tem uma longa tradição em
considerar a variação em uma escala valorativa, às vezes até moral, que
leva a tachar os usos característicos de cada variedade como certo ou
errado, aceitáveis ou inaceitáveis, pitorescos, cômicos etc.

FONTE: TRAVAGLIA, L. C. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de


gramática. São Paulo: Cortez, 2009.

Considerando a imagem apresentada, os sentidos estabelecidos pelo


texto 1 e a reflexão provocada pelo texto 2, conclui-se que a professora:

a) ( ) Identifica “pechada” como um caso de estrangeirismo na fala de seu


aluno, incorporado à língua portuguesa como empréstimo aceitável
da língua espanhola.
b) ( ) Identifica o fenômeno de variação diafásica em nível lexical, ao
compreender o contexto de uso dos vocábulos “sinaleira” e “auto”.
c) (X) Ignora a possibilidade de discutir o tema do preconceito linguístico
com relação ao uso de variações linguísticas diatópicas.
d) ( ) Evita, ao abordar as variedades linguísticas do português brasileiro,
que o estudante Rodrigo sofra preconceito linguístico.
e) ( ) Explica os diferentes modos de falar de seus alunos conforme a
ocorrência de variações morfológicas e sintáticas na fala de Rodrigo.

TÓPICO 3

1 De acordo com a discussão feita no Tópico 3, defina a gestão do


plurilinguismo.

Resposta: A gestão do plurilinguismo pode ser definida como uma gestão


da diversidade linguística, que trata da pluralidade e variação das línguas
em contato presentes em contextos diversos. Essa gestão relaciona-se
com o modo como instituições, indivíduos e grupos lidam e agem com o
plurilinguismo, ou seja, como administram as situações de uso das línguas.
Isso envolve políticas linguísticas provenientes do Estado, de órgãos
relacionados ao governo e de pessoas ou comunidades que dispõem de
recursos, estratégias e autoridade para concretizar as políticas e gestão das
línguas, mobilizadas pelos seus aspectos ideológicos, políticos e sociais.

34
SOCIOLINGUÍSTICA

2 Cite algumas políticas, mencionadas no texto, de proteção e de


reconhecimento da diversidade linguística no Brasil.

Resposta: A Constituição Federal de 1988; o Inventário Nacional da


Diversidade Linguística do Brasil (INDL), instituído pelo Decreto nº
7.387/2010; a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, regulamentada pelo
Decreto nº 5.626 de 2005, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como
meio legal de comunicação e expressão da comunidade surda brasileira.

3 Quais são os conceitos de política e planejamento linguísticos


apresentados no Tópico 3?

Resposta: De acordo com Calvet (2007), as políticas linguísticas implicam


relações de poder, que envolvem diversas atividades de cunho político,
tais como a organização de leis, portarias, regimentos, de modo que o
planejamento representa a passagem à ação, ou seja, a implementação
do que a política orienta. Embora o autor apresente esses dois conceitos
como distintos, Calvet (2007) destaca que política e planejamento
caminham juntos, são como um binômio inseparável, não há política sem
implementação e vice-versa.

4 Conforme o texto, quais são os tipos de políticas e planejamentos


linguísticos?

Resposta: Os tipos de políticas e planejamentos linguísticos são: (i) políticas


linguísticas de corpus; (ii) políticas linguísticas de status; e (iii) políticas de
aquisição. As políticas linguísticas de corpus tratam literalmente sobre o
corpo da língua. As políticas linguísticas de status englobam as funções das
línguas nos seus contextos de uso. As políticas linguísticas de aquisição
tratam do ensino de línguas.

5 (ENADE, 2015)

Texto 1

Se empreendermos uma grande viagem pelo Brasil, de Norte a Sul e


de Leste a Oeste, recolhendo os modos de falar das pessoas de todas
as regiões, de todos os estados, das principais cidades, da zona rural
etc., vamos perceber que existem diferenças nesses modos de falar,
diferenças que podem ser fonéticas, sintáticas, morfológicas, lexicais,
semânticas, pragmáticas. Há muita semelhança, também, mas são as
diferenças que chamam mais a atenção e que permitem classificar esses
variados modos de falar a língua. Quando você consegue identificar os
traços característicos de determinado modo de falar uma língua, você

35
SOCIOLINGUÍSTICA

pode chamá-lo de variedade. A Sociolinguística veio mostrar que toda


língua muda e varia, isto é, muda com o tempo e varia no espaço, além
de variar também de acordo com a situação social do falante.

FONTE: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São Paulo:


Parábola Editoria, 2004.

Texto 2

“Olha; essa é pra quem tá arretado para conhecer um pouco mais


sobre Pernambuco”. – Cabeça do VT chamada por apresentadora.
“Então se aprochegue. A repórter Mônica Silveira mostra essa maneira
encantadora de falar”. – Cabeça do VT chamada por apresentador.
“É o mesmo Brasil, mas no meio de um bate-papo descontraído, esse
parece um país à parte” – Texto do off que abre o VT.
Na companhia da citada repórter, o poeta Jessier Quirino percorre
um mercado popular perguntando às pessoas o significado de
determinadas palavras e expressões, em ritmo de poesia falada. Dessa
conversa, surgem os sentidos atribuídos por nordestinos “Pedir
pinico” (solicitar ajuda), “Assustado” (festa surpresa), “Com a gota”
(com raiva), “cocorote” (cascudo) e “pirangueiro” (avarento).
VT produzido pela TV Globo Nordeste/Recife, veiculado no Bom Dia
Brasil em outubro de 2013. Tempo: 3''20'.

Considerando os excertos, avalie as afirmações a seguir:

I- Ao veicular uma reportagem destacando algumas formas variantes do


“nordestinês”, telejornais de abrangência nacional, notadamente em TV
aberta, contribuem para a divulgação das heterogeneidades da Língua
Portuguesa.
II- Em telejornais de veiculação nacional, o texto jornalístico deveria
recorrer apenas à norma culta da Língua Portuguesa para possibilitar
o entendimento da reportagem pelo conjunto dos telespectadores,
independentemente do seu lugar de origem.
III- A abordagem de traços de variedades ou variantes sociolinguísticas de
determinadas regiões em uma edição de telejornal de âmbito nacional
possibilita aos telespectadores das demais regiões o conhecimento e a
valorização de entidades linguísticas diferentes da sua.

É CORRETO o que se afirma em:


a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) (X) I e III.
d) ( ) II e III.

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