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LICENCIATURA EM ARTES

PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS (PE:TP)

POSTAGEM 2

ATIVIDADE 2 – CARTA AO PROFESSOR ANDRÉ

RAISA CECHIN - 1632631

Santa Maria
2020
Santa Maria, Rio Grande do Sul
09 de novembro de 2020

Caro Professor André,

Nós não nos conhecemos, mas compartilhamos um sonho. Sei que daí
onde o senhor está, em outro lugar dentro deste vasto terreno onírico, talvez
não seja mais possível lembrar do ponto de partida em que me encontro.
Nosso sonho é grande,maior que o próprio mundo, porque é um sonho que
carrega em si o meu mundo, o seu mundo, o mundo de muitos outros como
nós, e o mundo de todos aqueles que, embora nem sempre despertos, fazem
parte desse sonho.
O nosso sonho, professor André, é a Educação. Eu não sei o que o
senhor me diria sobre a Educação, se estivéssemos conversando
pessoalmente, especialmente não depois de tudo que vem acontecendo na sua
escola. Fiquei sabendo dos acontecimentos e decidi escrever, mas não é pra
retomar os fatos, não. Escrevo para falar desse lado do nosso sonho que o
senhor deixou para trás há muito tempo. Me ocorreu que talvez o senhor esteja
esquecido daqui, em decorrência dos calos que andar por muito tempo neste
sonho pode causar. Suponho que andas já aos farrapos, pés cansados, mente
confusa, prostrado, com medo, às vezes até sente que o sonho se transformou
em uma cela.
Daqui, professor André, eu já estou também cansada, sabe, mas não é
do sonho, é de ultrapassar todas as barreiras colocadas entre mim e o sonho–
a realidade, às vezes, é tão brutal que rompe com a barreira do sonho e deixa
ele longe, quase inalcançável. Pelo sonho eu ainda tenho toda a disposição e,
apesar de todas as batalhas internas, as dificuldades financeiras, o desprezo
dos que não sonham, sou, afinal de contas, uma pretensa educadora às
vésperas do diploma que me abrirá os próximos portões.
Logo entrarei em uma sala de aula munida de toda a vontade por justiça,
por igualdade, por oportunidades, por renovação, por livre expressão e o
apreço à Arte, tomada pelo fervor da certeza de que nada será páreo para
mim. É assim que me sinto toda vez que imagino a minha rotina como regente
de turmas, como mediadora de tantos mundos em formação, de tantos sonhos
em pleno nascimento, de tantas vontades e disposições. Mergulharei no
enorme rio que leva ao melhor lugar do nosso sonho com a convicção de que
posso atravessá-lo, mas sabendo, hoje, a partir da sua história, que a
correnteza vai me dar cansaço.
Com isso, gostaria de pedir que não desista. Que, se precisar, pare um
pouco para descansar, há milhares de pequenas ilhas entre um continente e
outro. Espere, respire, agarre-se à qualquer apoio e reestabeleça-se. Eu
chegarei logo, logo e, cansada, tomarei seu apoio e me dirás que espere, que a
força logo voltará. Não deixe que essa braçada maior na sua trajetória seja
motivo para afogamento, eu preciso encontrá-lo no meio do caminho – o nosso
sonho depende disso.
A escola pode parecer esse rio, esse sonho, esse cansaço, a razão do
percurso. Mas lembre-se: o caminho é entre nós e os alunos. Eles são o
continente do novo mundo, do novo sonho, porque nenhum sonho existe sem
um próximo. E o próximo sonho é que não precisemos nos deparar com um
sintoma tão latente e violento como aquele demonstrado pelo seu aluno.
Porque é isto, professor André: o acontecido, a ameaça, não passa de um
sintoma do seu aluno - ele está doente da realidade, que é cruel e não nos
deixa descansar.
Até breve,
Sinceramente,

Raisa Cechin Trilha

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