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No ano de 2020, o noticiário foi tomado pelas manifestações nos Estados Unidos em razão da

morte de George Floyd, um homem negro de 40 anos, desarmado, durante uma abordagem policial, no
dia 25 de maio.

Toda a ação foi filmada e testemunhada por diversas pessoas que presenciaram o momento em
que George foi abordado por supostamente usar notas falsas em um mercado, e foi levado já inconsciente
ao hospital, após mais de 8 minutos de sufocamento pelo joelho de um policial branco.

Esse episódio resgatou nos Estados Unidos o debate sobre a violência policial contra a população
negra, gerando diversos protestos que tomam diversas cidades ao redor dos Estados Unidos, com a pauta
do já conhecido “Black Lives Matter”. (Vidas Negras Importam)

Enquanto alguns protestos iniciaram de forma pacífica, outros envolveram invasão de delegacia,
incêndio de viaturas policiais e imóveis, saques de comércios, ensejando a reação violenta das forças
policiais, toques de recolher, novas mortes de manifestantes.

A comoção em torno de mais um caso de violência policial nos levou a seguinte questão: por que
há tanta diferença entre os protestos raciais no Brasil e nos Estados Unidos?

Essa pergunta surge em um contexto de que a polícia brasileira mata muito mais, bem como que a
população negra no Brasil é muito maior do que a dos Estados Unidos. Para se ter uma ideia, em 2019, a
polícia americana matou em torno de 253 negros, contra 4.353 negros brasileiros mortos pelo braço
armado do Estado.

Só a título de comparação, por exemplo, nós podemos mencionar a morte de João Alberto Silveira
Freitas, que foi morto espancado por seguranças em um shopingg no Carrefour no mesmo ano do
assassinato de Gorge Floyd e inclusive no dia da consciência negra. Porém, embora a morte de João
Alberto tenha gerado uma certa comoção nacional, pequenos protestos, a proporção em relação ao
episódio da morte de Gorge Floyd foi beeem menor. E a gente se pergunta, por que essa diferença?

Para responder essa pergunta, é necessário que nós façamos uma pequena analise da história do
movimento negro no Brasil e nos Estados Unidos.

O movimento negro americano, desde suas origens pode identificar bem qual seria o inimigo a ser
combatido. Isso porque após o final da escravidão no país, foi instituída pelo próprio governo as chamadas
leis de segregação. As leis de segregação eram instrumentos legais, previstos em lei, que determinavam a
separação entre pessoas negras e brancas, incluindo tratamentos diferenciados para os direitos e locais
que poderiam frequentar, Além disso essas leis também previam a possibilidade de existir grupos
declaradamente racistas (como por exemplo a Ku Klux Kan) e a criminalização do movimento negro na
época. Diante destas ações do estado, ficou beeem evidente quem seria o inimigo a ser combatido, ficou
evidente, claro, certo que o racismo era um problema e que precisava ser enfrentado. Assim, nós vemos
surgirem grandes lideranças que vão conduzir as lutas deste movimento que objetivava o fim destas leis
segregacionistas. Então, desde cedo o movimento negro americano conseguiu identificar e, mais do que
isso, provar que o problema era real e precisava ser enfrentado. Sendo assim, criou-se um engajamento
da comunidade negra e de outros setores da sociedade também em torno da causa de luta.

Por outro lado, no Brasil, foi construído aquilo que nós chamamos de Mito da Democracia Racial,
que é a ideia de que a miscigenação que ocorreu no nosso país permitiu que todas raças, etnias possam
viver em perfeita harmonia, ou seja, por mais que a desigualdade seja uma realidade no nosso país, ela
não é causada por conta da cor da pele. Nesse sentido, o preconceito seria algo inexistente no Brasil, na
concepção destas pessoas. E como isso é construído? Como essa ideia de democracia racial é formulada
na nossa sociedade? Isso acontece porque no Brasil, diferente dos Estados Unidos, não houve uma
participação clara, evidente do Estado na construção da desigualdade racial. Por exemplo, após o fim da
escravidão o racismo não foi expressamente autorizado pelas leis brasileiras, como nos Estados Unidos.
Porém, é preciso entender que diversas políticas, ou diversas ações do Estado, na prática, contribuíram
para a marginalização e extermínio da população negra após a abolição da escravatura. Um dos principais
exemplos é o Decreto dos Imigrantes (Decreto nº 528/1890), que não só incentivava, como financiava a
vinda de imigrantes do continente Europeu, com a possibilidade de aquisição de terras mediante trabalho.
Em contrapartida, não foi estabelecida nenhuma política pública de inclusão das pessoas negras à
sociedade ou ainda reparação histórica, incluindo a instituição da chamada Lei de Terras, que negava aos
negros o direito de adquirir propriedades. Ademais, o Código Penal da época (Decreto nº 847/1890)
criminalizou a chamada “vadiagem”, de modo que pessoas sem emprego (e praticantes de capoeira)
podiam ser encarceradas.

Assim, enquanto nos Estados Unidos o racismo e a segregação eram práticas legitimadas e
permitidas por lei, tornando facilmente palpável o inimigo a ser combatido, no Brasil estabeleceu-se o mito
da democracia racial, com muitos adeptos até o dia de hoje, que dificultam a abordagem e legitimidade de
pautas raciais em diferentes espaços da esfera civil e política. Ter consciência de quem é a favor ou
contrário à luta antirracista reflete diretamente na união do movimento negro de cada país.

Ao contrário dos Estados Unidos, onde as pessoas se enxergam primeiramente como negras,
antes mesmo de sua nacionalidade, no Brasil temos um discurso nacionalista, que muitas vezes pode
afastar necessários debates sobre a temática racial.

Por isso, nós entendemos que Um dos maiores desafios do movimento negro no Brasil,
sempre foi provar a necessidade de sua existência e atuação.

Porém, analisando os fatos da nossa sociedade, nós podemos identificar facilmente que esta
histórai de democracia racial é uma das maiores balelas já inventadas neste país. E eu queria mostrar isso
pra vocês na prática.

Gráfico da desigualdade racial no Brasil.

Caso Evaldo Rosa

O caso Evaldo Rosa, também conhecido como Caso dos 80 tiros,[1][2] refere-se


ao homicídio do músico Evaldo Rosa dos Santos e do catador de material reciclável Luciano
Macedo, que ocorreu no dia 7 de abril de 2019 na cidade do Rio de Janeiro. Às 14h40min,
Evaldo dirigia um Ford Ka com cinco ocupantes pela Estrada do Camboatá quando militares
do Exército Brasileiro abriram fogo. Evaldo foi alvejado e morreu na hora. O passageiro Sérgio
Gonçalves ficou ferido e Luciano, que passava pelo local e tentou prestar socorro, também foi
baleado e morreu onze dias depois. [3][4][5] Os ocupantes do veículo e as testemunhas afirmaram
que os militares iniciaram os disparos abruptamente, pelas costas, sem nenhuma sinalização ou
advertência anterior, e não pararam de atirar nem mesmo após a saída da esposa, grávida, e do
filho do músico do carro.[6] De acordo com a Polícia Militar Judiciária, os militares dispararam 257
tiros de fuzil. 62 perfuraram o automóvel. [3]
O Comando Militar do Leste alegou que os militares, em patrulhamento regular, haviam se
deparado com um roubo nas imediações e que as vítimas iniciaram a troca de tiros. Na mesma
nota, disse que um transeunte inocente havia sido vítima do tiroteio. [6][7] Posteriormente, o CML
publicou outra nota, afirmando ter encontrado inconsistências nos depoimentos dos militares, que
foram afastados.[8] Dez dos doze militares do destacamento tiveram a prisão decretada. Um deles
foi solto em audiência de custódia realizada na 1ª Auditoria da Justiça Militar no dia 10 de abril de
2019[9] e os demais no dia 23 de maio, por decisão do Superior Tribunal Militar.[10]
De acordo com documentos levantados pela Agência Pública, os militares não realizavam
patrulhamento regular, mas participavam da "Operação Muquiço", na qual o Exército atuou
inconstitucionalmente como força de segurança pública (visto que o decreto de garantia da lei e
da ordem de 2018 já havia expirado).

Braga
Braga é o único preso remanescente dos protestos de junho de 2013 na
capital fluminense, quando foi detido, denunciado e condenado por violação
ao Estatuto do Desarmamento. Na ocasião, ele portava uma garrafa de
água sanitária e outra, de desinfetante, próximo ao local onde milhares de
pessoas se manifestavam contra o aumento das tarifas de transporte
público. No próximo dia 20, a prisão completa quatro anos --ele está no
Complexo de Bangu, na zona norte do Rio. Ainda em 2013 o catador
acabou condenado a cinco anos de prisão --o Ministério Público e a Justiça
entenderam que o material seria usado para coquetéis molotov--, mas
obteve a redução da pena para quatro anos e oito meses.

Ano passado, no entanto, ele foi pego novamente pela polícia, enquanto
cumpria a pena anterior no regime aberto e com tornozeleira eletrônica,
supostamente portando 9,3 gramas de cocaína, 0,6 grama de maconha e
um rojão --a defesa diz que a droga e o artefato foram plantados pela
polícia porque Braga teria se negado a fornecer informações sobre o tráfico
na Vila Cruzeiro, comunidade pobre vizinha dos complexos do Alemão e da
Penha, na zona norte do Rio, e onde a família dele ainda vive.

Agatha
O caso Ágatha Vitória foi a morte da menina negra de 8 anos Ágatha Vitória Sales Félix,
alvejada por um disparo efetuado pela Polícia Militar, na comunidade da Fazendinha, Complexo
do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, em 20 de setembro de 2019, quando retornava de
um passeio com a mãe. A criança chegou a ser socorrida e levada para a Unidade de Pronto
Atendimento (UPA), do Alemão e transferida para hospital Getúlio Vargas, mas não resistiu aos
ferimentos.[1]
A menina de 8 anos estava no banco traseiro de uma Kombi para transporte coletivo, quando
levou um tiro nas costas. O motorista havia estacionado para que alguns usuários
desembarcassem, quando uma motocicleta com dois homens passou ao lado do veículo e um
cabo da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), efetuou o disparo. A bala ricocheteou em um
poste, bateu na tampa do motor da kombi e desviou para o banco traseiro do veículo, acertando
Ágatha nas costas.[2]

Rodrigo Alexandre

Chovia nesta segunda-feira (17/9), no início da noite, no Rio de


Janeiro. Morador da favela Chapéu Mangueira, na zona sul, Rodrigo
Alexandre da Silva Serrano, 26 anos, desceu a ladeira para esperar a
mulher e os filhos com um guarda-chuva preto, um celular, um
“canguru” (aquela espécie de suporte para carregar crianças) e as
chaves de casa, próximo ao bar do David. Eram 19h30.
De repente, três disparos. Na sequência, Rodrigo percebeu que foi
baleado. Segundo moradores, policiais da UPP (Unidade de Polícia
Pacificadora) da comunidade teriam atirado no homem por ter
confundido seu guarda-chuva com um fuzil e o “canguru” com um
colete à prova de balas.
João Alberto

Em 19 de novembro de 2020, um dia antes do Dia da Consciência Negra, João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de quarenta anos, foi assassinado pelos
seguranças Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva, um ex-militar e um policial militar temporário, numa loja do hipermercado Carrefour, localizada no
bairro Partenon, zona leste da cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.[10][11] Ambos eram contratados da empresa Vector, sendo que Silva não tinha autorização
para trabalhar como segurança.[11]

Após um desentendimento na loja, dois seguranças e a fiscal Adriana Alves Dutra seguiram a vítima do caixa ao estacionamento. [12] João Alberto agrediu Giovane[13], um
dos seguranças, com um soco já na saída[12] e, a partir de então, foi agarrado e agredido com vários chutes e socos. [12] Após quinze segundos sendo golpeado em pé, os
seguranças o derrubaram no chão e continuaram a desferir-lhe socos e pontapés. [12] Apesar da intervenção de várias testemunhas e da esposa da vítima, os dois
seguranças permaneceram espancando João Alberto além de, em conjunto com a fiscal Adriana e outros funcionários do Carrefour, intimidarem as testemunhas,
dificultarem as gravações do crime e impedirem o socorro. [14] Conforme testemunhas, João Alberto pedia por ajuda e suplicava que o deixassem respirar. [15][16] Um
entregador que estava no local e filmou o homicídio relatou que os assassinos tentaram apagar o vídeo e o ameaçaram. [17] Além disso, os seguranças impediram que
outras pessoas interviessem, mesmo com gritos de que estavam matando o homem. [18]

Atividades:

1 – Segundo o texto, a morte de George Floyd causou uma comoção em todo os EUA, se
espalhando posteriormente por todo o mundo. Entretanto, o texto afirma que a quantidade de negros
vítimas de ações policiais no Brasil é muito maior que a dos EUA. Sendo assim, após analisar o texto,
responda a seguinte pergunta:

- “por que há tanta diferença entre os protestos raciais no Brasil e nos Estados Unidos?”

2 – O que foi o processo de embranquecimento idealizado pelas autoridades brasileiras no final do século
XIX?

3 – O que eram as leis segregacionistas existentes nos EUA na primeira metade do século XX?

4 – Segundo o texto, quais políticas adotadas pelo Estado Brasileiro contribuíram para a marginalização e
extermínio da população negra após a abolição da escravatura?

5 – Quais as principais pautas de luta do movimento negro brasileiro na atualidade?

6 – Você concorda com a política de cotas? Explique.

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