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Faculdade Dehoniana

Ética Social
Charles Augusto A. V. Santos
16/11/2021

Ética Culturalista em Miguel Reale


Introdução

A base para este trabalho é a visão axiológica que Miguel Reale tem da ética, essa ética
tem como princípio o valor, diferentemente da tradição que considerava o bem como ação ética.
Há a necessidade de estudar como se dá esse valor para Reale, muitos estudiosos percebem
uma teoria dos objetos, que é o estudo da natureza de algo que é passível de ser colocado como
objeto do conhecimento.
Além disso, tem que se observar as características que Reale coloca como sendo do valor,
portanto o estudo a seguir se trata na questão do valor, daí se dá a ética no mundo culturalista do
acadêmico Miguel Reale.

Variações entre ética e cultura para Reale

Respondendo Ubiratan Borges de Macedo - doutor em filosofia com especialização em


ética – em um artigo em que o mesmo criticava de forma ambiciosa a falta de estudos sobre a ética
na filosofia nacional, Reale diz de forma simplificada como vê a ética.
Ubiratan critica na revista brasilis de 2005, um “vazio quando se trata de ética ou moral”
na cultura filosófica brasileira, prevalecendo assim estudos de caráter cientifico ou epistemológico,
quando não estéticos ou metafísicos.
Reale concorda que não há muitas obras que versam especificamente sobre a ética no
brasil, mas ela é abordada de modo geralista. O acadêmico argumenta que quando se faz uma
monografia como a sua obra Fundamentos do Direito, é necessário um estudo sobre a ética.
Nessa mesma obra, estuda a ética Kantista de Del Vecchio e a ética de Duguit (positiva
partindo de uma ética de base experimental), mas dá atenção a axiologia, uma ética fundada nos
valores, uma ética culturalista e como o mesmo diz:
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A eticidade da cultura revela-se, pois, sob vários enfoques. Em primeiro


lugar, toda e qualquer objetivação do espírito (entendido o termo “objetivação”
em sua acepção mais ampla, quer como ato de perceber ou
pensar objetos, quer como ato de realizar objetos e objetivos) pressupõe uma
relação entre um “eu” e “outro eu”, ou seja, a “intersubjetividade”. Desse modo,
na raiz de toda instauração de um bem de cultura há uma relação “inter
homines”, que exige a formulação de uma norma ou medida que atribua a cada
um o que é seu. (variações de ética e cultura)

Como visto na frase “desse modo, na raiz de toda instauração de um bem de cultura há
uma relação ‘inter homines’, com base numa relação “intersubjetividade” com o outro, para isso é
necessário que uma norma que diga a cada um o que é seu.
Segundo Reale, a ética é a parte da filosofia que tem por objeto os valores que presidem o
comportamento humano em todas as suas expressões existenciais. E o estudo desses valores é a
axiologia.
Reale compreende o valor da seguinte maneira:

“o valor situa-se no “mundo do dever-ser”, que corresponde ao que não pode


ser apenas pensado, por implicar sempre uma necessária tomada de posição no plano de
sua realização. Com efeito, se o que é considerado valioso jamais se realizasse seria
apenas uma ilusão ou quimera, não merecendo um minuto sequer de nossa atenção.”

Segundo essa premissa de Reale, o valor é entendido como algo que deveria ser, numa
visão baseada em Hans Kelsen.
Há para Reale um valor fundante, que vira uma invariante axiológica, que são valores-
fonte que não se alteram conforme o tempo e não desaparecem do cenário cultural. Desses valores,
podemos pontuar o valor da pessoa humana, o valor à vida, e um mais recente, o valor a
propriedade privada.
A ética poderia parecer uma expressão de ideias dominantes, porém, segundo Reale, ela
está em uma instância superior, como se fosse uma manta que cobrisse todo o nosso mundo social,
como a moral, a própria norma, os costumes, a política e o governo, tudo está sob a manta da ética.
Mas há um problema, onde se encontra o valor? E como observa-lo?

O valor na teoria dos objetos


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Reale inova na chamada “teoria dos objetos”, que tem base na categoria do ser e dever.
Essa inovação se dá pelo motivo de que ele não vê o valor como “objeto ideal”, como via Max
Scheler e Hartmann, é essa sua síntese superadora, que supera a posição bidimensional e vê o valor
dentro de um novo “setor” na teoria dos objetos.
O valor para Reale, é indescritível, o que pode se dizer sobre é que “ser é o que é” e que
“valor é o que vale”.
Para melhor explanação, a teoria dos objetos distingue aquilo que pode ser conhecido em
“setores”, os primeiros setores são de objetos físicos juntamente aos objetos psíquicos, os objetos
físicos englobam tudo aquilo que faz referência ao espaço e ao tempo, enquanto os psíquicos fazem
referência somente ao tempo, esses objetos correspondem aos denominados bens naturais.
Diferente desses, tem o “setor” dos objetos ideias – na qual, o valor estava contido antes de
Miguel Reale – que não fazem referência nem ao espaço nem ao tempo, são entidades abstratas, que
existem enquanto pensadas pelo homem.
O valor, mesmo ausente de temporalidade e espacialidade, ele tem uma peculiaridade, por
isso a necessidade de ser observado em um novo “setor”, ele só pode ser considerado a partir de
alguma coisa existente.
Com essa síntese, Reale afirma uma autonomia do valor, que não é englobado pelos outros
objetos ideais, podendo com essa síntese de que o valor é algo autônomo e objeto da ética,
compreender uma nova concepção de cultura como um “reino intercalado para unir mundos (o da
natureza e o do valor) ”. Essa comunicação era vista como impossível de acontecer.
Concluindo, o valor é objeto da ética, e Reale vê o valor como dever-ser, um ideial, a luz
da teoria dos objetos, mas sempre em correlação ao fato e a norma, garantindo assim sua
dinamicidade e concretude. Por isso, Reale diz que os termos “ontognoseologia” e
“tridimensionalidade” firmaram em seu espirito.

Referencias

MARTINS, Alexandre Marques da Silva. Os valores em Miguel Reale. Revista de


informação legislativa, 2008, disponível em https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/496912
REALE, Miguel. Variações sobre ética e cultura. 2006. Artigo disponível em
http://www.miguelreale.com.br/artigos/varetcult.htm
REALE, Miguel. Variações sobre ética e moral. 2001. Artigo disponível em
http://www.miguelreale.com.br/artigos/veticam.htm
REALE, Miguel. Teoria tridimensional do direito. 5º ed. 1994. Editora saraiva. São
Paulo.
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