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AUTORES:
Orientador:
2
Prof. Orientador: Clovis Bueno de Azevedo
3
ERRATA
4
Marcelo Moreira de Vasconcelos e Neemias Ramos Freire
5
“Dedicamos este trabalho aos Oficiais
de Justiça de todo o País, que trabalham para
levar a Justiça a seus destinatários.”
6
AGRADECIMENTO
7
“Quando nada parece ajudar, eu vou e olho o
cortador de pedras martelando sua rocha
talvez cem vezes sem que nem uma só
rachadura apareça. No entanto, na centésima
primeira martelada, a pedra se abre em duas e
eu sei que não foi aquela a que conseguiu, mas
todas as que vieram antes."
Jacob Riis
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RESUMO
9
ABSTRACT
The present paper describes the importance of the Judicial Officer at different times and
spaces. The research, of empiric and theoric nature, makes use of the literature that registers
the characteristics of the Judicial Officer's professional acting. It emphasizes the importance
of that professional in the performance of their duties in the Judiciary. It makes an attempt to
show the need of a specific role for this public employee in the structure of the Judiciary. It
determines the specificity of the typical activities of the Judicial Officer and the construction
of an evaluation model in consonance with the new management techniques that echoes at the
human resources area. The research also reports the difficulties in obtaining from the manag-
ers in that area the recognition of the importance of the work developed by the Judicial Officer
as Judge's Assistant, as a professional with a long historical tradition.
Keywords: Judicial Officer; public work; managerial reform of State; career plan; functional
ascension; performance evaluation.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CF – Constituição Federal
MI – Mandado de Injunção
MP – Medida Provisória
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MS – Mandado de Segurança
RH – Recursos Humanos
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SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................................ 15
1) O Oficial de Justiça no Judiciário Federal ..................................................... 18
1.1 O local de trabalho do Oficial de Justiça ..................................................................... 18
2) O Oficial de Justiça, um Auxiliar do Juiz ........................................................ 21
2.1 História ........................................................................................................................ 21
2.2 Legislação e doutrina .................................................................................................. 24
2.3 O Oficial de Justiça no mundo..................................................................................... 26
2.3.1 A União Internacional dos Oficiais de Justiça............................................................................. 26
2.3.2 Os modelos de execução processual ........................................................................................ 28
2.3.3 Países que adotam o modelo jurisdicional ........................................................ 29
2.3.3.1 Itália....................................................................................................................... 29
2.3.3.2 Alemanha .............................................................................................................. 30
2.3.4 Países que adotam o modelo extrajudicial ......................................................... 31
2.3.4.1 França ................................................................................................................... 31
2.3.5 Países que adotam o modelo misto .................................................................... 32
2.3.5.1 Portugal ................................................................................................................ 32
2.3.5.2 Espanha ................................................................................................................ 34
2.3.5.3 República Tcheca ................................................................................................ 35
2.3.6 Países que adotam o modelo administrativo ..................................................... 35
2.3.6.1 Suécia ................................................................................................................... 35
2.3.6.2 Finlândia ............................................................................................................... 36
3) Como o Oficial de Justiça deixou de ser um cargo no Judiciário Federal .. 38
3.1 Pressupostos teóricos – A Reforma Gerencial do Estado ........................................... 38
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3.2 O fim da ascensão funcional ....................................................................................... 43
3.3 A nova lógica das carreiras pós-Reforma Administrativa ............................................. 45
3.4 Os planos de cargos e salários no Judiciário Federal ................................................. 48
3.5 No primeiro PCS, o cargo de Oficial de Justiça deixa de existir .................................. 49
3.6 Muda a Lei 9.421/96, mas o cargo de Oficial não é recriado ....................................... 54
3.7 Razões da resistência ao cargo de Oficial de Justiça .................................................. 55
3.7.1 O uso do cargo largo para evitar o desvio de função ................................................................. 56
3.7.2 O Oficial de Justiça no Plano de Carreira do Judiciário Federal ................................................ 58
3.8 A exigência da formação em Direito para o Oficial de Justiça ..................................... 59
3.9 A ascensão do Oficial em um Plano de Carreira ......................................................... 63
3.10 O Oficial de Justiça como atividade de risco ............................................................. 64
4) As atribuições dos Oficiais de Justiça ........................................................... 68
4.1 Pressupostos legais .................................................................................................... 68
4.2 Predicados necessários ao Oficial de Justiça .............................................................. 72
4.3 Condutas proibidas ao Oficial de Justiça ..................................................................... 73
4.4 Cumprimento de mandados na prática........................................................................ 74
4.5 A Certidão do Oficial ................................................................................................... 76
5) A Avaliação de Desempenho do Oficial de Justiça ........................................ 78
5.1 Introdução ................................................................................................................... 78
5.2 A avaliação de desempenho no serviço público .......................................................... 79
5.3 Histórico da avaliação de desempenho ....................................................................... 81
5.4 O que é avaliação de desempenho? ........................................................................... 81
5.5 A Avaliação por Competências .................................................................................... 82
5.6 Resultados da avaliação de desempenho ................................................................... 83
5.6.1 Problemas na avaliação de desempenho .................................................................................. 83
5.7 A reação do avaliado ................................................................................................... 84
5.7.1 Proposta para avaliação dos Oficiais de Justiça Federais: ........................................................ 84
5.8 Conclusões ................................................................................................................. 85
Considerações finais .............................................................................................. 87
Anexo 1 .................................................................................................................... 94
Anexo 2 .................................................................................................................. 100
Anexo 3 .................................................................................................................. 104
Anexo 4 .................................................................................................................. 115
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INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende mostrar a importância dos Oficiais de Justiça Avaliadores como
auxiliares dos Juízes no processo judicial, bem como a necessidade de que essa atividade vol-
te a ter o status de “cargo” na estrutura de carreira do Poder Judiciário Federal, perdido desde
a Lei 9.421, de 24 de dezembro de 1996. Para isso, fomos pesquisar a história dos Oficiais de
Justiça, que remonta aos tempos bíblicos do Velho Testamento. Fomos também em busca das
experiências de outros países, notadamente da Europa, que dão status especial ao processo de
execução e à atuação do Oficial de Justiça na consecução final do direito pretendido.
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Ao cotejar conhecimentos teóricos e a prática do cargo, avançamos indicando alguns ca-
minhos para melhor adequação dos servidores e do serviço público ao requerido pela socieda-
de, em um quadro de mudanças rápidas que precisam ser acompanhadas pela administração.
Assim, falamos em novas formas de exercício da função, propondo mecanismos de avaliação
que hoje, em realidade, praticamente não existem.
Ao assumirmos uma atitude propositiva, buscamos um diálogo, que esperamos, seja pro-
fícuo, motivador da abertura para instauração de um processo democrático de discussão que
leve a um aperfeiçoamento dos serviços públicos, contemplando os interesses do governo, da
sociedade e também dos servidores.
1 A administração judicial, atividade que envolve a gestão de pessoas, caracteriza-se como uma função atípica da estrutura
judiciária, sendo atribuição constitucional no sentido de organizar e gerir seus órgãos e serviços, conforme determina o
Artigo 96, Inciso I, da Constituição Federal.
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• Da transparência
• Do comprometimento
• Da premiação em torno dos resultados
Evidentemente que, sendo assim, os componentes da organização deverão:
17
1) O OFICIAL DE JUSTIÇA NO
JUDICIÁRIO FEDERAL
Nas Secretarias das Varas, o Oficial de Justiça é subordinado ao Juiz, de quem cumpre as
ordens judiciais. Com isso, cumpre mandados em toda a jurisdição (4) da Vara, que na maioria
dos casos compreende mais de um município. Nas Centrais de Mandados de 1ª instância, o
Oficial de Justiça recebe mandados dos Juízes de todas as Varas da respectiva localidade, e
sua área de atuação é mais reduzida. Existem ainda os Oficiais de Justiça que são lotados em
2 Existem Oficiais de Justiça Avaliadores Federais nas Justiças Federal, do Trabalho e Militar da União. Os Oficiais de
Justiça do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, apesar de serem da Justiça Comum, são considerados Oficiais de Justi-
ça Avaliadores Federais, por fazerem parte do mesmo Plano de Cargos e Salários dos demais (Lei 11.416/2006).
3 Em sessão administrativa realizada em 11 de fevereiro de 2009, os ministros do Supremo Tribunal Federal decidiram
criar uma Central de Mandados. O objetivo é reunir os oficiais de Justiça responsáveis pela expedição dos mandados e
acelerar o cumprimento das determinações do Supremo.
4 Aqui compreendida como a área de atuação sob a qual a Vara exerce a sua competência territorial.
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setores especializados, como o Serviço de Depósitos Judiciais, no caso do TRT da 2ª Região
(São Paulo), cuja função é realizar as remoções de bens e penhoras em boca de caixa. Já no
caso da Justiça Federal, novamente usando o exemplo da cidade de São Paulo, recentemente
foi criada a Central Unificada, que juntou mandados cíveis, de execuções fiscais e previdenci-
árias num único local, ficando os processos criminais em uma Central separada.
STF
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Para entendermos o funcionamento de uma Central de Mandados, usamos como referên-
cia a Central de Mandados da Justiça do Trabalho de São Paulo, que atende as 90 Varas da
Capital e à Central de Precatórias (processos originários de outras jurisdições), assessorada
pelo Serviço de Remoções e Depósito Judicial e pela Central de Hastas Públicas, serviço que
no TRT da 2ª Região está sendo realizado por empresas especializadas em leilões.
Distribuição Unidade de
de processos Atendimento Integrada
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2) O OFICIAL DE JUSTIÇA, UM AUXILIAR DO JUIZ
2.1 História
A função do Oficial de Justiça como auxiliar da justiça perpassa vários períodos históri-
cos. O prof. Alfredo BUZAID, em seu parecer contido na obra “Oficial de Justiça - Teoria e
Prática” (Gerges NARY, Edição Universitária de Direito, 4ª ed., 1985), indica que a figura do
Oficial de Justiça remonta, historicamente, aos Direitos Romano (como apparitores) e Hebrai-
co (como ajudantes dos suphetas/juízes) e floresce na aurora das legislações medievais ger-
mânicas (como Botem, Buttel), portuguesa (como sagio/saion/meirinho) e, por fim, na france-
sa (como hussiers).
Entre os antigos judeus, o Juiz da paz era auxiliado por oficiais encarregados de executar
as suas ordens. Desde os tempos bíblicos do Antigo Testamento, havia notícias de que o rei
Davi nomeara 6 mil Oficiais de Justiça para estarem à disposição dos juízes, principalmente
em casos penais e religiosos. No direito romano, base das instituições jurídicas modernas oci-
dentais, eram os “apparitores” e “executores” que auxiliavam juízes e legisladores em atos e
em sentenças processuais.
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No século XII, o território da Inglaterra medieval era percorrido por grupos de juízes iti-
nerantes, de confiança do rei, que se ocupavam em resolver todas as espécies de processos nos
quais interessavam politicamente. Todavia, antes da viagem dos juízes, um mandado (writ)
era enviado ao “sheriff” local para que este convocasse, em determinado dia, os homens mais
importantes da região.
O terceiro rei de Portugal, D. Afonso II, entre 1211 e 1223, dedicou-se ao fortalecimento
do poder real e restringiu privilégios da nobreza ao estabelecer uma política de centralização
jurídico-administrativa inspirada em princípios do direito romano: supremacia da justiça real
em relação à senhorial e a autonomia do poder civil sobre o religioso. Dentre as medidas to-
madas, houve a nomeação do primeiro meirinho-mor do reino (o magistrado mais importante
da vila, cidade ou comarca), com jurisdição em determinada área, encarregado de garantir a
intervenção do poder real na esfera judicial. Cada meirinho-mor tinha à sua disposição outros
meirinhos (o equivalente aos oficiais de justiça de hoje), que cumpriam suas ordens ao realiza-
rem diligências.
Durante o período de 1603 até finais do século XIX, as Ordenações Filipinas eram consi-
deradas a espinha dorsal das estruturas administrativas e jurídicas de Portugal, e em um de
seus livros enumeravam as atribuições dos meirinhos.
Havia o meirinho-mor, hoje denominado Corregedor de Justiça, que “...deveria ser ho-
mem muito principal e de nobre sangue (...) ao meirinho-mor pertence pôr em sua mão, um
meirinho que ande continuamente na Corte, o qual será seu escudeiro de boa linhagem e co-
nhecimento bom” (Livro I, título 17). O Oficial de Justiça recebia então a denominação de
“meirinho que anda na Corte”, uma alusão à sua árdua tarefa de percorrer a pé ou a cavalo as
diversas regiões do reino no cumprimento de diligências criminais, como as prisões (meirinho
das cadeias):
“...e antes que os leve a cadeia, levá-los-á perante o corregedor. E geralmente pren-
derá todos aqueles que o corregedor lhe for mandado ou por quaisquer oficiais nos-
sos, por alvarás por eles assinados, no que a seus ofícios pertencer e poder tiverem
para mandar prender” (Ordenações Filipinas, Livro I, Título XXII)
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Mas também diligências cíveis:
“...e irá fazer execuções de penhora, quando lhe for mandado pelo corregedor ou por
outro Juiz com Escrivão. ...E levará o meirinho de cada penhora e execução, sendo
na cidade de Lisboa e seus arrabaldes, 300 réis à custa da parte condenada para ele e
para seus homens” (Ordenações Filipinas, Livro I, Título XXI)
Foi com o processo de formação dos Estados nacionais modernos que o Oficial de Justiça
adquiriu posição e funções mais definidas. Essas transformações não ocorreram de forma ho-
mogênea, mas sim, de acordo com a especificidade de cada época e de cada sociedade.
Com a República, suas atribuições passaram a constar dos códigos processuais, inicial-
mente no âmbito de cada estado, durante a República Velha, e depois pelos códigos nacionais
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de processos civil, penal e também na Consolidação das Leis do Trabalho. Por influência do
Direito Português, todos passaram a prever expressamente a figura do Oficial de Justiça, aos
quais, dentre outras atribuições, incumbiu-se precipuamente de executar “(...) pessoalmente as
citações, prisões, penhoras, arrestos e mais diligências próprias do seu ofício (...)”, (conf. art.
143 do Código de Processo Civil Brasileiro).
“... Embora seja executor de ordens judiciais, conferiu-lhe a lei uma prerrogativa de
suma importância no processo; o poder de certificar” (PACHECO, José da Silva,
Curso Teórico e Pratico do Processo Civil, vol. I, p. 210).
“Do poder de certificar se diz que está ínsito na autoridade suprema do Estado”
(MENDES JÚNIOR, João, Exposição Preliminar das Bases para a Reforma Judiciá-
ria, pág. 290).
“Quem o exerce não pode ser havido como funcionário de condição subalterna. É
um órgão de fé pública, cujas certidões asseguram o desenvolvimento regular e nor-
mal do processo. A circunstância de terem os Oficiais de Justiça maior liberdade de
ação no direito alemão, italiano e francês e acentuada dependência ao Juiz no direito
brasileiro não lhes diminui a dignidade da função, que reside verdadeiramente na fé
publica dos atos que praticam” (BUZAID, Alfredo, cit. in NARY, Gerges, Oficial de
Justiça, Teoria e Prática, 1985, p. 15)
Dessa evolução legislativa, pode-se sintetizar que hoje ao Oficial de Justiça incumbe o
encargo de executar as ordens e os mandados judiciais. Na legislação processual vigente no
País, aliás, há regras específicas a respeito dos Oficiais de Justiça.
Na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o art.721 prevê expressamente que “in-
cumbe aos Oficiais de Justiça e Oficiais de Justiça Avaliadores da Justiça do Trabalho a reali-
zação dos atos decorrentes da execução dos julgados das Juntas de Conciliação e Julgamento
(atuais Varas do Trabalho) e dos Tribunais Regionais do Trabalho, que lhes forem cometidos
pelos respectivos presidentes”.
Na Lei 6.830/80, que dispõe sobre as execuções fiscais (Arts. 8º, III, 14 e 37, § único), no
Código de Processo Penal (art. 392, III, IV, V e VI) e no Código de Processo Penal Militar
(Art. 44) também é mencionado o Oficial de Justiça.
Já o Código de Processo Civil (CPC), inicia o seu Capítulo V, no art. 139, descrevendo os
Auxiliares da Justiça, citando “o Escrivão, o Oficial de Justiça, o Perito, o Depositário, o Ad-
ministrador e o Intérprete”. No art. 143, dispõe que incumbe ao Oficial de Justiça:
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I – fazer pessoalmente as citações, prisões, penhoras, arrestos e mais diligências
próprias do seu ofício, certificando no mandado o ocorrido, com menção de lugar,
dia e hora;
Ao Oficial de Justiça está reservado o desafio de representar o Poder Judiciário nas ruas.
É a partir da atuação deste “longa manus” do Juiz que muitas vezes uma sentença se materia-
liza, produzindo resultados para os autores dos processos judiciais. É pela atividade do Oficial
que a Justiça chega a todos os endereços dos municípios, às empresas, às residências, em bair-
ros ricos e pobres, em propriedades rurais ou em favelas. Ao Oficial de Justiça cabe também
enfrentar o desafio da modernização e das novas tecnologias, usando-as em benefício da sua
atividade e da celeridade processual.
“O Escrivão e o Oficial de Justiça são os mais necessários dos auxiliares do juiz. Es-
te (o Oficial de Justiça) que desempenha quase todas as missões externas, é como o
berço com que o Juiz toma as medidas de ordem material que a causa exigir”
(BARBI, Celso Agrícola, Comentários ao Código de Processo Civil, 9ª edição. Ed.
Forense, 1994, Vol. I, tomo II, págs. 594 a 595).
“O Oficial de Justiça é o funcionário judicial que atua como longa manus de juízes,
em funções permanentes, prestando-lhes auxílio complementar, aos fim de que não
se paralise o provimento processual e se documentem pari passu os atos do proce-
dimento. Órgão permanente, estão, juntamente com o Escrivão ou Secretário, inti-
mamente ligados aos Juízos e Tribunais” (MARQUES, José Frederico, Manual de
Direito Processual Civil, 3ª edição, Editora Saraiva, 1976, pág. 243).
O renomado jurista João Mendes Junior afirma em sua obra “Órgãos da Fé Pública”:
25
MIRANDA, Francisco Cavalcanti, Comentários ao Código de Processo Civil, 2ª e-
dição, Editora Forense, São Paulo, Vol. II - pág. 239)
A criação da Union Internationale des Huissiers de Justice (UIHJ) foi proposta em 1949
durante um congresso nacional de Oficiais de Justiça franceses e concretizada em 1952 em
Paris num congresso que reuniu os seguintes países: Bélgica, França, Grécia, Itália, Luxem-
burgo, Holanda e Suíça. Atualmente a UIHJ reúne 65 países onde existe a função de agente de
execução, com denominações que variam de lugar para lugar. A maioria dos seus associados
são europeus, e os demais pertencem à África, às Américas (inclusive o Brasil) e à Ásia.
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A palavra francesa huissier vem de huis, que significa “porta”. Portanto, Huissier poderia
ser traduzido como “porteiro”, ou o profissional que abre e fecha portas. A UIHJ representa os
Oficiais de Justiça nas organizações internacionais (faz parte da Organização Internacional do
Trabalho, a OIT) e assegura a colaboração com os organismos profissionais nacionais. Desen-
volve esforços para a melhoria do direito processual dos diversos países membros e dos trata-
dos internacionais com relevância para a profissão.
Num mundo amplamente dominado pela economia, importa que os juristas cumpram o
seu papel, reforçando a presença e o prestígio do direito. No que respeita ao direito da execu-
27
ção, a UIHJ, com sua experiência e influência, procura assegurar a eficácia da execução das
decisões de justiça por toda a parte onde seja possível.
Pelos levantamentos realizados para este trabalho, pôde-se constatar a existência de qua-
tro sistemas de execução, do ponto de vista do seu agente (no caso, o Oficial de Justiça):
O modelo jurisdicional baseia-se no princípio de que a ação executória deve tramitar nos
Tribunais Judiciais, cabendo aos funcionários judiciais a respectiva tramitação e a prática dos
atos que se relacionam com a esfera patrimonial do executado, em especial a penhora. Tudo
sob a orientação do Juiz, a quem cabe também a resolução de todas as questões de natureza
declaratória ou não declaratória (mero expediente, requerimentos avulsos das partes ou de ter-
ceiros) que o processo suscite. Entre os países que adotam esse modelo estão Itália (Ufficiali
Giudiziari), a Áustria e a Alemanha (Gerichtsvollzieher). Esse sistema é também adotado no
Brasil (Oficial de Justiça) e na maioria dos países latino-americanos (Alguacil).
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vendas e graduação de créditos. A intervenção do Juiz está reservada a situações em que exis-
ta um conflito e, em especial, para a apreciação de questões incidentais de natureza declarató-
ria. A própria execução não tramita no Tribunal, sendo o processo a ele remetido unicamente
no caso de ser necessário apreciar questões da competência do Juiz. Este é o sistema que vigo-
ra em França e na Bélgica (Huissiers de Justice), na Polônia (Komornik Sadowy) e na Hungria
(Onallo Birosagi Vegrehajto).
O modelo misto é, como o próprio nome indicia, uma mistura dos dois anteriores siste-
mas, com a tramitação do processo ocorrendo no Tribunal, sob a orientação do Juiz, mas a
prática dos atos que no sistema judicial cabem ao funcionário judicial, são, neste modelo, da
competência de um agente de execução, que acaba por ter competências mais alargadas, pois
pode, e deve, levar a efeito uma série de atos sem dependência de despacho prévio do Juiz,
podendo até apreciar e decidir questões que lhe sejam apresentadas pelas partes. Portugal (So-
licitadores de Execução e Oficiais de Justiça), Espanha (Procuradores e Agentes ou Oficiais
Judiciais), República Tcheca (Soudni Executor) e Inglaterra (High court enforcement officers,
Enforcement officers e County court bailiffs) adotam esse sistema.
2.3.3.1 Itália
2.3.3.2 Alemanha
A regulamentação nacional da profissão está prevista nos artigos 154.º e 155.º da Lei da
Organização Judicial e pelas diferentes disposições aprovadas por cada Land. Não existem
disposições legislativas gerais que determinem a forma como os Oficiais de Justiça devem
desempenhar a respectiva atividade. Existem, contudo, disposições administrativas de caráter
geral emanadas das administrações judiciais de cada Land, designadamente o código deonto-
lógico dos Oficiais de Justiça (Gerichtsvollzieherordnung) e as instruções de serviço para os
Oficiais de Justiça (Gerichtsvollziehergeschäftsanweisung).
Na Alemanha não existe uma câmara dos Oficiais de Justiça, uma vez que se trata de fun-
cionários públicos. Os Oficiais de Justiça estão, no entanto, organizados na sua quase totali-
dade em associações representativas de grupos de interesses, sendo a Deutscher Gerichtsvoll-
zieher Bund (DGVB) a que conta com mais filiados. Esta organização, por seu lado, está liga-
da à Deutscher Beamtenbund, a associação federal dos funcionários públicos. A filiação nes-
tas organizações não é obrigatória
30
Por força da legislação alemã em vigor, a formação de Oficiais de Justiça está reservada
aos candidatos alemães. Assim, é necessário possuir a nacionalidade alemã para poder exercer
a profissão de Oficial de Justiça.
2.3.4.1 França
A atividade do Huissier de Justice pode ser exercida tanto individualmente quanto numa
sociedade civil. Cada profissional individualmente ou em sociedade tem uma área determina-
da de atuação (competência territorial).
31
No fundo, o Huissier de Justice atua como um conselheiro e um mediador. É responsável
por dirimir conflitos entre, por exemplo, proprietários e locatários, bem como resolver certos
litígios em matéria de separação ou divórcio. O seu papel como conselheiro de empresas é
também de fundamental importância nas relações destas com os seus parceiros e na interven-
ção em casos de cobrança de dívidas. Em toda a sua atividade, o Huissier é orientado para
buscar a conciliação, mediando acordos entre aqueles que se opõem e procurando a concilia-
ção para evitar o recurso aos tribunais.
Pode-se dizer que, com a atuação dos Huissiers de Justice, o descongestionamento dos
tribunais torna-se uma realidade, uma vez que não têm de lidar com questões que são facil-
mente resolvidas pelos Huissiers e só têm de intervir em casos de oposições ou contestações
dos demandados, assegurando dessa forma as suas garantias de defesa.
Seguindo o exemplo francês, o Conselho da Europa tem sugerido criação dessa classe
profissional como forma de tornar mais eficaz a Justiça, sendo os Estados responsáveis pela
sua fiscalização e aplicando-lhes sanções em caso de erros ou abusos.
2.3.5.1 Portugal
Com a mudança na legislação portuguesa introduzida em 2003, foi criada a figura do So-
licitador de Execução. Salvo quando a lei determine diversamente, é ele quem efetua, sob con-
trole do Juiz, todas as diligências do processo executivo, incluindo citações, notificações e
publicações.
Os Solicitadores são profissionais liberais que exercem o mandato judicial a título remu-
nerado. O exercício da profissão depende de inscrição na Câmara dos Solicitadores precedida
de um estágio que tem por finalidade proporcionar ao formando o conhecimento dos atos e
termos mais usuais da prática forense e dos direitos e deveres dos solicitadores.
Além da aprovação nessa formação preliminar, são requisitos para a inscrição na Câmara:
a) Ser cidadão português ou da União Européia; b) Ser titular de uma licenciatura em cursos
jurídicos ou de um bacharelato em Solicitadoria e não estar inscrito na Ordem dos Advogados
ou, relativamente aos nacionais de outro Estado da União, ser titular das habilitações acadê-
33
micas e profissionais requeridas legalmente para o exercício da profissão no respectivo Estado
de origem.
2.3.5.2 Espanha
Na Espanha, existem vários profissionais que exercem essa função. A execução é coman-
dada pelo Juiz, que confia algumas tarefas ao agente judicial do tribunal. Ele pode também
designar o secretário judicial.
Por delegação do Juiz, o secretário judicial fica encarregado da notificação dos atos pro-
cessuais, que pode por sua vez delegar essa função a um Oficial, o qual pode igualmente dele-
gar a função aos auxiliares da administração judiciária. Todas os ocupantes dessas funções são
servidores públicos, remunerados pelo Estado.
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2.3.5.3 República Tcheca
Outro país que adota o sistema misto é a República Tcheca, onde a execução das decisões
judiciais pode ser realizada pelos Soudni exekutor (profissionais liberais, remunerados pelas
partes) ou pelos funcionários dos Tribunais (servidores públicos, remunerados pelo Estado),
sob comando de um Juiz.
2.3.6.1 Suécia
Na Suécia, o agente de execução tem um nome que poderia ser traduzido como "Escri-
vão" (kronofogde). Trata-se de um funcionário público que trabalha na secretaria de um tribu-
nal (kronofogdemyndighet) e é responsável pela instrução dos processos de execução relativos
a créditos privados e públicos em mora. Além disso, muitas vezes esse funcionário representa
o Estado nos tribunais, nas negociações em processos de falência, de adjudicação de contratos
e de liquidação de dívidas.
O responsável por uma seção ou uma secretaria judicial que desenvolve atividades rela-
cionadas à execução deve geralmente ser um kronofodge. Para essa função, ele recebe uma
formação específica e é necessário ser cidadão sueco, ter uma licenciatura em direito e ter rea-
lizado um estágio em tribunal. É igualmente possível substituir este estágio por certos traba-
lhos práticos bem precisos ou ser beneficiado por uma dispensa especial.
Para exercer a função na Suécia, é necessário ser inicialmente contratado como estagiário
(kronofogdeum spirant). Os candidatos realizam um curso de quarenta semanas, que inclui
trabalho prático e aulas teóricas. Uma vez concluída a formação, os candidatos passam um
exame para apurar se estão aptos para desempenhar a função.
35
2.3.6.2 Finlândia
Já no caso das execuções forçadas, elas são realizadas por auxiliares locais da justiça, ou
seja, Oficiais de Justiça da circunscrição, polícia rural e Oficiais de Justiça da província de
Ahvenanmaa. São assistidos por ajudantes, que na prática se ocupam da maior parte das exe-
cuções forçadas. Os funcionários competentes para as execuções forçadas são funcionários
públicos
Incumbe ao Ministério da Justiça a administração geral e o controle dos serviços das exe-
cuções forçadas. As atividades de direção e controle cabem igualmente aos chefes dos servi-
ços jurídicos das prefeituras, que se ocupam, por exemplo, dos recursos extraordinários por
vícios de forma. No entanto, nem o Ministério da Justiça nem o chefe do serviço jurídico têm
poder para anular ou alterar uma penhora ou qualquer outra medida de execução forçada.
As sanções penais pecuniárias, como as multas, são recuperadas por execuções forçadas.
Os serviços de execuções forçadas encarregam-se igualmente das expulsões, das providências
cautelares ordenadas pelos tribunais e das decisões relativas à guarda dos filhos e ao direito de
visita.
Os serviços de execuções forçadas devem zelar tanto pelo interesse do credor como do
devedor. Esses serviços procuram por isso que o devedor pague a sua dívida voluntariamente.
36
Se não for feito nenhum pagamento, procedem à penhora do salário, da pensão, dos rendimen-
tos profissionais ou dos bens. Os bens penhorados podem ser vendidos em hasta pública.
A tabela abaixo mostra algumas características dos Oficiais de Justiça em alguns países
da Europa:
Fonte: UIHJ
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3) COMO O OFICIAL DE JUSTIÇA DEIXOU DE SER
UM CARGO NO JUDICIÁRIO FEDERAL
Há quase duas décadas, a partir do início dos anos 90, a crise do Estado brasileiro, apre-
goada em níveis políticos, fiscais, administrativos, previdenciários, orçamentários e em sua
própria relação com a sociedade, acompanhada de um reiterado discurso político-econômico
de governos acerca da insustentabilidade do ordenamento jurídico nacional nos patamares es-
tabelecidos pela Constituição Federal de 1988, fez com surgissem várias propostas de refor-
mar o Estado.
Nesse cenário, destaca-se dentre as propostas formuladas uma, bastante ampla e relevan-
te, formulada durante o Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso em seu primeiro
mandato (mais exatamente em 1995), o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, que
buscou inovar em alguns pontos substantivos com o levantamento da bandeira de que a admi-
nistração pública burocrática é, em essência, um dos maiores problemas do Estado brasileiro.
O discurso governamental, à época do lançamento do plano, era pensar a crise sob o foco
do desafio de sua superação, de onde a noção da necessidade de reformar, reconstruir o Esta-
do, para resgatar sua autonomia financeira e sua capacidade de implementar políticas públicas.
Todo o processo de reforma delineado no plano está pautado e intimamente marcado pela
busca por eficiência, busca que vai ao encontro das duas dimensões da reforma: a política e a
administrativa.
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Em termos de reforma política, a transferência da atuação estatal para o setor privado vai
corresponder à necessidade de gerar maior capacidade de governo (governança), com a limita-
ção dos custos e do dimensionamento a áreas exclusivamente estatais. Também pretende cor-
responder a um aumento da legitimidade para governar (governabilidade), à medida que há a
valorização da participação social em várias instâncias do processo de reforma e o objetivo de
melhorar a qualidade dos serviços tendo o cidadão como beneficiário.
A chamada Nova Gestão Pública perseguia a eficiência, eficácia e efetividade nas políti-
cas públicas buscando, para tanto, socorro nos instrumentos gerenciais da administração pri-
vada, agora adaptados e empregados na esfera da gestão pública, mantendo o foco basicamen-
te em dois aspectos fundamentais: resultados e qualidade. Apontavam-se os vícios da admi-
nistração burocrática, centrada em si mesma, preocupada com a regularidade dos procedimen-
tos e observância de normas, independentemente dos resultados alcançados ou dos custos fi-
nanceiros envolvidos na ação administrativa que, além de onerosa, era rígida, dotada de pouca
mobilidade, comprometendo resultados, prazos e satisfação do usuário atendido pelos serviços
públicos.
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males, forjando um excesso burocrático e mais ineficiência, passando ainda a figurar como
causa crítica do acirramento de várias frentes de endividamento estatal.
A análise faz com que a culpa pelas incapacidades em cumprir com as liberdades civis,
direitos dos cidadãos e garantias sociais resguardados pela Constituição Federal recaia sobre
ela mesma, desconsiderando um contexto de precário planejamento institucional de governos
cada vez mais reféns de suas dívidas políticas e financeiras, independentemente portanto de
qualquer avaliação singularizada de governos passados e presentes.
Ora, a adoção de uma noção de ser o aparato estatal burocrático, por definição, ineficiente
como pressupõe o Plano Diretor, generaliza um conceito prejudicial aos serviços e órgãos pú-
blicos, sem identificar experiências que possam ser aproveitáveis, sequer cogitando um apri-
moramento do aparato estatal na prestação de serviços sociais da forma como vinham sendo
praticados.
Grande parte da população brasileira, de certo modo, nunca teve uma efetivação abran-
gente dos direitos sociais como educação e saúde, apesar de estarem resguardados pela Cons-
tituição Federal de 1988 como deveres do Estado. Os rumos determinados pelo Plano Diretor
vão no sentido de restringir o próprio conceito de cidadania – haja vista a noção bastante po-
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lêmica, pautada pelos marcos neoliberais, de cidadão-cliente (5) –, implicando também um
sentido de reduzir as bases de proteção sociais garantidas direta e universalmente pelo Estado.
No Brasil, nunca houve uma abrangência do Estado de Bem-Estar, já que, como sabemos,
uma ampla camada da população sempre esteve marginalizada em relação a qualquer amparo
público. Assim, no caso brasileiro, a crise do Estado não se reveste de um caráter de desen-
canto, como nos países do Welfare State, mas muito mais um sinal de falta de políticas de
bem-estar abrangentes, acompanhada de uma perda de efetividade dos poucos instrumentos de
políticas sociais existentes que atendiam a parcela reduzida da população.
Destacamos ainda no discurso dos adeptos da Reforma Gerencial uma tendência a impri-
mir um caráter de novidade para alguns aspectos e temas tratados no âmbito da administração
pública, como se representassem uma inovação sem precedentes. Temas como eficiência e
qualidade, por exemplo, parecem surgir no discurso como se fossem criados a partir da estru-
turação do modelo gerencial, sem que jamais, no setor público, houvesse uma pálida sensação
do que referidos conceitos pudessem representar.
5 Para uma análise mais detalhada sobre o conceito de cidadão-cliente, inclusive das críticas produzidas por diversos auto-
res, sugerimos a leitura do artigo de Marcelo James Vasconcelos Coutinho, transcrito na Revista do Serviço Público, ano
51, nº 3, jul-set 2000, na qual há ampla abordagem na perspectiva de diferentes autores. Em nossa opinião, o termo clien-
te tem caráter restritivo, nasce no mercado e estabelece relações de ordem econômica sem a amplitude que o conceito de
cidadania, de origem política, carrega.
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Diante da análise, por outro lado, sobre a necessidade do plano de romper com a adminis-
tração pública burocrática, descobre-se que tal tentativa de superação não é recente. O embate
com o modelo de gestão burocrático, no nível de reforma do Estado brasileiro, tem sua ori-
gem, segundo o próprio Plano Diretor, no Decreto-Lei 200, de 25.2.1967, que já determinava
princípios de racionalidade administrativa, os quais seriam, em outras palavras, a eficiência
mesma, que hoje toma ares de jargão técnico-gerencial inusitado.
Também criado para tentar promover a eficiência no setor público, há que se falar de ou-
tro precedente que foi o Programa Nacional de Desburocratização, lançado no início dos anos
80, também com vistas à reformulação da estrutura estatal burocrática.
A superação do modelo burocrático é discutida quando ainda nos damos conta de que a
máquina pública brasileira, em seus diferentes níveis, não superou a marca do patrimonialis-
mo e do clientelismo, tão presentes na esfera pública.
A reforma gerencial, de positivo, traz um debate muitas vezes guiado por críticas da soci-
edade aos serviços públicos (apesar de toda a ausência de uma maior tradição na sociedade
brasileira de participação da população em questões de seu interesse, por distintos motivos),
que tem levado a um salutar movimento de alguns órgãos públicos e entidades governamen-
tais em busca de aprimoramento, rompendo com uma situação de imobilismo, indiferença e
descaso, muitas vezes, com a má qualidade dos serviços oferecidos à população.
Outro aspecto que cumpre destacar é a reafirmação, feita pelos gerencialistas, da impor-
tância da democracia como ambiente político no qual deve prosperar a reforma da administra-
ção pública brasileira.
Com a Constituição Federal de 1988, o servidor público brasileiro ocupante de cargo efe-
tivo ficou impossibilitado do crescimento na Carreira, pela via da chamada ascensão funcio-
nal, mediante seleção por meio de concursos internos. Isso porque o Supremo Tribunal Fede-
ral interpretou o dispositivo contido no Art. 37, inciso II, como restrição ao antigo instituto.
Diz o artigo 37, II:
O fim do concurso interno foi tomado como uma medida de moralização e eliminação de
privilégios, sob o argumento de que o provimento dos cargos deveria ser sempre pelo concur-
so público. Para evitar casos em que se fazia concurso público para um cargo de exigência de
escolaridade inferior e, via ascensão funcional, se alcançava cargos de nível superior, fechou-
se a porta para um mecanismo de estímulo ao aprimoramento dos servidores na carreira. Ali-
ás, a própria Constituição, ao estabelecer no art, 39, caput, a necessidade de planos de carrei-
ras, abriu a possibilidade de existência de algum mecanismo de promoção do servidor:
Importante ressaltar que tal redação original foi mantida por decisão liminar do STF na
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.135-4, em 2 de agosto de 2007, após ter sido modi-
ficada pela Emenda Constitucional nº 19, de 4 de junho de 1998, que suprimiu a expressão
“planos de carreira”, adotando a seguinte redação:
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"Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conse-
lho de política de administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores
designados pelos respectivos Poderes.
Porém, sem a ascensão funcional, os servidores ocupantes de cargo efetivo foram enges-
sados no cargo para o qual foram originariamente concursados, sem perspectiva de mobilida-
de a não ser no mesmo cargo, por progressão ou promoção. Perdeu-se assim a noção de carrei-
ra existente com a ascensão funcional, que ressalvava o direito de todo cargo – em qualquer
nível, desde que atendidas as exigências de escolaridade – ser preenchido por aprovados em
concurso público e em proporção menor, de até 30%, por servidores da mesma carreira apro-
vados em concurso interno, como ocorria até a Constituição de 1988.
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• Desvalorização, imobilismo e asfixia dos servidores nos cargos, uma vez que
o ingresso por concurso público nos padrões iniciais dos novos cargos mui-
tas vezes provoca o imediato rebaixamento da sua remuneração;
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Nesse período, o governo federal deu início a uma política de congelamento de salários
da maioria do funcionalismo federal, principalmente dos ocupantes de cargos de nível funda-
mental e médio, enquanto promovia a criação de carreiras especializadas em áreas ou órgãos
considerados estratégicos, notadamente os servidores de nível superior e aqueles que tinham
mais importância para a máquina arrecadadora ou pertencentes às chamadas carreiras típicas
de Estado.
Em linhas gerais, eram essas as propostas do governo, algumas das quais posteriormente
deram corpo à Emenda Constitucional nº 19:
3. A reserva de um percentual de até 20% das vagas em concursos (para aqueles que já
são servidores públicos), a ser definida em lei complementar;
6. O fim da isonomia;
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7. A possibilidade de fixação de limites de idade para ingresso em cargo público;
11. Fim da obrigatoriedade do Regime Jurídico Único (RJU) para as instituições de ensino
e permissão para a realização de processo seletivo para a carreira do magistério;
13. Limitação dos proventos dos inativos aos valores da remuneração dos servidores ati-
vos;
14. Fixação de um teto de remuneração para os três Poderes e todas as esferas de governo,
com base na remuneração do presidente de República (R$ 8,5 mil);
15. Permissão para fusão, cisão ou incorporação de empresas a serem privatizadas, sem a
necessidade de autorização legislativa específica, bem como de criação de subsidiárias
de estatais;
17. Necessidade de apreciação, pelo Executivo, das decisões relativas à remuneração dos
servidores do Poder Legislativo (projeto de lei submetido à sanção presidencial).
Apesar de inserida entre as propostas (nº 3), a ascensão funcional foi logo deixada de la-
do. Com isso, embora tenha obtido êxito em acabar com a isonomia e com o regime jurídico
único, a Reforma Administrativa deixou de atacar os mais graves problemas do serviço públi-
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co, entre eles o clientelismo, o nepotismo, a falta de profissionalização e a inexistência de me-
canismos que estimulem o servidor na carreira.
Apesar de não obter pleno êxito, a Reforma Administrativa conseguiu reduzir direitos dos
servidores e abrir caminho para as concepções de Reforma Gerencial do Estado por ela intro-
duzidas. No que diz respeito aos servidores públicos federais, a maioria continuou na estrutura
de cargos por categoria funcional na Carreira da Administração Pública, enquanto novas de-
nominações de cargos genéricos – analista, técnico etc. – em carreiras específicas começaram
a ser criadas. É nesse contexto que surge, em 1995, a negociação do primeiro Plano de Cargos
e Salários do Judiciário Federal, cujo projeto foi elaborado a partir de propostas levadas pela
diretoria da FENAJUFE (Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e do
Ministério Público da União) ao então presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Se-
púlveda Pertence. Cercado de uma mobilização que cresceu no País após o início das negocia-
ções, resultou num projeto de lei encaminhado pelo STF ao Congresso em meados de 1995.
Um excerto do que foi esse debate está no Caderno de Resoluções da 3ª Plenária Nacional
da FENAJUFE, realizada em Brasília em 26 e 27 de outubro de 1995:
“As negociações com o STF consumiram três dias de reuniões, e tiveram como fator
central a formulação da tabela de vencimento da carreira (depois transformada em
‘carreiras’), elaborada com a participação da direção executiva da FENAJUFE. Na-
quela oportunidade, firmamos junto à Diretoria Geral do STF nossos princípios em
relação a questões como acesso a funções comissionadas, profissionalização do ser-
vidor, perspectivas de promoção funcional e outras. Essas questões foram a seguir
objeto de discussão em várias reuniões da diretoria geral do STF com diretores ge-
rais dos Tribunais Superiores e TJ/DF, a partir das quais foram produzidas pelo me-
nos oito diferentes versões do projeto.
“No momento em que percebemos estar ocorrendo sérios desvios em relação à pro-
posta originalmente discutida pela FENAJUFE com a Presidência do STF - de que
tínhamos necessidade de superar a crise salarial, e por isso estávamos propondo o
envio de um projeto criando uma tabela de salários para o Judiciário -, convocamos
a categoria para, num Dia Nacional de Assembleias, ratificar um documento a ser
encaminhado ao presidente do Supremo Tribunal Federal. A partir desse fato, conse-
guimos obter uma mudança no curso dos debates localizados na cúpula dos Tribu-
nais, retomado de certo modo ao marco inicial da proposta.”
É importante destacar que, naquele momento, os servidores do Judiciário Federal não ti-
nham nenhuma tabela própria de vencimentos, e recebiam sua remuneração por uma das tabe-
las dos servidores do Poder Executivo, fato que provocava distorções, produzindo inúmeros
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“arrastões” que levavam os servidores em pouco tempo ao final da carreira. Importante desta-
car que, ao contrário do que possa parecer, o fato de ser remunerado por uma das tabelas do
Poder Executivo não significava nenhuma isonomia, já que essas tabelas eram apenas a base
para uma remuneração repleta de “penduricalhos”, que variavam de acordo com os respecti-
vos órgãos e carreiras.
Desnecessário dizer ainda que, exceto pela preparação que os Tribunais ofereciam para os
concursos internos, não havia nenhuma política de capacitação ou treinamento dos servidores
do Judiciário Federal, situação que nunca foi muito diferente de outros órgãos do serviço pú-
blico. Tal situação ressaltava a ideia de que a administração pública brasileira não dá a devida
importância ao esforço do servidor, mesmo que ele conclua um curso de nível superior e bus-
que o aprimoramento para exercer tarefas mais complexas.
A Lei 9.421, de 24/12/1996, que no seu art. 1º criou as carreiras dos servidores do Poder
Judiciário da União, aqui incluído o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, con-
feriu as seguintes denominações às carreiras e cargos: “Auxiliar Judiciário”, “Técnico Judiciá-
rio” e “Analista Judiciário”, constituídas de cargos de provimento efetivo, de mesma denomi-
nação, estruturada em classes e padrões, nas diversas áreas de atividade (conf. anexo I da lei).
6 Art. 4º, parágrafo 3º: O disposto neste artigo aplica-se também aos cargos de Oficial de Justiça Avaliador e demais car-
gos de provimento isolado, observados no enquadramento os requisitos de escolaridade e demais critérios estabelecidos
nesta Lei.(grifo nosso)
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O referido diploma legal, no art. 4º, determinou a transformação dos antigos cargos na
forma estabelecida pelo seu anexo III (Tabela de Enquadramento), fazendo com a expressa
disposição de serem respeitadas “as respectivas atribuições e requisitos de formação profis-
sional, observando-se a correlação entre a situação então existente e a nova situação”.
Mais adiante, no § 3º do art. 4º, explicitou o legislador que as disposições que criaram os
novos cargos são também aplicáveis aos cargos de Oficial de Justiça Avaliador “e demais car-
gos de provimento isolado, observados no enquadramento os requisitos de escolaridade e de-
mais critérios estabelecidos nesta Lei”.
O Tribunal Superior do Trabalho, em sua composição plena, aprovou, por meio da Reso-
lução Administrativa no 833/2002, publicada em 26/03/2002 no DJU, a regulamentação dos
cargos providos e vagos, e o enquadramento por área de atividade e especialidade dos servido-
res da Justiça do Trabalho nas carreiras judiciárias, fixando em seu art. 11, que os Tribunais
Regionais do Trabalho, no prazo de 90 dias a contar da data de publicação, deveriam realizar
o enquadramento na forma preconizada pela Lei 9.421/96. Os Tribunais Regionais do Traba-
lho assim procederam, promovendo o enquadramento por área de atividade e especialidade
dos servidores nas carreiras judiciárias criadas pela Lei 9.421/96.
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remanesceram na legislação processual, seja no âmbito do Processo Civil (art. 143) e no Pro-
cesso do Trabalho (art. 721, 880 e 883 da CLT), permanecendo aos ocupantes do cargo reno-
meado o encargo legal e essencial de execução de mandados judiciais.
Art. 1o Fica instituída Gratificação por Execução de Mandados, devida aos servi-
dores ocupantes do cargo de Analista Judiciário - Oficiais de Justiça - Área Judici-
ária - Especialidade Execução de Mandados, do Quadro de Pessoal do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, pelas peculiaridades decorrentes da
integral e exclusiva dedicação às atividades do cargo e riscos a que estão sujeitos.
(...)
Com isso, as atividades acometidas pela legislação processual aos Oficiais de Justiça são,
no âmbito do Poder Judiciário da União, reservadas aos ocupantes do cargo de Analista Judi-
ciário, especialidade de “Execução de Mandados”.
Melhor teria sido que a Lei 9.421/96 não tivesse modificado a denominação do cargo de
Oficial de Justiça Avaliador, permanecendo para este cargo específico a identidade de deno-
minações entre as Justiças Federal e Estadual, como era anteriormente.
A definição do que são as especializações acometidas aos diversos cargos que compõem
o quadro de servidores do Judiciário Federal, foi explicitada no art. 2º da RA 833/2002 do
TST, “in verbis”:
“Art. 2º Para os fins de que trata esta resolução, devem ser observadas as defini-
ções dos seguintes termos básicos utilizados na Lei no 9.421/96:
(omissis)
X- Especialidades - são divisões das áreas de atividade quando for necessária, para
o exercício das atribuições, formação especializada, por exigência legal, ou habili-
dades especificas a critério da Administração.”
Segue na mesma linha de entendimento o § 5º do art. 721 da CLT, que chancela ao Juiz
atribuir a realização do ato privativo do Oficial de Justiça a outro serventuário somente na hi-
pótese de ocorrer a falta ou o impedimento daquele, o que reforça a especialidade e o caráter
privativo do cargo.
E prossegue:
“Ora, se sob tais condições prestaram seus concursos e assim foram nomeados e em-
possados nos respectivos órgãos públicos, não podem ser desviados para cargos dis-
tintos enquanto existir na estruturação administrativa a previsão de seus cargos e de
suas atribuições especializadas”.
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No referido texto, o autor cita HELY LOPES MEIRELLES, in “Direito Administrativo
Brasileiro”, 24ª edição:
(...)
Enquanto subsistir o cargo, como foi provido, seu titular terá direito ao exercício
nas condições estabelecidas pelo estatuto; mas, se se modificarem a estrutura, atri-
buições, os requisitos para seu desempenho, licitas são a exoneração, a disponibili-
dade, a remoção ou a transferência de seu ocupante, para que outro o desempenhe
na forma da nova lei. O que não se admite é o afastamento arbitrário ou abusivo do
titular, por ato do Executivo, sem lei que o autorize.”(ob. citada, pág. 377/378)
E prossegue o autor:
“(omissis...)
III - manutenção da essência das atribuições do cargo;
IV - vinculação entre os graus de responsabilidade e complexidade das atividades;
V - mesmo nível de escolaridade, especialidade ou habilitação profissional;
(omissis...)”
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Assim, enquanto houver no quadro de carreiras a previsão do cargo de Analista Judiciá-
rio, da área judiciária, especializado na Execução de Mandados, qualquer alteração de suas
atribuições específicas representará um desvio de função a ser reparado, seja no âmbito admi-
nistrativo (art. 104 e segs. c/c 114 da Lei 8.213/90) ou, judicialmente, pela via do mandado de
segurança (art. 5º – LXIX da CF).
Em junho de 2002, a Lei 10.475/02, a que se convencionou chamar “PCS 2”, alterou vá-
rios dispositivos da Lei 9.421/96, mas manteve a omissão em relação aos Oficiais de Justiça.
Posteriormente, durante a elaboração do Projeto de Lei que resultou na Lei 11.416, de 19 de
dezembro de 2006, os Oficiais de Justiça, por meio da FENASSOJAF (Federação Nacional
das Associações dos Oficiais de Justiça Avaliadores Federais), tiveram a oportunidade de ex-
por à comissão de sistematização do projeto, o as razões pelas quais entendiam ser necessária
a recriação do cargo de Oficial de Justiça Avaliador Federal.
Essa comissão era formada por representantes do Supremo Tribunal Federal, dos Tribu-
nais Superiores e do Tribunal de Justiça do Distrito Federal além de dois representantes de
entidades sindicais (FENAJUFE, a Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Fede-
ral e Ministério Público da União, e SINDJUS-DF, o sindicato dos servidores do Judiciário e
MPU do Distrito Federal). O apresentador foi o Oficial de Justiça do TRT de São Paulo Ju-
randir Santos, que falou por cerca de duas horas aos integrantes da comissão. Porém, no proje-
to de lei a ser enviado ao Congresso, os oficiais conseguiram apenas que se mencionasse no
parágrafo 1º do artigo 4º que “aos ocupantes do cargo da Carreira de Analista Judiciário – área
judiciária cujas atribuições estejam relacionadas com a execução de mandados e atos proces-
suais de natureza externa, na forma estabelecida pela legislação processual civil, penal, traba-
lhista e demais leis especiais, é conferida a denominação de Oficial de Justiça Avaliador Fede-
ral para fins de identificação funcional”.
Os Oficiais de Justiça federais batalharam ativamente, por meio de suas associações, para
a recuperação do cargo. Foram apresentadas emendas no processo de tramitação do projeto de
lei, por meio de deputados que se comprometeram com a FENASSOJAF e com as ASSO-
JAFs. No entanto, a mudança não foi contemplada, e a Lei 11.416/06, conhecida como PCS 3,
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manteve a redação original da Comissão, apesar dos avanços obtidos pelos oficiais, que con-
seguiram a aprovação da Gratificação de Atividade Externa (GAE) e a inclusão da denomina-
ção para fins de identificação funcional.
O cargo público pode ser definido como a estrutura formal básica do arranjo organizacio-
nal ou a unidade fundamental que dá forma e limites à dinâmica do aparelho administrativo.
Criado, em número determinado, pela lei, reúne um conjunto de atividades a serem realizadas
pelas pessoas nele investidas, implicando a elas o cumprimento de deveres e responsabilidade.
Entende-se que o desenho moderno dos cargos públicos deve incorporar, além dos ele-
mentos que tradicionalmente o formatam, como nível de escolaridade, habilitação exigida e
valor da remuneração específica, a descrição das atribuições e competências necessárias à rea-
lização das atividades.
Modernamente, observamos na área de recursos humanos uma tendência que faz com
que a descrição dos cargos adquira uma nova feição, definindo conteúdos mais amplos a fim
de possibilitar maior flexibilidade, com o objetivo de fazer com que os ocupantes de cargos
possam ter maior mobilidade dentro da organização, possibilitando ao funcionário a realiza-
ção de um número maior e mais variado de atividades. Essa regra tem sido adotada também
nas carreiras públicas.
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Os cargos assim descritos são designados por cargos largos, em contraposição aos cha-
mados cargos estreitos, ou seja, os cargos que definem atribuições funcionais de forma muito
específica, diferentemente, portanto, dos chamados cargos largos, um tipo de cargo que procu-
ra aglutinar atribuições e funções de mesma natureza de trabalho. Como sabemos, medida
bastante complexa é o processo de descrição das atribuições dos cargos, sendo fundamental
priorizar a construção das atribuições de forma adequada.
Ressaltamos, de antemão, que o Oficial de Justiça Avaliador Federal, para o qual se exige
formação em Direito, pela especificidade de sua função, de natureza externa, caracterizada por
exposição a riscos, sem controle de horário, exigindo prontidão constante, com atribuições
relacionadas em diferentes dispositivos legais, não comporta ter sua atribuição generalizada
pela adoção de um cargo largo que especifique diferentes funções. Trata-se sem dúvida de
uma atividade especializada que exige denominação própria, mesmo que mantenha correlação
de nível de escolaridade com outras funções específicas do Judiciário.
Embora possamos verificar o uso das expressões cargo largo e multifuncional de forma
indistinta por muitos profissionais da área de recursos humanos, a literatura costuma classifi-
car os cargos largos (ou amplos, conforme terminologia também usual) em duas categorias:
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desde cargos públicos propriamente ditos, até cargos em comissão ou cargos em confiança,
por exemplo.
No segundo caso, identifica-se a estruturação de uma situação de privilégios que pode até
mesmo causar inúmeros conflitos no âmbito da organização, constituindo-se, infelizmente, em
situação bastante comum em casos de cargos em comissão e cargos de confiança.
Constatamos, nos Planos de Cargos e Carreiras adotados recentemente por órgãos públi-
cos, a preferência por cargos largos. Os cargos largos que compõem a estrutura dos Planos de
Cargos e Carreiras mais atuais não estão baseados somente nas suas atribuições, mas também
nas competências requeridas ao desempenho de determinado cargo, as quais podem ser defi-
nidas, de uma maneira simplificada, como um conjunto de conhecimentos (saber), habilidades
(saber fazer) e atitudes (agir) necessárias para obtenção de resultados. Tais competências tam-
bém são críticas para o alcance de determinados objetivos e metas da instituição, podendo ser
definidas:
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d) de forma específica para as diferentes disciplinas ou funções dentro de
uma mesma denominação de cargo.
Diante de todo o exposto, defende-se a recriação, na estrutura de carreira e cargos que vi-
er a ser adotada pelo Poder Judiciário Federal, do cargo específico de Oficial de Justiça Avali-
ador, sem o enquadramento genérico como atualmente se faz na condição de Analista Judiciá-
rio, função Executante de Mandados. Não por se tratar de um mero capricho ou correção se-
mântica, mas respeitando-se a especificidade das atribuições correlatas ao cargo, bem como
sua constituição histórica (registrada nos capítulos iniciais do presente trabalho), que consoli-
dou a figura do meirinho no interior da organização do Poder Judiciário e na própria mentali-
dade predominante na sociedade civil, não se admitindo a descaracterização de uma função
construída desde época remota, que não pode ser abolida sem prejuízos ao funcionamento da
própria instituição judicial e da sociedade que se beneficia dos serviços por ela prestados.
Substituir a denominação “Oficial de Justiça” por “Analista Judiciário Executante de Manda-
dos” equivale a denominar o Juiz de Solucionador de Conflitos ou Prolator de Sentenças Judi-
ciais. É uma designação do cargo por sua atividade, nada mais que isso.
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ção dos concursos. Daí a necessidade de reformulação dos concursos públicos, de forma a
aprimorar a identificação de candidatos com o perfil que o cargo exige. (7)
Importante destacar a relação que deve existir entre o avanço funcional no interior das
carreiras ao domínio das competências, das atribuições e ao desempenho funcional. Portanto,
os processos de capacitação relacionados com o servidor devem aprimorar sua formação, con-
tribuindo com o acréscimo de capacidade para a realização de tarefas (competência requerida).
Também é requisito para ingresso no cargo a graduação em Direito. Essa exigência, aliás,
é comum aos Oficiais de Justiça Federais a partir da Lei 11.416/2006, que estabelece tal re-
7 As regras constitucionais do concurso público foram modificadas pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998. Para al-
guns gestores, o concurso público é visto como um problema, levando-os em muitos casos, até mesmo, a evitá-lo, em al-
gumas situações que inclusive se definem como burla ao concurso e à própria Constituição Federal. O concurso público e
o preenchimento de cargos devem ser compostos com características voltadas ao atendimento da sociedade, que é perma-
nente, e não do gestor, que é temporário. A partir do desenho organizacional do cargo público, o concurso público flexi-
biliza-se, conforme a natureza e a complexidade do cargo, para, por metodologia prática, buscar, no mercado, o profis-
sional mais adequado para o exercício das atribuições definidas, tendo em conta não somente o conhecimento, mas tam-
bém, as atitudes e habilidades consideradas importantes para a prestação de um serviço qualificado ao cidadão e à socie-
dade. A não (re)leitura, por muitos órgãos governamentais, das regras do concurso público na Constituição Federal, gera
defasagem metodológica nas provas seletivas. Acreditamos que o foco das provas de concurso público deve ser prático,
com experimentação de médio prazo. Em alguns Estados, por exemplo, até 2006, um dos pontos que mais influenciava
nos concursos públicos para a magistratura era uma prova de sentença. Hoje, em muitos Estados, após uma primeira fase,
os candidatos classificados, conforme condições definidas em edital, passam para uma fase prática de sentenças por um
período razoável de tempo. A fidelização de resultado é maior, na medida em que o espaço de aferição do exercício das
atribuições do cargo é mais largo, diminuindo a margem de erro.
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quisito a todos os ocupantes do cargo de Analista Judiciário da área judiciária, inclusive os
“Executantes de Mandados”:
Art. 2o Os Quadros de Pessoal efetivo do Poder Judiciário são compostos pelas se-
guintes Carreiras, constituídas pelos respectivos cargos de provimento efetivo:
I - Analista Judiciário;
II - Técnico Judiciário;
Art. 3o Os cargos efetivos das Carreiras referidas no art. 2o desta Lei são estrutura-
dos em Classes e Padrões, na forma do Anexo I desta Lei, de acordo com as seguin-
tes áreas de atividade:
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Ressalte-se que, embora o requisito da formação em Direito seja comum ao Analista Ju-
diciário da área judiciária (área-fim), para o Analista Judiciário das áreas administrativa e de
apoio judiciário (áreas-meio), o requisito de escolaridade de nível superior se dará de acordo
com a especialidade: Administração, Economia, Ciências Contábeis, Assistência Social, Co-
municação Social, Engenharia, Medicina, etc. Resulta daí que um médico será um Analista
Judiciário da área de apoio especializado na especialidade Medicina, assim como um assessor
de imprensa será um Analista Judiciário da área de apoio especializado na especialidade Co-
municação Social – Jornalismo.
Em que pese a sua exigência para os Oficiais de Justiça Avaliadores Federais, a formação
em Direito ainda não é requisito para os Oficiais de Justiça estaduais, com exceção de alguns
Estados. Porém, as próprias medidas adotadas pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) vão
no sentido de reconhecer as particularidades da atividade do Oficial de Justiça Avaliador, ao
recomendar aos Tribunais de Justiça do país que elevem o cargo de Oficial de Justiça para os
possuidores do curso de direito, uniformizando os requisitos quanto ao grau de formação
exigido para desempenho do cargo. Recentemente o plenário do órgão acolheu, por maioria, o
Pedido de Providências nº. 874-7, visando à adoção da exigência de formação universitária
como requisito dos editais de futuros concursos para o provimento do cargo de Oficiais de
Justiça.
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Argumentou, em sua justificativa, ser “inegável a caracterização da missão dos Oficiais
de Justiça como elemento de dinamização do trâmite processual”. Diante da importância e da
especificidade dessas atividades, o conselheiro aponta a necessidade de se uniformizar os
critérios de admissão dos oficiais em todo o país e “a utilidade de deterem conhecimentos
técnico-científicos jurídicos diante, não raro, da ocorrência de situações imprevistas durante o
cumprimento de mandados e, primordialmente, da responsabilidade inerente às suas funções e
respectivas conseqüências jurídicas”.
Ao propor a alteração no texto, o deputado Flávio Dino, ex-Juiz federal do Estado do Ma-
ranhão e ex-presidente da AJUFE (Associação dos Juízes Federais do Brasil), argumentou que
as atribuições dos Oficiais de Justiça relacionam-se à atividade-fim do Judiciário, o que exige
“conhecimentos específicos para o perfeito desempenho do cargo”. Sandra Rosado assinalou
que a atividade do Oficial de Justiça é de grande importância para a prestação da Justiça e que
a exigência do curso de Direito contribui para o aperfeiçoamento da instituição e para a quali-
dade dos serviços prestados por essa categoria de servidores públicos.
Outra emenda apresentada pelo deputado Flávio Dino assegurava aos atuais ocupantes do
cargo que não possuem o diploma de bacharel em Direito todas as garantias e vantagens re-
muneratórias concedidas àqueles que cumprirem a nova exigência para ingresso na carreira.
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jeto versa sobre matéria que, de acordo com entendimento pacificado no Supremo Tribunal
Federal, se insere na esfera de iniciativa privativa do Poder Judiciário.
Por se tratar de um profissional com formação de nível superior, e os admitidos mais re-
centemente com a formação específica em Direito, os Oficiais de Justiça geralmente são vis-
tos como mão de obra qualificada pelos Tribunais, que no entanto tendem a vê-los como sub-
aproveitados. Trata-se aqui de um paradoxo, uma vez que, para alguns, trata-se de um “estafe-
ta de luxo”, cujas funções, embora imprescindíveis para o efetivo cumprimento das decisões,
poderão vir a ser substituídas com o progresso tecnológico em curso.
No entanto, para que seja buscada uma inserção plena do Oficial de Justiça na carreira ju-
diciária, precisamos abrir a porta de entrada no cargo a profissionais qualificados, com a pos-
sibilidade de garantir acesso a um porcentual de servidores da mesma carreira que já tenham
cumprido os requisitos de escolaridade e tempo no cargo, e ao mesmo tempo pensar no apro-
veitamento pleno da experiência dos profissionais após 15 anos de carreira, quando nenhuma
possibilidade de progressão passará a existir, pelas regras atuais.
63
Vislumbramos assim pelo menos duas possibilidades: em primeiro lugar, o aproveitamen-
to dessa experiência como pontuação no acesso à magistratura, para aqueles que se sentirem
vocacionados para essa atividade; em segundo lugar, a incorporação de novas atribuições para
um Oficial de Justiça Classe Especial, que poderia ser responsável por funções delegadas pelo
Juízo, como a coordenação das hastas públicas, a homologação de acordos, bem como deci-
sões intercorrentes do processo de execução, entre outras.
Essa possibilidade deveria evidentemente ser uma escolha do Oficial após determinado
período na carreira, resguardando-lhe o direito de permanecer até a aposentadoria em seu tra-
balho nas ruas.
Evidentemente que, tanto em uma quanto em outra hipótese, estamos falando de algumas
mudanças que dependem de alteração da legislação. Porém, é inegável que se estaria assim
valorizando a experiência adquirida e contribuindo para a celeridade processual.
Isso sem falar na adoção de um modelo jurisdicional no qual existisse a separação entre o
processo de conhecimento e o processo de execução, dando aos Oficiais de Justiça a possibi-
lidade de se tornarem Juízes de Execução especializados nessa fase processual.
O controle de certas áreas geográficas das cidades pelo tráfico e criminalidade, observan-
do-se a ação de criminosos com faixas etárias progressivamente reduzidas, explica a dificul-
dade de distinção que pode haver entre a figura do Policial e do Oficial de Justiça, sendo que
este também representa a presença do Estado em áreas nas quais as regras emanam de outros
poderes, não oficiais. Vinculados a uma área geográfica definida, o que menos interessa ao
Oficial de Justiça é que fique “marcado” pela eventual companhia de Policiais. São situações
que demandam experiência e muita habilidade do funcionário que executa a ordem judicial.
64
base do Oficial (8). No entanto, essa incidência foi contestada pelas entidades representativas
dos Oficiais, que sempre entenderam que o porcentual deveria incidir sobre o maior venci-
mento da carreira, tornando-se assim um valor fixo, já que o risco existente para o Oficial é
igual, senão ainda maior para os Oficiais em início da carreira.
A esse respeito, citamos trecho do estudo de Patrícia Valéria Alkimin Pereira, denomina-
do “Uma Contribuição ao estudo das Emoções no Trabalho: O Caso dos Oficiais de Justiça
Avaliadores do Judiciário Mineiro”, dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Pro-
grama de Pós-Graduação em Saúde Pública, da Faculdade de Medicina da Universidade Fede-
ral de Minas Gerais, ao tratar do tema “ameaça e intimidação”:
O exercício de uma atividade de risco leva os Oficiais a discutirem a sua inclusão entre as
categorias profissionais que são beneficiadas pela aposentadoria especial, conforme dispõe a
Constituição Federal em seu Art. 40, § 4º, inciso III:
II. que exerçam atividades de risco; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de
2005)
III. cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a sa-
úde ou a integridade física. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)
8 A remuneração atual dos Oficiais de Justiça Federais, ocupantes do cargo “Analista Judiciário”, especialidade “Executante
de Mandados” é composta das seguintes parcelas: Vencimento básico: estabelecido em 15 diferentes valores de acordo com
os padrões na carreira. Gratificação de Atividade Judiciária (GAJ): calculada em 50% sobre o vencimento básico, de a-
cordo com o Art. 13 da Lei 11.416/2006, é paga a todos os servidores do Judiciário Federal. Gratificação de Atividade Ex-
terna (GAE): devida exclusivamente aos ocupantes do cargo “Analista Judiciário – Executante de Mandados”, é calculada
em 35% sobre o vencimento básico, e foi criada pela Lei 11.416/2006, Art. 16. Deu uniformidade nacional à remuneração
dos Oficiais de Justiça Avaliadores Federais, pois substituiu as Funções Comissionadas, que não eram pagas em todos os
Tribunais e tinham valores diferentes, conforme o nível: FC-5, FC-4 ou mesmo FC-3. Indenização de Transporte: prevista
no artigo 60 da Lei nº 8.112/90, foi fixada pelo Conselho da Justiça Federal em 1.344,97 desde 5 de dezembro de 2003, com
efeitos financeiros a partir de janeiro de 2005, e pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho em dezembro de 2005, pas-
sando a ser paga em janeiro de 2006, no mesmo valor.
65
Como não há lei complementar regulando o direito à aposentadoria especial, os Oficiais
de Justiça aguardam que o Supremo Tribunal Federal garanta o direito a tê-la. Por essa razão,
várias entidades representativas dos Oficiais de Justiça já encaminharam Mandados de Injun-
ção ao STF. Pelo menos duas delas já obtiveram parecer favorável da Procuradoria Geral da
República pela procedência parcial dos pedidos de regulamentação, por meio de lei, da apo-
sentadoria especial. E, em 22 de abril de 2009, o Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário
Federal do Estado de Mato Grosso (SINDIJUFE-MT) tornou-se o primeiro a obter decisão
favorável {a aposentadoria especial em Mandado de Injunção proposto ao STF (MI 914).
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O assessor jurídico da FENASSOJAF, o advogado Rudi Cassel, disse que a qualificação
jurídica do risco para a atividade dos Oficiais de Justiça consta do Estatuto do Desarmamento,
que prevê o cumprimento de ordens judiciais como atividade de risco. Ele também assinalou
que a partir do reconhecimento do risco, é possível obter o direito ao porte de arma e à apo-
sentadoria especial. O advogado afirmou, ainda, que a próprio PCS 3, como é chamada a Lei
11.416/2006 considera a função do Oficial de Justiça Avaliador Federal como de risco, por
isso a necessidade da aposentadoria especial para este setor da categoria.
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4) AS ATRIBUIÇÕES DOS OFICIAIS DE JUSTIÇA
Os Oficiais de Justiça Avaliadores Federais são servidores que ingressam no serviço pú-
blico pela via de concurso público (art. 37, I, da Constituição Federal), exercem atividade e-
minentemente externa e estão enquadrados atualmente no cargo de Analista Judiciário, com a
especialidade de “Executante de Mandados” e a denominação Oficial de Justiça Avaliador
Federal para fins de identificação funcional, de acordo com a Lei 11.416/2006.
(...)
Os artigos 143 e 144 do Código de Processo Civil (Lei 5869/73) trazem uma síntese das
atribuições do Oficial de Justiça. São elas:
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● Fazer, pessoalmente, as citações, prisões, penhoras, arrestos e mais diligências próprias
do ofício, certificando no mandado o ocorrido, com menção de lugar, dia e hora. A diligência,
sempre que possível, é feita na presença de duas testemunhas
● Efetuar avaliações.
Para a prática de tais atos os Oficiais de Justiça detêm importantíssima prerrogativa que
lhes é assegurada por lei: o poder de certificar. Essa atribuição é de órgão que tem fé pública
porque as certidões asseguram o desenvolvimento regular e válido de todo o processo VEA-
DO (1997, p. 21).
O Anexo Único deste ato, titulado como “Descrições das Atribuições e Requisitos para
Ingresso nos Cargos Efetivos dos Quadros de Pessoal dos Tribunais Regionais do Trabalho”
traz a seguinte descrição:
Duas questões chamam a atenção. Em primeiro lugar, que o Ato não menciona em ne-
nhum momento a expressão “Oficial de Justiça Avaliador Federal”, e reitera, assim como a
Resolução 47/2008, que o precedeu que a especialidade é “Executante de Mandados”. Outra
questão é em relação à expressão “redigir, digitar e conferir expedientes diversos e executar
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outras atividades de mesma natureza e grau de complexidade”. Trata-se de uma atribuição ge-
nérica o suficiente para obrigar o Oficial a servir como substituto de servidores que exercem
sua atividade internamente, quando é normal que o Oficial redija e digite as suas certidões,
bem como preencha Autos de Penhora e Avaliação e outros documentos fora das instalações
do Fórum, na maioria das vezes usando os próprios equipamentos.
O Art. 2º do referido ato também diz que “os Tribunais Regionais do Trabalho, por in-
termédio da unidade competente, encaminharão à Assessoria de Gestão de Pessoas do Conse-
lho Superior da Justiça do Trabalho propostas de alteração das descrições das atribuições dos
cargos e/ou dos requisitos para ingresso, com as respectivas justificativas, para validação e
alteração, se for o caso”.
Oficial de Justiça é, portanto, o servidor público que tem como atribuição a execução de
mandados judiciais, ou seja, as ordens emanadas dos Juízes. Tais atividades têm como fonte
primordial a Constituição da República e, em especial, as leis (Código de Processo Civil, Có-
digo de Processo Penal e demais leis esparsas). Pode-se também mencionar, como fonte se-
cundária, as normas administrativas editadas pelas Corregedorias de Justiça de cada Estado,
que tendem a regular situações peculiares, que dizem respeito à forma pela qual as normas
legais deverão ser observadas.
Em áreas de risco, há uma situação de violência latente, realidade com a qual o Oficial de
Justiça se depara diariamente no cumprimento de seu dever de ofício. O alto grau de risco a
70
que se está exposto contrapõe-se ao resultado prático dessas diligências que podem resultar
infrutíferas e deveria a questão ser merecedora de atenção por parte da instituição judiciária.
Numa oportunidade, ao relatar uma situação de tentativa de agressão no cumprimento da or-
dem judicial, um Oficial ouviu do servidor que ocupava o cargo de Diretor que a ocorrência
era inerente ao cargo de Oficial de Justiça.
No cumprimento das diligências, os Oficias de Justiça se deparam com uma série de con-
flitos, problemas de ordem social, econômica, situações de relacionamentos individuais não
resolvidas, clima de animosidade, expectativas negativas, frustrações. Depara-se com uma
realidade marcada por sentimentos exacerbados que torna a execução da ordem judicial um
procedimento delicado, no qual devem estar presentes a dimensão do cumprimento do dever,
a compreensão e respeito pelas pessoas e uma exata noção das situações com as quais está li-
dando. Trata-se de uma ação que não se faz, apenas, folheando páginas de processo, mas se
materializa diante de pessoas – homens, mulheres, crianças, jovens ou idosos.
É uma ação que não pode ser marcada pela falta de perícia, pelo desconhecimento dos as-
pectos legais, éticos, e até mesmo psicológicos. As decisões judiciais têm repercussão social e
ao Oficial de Justiça incumbe, muitas vezes, a difícil tarefa de executar a ordem emanada do
Poder Judiciário, quase sempre com grande risco.
Cada ordem judicial tem um destinatário, envolve uma história que tem seus próprios
personagens, e, não raro, durante as diligências cumpridas afloram sentimentos de comoção,
revolta, hostilidade, identificando-se muitas vezes o Oficial de Justiça como o agente respon-
sável pela ordem judicial, ainda que apenas um executor desta. A esse respeito, voltamos a
citar trecho do estudo de Patrícia Valéria Alkimin Pereira, denominado “Uma Contribuição ao
estudo das Emoções no Trabalho: O Caso dos Oficiais de Justiça Avaliadores do Judiciário
Mineiro”:
71
seus sentimentos e valores. Estar próximo à história íntima do outro possibilita o en-
volvimento emocional, e a tentativa de estabelecer uma distância dos afetos implica-
dos nem sempre é possível ao oficial de justiça (ASSUNÇÃO; PEREIRA; REZEN-
DE, 2001; HELLER, 1980).”
Na visão de NARY (1974, p. 34), o Oficial de Justiça deve possuir nove predicados, a sa-
ber: “Dedicação; discrição; energia; espírito de cooperação; estabilidade emotiva; pontualida-
de; prudência; senso de responsabilidade e honestidade”.
• Energia: deve ter firmeza e energia no cumprimento das atribuições que lhe
forem confiadas.
• Prudência: deve ter capacidade de agir com cautela nas diligências, evitando
possíveis acidentes ou deserções.
72
• Senso de Responsabilidade: deve executar os trabalhos ou ordens com zelo,
solicitude, precisão e presteza.
Podemos ainda destacar as vedações que devem ser observadas de maneira geral aos ser-
vidores públicos federais, contidas no Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil
Federal (Decreto 1.171, de 22 de junho de 1994), na Seção III, inciso XV, a saber:
ser, em função de seu espírito de solidariedade, conivente com erro ou infração a es-
te Código de Ética ou ao Código de Ética de sua profissão;
pleitear, solicitar, provocar, sugerir ou receber qualquer tipo de ajuda financeira, gra-
tificação, prêmio, comissão, doação ou vantagem de qualquer espécie, para si, fami-
liares ou qualquer pessoa, para o cumprimento da sua missão ou para influenciar ou-
tro servidor para o mesmo fim;
iludir ou tentar iludir qualquer pessoa que necessite do atendimento em serviços pú-
blicos;
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retirar da repartição pública, sem estar legalmente autorizado, qualquer documento,
livro ou bem pertencente ao patrimônio público;
dar o seu concurso a qualquer instituição que atente contra a moral, a honestidade ou
a dignidade da pessoa humana;
Nas palavras de PIRES (1997, p. 19): “O Oficial de Justiça, apesar de indispensável para
o andamento do processo, não pode praticar atos fora de sua competência. Isso significa que o
Oficial de Justiça deve cumprir o mandado, estritamente como determinado no próprio man-
dado”.
Em sua atividade diária, o Oficial deve ter conhecimentos jurídicos para entender as cau-
sas e as conseqüências dos atos que executa, bem como para desempenhar a sua função dentro
dos princípios inerentes à Administração Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência. São princípios que devem ser seguidos à risca pelos agentes públicos,
não podendo se desviar deles sob pena de praticar ato inválido e se expor à responsabilidade
disciplinar civil ou criminal dependendo do caso. Carlos Weber Ad-víncula VEADO, autor da
obra “O Oficial de Justiça e sua função no Juízo Cível e Criminal”, afirma:
O Código de Processo Civil determina que os atos sejam realizados em dias úteis, das 6
às 20 horas (Lei 8.952 de 13.12.94), regra primeira do artigo 171. Dia útil é aquele no qual há
expediente forense. Nas férias e feriados nenhum ato será praticado (art. 173). O ato praticado
fora daquele horário e em dias que não são úteis, não terá nenhuma validade, só podendo se
prolongar além das 20 h. (Lei 8.952, de 13.12.94) quando trouxer seu adiamento algum dano
ou prejudicar a diligência. (art. 172, § 1º).
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O CPC permite que os atos de citação e penhora sejam realizados em dias de domingo e
feriado, ou fora do horário legal nos dias úteis, desde que preencham certos requisitos que jus-
tifiquem essa exceção. Tal ocorre nos casos de “pedido da parte, que demonstre urgência do
caso, autorização do Juiz e observância do preceito constitucional com relação a residência –
artigo 5º, XI da Constituição Federal – (art. 172, § 2º ). Há casos, porém, em que o Oficial
somente consegue encontrar o destinatário no fim de semana, principalmente quando se trata
de endereço residencial. Isso significa que o Oficial de Justiça não tem um horário de trabalho
fixo, apesar da liberdade de poder estabelecer o seu horário de acordo com a região na qual
cumpre os mandados.
Em ruas nas quais não existem número de residências ou a numeração não segue um pa-
drão ordenado, o Oficial deve perguntar pelo destinatário em pelo menos três residências ou
estabelecimentos comerciais, se possível informando os números das casas e os nomes das
pessoas consultadas. Sempre constar da certidão que o réu é desconhecido das pessoas, po-
dendo nominá-las.
Recomenda-se cordialidade e pouca intimidade, e sempre ficar atento nas reações do réu.
Em caso de hostilidade, deve o Oficial informar minuciosamente o ocorrido na diligência e,
sempre que necessário, retirar-se do local e solicitar o auxílio policial para resguardar o cum-
primento da medida e evitar o perecimento do direito.
75
Deve o Oficial ter cuidados com o mandado: não sujar, não amassar, não dobrar, proteger
da chuva, não rabiscar, não fazer anotações desnecessárias. Adotar uma pasta adequada para
acondicionamento dos mandados.
Após a prática de todos os atos que lhe são incumbidos, o Oficial de Justiça Avaliador de-
tém a importantíssima prerrogativa que lhe é assegurada por lei: O poder de certificar. Tal po-
der unge o exercício da profissão com o instituto da fé pública. Os atos praticados pelo Oficial
de Justiça são dotados de fé pública e, em princípio, devem ser reputados válidos. Com isso,
há a presunção de veracidade, de cunho juris tantum, incumbindo ao interessado o ônus de
demonstrar a sua inadequação.
Ao certificar os atos realizados, está o Oficial transformando em relato escrito aquilo que
viu durante a sua diligência. Deve fazê-lo em português claro, de forma resumida, atentando
para o conteúdo e para a forma. Uma certidão bem escrita, que não deixe dúvidas, pode ajudar
a encaminhar o processo para o seu final e evitar dissabores ao Oficial.
O regime jurídico dos auxiliares da Justiça inclui, em relação àqueles que são dota-
dos de funções certificadoras, a presunção de veracidade do que certificam, expressa
na fórmula fé pública. É o caso do oficial de justiça, do escrivão e dos auxiliares des-
76
te, os escreventes. O que afirmam em suas certidões independe de comprovação e
vale por verdade até que o contrário se demonstre (presumptiones juris tantum)
(Cintra-Grinover-Dinamarco).
77
5) A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
DO OFICIAL DE JUSTIÇA
5.1 Introdução
78
criada com essa finalidade. Atualmente, avalia-se o desempenho dos servidores apenas para
cumprir a previsão constitucional de obtenção da estabilidade, após o prazo de três anos de
efetivo exercício.
No art. 141 da Lei 11.784/2008, a premissa utilizada para a estruturação e para a aplica-
ção da avaliação de desempenho não tem somente caráter individual, mas também institucio-
nal. Define-se aí a avaliação de desempenho como “o monitoramento sistemático e contínuo
da atuação individual do servidor e institucional dos órgãos e das entidades, tendo como
referência as metas globais e intermediárias dos órgãos”. Além disso, é possível observar que
os alicerces de sustentação da medida agregam valor funcional, pois suas finalidades são:
79
Assim, o objetivo da avaliação de desempenho no serviço público não deve ser, apenas, a
permanência (efetivação) ou não do servidor no cargo em que está sendo avaliado. Ela pode
apontar a necessidade de dar ao servidor diferente lotação, em outro setor de trabalho, ou
mesmo indicar o caminho de uma capacitação.
Para isso, é necessário que haja uma orientação quanto ao trabalho a ser executado, tanto
pelas chefias quanto pelos próprios servidores a respeito do que ocorre neste período que, ho-
je, é de 3 anos (Art. 41 da Constituição Federal), e o acompanhamento pelas chefias para ela-
boração do relatório final é efetuado, geralmente, de 6 em 6 meses.
Em geral, os avaliadores são as chefias imediatas. Ocorre que, nos órgãos públicos, mui-
tas vezes essas chefias não têm conhecimento suficiente da área de trabalho, em decorrência
do fato de a ocupação desses cargos ainda ocorrer sem critérios e objetivos de competência de
gestão, o que pode atrapalhar o processo de avaliação de desempenho.
Não se trata apenas de gerenciamento eficaz, mas de avaliação eficaz. Não é possível ava-
liar o desempenho de alguém sem antes ter uma boa compreensão de seu trabalho. Identificar
os elementos essenciais do bom desempenho e rever o desempenho do responsável também
ajuda os avaliadores e avaliados (GILLEN, 2000, p. 10-15-16).
A comissão de avaliação de desempenho tem um papel essencial nas avaliações, visto que
quem faz as avaliações são as chefias diretas, e estas podem distorcer as informações. É neste
caso que a comissão entra com papel de conciliadora.
Para ter eficácia e efetividade, embora não se trate de tarefa fácil, a avaliação de desem-
penho deve definir, de forma prévia e participativa, indicadores que permitam realizar a aferi-
ção de resultados por produção individual, por desempenho de equipes e pela própria organi-
zação. Esses indicadores devem considerar não somente o alcance de metas de melhoria (que
qualificam os processos de trabalho, tornando-os mais racionais) e de metas de inovação (que,
como o nome indica, inovam para, com criatividade, os processos de trabalho), mas também
as metas de manutenção (que sustentam os processos de trabalho, garantindo razoabilidade de
resultados estabelecidos de acordo com o nível de exigência institucionalmente definido). A
planificação de metas e a valoração global de seus atendimentos, com pesagem diferenciada
80
de valor, mas sem desprezar qualquer ganho, e a manutenção é um ganho, é necessária para
garantir a necessária segurança à avaliação.
Nos Estados Unidos, em 1842, o Congresso aprovou uma lei que obrigava os chefes dos
departamentos executivos do Serviço Público Federal a fazer um relatório anual para, entre
outras coisas, ver se cada um de seus contínuos tinha sido aproveitado corretamente e se a
demissão de uns para permitir a admissão de outros levaria a um melhor desempenho do ser-
viço público. Em 1845, o então presidente dos Estados Unidos, James Holk, ordenou que es-
ses relatórios lhe fossem enviados diretamente. Em 1879, o Departamento de Pensões criou
um sistema que tentava medir o desempenho dos funcionários simplesmente contando o nú-
mero de erros que eles cometiam durante o ano.
Avaliar desempenho nada mais é do que fornecer o feedback construtivo, tanto no dia-a-
dia quanto nas reuniões formais para esse fim. Sem essa característica do relacionamento não
existe programa de avaliação de desempenho, qualquer que seja a metodologia adotada
(PONTES, 1996, p. 30).
Para VROOM (1997), o primeiro passo nesta nova abordagem consiste em reformular o
papel dos funcionários no sistema de avaliação. Eles devem fazer uma auto-avaliação, identi-
ficando não apenas seus pontos fracos, mas seus pontos fortes e seus potenciais. Deixam de
ser objetos passivos e passam a ser agentes ativos da avaliação de seu desempenho. A pre-
missa básica é a de que o funcionário sabe ou pode aprender a identificar suas competências,
necessidades, pontos fortes, pontos fracos e metas. Assim, ele é a pessoa mais capaz de de-
terminar o que é melhor para si. O papel dos superiores e da área de Recursos Humanos passa
a ser o de ajudar o funcionário a relacionar seu desempenho às necessidades e à realidade da
organização.
• muitos avaliadores tendem a ficar na posição de Juiz, os avaliados tendem a ficar na de-
fensiva, e os avaliadores tornam-se demasiadamente críticos;
• pode ocorrer, também, a falta de envolvimento que leva à falta de direção, e os avaliado-
res permitem aos avaliados ficarem no extremo de só receber. A diretoria (pode ser a comis-
são), pela utilização das informações recebidas nas fichas de avaliação, poderá mais facilmen-
te planejar, organizar e controlar, tirando, assim, maior rendimento da mão de obra (BER-
GAMINI, 1973, p. 36).
83
5.7 A reação do avaliado
A motivação é um quadro complexo, mas, para a grande maioria das pessoas, há certa
constância em obter melhor desempenho quando se sentem bem no que fazem. Esse sentimen-
to de satisfação é promovido pelo reconhecimento, louvor, feedback positivo dos resultados,
bom relacionamentos no trabalho e assim por diante. A motivação também é necessária para a
aprendizagem contínua. Juntas são essenciais ao desempenho excelente.
1º Passo: Elaboração de uma ficha de avaliação por uma comissão designada para este
fim.
2º Passo: A ficha de avaliação e seus critérios serão regulamentados pela lei que cria o
Plano de Carreira.
84
3º Passo: É nomeada uma comissão composta por três Oficiais de Justiça Avaliadores que
se encontrem no fim da carreira (após terem participado de treinamentos sobre avaliação de
desempenho).
5º Passo: A área de Recursos Humanos se reúne com as chefias imediatas dos Oficiais
das Centrais de Mandados e das Varas (nos locais onde não existem Centrais) para explicar o
processo de avaliação de desempenho.
Podem ser implantados ciclos de avaliações anuais, e isso é importante para o sistema de
recompensa, pois esse será ativado no mês subsequente ao encerramento do ciclo, desde que
as metas sejam alcançadas individual e institucionalmente (ênfase para o trabalho em equipe),
em atendimento ao plano de trabalho predeterminado. E o que é mais importante: se os servi-
dores ativos obtiverem avaliações de desempenho individual inferiores a 50% da pontuação
máxima prevista, serão submetidos a processo de capacitação ou de análise da adequação fun-
cional, conforme o caso, sob responsabilidade do respectivo órgão ou entidade de exercício.
5.8 Conclusões
É de suma importância que a avaliação de desempenho seja bem conduzida pelos avalia-
dores e pela comissão, evitando-se o protecionismo, fenômeno que não ocorre somente nos
órgãos públicos, mas pode ocorrer em qualquer empresa privada. Importante ressaltar que a
metodologia de avaliação de desempenho se preocupa com o comportamento das pessoas no
trabalho, não com a pessoa em si (PONTES, 1991, p. 23).
85
Uma das críticas que são feitas às novas técnicas de gestão de pessoas é de que os órgãos
públicos funcionam e se organizam de maneira muito diferente das empresas privadas. Porém,
o que se pode verificar é uma maior diferença em relação às influências políticas externas e
internas que se refletem na própria qualificação das chefias. Porém, em relação aos processos
de trabalho utilizados e seus objetivos, esses costumam ser muito semelhantes.
86
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importação de novas ideias, sabemos, não representa mudança de velhos hábitos e cos-
tumes, servindo muitas vezes, apenas, para travestir velhas práticas com nova roupagem. Mu-
dar para deixar tudo como está parece ser sempre a lógica das classes dominantes no Brasil.
Assim, refletir sobre aspectos práticos da condição do Oficial de Justiça em seu ofício co-
tidiano, pensar a forma como se estrutura e os vínculos que estão estabelecidos entre o setor
87
no qual, prioritariamente, desenvolve suas atribuições (as Centrais de Mandados ou as Secre-
tarias das Varas, em regra geral), e traçar um paralelo com os demais setores da estrutura judi-
ciária, é fundamental, embora bastante incomum.
Não ignoramos uma notória falta de consciência da população brasileira sobre seus direi-
tos e a ausência de maior engajamento em questões de grande importância para a sociedade e
o país. É evidente que os longos períodos de regimes de exceção, autoritários, populistas, que
marcaram a vida brasileira durante o século XX, deixariam marcas negativas, resultando em
certa apatia popular.
Embora estejam claras as distinções entre empresas públicas e privadas, a opinião do ci-
dadão nas sociedades modernas está cada vez mais em evidência, não compactuando com o
ônus de recolher tributos para manter instituições públicas que não atendam às suas necessi-
dades, na forma e quantidade que correspondam a uma total satisfação do que precisam.
A Justiça do Trabalho, em um momento no qual a sua existência foi bastante debatida pe-
la sociedade, compreendeu os sinais de um novo momento, e, não por acaso, rapidamente cap-
tou a mensagem e avançou no aprimoramento da gestão. E o mesmo está a ocorrer em todo o
Judiciário Federal.
88
As Varas e Tribunais Regionais do Trabalho estão passando por um processo de padroni-
zação dos equipamentos e soluções de infra-estrutura, que servirão de base para o desenvol-
vimento de um sistema de administração de processos preparado para o processo digital. Esse
processo atinge o Judiciário como um todo, embora na esfera federal as mudanças se encon-
trem em fase mais adiantada.
Ao refletir sobre a condição dos Oficiais de Justiça Avaliadores como Auxiliares dos Ju-
ízes no processo judicial, bem como sobre a necessidade de que essa atividade volte a ter o
status de “cargo” na estrutura de carreira do Poder Judiciário Federal, perdido desde a Lei
9.421, de 24 de dezembro de 1996, instauramos um debate bastante atual que se reflete nas
discussões travadas sobre o Plano de Carreira e da própria instituição de um modelo de cons-
trução da identidade funcional do servidor ao longo dos anos de sua atividade como prestador
de serviços públicos.
89
O “remendo”, sobrepondo um nome (o de Oficial de Justiça) a outro (Analista Judiciá-
rio), demonstra apenas a superficialidade da medida adotada na legislação em vigor. Trata-se
de uma improvisação que não beneficia a administração pública, descaracterizando a própria
noção que respalda a idéia de cargo largo enquanto instrumento que possibilita flexibilidade
de atuação e estímulo ao profissional.
Trata-se de medida que bem caracteriza os usos e costumes tradicionais da máquina pú-
blica brasileira, na qual o “jeitinho” – termo recorrente de uma marca elevada à condição de
verdadeira identidade nacional – permanece como prática vigente.
A reestruturação dos cargos adotada pelos respectivos planos de cargos e salários elabo-
rados no âmbito do Poder Judiciário trouxe, no que diz respeito aos Oficiais de Justiça, uma
precarização de sua identidade funcional, medida inócua e sem sentido, ignorando a especifi-
cidade da função cujas atribuições estão amplamente determinadas em inúmeros códigos le-
gislativos e legislação esparsa.
Na discussão que se faz sobre o cargo de oficial de justiça, cumpre reparar o equívoco,
dando adequado tratamento a um corpo de funcionários cuja atividade é de fundamental im-
portância para a dinamização do trâmite processual.
O procedimento seria uma forma de resguardar a adoção de uma política de recursos hu-
manos que garanta a correta análise das questões envolvendo a prestação de serviço público,
buscando a profissionalização e o aperfeiçoamento das carreiras para o atendimento adequado
às demandas do País e da sociedade brasileira.
É em um cenário cada vez mais competitivo, no qual os serviços públicos precisam enca-
rar novas realidades, que devemos inscrever a tentativa de buscar novas abordagens para a
questão dos cargos no serviço público que contemple o aproveitamento de experiências pas-
sadas, bem como as novas dinâmicas e desafios presentes na atual realidade global.
90
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Tribunais, 2002.
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temática processual civil 3. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2007.
93
ANEXO 1
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Parágrafo único. As atribuições dos cargos, observadas as áreas de atividade, serão descri-
tas em regulamento.
Art. 3° Os valores de vencimento dos cargos das carreiras judiciárias são os constantes do
Anexo II.
94
quadrando-se os servidores de acordo com as respectivas atribuições e requisitos de formação
profissional, observando-se a correlação entre a situação existente e a nova situação, conforme
estabelecido na Tabela de Enquadramento, constante do Anexo III.
§ 1° Ciente do seu enquadramento, o servidor terá o prazo de quinze dias para a interpo-
sição de recurso.
§ 3° O disposto neste artigo aplica-se também aos cargos de Oficial de Justiça Avaliador
e demais cargos de provimento isolado, observados no enquadramento os requisitos de escola-
ridade e demais critérios estabelecidos nesta Lei.
Art. 6° São requisitos de escolaridade para ingresso nas carreiras judiciárias, atendidas,
quando for o caso, formação especializada e experiência profissional, a serem definidas em
regulamento e especificadas nos editais de concurso:
II - para a Carreira de Técnico Judiciário, curso de segundo grau, ou curso técnico equi-
valente;
95
III - para a Carreira de Analista Judiciário, curso de terceiro grau, inclusive licenciatura
plena, correlacionado com as áreas previstas no Anexo I.
Art. 7° A promoção nas carreiras dar-se-á sempre de um padrão para o seguinte, com in-
terstício mínimo de um ano, em épocas e sob critérios fixados em regulamento, em função do
resultado de avaliação formal do desempenho do servidor.
Parágrafo único. É vedada a promoção durante o estágio probatório, findo o qual o ser-
vidor poderá ser promovido para o terceiro padrão da classe “A” de sua carreira.
Parágrafo único. As FC-06 a FC-10 serão consideradas como cargo em comissão, quando
seus ocupantes não tiverem vínculo efetivo com a Administração Pública.
Art. 10. No âmbito da jurisdição de cada Tribunal ou Juízo é vedada a nomeação ou de-
signação, para os Cargos em Comissão e para as Funções Comissionadas de que trata o art. 9°
, de cônjuge, companheiro ou parente até o terceiro grau, inclusive, dos respectivos membros
ou juízes vinculados, salvo a de servidor ocupante de cargo de provimento efetivo das Carrei-
ras Judiciárias, caso em que a vedação é restrita à nomeação ou designação para servir junto
ao Magistrado determinante da incompatibilidade.
96
Art. 12. Ficam extintas, para os integrantes das carreiras judiciárias, a gratificação de que
trata o Decreto-lei n° 2.173, de 19 de novembro de 1984, para os servidores não abrangidos
pelo disposto no § 2° do art. 2° da Lei n° 7.923, de 12 de dezembro de 1989, a vantagem pes-
soal a que se refere o art. 13 da Lei n° 8.216, de 13 de agosto de 1991, bem como as gratifica-
ções criadas pelo Decreto-lei n° 1.445, de 13 de fevereiro de 1976, alterado pelo de n° 1.820,
de 11 de dezembro de 1980, e n° 2.365, de 27 de outubro de 1987.
Art. 14. A remuneração das Funções Comissionadas, inclusive para os ocupantes sem
vínculo efetivo com a Administração Pública, compõe-se das seguintes parcelas:
II - APJ, tendo como base de incidência o último padrão dos cargos de Auxiliar Judiciá-
rio, Técnico Judiciário e Analista Judiciário, conforme estabelecido no Anexo VII;
Art. 15. Aos servidores das carreiras judiciárias, ocupantes de Função Comissionada, a-
plica-se a legislação geral de incorporação de parcela mensal da remuneração de cargo em
comissão ou função de confiança.
97
nistração Pública Federal direta, autárquica ou fundacional, terá por referência a Função Co-
missionada de valor igual ou imediatamente superior ao do cargo ou função exercida.
Art. 16. As vantagens de que trata esta Lei integram os proventos de aposentadoria e as
pensões.
Art. 17. Serão aplicadas aos servidores do Poder Judiciário da União e do Distrito Fede-
ral e Territórios as revisões de vencimento e demais parcelas remuneratórias dos servidores
públicos federais, observado o que a respeito resolver o Supremo Tribunal Federal.
Art. 18. Os Órgãos do Poder Judiciário da União e do Distrito Federal e Territórios fixa-
rão em ato próprio a lotação dos cargos efetivos e funções comissionadas nas unidades com-
ponentes de sua estrutura.
Art. 19. Caberá ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Conselho da
Justiça Federal e ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, no âmbito de suas
competências:
II - baixar os atos regulamentares previstos nesta Lei, bem como as instruções necessárias
à sua aplicação, buscando a uniformidade de critérios e procedimentos.
Art. 20. O servidor dos Quadros de Pessoal a que se refere o art. 1° não poderá perceber
mais que a remuneração do cargo dos magistrados do Tribunal ou Juízo em que esteja exer-
cendo suas funções, excluídas desse limite apenas as vantagens de natureza individual.
98
ras judiciárias, nas áreas de atividade que guardem correlação com as atribuições e o grau de
escolaridade inerentes aos cargos para os quais se deu a seleção.
Art. 22. Os servidores que não desejarem ser incluídos nas carreiras instituídas por esta
Lei deverão, no prazo de trinta dias contados de sua publicação, manifestar opção pela perma-
nência nos atuais cargos, que comporão Quadro em extinção e, ao vagarem, serão transforma-
dos nos seus correspondentes das carreiras judiciárias.
Art. 23. As despesas resultantes da execução desta Lei correm à conta das dotações con-
signadas ao Poder Judiciário no Orçamento da União, observados o § 2° do art. 4° e o § 1° do
art. 14 desta Lei.
Milton Seligman
99
ANEXO 2
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
“Art. 7o O desenvolvimento dos servidores nas carreiras de que trata esta Lei dar-se-á
mediante progressão funcional e promoção.
100
“Art. 9o Integram ainda os Quadros de Pessoal referidos no art. lo as Funções Comis-
sionadas, escalonadas de FC-1 a FC-6, e os Cargos em Comissão, escalonados de CJ-1
a CJ-4, para o exercício de atribuições de direção, chefia e assessoramento.
§ 1o Cada órgão do Poder Judiciário destinará, no mínimo, 80% (oitenta por cento) do
total das funções comissionadas para serem exercidas por servidores integrantes das
Carreiras Judiciárias da União, designando-se para as restantes exclusivamente servi-
dores ocupantes de cargos de provimento efetivo que não integrem essas carreiras ou
que sejam titulares de empregos públicos, observados os requisitos de qualificação e
de experiência previstos em regulamento.
§ 2o Pelo menos 50% (cinqüenta por cento) dos cargos em comissão a que se refere
o caput, no âmbito de cada órgão do Poder Judiciário, serão destinados a servidores
integrantes das carreiras judiciárias da União, na forma prevista em regulamento.”
(NR)
Art. 2o É vedada a criação de emprego público cujas atribuições coincidam com as previs-
tas para as Carreiras Judiciárias, bem como a terceirização ou a execução indireta dessas atri-
buições.
Art. 3o Os cargos efetivos das carreiras de Auxiliar Judiciário, Técnico Judiciário e Ana-
lista Judiciário, a que se refere o art. 2o da Lei no 9.421, de 24 de dezembro de 1996, ficam
reestruturados na forma do Anexo I, observando-se para o enquadramento dos servidores a
correlação estabelecida no Anexo II.
Art. 4o Os vencimentos básicos dos cargos das Carreiras Judiciárias passam a ser os cons-
tantes do Anexo III.
§ 2o O servidor nomeado para Cargo em Comissão poderá optar pela remuneração de seu
cargo efetivo ou emprego permanente, acrescida dos valores constantes do Anexo VII.
Art. 6o Aos servidores das Carreiras Judiciárias, ativos ou inativos, e aos pensionistas será
devida parcela, a título de diferença individual, no valor igual ao do eventual decréscimo re-
sultante da aplicação desta Lei em sua remuneração ou provento.
101
Art. 7o Fica extinto o Adicional de Padrão Judiciário – APJ, de que tratam o art. 8o e o art.
14, II, da Lei no 9.421, de 24 de dezembro de 1996.
Art. 9o Os órgãos do Poder Judiciário da União ficam autorizados a transformar, sem au-
mento de despesa, no âmbito de suas competências, as Funções Comissionadas e os Cargos
em Comissão de seu Quadro de Pessoal, vedada a transformação de função em cargo ou vice-
versa.
Art. 10. Cabe ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Conselho da
Justiça Federal e ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, no âmbito de suas
competências, baixar os regulamentos necessários à aplicação desta Lei, buscando a uniformi-
dade de critérios e procedimentos.
Art. 11. As disposições desta Lei aplicam-se aos aposentados e aos pensionistas.
Art. 12. Ficam resguardadas as situações constituídas até a data da publicação desta Lei.
Art. 13. A diferença entre a remuneração fixada por esta Lei e a decorrente da Lei
no 9.421, de 24 de dezembro de 1996, será implementada em parcelas sucessivas, não cumula-
tivas, observada a seguinte razão:
102
Parágrafo único. Não se aplica às parcelas previstas neste artigo o disposto no art. 3o da
Lei no 10.331, de 18 de dezembro de 2001.
Art. 14. A eficácia do disposto nesta Lei fica condicionada ao atendimento do § 1o do art.
169 da Constituição Federal e das normas pertinentes da Lei Complementar no 101, de 4 de
maio de 2000.
Art. 15. As despesas resultantes da execução desta Lei correrão à conta das dotações or-
çamentárias consignadas aos órgãos do Poder Judiciário da União.
103
ANEXO 3
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Art. 1o As Carreiras dos Servidores dos Quadros de Pessoal do Poder Judiciário da União
passam a ser regidas por esta Lei.
Art. 2o Os Quadros de Pessoal efetivo do Poder Judiciário são compostos pelas seguintes
Carreiras, constituídas pelos respectivos cargos de provimento efetivo:
I - Analista Judiciário;
II - Técnico Judiciário;
Art. 3o Os cargos efetivos das Carreiras referidas no art. 2o desta Lei são estruturados em
Classes e Padrões, na forma do Anexo I desta Lei, de acordo com as seguintes áreas de ativi-
dade:
104
II - área de apoio especializado, compreendendo os serviços para a execução dos
quais se exige dos titulares o devido registro no órgão fiscalizador do exercício da
profissão ou o domínio de habilidades específicas, a critério da administração;
Parágrafo único. As áreas de que trata o caput deste artigo poderão ser classificadas em
especialidades, quando forem necessárias formação especializada, por exigência legal, ou ha-
bilidades específicas para o exercício das atribuições do cargo.
Art. 5o Integram os Quadros de Pessoal dos órgãos do Poder Judiciário da União as Fun-
ções Comissionadas, escalonadas de FC-1 a FC-6, e os Cargos em Comissão, escalonados de
CJ-1 a CJ-4, para o exercício de atribuições de direção, chefia e assessoramento.
§ 1o Cada órgão destinará, no mínimo, 80% (oitenta por cento) do total das funções co-
missionadas para serem exercidas por servidores integrantes das Carreiras dos Quadros de
Pessoal do Poder Judiciário da União, podendo designar-se para as restantes servidores ocu-
105
pantes de cargos de provimento efetivo que não integrem essas carreiras ou que sejam titulares
de empregos públicos, observados os requisitos de qualificação e de experiência previstos em
regulamento.
§ 7o Pelo menos 50% (cinqüenta por cento) dos cargos em comissão, a que se refere o
caput deste artigo, no âmbito de cada órgão do Poder Judiciário, serão destinados a servidores
efetivos integrantes de seu quadro de pessoal, na forma prevista em regulamento.
106
Quadros de Pessoal do Poder Judiciário, caso em que a vedação é restrita à nomeação ou de-
signação para servir perante o magistrado determinante da incompatibilidade.
Do Ingresso na Carreira
Art. 7o O ingresso em qualquer dos cargos de provimento efetivo das Carreiras dos Qua-
dros de Pessoal do Poder Judiciário dar-se-á no primeiro padrão da classe “A” respectiva, a-
pós aprovação em concurso público, de provas ou de provas e títulos.
Parágrafo único. Os órgãos do Poder Judiciário da União poderão incluir, como etapa do
concurso público, programa de formação, de caráter eliminatório, classificatório ou eliminató-
rio e classificatório.
Parágrafo único. Além dos requisitos previstos neste artigo, poderão ser exigidos forma-
ção especializada, experiência e registro profissional a serem definidos em regulamento e es-
pecificados em edital de concurso.
Do Desenvolvimento na Carreira
Art. 9o O desenvolvimento dos servidores nos cargos de provimento efetivo das Carreiras
dos Quadros de Pessoal do Poder Judiciário dar-se-á mediante progressão funcional e promo-
ção.
Art. 10. Caberá ao Supremo Tribunal Federal, ao Conselho Nacional de Justiça, aos Tri-
bunais Superiores, ao Conselho da Justiça Federal, ao Conselho Superior da Justiça do Traba-
lho e ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, no âmbito de suas competências,
instituir Programa Permanente de Capacitação destinado à formação e aperfeiçoamento pro-
fissional, bem como ao desenvolvimento gerencial, visando à preparação dos servidores para
desempenharem atribuições de maior complexidade e responsabilidade.
Da Remuneração
Art. 11. A remuneração dos cargos de provimento efetivo das Carreiras dos Quadros de
Pessoal do Poder Judiciário é composta pelo Vencimento Básico do cargo e pela Gratificação
de Atividade Judiciária – GAJ, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas
em lei.
Art. 12. Os vencimentos básicos das Carreiras dos Quadros de Pessoal do Poder Judiciá-
rio são os constantes do Anexo II desta Lei.
Art. 13. A Gratificação de Atividade Judiciária – GAJ será calculada mediante aplicação
do percentual de 50% (cinqüenta por cento) sobre os vencimentos básicos estabelecidos no
Anexo II desta Lei.
§ 1o A diferença entre o percentual da GAJ fixado por esta Lei e o decorrente da Lei no
10.475, de 27 de junho de 2002, com a redação dada pela Lei no 10.944, de 16 de setembro de
2004, será implementada em parcelas sucessivas, não cumulativas, incidindo sobre os valores
constantes do Anexo IX desta Lei, observada a seguinte razão:
108
§ 2o Os servidores retribuídos pela remuneração do Cargo em Comissão e da Função
Comissionada constantes dos Anexos III e IV desta Lei, respectivamente, bem como os sem
vínculo efetivo com a Administração Pública, não perceberão a gratificação de que trata este
artigo.
§ 3o O servidor das Carreiras dos Quadros de Pessoal do Poder Judiciário cedido não per-
ceberá, durante o afastamento, a gratificação de que trata este artigo, salvo na hipótese de ces-
são para órgãos da União, na condição de optante pela remuneração do cargo efetivo.
Art. 14. É instituído o Adicional de Qualificação – AQ destinado aos servidores das Car-
reiras dos Quadros de Pessoal do Poder Judiciário, em razão dos conhecimentos adicionais
adquiridos em ações de treinamento, títulos, diplomas ou certificados de cursos de pós-
graduação, em sentido amplo ou estrito, em áreas de interesse dos órgãos do Poder Judiciário
a serem estabelecidas em regulamento.
§ 1o O adicional de que trata este artigo não será concedido quando o curso constituir re-
quisito para ingresso no cargo.
§ 2o (VETADO)
§ 3o Para efeito do disposto neste artigo, serão considerados somente os cursos e as insti-
tuições de ensino reconhecidos pelo Ministério da Educação, na forma da legislação.
§ 4o Serão admitidos cursos de pós-graduação lato sensu somente com duração mínima
de 360 (trezentas e sessenta) horas.
109
III - 7,5% (sete vírgula cinco por cento), em se tratando de certificado de Especiali-
zação;
IV – (VETADO)
V - 1% (um por cento) ao servidor que possuir conjunto de ações de treinamento que
totalize pelo menos 120 (cento e vinte) horas, observado o limite de 3% (três por
cento).
§ 4o O servidor das Carreiras dos Quadros de Pessoal do Poder Judiciário cedido não
perceberá, durante o afastamento, o adicional de que trata este artigo, salvo na hipótese de
cessão para órgãos da União, na condição de optante pela remuneração do cargo efetivo.
Art. 16. Fica instituída a Gratificação de Atividade Externa – GAE, devida exclusiva-
mente aos ocupantes do cargo de Analista Judiciário referidos no § 1o do art. 4o desta Lei.
§ 1o A gratificação de que trata este artigo corresponde a 35% (trinta e cinco por cento)
do vencimento básico do servidor.
Art. 17. Fica instituída a Gratificação de Atividade de Segurança – GAS, devida exclusi-
vamente aos ocupantes dos cargos de Analista Judiciário e de Técnico Judiciário referidos no
§ 2o do art. 4o desta Lei.
§ 1o A gratificação de que trata este artigo corresponde a 35% (trinta e cinco por cento)
do vencimento básico do servidor.
110
§ 2o É vedada a percepção da gratificação prevista neste artigo pelo servidor designado
para o exercício de função comissionada ou nomeado para cargo em comissão.
§ 1o O valor fixado no Anexo III desta Lei entrará em vigor a partir de 1o de dezembro de
2008, adotando-se, até essa data, as retribuições constantes do Anexo VI desta Lei.
§ 2o Ao servidor integrante das Carreiras de que trata esta Lei e ao cedido ao Poder Judi-
ciário, investidos em Função Comissionada ou em Cargo em Comissão, é facultado optar pela
remuneração de seu cargo efetivo ou emprego permanente, acrescida:
I - até 30 de novembro de 2008, dos valores constantes dos Anexos VII e VIII desta
Lei;
II - a partir de 1o de dezembro de 2008, de 65% (sessenta e cinco por cento) dos va-
lores fixados nos Anexos III e IV desta Lei.
Art. 19. Os cargos de provimento efetivo das Carreiras dos Quadros de Pessoal do Poder
Judiciário, a que se refere o art. 3o da Lei no 10.475, de 27 de junho de 2002, são estruturados
na forma do Anexo V desta Lei.
Art. 20. Para efeito da aplicação do art. 36 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990,
conceitua-se como Quadro a estrutura de cada Justiça Especializada, podendo haver remoção,
nos termos da lei, no âmbito da Justiça Federal, da Justiça do Trabalho, da Justiça Eleitoral e
da Justiça Militar.
111
Art. 22. O enquadramento previsto no art. 4o e no Anexo III da Lei nº 9.421, de 24 de de-
zembro de 1996, estende-se aos servidores que prestaram concurso antes de 26 de dezembro
de 1996 e foram nomeados após essa data, produzindo todos os efeitos legais e financeiros
desde o ingresso no Quadro de Pessoal.
Art. 24. Os órgãos do Poder Judiciário da União fixarão em ato próprio a lotação dos
cargos efetivos, das funções comissionadas e dos cargos em comissão nas unidades compo-
nentes de sua estrutura.
Parágrafo único. Os órgãos de que trata este artigo ficam autorizados a transformar, sem
aumento de despesa, no âmbito de suas competências, as funções comissionadas e os cargos
em comissão de seu quadro de pessoal, vedada a transformação de função em cargo ou vice-
versa.
Art. 25. Serão aplicadas aos servidores do Poder Judiciário da União as revisões gerais
dos servidores públicos federais, observado o que a respeito resolver o Supremo Tribunal Fe-
deral.
Art. 26. Caberá ao Supremo Tribunal Federal, ao Conselho Nacional de Justiça, aos Tri-
bunais Superiores, ao Conselho da Justiça Federal, ao Conselho Superior da Justiça do Traba-
lho e ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, no âmbito de suas competências,
baixar os atos regulamentares necessários à aplicação desta Lei, observada a uniformidade de
critérios e procedimentos, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, a contar de sua publicação.
Art. 27. A elaboração dos regulamentos de que trata esta Lei pode contar com a partici-
pação das entidades sindicais.
Art. 29. As despesas resultantes da execução desta Lei correm à conta das dotações con-
signadas aos Órgãos do Poder Judiciário no Orçamento Geral da União.
112
Art. 30. A diferença entre o vencimento fixado por esta Lei e o decorrente da Lei no
10.475, de 27 de junho de 2002, será implementada em parcelas sucessivas, não cumulativas,
observada a seguinte razão:
§ 1o Os percentuais das gratificações previstas nos arts. 13, 14, 16 e 17 desta Lei incidi-
rão sobre os valores constantes do Anexo IX desta Lei mencionados no caput deste artigo.
§ 2o O percentual das gratificações de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei será imple-
mentado em parcelas sucessivas, não cumulativas, incidindo sobre os valores constantes do
Anexo IX desta Lei, observada a seguinte razão:
§ 3o Até que seja integralizado o vencimento básico previsto no Anexo IX desta Lei, será
facultado, excepcionalmente, aos servidores referidos no § 1o do art. 4o desta Lei optar pela
percepção da Gratificação de Atividade Externa - GAE ou da Função Comissionada que exer-
çam, observado o disposto no art. 18 desta Lei.
Art. 31. A eficácia do disposto nesta Lei fica condicionada ao atendimento do § 1o do art.
169 da Constituição Federal e das normas pertinentes da Lei Complementar no 101, de 4 de
maio de 2000.
113
Art. 33. Ficam revogadas a Lei no 9.421, de 24 de dezembro de 1996, a Lei no 10.475, de
27 de junho de 2002, a Lei no 10.417, de 5 de abril de 2002, e a Lei no 10.944, de 16 de se-
tembro de 2004.
Dilma Rousseff
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ANEXO 4
115