Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Revision Article
Resumo Abstract
A fibrose quística (FQ) é a doença autossómica recessiva Cystic Fibrosis (CF) is the recessive autossomic di-
mais frequente na raça caucasiana. Caracteriza-se por sease more frequent in the caucasian race. The main
mutações na CFTR, uma proteína transmembranar res- characteristic is a mutation in CFTR, a trans-mem-
ponsável pelo transporte de cloretos. Esta proteína tem branar protein, responsible for chlorates transporta-
uma ampla distribuição epitelial, o que dá um carácter tion. This protein has a diffuse epithelial distribu-
sistémico a esta doença e consequentemente múltiplas tion, which gives a multissistemic involvement to
manifestações clínicas de gravidade variável. A melhoria this disease, with clinical manifestations with varia-
dos cuidados de saúde, associada ao desenvolvimento do ble degrees of severity. The development of better
arsenal terapêutico, permitiu um aumento da sobrevida health care associated with new therapeutic options
destes doentes, de tal forma que a FQ já não pode ser became responsible for an increase of survival, so
abordada como doença da idade pediátrica. Também a CF is no longer a paediatric disease. Lung transplan-
evolução técnica na transplantação abriu novas perspec- tation also has an important role, bringing new tre-
tivas quanto ao tratamento desta afecção. atment perspectives.
Assim, cada vez mais esta patologia implica um en- So, this pathology has an increased multi-disciplinary
volvimento multidisciplinar no qual a pneumologia involvement in which the pulmonologist have a pre-
tem uma parte preponderante. ponderant role.
Rev Port Pneumol 2008; XIV (1): 89-112 Rev Port Pneumol 2008; XIV (1): 89-112
Palavras-chave: Fibrose quística, revisão. Key-words: Cystic fibrosis, review.
1
Interna complementar de pneumologia
2
Assistente hospitalar de pneumologia
3
Assistente hospitalar graduada de pneumologia
Serviço de Pneumologia do Hospital de São João, Porto
Director: Prof. Doutor V P Hespanhol
Alameda Hernâni Monteiro
4200 Porto
Contacto: Carla Damas
Travessa Fernando Namora 48 5.º esq
4425 Pedrouços – Maia
R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 89
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
Introdução Epidemiologia
A fibrose quística (FQ) é a doença hereditá- A maioria dos autores refere uma incidência
ria, com carácter autossómico recessivo, de 2500 a 3000 nados-vivos na raça branca,
mais frequente na raça caucasiana, que se mas existe uma grande variabilidade nos dife-
caracteriza pela existência de uma mutação rentes países. Assim, como exemplo dos países
no braço longo do cromossoma sete. europeus com maior e menor incidência, des-
Já na Idade Média são feitas referências, no fol- taca-se a Irlanda com o valor de 1/1461 e a
clore popular do Norte da Europa, ao facto de Finlândia com o valor de 1/25 0005. Cerca de
que crianças cuja pele tinha um gosto salgado 93,7% dos doentes são de raça caucasiana6.
morriam cedo1. No entanto, apenas na terceira Nas últimas três décadas tem-se verificado
década do século XX Anderson2 utiliza a desig- um aumento do número de doentes com o
nação de fibrose quística do pâncreas para desig- diagnóstico de FQ, sendo que, segundo a Cys-
nar uma doença em que se descreviam áreas de tic Fibrosis Foundation, cerca de 41,8% dos
fibrose neste órgão, associadas a dilatação quís- doentes têm mais de 18 anos7. Um factor fun-
tica dos ductos pancreáticos. Farber3, em 1944, damental para que esta situação se verifique é
utilizou o termo mucoviscidose como sinónimo o aumento da sobrevida dos doentes, sendo a
da FQ, tendo em conta as características das se- média de idade de diagnóstico de seis meses
creções, que se apresentavam espessas e viscosas, (0-74 anos)7. Em 1938, menos de 50% dos
A FQ é uma doença afirmando tratar-se de uma doença generalizada doentes sobrevivia para além do ano de vida;
hereditária, que afectava as glândulas secretoras. Apenas nos em 1970 a esperança média de vida era de 16
autossómica anos 80 se fizeram avanços no conhecimento da anos e, actualmente, ronda os 36,8 anos8. De
recessiva etiopatogenia da FQ. Quinton, Knowles e Bou- entre os doentes com FQ, 64% têm idades
chin descreveram, em 1983, a existência de um compreendidas entre os 18-29 anos, 25% en-
canal iónico no epitélio dos canais sudoríparos tre 30-39 anos, 10% entre 40-49 anos e 2%
que condicionava uma alteração na reabsorção têm mais de 50 anos9. Apesar de não se consi-
do cloro1. Em 1989, o gene cuja mutação é res- derar a existência de diferenças a nível do
ponsável pela doença foi clonado pela primeira sexo, cerca de 52,1% dos doentes pertencem
vez. Este gene codifica uma proteína com 1480 ao sexo masculino, o que parece ser justifica-
aminoácidos, que funciona como reguladora de do por uma discreta vantagem em termos de
condutância transmembranar (cystic fibrosis sobrevida nos doentes do sexo masculino9.
transmembrane condutance regulator – CFTR).
Esta proteína controla um canal iónico de clore-
tos e sódio localizado a nível da membrana api- Genética
cal das células dos epitélios de alguns órgãos,
nomeadamente criptas intestinais, pâncreas, vias Padrão de transmissão
biliares, aparelho respiratório, aparelho reprodu- A FQ é uma doença hereditária, autossómi-
tor, glândulas sudoríparas e túbulos renais. A ca recessiva. O portador da doença apresen-
distribuição do canal iónico, bem como a altera- ta uma só mutação e é assintomático. Num
ção da viscosidade das secreções, condicionada casal de portadores o risco de FQ na descen-
pela sua disfunção, justifica o envolvimento sis- dência é de 25%; 50% serão portadores; e
témico que caracteriza a doença4. 25% não terá nenhuma mutação.
90 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 91
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
dos electrólitos através dos canais iónicos gãos considerados, estando menos estabeleci-
é menor (diminuição da condutância) por da a nível pulmonar, existindo em todos os
alteração dos domínios TM 1 e TM2. fenótipos uma grande variação individual18.
• Classe V: existe uma menor síntese de Têm sido feitos vários estudos no sentido de en-
CFTR, mas a sua é função normal. contrar outros factores contributivos para a
• Classe VI: produção de CFTR normal, grande variabilidade fenotípica da FQ, para
mas com remoção rápida da superfície ce- além da grande heterogeneidade do gene
lular. Ocorre por perda da extremidade CFTR. Apesar das influências ambientais e te-
COOH da proteína, o que diminui a esta- rapêuticas poderem modificar a evolução clíni-
bilidade da molécula. ca, existem provavelmente factores genéticos
adicionais a contribuírem para a expressão fe-
Cerca de 85% dos doentes apresentam mu- notípica final. Um desses factores são os poli-
tações pertencentes à classe II e 7% têm mu- morfismos do gene CFTR, ou seja, variações na
A correlação entre tações da classe I. As mutações das classes I sequência do gene, que por si só não têm ex-
o genótipo e a e II caracterizam-se pela inexistência de mo- pressão clínica, mas que na presença de uma
doença pulmonar léculas de CFTR na superfície celular, en- mutação poderão modular a sua expressão. Ou-
tem sido difícil quanto nas restantes classes está presente tros factores que têm sido objecto de vários es-
de estabelecer alguma actividade residual da molécula. tudos são os polimorfismos genéticos não
CFTR, ou os designados genes modificadores.
Correlação genótipo-fenótipo Vários candidatos têm sido apontados, mas os
O fenótipo da FQ é bastante complexo e resultados não são consensuais. São genes res-
variável. Vários estudos mostraram uma re- ponsáveis pela produção de substâncias/estru-
lação clara entre o genótipo e a ausência bi- turas envolvidas na defesa do hospedeiro, na
lateral congénita de vas deferens, a insufi- inflamação, na reparação epitelial, na produção
ciência pancreática e os níveis de cloreto no de mucinas e na hiperreactividade brônquica18.
suor17,18.
A correlação entre o genótipo e a doença
pulmonar tem sido mais difícil de estabele- Patogenia
cer. Um estudo publicado em 2005, que in- A glândula sudorípara normal produz um
cluiu apenas adultos seguidos no mesmo líquido isotónico graças ao conteúdo em
centro, concluiu que os doentes com muta- cloro e sódio. Quando ocorre perda da fun-
ções das classes I e II em ambos os cromos- ção da CFTR, o cloro não pode entrar na
somas tinham valores de função pulmonar célula, nem o sódio que está na sua depen-
mais baixos, maior declínio da função pul- dência, originando um suor “salgado”. No
monar, maior risco de desenvolvimento de entanto, não ocorre obstrução nem altera-
doença pulmonar moderada a grave e me- ções patológicas major das glândulas14.
nor sobrevida pela doença pulmonar com- Existem duas teorias sobre as alterações ió-
parativamente aos doentes com pelo menos nicas para explicar o aumento da viscosida-
uma mutação da classe III, IV ou V17. de das secreções respiratórias. A teoria isotó-
Em conclusão, pode-se dizer que a correlação nica afirma que, na FQ, o epitélio pulmonar
genótipo-fenótipo varia com os sistemas/ór- se comporta de forma essencialmente opos-
92 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
ta ao das glândulas sudoríparas. Neste mo- Outros factores possíveis que contribuirão
delo, a ausência da CFTR leva a uma sobre- para o aumento da viscosidade do muco são
actividade da absorção do sódio pelo canal o aumento da sulfatação das mucinas e os
de sódio epitelial. Como no pulmão existem produtos de degradação dos neutrófilos
outros canais para o cloro não CFTR, o re- (moléculas de ADN e filamentos de actina),
sultado é um aumento relativo da absorção bem como a perda de células ciliadas secun-
do sódio, cloro e água. Estas alterações cau- dária à inflamação crónica e infecção20.
sarão desidratação das secreções e um defei- A composição e as propriedades mecânicas
to no transporte mucociliar. anormais das secreções não explicam a propen-
A hipótese alternativa é a teoria hipotónica são para a colonização com um número limita-
na qual a superfície epitelial da vias aéreas se do de bactérias, em particular a Pseudomonas
comporta de forma semelhante à das glân- aeruginosa. Uma das hipóteses será o aumento
dulas sudoríparas, onde a CFTR é a princi- da aderência desta bactéria às células epiteliais,
pal via de absorção do cloro. Como conse- secundária ao aumento dos receptores asialo- É pouco provável
quência ocorrerão altas concentrações de gangliósido-1 expressos pelas células com CFTR que as alterações
cloreto de sódio, de que resultará a inactiva- mutante e nas áreas de epitélio regenerativo19. da absorção do
ção dos péptidos anti-microbianos com au- Outra explicação é de que a CFTR mutante cloreto de sódio
mento da predisposição para as infecções servirá como receptor para a internalização da ou da função dos
bacterianas14,19. Pseudomonas aeruginosa e subsequente fagoci- péptidos contribuam
Alguns trabalhos recentes analisaram o lí- tose e clearence por descamação. Assim, a maior para as lesões
quido da superfície das vias aéreas de indiví- ligação da bactéria à CFTR mutante levará a encontradas nos
duos saudáveis e de doentes com FQ, e de- menor eliminação da mesma19. outros órgãos
monstraram que em ambos os casos são
isotónicos, o que aponta para o facto de a
primeira teoria referida estar mais próxima Manifestações clínicas
da realidade20.
É pouco provável que as alterações da absor- Aparelho respiratório
ção do cloreto de sódio ou da função dos A idade de início dos sintomas respiratórios
péptidos contribuam para as lesões encon- é muito variável. As principais manifesta-
tradas nos outros órgãos. Nos canais pancre- ções do foro respiratório incluem tosse per-
áticos ocorre uma insuficiência na libertação sistente, seca de início e posteriormente com
de aniões (incluindo cloro e bicarbonato) e broncorreia abundante, sendo as secreções
fluidos, verificando-se a acumulação de brônquicas espessas e viscosas. À medida
muco, obstrução das glândulas exócrinas e, que ocorre a progressão da doença dimuniu
por fim, a lesão do órgão. Um mecanismo a capacidade de esforço e surge a dispneia.
semelhante justifica as alterações a nível in- As exacerbações são caracterizadas por um
testinal, hepático e dos ductos deferentes14. aumento da produção de secreções, da sua
No pulmão estas alterações são corroboradas viscosidade e purulência, da tosse, redução
pelo achado muito precoce de glândulas sub- da tolerância ao esforço e aumento da disp-
mucosas dilatadas, as quais constituem o local neia, astenia e perda de peso. Pode ocorrer
de maior expressão da CFTR no organismo14. febre, leucocitose, taquicardia, taquipneia,
R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 93
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
redução do FEV1, FVC e da Sat O2. São descritas, sendo mais sensível do que a fun-
À medida que ocorre consideradas moderadas a discretas se há ção pulmonar na detecção precoce da doen-
agravamento clínico um declínio modesto na função pulmonar ça e da progressão da mesma24.
surge hipocratismo (<10% FEV1), sem novas alterações no Rx Estes doentes desenvolvem um quadro obs-
digital do tórax. Se existem modificações radiológi- trutivo, com aumento do volume residual e
cas, declínio de mais de 10% no FEV1, au- redução do fluxo expiratório (nomeada-
mento da tosse ou das secreções brônquicas, mente do FEF25-75, numa fase inicial, e
a exacerbação é considerada como severa21. posteriormente do FEV1). Uma particulari-
As alterações no exame físico vão depender dade é a variabilidade dos resultados obtidos
do grau de gravidade da doença. À ausculta- no estudo funcional destes doentes, com re-
ção, o mais frequente são as crepitações bifá- duções dos parâmetros durante as exacerba-
sicas e, por vezes, sibilos, sobretudo quando ções e posterior recuperação total ou parcial
existe hiperreactividade brônquica (25 a para os valores basais. No entanto, apesar do
50% dos casos)22. À medida que ocorre tratamento agressivo, ocorre um decréscimo
agravamento clínico surge hipocratismo di- progressivo da função pulmonar, que pode
gital. O seu aparecimento na infância exige variar de doente para doente. Assim, pode
a exclusão de FQ, dado ser um sinal fre- ocorrer um decréscimo progressivo do FEV1,
quente desta patologia nesta faixa etária. A uma estabilidade dos valores seguida de um
obstrução das vias aéreas conduz a uma hi- declínio súbito, ou uma redução progressiva
perinsuflação pulmonar que pode acarretar dos valores funcionais durante anos de esta-
a deformidade da caixa torácica, com cifose bilidade clínica2.
e aumento do diâmetro ântero-posterior. A função respiratória deve ser avaliada de for-
Existem diferentes sistemas de avaliação clí- ma seriada e o FEV1 reflecte claramente a pro-
nica que valorizam a gravidade geral da gressão da doença, tendo uma boa correlação
doença e predizem um prognóstico. Um dos com a mortalidade (quando inferior a 30% a
mais frequentemente usados é o sistema de mortalidade aos 2 anos atinge os 50%)22.
Scwachman-Kulczyky23. Do ponto de vista gasométrico, pode ocorrer
A alteração radiológica mais precoce é a hi- hipoxemia. Numa fase tardia, ocorre hiper-
perinsuflação pulmonar. Com a idade e com capnia, que conjuntamente com a hipoxia
as exacerbações aumenta o grau de hiperin- crónica levam ao desenvolvimento de hiper-
suflação, surge engrossamento peribrônqui- tensão pulmonar ou mesmo cor pulmonale.
co e impactações mucóides. A partir dos Apesar da insuficiência respiratória crónica,
5-10 anos podem tornar-se evidentes bron- a policetemia raras vezes se identifica nestes
quiectasias quísticas e cilíndricas, principal- doentes, devido à anemia crónica associada
mente nos lobos superiores. Nos doentes à carência de ferro25.
com doença grave, as artérias pulmonares A via aérea superior também apresenta fre-
tornam-se mais proeminentes pela hiperten- quentemente alterações. A grande maioria
são pulmonar secundária à hipoxemia. A to- dos doentes com FQ desenvolve sinusite cró-
mografia axial computarizada (TAC), prin- nica, identificando-se em 90-100% dos doen-
cipalmente a de alta resolução, permite tes uma pan-opacificação dos seios perinasais.
observar com maior detalhe as alterações Em 10-32% dos doentes ocorre polipose na-
94 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
sal1 mais ou menos exuberante. Como conse- infecção por este agente ronda os 6%26. A
quência da obstrução do sistema de drenagem sua aquisição associa-se habitualmente a de-
dos seios perinasais, podem surgir quistos de- terioração clínica e funcional24.
signados por mucocelos22. Alguns doentes não têm nenhum agrava-
Existe um conjunto de bactérias característi- mento, outro grupo sofre um agravamento Existe um conjunto
cas da doença e que são adquiridas segundo progressivo com múltiplas agudizações e de bactérias
uma sequência temporal mais ou menos co- outros doentes apresentam uma deteriora- características da
nhecida, dependente da idade. Nas crianças, ção rapidamente progressiva, com evolução doença e que são
as colonizações bacterianas mais frequentes fulminante para pneumonia necrozante que adquiridas segundo
são pelo Staphylococcus aureus, Haemophilus leva à morte (síndroma cepacia). Estudos re- uma sequência
influenza e Streptococcus pneumoniae. Mais centes mostraram que a B. cepacia corres- temporal mais ou
tarde surge a Pseudomonas aeruginosa, que ponde a um grupo de espécies semelhantes, menos conhecida,
muitas vezes coexiste com o Staphylococcus denominadas genomovars, pelo que actual- dependente da idade
aureus. Mais de 80% dos adultos estão in- mente é denominada por Burkolderia cepa-
fectados por P. aeruginosa e, uma vez coloni- cia complex. Já foram descritos pelo menos
zados cronicamente, a sua erradicação é qua- nove genomovars. A maioria das infecções na
se impossível24. FQ são causadas pelo tipo II (B. multivo-
A medida que as estirpes de P. aeruginosa são rans), III (B. cenocepacia) e V (B. vietna-
isoladas nos doentes com FQ com doença miensis). A maior parte das infecções mais
mais avançada, adquirem características feno- graves e dos casos epidémicos são causadas
típicas distintas. Um dos aspectos mais típicos pela B. cenocepacia 19.
é a produção de uma cápsula de polissacárido, A S. maltophila é outro agente cuja impor-
denominada alginato (estirpes mucóides), ca- tância e influência na evolução da doença
paz de englobar as bactérias, formando uma ainda não está esclarecida. A sua incidência
muralha de protecção contra a acção dos cí- ronda os 5 a 10% e frequentemente está as-
lios, células fagocíticas, anticorpos, factores de sociada a co-infecção por P. aeruginosa.
complemento e antibióticos19,20. As micobactérias (M. tuberculosis e atípicas)
A aquisição deste agente associa-se habitual- também foram descritas como agentes pato-
mente a deterioração clínica e funcional24, mais génios na FQ, com uma incidência que os-
intensa quando se trata de estirpes mucóides. cila entre 4 a 20%.
Dada a maior sobrevida dos doentes, o uso de
ciclos repetidos de antibióticos e o de meios Complicações respiratórias não infecciosas
de cultura mais selectivos têm sido descritos
outros microrganismos multirresistentes, como • Pneumotórax
a Burkolderia cepacia, o Achromobacter xyloso- Por definição, pneumotórax corresponde à
xidans e a Stenotrophomonas maltophilia (os presença de ar no espaço pleural, podendo
quais se isolam em um terço dos adultos)9, ser primário (neste grupo é incluído o idio-
bem como fungos (Aspergillus fumigatus) e pático) ou secundário.
micobactérias atípicas19. Desde 1966, quando foi publicado o pri-
A colonização pela B. cepacia produz vários meiro caso associado à FQ, que o pneumo-
tipos de evolução, sendo que a incidência de tórax é considerado uma das complicações
R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 95
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
da mesma, sendo atribuído à ruptura de bo- Face à elevada taxa de recorrência de pneu-
lhas subpleurais, mais frequentes em doen- motórax (cerca de 50%), alguns autores de-
tes mais velhos e com doença mais grave. A fendem a realização de pleurodese após o
sua incidência neste grupo de doentes ronda primeiro episódio.
os 2,8 a 18,9%, correlacionado-se directa- Uma possibilidade a considerar é a utiliza-
mente com a idade dos mesmos. O risco é ção de cola fisiológica por minitoracotomia.
igual em ambos os sexos, não estando referi-
da na literatura uma maior associação ao • Hemoptises
consumo de tabaco. Também a extensão de As hemoptises moderadas a graves são das
tecido pulmonar lesado não determina o complicações mais sérias, com necessidade de
risco de pneumotórax. intervenção imediata, associadas a deteriora-
Se o pneumotórax é pequeno (<20% do he- ção da função pulmonar, tendo uma incidên-
mitórax afectado), assintomático e consti- cia que varia de 5 a 61%. Surgem num con-
tuir o primeiro episódio, pode tratar-se de texto de infecção respiratória, ainda que para
forma conservadora com o doente em re- o seu aparecimento possam contribuir outros
pouso, internado e sob oxigenoterapia. Se factores, como o tratamento com anti-infla-
resolver ou não sofrer alteração em 24 horas, matórios não esteróides (AINE) ou penicili-
o doente pode ter alta. Se o pneumotórax é nas semi-sintéticas, o défice de vitamina K ou
sintomático e/ou > 20%, dever-se-á colocar a administração de fármacos em aerossol28.
um dreno torácico27,28. Define-se hemoptise maciça quando o volu-
Dadas as elevadas taxas de fracasso com o me da hemorragia é superior a 240 ml/24
As hemoptises tratamento anterior e de recorrência, a horas ou quando origina episódios recorren-
moderadas a graves maioria dos doentes necessita de pleurode- tes de hemoptise moderada (3 ou mais emis-
são das complicações se. No respeitante à pleurodese cirúrgica, sões de sangue de 100 ml/dia numa semana)
mais sérias, com apesar de ser o método mais eficaz no trata- ou hemorragia recorrente que põe em peri-
necessidade de mento do pneumotórax persistente ou reci- go a vida do doente28.
intervenção imediata divante (entendendo-se por pneumotórax O tratamento inicial de uma hemoptise ma-
recidivante aquele que recorre no mesmo ciça é assegurar a permeabilidade da via aé-
lado num período inferior a sete dias), a rea e manter a estabilidade hemodinâmica.
maioria dos indivíduos não tem condições Se o local da hemorragia é suspeito, o doente
cirúrgicas, quer pela insuficiência respirató- deve permanecer em decúbito lateral sobre o
ria, quer pela insuficiência cardíaca. Nestes lado afectado. Deve-se suspender a fisiotera-
casos a pleurodese química pode ser uma pia pelo menos durante 48 horas, bem como
opção. Este procedimento foi até há algum a medicação nebulizada e os AINE. É acon-
tempo considerado contra-indicação abso- selhável o início de antibioterapia endoveno-
luta para transplante pulmonar, devido ao sa, preferencialmente com actividade anti-
risco aumentado de aderências e hemor- pseudomonas. Se as medidas anteriores não
ragia. Sob este ponto de vista, a pleurodese controlarem a hemoptise, impõe-se o recur-
cirúrgica é mais segura, sendo actualmente so à embolização arterial. Se a hemoptise
uma contra-indicação relativa e devendo não cessa, deve considerar-se a reemboliza-
cada caso ser analisado individualmente. ção, até 3 vezes no mesmo episódio. A eficá-
96 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 97
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
predomina nas mulheres e associa-se a um não difere de outros quadros de oclusão in-
aumento da morbilidade e mortalidade. testinal, variando desde a dor nos quadran-
O principal factor de risco é a doença pan- tes inferiores do abdómen, até à distensão
creática progressiva, já que o défice de insu- abdominal, náuseas e vómitos. O aspecto
lina se torna evidente quando há perda de fundamental nesta síndroma é o seu reco-
80% da função das células β. A DRFQ é a nhecimento e tratamento precoces de forma
forma mais frequente de diabetes não auto- a evitar a cirurgia.
-imune e é diferente da diabetes tipos 1 e 2. O íleo meconial está presente em 10-20%
Os doentes podem permanecer assintomáti- dos recém-nascidos com FQ, sendo consi-
cos durante anos, surgindo apenas hipergli- derado patognomónico. No entanto, não
cemias em períodos de stress ou infecções. estão descritas mutações específicas que pre-
Os primeiros sintomas ou sinais são muitas disponham ao seu aparecimento.
vezes a incapacidade de manter ou aumen-
tar de peso e o agravamento da função pul- • Doença hepato-biliar
monar32-34. O envolvimento hepático e das vias biliares
Todos os doentes com IPE e mais de 10 anos pode condicionar a longo prazo o desenvol-
devem realizar anualmente uma avaliação vimento de fibrose biliar focal (patognomó-
do metabolismo da glicose, incluindo um nica) e cirrose multilobular. Calcula-se que
teste de tolerância oral à glicose (1,75 gr/kg, cerca de 17% das crianças têm doença hepá-
máximo de 75 g) nos casos duvidosos33-35. tica clinicamente significativa33,34.
A hepatopatia é na maioria dos casos assin-
• Doença gastrintestinal tomática (inclusive em alguns casos cursa
A incidência do refluxo gastroesofágico é sem alterações analíticas), mas constitui a
superior à da população geral, podendo ser segunda causa de morte, depois das compli-
de 30%. É importante o seu diagnóstico cações cardiorrespiratórias. É mais frequen-
porque pode influenciar negativamente a te em homens. O envolvimento grave surge
função pulmonar33. na pré-puberdade ou na puberdade e ocorre
A síndroma de obstrução do intestino em doentes com IPE31.
O envolvimento distal (SOID), ou equivalente do íleo me- A natureza focal da fibrose e a distribuição
hepático e das conial33,34, ocorre em cerca de 3,5% dos dos canalículos biliares fazem com que não
vias biliares pode doentes com FQ3 e caracteriza-se pela obs- se manifestem os sinais de colestase e a fun-
condicionar trução do íleo e cólon ascendente. Está asso- ção hepática se mantenha normal por muito
a longo prazo o ciada a genótipos de pior prognóstico, com tempo33,35.
desenvolvimento de doença pulmonar grave. Ocorre quase ex- Não existe um teste simples para diagnósti-
fibrose biliar focal clusivamente em doentes com insuficiência co da doença hepática, pelo que é preciso a
e cirrose multilobular pancreática3, estando descritos vários facto- combinação de achados clínicos, exames
res desencadeantes, como a desidratação, o analíticos e imagiológicos. Os critérios de
uso de fármacos modificadores da motilida- diagnóstico mais aceites são 2 das seguintes
de intestinal (como os narcóticos) e a falta alterações, em pelo menos 2 consultas con-
de adesão à terapêutica de suplementação secutivas, no período de um ano: hepato-
enzimática. Do ponto de vista clínico, a SOID megalia (>2 cm abaixo do rebordo costal
98 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 99
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
100 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
Doença sino-pulmonar
• Colonização /infecção com agentes típicos da FQ (Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Bulkholderia
cepacia)
• Tosse persistente, produtiva
• Alterações radiológicas persistentes (bronquiectasias, infiltrados e hiperinsuflação)
• Obstrução das vias aéreas
• Pólipos nasais e alterações radiológicas dos seios perinasais
• Hipocratismo digital
Alterações digestivas
• Prolapso retal e DIOS
• Insuficiência pancreática e pancreatite recorrente
• Doença hepática crónica com evidência clínica ou histológica de cirrose biliar ou multilobular
Síndroma de perdas salinas
• Alcalose metabólica
• Deficiência aguda de sal
Alterações urogenitais
• Azoospermia obstrutiva (agenesia dos ductos de Wolf)
R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 101
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
quiolite difusa, colangite esclerosante e hi- Sweat Check, com resultado superior ou igual
pertripsinogenemia neonatal47. a 50 mmol/l, deverá ser seguido de uma
O diagnóstico de FQ é essencialmente clíni- avaliação quantitativa de cloro51.
co e os testes de diagnóstico têm como objec- A prova de suor apoia o diagnóstico de FQ
tivo principal a sua confirmação, ou, em ca- se for positiva em pelo menos duas avalia-
sos mais atípicos, o seu suporte ou exclusão. ções. Resultados superiores a 160 mmol/l
A prova de suor, desenvolvida em 1959 por são fisiologicamente impossíveis22.
Gibson e Cooke, designada por quantitative Idealmente, a prova de suor deverá realizar-
O diagnóstico de FQ pilocarpine iontophoresis test continua a ser o -se só após as 2-3 primeiras semanas de vida,
é essencialmente teste gold standard para a confirmação diag- com o doente clinicamente estável, bem hi-
clínico nóstica48,49. É um método quantitativo que dratado, sem sinais de doença aguda e sem
mede a concentração de ião cloreto (Cl-) no receber tratamento com corticóides51.
suor, sendo que concentrações superiores ou Os indivíduos com suspeita de FQ e com
iguais a 60 mmol/l são consideradas patoló- prova de suor normal ou intermédia devem
gicas, excepto nos lactentes com menos de 3 efectuar um estudo genético. É um teste
meses, nos quais se considera positivo quan- bastante específico mas com sensibilidade
do >40 mmol/l50,51. Há algumas patologias entre os 70-90%, uma vez que os painéis co-
que podem cursar com provas de suor positi- merciais de rastreio incluem apenas as mu-
vas mas que são distintas da FQ51. tações mais comuns em dada população. Os
Aproximadamente 98% do total dos doen- doentes com diagnóstico depois dos 18 anos
tes com FQ tem uma prova de suor positiva, maior probabilidade de terem mutações ra-
reduzindo-se para 90% nos casos de diag- ras23. Outra limitação deste teste decorre de,
nóstico na vida adulta49,51. por vezes, ser difícil reconhecer se a mutação
O método original de recolha de suor tem reúne os critérios de FQ ou se corresponde
sido substituído por outras técnicas de exe- apenas a um polimorfismo46,51.
cução mais fácil, nomeadamente a determi- Nos indivíduos com clínica sugestiva de FQ,
nação da condutividade dos electrólitos no a identificação de duas mutações confirma o
suor pelo método Macroduct Sweat Collection diagnóstico, mas a sua ausência não exclui.
System/Wescor Sweat Check Conductivity Analy- Neste caso, pode-se recorrer à sequênciação
zer. Estes testes são considerados de rastreio completa do gene CFTR, ou nos centros onde
e têm valores de referência diferentes do se efectua a medição da DPN pode-se restrin-
método de Gibson e Cooke, pelo que, na gir o estudo genético completo para os doen-
interpretação de uma prova de suor, há que tes com traçado de DPN inconclusivo46.
ter em consideração a metolodologia utili- O transporte iónico na membrana apical
zada. Segundo as normas do Reino Unido das células gera uma DPN que é maior nos
sobre o teste de suor, valores de condutivi- doentes com FQ do que nas pessoas nor-
dade <60mmol/l é pouco provável que este- mais (-45,3±11,4 vs -18,2±8,3 mV). É esta
jam associados a FQ e valores superiores a alteração que fundamenta o uso da medição
90 mmo/l suportam o diagnóstico50. Segun- da DPN.
do a Cystic Fibrosis Foundation, uma medi- Esta técnica permite avaliar a diferença de po-
ção da condutividade pelo método Wescor tencial determinado por dois eléctrodos, um
102 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 103
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
Outras técnicas possíveis de utilização são a Por outro lado, sempre que se fala em profi-
expiração forçada activa, PEP, válvulas de laxia, a resistência a antibióticos deve ser
Flutter (baratas e uma boa alternativa para considerada. Isto parece ser verdade para o
adultos activos) e o oscilómetro. uso de cefalosporinas, macrólidos e tetraci-
Na FQ, o benefício da cinesiterapia foi de- clinas, mas não para a flucloxacilina, sendo
monstrado através do atraso na progressão esta, numa abordagem inicial, o fármaco
da doença pulmonar. No entanto, não se mais indicado no tratamento da infecção
observaram diferenças significativas quanto por S. aureus55.
à técnica a utilizar. O uso de broncodilata- Dadas as graves repercussões clínicas e fun-
dores, de agentes modificadores do muco e cionais que implica a aquisição de P. aerugi-
uma boa hidratação parecem optimizar os nosa, a sua detecção e eliminação é de gran-
resultados obtidos na cinesiterapia, sendo a de importância. Actualmente, distingue-se
aplicação de soluções salinas menos consen- colonização inicial (primeira cultura positi-
sual, pois podem induzir broncospasmo. va), intermitente ou esporádica (culturas
Caso o doente tolere, deve ser encorajado o consecutivas intermitentemente positivas e
exercício físico (marcha, natação ou ciclismo). negativas) e crónica (culturas positivas per-
sistentes)58. A colonização intermitente pode
Antibioterapia anteceder a crónica em média em 12 meses.
A realização de exames bacteriológicos de Cada uma destas situações pode ou não ser
expectoração, incluindo antibiograma, deve acompanhada de critérios de exacerbação58.
ser solicitada, no mínimo, anualmente, e de É fundamental um seguimento microbioló-
preferência cada três meses9. gico que permita detectar a primeira coloni-
Relativamente ao S. aureus, alguns centros zação por P. aeruginosa. O uso de antibió-
optam por instituir antibioterapia profilác- ticos de forma agressiva nesta situação pode
tica, de forma a evitar ou pelo menos atrasar prevenir a persistência da colonização e atra-
a colonização54,55. Esta forma de abordagem sar a infecção crónica. Considera-se erradi-
pode reduzir o número de hospitalizações cação quando, após tratamento, há pelo me-
ou tomas de antibiótico nos primeiros anos nos três culturas negativas separadas entre si
de vida; no entanto, parece estar relacionada no mínimo de 1 mês58. A erradicação só
com uma infecção mais precoce por P. aeru- ocorrerá nas fases de colonização inicial e,
ginosa. Outros centros iniciam terapêutica mais raramente, na fase de colonização in-
após o primeiro isolamento, mantendo-a termitente.
ininterruptamente, independentemente de O tratamento nas situações de colonização
ocorrer infecção por gram-negativos56. A inicial ou intermitente requer abordagem
terceira opção é tratar apenas as infecções sistémica, geralmente por via oral, e associa-
sintomáticas, mantendo-a até erradicar o ção com antibióticos inalados, como a colis-
agente ou ocorrer melhoria sintomática (a tina (1-3 milhões de U/12 h) ou a tobrami-
experiência de centros que optam por esta cina não fenólica na formulação para
terceira hipótese traduz-se em menos de inalação (Tobi®) (300 mg/12 h) em ciclos
10% dos doentes cronicamente infectados on-off de 28 dias. Alternativamente, pode
pelo agente)55. utilizar-se a via endovenosa (EV), associada
104 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
ou não a tratamento inalado. A duração do aéreas (só 1 a 10% do fármaco atinge as pe-
tratamento pode variar de 3-4 semanas até quenas vias aéreas, 15 a 25% permanece nas
6-12 meses58. vias aéreas superiores)62 e o tempo dispendido
O tratamento da colonização crónica, de- pelo doente são alguns aspectos menos positi-
nominado também tratamento de manu- vos desta forma de administração.
tenção ou supressivo crónico, destina-se a Esta terapêutica pode complicar-se com he-
reduzir, de forma sustentada, a carga bacte- moptises significativas que levam à sua sus-
riana e, consequentemente, a resposta infla- pensão. No caso particular da tobramicina,
matória. Tem sido demonstrado que esta deve evitar-se o uso deste fármaco em doen-
abordagem (inclusive na ausência de exacer- tes com insuficiência renal, com disfunções O tratamento da
bações) não só evita a deterioração funcio- auditiva, vestibular ou neuromuscular. Tam- exacerbação aguda
nal, como pode favorecer a sua recupera- bém é conveniente evitar a associação deste consiste na redução
ção58. O tratamento mais frequentemente fármaco à furosemida, ácido etacrínico, ma- imediata do inóculo
usado consiste na inalação de antibióticos, nitol ou outros fármacos com potencial ne- bacteriano
como a colistina ou a tobramicina. O uso fro ou ototóxico.
deste último antibiótico demonstrou uma O tratamento da exacerbação aguda consis-
clara melhoria da função pulmonar, uma te na redução imediata do inóculo bacteria-
diminuição da densidade da P. aeruginosa no, para o qual é usado terapêutica ev, ex-
na expectoração e número de dias de hospi- cepto nas exacerbações leves, nas quais se
talização59,60. Alguns centros de FQ têm op- escolhem fármacos por via oral. Geralmente
tado por outra estratégia, que consiste na usa-se um aminoglicosídeo (geralmente to-
administração ev de β-lactâmicos de forma bramicina) associado a um β-lactâmico com
regular, por exemplo a cada 3-4 meses, in- actividade antipseudomonas, ou associação
dependentemente da sintomatologia. Os de qualquer um deles com a ciprofloxacina
resultados desta opção, quando analisados durante 2-3 semanas58. A escolha precisa
em ensaios clínicos controlados, não têm deve basear-se nos exames bacteriológicos
sido superiores à terapêutica convencional, da expectoração mais recentes e nos estudos
que restringe o uso de antibióticos ev unica- de sensibilidade. Não se pode esquecer que
mente para as exacerbações61. os microrganismos responsáveis pela exacer-
Quanto à monotorização do tratamento, bação podem ser diferentes conforme a ida-
apesar do ideal ser uma visita domiciliária de do doente, sendo que nos mais jovens se
pelo pessoal de enfermagem, actualmente, isolam mais frequentemente S. aureus ou H.
pela escassez de recursos humanos, opta-se influenza, o que condiciona a escolha da an-
pela observação em consulta uma semana tibioterapia.
após iniciar o tratamento em ambulatório e, Dado o risco de desenvolvimento de resis-
posteriormente, no término do tratamento. tências, devem usar-se associações de anti-
A administração da antibioterapia em aerossol bióticos e diversificar os esquemas terapêu-
permite obter uma maior concentração anti- ticos, com base num adequado seguimento
biótica no órgão-alvo, com redução dos efeitos clínico e microbiológico.
laterais sistémicos. No entanto, o seu preço, o Sempre que for necessário tratamento anti-
acesso deficiente do fármaco às pequenas vias biótico endovenoso, poderá ser considerada
R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 105
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
106 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 107
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
O uso de corticóides inalados tem por base internamentos sucessivos, a limitação da ac-
reduzir a hiperreactividade brônquica, a tos- tividade física, os múltiplos componentes da
se e a dispneia, apesar dos três ensaios efec- terapêutica de suporte, nomeadamente a ci-
tuados não terem sido conclusivos. nesiterapia respiratória e outros factores con-
Na idade pediátrica (entre os 5 e os 13 anos) dicionam uma vivência limitada, com pre-
o uso de ibuprofeno por períodos de cerca de juízo da actividade profissional. Esta, além
4 anos parece reduzir a progressão da doença das repercussões económicas, também tem
pulmonar. No entanto, devem monitorizar- aspectos de carácter pessoal ao limitar o sen-
-se os níveis séricos e os efeitos laterais a nível timento de realização e a integração social do
renal e gástrico. Nos adultos não foi demons- doente. Por isto, é importante considerar o
trada a utilidade deste fármaco, podendo ser acompanhamento psicológico e apoio social,
utilizado no tratamento da artrite. de forma a que a integração seja facilitada.
Os macrólidos têm sido alvo de estudos re-
centes, nomeadamente a azitromicina. Os
vários ensaios desenvolvidos têm mostrado Transplantação pulmonar
um aumento do FEV1, do peso corporal, Apesar do aumento da sobrevida dos doentes
redução do número de hospitalizações e me- com FQ, cerca de 80% destes doentes morre
lhoria da qualidade de vida, principalmente prematuramente devido a doença pulmonar
se associados outros fármacos, como a tobra- terminal. Nestas circunstâncias, e quando as
micina ou a rhDNAse66. restantes opções terapêuticas falham, a trans-
Actualmente recomenda-se em doentes com plantação pulmonar é a opção a considerar.
mais de 6 anos e cronicamente colonizados No entanto, ainda é objecto de alguma dis-
com P. aeruginosa a administração de azitromi- cussão a selecção dos candidatos e os critérios
cina na dose de 250 mg ou 500 mg três vezes a seguir. Outro aspecto que também deve ser
por semana, conforme o doente tenha menos considerado é a escassez de dadores, sendo a
ou mais de 40 kg, respectivamente67. lista de espera de cerca de 2 anos, o que con-
Desconhece-se o mecanismo preciso de ac- diciona a sobrevida destes doentes, verifican-
Cerca de 80% destes ção dos macrólidos, mas, ao não se docu- do-se que cerca de 15 a 40% morre antes do
doentes morre mentarem efeitos bactericida/bacteriostáti- transplante68. O inverso também deve ser
prematuramente cos destes fármacos, é proposto que a sua considerado. Isto porque a sobrevida no pós-
devido a doença actividade anti-inflamatória seja responsável -transplante é de cerca de 56% e 48% aos
pulmonar terminal pela melhoria observada. In vitro, foi consta- três e cinco anos respectivamente, motivo
tado que a associação dos macrólidos a ou- porque esta abordagem também reduz signi-
tros antibióticos com actividade anti-pseu- ficativamente a sobrevida dos doentes.
domónica pode ter um efeito sinérgico58. Quanto à definição dos critérios de inclusão
num programa de transplante, eles baseiam-
Apoio psicológico e social -se em vários estudos que definiram um ponto
Dada a cronicidade da doença, a mortalida- a partir do qual a probabilidade de o doente
de e morbilidades associadas, estes doentes morrer aumenta, tendo em conta as suas ca-
requerem apoio específico que compreende racterísticas clínicas (idade, peso, número de
aspectos pessoais e sociais importantes. Os hospitalizações/ano, FEV1 e microbiologia).
108 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 109
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
Bibliografia 15. Anderson MP, Berger HA, Rich DP, et al. Nuc-
1. Schidlow D, Fiel S. Cystic Fibrosis in Clinical Respi- leotide triphosphates are required to open CFRT-genera-
ratory Medicine; chapter 40, pp 499-513. ted chloride channels. Science 1991; 253:205.
2. Andersen DH. Cystic fibrosis of the pancreas and its 16. Ratjen F, Doning G. Cystic Fibrosis. Lancet 2003;
relation to celiac disease. A clinical and pathological 361:681.
study. Am J Dis Child 1938; 56:344-99. 17. Gracia J, Mata F, Alvarez A, Casals T, et al. Geno-
3. Faber D. Pancreatic function and disease in early life. thype-phenotype correlation for pulmonary function in
Arch Path 1944; 37:328. Cystic Fibrosis; Thorax 2005; 60:558-63.
4. Bethesda MD. Cystic Fibrosis Foundation. Patient 18. Dorfman R, Ziclanski J. Genotype-fenotype corre-
Registry 2000 Annual report. lations in CF. In CF in the 21st Century 2005; pp: 61-68
5. Moreno RMG, Posadas AS, Espinosa AC. Anteceden- Karger.
tes históricos y epidemiologia. In Monografias Neumo- 19. Pathophysiology and management of pulmonary
Madrid. Fibrosis Quística. Ergon 2005; VIII:9-20. infections in cystic fibrosis. Am J Resp Crit Care Med
6. Stein R, The diagnosis of Cystic Fibrosis; New Eng J 2003; 168: 918-51.
Med, 1997; 336:487-97. 20. Schidlow DV, Taussing LM, Knowles MR. Cystic fibro-
7. Cystic Fibrosis Foundation. Patient Registry 2004 – sis foundation consensus report on pulmonary complica-
Annual date report. Bethesda MD. Cystic Fibrosis tions of cystic fibrosis. Pediatr Pulmonol 1993; 15:187-98.
Foundation, 2005. 21. Ramsey BW. Management of pulmonary disease in
8. Cystic Fibrosis Foundation 2006. www.cff.org. patients with Cystic Fibrosis. N Eng J Med 1996;
9. Yankaskas JR, et al. Cystic Fibrosis Adult Care Con- 335:179-88.
sensus Conference Report. Chest 2004; 125: 15-39 s. 22. Hernandez GG. Patogenia in Monografias Neumo-
10. Guggino WB, Banks-Schlegl SP. Macromolecular Madrid. Fibrosis Quística. Ergon 2005; VIII: 45-55.
interactions and ion transport in Cystic Fibrosis. Am J 23. Shwachman H, Kulczyky LL. Long term study of one
Resp Critical Care Med 2004; 170:815. hundred five patients with cystic fibrosis studies made
11. The Cystic fibrosis genetic analysis consortium, CF- over stoll year period. Am J Dis Child 1958; 96:6-15.
GAG.http://www.genet. Sickkids.on.ca/cftr. Update Sept 24. Rodrigues MAN, González AS. Afectación respi-
08, 2006. ratória en el niño Monografias NeumoMadrid. Fibrosis
12. Rafinia MN, Linde L, Keron B. The CFTR gene: Quística. Ergon 2005; VIII(VI): 79-90.
structure, mutations and specific therapeutic approa- 25. Reid D, Withers NJ, Francis L, Wilson W, Kotsim-
ches. In CF in the 21st Century 2005; pp. 2-10 Karger. bos TC. Iron deficiency in Cystic Fibrosis relationship
13. Senent TC. Genética. In Monografias NeumoMa- to lung disease severity and chronic Pseudomonas aeru-
drid. Fibrosis Quística. Ergon 2005; VIII:29-43. ginosa infection. Chest 2002; 121:48-54.
14. Rowe S, Miller S, Sarscher E. Mechanisms of disease 26. Lipuma JJ. Burkholderia and emerging pathogens in
Cystic Fibrosis; New Eng J Med 2005; 352(19):1992-9. Cystic Fibrosis. Semin Resp Crit Care Med 2003; 24:681.
110 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
27. Schidlow DV, Taussing LM, Knowles MR. Cystic fibro- 42. McCallum JJ, Milunsky JM, Cunningham DL. Ferti-
sis foundation consensus report on pulmonary complica- lity in men with Cystic Fibrosis. An update on current
tions of cystic fibrosis. Pediatr Pulmonol 1993; 15:187-98. surgical pratices ans outcomes. Chest 2000; 118:1059-62.
28. Prados C. Máiz L, Antelo C, Baranda F, Blázquez J, 43. Gilljam M, Antonion M, Shin J, et al. Pregnancy in
Borro JM, et al. Fibrosis quística: consenso sobre el Cystic Fibrosis. Fetal and maternal outcome. Chest 2000;
tratamiento del pneumotórax y de la hemoptisis massiva 118:85.
y sobre las indicaciones del transplante pulmonar. Arch 44. Haworth CS, Selby PL, Webb AK, et al. Low bone
Bronconeumol 2000; 36: 411-6. mineral density density in adults with Cystic Fibrosis.
29. Monografías NeumoMadrid. vol VIII/2005 Fibrosis Thorax 1999; 54:961.
Quística. Martinez MTM, Herrero P A. Cap Complicaciones 45. King SJ, Topliss DJ, Kotsimbos, et al. Reduced bone
respiratórias no infecciosas más frequentes. pp. 99-111. density in Cystic Fibrosis. Delta F508 mutations is an
30. Mastella G, Rainisio M, Harms HK, Hodson ME, independent risk factor. Eur Resp J, 2005; 25:54.
Koch C, Navarro J, et al. Allergic bronchopulmonary 46. Boeck K, Wilschanski M, Taylor C, Cuppens H,
aspergillosis in cystic fibrosis. A European epidemiologi- Dodge J, Sinaasappel M. Cystic fibrosis: terminology
cal study. Epidemiologic Registry of Cystic Fibrosis. Eur and diagnostic algorithms. Thorax 61:627-35.
Resp J 2000; 16:464-71. 47. World Health Organisation. Classification of cystic
31. Sanchez MCP, Camera LG, Navarro, IF. Afectación fibrosis and related disorders. Report of a joint working
respiratória en el adulto Monografias NeumoMadrid. group of WHO/ICF(M)/ECFS/ECFTN 2001. (Reprin-
Fibrosis Quística. Ergon 2005; VIII(VII):91-8. ted in J Cystic Fibros 2002; 1:5-8).
32. Lacaille F, Schmitz J. Cystic Fibrosis. Semin Pediatr 48. Gibson LE, Cooke RE. A test for concentration of elec-
Gastroenterolog Nutr 1993; 4:1-15. trolytes in sweat in cystic fibrosis of the pancreas utilizing
33. Monografías NeumoMadrid vol VIII/2005 Fibrosis pilocarpine by iontophoresis. Pediatrics 1959; 23:545-49.
Quística Moreno RMG, Posadas AS. Cap Manifesta- 49. Guidelines for the performance of the sweat test for
ciones digestivas. Novo MDG, Castillo CG, Manzanares the investigation of cystic fibrosis in the UK. Report
J, pp. 113-130. from the multi-disciplinary working group. July 2002
34. Leus J, Van Bervliet S, Robberecht E. Detection and (http//:WWW.acb.org.uk).
follow up of exocrine pancreatic insufficiency in cystic 50. Monografías NeumoMadrid vol VIII/2005 Fibrosis
fibrosis: a review. Eur J Pediatr 2000; 159:563-8. Quística Moreno R M G, Posadas A S. Cap Diagnósti-
35. Gilljam M, Chapman C, Tullis E et al; GI complica- co. Landeira C A, Aguero M I G, Carrasco M C M pág
tions after lung transplantation in patients with Cystic 141-54.
Fibrosis. Chest 2003; 123:37. 51. Rosenstein B, Cutting G. The diagnosis of Cystic Fi-
36. Colombo C. Hepatology 2002; 36:1374-82. brosis: a consensus statement. Journal of Pediatrics 1998;
37. Monografías NeumoMadrid vol VIII/2005 Fibrosis 132:589-95.
Quística Moreno RMG, Posadas AS. Cap Otras mani- 52. Boyle MP, Dirner-West M, Miljam L, et al. Multicen-
festaciones prevalentes. Moreno RMG, Posadas AS, ter study of the effect of solution temperature on nasal
Diego DSJ, pp. 131-139. potential difference measurements. Chest 2003; 124:482.
38. Kerem E, Conway S, Elborn Stuart, Heijerman H 53. Fajac I, Hubert D, Guillermot D, et al. Nasal airway
Standards of care for patients with cystic fibrosis: a Euro- ion transport is linked to the Cystic Fibrosis phenotype
pean consensus: Journal of Cystic Fibrosis 2005; 4:7-26. in adult patient. Thorax 2004; 59:971.
39. Yankaskas, JR, Marshall BC, Sufian B, Simon RH, 54. Robinson P. Paediatric origins of adult lung disease
Rodman D. Cystic Fibrosis Adult Care. Consensus Thorax 2001;56:237-41.
Conference Report. Chest 2004; 125:1S-39S. 55. Smith A, Walters S. Prophylactic antibiotics for
40. Dodge JA; Male fertility in cystic fibrosis. Lancet Cystic Fibrosis. Cochrane Database Syst Rev 2003;
1995, 346:587. (3):CD001912.
41. Chillon M, Casals T, Mercier B, et al. Mutations in 56. McCaffery K, Oliver RE, Franklin M, et al. Syste-
Cystic Fibrosis gene in patients with congenital absence matic review of anti-staphylococcal antibiotherapy in
of vas deferens. New Eng J Med 1995; 332:1475 Cystic Fibrosis. Thorax 1999; 54:380-383
R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 111
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008
Fibrose quística: Revisão
C Damas, A Amorim, I Gomes
57. Cantón R, Cobos N, Gracia J, Baquero F, et al. 63. Elkeis MR, Robinson M, Rose BR, Harbour C, et
Tratamiento antimicrobiano frente a la colonización al. Controlled trial of long term inhaled hypertonic sa-
pulmonar por Pseudomonas aeruginosa en el paciente line in patients with Cystic Fibrosis. N Eng J Med 2006,
com fibrose quistica. Archivos de Bronconeumologia 356: 229-40.
2005; 41(Sup 1):1-25. 64. Wijkastra PJ, Guyatt GH, Ambrosino N, Celli BR, Guell
58. Ramsey BW, Burns J, Smith AL. Safety and efficacy R, Muir JF, et al. International approaches to the prescription
of tobramycin solution for inhalation in patients with of long-term oxygen. Eur Respir J 2001; 18:909-13.
cystic fibrosis. The results of 2 phases placebo controlled 65. Wedziche JA, Muir JF. Non-invasive ventilation in
trials. Pediatr Pulmonol 1997;14:137-8. Chronic Obstructive Pulmonary disease, Bronquiectasis
59. Ramsey BW, Pepe MS, Quan JM, et al. Intermittent and Cystic Fibrosis. Eur Respir J 2002; 20:777-84.
administration of inhaled tobramycin in patients with 66. Jones AP, Wallis CE. Recombinant Deoxiribonucle-
cystic fibrosis. N England J Med 1999; 340:23-30. ase for Cystic Fibrosis. Cochrane Database Syst Rev
60. Nir M, Lanng S, Johansen HK, Koch C. Long-term 2000 (2):CD001127.
survival and nutrional data in patients with cystic fibro- 67. Sainan L, Marshall B, Mayer-Hemblet N, et al. Azi-
sis treated in a Danish centre. Thorax 1996; 51:1023-7. thromycin in patients with cystic Fibrosis chronically
61. Kettler LJ, Sawyer SM, Winefield HR, Greville HW. infected with Pseudomonas aeruginosa. A randomized
Determinants of adherence in adults with Cystic Fibro- controlled trial. JAMA 2003; 290:1749-56.
sis. Thorax 2002; 57:459-64. 68. Yankaskas JR, Mallory GB and Consensus Commit-
62. Pico G. Aerosolized antibiotics. Chest 1998. Educa- tee. Lung transplantation in Cystic Fibrosis. Chest 1998;
tion on line. Lesson 21; vol 15. 113:217-26.
112 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XIV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2008