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Identificação da mutação responsável pela doença

A fibrose cística, também conhecida como mucoviscidose, é uma doença genética hereditária que
afeta as glândulas exócrinas, causando a produção de muco anormalmente espesso e pegajoso. Esta
condição é resultante de mutações no gene CFTR (Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance
Regulator), localizado no cromossoma 7, que desencadeiam problemas no transporte de iões através
das membranas das células.
O gene CFTR fornece instruções para a produção da proteína CFTR que é um importante canal iônico
localizado na membrana apical das glândulas respiratórias, digestivas, reprodutivas e sudoríparas. Este canal é
essencial para o transporte de iões e na regulação do fluxo de cloro, sódio e água através da membrana celular.
Ou seja, o canal funciona como um tipo de portal de entrada e saída destas substâncias. Quando a proteína
CFTR funciona corretamente, o equilíbrio de cloreto e fluido na superfície da célula permanece normal.
Por outro lado, mutações no gene CFTR afetam a proteína levando à ausência, défice ou anomalias estruturais e
funcionais da proteína CFTR, o que causa desidratação e produção de secreções viscosas e espessas, também
chamado de muco. A hiperconcentração do muco leva a obstrução dos ductos de glândulas exócrinas resultado
em complicações nos sistemas respiratório, digestivo e reprodutivo.

Existem muitas variações genéticas associadas à fibrose cística, e mais de 1.700 mutações no gene
CFTR foram identificadas. Algumas dessas mutações são mais comuns em determinadas populações,
e a gravidade dos sintomas pode variar dependendo do tipo de mutação presente no gene CFTR.
A variante mais comum de indivíduos com fibrose cística é a F508del, considerada principalmente uma mutação
de processamento. A mutação F508del remove um único aminoácido da proteína CFTR. Sem este aminoácido a
proteína CFTR não permanece na forma estrutural correta e é eliminada pela célula

Sinais/sintomas da doença
A fibrose cística é uma doença genética complexa que pode afetar várias partes do corpo. Os sinais e
sintomas podem variar amplamente de pessoa para pessoa, e a gravidade também pode ser diferente.
Alguns dos sinais e sintomas mais comuns da fibrose cística incluem:
 Problemas respiratórios: Tosse persistente, frequentes infecções resp iratórias, falta de ar,
produção excessiva de muco espesso nos pulmões, bronquite crônica e pneumonia recorrente.

 Problemas digestivos: Dificuldades na digestão, má absorção de nutrientes, especialmente de gorduras


e proteínas, o que pode resultar em má nutrição, ganho insuficiente de peso e crescimento lento em
crianças. Fezes volumosas e gordurosas podem ser um sinal de má absorção.

 Suor salgado: O suor das pessoas com fibrose cística tende a ser mais salgado do que o normal devido
a problemas no transporte de íons de cloreto.

 Obstrução do trato biliar: Alguns indivíduos com fibrose cística podem desenvolver obstruções no
trato biliar.

 Sinusite crônica: Inflamação e infecções frequentes nos seios nasais.

 Pólipos nasais: Crescimento de pólipos no nariz.

 Infertilidade masculina: Homens com fibrose cística podem ter ausência ou bloqueio dos ductos
deferentes, o que pode resultar em infertilidade.
 Desidratação: Devido à produção excessiva de muco e ao aumento da perda de sal no suor, as pessoas
com fibrose cística podem estar mais propensas à desidratação.

É essencial ressaltar que os sintomas podem variar em intensidade e podem se manifestar de maneiras
diferentes ao longo do tempo. Além disso, devido aos avanços no diagnóstico e tratamento, as pessoas
com fibrose cística estão vivendo mais tempo e com melhor qualidade de vida do que no passado.

FC ao redor do mundo
Nas últimas décadas, cientistas de todos os cantos do mundo têm cooperado para compreender melhor a
prevalência da fibrose cística e os seus fatores de risco e têm realizado estudos clínicos para desenvolver
potenciais novas terapêuticas.
A fibrose quística é mais frequente na população caucasiana (é a doença genética fatal mais comum entre estas
crianças), embora esteja a crescer noutras etnias. Isto é confirmado por evidências que mostram que a sua
prevalência é muito menor em regiões como a Ásia, o Médio Oriente e a América Latina. Estima-se que haja no
mundo 60 mil doentes.
- Na Europa, a taxa de fibrose cística está entre 1:2.000 e 1:3.000 nascimentos.

- A incidência na América Latina varia de 1:3.900 a 1:8.500.

- As estimativas para o Médio Oriente estão entre 1:2560 e 1:15.876.

- Na Índia, a prevalência é estimada em cerca de 1:40.000 a 1:100.000 nascimentos.

- No Japão, a incidência estimada é de 1:100.000 a 1:350.000.

Em Portugal, afeta cerca de 1 em cada 2.500 recém-nascidos, tendo uma incidência semelhante nos sexos
feminino e masculino.
Como é uma doença autossómica recessiva (só se manifesta se houver dois genes recessivos), é difícil saber
quantas pessoas possuem o gene. Ainda assim, os cientistas estimam que 7 milhões de pessoas sejam portadoras
da anomalia genética da fibrose cística.
Em muitos países, os bebés não são testados para FC à nascença e os registos nacionais (se existirem) carecem
de dados. Nos países sem um registo nacional, a maioria dos estudos são conduzidos por indivíduos e não por
organizações nacionais, tornando difícil estabelecer uma prevalência fiável da doença.
Uma tendência de aumento da expectativa de vida dos pacientes com FC também está presente na população
global. No entanto, os pacientes nos países em desenvolvimento têm geralmente uma esperança de vida muito
mais baixa, com muitos morrendo na adolescência.

Pequena abordagem sobre a importância das mutações genéticas na evolução

As alterações genéticas, conhecidas como mutações, desempenham um papel fundamental no processo


evolutivo das espécies, contribuindo para a variabilidade genética que impulsiona a seleção natural e a
adaptação ao meio ambiente.

Esta diversidade é crucial para a sobrevivência e evolução das populações ao longo do tempo. A seleção
natural atua sobre essa diversidade, favorecendo características que conferem vantagens adaptativas em
ambientes específicos. Estas características, resultantes de mutações benéficas, aumentam as chances de
sobrevivência e transmissão de genes para as gerações futuras. A formação de novas espécies é
impulsionada pelo acúmulo de mutações ao longo do tempo, resultando em grupos distintos de organismos
com diferenças genéticas significativas. As mutações não apenas possibilitam a adaptação ao ambiente,
mas também permitem a resposta a pressões seletivas. Além disso, as mutações desempenham um papel na
manutenção da saúde genética das populações.

É importante notar que nem todas as mutações são benéficas; muitas são neutras ou prejudiciais. No
entanto, o contínuo processo de mutação e seleção natural é essencial para a inovação evolutiva,
permitindo que as espécies explorem diversas estratégias de sobrevivência e reprodução ao longo do
tempo. Em resumo, as mutações são elementos cruciais no complexo quebra-cabeça da evolução,
moldando a diversidade e adaptação das formas de vida na Terra.

Técnicas de diagnóstico
Teste do “pezinho”- O teste do pezinho é a triagem neonatal, não é um exame definitivo, mas pode
indicar a necessidade de mais exames para determinar a existência ou não da doença – o teste do pezinho é
muito importante por permitir o diagnóstico precoce da patologia, trazendo a possibilidade de tratamento e
aconselhamento genético aos familiares.

Teste do suor- Quando já existe a suspeita da FC, faz-se o teste do suor, que avalia a concentração de
cloro ou cloreto no suor (acima de 60 mEq/L já indica a existência da doença). Quando o teste do suor
indica concentração intermediária de cloro (entre 40 e 60 mEq/L) e o paciente apresenta sintomas
sugestivos de fibrose cística. É realizado o teste genético, que, além dos mesmos benefícios já citados
anteriormente com o diagnóstico precoce, permite uma terapêutica mais pontual, com medicamentos que
podem corrigir a função alterada da proteína CFTR.

Pré-natal- O diagnóstico da fibrose cística também pode ser pré-natal, com a retirada de uma amostra de
líquido amniótico entre a 15ª e 18ª semana. Esse exame só é realizado quando se sabe que o pai e a mãe
possuem o gene CFTR afetado pela doença. Caso o diagnóstico da doença seja tardio, o quadro geral do
paciente pode ser muito afetado. Piorando imensamente o seu prognóstico.

Principais medicamentos que podem ser indicados pelo médico:

O tratamento para fibrose cística geralmente é feito com o uso de medicamentos prescritos pelo médico,
fisioterapia respiratória e acompanhamento nutricional, para controlar a doença e melhorar a qualidade de vida
da pessoa.

Enzimas pancreáticas: facilitam a digestão e a absorção de nutrientes;


Antibióticos: tratam e previnem infeções pulmonares recorrentes;
Broncodilatadores: ajudam a manter as vias respiratórias dilatadas e relaxam os músculos dos brônquios,
facilitando assim a respiração
Mucolíticos: tornam as secreções mais líquidas e fáceis de eliminar.
E em certos casos pode também ser recomendado o tratamento com oxigenoterapia através de uma máscara,
principalmente quando existe uma piora do sistema respiratório e quando a pessoa apresenta complicações como
por exemplo bronquite ou pneumonia.
É estritamente importante que o tratamento indicado pelo médico seja feito corretamente conforme a prescrição,
para que ocorra uma melhora na qualidade de vida.

Tratamentos da Fibrose Cística

- Alterações da dieta
A adaptação da dieta, feita pelo nutricionista, é fundamental, pois é comum que as pessoas com fibrose cística
tenham dificuldade para ganhar peso e de crescimento, deficiências nutricionais e, às vezes, desnutrição.

Assim, a dieta dos doentes deve ser:

Rica em calorias, pois a pessoa não é capaz de digerir toda a comida que ingere;
Rica em gordura e proteína uma vez que a pessoa não apresenta todas as enzimas digestivas e também perdem
estes nutrientes nas fezes;
É complementada com suplementos de vitaminas A, D, E e K, para que se possa ter todos os nutrientes de
que precisa.

Sessões de fisioterapia
A fisioterapia para fibrose cística é feita através de exercícios que ajudam a liberar as secreções, melhorar as
trocas gasosas nos pulmões, limpar as vias aéreas e melhorar a expiração.
As técnicas fisioterápicas utilizadas devem ser adaptadas pelo fisioterapeuta, de acordo com as necessidades de
cada pessoa, para atingir melhores resultados.

Cirurgia ao intestino
A cirurgia ao intestino é indicada quando há obstrução intestinal causada pela fibrose cística, e permite
restabelecer o trânsito intestinal normal, fazendo com que as fezes consigam passar livremente pelo intestino.

Transplante de pulmão
O transplante de pulmão pode ser indicado quando a fibrose cística causa problemas respiratórios
muito graves que podem colocar a vida do paciente em risco ou quando a pessoa apresenta resistência
aos antibióticos.

A fibrose cística não reaparece no pulmão transplantado, no entanto, outras complicações associadas, como
infecções nos seios da face, diabetes, doenças do pâncreas ou osteoporose, ainda podem ocorrer após o
transplante

Possíveis complicações
A fibrose cística pode causar complicações quando o tratamento não é iniciado ou quando não é eficaz para
combater o excesso de secreções produzidas.
Desta forma, as principais complicações incluem: bronquite, sinusite, pneumonia, pólipos nasais, pneumotórax,
insuficiência respiratória, diabetes, obstrução das vias biliares, problemas hepáticos e digestivos, e osteoporose.

https://todasasrespostas.pt/qual-a-importancia-das-mutacoes-na-evolucao-dos-
seres-vivos;

https://www.sanarmed.com/fibrose-cistica

https://www.biologianet.com/genetica/mutacao.htm

https://cysticfibrosisnewstoday.com/cystic-fibrosis-statistics/

https://www.rarediseaseadvisor.com/insights/cf-insights/global-epidemiology-
cystic-fibrosis/

https://www.news-medical.net/health/Cystic-Fibrosis-Epidemiology.aspx

https://www.sanarmed.com/fibrose-cistica-3

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