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rsidades

nas unive

Realização:

Organização do Material:
Ps. Verônica Stasiak Bednarczuk e Leandro de Oliveira Martins
Revisão Científica: Profº Dr. Salmo Raskin; Ms. Vinícius Bednarczuk
Diagramação: Sintática Comunicação 1
Sumário
Introdução 3
1. O que é a Fibrose Cística? 4
2. Breve história da Fibrose Cística 6
3. Quais são os sintomas da Fibrose Cística? 8
4. Como é realizado o diagnóstico? 10
4.1 Triagem Neonatal 10
4.2 Teste do Suor 12
4.3 Análise das Mutações do Gene CFTR 12
5. Qual a incidência? 13
6. Como é realizado o tratamento? 14
7. Considerações finais 15
8. Referências 17

2
Olá!
na s u
Seja bem-vindo ao Projeto niversidades
Fibrose Cística nas Universidades!

Este projeto é coordenado pelo Instituto bém possa contribuir para a busca de diagnós-
Unidos pela Vida, uma organização não tico precoce, tratamento adequado e melhora
governamental com sede em Curitiba e na qualidade de vida.
atuação nacional.
Estima-se que 1 a cada 10 mil nascidos vivos
Nossa missão é divulgar a Fibrose Cística no no Brasil tenham Fibrose Cística, contudo, so-
Brasil, contribuindo para a busca de diagnós- mente em torno de 4 mil pessoas recebem o
tico precoce e tratamento adequado, pois nós tratamento atualmente.
acreditamos que a Fibrose Cística é parte do
que somos, não o limite do que podemos ser. Vamos mudar essa história? Vamos conhecer
para transformar? Saber o que se tem pode
A saber, a Fibrose Cística é uma doença mudar tudo.
autossômica, recessiva, ainda sem cura,
que deixa as secreções do organismo
mais espessas, de difícil eliminação. Estas
secreções podem desencadear pneumonias,
tosses crônicas, dificuldade para absorção
de gorduras e nutrientes, diarreia, pólipos
nasais. Infelizmente, ainda não há cura Esta apostila é nosso material de apoio da
conhecida para a patologia e, quando antes videoaula de Introdução à Fibrose Cística,
diagnosticada, melhor para a qualidade de ministrada pelo Dr. Salmo Raskin.
vida da pessoa com Fibrose Cística.
Queremos que este material contribua para
Pensando nisto e na quantidade de pessoas o seu desenvolvimento profissional e que
que ainda não a conhecem a doença, mesmo você possa nos ajudar na árdua missão de
entre os profissionais de saúde, desenvolve- tornar a Fibrose Cística conhecida!
mos o Projeto Fibrose Cística nas Universida-
des, que tem como principal objetivo inserí-lo
no conceito da patologia, para que você tam-

Projeto Fibrose Cística nas Universidades


Instituto Unidos pela Vida | www.unidospelavida.org.br
41 3114-7750 | 41 9636-9493 | educacao@unidospelavida.org.br
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1. O Que é a Fibrose Cística?
Provavelmente você ouviu pouco, ou + ose) ou Doença do Beijo Salgado (pelo
quase nada, a respeito. Infelizmente, esta suor mais salgado encontrado na pele de
é uma grande realidade do Brasil. Em pri- quem tem Fibrose Cística).
meiro lugar, a Fibrose Cística pode ser
facilmente confundida com outras pato- De forma geral, Raskin (2015) afirma que
logias, por conta da semelhança de seus a Fibrose Cística é uma doença multissis-
sintomas. A Pneumonia de repetição e têmica, genética, hereditária, autossômi-
a tosse crônica são dois dos principais ca e recessiva. É causada por mutações
sintomas da Fibrose Cística e também no gene CFTR (Cystic Fibrosis Transmem-
podem ser confundidas com bronquite e brane Conductance Regulator), e gera al-
asma, por exemplo. terações no transporte transmembranar
epitelial de cloro, sódio e água.
Segundo relatório publicado pelo UNICEF
em 2013, pneumonia, diarreia e malária
continuam sendo as principais causas de
morte de crianças no mundo - são cerca
de 6 mil crianças menores de 5 anos, to-
dos os dias, sendo que a desnutrição é a
causa de quase metade dessas mortes.
Sabemos, contudo, que independente da
Fibrose Cística, as patologias descritas
acima são graves se não tratadas. Mas, o
questionamento que fica é: quantas des-
tas teriam Fibrose Cística, já que pneu- Sobre a incidência, é importante falarmos
monia e diarreia também são sintomas da que a Fibrose Cística é considerada a en-
Fibrose Cística? fermidade congênita letal mais frequen-
te em populações caucasianas (descen-
Outros nomes da Fibrose Cística: Para co- dentes europeus, principalmente), e, de
meçar a entender a Fibrose Cística, preci- acordo com Raskin, cerca de 1 a cada 10
samos saber que ela também é conheci- mil nascidos vivos tem Fibrose Cística no
da como Mucoviscidose (muco + víscido Brasil e 1 a cada 50 indivíduos está em

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risco elevado de ter filhos com a doença se íons cloreto através das membranas apicais
casarem com portadores do gene. Por tratar- das células epiteliais.
se de uma doença de origem caucasiana (eu-
ropeia), esta incidência é variável, de acordo O diagnóstico precoce através da triagem
com a região. No Brasil, por exemplo, pode neonatal é importante para aumentar a pos-
variar com incidências maiores na região sul, sibilidade do tratamento e redução da morbi-
e menores na região nordeste. dade e mortalidade. As mais recentes terapias
dirigidas para a correção do defeito básico
Segundo de Castro et al (2011), a Fibrose que estão sendo testadas em pacientes de-
Cística simula muitas outras doenças e tem pendem do conhecimento prévio da mutação
amplo diagnóstico diferencial. O primeiro responsável e representam um marco para o
passo para o sucesso de sua abordagem é, tratamento efetivo da Fibrose Cística e outras
naturalmente, o diagnóstico. Como o sistema doenças genéticas.
respiratório é quase sempre acometido e é o
principal responsável pela morbidade rela-   Castro e Firmida (2011) indicam que, após o
cionada à Fibrose Cística, muitas vezes é com diagnóstico, o tratamento seja feito em servi-
base na síndrome respiratória que o diagnós- ços especializados, em centros de referência
tico desta doença é considerado.   para Fibrose Cística. O tratamento intensivo,
com abordagem multidisciplinar e utiliza-
De acordo com o Banco de Dados de Mutações ção criteriosa do grande arsenal terapêutico
sobre a Fibrose Cística (Cystic Fibrosis Muta- disponível, tem colaborado para que se con-
tion Database), existem atualmente 1.997 no siga retardar a progressão da Fibrose Cística
gene CFTR (Cystic Fibrosis Transmembrane e tratar oportunamente suas complicações,
Conductance Regulator), cuja proteína está elevando substancialmente a sobrevida e a
envolvida, principalmente, no transporte de qualidade de vida destes pacientes.

Por fim, é possível descrever de maneira resumida a


Fisiopatologia da Fibrose Cística da seguinte maneira:

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2. Breve história da Fibrose Cística

Segundo Paschoal (2010), da sabedoria drão de manifestações mórbidas em


popular medieval, que atribuía tempo crianças brancas que levava à morte e
curto de vida às crianças com suor ex- se caracterizava por disfunção múltipla
cessivamente salgado, à descoberta do de glândulas exócrinas. A denominação
gene relacionado à doença, em 1989, dessa condição variava: fibrose císti-
um longo caminho foi percorrido. Ainda ca do pâncreas, enfatizando uma das
assim, o conhecimento do gene não es- manifestações mais proeminentes da
clareceu completamente o mecanismo doença, ou seja, a destruição do pân-
da doença em todos os órgãos afetados. creas; mucoviscidose, nome que ressal-
ta outros aspecto importante no con-
Nos primeiros anos do século XX, de junto de distúrbios orgânicos, isto é, a
acordo com Paschoal (2010), clínicos produção de muco com características
e patologistas já reconheciam um pa- alteradas (mais espesso que o normal).

Por fim, Paschoal (2010) afirma que o conhecimento acumulado até agora sobre a fisiopatogenia
das diferentes manifestações da Fibrose Cística trouxe benefícios não apenas aos portadores da
doença, mas também à compreensão do funcionamento normal de vários sistemas orgânicos.

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Linha do Tempo

1938:
Nomeada Fibrose Cística do pâncreas, depois que a
patologista Dorothy Hansine Andersen identificou cis-
tos e tecido fibroso no pâncreas de alguns pacientes.

Segunda Guerra:

Durante a Segunda Guerra Mundial, reconheceu-se


que a Fibrose Cística repetia-se em famílias, e se pro-
pôs tratar-se de herança recessiva. (Paschoal, 2010)

1943:
Descrita como Mucoviscidose pelo pediatra Sidney
Farber, que concluiu que o dano causado ao tecido
pulmonar dependia da obstrução provocada por um
muco viscoso (Muco + víscido (pegajoso, viscoso) +
ose (doença)

1948:

Após a famosa onda de calor em Nova Iorque no ano


de 1948, o médico Paul Di Sant’ Agnese registrou que
o suor produzido pelas  crianças com Fibrose Cística
era anormalmente salgado;

1959:
Gibson e Cook propuseram a técnica de de estimulação
colinérgica para obtenção de suor de pequena área da
pele, com o uso de policarpina por iontoforese, até
hoje utilizada no teste do suor, padrão áureo para o
diagnóstico da Fibrose Cística;
1989:
Riordan et al clonaram o gene e utilizaram a sequência
obtida do DNA para propor a estrutura da proteína
codificada, denominada Cystic Fibrosis Transmembrane
conductance regulator (CFTR). Deste modo, dia 08 de
Setembro, data da publicação desta pesquisa em 1989,
é assinalado como Dia Mundial da Fibrose Cística.

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3. Quais são os sintomas da Fibrose Cística?
Como comentamos anteriormente, infeliz- ocorrer precocemente, ou na vida adulta.
mente, a maioria dos sintomas da Fibrose O acometimento do trato respiratório as-
Cística pode ser facilmente confundida socia-se com a maior morbidade e é causa
com outras patologias. Por isto, é funda- de morte em mais de 90% dos pacientes,
mental que profissionais da saúde a conhe- podendo ser progressivo e de intensidade
çam cada vez mais, para poder contribuir variável. O curso clínico é determinado por
para a busca de diagnóstico precoce e tra- muco viscoso e clearance mucociliar dimi-
tamento adequado! nuído, predispondo à sinusite, bronquite,
pneumonia, bronquiectasia, fibrose e fa-
De forma resumida, os principais sinto- lência respiratória.
mas da Fibrose Cística são: pneumonia de
repetição, tosse crônica, dificuldade para A manifestação respiratória mais comum,
ganhar peso e estatura, diarreia, pólipos segundo Ribeiro et al (2002), é a tosse crô-
nasais, baquetamento digital. No decorrer nica persistente, que pode ocorrer desde
deste capítulo entenderemos melhor cada as primeiras semanas de vida, perturbando
um deles. o sono e a alimentação do lactente. Muitas
crianças apresentam-se com história de
Segundo de Castro et al (2011), a expres- bronquiolite de repetição, síndrome do lac-
são clínica da doença é extremamente di- tente chiador, infecções recorrentes do tra-
versificada, apresentando-se normalmen- to respiratório ou pneumonias recidivantes.
te como um envolvimento multissistêmico,
caracterizada por doença pulmonar pro-
gressiva, disfunção pancreática exócrina,
acometimento intestinal, doença hepática,
infertilidade masculina (azoospermia obs-
trutiva) e concentrações elevadas de ele-
trólitos no suor.

Ribeiro et al (2002) afirmam que o defeito


básico acomete células de vários órgãos,
e nem todos os indivíduos expressam res-
postas clínicas semelhantes. As manifesta-
ções clínicas podem ser muito variáveis e
Insuficiência Pancreática

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Cabello (2011) afirma que, além do com-
prometimento pulmonar, a Fibrose Cística
pode afetar outros órgãos como o pâncreas
(função exócrina), cujo mau funcionamen-
to (insuficiência pancreática) provoca má
digestão, má absorção e consequente des-
nutrição. Uma fração menor de pacientes
apresenta pâncreas funcional, um quadro
clínico mais brando da doença e uma so-
brevida maior que aqueles com insuficiên-
cia pancreática.
Baqueteamento digital
Segundo Cabello (2011) outras manifes-
tações comuns na Fibrose Cística são: obs-
trução intestinal, que ao nascimento é co-
Por fim, Adde (2010) afirma que a apre-
nhecida como condição íleo-meconial; alta
sentação clínica da Fibrose Cística é muito
concentração de íons (Cloreto de Sódio) no
variável e seu diagnóstico deve ser bus-
suor; e infertilidade, principalmente mas-
cado não apenas nos casos típicos, como
culina. Esta última é resultante de azoos-
também em crianças mais velhas e adultos
permia provocada pela ausência dos vasos
que apresentem bronquiectasia de causa
deferentes. A infertilidade feminina é me-
não esclarecida, azoospermia obstrutiva e
nos frequente, e em geral é devido à anor-
pancreatite crônica, considerando-se que,
malidade do muco cervical e ao atraso do
nesses casos, o cloreto do suor pode apre-
desenvolvimento.
sentar valores normais ou limítrofes.
Ribeiro et al (2002) afirmam que as mani-
festações digestivas são, na sua maioria,
secundárias à insuficiência pancreática. A
obstrução dos canalículos pancreáticos por Investigar nunca
tampões mucosos impede a liberação das
enzimas para o duodeno, determinando má
digestão e má absorção de gorduras, pro-
é demais!
teínas e hidratos de carbono. Causa tam-
bém diarréia crônica, com fezes volumosas,
gordurosas, pálidas, de odor característico
e, finalmente, desnutrição calórica protéi-
ca, acentuada por outros fatores inerentes
à Fibrose Cística. Os autores revelam ainda
que a primeira manifestação da IP na Fibro-
se Cística é o íleo meconial (obstrução do
íleo terminal por um mecônio espesso), que
aparece em 15-20% dos pacientes. Porém,
a maioria dos diagnósticos de íleo meconial
(90%) é relativa à Fibrose Cística. Portanto,
deve-se ressaltar a importância de tratar
todo paciente com íleo meconial como Fi-
brose Cística até prova em contrário.

Síndrome Perdedora de Sal


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4. Como é realizado o diagnóstico?
“Saber o que se tem, pode mudar tudo”. Esta frase, estampada em vários materiais de
comunicação da Associação Mineira de Assistência à Mucoviscidose (AMAM), indica uma
máxima sobre o diagnóstico e prognóstico para quem tem Fibrose Cística. Muitas pessoas
passam, infelizmente, anos e anos tratando diferentes patologias, com manifestações
clínicas bastante graves, sem saber ao certo o que está acontecendo. E isto não é tão
incomum. Vamos entender como funciona o diagnóstico para a Fibrose Cística no Brasil:

4.1 Triagem Neonatal


A primeira forma de identificar a Fibrose Cís- pancreática, e sua concentração costuma
tica é através do Teste do Pezinho, exame estar persistentemente elevada no sangue
no qual algumas gotas do sangue do recém de recém-nascidos com Fibrose Cística,
nascido é coletado do calcanhar do bebê em mesmo nos casos em que ainda há suficiência
um papel especial que é enviado então para pancreática. Esse aumento ocorre por
laboratório para triagem de várias doenças conta da fibrose pancreática que a maioria
genéticas e metabólicas. O teste do pezinho dos pacientes apresenta já no período
na rede pública de saúde está incluído nas
ações do Programa Nacional de Triagem Neo-
natal, instituído no Brasil em 2001. Sabe-se
que há casos de falso positivo e falso nega-
tivo, e, por isto, indica-se que o teste seja re-
feito quando há alteração e que o diagnósti-
co seja confirmado através do Teste do Suor,
que veremos adiante.

Adde (2010) afirma que o teste do


tripsinogênio imunorreativo (IRT –
immunoreactive trypsinogen) é utilizado
para triagem neonatal de Fibrose Cística.
O tripsinogênio é um precursor de enzima

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intrauterino, o que ocasiona refluxo das fato de permitirem a detecção precoce por
enzimas pancreáticas para a circulação. meios de testes seguros e confiáveis, serem
amenizáveis mediante tratamento e serem
De acordo com Rosa et al (2008), recomen- passíveis de acompanhamento em centros
da-se pelo Ministério da Saúde, que se em- de referência.
pregue a dosagem da IRT. Na presença de
alterações no exame, deve-se realizar um Por fim, é importante reforçar que a triagem
segundo exame, preferencialmente no pri- neonatal positiva, segundo Adde (2010)
meiro mês de vida. Se o segundo também deve ser um sinal de alerta ao pediatra
estiver alterado, o diagnóstico é confirma- para diagnóstico de Fibrose Cística, embora
do ou excluído pelo teste do suor, que está também possa se tratar de resultado
alterado em torno de 98% dos pacientes. falso-positivo. Deve-se solicitar o teste do
suor quando dois testes IRT sequenciais
Zanaroli (2008) afirma que o momento resultarem positivos. Contudo, mesmo
para coleta do teste do pezinho, preferen- diante de resultado IRT normal, não se pode
cialmente, não deve ser inferior a 48 horas descartar completamente o diagnóstico de
de alimentação proteica (amamentação) Fibrose Cística se uma criança apresentar
e nunca superior a 30 dias, sendo o ideal sintomas e / ou sinais sugestivos da doença
entre o terceiro e o sétimo dia de vida. As (como íleo meconial) ou tiver irmãos com
características das diversas doenças ana- Fibrose Cística – neste caso, - deve-se
lisadas pelo teste do pezinho incluem o submetê-la ao teste do suor.

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4.2 Teste do Suor
Segundo Ribeiro et al (2002), o Teste do produção de pelo menos 75 mg de suor
Suor é padrão ouro para o diagnóstico da durante um período de coleta não superior a
Fibrose Cística, com elevada sensibilidade 30 minutos. Ela já pode ser efetuada a partir
e especificidade (>95%), baixo custo e não das primeiras semanas de vida, embora
invasivo. em crianças de até quatro semanas haja
dificuldades técnicas em se obter amostras
Atualmente, o único procedimento aceitável adequadas.
é o da dosagem quantitativa de cloretos no
suor, obtidos pelo método da iontoforese Rosa et al (2008) ainda revela que uma
por pilocarpina, padronizado por Gibson & dosagem de cloreto superior a 40 mEq/L é
Cooke. A quantidade de suor deve ter no sugestiva de Fibrose Cística e acima de 60
mínimo 100mg. mEq/L, em duas ocasiões, é diagnóstica. A
concentração do sódio na amostra não deve
Rosa et al (2008) revela que o teste do diferir mais de 15 mEq/l do cloreto.
suor consiste na estimulação da produção
de suor pela pilocarpina, que é colocada Para finalizar, Ribeiro et al (2002) frisam
sobre a pele ou diretamente nas glândulas que o teste de suor normal não exclui o
sudoríparas, usando um gradiente potencial diagnóstico de formas atípicas de Fibrose
(iontoforese) e análise da concentração dos Cística. Atualmente, os casos duvidosos
íons Na e Cl. O teste deve ser executado podem ser confirmados através do estudo
em um centro com pessoal treinado, pela genético, ou da medição da diferença de
técnica da iontoforese da pilocarpina para potenciais do epitélio nasal.

4.3 Análise das Mutações do Gene CFTR

Atualmente, de acordo com Adde (2010), No caso provável de Fibrose Cística, diag-
há vários testes comerciais disponíveis nóstico baseado no quadro clínico, mas
para a análise das mutações CFTR, e a com teste do suor limítrofe ou normal, é
maioria avalia cerca de 30 mutações, ge- necessário um estudo mais extenso das
ralmente associadas à Fibrose Cística clás- mutações CFTR, ou mesmo o sequen-
sica, o que limita sua sensibilidade. Por ser ciamento completo do gene – o que só
o custo do teste genético elevado e pelo costuma ser disponível em laboratórios
fato do resultado negativo não afastar a especializados, segundo Adde (2010).
doença, uma vez que há inúmeras muta-
ções desconhecidas, seu valor é limitado.

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5. Qual a incidência?

A incidência da Fibrose Cística varia entre Já foram descritas mais de 1.900 mutações
os países e grupos étnicos, sendo mais responsáveis pela transmissão da doença, de
comum na população caucasiana (europeia) acordo com o banco de dados de mutações
e chegando a atingir 30 mil pessoas nos no gene CFTR. A mutação ∆F508 é a mais fre-
EUA (1:2.000 nascidos vivos), de acordo quente na população mundial. Nas popula-
com Neto (2008). ções originárias do norte da Europa, a ∆F508
é responsável por 70% a 75% das mutações
de Fibrose Cística, segundo Folescu (2008).
em cada Já nos Estados Unidos, segundo Firmida e Lopes
(2011), a Fibrose Cística afeta cerca de 30.000
crianças e adultos e aproximadamente 70.000
no mundo todo. Na União Europeia, por exem-
plo, 1 em cada 2.000 a 3.000 recém-nascidos

nascidos vivos são afetados por Fibrose Cística, e nos EUA esta
frequência é de 1 em cada 3.500.

Embora seja acentuadamente subdiagnosti-


Um estudo de Raskin (1993) com 2.683 nas- cada na Ásia, Firmida e Castro (2011) revelam
cidos vivos em cinco estados brasileiros das que algumas evidências disponíveis sugerem
regiões Sul e Sudeste estima a incidência de que esta doença é rara naquela região. Na
1 a cada 7.576 nascidos vivos. Além disto, o América Latina, a composição étnica da po-
autor ainda revela que 1 a cada 25 pessoas pulação é bastante heterogênea. Em países
está em risco elevado de ter filhos com a como Uruguai e Argentina, cerca de 90% da
doença se casar com um portador também população é de origem Caucasoide, enquan-
assintomático. E, por ser uma doença reces- to em outras como, por exemplo, México, Co-
siva, cada filho de um casal portador do gene lômbia e Chile, 57 a 87% são mestiços (mis-
CFTR tem 25% de chance de ter Fibrose Cís- tura de Caucasoides com Ameríndios). Ainda
tica, como mostra o quadro abaixo. no Uruguai, Equador, Colômbia, Venezuela e
Brasil, a presença de descentes de africanos
é importante, embora esta percentagem não
ultrapasse 10% da população. A incidência
de Fibrose Cística nestes países, então, varia
de 1: 3.900 a 1: 8.500 nascidos em Cuba e no
México, respectivamente.
Aa Aa
Por fim, Wallis (2003) afirma que é essencial
confirmar ou excluir o diagnóstico preciso da Fi-
brose Cística para evitar testes desnecessários,
implementar terapêutica apropriada, aconse-
AA Aa aA aa lhamento genético e avaliar prognóstico.

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6. Como é realizado o tratamento?
A Fibrose Cística é uma doença multissistê- pulmões, antibióticos para o tratamento
mica, ou seja, afeta diferentes órgãos. Por das infecções, dieta e reposição de enzimas
conta disto, Castro e Firmida (2011) afir-
mam que a abordagem terapêutica deve pancreáticas para melhorar o status nutri-
ser individualizada, levando-se em consi- cional. O transplante de pulmão também é
deração os órgãos e sistemas acometidos uma opção para pacientes adultos com ma-
em cada paciente e o momento da doença nifestações mais severas.
em que ele se encontra.
De acordo com Rosa et al (2008), o trata-
Ainda segundo os autores, a Fibrose Cística mento pré-sintomático ainda é o mais indi-
é uma doença crônica e cursa com momen- cado para pacientes com fibrose cística, e
tos de crises e de intervalo que requerem tem como objetivos adiar as infecções pul-
tratamento de agudização e de manuten- monares, bem como controlar as deficiên-
ção, respectivamente. A busca por melhores cias enzimáticas. Embora grandes avanços
opções terapêuticas e pela cura da Fibrose tenham sido alcançados, o tratamento da
Cística tem sido imensa e acompanhar a fibrose cística por meio da terapia genética,
produção de conhecimentos relacionada a para recuperar a expressão correta do gene
este tema é um grande desafio. ou que regule o sistema de transporte de
íons, é ainda experimental.
Como citamos, a Fibrose Cística é conside-
rada uma doença própria de populações de No tratamento da fibrose cística, vários
origem europeias, rara em populações afri- medicamentos (antibióticos, anti-inflama-
canas e muito rara nos asiáticos. Entretan- tórios, broncodilatadores, mucolíticos) ou
to, muito provavelmente grande parte das procedimentos (fisioterapia respiratória,
mortes pela Fibrose Cística em países onde oxigenioterapia, transplante de pulmão,
a assistência médica é precária não é devi- reposição de enzimas digestórias, suporte
damente diagnosticada, por conseguinte, a nutricional, suporte psicológico e de so-
frequência da doença em populações não cial, terapia gênica) podem ser necessá-
caucasoides deve estar subestimada. rios, incluindo uma equipe multidisciplinar
de profissionais. Além do tratamento me-
Cabello (2011) revela que até o momen- dicamentoso e de outros procedimentos
to ainda não foi encontrada a cura para a clínicos, o cuidado da família é essencial,
doença. As terapias para o tratamento dos e já mostrou trazer benefícios para os pa-
sintomas incluem agentes que promovam o cientes, também é importante que estejam
movimento e a desobstrução do muco nos sempre bem informados sobre a doença.

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7. Considerações Finais
Perto de toda complexidade relacionada à Fibrose Cística,
este material é apenas uma forma de inseri-lo neste uni-
verso. Todos as pessoas com Fibrose Cística precisam de
você, futuro profissional da saúde, para usufruir de uma
melhor qualidade de vida e de um tratamento adequado.

Nossa intenção com este material é, acima de tudo, te con-


tar que a Fibrose Cística existe e, mesmo sendo uma doen-
ça rara, precisa ser estudada e entendida de forma ampla.

Agradecemos imensamente seu interesse em conhecê-la


melhor e permanecemos à disposição para sanar quaisquer
dúvidas que venham a surgir.

Desejamos muito sucesso em sua jornada profissional, e


que você possa contribuir com a nossa missão de tornar a
Fibrose Cística no Brasil, afinal de contas, ela é parte do
que somos, não o limite do que podemos ser.

Obrigado pela participação!


Equipe do Instituto Unidos pela Vida
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Sobre Nós
O Instituto Unidos pela Vida: Nossa História:
O Instituto Unidos pela Vida é uma O Instituto Unidos pela Vida iniciou
associação civil sem fins lucrativos e com suas atividades em 2009, quando nossa
fins não econômicos, cujo objetivo é a fundadora e diretora geral, a Psicóloga
prestação de serviços de apoio, divulgação Verônica Stasiak Bednarczuk, descobriu
e conscientização sobre a doença genética aos 23 anos que tinha Fibrose Cística.
Fibrose Cística, também conhecida como Desde muito pequena apresentou diversos
Mucoviscidose ou Doença do Beijo Salgado. problemas de saúde, principalmente
respiratórios, mas foi somente aos 23
que obteve o diagnóstico. Pensando em
quantas pessoas poderiam viver a mesma
Nossa Missão: situação que ela, por falta de diagnóstico
precoce e tratamento adequado, fundou o
Divulgar a Fibrose Cística, contribuindo para Instituto Unidos pela Vida que, atualmente,
a busca de diagnóstico precoce, tratamento é a única organização brasileira focada na
adequado e melhora na qualidade de vida. conscientização e divulgação da doença
no Brasil, somando resultados expressivos
nos projetos dos programas de Educação,
Comunicação, Apoio & Incentivo que
coordena nacionalmente.

Para conhecer todos os nossos


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8. Referências
Referências Bibliográficas
ADDE, F. V. Técnicas Diagnósticas na Fibrose Cística. Fibrose Cística. São Caetano do Sul, SP, Editora Yendis,
2010. Cap. 4, p.59-72.
CABELLO, G. M. K. Avanços da Genética na Fibrose Cística. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto. Vol.
10, Nº 4, Ano 2011. Disponível em <http://revista.hupe.uerj.br/detalhe_artigo.asp?id=71

CASTRO, M. C. S. D; FIRMIDA, M. D. C. O tratamento da Fibrose Cística e suas Complicações. Revista Hospital


Universitário Pedro Ernesto. Vol. 10. N. 4. Ano 2011. Disponível em http://revista.hupe.uerj.br/detalhe_artigo.
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CERQUEIRA, E. M. F. P.; Aspectos de Imagem do comprometimento pulmonar na Fibrose Cística. Fibrose Cística.
São Caetano do Sul, SP, Editora Yendis, 2010. Cap. 9, p.115-130.
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