Você está na página 1de 11

O Papel da Fisioterapia na

Fibrose Cística

Sueli Tomazine do Prado

Resumo Introdução
A fibrose cística (FC), também conhecida A fibrose cística (FC), também conhecida
como mucoviscidose, é uma doença crônica que como mucoviscidose, é uma doença crônica,
compromete vários órgãos e sistemas, dentre causada por uma alteração genética, autossômi-
eles o respiratório, com produção de muco es- ca e recessiva com manifestação multissistêmica,
pesso e pegajoso, constituindo-se em foco para comprometendo principalmente os sistemas
infecção e inflamação. A progressão da doença respiratório, digestivo e reprodutor. É causada
pulmonar crônica é a causa mais proeminente por mutações no gene da proteína reguladora da
de morbidade e morte em pacientes com FC. condutância transmembrana na fibrose cística
A fisioterapia respiratória é uma das modali- ou cystic fibrosis transmembrane condutance
dades de tratamento para o paciente e deve ser regulator (CFTR). É essencial para o transporte
iniciada logo após o diagnóstico. A fisioterapia de íons através da membrana celular, estando
respiratória emprega técnicas manuais, posturas envolvida na regulação do fluxo de cloro, sódio
de drenagem, controle da respiração e da tosse, e e água. A principal função da proteína CFTR é
aparelhos específicos no tratamento. O objetivo
agir como um canal de cloro, que regula o volu-
desta revisão da literatura foi abordar as técnicas
me do líquido da superfície epitelial1,2,3.
utilizadas pela fisioterapia respiratória na limpe-
Embora seja uma doença genética, em
za das vias aéreas e sua efetividade na eliminação
que o defeito básico acomete células de vários
de secreções, melhora da ventilação pulmonar e
órgãos, nem todos os indivíduos expressam
perfusão a fim de minimizar os efeitos deletérios
respostas clínicas na mesma intensidade. As
da doença e preservar a função pulmonar.
principais manifestações clínicas são pulmo-
PALAVRAS-CHAVE: Fibrose cística; Fi- nares e digestivas4. Com comprometimento
sioterapia; Técnicas fisioterápicas; Desobstrução generalizado das glândulas exócrinas que, em
brônquica. seu estado de manifestação total, produzem altas

118 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


O Papel da Fisioterapia na Fibrose Cística

concentrações de suor eletrolítico, deficiência mento ascendente da camada gel, que é então
de enzimas pancreáticas e doença pulmonar eliminada por meio da tosse ou da deglutição. O
crônica supurativa5. A deficiência no transporte dano na via aérea ocorre pela combinação dos
do cloreto de sódio e diminuição do volume do produtos tóxicos bacterianos e uma resposta
líquido na superfície das membranas das vias inflamatória exagerada do paciente com FC1.
aéreas cursa com produção de muco espesso e
pegajoso. Isto bloqueia os canais nesses órgãos, Manifestações clínicas
resultando em prejuízo na liberação das secre- e complicações
ções e dificultando o funcionamento normal
A FC pode se manifestar já no período
dos pulmões e pâncreas. A retenção do muco
neonatal ou tardiamente. Alguns pacientes
é foco para as infecções crônicas associadas e
permanecem assintomáticos por vários anos
inflamações, que danificam os pulmões e sua
de vida10.
habilidade em prover oxigênio ao organismo.
As manifestações clínicas mais comuns da
Quando o pâncreas é afetado, causa problemas
FC são tosse crônica persistente, que pode ocor-
com a digestão e dificulta o crescimento normal
rer desde as primeiras semanas de vida, diarreia
com baixo peso corporal6,7,8. A desobstrução
crônica e desnutrição; entretanto, ela pode se
das vias aéreas é, portanto, um componente
manifestar de várias outras maneiras, por ser
importante no manejo respiratório do paciente
uma doença que acomete vários sistemas ou
portador de FC. O atendimento fisioterapêutico
órgãos. Muitas crianças apresentam história de
deve ser iniciado logo após o diagnóstico.
bronquiolite de repetição, síndrome do lactente
A fibrose cística e o chiador, infecções recorrentes do trato respira-
tório ou pneumonias recidivantes3,4.
sistema respiratório A doença pulmonar na FC é caracterizada
A expectativa de vida dos pacientes com FC por acúmulo de secreção espessa e purulenta, in-
depende da gravidade e da evolução do compro- fecções respiratórias recorrentes, perda progres-
metimento pulmonar associado com a doença. siva da função pulmonar e clearance mucociliar
A progressão da doença pulmonar crônica é a diminuído10. Essas secreções fornecem um meio
causa mais proeminente de morbidade e morte no qual os patógenos bacterianos crescem. As
em pacientes com FC9. infecções resultantes produzem mais secreções
O envolvimento pulmonar na FC começa e obstruções adicionais. Ocorre hiperplasia
com a produção e retenção de secreções espessas das glândulas e das células secretoras de muco
e viscosas dentro dos bronquíolos. Apesar do dentro dos pulmões5. A colonização bacteriana
sistema de transporte mucociliar não ser afetado secundária à retenção de secreção favorece a
pela doença, este não consegue transportar a metaplasia do epitélio brônquico, impactação
secreção viscosa. As vias aéreas são responsáveis mucoide periférica e desorganização da estru-
pelo transporte, umidificação e aquecimento tura ciliar. Formam-se rolhas mucopurulentas
do ar inalado. Além disso, respondem pela nos brônquios e bronquíolos, com infiltração
depuração de partículas presentes no ar pelo linfocitária aguda e crônica3.
meio mecânico (transporte mucociliar) e bio- As complicações incluem hemoptises re-
lógico (anticorpos e peptídeos antimicrobianos correntes, impactações mucoides brônquicas,
contidos nas secreções respiratórias). No trato atelectasias, empiema, enfisema progressivo,
respiratório, o muco é importante componente pneumotórax, fibrose pulmonar, osteopatia hi-
do sistema de defesa inato do indivíduo. Na pertrófica, hipertensão pulmonar e cor pulmona-
superfície epitelial, a camada viscosa (gel) retém le. As vias aéreas superiores são comprometidas
partículas, e a camada sol, em contato com os quase na totalidade dos pacientes, na forma de
cílios das células epiteliais, possibilita o movi- pansinusite crônica, com reagudizações, otite

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 119


O Papel da Fisioterapia na Fibrose Cística

média crônica ou recorrente, anosmia, defeitos brônquios, compensando o clearence mucoci-


de audição e rouquidão transitória. A polipose liar diminuído. É essencial para minimizar os
nasal recidivante ocorre em aproximadamente efeitos deletérios da doença pulmonar, preservar
20% dos pacientes e pode ser a primeira mani- a função pulmonar, encorajar a boa postura,
festação da doença3,5. prevenir as complicações musculoesqueléticas,
manter resistência e permitir uma boa qualidade
Tratamento de vida3.
Não se deve eleger uma técnica fisiotera-
Apesar dos avanços no conhecimento da
pêutica como sendo a melhor de todas. Tem que
doença, ainda não existe cura para a FC. De-
se levar em conta o crescimento e desenvolvi-
vido ao seu caráter multissistêmico e crônico,
mento, as condições clínicas, o grau de compro-
o tratamento deve ser realizado em centros de
metimento e as condições sociais do paciente.
referência, com equipe multi e interdisciplinar,
A adesão do paciente à fisioterapia depende da
composta por médico Pneumologista, Fisiote-
capacidade do profissional em ajustar as técnicas
rapeuta, Nutricionista, Psicólogo, Enfermeiro
à necessidade do paciente3.
e Assistente Social. Pacientes com boa adesão
ao tratamento apresentam uma mediana de
Avaliação fisioterapêutica
sobrevida que vem aumentando ano a ano,
passando de dois anos, em 1950, para 30-40 As ferramentas de avaliação para monito-
anos atualmente3. rar a progressão da doença e a intervenção no
tratamento incluem testes de função pulmonar
Intervenção fisioterapêutica que fornece o percentual do volume expiratório
final no primeiro segundo (VEF1), a oximetria
no paciente fibrocístico
que avalia a saturação periférica de oxigênio
Os pacientes portadores de FC, em geral, já (SpO2), análise dos gases sanguíneos (gasome-
são acompanhados e tratados pela Fisioterapia, tria arterial). São importantes ainda: cultura de
mesmo antes do diagnóstico de fibrose cística, escarro, capacidade física, avaliação qualitativa
devido ao comprometimento do sistema respi- de aspectos como dispneia e dor, usando dados
ratório, em função do espessamento do muco e subjetivos, ausculta pulmonar, imagem radio-
das inflamações e infecções e recidivantes. gráfica, medidas de percepção de bem-estar,
O tratamento fisioterapêutico deve ser peso e índice de massa corporal e frequência
iniciado logo após o diagnóstico de FC. É im- de exacerbações12.
portante que a fisioterapia faça parte da rotina O fisioterapeuta deverá proceder a uma
diária do paciente, e deve variar de acordo com avaliação do paciente, recorrendo ao prontuário
a indicação do médico e/ou do fisioterapeuta. médico para obter informações sobre a história
A fisioterapia é uma parte do tratamento da FC médica, o curso clínico da doença atual, incluin-
que pode ser muito difícil de ser cumprida, pois do sinais e sintomas e os fatores precipitantes,
requer muita disciplina. Deve ser realizada com tratamentos prévios, radiografias e provas de
regularidade, ao longo da vida do paciente11,12. função pulmonar5.
As áreas não ventiladas tornam-se hipóxicas
e permite o crescimento de micro-organismos. Exame físico
A progressão na obstrução das vias aéreas re- Um criterioso exame físico do paciente
sulta em prejuízo da ventilação, troca gasosa e também fornecerá ao fisioterapeuta informações
necessárias para a prescrição do tratamento,
mecanismos respiratórios, cursando com com-
onde serão observados sinais de dano respira-
plicações musculoesqueléticas. A fisioterapia tório, cianose, uso de musculatura acessória da
tem como objetivo a desobstrução e ventilação respiração, padrões ventilatórios, tipo e mobili-
de todas as áreas dos pulmões, bronquíolos e dade do tórax. A capacidade de tossir e a eficácia

120 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


O Papel da Fisioterapia na Fibrose Cística

desta para eliminar o escarro, a quantidade, cor ratória positiva (PEP), vibração torácica de alta
e, se espesso ou não, também são pontos de frequência e exercícios12.
observação do fisioterapeuta5. A técnica de desobstrução brônquica (TDB)
ou airway clearance techniques (ACT) varia com
Ausculta pulmonar a faixa etária e se baseia na avaliação individual
Deverá fornecer ao fisioterapeuta a presença do paciente. Nos bebês e crianças, os pais devem
de sons normais ou anormais por todo o campo ser ensinados a utilizar algumas técnicas como
pulmonar, como roncos, crepitações, atritos ou posicionamento de drenagem com auxílio da
gravidade, percussão torácica, incentivar brinca-
sibilos. Estes achados deverão ser correlacio-
deiras de soprar, bem como pressão expiratória
nados com as imagens radiográficas e outros
positiva (PEP), drenagem autogênica assistida
achados físicos5. A ausculta pulmonar indicará
(DAA) e exercícios apropriados à idade10.
áreas de hipoventilação ou não ventiladas,
Em crianças com idade acima de três anos,
com acúmulo de secreção ou outros achados
pode ser utilizada a técnica do ciclo ativo da
clínicos, servindo de orientação para instituir
respiração modificada ou em posturas de dre-
o tratamento e técnicas adequados.
nagem. Pressão expiratória positiva (PEP) e PEP
Outras avaliações oscilatória podem ser introduzidas. Exercícios
de fortalecimento também são encorajados em
A avaliação do desenvolvimento é neces- complemento à TDB. Acima dos oito anos, a
sária para o paciente que apresenta episódios criança é incentivada a ter maior independên-
crônicos ou periódicos de hipoxemia, o que cia no tratamento, usando mais variedades de
pode resultar em um déficit maior ou menor no técnicas desobstrutivas, instrumentos e técnicas
sistema nervoso central. Alterações musculoes- apropriadas, sob a supervisão ou ajuda familiar.
queléticas também são frequentes nos pacientes A importância dos exercícios é novamente
com doenças respiratórias. Uma escoliose com reforçada10.
curvatura primária maior que 60° normalmente A frequência e duração do tratamento irão
irá resultar em restrição torácica e diminuição alternar, dependendo da exacerbação das infec-
dos volumes pulmonares5. ções, gravidade da doença e circunstâncias indi-
viduais. Na maioria dos casos, duas vezes ao dia,
Técnicas de fisioterapia por 10-15 minutos é o mínimo recomendado10.
respiratória
A fisioterapia torácica, há muito tempo,
Drenagem postural
tem desempenhado um importante papel para e percussão
ajudar a eliminação de secreções das vias aéreas Esta é a mais tradicional forma de fisiotera-
e, em geral, se inicia logo após o diagnóstico de pia respiratória associada com a fibrose cística
fibrose cística. A fisioterapia respiratória clássica e, frequentemente, é referida como “fisioterapia
se baseia em técnicas nas quais é necessária a convencional”. Compreende a aplicação de téc-
intervenção de um profissional ou cuidador e nicas manual ou mecânica (percussão torácica
inclui drenagem postural, percussão, vibração ou vibração) associada à posição de drenagem
e mobilização torácica. Recentemente, têm-se postural intercalada com huffing e tosse13.
desenvolvido técnicas, ou intervenções auto- O uso do posicionamento para drenar
administradas como alternativa às convencio- secreções baseia-se na anatomia da árvore brô-
nais. Estas incluem a técnica do ciclo ativo da nquica e, considerando que há uma tendência
respiração (CAR) ou active cycle of breathing em acumular muco nas vias mais distais pelo
technique (ACBT), técnica de expiração forçada próprio efeito gravitacional, a drenagem empre-
(TEF), drenagem autógena (DA), pressão expi- ga o posicionamento invertido com o objetivo

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 121


O Papel da Fisioterapia na Fibrose Cística

de encaminhar a secreção para as vias aéreas já soltas, conduzindo-a das vias aéreas de peque-
proximais14. Uma contínua monitoração dos no calibre para as de maior calibre. Estas serão
sinais vitais se faz necessária durante a técnica, mais facilmente expectoradas através da tosse.
principalmente em relação à saturação de oxi- A força e intensidade da técnica são adaptadas
gênio, uma vez que o posicionamento predispõe às necessidades individuais13,16.
os pacientes à dessaturação arterial15.
A drenagem postural tem contraindicação Drenagem autógena
em pós-operatórios imediatos, edema pulmo- A drenagem autógena pode ser realizada
nar, insuficiência cardíaca congestiva, embolia em uma posição efetiva e confortável para cada
pulmonar, hemoptise ativa, cirurgia medular paciente. A utilização de alto fluxo expiratório
recente ou lesão medular aguda, pressão in- produz uma força de cisalhamento nas vias aé-
tracraniana maior que 20 mmHg, hemorragia reas que pode remover o muco das paredes dos
ativa com instabilidade hemodinâmica, derra- brônquios12,13. A técnica é descrita em três fases.
mes pleurais volumosos, infarto do miocárdio A respiração em baixos volumes pulmonares é
e sempre que o paciente referir intolerância à utilizada com o intuito de mobilizar o muco
posição13. periférico, constituindo, desse modo, a primeira
fase ou a fase do “descolar”. Já a segunda etapa,
Percussão pulmonar a de “coletar” o muco, é obtida através de um
São manobras realizadas sobre a superfície período de respiração a volume corrente e, final-
externa do tórax do paciente proporcionando mente, a fase do “eliminar” se faz pela respiração
vibrações mecânicas, as quais são transmitidas a volumes pulmonares mais altos quando se
aos pulmões, gerando mobilização das secre- promove a expectoração das secreções de vias
ções pulmonares. A percussão pulmonar mais aéreas centrais. A tosse é desencorajada até que
utilizada é a tapotagem, aplicada com as mãos a última fase do ciclo se complete. Frequente-
em formato de concha ou ventosa sobre a su- mente é realizada em conjunto com terapia de
perfície torácica correspondente ao segmento inalação e também pode ser usada com pressão
pulmonar a ser drenado, deslocando o muco e expiratória positiva oscilatória (Flutter®) ou
permitindo que este seja mobilizado para as vias pressão expiratória positiva (PEP)13,18.
aéreas centrais, o que facilita sua eliminação. As
contraindicações para a realização da tapotagem Drenagem autógena
são os períodos de pós-operatório, pacientes modificada
com lesão pulmonar, osteoporose, edema agudo
de pulmão, fraturas de costelas, cardiopatias, É uma forma modificada da drenagem autó-
hemoptise ativa e metástase pulmonar. Não gena com menor ênfase nas fases da respiração.
deve ser realizada também quando há ausculta Paciente sentado ou em supino, fase inspiratória
de ruídos sibilantes indicando broncoespasmo, lenta, apneia inspiratória e rápida expiração
ou ainda menos de uma hora a duas após as passiva seguida por expiração ativa contínua do
refeições e em pacientes com hipersensibilidade volume de reserva expiratório13.
cutânea13.
Técnica da expiração
Vibração manual forçada
A vibração consiste na aplicação de movi- Consiste em uma ou duas expirações for-
mentos ritmados que se executam na parede çadas (huffs), de volume pulmonar médio a um
torácica do paciente, apenas durante a fase expi- volume pulmonar baixo, seguida de um período
ratória, aumentando o nível de fluxo expiratório de respiração diafragmática relaxada e contro-
para se conseguir o deslocamento das secreções lada. O huff é uma manobra forçada e a sua

122 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


O Papel da Fisioterapia na Fibrose Cística

duração ou a força de contração dos músculos O sistema de PEP consiste em uma máscara
expiratórios pode ser modulada para ampliar o facial e uma válvula unidirecional inspiratória e
fluxo expiratório e diminuir o risco de colapso uma abertura onde uma resistência expiratória
bronquiolar. Um huff de volume pulmonar é conectada. Um manômetro é inserido no sis-
médio é realizado a partir de uma respiração tema para monitorar a pressão. A terapia com
média com a boca e a glote abertas e o ar deve pressão expiratória positiva consiste em realizar
ser expulso dos pulmões pela ação dos músculos uma expiração contra uma resistência ao fluxo
da parede torácica e os abdominais. Enquanto compreendida entre 10 e 20 cmH2O. Presume-se
um huff de baixo volume pulmonar move secre- que o fluxo aéreo nas porções distais das vias
ções periféricas, um huff de alto volume remove aéreas desloca e remove as secreções em direção
muco localizado nas partes proximais das vias às vias aéreas de maior calibre. A PEP fornece
aéreas superiores. O objetivo desse método é resistência expiratória que parece estabilizar as
promover a remoção de secreções brônquicas vias aéreas menores, prevenindo seu colapso
acumuladas com a menor alteração da pressão prematuro durante a expiração e a tosse com
pleural5,12,13. expiração forçada5,13,17.
A PEP está indicada quando o tratamento
Técnica do ciclo ativo da objetiva reduzir o aprisionamento de ar (asma
respiração e DPOC), mobilizar secreções (fibrose cística),
É utilizada para mobilizar e limpar o ex- prevenir ou reverter atelectasias ou, ainda,
cesso de secreção nos brônquios e pulmões. É otimizar a eficácia da administração de bron-
composta de três fases: controle da respiração, codilatadores em usuários da aerossolterapia
exercícios de expansão torácica e técnicas de medicamentosa18.
expiração forçada10.
É uma modificação da técnica de expira-
Pressão expiratória positiva
ção forçada e consiste na realização de ciclos oscilatória - Flutter®
repetidos de controle respiratório, expansão Flutter é um instrumento de plástico no
torácica e técnica de expiração forçada. A
formato de cachimbo que contém uma esfera
primeira fase envolve o controle respiratório
de aço dentro e combina as técnicas de PEP
através de respirações relaxadas com volume
com oscilações de alta frequência, transmitidas
corrente e predominantemente diafragmáticas,
às vias aéreas. Quando o paciente expira, o
objetivando a prevenção do broncoespasmo.
movimento da esfera cria uma pressão expira-
Já os exercícios de expansão envolvem inspi-
tória positiva de 5 a 35 cmH20 e uma oscilação
rações profundas com expirações tranquilas,
vibratória do ar dentro das vias aéreas com
podendo estar acompanhadas por técnicas de
frequência aproximada de 8 a 26 Hz. O paciente
vibração e percussão. Devem ser em número
pode controlar a pressão alterando seus fluxos
de 6 a 8 exercícios com a finalidade de remover
expiratórios, enquanto que as oscilações podem
secreções, melhorar a ventilação e movimentar
ser modificadas pela mudança da inclinação do
um volume de ar adequado para execução da
aparelho13.
técnica de expiração forçada. Esses exercícios
devem ser divididos em duas etapas de 3 a 4
atividades cada, intercaladas por um período
Exercícios respiratórios
de relaxamento e controle respiratório. Por fim, Os exercícios respiratórios visam promo-
executa-se a TEF para deslocar as secreções em ver a aprendizagem de um padrão respiratório
direção às vias aéreas centrais13,19. normal, a conscientização dos movimentos
tóraco‑abdominais, o ganho de força da mus-
Pressão expiratória positiva culatura respiratória, a realização de atividades

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 123


O Papel da Fisioterapia na Fibrose Cística

físicas e metabólicas de forma satisfatória e com técnicas empregadas para ajudar no clearence
um gasto energético mínimo, a reexpansão pul- mucociliar possam ser implementados a fim de
monar, o aumento da ventilação e da oxigenação proporcionar maior embasamento científico no
e a melhora da mobilidade da caixa torácia6,17,19. tratamento fisioterapêutico do paciente porta-
dor de fibrose cística.
Aerossolterapia ou
inaloterapia Referências
1. Secretaria de Estado da Saúde. Fibrose cística
A indicação mais frequente para a terapia
enfoque multidisciplinar. Hospital Infantil
por inalação se baseia no princípio de que a Joana de Gusmão. Coordenação geral Norberto
hiperviscosidade e a hiperaderência das secre- Ludwig Neto. Florianópolis, 2008.

ções brônquicas podem ser corrigidas quando 2. Davies JC, Alton EWF, Bush A. Cystic fibrosis.
Disponível em: http://www.arabmedmag.com/
o muco estagnado nas vias aéreas é hidratado.
issue-01-04-2008/rheumatology/main01.htm
Nestes casos, são utilizadas substâncias diluentes
3. Ribeiro JD, Ribeiro MAGO, Ribeiro AF.
como água ou soluções salinas capazes de diluir Controvérsias na fibrose cística - do pediatra
a concentração do muco por adição de solventes. ao especialista. J Pediatr 2002; 78(Supl.
2):S171-S186.
Pode ser administrada em conjunto com a tera-
pia medicamentosa, sobretudo os mucolíticos, 4. Ribeiro AF, Ribeiro JD, Ribeiro MAGO. Fibrose
Cística. In: Tratado de Clínica Médica. Seção
antibióticos e broncodilatadores, fluidificando 13, p. 2586.
as secreções, diminuindo os processos inflama-
5. Tecklin JS. Fisioterapia Pediátrica. Doenças
tórios e reduzindo o broncoespasmo17,18. Pulmonares em Bebês e em Crianças e
Tratamento Fisioterapêutico. 3ª ed. Artmed.
Conclusão 6. Dwyer TJ, Alison JA, McKeough ZJ, et al. Effects
of exercise on respiratory flow and sputum
A evolução no tratamento da fibrose cística properties in patients with cystic fibrosis. Chest
tem aumentado a sobrevida dos pacientes; po- 2011; 139:870-7.
rém, os danos causados aos sistemas orgânicos 7. Cystic Fibrosis Foundation. Patient Registry
com a progressão da doença ainda são motivos 2006 Annual Report. Bethesda, Maryland, 2008.
de preocupação e pesquisas. Vários estudos 8. Lannefors L, et al. Physiotherapy in infants and
demonstram que embora ainda não haja com- young children with cystic fibrosis: current
practice and future developments. J R Soc Med
provação evidente dos efeitos e benefícios das 2004; 97(Suppl. 44):8-25.
técnicas utilizadas pela fisioterapia respiratória,
9. Reis FJC, Damaceno N. Fibrose cística. J Pediatria
ou ainda, qual seja a melhor técnica ou se a 1998; 74(Supl. 1):S76-S94.
associação de duas ou mais técnicas resultam 10. Clinical Guidelines: Care of Children with
em um aumento da quantidade de secreção Cystic Fibrosis. Royal Brompton Hospital,
2011, 5th ed. Disponível em: www.rbht.nhs.
eliminada e melhoria na perfusão e na função
uk/childrencf
pulmonar comparando com nenhuma terapia,
11. Manual para pacientes con fibrosis quística y
os resultados sejam os mesmos. De acordo sus padres. Organización Mundial de la Salud.
com o Pulmonary Therapies Committee, apesar 1996 Traducción al español por Diego Verger
para Cystic Fibrosis Worldwide, 2007.
da ausência de estudos randomizados, ensaios
clínicos controlados, os dados disponíveis e 12. Van der Schans C, Prasad A, Main E. Fisioterapia
torácica comparada con ausencia de fisioterapia
na experiência clínica, as técnicas de fisiote- torácica para la fibrosis quística. Disponível em:
rapia respiratória convencional parecem ser www2.cochrane.org/reviews/es/ab001401.html
eficientes. Recomenda-se que a desobstrução 13. Clinical Guidelines for the Physiotherapy
das vias aéreas dos pacientes seja feita com re- Management of Cystic Fibrosis. Cystic Fibrosis
Trust. January, 2002. Disponível em: www.
gularidade. Sugerimos que estudos controlados cftrust.org.uk/aboutcf/.../C_3400Physiotherapy.
e comparativos, com a aplicação das diferentes pdf

124 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


O Papel da Fisioterapia na Fibrose Cística

14. Pryor J. Depuração mucociliar. In: Elizabeth


Ellis & Jennifer Alison. Fisioterapia
Abstract
Cardiorrespiratória Prática. Rio de Janeiro: Cystic fibrosis (CF), also known as mucovis-
Revinter, 1997.
cidosis, is a chronic disease that affects multiple
15. Costa D. Fisioterapia respiratória básica. 1ª organ systems, including the respiratory system
edição. São Paulo: Atheneu, 1999.
to produce thick, sticky mucus which makes it
16. Gaskell DV, Askell DV, Webber BA. Fisioterapia an outbreak of infection and inflammation. The
Respiratória. Guia do Brompton Hospital. 4ª
edição. Rio de Janeiro: Colina Editora, 1988. progression of chronic lung disease is the most
prominent cause of morbidity and death in pa-
17. James RY, Bruce CM, Beth S, et al. Cystic
Fibrosis Adult Care: Consensus Conference tients with CF. Respiratory therapy is a treatment
Report. Chest 2004; 125;1S-39S. modalities for the patient, and must be initiated
18. Physiotherapy for people with Cystic immediately after diagnosis. Respiratory therapy
Fibrosis: from infant to adult. International employs manual techniques, postures, drainage,
Physiotherapy Group for Cystic Fibrosis.
Disponível em: www.cfww.org/docs/ipg-cf/ control of breath and coughing, and specific
bluebook/bluebooklet2009websiteversion.pdf apparatus for the treatment. The purpose of
19. Patrick AF, Karen AR, Brian POS, et al. Clinical this review was the approach of the techniques
Practice Guidelines for Pulmonary Therapies used by physiotherapy for airway clearance
Committee. Cystic Fibrosis Pulmonary
Guidelines: Airway Clearance Therapies. and its effectiveness in removing secretions,
Respir Care 2009; 54:522-37. improves pulmonary ventilation and perfusion
to minimize the deleterious effects of disease
and preserve lung function.
KEY WORDS: Cystic fibrosis; Physiotherapy;
Physiotherapy techniques; Airway clearance.

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 125


Titulação dos Autores

Editorial Elizabeth de Andrade Marques

Professora Associada da Disciplina de


Agnaldo José Lopes
Microbiologia da FCM/UERJ;
Professor Adjunto da Disciplina de Pneumologia e
Chefe do Laboratório de Bacteriologia do
Tisiologia da FCM/UERJ;
HUPE/UERJ.
Coordenador do Ambulatório de Fibrose Cística da
Policlínica Piquet Carneiro da UERJ. Artigo 3: Avanços da Genética
na Fibrose Cística.
Mônica de Cássia Firmida
Professora Assistente da disciplina de Pneumologia e Giselda Maria Kalil de Cabello
Fisologia da FCM/UERJ;
Doutora em Biologia Celular e Molecular pelo
Médica do Ambulatório de Fibrose Cística da
Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz;
Policlínica Piquet Carneiro da UERJ.
Pós-Doutorada em Nanociência e Nanotecnologia
Marcos César Santos de Castro pelo Centro de Nanociência e Nanotecnologia/
Universidade de Brasília.
Mestrando em Ciências Médicas pela Universidade
Federal Fluminense (UFF);
Artigo 4: Fisiopatologia e
Médico do Ambulatório de Fibrose Cística da
Policlínica Piquet Carneiro da UERJ.
Manifestações Clínicas da Fibrose
Cística.
Artigo 1: Aspectos
Mônica de Cássia Firmida
Epidemiológicos da Fibrose
Cística. (Vide Editorial)

Bruna Leite Marques


Mônica de Cássia Firmida
Residente de Pneumologia e Tisiologia do
(Vide Editorial) HUPE/UERJ.

Agnaldo José Lopes


Cláudia Henrique da Costa
(Vide Editorial)
Professora Adjunta da Disciplina de Pneumologia e
Tisiologia da FCM/UERJ;
Artigo 2: Perfil Microbiológico Coordenadora da Disciplina de Pneumologia e
na Fibrose Cística. Tisiologia da FCM/UERJ.

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 9


Artigo 5: Avanços no Diagnóstico por Imagem do HUPE/UERJ.

Diagnóstico da Fibrose Artigo 7: Testes de Função


Cística – Visão Crítica. Pulmonar em Adultos
Tânia Wrobel Folescu Fibrocísticos.
Médica assistente do Departamento de
Agnaldo José Lopes
Pneumologia Pediátrica do Instituto Fernandes
Figueira – Fundação Oswaldo Cruz (IFF- (Vide Editorial)
FIOCRUZ);
Mestre em Ciências Médicas pela FCM/UERJ.
Anamelia Costa Faria

Renata Wrobel Folescu Cohen Médica do Serviço de Pneumologia e Tisiologia do


HUPE/UERJ.
Residente de Pediatria do Instituto Fernandes
Figueira – Fundação Oswaldo Cruz Thiago Thomaz Mafort
(IFF-FIOCRUZ).
Residente de Pneumologia e Tisiologia do
Artigo 6: A Radiologia do Tórax HUPE/UERJ.

na Fibrose Cística. Renato de Lima Azambuja

Domenico Capone Residente de Pneumologia e Tisiologia do


HUPE/UERJ.
Professor Adjunto da Disciplina de Pneumologia e
Tisiologia da FCM/UERJ.
Rogério Rufino
Raquel E. B. Salles Professor Adjunto da Disciplina de Pneumologia e
Tisiologia da FCM/UERJ.
Médica do Serviço de Pneumologia e Tisiologia do
HUPE/UERJ.
Artigo 8: O Tratamento
Maurício R. Freitas na Fibrose Cística e suas
Médico Residente do Serviço de Radiologia e Complicações
Diagnóstico por Imagem do HUPE/UERJ.
Marcos César Santos de Castro
Leonardo Azevedo
(Vide Editorial)
Médico Residente do Serviço de Radiologia e
Diagnóstico por Imagem do HUPE/UERJ.
Mônica de Cássia Firmida

Rodrigo Lucas (Vide Editorial)

Médico Residente do Serviço de Radiologia e


Diagnóstico por Imagem do HUPE/UERJ.
Artigo 9: Transplante na
Fibrose Cística.
Oswaldo Montessi
Marcos César Santos de Castro
Médico Residente do Serviço de Radiologia e
Diagnóstico por Imagem do HUPE/UERJ. (Vide Editorial)

Carla Junqueira Mônica de Cássia Firmida


Médica Residente do Serviço de Radiologia e (Vide Editorial)

10 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


Agnaldo José Lopes Mônica de Cássia Firmida
(Vide Editorial) (Vide Editorial)

Artigo 10: O Papel da Artigo 14: As Representações


Fisioterapia na Fibrose Cística Sociais da Fibrose Cística em
Sueli Tomazine do Prado Pacientes Adultos
Fisioterapeuta do Ambulatório de Fibrose Cística Lucinéri Figueiredo da Motta Santos
da Policlínica Piquet Carneiro da UERJ.
Assistente Social do Ambulatório de Fibrose Cística
Artigo 11: Cuidados na da Policlínica Piquet Carneiro da UERJ.

Utilização e na Limpeza Artigo 15: O Trabalho


de Nebulizadores e
da Associação Carioca de
Compressores para a Redução
de Infecções Recorrentes em
Assistência a Mucoviscidose
no Estado do Rio de Janeiro.
Pacientes com Fibrose Cística.
Roberta Cristina Guarino
Samária A. Cader
Assistente Social e especialista em Responsabilidade
Doutora em Fisioterapia. Social.

Adalgisa I. M. Bromerschenckel Coordenadora da ACAM/RJ.

Fisioterapeuta especialista em Pneumofuncional; Tatiane Andrade


Coordenadora da Divisão de Fisioterapia da UERJ;
Fisioterapeuta da ACAM/RJ;
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em
Ciências Médicas da UERJ. Mestranda do Curso de Pós-graduação em Ciências
do Cuidado da Saúde – EEAAC/UFF.
Sueli Tomazine do Prado
Solange Cunha
(Vide Artigo 10)
Assistente Social da ACAM/RJ e especialista em
Artigo 12: Fibrose Cística gestão de pessoas;

e Suporte Nutricional no Coordenadora da ACAM/RJ.

Adulto Ana Carolina Victal


Carolina Fraga de Oliveira
Psicóloga da ACAM/RJ.
Nutricionista da ACAM/RJ.
Carolina Fraga de Oliveira
Mariana Jorge Favacho dos Santos
Nutricionista da ACAM/RJ.
Nutricionista do Ambulatório de Fibrose Cística da
Policlínica Piquet Carneiro da UERJ. Joana Carvalho

Artigo 13: Gestação na Acadêmica de Serviço Social e estagiária da


ACAM/RJ.
Paciente com Fibrose Cística
Eloá Lopes
Marcos César Santos de Castro
Acadêmica de Fisioterapia e estagiária da
(Vide Editorial) ACAM/RJ.

Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 11

Você também pode gostar