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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação e Exercício Profissional em
Serviço Social – GEFESS
Programa de Extensão e Pesquisa em Saúde Urbana, Ambiente e
Desigualdades

RELATÓRIO FINAL DO PROJETO DE PESQUISA:


DESAFIOS INTERDISCIPLINARES NOS PROCESSOS DE
FORMAÇÃO E TRABALHO EM SAÚDE URBANA NA COMUNIDADE

Pesquisadora:
Profª. Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy

Financiamento:
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq –
Edital nº 07/2011- CNPq/ CAPES/ 31/12/2011- Processo 402031/2011-3

Porto Alegre
Dezembro, 2014
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

NOME DO PROJETO: DESAFIOS INTERDISCIPLINARES NOS PROCESSOS DE


FORMAÇÃO E TRABALHO EM SAÚDE URBANA NA COMUNIDADE

PERÍODO DE REALIZAÇÃO: dezembro de 2011 a dezembro de 2014

COORDENADORA DO PROJETO:
Profª Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy – Grupo de Estudos e Pesquisa em
Formação e Exercício Profissional em Serviço Social-GEFESS/ UFRGS. Programa
de Extensão e Pesquisa em Saúde Urbana, Ambiente e Desigualdades/UFRGS

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE DE PESQUISA:


Pesquisadora e supervisora da pesquisa de campo:
Profª. Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy GEFESS/ UFRGS

Pesquisadores da equipe:
Alzira Mª B. Lewgoy (Serviço Social);
Maria Inês Azambuja (Medicina);
João Henrique Godinho Kolling (Medicina);
Roberta Alvarenga Reis (Fonoaudiologia) – ano 2013
Maurem Ramos (Nutrição) – ano 2013

Auxiliares da pesquisa – alunos de iniciação científica:


Elisa Leivas Waquil (Serviço Social)
Gabriela Zanin (Serviço Social)
Pamela Pasqualotto Rosseto (Serviço Social)

Colaboração – bolsistas voluntários:


Anely Marmitt (Serviço Social)
Cristiano Borges Martins (Psicologia)
Denise dos Santos (Serviço Social)
Marília Backes (Arquitetura)
Rafaela Faccin (Nutrição)

Consultores voluntários:
Prof. Juliana Balbinot Hilgert – PPG Odontologia Social, UFRGS (WHOQOL)
Prof. Andrea Fachel – Curso de Política Públicas, UFRGS (WHOQOL)

INSTITUIÇÕES PARCEIRAS:

Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS):


a) Curso de Serviço Social do Instituto de Psicologia e Curso de Psicologia do
Departamento de Psicologia e de Personalidade;
b) Faculdade de Medicina - Departamento de Medicina Social (Medicina e
Nutrição)
c) Faculdade de Odontologia - Departamento de Odontologia Social (Curso de
Fonoaudiologia)
d) Programa Interdepartamental de Extensão e Pesquisa Saúde Urbana,
Ambiente e Desigualdades www.ufrgs.br/saudeurbana

Parceiros externos
a) Unidade Básica de Saúde/ HCPA- Santa Cecília
b) CRAS - Centro
c) Comunidade da Vila Sossego

ÓRGÃOS FINANCIADORES:

a) CNPq – órgão financiador deste Projeto de Pesquisa

b) MEC/PROEXT- órgão financiador do Programa Saúde Urbana, Ambiente e


Desigualdades, promotor do Projeto de Extensão InterSossego, base deste
Projeto de Pesquisa
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................06

2 A PESQUISA E OS REFERENCIAIS TEÓRICOS...........................................08

3 OBJETIVOS PROPOSTOS E PROCESSO METODOLÓGICO: A


CONSTRUÇÃO COLETIVA DA PESQUISA .................................................14
3.1 OBJETIVOS....................................................................................................14
3.2 O PROCESSO METODOLÓGICO DA PESQUISA QUANTITATIVA E
QUALITATIVA.................................................................................................15
3.2.1 Universo e instrumentos..........................................................................17
3.2.2 A construção coletiva da pesquisa......................................................... 20
3.3 QUESTÕES ÉTICAS E DEVOLUÇÕES DO RESULTADOS....................... 26

4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS................................... 27


4.1 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA DAS HABITAÇÕES
E DA POPULAÇÃO………………………………………………………………... 27
4.2 A DINÂMICA DAS RELAÇÕES SOCIAS NO ACESSO AOS DIREITOS DE
CIDADANIA , NO CONTEXTO DA COMUNIDADE VILA SOSSEGO.......... 36
4.2.1 Caracterização dos sujeitos pesquisados…............................................ 36
4.2.2 Cidadão, Cidadania e participação, a compreensão dos sujeitos
pesquisados................................................................................................ 40

5 PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES PARA O ESTUDO DA TEMÁTICA


INVESTIGADA.................................................................................................. 45

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS………………………………... 48

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 50
ANEXOS E APÊNDICES

ANEXO A– Aprovação do Comitê de Ética.......................................................... 54


ANEXO B – Ficha A adaptada pela UBS HCPA/Sta. Cecília................................55
ANEXO C – WHOQOL Breve...............................................................................59
APÊNDICE A - Instrumento de Pesquisa – Termos de Consentimento Livre
Esclarecido- Questionário Domicílio e WHOQOL breve.......................................... 62
APÊNDICE B - Instrumento de Pesquisa – Manual do Entrevistador................. 63
APÊNDICE C - Instrumento de Pesquisa- Questionário Domicílio...................... 67
APÊNDICE D- Apresentações da Pesquisa nos Salões de Iniciação Científica
2013/2014............................................................................................................ 71
APÊNDICE E – Apresentação da pesquisa no I Congresso de Geografia
da Saúde dos Países de Língua Portuguesa Coimbra, Portugal – 2014............. 72
APÊNDICE F- Apresentação da Pesquisa no XIV ENCONTRO DE
PESQUISADORES EM SERVIÇO SOCIAL - ENPESS- Natal/RN- 2014........... 73
APÊNDICE G – PUBLICIZAÇÃO DA PESQUISA NA COMUNIDADE VILA
SOSSEGO NO JORNAL SAÚDE SOSSEGO 12º EDIÇÃO/2014....................... 74
1 INTRODUÇÃO

O presente relatório tem por finalidade sintetizar o trabalho de investigação


desenvolvido pela pesquisa intitulada “DESAFIOS INTERDISCIPLINARES NOS
PROCESSOS DE FORMAÇÃO E TRABALHO EM SAÚDE URBANA NA
COMUNIDADE”, realizada no período de março de 2012 a dezembro de 2014. Foi
constituída de uma parte quantitativa de caracterização sócio-demográfica e de
saúde e qualidade de vida da população local, e de uma parte qualitativa, voltada a
aprofundar o entendimento sobre as demandas por direitos sociais e as formas de
encaminhá-las coletivamente, na comunidade Vila Sossego, e, a partir deste
entendimento, identificar os desafios postos à formação profissional e ao trabalho
interdisciplinar em comunidades, na perspectiva da saúde urbana.

Este projeto de pesquisa emergiu a partir de um Projeto de Extensão


iniciado em 2011 em Porto Alegre titulado “INTEGRALIDADE E
INTERSETORIALIDADE: TRABALHO MUTIPROFISSIONAL NUMA MICRO
REGIÃO DA UBS HCPA /SANTA CECÍLIA”, título informalmente abreviado para
Projeto InterSossego. O Projeto InterSossego já tem 3 anos de atividades, com foco
em uma comunidade de aproximadamente 300 pessoas habitando irregularmente,
há mais de 30 anos, uma área central de Porto Alegre. Em 2008, parte do território
ocupado – área pública - foi reconhecida como Área Especial de Interesse Social
(AEIS), ou seja, destinada a reurbanização com manutenção dos moradores no local.
Passados seis anos, o processo de construção de moradias ainda não aconteceu.

Os objetivos do projeto de extensão são: 1) identificar, com os moradores,


determinantes ambientais e sociais de saúde no local onde eles habitam; 2)
identificar, com moradores, alunos e profissionais parceiros, as possibilidades e
limites da prestação setorizada de serviços públicos, no que tange à modificação de
determinantes ambientais e sociais no nível local, e 3) trabalhar, entre todos os
envolvidos – professores, profissionais, alunos e comunidade, temas como,
democracia, participação e autonomia, com vistas favorecer o diálogo interdisciplinar,
intersetorial e com a comunidade, tendo como objetivos a solução de problemas
locais e a produção de melhores condições de vida e de saúde na Comunidade
(LEWGOY et al, 2011).
7

Assim, a pesquisa emergiu da necessidade de entendermos a dinâmica das


relações sociais na Vila Sossego, e a relação da mesma com a cidade, ou seja,
como os moradores se organizam dentro da Comunidade, como a comunidade se
relaciona com representantes de órgãos públicos, representações políticas e outras
instituições e como se processa o encaminhamento de suas demandas sociais e a
luta por cidadania (LEWGOY et al, 2011).

A temática abordada é complexa e o uso de abordagens quantitativas ou


qualitativas isoladamente pareceu-nos insuficiente para lidar com essa
complexidade. A natureza interdisciplinar da pesquisa foi outro fator que contribuiu
para a proposição e desenvolvimento de uma abordagem mista (CRESWEL, 2011),
quantitativa e qualitativa, já que a equipe é composta por pesquisadores cujos
interesses e experiências metodológicas são diferentes. Se por um lado, isso
potencializou o conhecimento sobre a realidade local, por outro, o tempo para a
conclusão se ampliou, tendo em vista a necessidade da negociação de consensos
na equipe.

Este relatório está estruturado em quatro partes. Os conteúdos abordados


são apresentados na introdução. No segundo capítulo contextualiza-se a pesquisa e
o referencial teórico sobre o tema. Na sequência, apresentam-se os objetivos da
pesquisa e como esta se constituiu metodologicamente. No capítulo quatro é
apresentada a descrição e a interpretação dos resultados obtidos a partir da
pesquisa de campo. Por fim, busca-se avaliar quanto das metas previstas foram
atingidas pela pesquisa, identificar as principais contribuições da pesquisa à
temática proposta, assim como delinear o desenvolvimento futuro desta linha de
investigação, de forma a produzir avanços científicos e sociais no campo da
formação profissional e do trabalho interdisciplinar na perspectiva da saúde urbana.
8

2 A PESQUISA E OS REFERENCIAIS TEÓRICOS

Como mencionado acima, o projeto de pesquisa nasceu da experiência de um


ano no Projeto de Extensão Comunitária InterSossego, com o objetivo de aprofundar
o diagnóstico sócio-demográfico e ambiental do contexto local e da organização da
prestação de serviços, e desafiar o grupo a refletir, de forma interdisciplinar, sobre a
adequação da formação profissional às necessidades e demandas locais, e sobre o
papel da universidade na promoção da cidadania.

Na pesquisa participaram, em diferentes momentos, professores e/ou alunos


de graduação dos seguintes cursos: Arquitetura e Urbanismo, Ciências Sociais,
Comunicação Social, Enfermagem, Fonoaudiologia, Geografia, Medicina, Nutrição,
Odontologia, Pedagogia, Psicologia, Saúde Coletiva e Serviço Social (coordenação),
além de profissionais médicos, enfermeiros, assistentes sociais, educadores físicos
e agentes comunitários com atuação local. Esta investigação buscou sempre
favorecer múltiplos olhares sobre o contexto e principalmente a troca de percepções
entre alunos, profissionais e a comunidade (FREIRE, 2005).

A pesquisa foi ancorada em alguns conceitos já relativamente estabelecidos,


tais como interdisciplinaridade, território, desigualdades, formação, produção do
conhecimento, democracia e comunidade, e estão contribuindo para a construção de
outro – o de saúde urbana. Chama a atenção, nas áreas de formação profissionais
de áreas mais “técnicas” como a Medicina, a Odontologia, a Enfermagem, a
Fonoaudiologia e a Nutrição. a pouquíssima exposição dos alunos a este tipo de
conhecimento, e seu interesse em aprender e trocar experiências com colegas das
áreas “sociais”. As discussões no grupo interdisciplinar são desafiadoras e um
grande aprendizado de escuta, pois o desenvolvimento interdisciplinar, intersetorial e
comunitário dos projetos de extensão e de pesquisa exige que o grupo dialogue
respeitando as diferenças originais de formação e da cultura de cada área que
participa do processo.

A pesquisa interdisciplinar engajada aponta para um panorama "[...] mais


amplo, mais complexo, mais inseguro, desconhecido e inacabado no plano teórico,
9

constituindo maiores desafios para os investigadores que adotam.”


(VASCONCELOS, 2002, p 171).

Por esta razão, uma revisão de conceitos-chave e seus significados foi


realizada com base no corpo de conhecimentos que está à nossa disposição, como
academia, mas foco no contexto da extensão e da pesquisa na Vila Sossego, e do
Programa Saúde Urbana a que se vincula a Extensão.
Por isto, iniciamos pelo conceito de saúde urbana. É uma concepção que
envolve as diversas áreas, por partilharmos projetos comuns de extensão e de
pesquisa na UFRGS. O grupo entende que precisamos intensificar o debate público
sobre a saúde urbana, o meio ambiente e as desigualdades na universidade e no
Brasil.
A Saúde Urbana pode ser considerada, como aborda Caiaffa (2008, p.5),

[...] um ramo da saúde pública que estuda os fatores de riscos da


cidade, seus efeitos sobre a saúde e suas relações sociais urbanas.
Os atuais pilares da saúde urbana são: o adensamento de
populações; o papel do ambiente físico e social como modelador da
saúde das pessoas; a necessidade de aferir os fenômenos tendo
como objeto as desigualdades injustas e evitáveis do ambiente físico,
social em saúde e a governança e a governabilidade como propostas
para as soluções para as iniquidades.

Neste sentido, vale lembrar trecho do documento da OMS/UNHABITAT


denominado Hidden Cities (Cidades ocultas: desmascarando e superando as
iniquidades em saúde nos ambientes urbanos, 2010, p.10, apud LEWGOY et al,
2014):
Sobrecarregados pela velocidade do crescimento, muitos governos
não estão acompanhando a expansão continuada de necessidades
de infraestrutura e serviços. O resultado disto e que muitas áreas
urbanas contém – ao mesmo tempo, e nas mesmas cidades – o
melhor e o pior para a saúde e o bem-estar.

Também o diálogo do vídeo canadense Unnatural Causes (2008, apud


Azambuja et al, 2010), é bem explícito sobre a relação entre desigualdades na
população (hoje majoritariamente urbana) e a saúde:
10

[...] - Blackwell: A primeira coisa necessária é reconhecer que onde


você vive impacta na sua saúde. Que o ambiente na comunidade, o
ambiente social e o econômico juntos, determinam se teremos ou
não uma existência saudável.

[...] - Williams: Isto significa que política de habitação é política de


saúde. Educação é política de saúde. Política antiviolência é política
de saúde. Políticas de melhorias nos bairros são políticas de saúde.
Tudo que nós fizermos para melhorar a qualidade de vida dos
indivíduos na sociedade tem impacto na sua saúde e é política de
saúde

Observa-se assim, que os fenômenos que incidem sobre os territórios e as


comunidades resultam de diversos fatores em interação complexa e dinâmica. Por
isso é que a aproximação, a análise e a intervenção em meio a essa realidade
exigem dos profissionais uma série de novos requisitos, como o de permitir-se
dialogar com as diferenças das outras profissões em equipes interdisciplinares,
entendendo que o seu saber técnico não é o único e que ele não dispõe de todas as
respostas.

Historicamente fomos educados dentro de uma perspectiva de fragmentação


do conhecimento, onde mesmo as instituições de âmbito educacional têm em sua
base o modelo industrial, que impõe a disciplina, a eficiência e a ordem. A
interdisciplinaridade surge como uma estratégia para entender a realidade na sua
integralidade, a partir de diferentes óticas e áreas de saber. Segundo Paviani (2008),
essa nova perspectiva tem sua origem na transformação dos modos de produzir
ciência e de perceber a realidade e, igualmente, no desenvolvimento dos aspectos
político-administrativos do ensino e da pesquisa nas organizações e instituições
científicas. Sendo assim, ao considerar que a realidade é multidimensional,
composta por diferentes e diversos fatores, na contemporaneidade percebeu-se que
o modelo tradicional de disciplinarização/segmentação do conhecimento tornou-se
insuficiente para responder todas as demandas atuais.

Trabalhar de forma interdisciplinar é um desafio cotidiano, pois requer


flexibilidade, humildade, crítica e motivação (uma disposição subjetiva de aprender
com o outro), contínua dos profissionais que compõe as equipes, processo esse que
foi vivenciado pelos pesquisadores e bolsistas. Segundo Ferreira (1993), a
interdisciplinaridade é uma relação de “reciprocidade, de multiutilidade que
11

pressupõe uma atitude diferente a ser assumida frente ao problema do


conhecimento, ou seja, é a substituição de uma concepção fragmentária para uma
concepção unitária do ser humano.” (p. 21). Mas a interdisciplinaridade não significa
a dissolução das disciplinas num saber unificado, e sim o compartilhamento do
saber de cada disciplina a partir de um objetivo comum (STAUDT, 2008). E é
fundamental entender que essa perspectiva não se restringe ao “[...] diálogo entre
conhecimentos, pois ela, antes de tudo, é uma categoria de ação” (PAVIANI, 2008, p
19).

Essencialmente, é preciso romper com a lógica industrial que há tempos foi


instaurada em nossa sociedade, pois o ser humano não é fragmentado, ele constitui-
se dentro de uma totalidade e é preciso saber olhar para ela conjuntamente. Para
isso é preciso acolher as diferenças, entendendo que não somos os protagonistas
da intervenção, esse papel é destinado ao sujeito ao qual o nosso trabalho é dirigido.
A interdisciplinaridade faz que as equipes de trabalho e projetos abriguem um poder
democrático e transformador (LEWGOY; MENDES; SILVEIRA, 2008, p. 31).

No SUS, a diretriz de interdisciplinaridade que tem orientado as propostas de


atenção à saúde da população é um bom exemplo de enfrentamento aos desafios a
que nos referimos acima. Mas parece-nos que os desafios no SUS ainda são
basicamente desafios de integração interdisciplinar setorial, com foco
predominantemente na assistência dos usuários. Por exemplo, o Ministério da
Saúde tem enfatizado a necessidade de os profissionais de saúde adquirirem
conhecimento aprofundado do território de atuação de seus serviços como elemento
fundamental para o desenvolvimento de um processo de trabalho efetivo na Atenção
Primária (BRASIL, 2007). No entanto, parece-nos que mesmo quando a Atenção
Primária é informada pela perspectiva espacial, o resultado pretendido limita-se à
qualificação da oferta de serviços de assistência saúde, nos locais (LEWGOY et al,
2014).
A participação comunitária nas instâncias do SUS também tem limitado-se a
discutir a assistência (mais médicos, mais dentistas, mais remédios, entre outros),
pouco debatendo a Saúde como bem social que precisa não só ser recuperado (no
caso de adoecimento), mas também promovido ( LEWGOY et al, 2014 ).
12

McNamara (2011) diz que os determinantes sociais da saúde – condições da


vizinhança, trabalho, qualidade da educação, distribuição da renda, racismo, – são
consequências de um determinante anterior: a política. E que quando profissionais
de Saúde Pública reconhecem que a saúde está fora das possibilidades do sistema
de assistência , mas aceitam que ela seja suscetível à intervenção política, deveriam
dar o próximo passo, e aceitar que a promoção da saúde seja responsabilidade de
atores políticos. Mas quem são os atores políticos senão todos nós? ( LEWGOY et al,
2014 ).
O Brasil é um dos únicos países do mundo a definirem o município - a
entidade administrativa urbana local - como um ente federativo. Pela Constituição
Federal, esta entidade – Município/Cidade - constitui a esfera mais local de poder
(ao lado dos Estados e União). Embora as desigualdades intraurbanas dependam
de processos globais, nacionais e locais, o nível urbano é o nível mais próximo
suscetível de mediação política. E é nas cidades que vive hoje a grande maioria da
população brasileira. Ou seja, a cidade que concentra a população e onde se
expressa de forma mais evidente a desigualdade é também onde está o primeiro
nível de organização capaz de, através da ação política, mudar a realidade social e
ambiental, com impacto na saúde da população ( LEWGOY et al, 2014 ).

Quando se pensa a saúde a partir da perspectiva dos determinantes sociais e


ambientais do adoecimento desigual, e se localiza espacialmente as desigualdades
com vistas a tentar influir sobre elas através da ação política, já deixamos para trás o
contexto meramente setorial das políticas públicas de Saúde para pensar em como
produzir interdisciplinaridade e intersetorialidade que dê conta de modificar as
condições de moradia, renda, trabalho, educação, e o acesso a serviços de saúde,
com o objetivo de produzirmos mais saúde e qualidade de vida. Mas se andarmos
ainda um passo mais para trás, na direção das causas das causas, então teremos
que considerar os processos sociais, econômicos e políticos que fomentam e
mantém as desigualdades ambientais e sociais - que no grupo desfavorecido se
expressam como pobreza, assentamentos urbanos irregulares, más condições de
trabalho, baixa qualidade da educação, e má saúde. Ou seja, precisaremos não só
de um fazer interdisciplinar mais amplo, como também de mais integração
13

profissionais X comunidade, todos nós ao mesmo tempo produto e produtores


destes processos políticos, econômicos e sociais ( LEWGOY et al, 2014 ).

Um grande desafio que se põe hoje aos pesquisadores é: Como dar uma
dimensão transformadora à produção do conhecimento? E como produzir
conhecimento a partir do cotidiano, do emergente? E, especialmente um
conhecimento para desvelar os invisíveis, os sem-voz, os sem-teto, os sem-
cidadania? Yasbeck (2005) denomina este conhecimento de “contra-hegemônico”,
um conhecimento em movimento, dirigido a um novo lugar/formato de relações e
poder.
A Comissão dos Determinantes Sociais da Saúde da OMS buscou superar as
políticas descontextualizadas de promoção da saúde ao reafirmar que as condições
de vida físicas e sociais (contexto) – e não simplesmente os estilos de vida (escolha)
- são os fatores determinantes do adoecimento das pessoas (WHO, 2010). E mais,
que se estas são as causas do adoecimento, elas também têm causas – as
chamadas “causas das causas” - que é a distribuição desigual de poder, dinheiro e
recursos na sociedade, e que é preciso aumentar o reconhecimento deste fato pelos
profissionais de saúde e pela comunidade em geral (WHO, 2010).

O conhecimento deve ser transformado em ação, ou seja, ele deve servir para
intervir na realidade (AZAMBUJA et al, 2011). Quando se fala em conhecimento,
tem-se a impressão de unidade de um conhecimento social contemporâneo, com a
qual nos relacionamos. No entanto, o conhecimento “[...] é uma totalidade complexa,
que inclui em si diversidade e heterogeneidade” (BAPTISTA, 1992, p. 85).

A investigação sobre a saúde no contexto das cidades está hoje a desafiar a


academia e os tomadores de decisão política em todo o mundo a produzirem
diagnósticos e principalmente soluções para situações complexas com base em
diálogos multi-disciplinares, intersetoriais, interinstitucionais e com as comunidades.
O projeto aqui desenvolvido insere-se nesta perspectiva global ambiciosa, tendo
como eixo a busca pelo aprofundamento da reflexão sobre como e com que
perspectivas ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-operativas a Educação
Superior deve avançar, considerando necessidades sempre novas (LEWGOY, 2013)
e neste momento parece-nos que tendendo a se organizar em torno dos desafios
14

urbanos do século XXI (AZAMBUJA, 2011).

A comunidade como objeto de atenção deve ser entendida a partir do


território onde se estabelece. Território pode ter gente, mas não sujeitos. O território
materializa as articulações estruturais e conjunturais a que os indivíduos ou os
grupos sociais estão submetidos num determinado tempo histórico. É preciso
entender os dois sistemas que envolvem a comunidade: o físico, constituído pelas
redes de infraestrutura e o sistema constituído pela relação entre as pessoas.

Nas cidades, a saúde humana é construída em estreita associação com a


produção dos locais de moradia, das condições de trabalho, da educação, transporte
e acessos a serviços em geral, incluindo serviços de saúde (AZAMBUJA et al, 2011).
O papel da academia deve ser o de contribuir para o estímulo de ações que possam
favorecer projetos para a cidade real, ampliando, assim, a interação não somente
entre as pessoas, mas também entre as diferentes áreas de conhecimento.

3 OBJETIVOS PROPOSTOS E O PROCESSO METODOLÓGICO: A


CONSTRUÇÃO COLETIVA DA PESQUISA

Compreendida a relevância da Pesquisa, foram traçados então, pelo grupo,


os objetivos a serem alcançados, bem como estabelecido o processo metodológico
necessário para tal, e que serão detalhados a seguir.

3.1 OBJETIVOS

Geral:

 Conhecer como se relacionam os atores no processo de busca por


atendimento a direitos sociais na democratização do acesso à cidadania e redução
das iniquidades, para o fortalecimento das conexões entre a realidade e os
processos de formação e exercício profissional.
15

Específicos:
 Identificar e promover competências para o trabalho interdisciplinar diante das
demandas da formação profissional, comunidade e das políticas públicas;

 Analisar a dinâmica das relações sociais na comunidade Vila Sossego no que


diz respeito à luta por acesso a direitos de cidadania;

 Dar visibilidade às estratégias que mobilizam a comunidade da Vila Sossego


para o acesso aos direitos de cidadania.

3.2 PROCESSO METODOLÓGICO DA PESQUISA QUANTITATIVA E


QUALITATIVA

Para o desenvolvimento da pesquisa contou-se com uma equipe de


pesquisadores composta pelos pesquisadores-doutores da UFRGS e pesquisadores
associados e colaboradores de instituições parceiras, seniores (professores da pós-
graduação e da extensão (Programa Saúde Urbana)) e júnior (doutorando), bem
como com bolsistas de iniciação científica e bolsistas voluntários e de extensão
(acadêmicos de graduação dos cursos de Serviço Social, arquitetura, psicologia,
nutrição).

O processo de construção da pesquisa se estabeleceu de forma participativa


visando incorporar a contribuição de todos os pesquisadores e instituições parceiras
no desenvolvimento da investigação. Este processo se iniciou com a elaboração do
Projeto de Pesquisa encaminhado e aprovado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq - Edital nº 07/2011- CNPq/ CAPES
em 31/12/2011, processo 402031/2011-3. Após aprovação no edital Universal, o
Projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da UFRGS (ANEXO 1), em
27/04 /2012. A pesquisa iniciou-se em agosto de 2012, com a inclusão de duas
bolsitas de iniciação cientifica (CNPq e PIBIC-UFRGS) e cinco bolsistas voluntários
que estão vinculadas ao Projeto de Extensão "Intersossego". Este estudo foi
concluído em dezembro de 2014, com a participação de uma bolsista de Iniciação
Cientifica (PIBIC- UFRGS).
16

O projeto de investigação original propunha como objetivo geral “Conhecer


como se relacionam os atores no processo de busca por atendimento a direitos
sociais na democratização do acesso à cidadania e redução das iniquidades, para o
fortalecimento das conexões entre a realidade e os processos de formação e
exercício profissional” (LEWGOY et al, 2013). No entanto, a dinâmica do trabalho
intersetorial na comunidade, dada pelas parcerias com a Unidade Básica de Saúde
Santa Cecília do HCPA e o CRAS – Centro de Referência em Assistência Social do
distrito centro do Município de Porto Alegre e a própria Comunidade, exigiu do grupo
que se acrescentasse uma etapa não prevista de Censo sócio-demográfico e das
condições de qualidade de vida e de saúde da população da Vila. A justificativa para
isto foi o reconhecimento de que os diferentes órgãos públicos e a própria
comunidade tinham informações diferentes sobre o número de domicílios e de
moradores na área. Julgamos que avançaríamos na integração intersetorial em nível
local se planejássemos e executássemos em conjunto este diagnóstico inicial. E que
esta etapa também nos auxiliaria a levar a cabo as etapas subsequentes de seleção
de moradores para a fase de pesquisa qualitativa, processo esse que foi bem
sucedido no desenvolvimento da investigação, conforme as narrativas no item 3.2.2
deste relatório. Julgamos ainda interessante termos um diagnóstico das famílias que
residem na comunidade antes do projeto de reurbanização, para eventual posterior
comparação dos dados.

Assim, desenvolvemos conjuntamente e aplicamos logo após o


recadastramento dos moradores pelas agentes de saúde da UBS Santa Cecília, dois
instrumentos de coleta de dados (familiar e individual) com questões suplementares
às informações já previstas na ficha A (de recadastramento). Pelo fato de estarmos
interessados em promoção da Saúde, também julgamos apropriado traçarmos um
perfil da percepção dos moradores sobre a sua qualidade de vida, utilizando para
isto um instrumento simplificado (WHOQOL breve) desenvolvido pela Organização
Mundial da Saúde e bastante utilizado no Brasil para a avaliação da qualidade de
vida de grupos de pacientes, de idosos, de trabalhadores. A este braço de
investigação quantitativa executado em 2013, seguiu-se o trabalho de campo da
fase qualitativa, desenvolvido ao longo de 2014.
17

3.2.1 Universo e instrumentos

A pesquisa quantitativa teve como fontes de informações primárias todos os


domicílios e respectivos moradores na Vila Sossego (censo) que tinham como
referência de atendimento no SUS a Unidade Básica de Saúde do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre/Santa Cecília, ou seja, os residentes na área delimitada
pelas ruas Veador Porto, Rua Livramento entre ruas Veador Porto e Euclydes da
Cunha, e Rua Luis de Camões (Figuras 1 e 2).

Figura 1 - Mapa da Comunidade Vila Sossego (foto de satélite obtida em maps.google.com,


trabalhada pelo acadêmico Ícaro Epifânio de Arquitetura e Urbanismo, bolsista do projeto de extensão
Intersossego) de forma a iluminar a área de estudo.
18

Figura 2 - Croqui da Comunidade Vila Sossego (elaborado pela acadêmica de Arquitetura e


Urbanismo, bolsista do projeto de extensão Intersossego, Marília Backes) mostrando os limites de
ruas e delimitação dos domicílios
19

Com relação aos instrumentos, foi utilizada a Ficha A, que é um instrumento


padronizado de coleta de dados aplicada pelas Unidades Básicas de Saúde do SUS
no processo de cadastramento ou recadastramento de moradores em território sob
sua responsabilidade. No caso, à ficha original foram acrescidas questões do
interesse da Unidade para a identificação de portadores de condições para as quais
já havia programas ou protocolos de atendimento estruturados no SUS.
Adicionalmente a esta Ficha A adaptada, construiu-se, em conjunto com a UBS e o
CRAS Centro, dois questionários suplementares (domiciliar e individual) que
complementam o perfil dessa população. A Ficha A adaptada foi aplicada pelos
agentes de saúde da UBS, após treinamento com o grupo de pesquisa da UFRGS,
como atividade de recadastramento dos moradores junto à Unidade Básica de
Saúde.
O instrumento suplementar, com questões mais sensíveis sobre a qualidade
dos serviços de saúde e dados de renda, foi aplicado por acadêmicos da UFRGS
aos mesmos domicílios visitados dias antes pelas agentes comuntarias de saude, e
enfermeiras da UBS. Na visita do grupo de pesquisa da UFRGS, todos os com mais
de 18 anos também eram convidados a participar respondendo questionários
individuais que completavam informações sócio-demográficas e introduziam as
questões de qualidade de vida (WHOQOL-breve).

O WHOQOL breve é um instrumento da OMS desenvolvido para uma


avaliação rápida da percepção sobre qualidade de vida. É composto por 26
questões a serem respondidas numa escala de 5 pontos (ex. Muito ruim, ruim, nem
ruim nem bom, bom, muito bom), a questão atribuídos escores de 1 a 5.

As 26 questões (ANEXO C 1 ) foram depois agrupadas para representarem


diferentes dimensões: geral, física, psíquica, relações sociais e ambientais. A
tradução do instrumento na forma utilizada aqui – 5 dimensões com a distribuição
original de variáveis proposta pela OMS – foi validado para uso no Brasil, em 2010.
Mas há controvérsias e outras sugestões de agrupamentos de variáveis, conforme a
população alvo estudada.

1
Fonte: http://www.scielo.br/img/revistas/csp/v29n7/a10tab01.jpg
20

Os demais instrumentos de coleta de dados foram constituídos por


perguntas fechadas e abertas, com o objetivo de favorecer a compreensão do grupo
sobre questões que integrariam a etapa qualitativa da pesquisa. A investigação de
campo foi acompanhada do registro sistemático em diário de campo, com um roteiro
orientador sobre os principais aspectos a serem observados e registrados. Os
instrumentos utilizados na pesquisa qualitativa foram: grupo focal e entrevistas semi-
estruturadas. O grupo focal, orientado pela referência de Bauer e Gaskell (2002),
serviu para apreensão das interações e desvendamento de como as lideranças da
comunidade pensam e agem sobre a participação e a interação entre os agentes
políticos na garantia do acesso aos direitos sociais. A entrevista semi-estruturada foi
utilizada considerando ser uma forma de interação social, pelo diálogo assimétrico
no qual uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de
informação (GIL, 1996).

3.2.2 A construção coletiva da pesquisa

As atividades iniciadas junto aos bolsistas consistiram primeiramente na


leitura do projeto de pesquisa, com a finalidade de conhecimento da proposta, do
que já foi realizado e, juntamente com a orientadora, planejamento da devida
continuidade. Logo após seguiu-se ao levantamento de artigos nos portais da
CAPES, CNPQ e Scielo sobre Interdisciplinaridade, Formação, Trabalho, Saúde
Urbana e Comunidade, que são as respectivas palavras-chave do projeto.
Posteriormente fez-se a leitura e fichamento dos artigos pesquisados seguindo com
a realização de encontros quinzenais de debate e estudo sobre os temas propostos,
com a orientadora e os participantes (5 bolsistas e docentes de várias áreas) do
grupo de Extensão e de Pesquisa vinculados ao Projeto InterSossego, objetivando o
compartilhamento de conhecimento. Estes encontros foram realizados
quinzenalmente onde cada bolsista ficou responsável em apresentar um dos temas,
fruto de um estudo dos temas anteriormente citados. Os demais participantes tinham
como atribuição problematizar a temática abordada.
Bem traçadas as diretrizes do trabalho, para fins de operacionalizar a rotina,
elaborou-se um cronograma com todas as atividades previstas para serem
executadas pela bolsista durante o período da bolsa, para ser constantemente
21

consultado ao longo do processo de trabalho.


Semanalmente foram realizadas reuniões técnico-administrativas do Grupo
que é constituído por professores e alunos da UFRGS- Professoras Alzira Maria
Baptista Lewgoy (Serviço Social), Maria Inês Reinert Azambuja (Medicina), Maurem
Ramos (Nutrição-2013), Roberta Alvarenga Reis (Fonoaudiologia-2013), como
representante do Prof. Jorge Castellá Sarriera (Psicologia-2012) o doutorando
James Moura Jr (Psicologia 2012) e os acadêmicos bolsistas do Projeto
InterSossego, representantes da equipe 1 da UBS-Santa Cecília- Médico João
Henrique Kolling e Enfermeira Margery Zanetello e equipe do CRAS-Centro-
Assistente Social Márcia Santos Bento e Oscar Pereira da Silva Filho.
Além de encontros semanais, foram realizadas mensalmente, como atividade
do projeto de extensão associado, reuniões na UBS- Santa Cecília, onde além dos
representantes acima citados, também participaram todos os demais integrantes de
cada entidade. Nesses encontros, à medida que a pesquisa foi avançando, foram
sendo elaborados os instrumentos de coleta de dados suplementares à “Ficha A”.
Visando a capacitação da equipe e da bolsista para a realização da pesquisa,
a mesma participou dos cursos de “Extensão de Metodologia Qualitativa em Saúde”,
no mês de dezembro de 2012 e "Introdução ao Programa Estatístico do SPSS”, no
mês de janeiro de 2013. Os respectivos cursos abordaram metodologia qualitativa e
quantitativa em saúde.
Além da participação nos cursos, a bolsista participou durante um mês, por
um período de 4 horas semanais de vários treinamentos para a aplicação dos
instrumentos para a coleta de dados (questionário domiciliar e WHOQOL), através
de simulações entre o grupo de bolsista, da orientadora e demais professores
envolvidos no projeto de pesquisa.
Dando início à coleta de dados, a bolsista juntamente com a outra bolsista de
iniciação científica e com o auxílio dos bolsistas de extensão, aplicou duas vezes o
questionário piloto no Condomínio dos Anjos, uma comunidade que fica próxima à
Comunidade Vila Sossego. O pré-teste da aplicação dos instrumentos foi realizado
nos dias 8 e 17 janeiro de 2013, sendo que a segunda vez foi após uma
readequação das questões do questionário domiciliar. O questionário WHOQOL não
pode ser modificado porque é um instrumento validado, mas serviu de treinamento
22

para posterior aplicação.


Após o pré-teste dos instrumentos e o aprimoramento do questionário, iniciou-
se no dia 21 de janeiro de 2013 a coleta de dados na Vila Sossego. Foram contados
inicialmente 104 domicílios. Primeiramente as agentes comunitárias e os
profissionais da área de enfermagem da UBS/ HCPA Sta. Cecília aplicavam a Ficha
A adaptada. Cada casa visitada recebeu um código determinado pela Equipe 1 da
UBS. A ficha e os códigos eram repassados para a coordenadora do projeto, profa.
Alzira Maria Baptista Lewgoy, a qual inseria os respectivos materiais enviados pela
UBS Sta. Cecília em uma Tabela de Controle da coleta de dados. Posteriormente, a
coordenadora distribuía entre os bolsistas quais os domicílios que os mesmos
deveriam visitar, e então a equipe de bolsistas da UFRGS saía a campo.
Na aplicação dos instrumentos na comunidade, 7 bolsistas foram distribuídos
em 2 duplas e 1 trio. A dupla iniciava o procedimento com uma apresentação da
proposta do projeto aos moradores da casa visitada, de preferência ao chefe da
família. Em seguida aplicava-se o questionário domiciliar, dando continuidade ao
trabalho da UBS. Depois da aplicação do questionário domiciliar, a dupla passava
para o questionário WHOQOL breve, entrevistando os moradores maiores de 18
anos de idade. Para participar, os entrevistados deveriam assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, que era lido pelos entrevistadores, antes da
participação.
Levando em consideração que o mês de janeiro foi temporada de recesso
escolar e os acadêmicos tinham maior disponibilidade de horários, esse período foi
utilizado mais intensamente no processo de coleta de dados. Na atividade de
recadastramento foram visitadas 100 das 104 residências originalmente enumeradas
(4 fechadas) e identificados 327 moradores, sendo 231 maiores de 18 anos. Destes,
142 responderam os questionários adicionais, individual e WHOQOL.
A partir de novembro de 2013 iniciou-se a coleta de informações junto aos
moradores pesquisados na Vila Sossego, através de grupo focal e de entrevistas
semi-estruturadas. O grupo focal, como recurso metodológico, orientado pela
referência de Bauer e Gaskell (2002) foi realizado de novembro de 2013 a março de
2014, no Anexo I do Campus Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
com a participação de seis moradores de cada vez. Esse instrumento serviu para
23

apreensão das interações e desvelamento de como as lideranças e membros da


comunidade pensam e agem sobre a participação e a interação com os agentes
políticos na garantia do acesso aos direitos sociais.
Dando continuidade a coleta de informações, de abril a setembro de 2014
foram realizadas as 23 entrevistas semi estruturadas com moradores, em suas
residências. Os sujeitos pesquisados foram selecionados através de indicações das
lideranças comunitárias e dos próprios moradores, conforme os critérios
estabelecidos por geração: jovens, adultos e idosos e em cada geração separados
por tempo de moradia: moradores recentes, médios e antigos residentes na
comunidade. O auxílio dos moradores foi essencial para que a seleção dos sujeitos
pesquisados para as entrevistas fossem preenchidas. Esta coleta aconteceu
preferencialmente aos sábados, em virtude da presença dos moradores na
comunidade e por solicitação dos mesmos. O processo ocorreu de forma tranquila e
cordial, não havendo rejeição ao convite a participação na pesquisa. O tempo de
duração da coleta foi superior ao planejado, tendo em vista a conciliação de horários
entre os sujeitos pesquisadores e pesquisados, e dos eventos esportivos ocorridos
no país e na cidade de Porto Alegre, nos meses de junho e julho de 2014, a Copa do
Mundo FIFA.
As entrevistas, orientadas pelos objetivos da pesquisa, foram feitas sob
coordenação da docente pesquisadora responsável, e contaram com a participação
de uma bolsista de iniciação científica para auxiliar na coordenação dos trabalhos.
Especificamente, a atividade da bolsista constou de observações diretas, seguidas
de discussão do observado e do vivenciado, bem como posterior realização de
algumas das entrevistas. Os Termos de Consentimento Livre Esclarecido foram lidos
e entregues para os sujeitos pesquisados de forma a serem explicitados os objetivos
e os procedimentos metodológicos. Os participantes concordaram em ter suas falas
gravadas e utilizadas para fins deste estudo. O ambiente das gravações foi motivo
de preocupação aos pesquisadores, para que o material coletado tivesse qualidade
para posterior transcrição das verbalizações, sendo bem sucedido esse
procedimento. As entrevistas foram gravadas e as falas transcritas. As informações
obtidas foram analisadas conforme as seguintes categorias teóricas: cidadania;
cidadão; direitos e deveres; participação e dificuldades enfrentadas pela comunidade
24

no acesso aos direitos.


É importante destacar que as ações desenvolvidas pelo projeto de extensão
Intersossego foram concomitantes a esta pesquisa, o que oportunizou o
acompanhamento e a aproximação de ambos os projetos, de extensão e de
pesquisa. Entende-se ser essa uma das formas de qualificação da pesquisa e da
extensão, qual seja, a partir da investigação propor novas intervenções. Nesta
perspectiva foram feitas reuniões objetivando, a devolução gradual das informações
para construção de novas intervenções, baseadas nas informações da pesquisa.
Podemos constatar que esta troca proporcionou a elaboração do Projeto
paisagístico de requalificação de espaço público degradado no território da Vila
Sossego, a partir dos dados da pesquisa (APÊNDICE H).
Esta investigação pode ser potencializada, também, através da discussão dos
achados da pesquisa de campo, durante as reuniões do Grupo de Extensão
InterSossego, constituído por professores de extensão e pesquisa da UFRGS, e nas
reuniões junto ao Grupo de Estudos e Pesquisa sobre formação e trabalho
profissional (GEFESS/UFRGS); e pela elaboração coletiva e socialização de
artigos, em abril de 2014 no “I Congresso da Saúde dos países de Língua
portuguesa" A geografia da saúde no cruzamento de saberes” na Universidade de
Coimbra, Portugal, e em final de novembro e inicio de dezembro no XIV Encontro
Nacional de pesquisadores de Serviço Social, em Natal - RN.
Em síntese, apresentamos a seguir as etapas construídas coletivamente, no
período de 2012 e 2014, junto ao grupo de professores, bolsistas de Iniciação
cientifica e voluntários (oriundos do projeto de extensão), e dos profissionais da
Unidade Básica de Saúde Santa Cecília/HCPA:
 reuniões intersetoriais para consensos sobre as questões e a
metodologia de aplicação da pesquisa;
 desenvolvimento dos instrumentos para abordagem da pesquisa
quantitativa e qualitativa;
 encaminhamento do projeto de Pesquisa à Comissão de Ética da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul ;
 reuniões entre as equipes da UFRGS, UBS e CRAS/ Centro;
 desenvolvimento de um manual de procedimentos para os
25

pesquisadores para aplicação do Censo, na Vila Sossego;


 assessoria de especialistas sobre o WHOQOL e sua aplicação;
 assessoria de especialistas ao grupo de pesquisa e alunos sobre a
construção de bancos de dados relacionados;
 teste dos instrumentos no campo;
 reformulação de metodologias e questões em função dos resultados no
campo;
 estabelecimento de equipes de coleta de dados, supervisores de
campo e coordenação, na UFRGS e na UBS, e grupos co-responsáveis na
coleta de dados;
 estabelecimento de rotinas para a comunicação dos domicílios já
recenseados pela UBS e a disposição dos pesquisadores e bolsistas da
UFRGS;
 revisão dos questionários por equipe conjunta;
 procedimentos adicionais de normatização de respostas a questões
abertas;
 entrada de dados duplicada;
 curso de extensão em SPSS para bolsitas de pesquisa e bolsistas de
extensão voluntários para a pesquisa;
 limpeza dos bancos, padronização e início da análise descritiva;
 seminários de revisão de literatura sobre temas interdisciplinaridade,
áreas especiais de interesse social, participação, políticas públicas, saúde
urbana, educação e outros;
 curso de pesquisa qualitativa e atlas-ti para bolsistas de pesquisa;
 discussão dos informações qualitativas, coletadas na pesquisa de
campo, nas reuniões junto ao Grupo de extensão InterSossego, constituído
por professores de extensão e pesquisa da UFRGS, e nas reuniões junto ao
Grupo de Estudos e Pesquisa sobre formação e trabalho profissional
( GEFESS/UFRGS);
 realização de um grupo focal junto a seis moradores da Vila Sossego,
no anexo I Saúde, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
 realização de entrevistas semi- estruturadas junto aos moradores da
26

Vila Sossego, em suas residências, cujo total foi de 22 moradores dos 27


selecionados;
 transcrição das gravações e análises preliminares das informações
coletadas do grupo focal e das entrevistas;
 elaboração e apresentação de artigo no “I Congresso da Saúde dos
países de Língua portuguesa. - A geografia da saúde no cruzamento de
saberes” na Universidade de Coimbra, Portugal, conforme APÊNDICE F;
 elaboração do Projeto paisagístico de requalificação de espaço público
degradado no território da Vila Sossego, a partir dos dados da pesquisa
devolvidos ao grupo de bolsistas de extensão ;
 elaboração da matéria sobre os resultados da pesquisa para 12ª
edição do jornal “Saúde, Sossego” de 2014, conforme APÊNDICE H;
 acompanhamento das ações desenvolvidas pelo projeto de extensão
para devolução dos resultados da pesquisa e requalificação das intervenções
junto a comunidade;
 apresentação da pesquisa no XVI Encontro de Pesquisadores em
Serviço Social -ENPESS em Natal RN, conforme APÊNDICE G

3.3 QUESTÕES ÉTICAS E DEVOLUÇÃO DOS RESULTADOS

A pesquisa cumpriu todos os aspectos que envolvem os procedimentos


éticos, tendo sua aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (ANEXO A). Os questionários aplicados e as
entrevistas semi-estruturadas realizadas na sua maioria, foram agendadas, assim,
buscou-se in loco os sujeitos da investigação, que foram informados sobre os
objetivos da mesma. Na ocasião, também foi apresentado os termos de
consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE A ), o qual foi lido e, após o seu
consentimento, assinado pelo entrevistado. Também foram divulgados os resultados
obtidos na investigação através de reuniões junto a comunidade, de artigos
publicados em Anais de Eventos realizados dentro e fora do Brasil, no jornal da
comunidade distribuído trimestralmente, bem como um vídeo com acesso a
população da comunidade Vila Sossego.
27

4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA

4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIO-DEMOGRÁFICA DAS HABITAÇÕES E DA


POPULAÇÃO
As tabelas a seguir apresentam alguns resultados da análise descritiva reali-
zada a partir de informações coletadas através da Ficha A (recadastramento), do
questionário suplementar e do WHOQOL. A etapa de coleta através da Ficha A a-
brangeu 101 domicílios dos 105 inicialmente contados (4 domicílios fechados). Dos
101 domicílios, em 88 houve aquiescência dos moradores sobre a participação na
coleta de dados com o questionário suplementar. Nestas residências, todos os adul-
tos com mais de 18 anos foram convidados a responder o WHOQOL. Como indica-
do nas tabelas, a base de respondentes varia conforme o fonte da informação (ficha
A ou questionário suplementar e WHOQOL).

Tabela 1 - Informações Sócio-demográficas Domiciliares obtidas pela aplicação da


ficha A
Variáveis N

Numero de Domicílios 101

próprios 77
alugados 10
de tijolo 87
com até 4 cômodos 50
com banheiro interno 93
luz com relógio exclusivo do domicílio 31
com relógio de uso compartilhado 21
sem relógio (gato) 47
água 98
ligação DMAE 71
relógio entre 3 e 4 pontos dentro do domicílio 74
esgoto ligado diretamente à rede 95
fossa 4
presença de animais domésticos 61

Utilização de meios de comunicação no domicílio


TV 90
NET 38
Rádio 65
Jornais 38

Participação social/comunitária
Grupo/atividade religiosa 18
28

Cooperativa 0
Associação 8
Atividade de grupo na UBS 3

Meio de transporte
Onibus 89
Carro 23
Caminhão 1
Carroça 0
Em caso de doença, a família
procura o hospital 50
consulta na UBS 72
benzedeira 1
farmácia 4
igrejas 5

Número de moradores por domicílio


1 12
2 24
3 26
4 18
5 12
6 2
7 6
8 1

Tabela 2 - Informações demográficas – base, 333 residentes em 101 domicílios

Raça/cor Brancos 59%


Pretos/pardos 41%

Sexo Homens 43,3%


Mulheres 56,7%

Idades Homens Mulheres Total


< 1 ano 4 2 6
1a4 7 14 21
5a9 19 9 28
10 a 14 16 15 31
15 a 19 12 19 31
20 a 29 30 31 61
30 a 39 17 25 42
40 a 49 12 22 34
50 a 59 13 25 38
29

60 a 69 7 16 23
70 e mais 3 9 12
ign 4 2 6
Total 144 189 333

Tabela 3 Demografia social / educação – Base, 224 residentes com mais de 18 anos de um
total de 333 moradores – ficha A.
N

Escolaridade dos Maiores de 18 anos (208/224, 16“missing”)


Sem escolaridade formal 5 2,4
Até primeiro grau completo 118 56,7
Segundo grau incompleto até segungo grau completo 75 36,1
Terceiro Grau incompleto ou completo 10 4,8

18 a 30 (77/78, 1 “missing”)
Sem escolaridade 1 1,4
Até primeiro grau completo 35 45,4
segundo grau em andamento ou completo 33 42,8
terceiro grau em andamento ou completo 8 10,6

31 a 50 ((70/75, 5 “missing”)
Sem escolaridade 2 2,8
Até primeiro grau completo 36 51,4
segundo grau em andamento ou completo 32 45,7
terceiro grau em andamento ou completo 0 0

51 e mais (63/71, 8 “missing”)


Sem escolaridade 2 3,1
Até primeiro grau completo 47 74,6
segundo grau em andamento ou completo 12 19,0
terceiro grau em andamento ou completo 2 3,1

Tabela 4 - Domicílios - informações selecionadas do questionário complementar


(n=88/101)
Variáveis N %

Numero de domicílios total 101


Número de domicílios com informações coletadas por
questionário complementar 88

Residências com crianças de 0-6 anos


Número de crianças de 0 a 6 anos 26/88 29,5
34
Escolaridade do chefe da família (N=87)
até primeiro grau completo 61 70,1
30

segundo grau em andamento ou completo 20 22,9


terceiro grau em andamento ou completo 7 8,0

Numero de domicílios com


Qualquer benefício social (N=88) 52 59,1
Aposentadoria INSS 18 20,5
Auxílio doença 5 5,7
BPC-LOAS 1 1,1
Pensão por morte 8 9,1
Bolsa família 24 27,3
Seguro Desemprego 1 1,1
Auxilio natalidade 0 0
Numero total de benefícios 57

Renda domiciliar de benefícios sociais ( n = 45/56 ben.)


Mediana 630,00 P25 141,00 p75 670
(intervalo de variação – R$ 70,00 a 4000,00)

Renda domiciliar total (n = 87 dom)


Média R$ 1.444,00
Mediana R$ 1.185,00
(intervalo de variação - R$ 70,00 a 6.000,00)

Renda Familiar em SM (n=87 dom)


0 23 26,4
1a2 26 29,8
2a3 21 25,2
3 e mais 17 19,5
Classe socioeconômica conforme Classificação da ABEP
(n=88 dom)
B1 2 2,3
B2 11 12,6
C1 37 42,0
C2 26 29,5
D 10 11,3
E 2 2,3
31

Tabela 5 - Informações sobre morbidade nos domicílios e número de pessoas


afetadas – FICHA A
N domicílios N indivíduos

Universo 101 333


Gestantes 4 4

Asma Brônquica 31 36
Hipertensão 49 57
Diabetes 20 24
Obesidade 19 27
Infarto do miocárdio prévio 10 10
Outras D. Coração 5 6
AVC (Derrame) 7 7
Fumo 37 54
Álcool 6 6
Ansiedade 28 33
Depressão 25 27
Esquizofrenia 0 0
Hiperatividade 10 10
Problemas de comportamento 12 12
Problemas na Escola/aprendizagem 16 16
Insônia 28 36
Uso de drogas 3 3
Outras condições psiquiátricas 4 5
Dores nas costas 48 62
Dores nos ombros 41 49
Dores nos braços 25 32
Dores articulares 38 44
Hepatite BC 6 6
Epilepsia 2 2
Def. Física 7 9
Def. Mental 2 2
Acamado 4 4
Tuberculose 4 7
Chagas 2 2
Malaria 0 0
Hanseníase 0 0
Outros 13 16
32

Os resultados do WHOQOL ainda precisam ser mais explorados, mas a análise


inicial é apresentada na discussão, em gráficos.

Discussão
Serão discutidas aqui apenas quatro das várias informações propiciadas pelos resul-
tados, ainda não completamente analisados:

1- Esta é uma comunidade com renda média domiciliar em Jan-Fev 2013 de R$


1444,00 (mediana de R$ 1.185,00), a maior parte dos domicílios enquadráveis na
classe C da classificação da ABEP. Esta é uma classificação que leva em conta
a escolaridade do chefe da família (no caso, 70% com até o primeiro grau com-
pleto, o que puxa o indicador para baixo), uma lista de bens de uso familiar (rá-
dios, televisão, carro, etc,.) e a terceirização de serviços domésticos (empregada
doméstica) como forma de mensurar o padrão de consumo (e assim estimar a
renda) das famílias. Na Sossego, 71% seriam classificados na classe C e 12 %
na classe B. )Tabela 4). Em 2013, o Datafavela ouviu 2000 pessoas em 63 fave-
las de 10 regiões metropolitanas brasileiras e encontrou uma renda média salari-
al de 1068,00 e a maior parte enquadrável na classe C (FOLHA DE SÃO PAU-
LO, 2014).

Ainda, mais da metade dos domicílios recebia algum tipo de benefício social ou
previdenciário. No computo geral, o total de benefícios recebidos acresce signifi-
cativamente à renda mediana mensal da comunidade, pois representa, nos do-
micílios que os recebem (mais da metade), um valor mediano de RS 630,00, (va-
lor aproximado do salário mínimo na época – RS 678,00) sendo que a mediana
de renda do conjunto da comunidade é R$1185,00. Dos 88 domicílios com infor-
mação, 24 (27%) recebiam bolsa família. (Tabela 4).

2. Com relação à educação (Tabela 3), a proporção de moradores com 18 anos e


mais com escolaridade de no máximo primeiro grau completo é muito grande –
quase 70% entre os chefes de família e 59% no total de adultos. Mas nota-se que
a proporção de adultos entre 18 e 30 anos com no máximo o ensino fundamental
está se reduzindo, embora de forma mais lenta do que o desejável: É de 46,8%
hoje, contra 54% nos com entre 31 e 50 anos e 74% nos com mais de 50 anos. A
proporção de pessoas com 18 anos e mais com mais do que o primeiro grau (cur-
sando ou tendo concluído o segundo grau ou o terceiro graus) aumentou de 22%
33

nos com mais de 50 anos, para 45,7% nos com 31-50 anos e para 53,4% nos
com 18-30. Neste grupo mais jovem ocorreu uma expressivo aumento de ingres-
santes no terceiro grau (0 nos com 31 a 50 anos e 10,6% nos com entre 18-30
anos. Os dados sugerem uma polarização: alguns investindo em educação e
chegando ao terceiro grau mas muitos ainda com déficit educacional significativo,
maior ainda se considerarmos que moram em área central muito bem servida de
recursos educacionais.

3- A figura abaixo mostra as médias do WHOQOL nas 5 dimensões avaliadas pelo


instrumento.
Figura 3 - Médias de escores em cada dimensão do instrumento WHOQOL breve
da OMS, respondido por 142 moradores com mais de 18 anos da Vila Sossego,

4,00

3,00
Mean

2,00

1,00

0,00
dimgeral domfis dompsi relsoc ambliente

__
No caso da Vila Sossego, vemos que a dimensão com pior escore foi a de
ambiente e a de melhor a de relações sociais, mas de modo geral as médias dos
escores de 142 moradores de mais de 18 anos na Vila Sossego sobre a percepção
sobre sua qualidade de vida não são ruins, avaliação semelhante à relatada na
pesquisa realizada pelo DATAFAVELA mencionada anteriormente (Folha de São
Paulo, 2014).
A figura 4 a seguir mostra como estes escores se distribuem dentro de cada uma
das 5 dimensões (ver detalhes na figura 2 e no ANEXO C).
34

Figura 4 – Escores médios para cada questão das 5 dimensões avaliadas pelo
WHOQOL. Pesquisa Vila Sossego, PoA, Jan-Fev 2013.

Os achados sugerem que a dimensão ambiente deva ser desdobrada em duas


categorias o ambiente urbano mais geral – transporte, serviços de saúde.... – e o
ambiente local (condições de moradia), que recebeu escores visivelmente mais
baixos, como seria de se esperar (ver a seguir). Estes resultados são corroborados
na fase da pesquisa qualitativa (ver adiante), que mostra moradores relativamente
bem integrados na cidade (área central) mas insatisfeitos com as condições locais
de moradia.
35

4- A tabela 5 com a lista de problemas de saúde mais frequentemente percebidos


pelos moradores também é muito interessante, e corrobora o recentes achados da
primeira pesquisa nacional da saúde realizada pelo IBGE (PNS 2014): Nas duas
pesquisas, as condições mais prevalentes foram a hipertensão arterial e as dores
osteomusculares, sendo que na Sossego as condições oseomusculares superaram
a HAS em número de casos, especialmente se considerarmos que há programa e
busca ativa de hipertensos pelo SUS e nenhum programa do ministério voltado à
identificação e tratamento de dores osteomusculares crônicas, condições
frequentemente incapacitantes, ao contrário da HAS (PNS, 2014).

Ainda há muitos resultados a serem explorados nos bancos de dados gerados


pela pesquisa, que vão permitir um diagnóstico coletivo, social, econômico,
ambiental e de saúde – que esperamos que ajude a comunidade a entender suas
circunstâncias e os serviços e a Universidade a se aproximarem dos problemas
como eles se fazem presentes, e não como oferta prescrita de serviços,
desvinculado do contexto local.
36

4.2 A DINÂMICA DAS RELAÇÕES SOCIAIS NO CONTEXTO DA COMUNIDADE


VILA SOSSEGO NO ACESSO AOS DIREITOS DE CIDADANIA – etapa qualitativa

4.2.1 Caracterização dos sujeitos pesquisados

Os sujeitos pesquisados foram vinte e nove (29) moradores da Vila Sossego.


A determinação dos participantes deu-se através de indicações dos próprios
moradores, caracterizando-se uma amostra em cadeia ou redes (SAMPIERI, et all,
2013). Destes, seis moradores que já exerceram e ou exercem atividades de
lideranças na comunidade, participaram do grupo focal inicial, através do qual
obtivemos informações sobre as relações sociais da comunidade. Posteriormente,
selecionou-se 23 moradores para as entrevistas semiestruturadas. Estes sujeitos
foram divididos por gerações, jovens (de 13 até 20 anos), adultos (de 25 até 60) e
idosos (a partir de 60) e em cada geração separados por tempo de moradia:
moradores recentes (até 10 anos de moradia), médios (de 10 até 25 anos de
moradia) e antigos (a partir de 25 anos de moradia). Umas das dificuldades no
processo da pesquisa qualitativa foi encontrar moradores com pouco tempo de
moradia para participar das entrevistas.
A amostra de entrevistados foi predominantemente de mulheres. Essas
moradoras tiveram uma boa relação com o projeto de pesquisa e de extensão
Intersossego. Foram peças fundamentais para abertura , consolidação da presença
da universidade na comunidade.
As entrevistas propiciaram desvelar a percepção dos moradores, através
sobre cidadania, cidadão e a participação da comunidade no acesso aos seus
direitos. Tinha-se como pressuposto as condições vulneráveis de saúde dos
moradores da Vila Sossego, em virtude dos desafios postos a essa comunidade
tendo em vista residirem em área de interesse social (AIES) e estarem aguardando
a reurbanização por um período de seis anos, o que resulta em fragilização do
movimento dos moradores no processo de luta para tal investimento. Ayres ( 2003)
lembra que as nossas fragilidade – ou nossa capacidade de enfrentar os desafios –
depende de um conjunto integrado de aspectos individuais, sociais e institucionais.
37

Os dados fornecidos pelo censo, realizado na 1ª fase da pesquisa, através da


abordagem quantitativa revelam que a população da Vila Sossego não está em um
nível de vulnerabilidade social elevado, o que é reafirmado e explicitado, na
abordagem qualitativa, pelos sujeitos entrevistados. Exemplificando, ilustraremos tal
afirmativa através do depoimento de uma moradora ao verbalizar que “(...) aqui na
Sossego não tem ninguém carente, todo mundo tem um teto, quase todos
trabalham” .A vila Sossego é uma comunidade heterogênea, em sua maioria, as
famílias não são extremamente pobres e de acordo com a ABEP (Associação
Brasileira de Estudos Populacionais) 72% das famílias se enquadrariam na classe C,
enquanto apenas 13,7% das famílias estariam nas classes D e E.
O termo vulnerabilidade tem sido bastante empregado nos últimos anos,
expressando distintas perspectivas de interpretação .No âmbito da pesquisa em
saúde urbana, o conceito é importante, pois está relacionado, intrinsecamente, à
distribuição de determinantes sociais e ambientais do adoecimento , e busca, como
diz Caiafa (2008), mobilizar para a “[...] necessidade de aferir os fenômenos tendo
como objeto as desigualdades injustas e evitáveis do ambiente físico, social em
saúde e a governança e a governabilidade como propostas para as soluções para as
iniquidades (CAIAFFA, 2008).
Segundo Ayres ( 2003), no plano social, a vulnerabilidade está relacionada a
aspectos sócio-políticos e culturais combinados, como o acesso a informações, grau
de escolaridade, disponibilidade de recursos materiais, poder de influenciar decisões
políticas, possibilidades de enfrentar barreiras culturais etc. A vulnerabilidade social
pode ser entendida, portanto, como um espelho das condições de bem-estar social,
que envolvem moradia, acesso a bens de consumo e graus de liberdade de
pensamento e expressão, sendo tanto maior a vulnerabilidade quanto menor a
possibilidade de interferir nas instâncias de tomada de decisão.
Na vila Sossego constata-se que há um déficit no grau de escolaridade dos
jovens adultos, tendo em vista que 42% dos jovens com 18 a 30 anos referem ter
apenas o primeiro grau ou menos. Mas este nível de escolaridade mostra um
avanço em relação às gerações anteriores e, por outro lado, 15% já estão cursando
ou concluíram o terceiro grau. Durante as entrevistas, os jovens mostraram a
pretensão de ingressarem no ensino superior no futuro. Todavia, relataram que não
38

recebem informações suficientes para conduzi-los a este objetivo., revelando-nos


uma lacuna na comunicação, na medida em que há uma ampla divulgação pelo
Ministério de Educação sobre o acesso dos jovens a educação superior. Fica-nos a
incumbência de divulgação deste dados junto aos jovens desta comunidade, bem
como, pensar alternativas para o alcance desta pretensão.
Outro sentimento expresso pelos jovens adolescentes foi o desejo de saírem
da Vila Sossego, apesar das vantagens que reconhecem na localização em área
central de Porto Alegre: […] “aqui é bairro centro, né. Aqui é super bem localizado,
valorizado [...]” (AA4), bem como na qualidade da atenção à saúde que recebem
dos profissionais da Unidade Básica de Saúde Santa Cecília/HCPA: “[...] O HCPA,
o posto, os agentes de saúde, nós temos várias ajudas aqui. A atenção é sem
palavras. Os professores da UFRGS então, os alunos, uma equipe que tá sempre
conosco [...] ” Contrariando esta ideia, a população dos adultos e dos idosos antigos
afirmam que não se vem em outro lugar a não ser na Vila Sossego, por ser o local
que residiram uma boa parte de sua vida.
No que se refere aos moradores recentes, adultos ou idosos, residentes na
Vila Sossego, a comunidade possui um número muito reduzido de moradores novos,
sendo, portanto, uma comunidade constituída em sua maioria pelos moradores mais
antigos, solidificada desde o seu estabelecimento. Constatou-se que não há
presença de idosos que residem na Vila Sossego há menos de 15 anos, e que os
moradores jovens, em sua maioria, estão lá desde o seu nascimento na Vila, desde
o fim da década de 80 e início da década de 90. O grupo de moradores recentes é
representado por adultos na faixa etária de 25 a 60 anos.
Considerando território um espaço em que significados e ressignificações vão
sendo construídos pelos sujeitos em torno de suas experiências de vida naquele
local, onde há prevalência do aspecto relacional sobre o aspecto racional, contradi-
toriamente constata-se que os moradores da Vila estão mais vinculados e inseridos
na cidade do que no seu território. Nesse sentido, percebe-se uma ausência de iden-
tidade territorial que contemple todos os moradores, conforme explicitado pelos su-
jeitos “[...] E aqui é bairro centro, né. Aqui é super bem localizado, super valorizado.
Não a comunidade, porque aqui ela não é valorizado" (AA2. Aqui, na verdade, é um
beco, mas é perto de tudo, a gente vira pra todos os lados tem ônibus e se não tem
39

dinheiro e quer ir até o centro a pé consegue. Eu acho que a gente tá muito bem
localizado" (AA3). "[...] É um lugar nobre, perto de tudo, maravilhoso".( AA1). " [...] Tô
há 30 anos aqui, vim com 11 anos pra cá. Aqui tem muitas coisas boas, o posto (de
saúde), tem ônibus e a gente tem conhecimento. É bom, é maravilhoso, eu gosto
daqui porque é bem no centro, que é uma coisa que a gente necessita. Quando eu
morava em Viamão era difícil de conseguir médico, aqui a gente tem o HCPA, o pos-
to, os agentes de saúde, nós temos várias ajudas aqui. Tudo que a gente precisa a
gente consegue" (AA5). "[...] Apesar de isso aqui ser uma vila é perto de tudo, é per-
to do centro, do colégio, é um ponto muito bom, é bem localizado. Tu tem tudo perto,
hospital e tal".(JA5) "[...]
Observou-se também a preservação de uma ligação afetiva entre os sujeitos
construtores e precursores da comunidade, moradores antigos, sendo este círculo a
representatividade do território para eles. Verifica-se uma dificuldade de interação
entre os moradores antigos e recentes. "[...] Em vim morar aqui em 1989, faz 25
anos. Meu marido era o presidente da associação daqui. A gente morou aqui, era
muito bom, isso aqui era maravilhoso. Não tinha barulho, pouquíssimas pessoas.
Um vizinho cuidava do outro. Eu tinha galinha aqui! Depois fui embora, fiquei muito
tempo longe e voltei. Minha filha não nasceu aqui, meu filho sim. Não tinha nada
aqui, eu desbravei tudo que tu vê aqui. Amizades que eu tenho aqui são Pessoas
velhas: a T, a D. a M a MM, a JJ e a Ma, mas muitos morreram.. E o resto é gente
nova, não conheço, não sei quem são(AA1). "[...] moro na vila, mas eu sou individua-
lista também. Porque eu não converso muito. Saio pra trabalhar, na Corte Real, é
pertinho vou a pé, volto pra casa, fecho o portão e fico na minha. Cumprimento as
pessoas, mas não converso muito"(AA3)
Um aspecto territorial presente entre os moradores é o compartilhamento da
idealização de uma nova Vila a partir da obtenção das moradias prometidas. O que
se constata pelas verbalizações dos moradores que esta expectativa fica nas mãos
dos órgãos governamentais, tornando-se uma gincana burocrática, transformando-
se para a comunidade em uma angústia coletiva, não somente as expressões mais
imediatas e concretas das realidades vividas, como também conter elementos apa-
rentemente invisíveis, mas significativos, que dizem respeito aos valores, sentimen-
tos, perspectivas que rodeiam as vidas da população. Estes aspectos objetivos da
40

realidade vivida e mencionadas pela população, envolve igualmente a dimensão


subjetiva dos moradores, que aparece de forma concreta através das manifestações
de sofrimentos, desejos, e expectativas. [...] Eu até entendo o lado da comunidade,
chega um ponto que são muitas promessas e nenhuma é cumprida. Tá há uns 15
anos pra sair e não saem as casa. Por isso que vão só 4, 5 pessoas nas reuniões.
As pessoas desistem.( JA2) " [...] O problema aqui eu acho que é as pessoas. Eu
sempre disse e digo que aqui não tem união. E a união faz a força, né. Se a gente
fosse unido com certeza aqui já estaria bem melhor. As pessoas não vão na reuni-
ão. Acho que falta muito incentivo. Se eu fosse burguesa nunca que ia morar aqui (
AA3) .

4.2.2 Cidadão, Cidadania e participação: a compreensão dos sujeitos


pesquisados.

As informações obtidas foram analisadas conforme as seguintes categorias


teóricas: cidadania; cidadão; direitos e deveres; participação e dificuldades
enfrentadas pela comunidade no acesso aos direitos.
A população da Vila Sossego apresentou-se heterogênea e tal
heterogeneidade corresponde a graus diferenciados de consciência social. Os
adultos moradores antigos da comunidade, ao serem questionados sobre o
entendimento do conceito de cidadania, definiram como sinônimo de “coletividade” e
como um direito consolidado, mas que atualmente está sendo desvalorizado.
Atribuem ao conceito de cidadão "o ser humano": "Cidadão é o ser humano,
cidadania é população, é a cidade, é todo mundo junto. Cidadania não significa
muito pra mim porque hoje em dia não existe muito isso daí. Tem cidadania mas não
é uma coisa unida. Hoje em dia tem muito descaso com o cidadão." (AA3).
A cidadania é vista também como direito e ao mesmo tempo merecimento.
Contudo, nos indagamos: Direito é merecimento? De acordo com Coutinho (1999)
os indivíduos não nascem com direitos. Os direitos são fenômenos sociais, são
resultados da história. Considerando esta concepção, constata-se através dos
depoimentos que houve momentos em que os moradores da Vila exerceram a sua
cidadania, pois lutaram para possuir alguns de seus direitos. São exemplos citados
41

por eles: “[...] quando nós moradores mais antigos, durante o estabelecimento da
Vila, batalhamos para garantir saneamento básico […] a gente buscou esgoto e
água foi devido a nossa luta [...].” (AA4). Outra manifestação referenciada foi sobre a
microepidemia da dengue, ocorrida em 2013 “[...] “Tudo em função da dengue. É, foi
uma coisa que me marcou, sim. Isolaram aquele terreno. Quando se une, dá
resultado [...] ” (AA2).
Entretanto, também foi referenciado pelos sujeitos entrevistados uma não
visualização nas conquistas alcançadas, ou seja, uma ausência de inscrição dos
sujeitos em estruturas portadoras de um sentido. Em outras palavras, verifica-se que,
muitas vezes, mesmo participando de movimentos que caracterizam a busca por
direitos e por cidadania, os moradores não enxergam tais ações como relevantes,
entendendo-as como desprovidas de caráter social, não relacionando este fato um
ato de cidadania.
De acordo com a constituição brasileira de 1988, a concepção de cidadania
reivindica o acesso, inclusão, participação e pertencimento a um sistema político já
dado. Aristóteles, definiu que cidadão é aquele que tem o direito e
consequentemente também o dever de contribuir na formação das decisões que
envolvam a coletividade, penetrando nas decisões que dizem respeito às suas
condições básicas de existência.
Assim como o filósofo, os adultos moradores antigos da Vila Sossego que
estão há mais de 30 anos na Vila, consideram também que o cidadão tem direitos e
deveres, conforme verbalizações: " [...] cidadania é assim: tu tens que cumprir teus
deveres e alguém tem que retornar isso de alguma forma. Tu tem que ser solidário,
pagar teus impostos. É uma troca. Eu pago e o governo me dá a luz que tá aqui.[...]”
( AA1). Como direitos destacaram: [...] "ter moradia digna, luz digna, uma educação
de qualidade, saúde. Professores e médicos bem pagos. Tudo fiscalizado, porque na
constituição é tudo uma maravilha, mas nada funciona. Envolve direito de ter
liberdade, estudo, saúde, Cada um tem o seu dever, mas eu acho que o governo, a
prefeitura tem um dever com a população, com a cidadania. A liberdade de estar na
rua e saber que tu estás bem, que não vai ser assaltada. Ter mais compromisso e
botar mais segurança na rua. Tu poder ter a liberdade de caminhar, voltar a hora que
quiser, ter oportunidades. Respeitar os outros. Direito de moradia, de saúde, de
42

transporte, de vida." Como deveres atribuem este ao estado "dever do governo para
nós. E nosso direito é cumprir com as obrigações. gente precisa lutar, não receber
tudo de mão beijada, que tudo os outros tem que dar. A gente tem que ir à luta e.
Dever com a população. não pisotear nas pessoas. estar junto com a comunidade."
Em relação aos jovens antigos da comunidade, o conceito sobre cidadania
não foi definido com precisão. Alguns consideram, entretanto, cidadania como
sinônimo de luta, mobilização por direito, sendo, também, uma forma de coletividade.
Outros, não definem cidadania, mas definem a palavra cidadão como um indivíduo
que precisa fazer por merecer " [...] E eu acho que onde a gente mora influi muito.
Porque não adianta andar bonita, bem vestida e depois dizer que mora num beco
sujo. E eu acho que se eu for merecedora vou morar melhor( AA3), ou que merece
reconhecimento, que tem uma existência civil. Alguns sujeitos relataram
experiências pessoais de exercício de cidadania, evidenciando diversos
entendimentos sobre o tema.
No discurso de alguns participantes, encontramos falas que apontavam no
sentido de a cidadania ser um “ato de solidariedade” ou de “amor ao próximo”,
mostrando uma visão assistencialista de promover o bem-estar do outro como um
ato de caridade, através do entendimento de cidadania restrito a responsabilidade
moral privada. O descrédito com a democracia representativa, visível nas falas dos
moradores, é perceptível neste relato: “[...] No Orçamento Participativo eles querem
que a comunidade trabalhe pra eles, que a comunidade fiscalize, mas isso é coisa
que o governo deve fazer. É uma coisa muito eleitoreira. E foi por isso que eu me
retirei. Mas eu acho que quem tem fé e persistência, como a Terezinha,
importante[...].” (AA1).
Aristóteles também refere-se aos direitos do cidadão, na concepção de
“direitos naturais”, qual seja, direitos que pertencem aos indivíduos independentes
do status que ocupam na sociedade em que vivem. Nesta perspectiva, os
moradores mostram-se não sentirem-se contemplados pelos direitos naturais, pois o
direito precisa ser conquistado, conforme relatos a seguir “[...] to lutando, é pelas
nossas unidades habitacionais. Eu acho que é uma luta e eu to há anos, eu faço
parte do Orçamento participativo há uns 8 a 10 anos.. Eles não acreditam porque,
vem em uma reunião escutam uma coisa, vai em outra reunião escutam outra e as
43

pessoas não acreditam. Acho que eles não tem razão porque vão em uma reunião,
não acompanham todas” (AA2) “[...] Uma expectativa. Porque estamos bem sem
sonhos. Tanta gente aqui que vem aqui falar, prometer e não fazem nada que eu
acho que daí isso acaba com os sonhos[...].” (AA3) “[...] Acho que se vierem na
reunião e disserem que vão arrumar a vila (fazer as casas) amanhã, as pessoas
vem. A partir de qualquer mudança as pessoas vão se mexer. Quando tem uma
reunião “forte” que vem alguém mais importante, todo mundo vai.” (AA5). “Eu acho
que se viessem e dissessem uma coisa certa, gente isso vai acontecer. Um exemplo
assim: Gente vai começar os apartamentos, vai acontecer no dia tal e naquele dia
começa a acontecer. Entendeu, pras pessoas acreditarem, olha as máquinas vão
estar lá pra começar as obras.” (AA6) “A gente ver que tá conseguindo.” (AA4).

Em síntese, a compreensão sobre cidadão e cidadania pelos sujeitos


entrevistados é diferenciada. Não há um consenso. Constata-se concepções desde
a ideia de cidadania como um direito constitucional e de conquistas pela coletividade
e para a coletividade, bem como a apreensão pelo merecimento através de ações
individualizadas que visem uma retribuição para o cidadão pelo dever cumprido.
Evidencia-se que a realidade percebida de forma desconectada leva à ações
de enfrentamento definidas de acordo com o imediato, encerrando-se em si mesmas,
sem uma continuidade da aquisição de direitos. Para os moradores, a mobilização
de toda comunidade para a resolução dos problemas que envolvem a Vila Sossego
ocorre quando a situação é emergencial, conforme depoimento “ […] . Acho que só
se pegasse fogo na casa de alguém. Aqui o pessoal não é unido [...] ” (AA4)
Por outro lado, também é verbalizado sobre a compreensão que a comunidade
necessita de uma visão coletiva de futuro, um envolvimento constante com ideias
críticas, “[...] Que todos lutassem juntinhos pra nós vencermos essa batalha. Porque
todo mundo quer, não sou só que eu quero uma moradia melhor.” (AA3) “Porque se
mexerem nas casas vão mexer em todas, não só em uma. Que todos viessem nas
reuniões, que a gente estivesse junto.” (AA5).
Visto por esse ângulo, a participação, longe de ser política de reprodução da
ordem, é, sobretudo, questão social. Nesse sentido, é importante identificar as
instituições formais e informais, existentes ou que exerçam influência na
comunidade para o desvelamento da realidade numa perspectiva de totalidade para
44

não fragmentação das estratégias.


A população ao se comparar com outras realidades reconhece estar em
situação superior. Considera-se, de certa forma, privilegiada: “[...] A gente fala de
nós, mas existem situações bem piores, eu mesma fiquei chocada com realidades
de outra comunidade, tem gente que reclama mas tem gente bem pior que a gente..”
AA5. “[…] é muito importante saber o que a gente quer, lutar pelas nossas
coisas.‘Que esqueçam que o nome desse lugar é Sossego, que passem a reagir, ir
pra cima, enfrentar o problema que ela tem trazido com ela até então. Que ela vá
pra cima dele e com certeza se ela reagir, não ficar sossegada a coisa vai andar,
essa é a mensagem que eu tenho.”(AA4).
Em relação as parceiras externas os moradores adultos referendam que a
UFRGS e a Unidade Básica de Saúde Santa Cecília exercem uma
representatividade e uma relação muito mais fortificada com os moradores mais
antigos da Vila. Verbalizam também que a Liderança comunitária faz este elo entre a
comunidade e os parceiros externos vinculados aos órgão governamentais,
abraçando as ações de forma política, conforme o partido que está no poder.
Constata-se que as relações mantidas pela liderança comunitária evidencia-se pela
alternativa explicativa da naturalização do clientelismo e do favor na realidade
brasileira.
Os moradores jovens que vivem na comunidade têm opiniões diversificadas
em relação a uma parceria externa para auxiliar a comunidade em suas dificuldades.
Uma jovem que mora há mais de dez anos na vila menciona a presença positiva do
Projeto Intersossego da UFRGS na Vila. Diz estar desacreditada em políticos. Da
mesma forma, outra jovem verbaliza não ter credibilidade em políticos e exemplifica
as promessas do prefeito de Porto Alegre e o não cumprimento delas. Relata, ainda,
que sua mãe tem relações com uma vereadora e contata ela quando necessário.
Outra jovem moradora concebe a parceria externa como as suas relações pessoais,
considerando seus familiares uma opção para recorrer. Considera, ainda, a
imprensa como uma forma de mostrar a existência da vila e evidenciar seus
problemas para serem solucionados com rapidez. Os jovens que moram há pouco
tempo na Vila dizem não saber quem seriam os parceiros e os apoios, explicando
que não convivem muito com os vizinhos.
45

A dimensão territorial traz elementos que permitem uma perspectiva da


totalidade da questão social já que trabalha não somente com os aspectos das
necessidades, como se refere às próprias relações estabelecidas entre os sujeitos e
seu cotidiano de vivência, esta relação dinâmica se contrapõe à corriqueira e
simplista noção de necessitados ou carentes como comumente se referem as
políticas direcionadas aos pobres, que os destituí da condição de sujeito.

5 PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA PARA O ESTUDO DA


TEMÁTICA INVESTIGADA

A Vila Sossego é um local com infraestrutura e condições de saneamento


relativamente precárias, e heterogênea com relação à educação e renda. Em sua
maioria, as famílias não são extremamente pobres. Mas há um déficit importante de
escolarização dos jovens adultos, especialmente entre o primeiro e o segundo graus,
embora o acesso ao terceiro grau esteja aumentando, por comparação à todos com
mais de 15 anos.
A cobertura populacional por serviços de saúde e assistência é bem alta. A
comunidade mostra-se relativamente satisfeita com o serviço de saúde de referência,
e é bem atendida pelo CRAS. 1/3 da população tem plano privado de saúde. Os
achados, consistentes com a vivência do grupo na comunidade, mostram que
embora esta seja uma área irregular de moradia, com problemas crônicos na
qualidade das habitações e no saneamento, tem muito mais acesso a serviço e
renda mais elevada que as periferias mais distantes do centro da cidade.
A pesquisa deu aos moradores a possibilidade de se verem melhor e
conhecerem suas potencialidades e vulnerabilidades (ex. nível de renda e acesso a
serviços relativamente bons, mas saneamento e escolaridade dos jovens ainda
muito precário). Oportunizou ainda à UBS o início de uma avaliação sobre a ficha A
do SUS, com potencial para melhorias; aos docentes e acadêmicos da UFRGS,
permitiu um conhecimento mais aprofundado do território, a possibilidade de
qualificar o projeto InterSossego, e dar visibilidade, na UFRGS, à importância dos
temas interdisciplinaridade e intersetorialidade na relação com a saúde nas cidades.
Além disso, estreitou a aproximação dos pesquisadores, professore e bolsistas de
46

Iniciação cientifica e de extensão, compreender a importância de investigar para


intervir junto a comunidade, no processo de investigação quantitativa e qualitativa.
Nessa perspectiva, a experiência da pesquisa proporcionou ao grupo de
pesquisadores e bolsistas um melhor entendimento sobre as necessidades
concretas da população favorecendo o fortalecimento da experiência da extensão.
No desenvolvimento, a pesquisa permitiu ao grupo refletir sobre as dificuldades
relacionadas à interdisciplinaridade, mas também sobre a riqueza das trocas entre
as áreas, referida por professores e alunos bolsistas de extensão e de pesquisa (do
serviço social, psicologia, medicina, nutrição e fonoaudiologia, arquitetura) como
muito instigantes e enriquecedoras para a formação profissional. O contato com a
comunidade proporcionou uma experiência extremamente rica aos alunos, que
parecem sedentos de mais entendimento sobre onde eles estão e vão atuar,
enquanto a Universidade ainda parece estar alheia a processos externos a ela,
limitando-se a ensinar a técnica com pouco espaço para a reflexão crítica e política
sobre o contexto onde as práticas ocorrerão, seus limites, ou como, por que, por
quem e para quem elas estão sendo desenhadas.
Na fase qualitativa, o trabalho foi enriquecido pelas histórias de vida que
foram compartilhadas conosco pelos moradores da Vila Sossego. Inspirados em
Freire e Faundez (2011), nossa expectativa era de que na interação entre a
experiência deles e a nossa, entre a vivência concreta da comunidade e nosso saber
teórico e político (associado a nossa experiência concreta), pudéssemos melhorar
as condições de vida e de saúde no local (ou reconhecer os limites para isto) e
melhorar também o ensino de graduação e a formação dos profissionais.
Durante todo o período de investigação o grupo de pesquisadores e bolsistas
continuou a reforçar laços com a comunidade através do Projeto de Extensão, com a
realização de reuniões mensais nas quintas-feiras à noite na comunidade, e
discussão de temas do interesse deles tais como: a segurança contra incêndio, o
lixo, as promessa das casas e a reurbanização, e a epidemia de dengue que os
atingiu. Realizamos também na vila uma feira de Saúde, no qual possibilitou a
divulgação da pesquisa e a aproximação da comunidade. Este evento contou com
os pesquisadores e bolsistas de iniciação científica, bem como, com a participação
de alunos de várias unidades da UFRGS e profissionais de outros serviços (UBS,
47

CRAS, DMAE, DMLU, Vigilância, Promotoria). Nossas inquietações e contatos com


outros projetos comunitários acontecendo na UFRGS nos levaram a organizar um
seminário sobre Território e uma mesa redonda sobre a epidemia da dengue.
Como pode ser observado a partir do exposto acima, a pesquisa no âmbito dos
determinantes locais de saúde precisa muitas vezes negociar com a ação. Nesta
pesquisa a relevância reside na construção local de saúde, nas mudanças de
determinantes ambientais e principalmente o trabalho em parceria com instituições/
serviços que darão sequência ao trabalho interdisciplinar, articulados em rede.
Parte dos resultados já foi devolvida à comunidade Vila Sossego em reuniões
mensais do Projeto InterSossego e em seminários internos junto a comunidade
como o Intervilas, bem como, em eventos nacionais e internacionais para a
comunidade cientifica. Planeja-se apresentar um sumário dos dados mais relevantes
no Jornal Saúde Sossego, distribuído à comunidade quatro vezes ao ano, sendo que
na 12º edição já foram publicizados alguns resultados. Outro resultado foi a
construção de um Banco de Dados da Pesquisa sobre a comunidade que foi
entregue para ser alimentado constantemente, para a UBS/ HCPA Santa Cecília,
com a intenção da criação de estratégias de intervenção direcionadas por resultados
da pesquisa e de continuidade de realimentação permanente.

Outro resultado foi a contribuição da pesquisa de forma significativa para a


formação acadêmica aos 13 bolsistas (03 de iniciação científica e 10 de extensão),
que fizeram parte da pesquisa e do projeto de extensão, na medida em que foi
problematizado questões pertinentes que são intensamente debatidas nas diversas
instâncias de atuação e formação, não só em Serviço Social, mas de outras áreas
profissionais, oportunizando a participação ativa e um aprimoramento da capacidade
teórica e técnica do acadêmico que está em processo de formação. Podemos
ilustrar através do depoimento da bolsista de Iniciação Cientifica, Elisa Leivas Waquil,
membro da pesquisa, para quem está sendo uma grande oportunidade de
aprendizado. Primeiro pela possibilidade de vivenciar um processo acadêmico de
pesquisa, seus métodos, discussões e evolução do trabalho. Segundo, e de igual
importância, por vivenciar o cotidiano da Vila Sossego, num contato direto e intenso
com a comunidade, percebendo subjetividades, vivências e diferentes histórias de
vida que foram generosamente compartilhadas pela maioria dos moradores.
48

(informação verbal)2
A investigação, também, propiciou aos professores pesquisadores que
ministram disciplinas, coordenam projetos de extensão e realizam pesquisas, um
intenso conhecimento sobre o tema da Interdisciplinaridade e comunidade, tendo em
vista a experiência concreta em uma Comunidade, no processo de formação
profissional. E por fim, a aproximação e o conhecimento sobre a Saúde Urbana,
tema este mais recente no debate acadêmico, requerendo por parte dos docentes,
maior aprofundamento e adensamento teórico.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS

O projeto buscou uma maior aproximação com a realidade complexa de


comunidades sujeitas a múltiplas vulnerabilidades. A perspectiva é ampliar a
percepção social (local e global) do que seja Saúde – não apenas a ausência de
doença em um indivíduo, mas a produção de vida com qualidade na comunidade – e
desafiar a comunidade e as instituições (inclusive a formação universitária) a
promoverem a saúde com esta perspectiva. Poderíamos considerar inovação, já
que não é frequente, a proposta de pesquisa aninhada em projeto de extensão
comunitária, e especialmente em um projeto com características de atuação
multiprofissional, intersetorial e com participação da comunidade.
A integração da pesquisa à extensão comunitária favoreceu a taxa de
resposta aos instrumentos de coleta de dados (88% de cobertura de domicílios na
fase quantitativa) e a seleção da amostra e participação dos selecionados na fase
qualitativa. Possibilitou aos pesquisadores uma melhor avaliação das expectativas e
possibilidades de resolução de problemas locais, e contribuiu para o
empoderamento da comunidade, que se viu não apenas como objeto de pesquisa
mas como protagonista da mudança desejada. O exemplo maior foi a transformação
de um terreno baldio, até então ocupado por lixo, no Jardim Sossego, um espaço
comunitário com horta e brinquedos, preservado desde então (5 meses), e que

2
Depoimento fornecido por Elisa Leivas Waquil à coordenadora da pesquisa Alzira Mª B. Lewgoy, em dezembro
de 2014.
49

reflete a transformação na percepção coletiva: um espaço considerado “de ninguém”


passa a ser entendido como um espaço “de todos” – uma conquista na direção da
cidadania. A integração extensão/pesquisa reforçou na equipe a convicção de que
toda pesquisa deve ser o mais participativa possível, que o protagonismo deve estar
o mais possível na comunidade, cabendo aos pesquisadores progressivamente o
papel de colaboradores e sistematizadores das demandas da comunidade.
A experiência de formação de recursos humanos nesta atividade de pesquisa
e extensão integradas foi muito rica. Possibilitou a participação de bolsistas de
extensão e de pesquisa de diversos cursos de graduação - Serviço Social, Medicina,
Pedagogia, Arquitetura, Comunicação Social, Odontologia, Nutrição - com trocas de
conhecimento e desafios interpessoais para o trabalho conjunto com foco na
possibilidade de transformação social. Desafiou professores, profissionais e técnicos
de serviços de saúde e assistência a refletirem sobre as possibilidades e limites da
intervenção setorial; possibilitou um exercício de elaboração conjunta (Saúde,
Assistência e Universidade) de instrumento de coleta de dados suplementar à ficha
de recadastramento do SUS; oportunizou aos bolsistas e à agente comunitária da
UBS a produção de textos e apresentações públicas de resultados parciais em
salões de extensão e de iniciação científica e em congressos nacionais.
O projeto em si - inovador por estar aninhado em um projeto de extensão
comunitária – e resultados parciais, foram apresentados em inúmeros fóruns locais,
nacionais e em um Congresso Internacional (Portugal). Avaliamos que a extensão
garantiu a continuidade de interlocução entre os pesquisadores e a comunidade,
durante reuniões mensais noturna na Vila Sossego realizadas uma vez por mês.
Adicionalmente, o Jornal Saúde, Sossego, do projeto de extensão, veiculou mais de
uma vez dados parciais da pesquisa, transferindo, assim, de volta para a
comunidade, resultados obtidos a partir da sua participação.
Ponderamos, também, junto à coordenação do Programa de Saúde Urbana
Desigualdades e Meio Ambiente, a ideia da organização de um livro, no qual foi
acolhida, com projeção de publicação no 2º semestre de 2016. Esta produção se
caracteriza pela descrição analítica do processo metodológico vivenciado, qual seja,
o produto desta pesquisa, no que se refere à indissociabilidade entre o ensino, a
extensão e a pesquisa, um desafio constante e ao mesmo tempo potência no
50

processo de investigação na formação e no trabalho interdisciplinar, tendo em vista


que "[...] a formação acadêmica deve ser concebida de forma crítica e plural não
podendo se restringir simplesmente a transmissão de ensinamentos em sala de
aula." (MEC-SESu, 2006, p.40). Destaca-se ainda a necessidade de publicização,
pela parca produção sobre esta temática.
Concluindo, recomenda-se a continuidade do estudo sobre as competências
na formação e no trabalho profissional interdisciplinar no que se refere a
compreensão das relações sociais entre os atores no processo de busca por
atendimento a direitos sociais na democratização do acesso à cidadania e redução
das iniquidades. O fortalecimento das conexões entre a realidade e os processos de
formação e do exercício profissional, requer aprofundamento dos dados e das
informações, como as fontes de pesquisas e o referencial teórico projetado.

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54

ANEXO A - Aprovação Comitê de Ética


Dados do Projeto de Pesquisa
Título da Pesquisa: Desafios Interdisciplinares nos processos de formação e de trabalho em saúde urbana na comunidade.

Pesquisador: Alzira Maria Baptista Lewgoy


Área Temática: Novos procedimentos terapêuticos
invasivos;
Versão: 1

CAAE: 02305412.5.0000.5334

Submetido em: 16/04/2012

Instituição Proponente:

Situação: Aprovado

Localização atual do Projeto: Pesquisador Responsável


Patrocinador Principal:

Documentos Postados do Projeto


Tipo Documento Situação Arquivo Postagem
Parecer Consubstanciado da 29/06/2012
A PB_PARECER_CONSUBSTANCIADO_CONEP_47769.pdf
CONEP 18:07:14
Parecer Consubstanciado do 27/04/2012
A PB_PARECER_CONSUBSTANCIADO_CEP_16430.pdf
CEP 14:23:36
16/04/2012
Informações Básicas do Projeto A PB_INFORMAÇÕES_BÁSICAS_DO_PROJETO_23054.pdf
01:36:26
16/04/2012
Interface REBEC A PB_XML_INTERFACE_REBEC.xml
01:36:24
TCLE - Modelo de Termo de
16/04/2012
Consentimento Livre e A Termo de Consetimento Livre e Esclarecido- TCL.pdf
01:34:11
Esclarecido
Projeto de Pesquisa_Desafios Interdisciplinares nos processos de formação e de 16/04/2012
Outros A
trabalho em saúde Urbana na Comunidade.pdf 01:19:09
15/04/2012
Folha de Rosto A Ficha Plataforma Brasil PDF.pdf
18:28:52
Tramitação:
CEP Trâmite Situação Data Trâmite Parecer Informações

Submetido para avaliação


CONEP 16/04/2012
do CEP
Instituto de Psicologia -
Aceitação do PP 19/04/2012
UFRGS
Instituto de Psicologia -
Parecer liberado 27/04/2012
UFRGS
Submetido para avaliação
CONEP 27/04/2012
do CEP
Instituto de Psicologia - Submetido para avaliação
27/04/2012
UFRGS do CEP
CONEP Aceitação do PP 09/05/2012
Instituto de Psicologia -
Aceitação do PP 09/05/2012
UFRGS
Devolvido ao CEP pela
CONEP 29/06/2012 acatado
CONEP
Instituto de Psicologia - Devolvido ao CEP pela
29/06/2012 acatado
UFRGS CONEP
CONEP Parecer liberado 29/06/2012 acatado
ANEXO B – Ficha A adaptada pela UBS HCPA/Santa Cecília
ANEXO C – WHOQOL Breve
APÊNDICE A - Instrumento de Pesquisa – Termos de Consentimento Livre
Esclarecido
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e Personalidade
Curso de Serviço Social
QUESTIONÁRIO DOMICÍLIO
Termo de Consentimento livre e esclarecido

Este recadastramento dos usuários residentes na Vila Sossego faz parte do trabalho de pesquisa que a Unidade
Básica de Saúde do HCPA/ Santa Cecília, junto com a UFRGS, vem desenvolvendo nesta área. Precisamos que
alguém responsável pela família responda o questionário de recadastramento. O questionário tem duas partes –
uma sobre a habitação e outra sobre as características da família. Suas respostas vão nos ajudar a conhecer
melhor os residentes da área, para planejarmos as atividades de saúde dirigidas às necessidades dos
moradores. Caso aceite esse convite, queremos deixar claro que nada do que for dito será divulgado de forma
que possa identificá-lo. Também, responder a esta pesquisa não terá nenhuma influência no acesso as moradias,
ao atendimento na UBS HCPA/Santa Cecília ou outros benefícios assistenciais. Caso o (a) senhor (a) não queira
participar, é seu direito.
Se tiver alguma pergunta a fazer antes de decidir, sinta-se a vontade para fazê-la. O contato da pesquisadora
responsável é a Profª. Alzira Maria Baptista Lewgoy, email alzira.lewgoy@ufrgs.br ou telefone 51-33085700. Esta
pesquisa foi submetida à aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da UFRGS, fone 33165066 e email cep-
psico@ufgrs.br .

Nome do entrevistado: __________________________________


Assinatura: _________________________________
Nome do entrevistador: __________________________________
Assinatura: _________________________________
(Esse formulário foi lido para___________________________________(nome do participante) em __/__/____
pelo entrevistador _______________________

Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Instituto de Psicologia
Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e Personalidade
Curso de Serviço Social
Questionário de qualidade de vida (WHOQOL – breve)
Termo de Consentimento livre e esclarecido -Moradores da Vila Sossego

Estamos realizando um trabalho de pesquisa sobre como os moradores da Vila Sossego percebem que está a
sua vida, com base nas suas experiências nas últimas duas semanas. Para isto, gostaríamos de contar com a
sua colaboração durante alguns minutos para responder a um questionário. Serão feitas várias perguntas: sobre
sua saúde física, sua vida emocional, sua relação com amigos e familiares, seu trabalho e o ambiente da
comunidade.Esta pesquisa faz parte do trabalho que o grupo Saúde Urbana da UFRGS e a UBS/HCPA/Santa
Cecília vem desenvolvendo com a Vila Sossego. Pretendemos que ela nos ajude a caracterizar a qualidade de
vida dos moradores nesse momento, e, termos uma base de comparação para repetirmos a pesquisa depois da
urbanização da Vila. Caso aceite esse convite, queremos deixar claro que nada do que for dito será divulgado de
forma que possa identificá-lo.Também, responder a esta pesquisa não terá nenhuma influência no acesso as
moradias, ao atendimento na UBS HCPA/Santa Cecília ou outros benefícios assistenciais. Caso o (a) senhor (a)
não queira participar, é seu direito.Se tiver algum, a pergunta a fazer antes de decidir, sinta-se a vontade para
fazê-la. O contato da pesquisadora responsável é a Prof. Alzira Maria Baptista Lewgoy, email
alzira.lewgoy@ufrgs.br ou telefone 51-33085700. Esta pesquisa foi submetida À aprovação do Comitê de Ética e
Pesquisa da UFRGS, fone 33165066 e email cep-psico@ufgrs.br .

Nome do entrevistado: __________________________________


Assinatura: _________________________________
Nome do entrevistador: __________________________________
Assinatura: _________________________________
(Esse formulário foi lido para___________________________________(nome do participante) em __/__/____
pelo entrevistador ______________________
APÊNDICE B - Instrumento de pesquisa – Manual do Entrevistador

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

MANUAL DO ENTREVISTADOR

Pesquisa: DESAFIOS INTERDISCIPLINARES NOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO


E DE TRABALHO EM SAÚDE URBANA NA COMUNIDADE

Porto Alegre, outubro de 2012

Este manual pertence a ___________________________________


Tel. ______________________
Apresentação
Prezado entrevistador:
Este manual serve para auxiliá-lo continuamente no bom desenvolvimento da pesquisa sobre
os desafios do trabalho em prol da saúde urbana, na comunidade. É uma fonte de consulta e
orientação, reunindo a descrição de instruções e procedimentos a serem adotados nesta etapa da
pesquisa, a aplicação domiciliar de questionários para a caracterização socio-demográfica, da
qualidade de vida e de alternativas de acesso a serviços de saúde por parte dos moradores da Vila
Sossego.
Leve sempre consigo o seu exemplar do manual. Ele será seu principal guia no trabalho de
campo, principalmente quando não for possível contatar de imediato a equipe de supervisão ou a
coordenação para esclarecer suas dúvidas.
Em caso de dúvida,
a) Releia atentamente cada seção para esclarecer dúvidas sobre procedimentos em
situações especiais com as quais você se defrontou;
b) Nos próprios tópicos, marque ou faça anotações sobre pontos sobre os quais você
julga necessário mais esclarecimentos;
c) Discuta suas dúvidas com os colegas, e não conseguindo dirimi-las, procure a
supervisão.
Antes da realização da entrevista é necessário que o entrevistador esteja com seu Material
completo organizado.
Confira a lista de material abaixo:
 Crachá
 Carta de apresentação
 Manual do entrevistador
 Caneta azul ou preta
 Relógio
 Cópias impressas de todos os questionários
 Termos de consentimento informado
 Lápis
 Borracha
 Garrafa d’água
 Prancheta

O trabalho do entrevistador
1 - Em primeiro lugar tenha certeza de estar com todo o material necessário, organizado em pastas
para facilitar o acesso aos questionários necessários.
a) Para cada domicílio,
 Um questionário sobre as condições do domicílio e o número de famílias que o
habitam. Adicionalmente,
b) Para cada família no domicílio,
 Um questionário com a lista dos membros de cada família, a caracterização socio-
demográfica familiar e questões sobre a utilização de serviços de saúde, com o
respectivo termo de consentimento livre e esclarecido. Adicionalmente,
c) Para cada indivíduo maior de 18 anos na família,
 Um questionário WHOQOL com o respectivo termo de consentimento livre e
esclarecido.
2- Os entrevistadores deverão vestir camiseta do projeto no qual a pesquisa está vinculada – Saúde
Urbana, crachá, calça tipo jeans, e tênis ou sapato baixo.
3- A função do entrevistador é executar a coleta de dados. O entrevistador deverá pegar o kit de
pesquisa (questionários, TCLC, prancheta) com um dos supervisores de campo e devolver o material
preenchido ao supervisor ao retornar da coleta de dados na comunidade Vila Sossego. Toda a
equipe irá se reunir após chegar da coleta com a coordenação para discussão e orientação para as
próximas saídas dos bolsistas para a coleta.
4- A fidedignidade da pesquisa depende da atuação correta do entrevistador. O questionário a ser
aplicado pode ser bastante difícil de ser respondido, portanto é fundamental que o entrevistador seja
gentil, tolerante e desperte confiança, além de mostrar para o entrevistado que tem noção do grau de
dificuldade para a resposta sincera, mas principalmente mostrar que a sinceridade é essencial, pois
do contrário pouco valor teria o trabalho, uma vez que não iria refletir a realidade. É importante
enfatizar que o único interesse da equipe de pesquisa é conhecer mais sobre aspectos que
interferem na saúde das pessoas, que as respostas estarão protegidas por sigilo, garantido pela
equipe do Projeto Intersossego da UFRGS e pela UBS HCPA/ Santa Cecília.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Composição da amostra: Pretendemos realizar um Censo.
Para facilitar a identificação de todos os domicílios, a vila será mapeada e todos os setores
serão previamente numerados. Haverá uma visita inicial para mapear toda área que é assistida pela
UBS HCPA/Santa Cecília, e que será objeto de pesquisa.
______________________________________________________________________
Procedimentos para a coleta de dados
Iremos realizar a coleta em turnos predeterminados e de forma coletiva, com a participação
de dois funcionários (agentes comunitários) e uma enfermeira da UBS, dois supervisores de campo e
as duplas de entrevistadores designadas para aquele turno. A partir do ponto de encontro, será
determinado pelos supervisores quantas casas serão visitadas. Antes de iniciar a entrevista, cada
dupla será apresentada aos moradores pelo funcionário da UBS. Após a apresentação, a dupla
permanecerá na casa fazendo a entrevista até sua conclusão e o funcionário da UBS apresentará a
próxima dupla para a casa contígua. As casas serão visitadas de forma sequencial, segundo divisão
em lotes pré-determinados. Todas duplas devem se dirigir ao supervisor após o fim de cada casa para
revisão do questionário e para o funcionário da UBS apresentá-los aos moradores da próxima casa.
O primeiro contato
Identificação
Esteja sempre usando o crachá da pesquisa em local visível.
A entrevista começará pela apresentação do funcionário da UBS que se identificará e
explicará que a visita tem por objetivo o recadastramento dos usuários da UBS e o convite para
participar de uma pesquisa, indicando os entrevistadores.
Comece dizendo bom dia, boa tarde ou boa noite.
Após, apresente-se dizendo “eu sou <fulano>” estudante da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul”. Estamos convidando os moradores da Vila Sossego para participarem de uma
pesquisa sobre Saúde elaborada pelo Grupo de Pesquisa da UFRGS, em parceria com a UBS Santa
Cecília. O objetivo é conhecer as condições e a qualidade de vida e de saúde da Vila Sossego”.

Confidencialidade
Enfatize que as informações prestadas são sigilosas e irão ser usadas apenas pela UBS para
recadastramento dos usuários do SUS e pela UFRGS de forma a não identificar os moradores. Se
precisares dizer de forma mais clara por exemplo diga:,“ são 100 famílias, 40% dos moradores tem
menos de 18 anos.., 60% prefere usar serviços privados de saúde... ; 40% avaliam sua qualidade de
vida como boa e 40% como ruim... os mais jovens avaliam a qualidade de vida de forma melhor (ou
pior) que os mais velhos“ ...
Termo de Consentimento Livre e esclarecido
Explique que cada pessoa que responder deve ler ou você leia. Após leitura deverá ser
assinado em duas vias o termo de consentimento livre e esclarecido. Uma via ficará com o
respondente. Este documento assegura as condições de confidencialidade explicadas antes.
Recusas
Caso o residente que atender não aceite responder ou não possa naquele momento,
preencha o que for possível de dados domiciliares e pergunte se pode voltar num outro dia, ou
consultar outras pessoas do domicílio sobre a pesquisa, e quando e como poderia fazer isto. Deixe
com o morador um cartão com seu nome e telefone de contato.
Domicílio fechado
Pergunte aos vizinhos a que horas seria mais fácil encontrar o morador. Deixe a caixa postal
um comunicado sobre a visita, o interesse em conversar com os moradores sobre a pesquisa,
afirmando que voltaremos a procurá-los, e um número de telefone para contato. Se a família estiver
cadastrada na UBS, tentar fazer contato telefônico. (Nesse caso, também, o Agente Comunitário pode
tentar visitar e apresentar (por foto) em outros dias no horário de trabalho do ACS e combinar dia para
visita em horário que talvez o ACS não esteja, como horários após as 18horas e sábados).
Aceitação
Siga as instruções abaixo, para a aplicação dos questionários.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
A aplicação dos questionários
Explique que são dois questionários, um para caracterizar o domicílio e a família e outro para
cada morador maior de 18 anos, versando sobre saúde e qualidade de vida.
Antes de iniciar o questionário, leia o documento de consentimento e solicite que o
entrevistado o assine em duas vias (2 modelos; 1 para quem vai responder sobre domicílio e família;
outro para quem vai responder só o whoqol).

ATENÇÃO:
O questionário 1 – Domiciliar será aplicado apenas uma vez em cada casa.
O questionário 2 – whoqol é individual e será aplicado a todos os moradores maiores de 18 anos.
Explique que a participação dele é muito importante e que as respostas devem ser sinceras.
Esclareça que, se ficar constrangido com alguma pergunta, basta que diga que não quer responder.
Inicie pela aplicação do questionário domiciliar e siga com o familiar e o WHOQOL do mesmo
respondente. Se há outras pessoas maiores de 18 anos na família do primeiro respondente, convide-
os a responderem o WHOQOL.
Leia cada pergunta exatamente como está escrita no questionário. Caso o entrevistado não
entenda, repita novamente. Só em último caso tente explicar a pergunta com as suas palavras,
tomando cuidado para não induzir a resposta (e anote no questionário este procedimento). Lembre-se
do treinamento feito com a coordenação e demais pesquisadores do projeto para esta coleta.
ATENÇÃO: o questionário só pode ser aplicado, em cada residência, aos moradores daquela
residência. Moradores de outras residências da Vila Sossego responderão oportunamente em suas
casas. Os questionários não serão aplicados a membros da família ou outras pessoas que estejam
visitando, mas não moram na Vila Sossego.
Caso haja morador(s) maior(s) de 18 anos na residência que não esteja(m) naquele momento,
pergunte se é possível deixar agendado um novo dia para preencher o(s) questionário(s). Pergunte o
telefone para novo agendamento com o(s) morador(s). Deixe um cartão com seu nome e telefone.

Qualidade das informações


É necessário seguir rigorosamente todas as instruções constantes no Manual para o
preenchimento do questionário. Ler integral e pausadamente todas as perguntas respeitando a ordem
em que aparecem no questionário.
Instruções sobre as alternativas para as respostas
 Quando após a pergunta estiver escrito “nada”, “muito pouco”, “médio”, “muito” ou
“completamente”, você deverá realizar uma leitura pausada de cada alternativa, dando tempo ao
entrevistado de compreender e responder adequadamente.
 Não leia para o entrevistado as alternativas como “se recusou a responder”, “não se
aplica,” ou ainda “não sabe”.
 Nas questões cuja resposta é outra além das previstas, especifique escrevendo no
espaço designado.
 Nas questões sobre renda, escolaridade, ocupação... escreva o que for informado e
mais tarde categorize a resposta usando as tabelas fornecidas com o questionário.
 Você deve fazer todas as perguntas e registrar todas as respostas
 Tente evitar que as perguntas sejam ouvidas facilmente em outros cômodos do
domicílio
 Confira, ao final da entrevista, se o questionário está totalmente preenchido.

Controle de qualidade
Uma porcentagem dos entrevistados será revisitada para conferir o que foi inicialmente
registrado.
Após o término da visita
Despeça-se agradecendo. Bata na próxima casa e repita o mesmo procedimento anterior. Caso haja
mais de uma residência em um só terreno, solicite que o funcionário da UBS visite todas as casas
que estiverem neste pátio. Aguarde a confirmação do funcionário da UBS para visitar as demais
casas. Bata à porta e realize o mesmo procedimento descrito anteriormente. Quando concluir a última
casa o material deve ser entregue na sala 318 da Escola Técnica da UFRGS.
Supervisão e Coordenação
Nesta pesquisa os supervisores de campo são as bolsistas:
Gabriela Zanin (Serviço Social/UFRGS) - celular(51) 96136715
Pamela Pasqualeto Rosseto celular (51) 96948941..

Lembre-se que o supervisor de campo tem a função de auxiliá-lo, fale com ele sempre que necessário. A coordenação da
pesquisa ficara sob a responsabilidade das pesquisadoras Alzira Maria Baptista Lewgoy (cel. 99556870), e Maria Inês
Azambuja (cel. 99637889). Em caso de dúvida você também poderá contatá-las.
APÊNDICE D - Instrumento de pesquisa- Questionário Domicílio
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Programa Saúde Urbana - Projeto InterSossego
Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Formação e Exercício Profissional
em Serviço Social - GEFESS
Pesquisa: DESAFIOS INTERDISCIPLINARES NOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO
E DE TRABALHO EM SAÚDE URBANA NA COMUNIDADE
QUESTIONÁRIO DOMICILIAR

IDENTIFICAÇÃO
Código do Entrevistador:_________ Código do Domicílio:___________________________
Data:__________________ Horário de início:___________ Horário do fim:_____________
Endereço:_______________________________________________________________
Nº do Domicilio: DMAE_______________ CEE_______________ UBS:_______________
Nº de pessoas que residem no domicílio:_______

SITUAÇÃO DE EDUCAÇÃO

1. Qual o último ano de escola/ faculdade que o chefe de família cursou?

Marcar com um X
Não Estudou
1ª Série Primário/Ensino Fundamental
2ª Série Primário/Ensino Fundamental
3ª Série Primário/Ensino Fundamental
4ª Série Primário/Ensino Fundamental
5ª Série Primário/Ensino Fundamental
6ª Série Primário/Ensino Fundamental
7ª Série Primário/Ensino Fundamental
8ª Série Primário/Ensino Fundamental
1ª Série do Colegial/Ensino Médio
2ª Série do Colegial/Ensino Médio
3ª Série do Colegial/Ensino Médio
Ensino Superior Incompleto
Ensino Superior Completo
2. Frequência à escola:
Nº total de crianças:_____
Quantas crianças de 0 até 5 anos e 11 meses estão:
( ) Em escolinha infantil/ creche: ____ Qual?___________
( ) Fora de escolinha infantil/ creche:____
Por quê estão fora?___________________________

3. Frequência à escola:
Nº total de adolescentes:_____
Quantas crianças/ adolescentes de 6 anos a 17 anos e 9 meses estão:
( ) Na escola:_____ Qual?_________________________________________
( ) Fora da escola:_____ Por quê?____________________________________
( ) No SASE (Serviço de Atendimento Sócio
Educacional):______Qual?________________________
( ) Fora do SASE:_____ Por quê?__________________________________________
4. As crianças e adolescentes que estão fora do SASE, frequentam alguma atividade no turno
inverso que não estão na escola?
( ) Não.
( ) Sim. Qual?_____________________________________________________________

5. Algum jovem ou adulto faz ou pretende fazer algum curso?


( ) Não.
( ) Faz. Qual? ____________________________________
( ) Pretende.
Qual?_________________________________________________________

SITUAÇÃO DE RENDA

6. Quantas pessoas da família possuem fonte de renda – trabalho, aluguéis ou benefícios?


(espontânea) _______________

7. Qual foi a renda total de sua família nesse último mês? (totalidade dos rendimentos: salários,
benefícios sociais, alugueis) (espontânea)
R$: _______________________

8. Alguém da família recebeu algum benefício social no mês passado? (estimulada)


( ) Não
( ) Sim. Qual?
( ) Aluguel social
( ) Aposentadoria do INSS
( ) Auxílio doença do INSS
( ) BPC – Benefício de Prestação Continuada/ LOAS
( ) Pensão: Morte/ Especial
( ) PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
( ) Bolsa Família
( ) Auxílio-natalidade
( ) Seguro-desemprego
( ) Auxílio-reclusão
( ) Outro (ex: isenção de passagem de ônibus...) __________________________
Valor total? R$ ______________

9. Se não, no último ano recebeu algum auxílio?


( ) Não
( ) Sim. Por quanto tempo?___________________________

10. Capacidade de consumo: Quais desses itens você possui? (contar somente itens que
funcionam; marcar um X na quantidade; cálculo de pontos será feito posteriormente).
Posse de Itens Não tem TEM
(Quantidade)

1 2 3 4 ou
mais
Televisão em cores 0 1 2 3
Rádio 0 1 2 3
Banheiro 0 4 5 6
Automóvel 0 4 7 9
Empregada Mensalista 0 3 4 4
Máquina de lavar 0 2 2 2
Videocassete e/ou DVD 0 2 2 2
Geladeira 0 4 4 4
Freezer 0 2 2 2
(* aparelho independente ou parte da geladeira
duplex)
11. Outros Itens sobre consumo: Quais desses itens você possui? (contar somente itens que
funcionam; marcar um X na quantidade; cálculo de pontos será feito posteriormente).
Posse de Itens Não tem TEM (Quantidade)
1 2 3 4 ou mais
Celular 0 1 2 3
Computador/ Notebook 0 1 2 3
Internet 0 1 2 3
TV por assinatura 0 1 2 3
Mp3/ Mp4 0 1 2 3

SITUAÇÃO DO USO DE SERVIÇO DE SAÚDE

12. Há um profissional de saúde ou serviço de saúde onde você geralmente vai quando precisa
de atendimento, fica doente ou precisa de conselhos sobre sua saúde? (espontânea)
( ) Sim. Nome do profissional, função e local: ________________________
( ) Não

13. Há um profissional de saúde que é mais responsável por seu atendimento de saúde?
(espontânea)
( ) Sim. Nome do profissional: ________________________
( ) Não

14. Há um profissional de saúde que o conhece melhor como pessoa? (espontânea)


( ) Sim. Nome do profissional: __________________________
( ) Não

15. Nos últimos 12 meses, a sua família ou alguém da família teve cobertura de algum tipo de
plano de saúde privado ou empresarial? (espontânea)
( ) Sim. Qual?_________________________ Quantas pessoas cobertas? ____
( ) Não

16. Durante os últimos 12 meses, a família pagou diretamente por algum atendimento de saúde?
(estimulada)
( ) Não
( ) Não sei/ não lembro
( ) Sim. Quanto gastou? R$ _________________

17. Para você, o que contribui para a saúde e qualidade de vida de sua família?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
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Observações:
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APÊNDICE D- Apresentações nos Salões de Iniciação Científica-2013-2014
APÊNDICE E– Apresentações da pesquisa I Congresso de Geografia
da Saúde dos Países de Língua Portuguesa Coimbra, Portugal – 2014
APÊNDICE F- Apresentação da Pesquisa no XIV ENCONTRO DE
PESQUISADORES EM SERVIÇO SOCIAL - ENPESS- Natal/RN- 2014
APÊNDICE G– Publicização da pesquisa na comunidade Vila Sossego no jornal
"saúde, sossego" 12º edição. 2014

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